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A FÉ IMPOSSÍVEL
http://www.tektonics.org/lp/nowayjose.html
Sumário: Oferece 17 razões pelas quais o Cristianismo não poderia ter sobrevivido no
mundo antigo, a menos que tivesse evidências indiscutíveis da ressurreição de Jesus.
[O autor deste artigo está atualmente escrevendo um livro com o mesmo nome. Todas
as citações Bíblicas aqui são da NTLH, no artigo original as citações são da KJV.
Traduzido e adaptado por Maximiliano Mendes.]
Adotamos o subtítulo Como não começar uma religião antiga. O contexto aqui é sobre
certas acusações dos céticos, de que o Cristianismo foi um movimento nascido do
ditado de que, nasce um besta a cada minuto, e o Cristianismo, em seu início, teve
bestas “pra mais de ano”. Como prova, somos apontados para várias personalidades
e/ou movimentos na história – Sabbatai Sevi, Zalmoxis ou Alex e Glycon (Glycon
era uma serpente de estimação). Temos mostrado que cada um destes paralelos é
inadequado, mas agora é a hora de organizar uma lista compreensível de tópicos que
afirmamos que os críticos devem lidar quando forem explicar o motivo do Cristianismo
ter sucedido onde certamente deveria ter falhado ou morrido como estes outros
movimentos. Dizer meramente que foi por “sorte”, ao passo que Sevi et al., não, não
será uma resposta adequada – e na verdade, como veremos, é a resposta menos
provável.
Com a exceção dos que crêem que Jesus nunca existiu (JNE) e os que crêem
em teorias conspiratórias (e no que diz respeito a este assunto, eu incluo os
muçulmanos neste grupo!), poucos negariam a realidade histórica da
crucificação. Contudo, uma vez que a porta é aberta, ela traz o primeiro dos
nossos problemas: Quem acreditaria em uma religião centrada em um homem
que foi crucificado?
Eles dizem que nossa loucura consiste no fato de que nós colocamos um homem
crucificado em segundo lugar, depois do Deus eterno e imutável…
N.T. Wright também aponta isso em Resurrection of the Son of God [A Ressurreição do
Filho de Deus – 543, 559,563]:
O argumento, neste ponto, procede em três estágios. (i) O Cristianismo primitivo foi
sistematicamente messiânico, moldando-se sobre a crença de que Jesus era o Messias
de Deus, o Messias de Israel. (ii) Mas a concepção de Messias no Judaísmo, da forma
como era, nunca contemplou alguém fazendo o tipo de coisas que Jesus havia feito, sem
falar no destino que ele teve. (iii) O historiador deve, portanto, perguntar por que os
primeiros Cristãos reivindicavam essas coisas sobre Jesus, e por que reordenaram suas
vidas de acordo com isso.
Alguma coisa aconteceu com a crença sobre a vinda de um Messias … ela não foi nem
abandonada, nem simplesmente reafirmada em grande extensão. Ela foi redefinida
baseada em Jesus. Por quê? Os primeiros Cristãos respondiam a essa questão, é claro,
com uma só voz: Nós cremos que Jesus era e é o Messias, pois ele ressuscitou dos
mortos. Nada mais funcionaria aqui.
A mensagem da cruz era repulsiva, uma vulgaridade em seu contexto social. Discutir a
crucificação era o pior tipo de faux pas [passo em falso – falta de etiqueta]; era
relacionado, mas somente no sentido mais superficial, a discutir técnicas de recuperação
de esgotos durante uma boa refeição – mas pior ainda quando em associação com um
suposto deus ter vindo à terra. Hengel adiciona: “Um Messias crucificado … deve ter
parecido com uma contradição de termos para qualquer um, Judeu, Grego, Romano ou
bárbaro. Eles certamente julgariam tolo e ofensivo se alguém lhes perguntasse se
acreditariam nisso. “Que um deus desceria ao reino da matéria para sofrer dessa forma
tão ignominiosa” era contrário não somente ao pensamento político Romano, mas a
todo o etos da religião dos tempos antigos, e em particular, às idéias sobre Deus que as
pessoas educadas tinham” (10, 4). Anunciar um deus crucificado seria semelhante à
Convenção Batista do Sul anunciar que passaria a sancionar a pedofilia! Se Jesus
realmente era um deus, então de acordo com o pensamento Romano, a crucificação
nunca deveria ter acontecido. Celso, um antigo crítico pagão do Cristianismo, escreve:
Mas se (Jesus) era tão grande, ele deveria, a fim de demonstrar sua divindade, ter
desaparecido repentinamente da cruz.
