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Pe /\trsrgins da Heelan. — 9 fEXTO L 9108 Capitulo 1 PAISAGENS DA HISTORIA UM HOMEM JovEM DE-PE sem chapéu, com um casaco preto, num, alto pico rochoso. Suas costas esto voltadas para nds, ¢ ele se apsia fem uma bengala contra o vento que emaranha seus cabelos. A sua frente, descortina-se uma paisagem semi-oculta pela névoa, onde as fantdsticas formas de distantes promontérios slo parcialmente vist- vyeis’© horizonte longinquo revela montanhas 3 esquerda, planicies A direita, ¢, ralver, ainda mais longe ~ nfo se tem certeza — um coceatio. Mas poll ser mais névoa, fundindo-se imperceptivelmente nas nuvens, O quadro, datado de 1818, € conhecido: O Vigjante sobre o Mar de Névoa, de Caspar David Friedrich, A impressio que nos dé'é contraditéra, sugerindo a0 mesmo tempo dominio sobre uma paisagem e a insignificincia do individuo diante dela. Nao ‘vemos 0 rosto, por isso ¢ impossivel saber se a cena A frente do jovem é alegre ou aterrorizante, ou ambas. anf Johnson usou a pintura de Friedrich hé alguns anos como capa de seu lio The Birth ofthe Moder, para evocar o surgimento do romantisma ¢ 0 advento.da Revolucio Industrial." Eu gostaia de usé-Ia aqui para discorrer sobre algo mais pessoal, que é a minha 16 PAISAGENS DA HISTORIA petoepgio ~ sem diivida repleta de idiossincrasia — do significado da consciéncia histrica. A Iégica de comegar com uma paisagem pode nfo ser imediatamente dbvia. Porém, ela o ¢ se considerarmos, por tum lado, o poder da mevéfora e, por outro, a combinasio peculiar de economia ¢ intensidade com que as imagens visuais podem expressar metéforas. John Ziman, em seu livro Reliable Knowledge: An Exploration of the Grounds for Belief in Science, faz.a melhor introdugio que conhego sobre 0 método cientifico. Ele assinala que as dedugées cientificas surgem com freqiiéncia de percepgSes como “o com- portamento de um elétron em um dtome é ‘como’ a vibrasio do ar num contéiner esfético, ou que a configuragéo casual de uma longa cadeia de étomos numa molécula polimera ¢ ‘como’ a ‘movimentagéo de um bébado num campo de golfe”.? “A realida- de nfo foi ainda admitida e transmitida sem retraimento”, acres- centou o sociobiologista Edward O, Wilson. “Mas € também melhor externada do mesmo modo que descoberta, retendo igualmente uma vividec e uma capacidade de mobilizar as emo- ges.”* Para mim, a postura do viajante de Friedrich — esta impressio- ante imagem de alguém de costas para o artista e de todos aqueles que j viram este seit quadro ~ é “como” a dos historiadores. Muitos de nés consideram ser este 0 nosso trabalho, isto é, virar as costas para onde quer que estejamos indo, e focalizar nossa atengio, de qualquer ponto vantajoso em que nos acharmos, para onde es vyémos. Nés nos oxgulhamos de no tentar predizer 0 fucuro, assim chmo nossos colegas economistas, socislogos e cientistas politicos ‘téntam fazer, Resistimos a deixar que preocupagées contempor’- nos influenciem —o termo “presentismo” entre historiadores um cumprimento. Avangamos com coragem em dirogio 20 ro com nossos olhos fixos firmemente no passado: a imagem ue apresentamos ao mundo é, falando sem rodeios, que estamos bém na retaguarda* A PAISAGEM DA HISTORIA 7 I Os historiadores admitem alguns fatos que podergo ocorrer no futuro. E fécil apostar, por exemplo, que o tempo continua a pas- sat, que a gravidade continuard a estender-se através do espago, que o festival de So Miguel em 29 de setembro serd como sempre em Oxford, triste, escuro ¢ timido, como hé cerca de setecentos anos. Mas 56 sabemos essas coisas sobre o futuro porque estudamos © passado: sem isso no terfamos nem mesmo o conhecimento des- sas verdades fundamentais, nfo saberiamos as palavras para expres- sé-las, ou até