Só pode haver uma única boa explicação: O Cristianismo teve sucesso pois da cruz veio
a vitória, e após a morte veio a ressurreição! A vergonha da cruz converteu-se em uma
das provas mais incontestáveis do Cristianismo!
• João 1:46 – Natanael perguntou: – E será que pode sair alguma coisa boa de
Nazaré? – Venha ver! – respondeu Filipe.
• Atos 21:39 – Paulo respondeu: – Eu sou judeu, nascido em Tarso, cidade muito
importante da região da Cilícia. Por favor, me deixe falar com o povo.
Jesus ter sido Judeu é um fato que dificilmente poderia ter sido negado pelos
primeiros Cristãos, mas também era um grande impedimento para se expandir
o Evangelho além dos próprios Judeus. O Judaísmo era considerado como
uma superstição pelos Romanos e Gentios. Escritores Romanos como Tácito
relataram de forma entusiástica (não como verdade, mas algo como “alguns
dizem…”) todos os tipos de calúnias contra os Judeus de forma geral,
considerando-os uma raça malévola e detestável. Tentar trazer um salvador
Judeu para a porta de um Romano normal teria menos sucesso do que tentar
levar um à porta de um nazista – embora o Romano talvez não quisesse te
matar; ele certamente iria rir da sua cara, bater a porta ou te dar um cascudo.
Isto é claro do próprio Judaísmo e suas limitadas incursões em termos de conversão de
Gentios. Sem dúvidas, isto é parcialmente atribuível ao fato de que o Judaísmo não era
uma religião muito missionária. E, contudo, se o Cristianismo não tivesse algumas
cartas na manga, o fato de Jesus ser Judeu, por si só significa que ele nunca deveria ter
se expandido no mundo dos Gentios muito além do círculo daqueles que já eram
tementes a Deus (i.e., Gentios convertidos ao Judaísmo).
Vamos enfatizar novamente os pontos feitos por Robert Wilken em The Christians as
the Romans Saw Them [Os Cristãos Como Vistos Pelos Romanos]. Os Romanos
naturalmente consideravam suas crenças superiores às de todos os outros (57). Eles
também acreditavam que superstições (como o Judaísmo e o Cristianismo) minavam o
sistema social estabelecido pela religião Romana – e, é claro, eles estavam certos.
Entretanto, o ponto é que qualquer um que seguisse ou adotasse uma das superstições
estrangeiras seria visto não somente como um rebelde religioso, mas também como um
rebelde social. Eles estavam quebrando o status quo, espalhando o caos, participando de
uma rebelião estilo a dos anos de 1960 contra a elite dominante. Eles perturbavam o
conceito Romano de devoção e acreditava-se que eram incapazes de ser devotos.
Naqueles dias, as coisas não eram pluralísticas ou “politicamente corretas” e não havia
campeões da diversidade em campi universitários: Hoje em dia, ateus e teístas podem
debater em um foro aberto, mas naquele tempo um dos lados da disputa teria o Estado
(e a espada!) ao seu lado – e no tempo em questão, não era o lado dos Cristãos!
O próprio Judaísmo teria tido sua própria dificuldade, embora menor e não insuperável:
não havia a percepção da ressurreição de um indivíduo antes da ressurreição geral no
dia do Juízo. Mas novamente, isto, embora estranho, poderia ter sido superado –
contanto que houvesse evidências! O que não era tão fácil de se conseguir no mundo
pagão. Podemos ver bem que Paulo teve de lutar contra os Gnósticos, os Platonistas, e
os ascéticos sobre essas questões. Mas o que faz isto especialmente revelador é que uma
ressurreição física era completamente inútil para simplesmente começar uma religião.
Teria sido o bastante dizer que o corpo de Jesus foi levado aos céus, como Moisés ou
Elias. E, de fato, isso teria se ajustado com o que era esperado (veja aqui), e teria sido
muito mais fácil de “vender” para os Gregos e Romanos, para quem a melhor
“evidência” de elevação ao ranking divino era a apoteose – o transporte da alma para os
reinos celestiais após a morte; ou então a transferência quando ainda vivo. Então por
que se incomodar tornando o caminho ainda mais difícil? Há somente uma resposta
plausível – eles realmente tinham uma ressurreição para pregar.
A literatura Romana nos diz que “(O) teste primário da verdade em questões
religiosas era o costume e a tradição, as práticas dos antigos” (62). Em outras
palavras, se suas crenças tinham o tipo certo de histórico e uma linhagem
decente, você seria respeitado pelos Romanos. O velho era bom, e a inovação
era ruim.
Esta foi uma grande dificuldade inicial para o Cristianismo, porque era
possível rastrear suas raízes até seu fundador recente. Os Cristãos eram
considerados “inovadores arrogantes” (63) cuja religião era a nova recém
chegada, mas que, contudo, atrevia-se a insistir que era o único caminho!
Como notado anteriormente, O Cristianismo afirmava que as pessoas no
poder, que julgaram Jesus como merecedor do pior e mais vergonhoso tipo de
morte, estavam totalmente erradas, e o próprio Deus disse isso.
Malina e Neyrey [164] explicam o assunto em maiores detalhes. A reverência era dada
aos ancestrais, considerados mais importantes “pelo fato do nascimento”. Os Romanos
“eram culturalmente compelidos a tentar efetuar a impossível tarefa de cumprir com as
expectativas das tradições daqueles personagens do seu passado em comum,
necessariamente mais importantes que eles.” O que havia sido passado para as gerações
seguintes era “presumivelmente válido e normativo. Os argumentos poderosos poderiam
ser redigidos como: ‘Nós sempre fizemos isso desta forma!’” semper, ubique, ab
omnibus – “sempre, em todo lugar, por todos!” Em contraste, o Cristianismo dizia:
“Não agora, não aqui, e não você!” É claro que isso explica o porquê de Paulo apelar
para o que havia sido transmitido a ele por outros (1 Coríntios 11:2) – mas isto está
dentro do contexto de uma igreja onde a transmissão estava ocorrendo apenas nos
últimos 20 anos! Pilch e Malina adicionam (Handbook of Biblical Social Values, p. 19 –
Manual de Valores Sociais Bíblicos) que a mudança ou novidades nas práticas e
doutrinas religiosas deram de cara com uma reação especialmente violenta; a mudança
ou novidade era “uma forma de valor que servia para inovar ou subverter valores
centrais e valores secundários.”
Os Judeus, por outro lado, possuíam raízes bem mais antigas, e embora alguns
críticos Romanos tenham feito um esforço para “desenraizar” estas raízes,
outros (inclusive Tácito) concedia aos Judeus certo grau de respeito devido à
antigüidade de suas crenças. Levando isto em conta, podemos entender os
esforços dos escritores Cristãos em ligar o Cristianismo ao Judaísmo o
máximo possível, e assim, atingir a mesma “antigüidade” que algumas vezes
era garantida aos Judeus. (É claro que concordamos que os Cristãos estavam
certos ao fazer isso, mas os Romanos não viam isso da mesma forma!)
Esta não era uma das maiores barreiras, mas era significante, e claro, ainda é
hoje em dia. Eticamente, a religião Cristã é difícil de seguir. O Judaísmo
também era, e este é um dos motivos de haver naquele tempo tão poucos
tementes a Deus. O Cristianismo não oferecia festanças com bebedeiras ou
orgias com prostitutas de templos; na verdade, as proibia. Não encorajava a
fortuna; encorajava a divisão da fortuna. Não apelava aos sentidos, prometia
um “rico futuro, pouco a pouco”. Isto era um problema no mundo antigo da
mesma forma que é hoje em dia – senão maior naquele tempo. O Cristianismo
não seria atrativo para os ricos, que seriam direcionados a compartilhar suas
riquezas. Os pobres poderiam gostar disso, não gostariam se não pudessem
gastar a grana compartilhada em suas distrações viciosas favoritas (das quais
nem todas eram tidas como “auto-prejudiciais” e, portanto, ofereciam ainda
mais motivos para abandoná-las). Novamente, esta não é uma barreira
insuperável; alguns Romanos eram atraídos pelo sistema ético do Judaísmo, e,
de forma semelhante, teriam sido atraídos pelo Cristianismo. Mas é muito
difícil explicar por que o Cristianismo cresceu onde os tementes a Deus eram
sempre um grupo muito pequeno. Nem mesmo o fervor evangelístico explica
isso.
Isso já era ruim o bastante, mas os Judeus também eram intolerantes com a
nova fé. As famílias de Judeus sentiriam pressão social para isolar os
convertidos e evitar a vergonha da conversão deles. Sem algo para superar a
intolerância dos Judeus e dos Romanos, o Cristianismo estava condenado.
Mas na verdade, podemos ampliar este argumento ainda mais: a perseguição não se
iguala automaticamente ao martírio, e esta é outra razão pela qual o Cristianismo não
deveria ter prosperado e sobrevivido. Como escrito por Robin Lane Fox, “Ao reduzir a
história da perseguição Cristã a uma história de audiências legais, perdemos uma grande
parte da vitimização.” [Fox. Pagans and Christians, 424 – Pagãos e Cristãos]. Além da
ação das autoridades, os Cristãos poderiam esperar o ostracismo se insistissem em
permanecer na fé, e aqui é onde muito da perseguição a que Fox se refere veio –
rejeição pela família e sociedade, redução ao status de banido. Não era preciso um
martírio – se você sofresse socialmente e de outras formas, mesmo continuando vivo, já
era o bastante. DeSilva nota que aqueles que violavam os valores sociais em vigor
(como feito pelos Cristãos!), encontrar-se-iam sujeitos às medidas feitas para
envergonhá-los e trazê-los de volta a conformidade – insultos, repreensão, agressões
físicas, açoitamento, confisco de propriedade, e é claro, desgraça – muito mais
importante em uma sociedade baseada em honra-e-desonra do que para nós. E o NT
oferece um amplo registro dessas coisas acontecendo [Hebreus 10:32-34; 1 Pedro 2:12,
3:16, 4:12-16; Filipenses 1:27-30; 1 Tessalonicences 1:6, 2:13-14; 2 Tessalonicences
1:4-5; Apocalipse 2:9-10, 13].
E não seria melhor no mundo dos Gentios. A idéia de um deus rebaixando-se à forma
material, para mais do que uma visita temporal, suando, fedendo, tendo de ir ao
banheiro, e especialmente, sofrendo e morrendo aqui na terra – isso seria muito pra
engolir!
Note que isso não é só para os ricos e poderosos; supor que um escravo ou os pobres
considerariam a mensagem do Cristianismo atraente é um anacronismo do
individualismo ocidental. Em primeiro lugar, mesmo na perspectiva ocidental, juntar-se
ao grupo, em termos práticos, não aliviava a condição em que estas pessoas se
encontravam. Além disso, no mundo antigo, a mentalidade de não permanecer em
algum tipo de relação de dependência seria estranha. “Quando os mediterrâneos antigos
falavam de ‘liberdade’, eles geralmente entendiam o termo como liberdade da
escravidão de um senhor ou mestre, e liberdade para passar a servir outro lorde ou
benfeitor” [163]. De modo geral, também não passaria pela cabeça de tais pessoas que a
situação deles poderia mudar, pois tudo o que acontecia era atribuído ao destino, sorte
ou providência [189]. Você não lutava contra a situação, a coisa mais honorável era
agüentá-la e resisti-la. [Daí a piada da esposa de Jó dizendo “Jó, arrume um emprego!”
– Job, get a job! – é mais engraçada do que achamos!] Em outras palavras, não era uma
questão de estar a serviço de outro, mas de quem você estava a serviço! Despedaçar
estas distinções sociais teria sido um enorme passo em falso – a menos que você tivesse
algumas cartas poderosas para jogar.
Este tem sido mencionado muitas vezes, mas isso o torna mais bem elaborado.
Se o Cristianismo quisesse ter sucesso, nunca deveria ter admitido que as
mulheres fossem as primeiras a descobrir o túmulo vazio ou as primeiras a
verem Jesus ressuscitado. Também nunca deveria ter admitido que as
mulheres fossem as principais apoiadoras (Lucas 8:3) ou as convertidas
principais (Atos 16).
Teria sido muito mais fácil atribuir a descoberta do túmulo aos discípulos homens
(como parece ter sido enfatizado, baseado no credo em 1 Coríntios 15, embora isto sirva
ao propósito distinto de estabelecer que a liderança da igreja foi testemunha do Cristo
ressuscitado, e não uma evasão acerca de mulheres terem sido testemunhas), ou que
alguém como Cléopas ou mesmo Nicodemos tivessem encontrado o túmulo primeiro,
ou mediar o testemunho através de Pedro ou João. Mas aparentemente eles estavam
apoiados nisso – e também aparentemente superaram mais um estigma.
Mas antes de você se unir AGORA, temos mais. O problema não era só com
as mulheres. Pedro e João foram dispensados com base em suas posições
sociais (Atos 4:13) e isto reflete um ponto de vista muito comum dos antigos.
Já notamos o problema de Jesus ser procedente da Galiléia e Nazaré. Isto
também era um problema para os discípulos – e poderia ter atrapalhado a
pregação deles. Os próprios Judeus não confiavam em tais pessoas, se
devemos acreditar em um testemunho posterior, no Talmude, sobre homens
como Pedro e João, chamados “povo do campo”, era dito: “…não confiamos
no testemunho deles; não aceitamos o testemunho deles.” Embora este seja
um relato posterior, representa um antigo truísmo também aplicável no mundo
antigo como um todo. A posição social era intimamente ligada ao caráter da
pessoa. Justo ou não, um caipira era a última pessoa em que você acreditaria.
Entre o bando de apóstolos, somente Paulo pode ter evitado este estigma.
(Mateus também poderia, se ele não fosse membro de um grupo desprezado
por razões distintas: Um coletor de impostos!) Muitos poucos mensageiros do
Cristianismo teriam sido capazes de evitar este estigma.
Você dá valor à sua privacidade? Então permaneça nos EUA. Malina e Neyrey
notam que “em culturas grupo-orientadas como as do antigo Mediterrâneo,
devemos nos lembrar que as pessoas continuamente se metiam nos negócios
alheios” [183]. A privacidade era desconhecida e inesperada. Por um lado, os
vizinhos manifestavam uma “vigilância constante” sobre os outros; por outro
lado, os vigiados estavam sempre preocupados com as aparências, e as
recompensas honoráveis ou as sanções humilhantes associadas que vinham
com os resultados. É a mesma coisa em culturas grupo-orientadas hoje em dia
… se você já imaginou porquê temos dificuldades em espalhar a
“democracia”, você não precisa procurar mais, 70% do mundo é grupo-
orientado.
Pense nisso: Nós reclamamos da erosão da privacidade, mas saiba também que isto é
um acordo pelo bem do controle social. Os antigos não teriam se preocupado sobre não
ter medidas adequadas preparadas para deter um ataque terrorista – porque tais medidas
de vigilância já estavam presentes. O controle não vem de indivíduos se controlando,
mas sim do grupo controlando o indivíduo. (Este também é o motivo de nós termos
dificuldade em relação às antigas formas de companheirismo da igreja!) Pilch e Malina
[115] adicionam que no mundo antigo, os estranhos eram vistos como se apresentassem
uma ameaça a comunidade, porque “eles são potencialmente qualquer coisa que alguém
queira imaginar … Daí, eles devem ser checados sobre se poderão se adaptar e sobre se
irão aceitar as normas da comunidade.” Malina adiciona em The New Testament World
[O mundo do Novo Testamento] [36-7] que sempre se presumia que a honra existisse
dentro do próprio sangue da família, mas que tudo fora daquele círculo era “presumido
que fosse desonroso – não confiável, por assim dizer – a menos que se provasse o
contrário.” Não se confia em ninguém de fora da família “a menos que a confiança
possa ser validada e verificada.” Os estranhos em uma vila são considerados “inimigos
em potencial”; os estrangeiros “de passagem” (como os missionários) são “considerados
como inimigos na certa”. Os missionários teriam suas virtudes testadas a cada novo
ponto em que paravam!
• Marcos 6:4 – Mas Jesus disse: – Um profeta é respeitado em toda parte, menos
na sua terra, entre os seus parentes e na sua própria casa.
Seria justo notar que McCane não considera tudo o que está nos Evangelhos
como confiável. Ele indica também que José não era realmente um discípulo
de Jesus, era apenas um membro do Sinédrio fazendo seu trabalho. Talvez não
tivesse passado pela cabeça de McCane supor que José usou seu dever como
pretexto para conseguir o corpo de Jesus, antes que algum outro membro do
Sinédrio com menos respeito por ele o fizesse. Mas em todo caso, mesmo com
os relatos dos Evangelhos considerados completamente precisos, eles “ainda
apresentam um enterro no qual um Judeu na Palestina Romana seria
reconhecido como desonrado.”
Do livro de N. T. Wright, Jesus and the Victory of God [Jesus e a Vitória de Deus][369-
442]:
• A atitude única geral em relação aos poderes pagãos como Roma era a
revolução. Mas ao invés disso, Jesus aconselhou a “dar a outra face” e
carregar a carga do soldado uma milha a mais. A divergência é como a
de Malcolm X versus Martin Luther king, num tempo em que os
métodos de Malcolm eram altamente favorecidos.
• Guardar o Shabat de forma estrita era uma distinção dos Judeus; as atividades de
Jesus, de cura e colher de milho no Shabat não violaram a Lei propriamente dita,
mas sim a interpretação rigorosa favorecida pelos que desejavam preservar e
enfatizar esta distinção. (Veja um item relacionado aqui.)
• Jesus ter renunciado ao ritual de lavar as mãos (que como a observância
“persistente” do Shabá, não era uma regra da Lei, mas sim uma
interpretação rigorosa dela) violou as percepções de pureza.
• Jesus ter comandado os outros a seguirem-no, ao invés de enterrar os
mortos, violou uma das sensibilidades mais arraigadas do tempo, cuidar
da família e atender às suas necessidades funerárias (importante tanto
no contexto Judeu quanto no não-Judeu).
• A manifestação de Jesus no Templo foi um uma “representação”
simbólica da destruição do que, para muitos Judeus, era o símbolo
central do Judaísmo: o lugar onde o sacrifício e o perdão de pecados
eram efetuados; um lugar de grande prestígio e honra perante os não-
Judeus; o símbolo político central de Israel. Nem todos os Judeus
concordavam com essa avaliação (os Essênios, por exemplo,
consideravam o aparato do Templo como corrupto e provavelmente
teriam simpatizado com Jesus aqui), mas Jesus dizer que ele seria
destruído, e por pagãos, teria sido profundamente ofensivo para muitos
Judeus, especialmente para os que consideravam o Templo como uma
segurança contra a invasão pagã.
“Precisamente com base nos textos chave de Salmos, Isaías, Daniel e outros,
os primeiros Cristãos declararam que Jesus era o Senhor, de tal forma a
implicar, por diversas vezes, que César não era … O tema é forte em Paulo,
embora grandemente ignorado até recentemente. Romanos 1:3-5 declara o
‘evangelho’ de que Jesus é o real e poderoso ‘filho de Deus’ a quem o mundo
deve lealdade; Romanos 1:16-17 declara que neste ‘evangelho’ devem ser
encontradas soteria e dikaiosune. Todos os elementos nesta fórmula dupla ecoa e faz
paródia com coisas que eram ditas na ideologia imperial, e o culto imperial emergente
no tempo. Na outra extremidade da exposição teológica da carta (15:12), Paulo cita
Isaías 11:10: O Messias Davídico é o verdadeiro Senhor do mundo, e nele as nações
terão esperanças” (pp 568-569).
Também,
Um leitor (que usa o nome de tela “Jezz” no site TWeb) sugeriu este novo ponto.
Encorajar as pessoas a verificar as alegações e buscarem provas (e, por conseguinte,
desencorajar a credulidade inocente) é uma forma garantida de ser surrado, se você está
pregando mentiras. Vamos supor por um minuto que você esteja tentando começar uma
religião falsa. A fim de apoiar sua falsa religião, você decide inventar um número de
alegações históricas (i.e., testáveis), e então espera que ninguém vá checá-las. Em outras
palavras, apesar dos conselhos dados nos fatores #7 (i.e., não invente alegações
históricas) e #13 (i.e., que as pessoas irão checar suas alegações), você decidiu apostar e
esperar que as pessoas sejam inocentes o bastante para se unir à sua religião. Qual é a
coisa mais importante a se fazer, se você inventou alegações que são provavelmente
falsas? Bem, é claro, você não sai por aí encorajando as pessoas a checarem suas
alegações, sabendo que se eles fizerem isso, você será desbancado!
Suponha, por exemplo, que você esteja iniciando um novo culto sobre OVNIS, em que
os fiéis serão levados para dentro de um disco voador que os está aguardando. Um
cultista como este iria normalmente seguir o conselho dado no fator #7, e se certificar
de que o disco voador está em algum lugar onde as pessoas não podem checar (e.g.,
afirmar que o disco está escondido atrás da lua). Mas suponha que você ignorou este
conselho, e ao invés disso, afirmou que o disco estava esperando em uma caverna em
uma montanha próxima a cidade. A última coisa que você faria é encorajar as pessoas a
irem até a caverna e checar sua alegação – e desta forma desencorajar a credulidade
inocente, da qual a sobrevivência do seu culto depende. Se você quisesse atrair as
pessoas a se juntarem ao seu culto, você teria de fazer o exato oposto – desencorajar
seus recrutas em potencial a checar os fatos (talvez ao acrescentar uma cláusula, “se
alguém for atrás da caverna antes da hora, este não será levado pelo disco”).
• Atos 17:11 – As pessoas dali eram mais bem educadas do que as de Tessalônica
e ouviam a mensagem com muito interesse. Todos os dias estudavam as
Escrituras Sagradas para saber se o que Paulo dizia era mesmo verdade.
Podemos adicionar mais fatores posteriormente, mas por enquanto, temos o bastante
para apresentar nosso desafio central. O Cristianismo, como podemos ver, tinha todas as
desvantagens possíveis como uma fé. Como eu notei recentemente, algumas religiões
prosperam por serem vagas (Rastafarianismo) ou por terem somente demandas
filosóficas, ou demandas além da verificação (Budismo e Hinduísmo). Outras
asseguram seu direito à sobrevivência mantendo-se isoladas (Mormonismo) ou pela
espada (Islamismo). O Cristianismo não fez nenhuma dessas coisas e não teve nenhum
destes benefícios, fora um flerte tardio com a espada quando já era uma fé fortalecida e
estava sendo utilizada com propósitos políticos, como realmente qualquer religião
poderia ser – e não como forma de se espalhar o Evangelho. Todas as desvantagens, e
nenhuma das vantagens.
Finalmente, o crítico faz confusão com o fato de que – como já observado por Stark e
Meeks – O Cristianismo, como um movimento, era desequilibrado na área do status
social. Visto que 99 % das pessoas eram pobres e/ou miseráveis, é claro que qualquer
movimento pegaria a maioria das pessoas deste grupo, mas o Cristianismo, para o seu
tamanho, tinha um número incomum de ricos e poderosos. Como Witherington nota,
citando E. A. Judge (Paul Quest [A Busca de Paulo], 94):
…Os Cristãos eram dominados por uma parte socialmente pretensiosa da população
das grandes cidades. Além disso, eles pareciam ter sido retirados de um grupo amplo,
provavelmente representando os parentes dependentes de membros proeminentes.
Estas são as pessoas que seriam mais afetadas por estes fatores e os que menos
provavelmente acreditariam; eles eram os que tinham mais a perder e menos a ganhar
(de forma palpável) ao se converterem. Rodney Stark mostrou em The Rise of
Christianity [A Ascensão do Cristianismo] o porquê de o movimento ter continuado a
crescer a partir do momento em que se estabeleceu, mas não aborda como ele conseguiu
se estabelecer em primeiro lugar. Então, como isso aconteceu?
• Mitraísmo
• Mormonismo
• Islamismo
FONTE:
http://crentinho.wordpress.com/2007/02/25/a-fe-impossivel-completo/