quem, ou onde, ou o que nés somos. $6 conhecemos 0 futuro através do passado nele projetado, Nesse sentido, a histéria € tudo que temos. Porém o passado, por sua vez, é algo que nunca poderemos pos- suit, Porque quando percebemos 0 que aconteceu, os Fatos jA esto inacessiveis para nds: no podemos revivé-los, recuperé-los, ou retor- ‘ar no tempo como em um experimento de laboratério ou simula- io de computador. $6 podemas reqpreienté-los Podemos retratar 0 passado como uma paisagem préxima ou distante, tal como Friedrich o fez.com seu viajante visto de seu posto. Percebemos for- ‘mas através da névoa e da bruma, podemos especular sobre seu sig- nificado, ¢, algumas vezes, podemos mesmo concordar sabre o que clas so. Mas salvo com a invenggo de uma maquina do tempo, ‘nunca retomaremos para ter certeza. A ficgao cientifica, é claro, criou m4quinas do tempo. Dois romances recentes, Doomsday Book, de Connie Willis, e Timelines, de Michael Crichton, mostram dois estudantes de cursos de gra- duagio em historia, respectivamente, de Oxford e Yale, que usam cesses aparelhos para voltar ao século XIV na Inglaterra e na Franga, ‘com o objetivo de realizar pesquisas para suas dissertagGes.> Os dois autores sugerem algumas coisas que a viagem no tempo pode fazer por nds. Por exemplo, pode “produzir uma sensacao” de uma €poca e de um lugar em especial: 0s romances evocam florestas densas, ar puro, cantés fortes de pissaros da Europa na Idade 18 PAISAGENS DA HISTORIA ‘Média, bem como estradas lamacentas, comidas putridas, e pessoas malcheirosas. No entanto, eles nfo mostram que podemos facil mente detectar as caracterfsticas gerais de um periodo visitando-o, pois os personagens seguem vivendo os percalgos do dia-a-dia, como atacados pela peste, queimados vivos, ou decapitados, fatos «que tendem a limitar a perspectiva. ‘Talves seja isso que mantenha o ritmo empolgante do romance, ou que faga os direitos de adaptagéo para o cinema terem apelo mercadolégico. Inclino-me a pensar, contudo, que existe aqui um grande ponto obscuro: a experiéncia direta de eventos nao neces- satiamente 0 melhor caminho para entendé-los, porque nosso campo de visio nfio vai mais além de nossos sentidos imediatos. Falta-nos a capacidade, quando imaginamos como sobreviver & escassez. de viveres, ou fugir de um bando de criminosos, ou lutar de,dentro de uma armadura, para assumir nosso papel de historia- dor. Nao é provivel que nos detenhamos a comparar as condigées da Franga no século XIV com as do periodo de Carlos Magno ou sob 0 poder dos romanos, ou comparar os paralelismos na China no periodo Ming ou no Peru pré-colombiano. Porque o individuo “é muito limitado pelos seus sentidos e poder de concentragio”, escreveu Mare Bloch em. The Historian's Craft, ele “nunca percebe mais do que um mindsculo fragmento na vasta trama dos eventos... Neste aspecto, o aluno do presente nio é certamente melhor do que o historiador do passado” $ Mas, na verdade, afirmo que 0 historiador do passado est em melhores condigées do que o participante do presente, pelo simples fato;de ter um amplo horizonte. Gertrude Stein chegou bem perto dessa premissa em sua pequena biografia de Picasso, publicada em 1938: “Quando eu estava na América, pela primeira vez viajei quae todo 0 tempo de aviso e, quando olhava a terra, via todas as linffas do cubismo tragadas numa época em que nenhum pintor voata de aviao. Vi na terra as linhas mescladas de Picasso, indo ¢ vino, desenvolvendo-se ¢ destruindo-se.”” O que acontece nesse trecho, quase literalmente, é uma visio distanciada de uma paisa A PAISAGEM DA HISTORIA 9 gem de um plano superior: o desprendimento do normal que dava ‘uma nova percep¢io da tealidade. Foi o que os itmaos Monegolfer viram de seu balio ao sobrevoar Paris em 1783, ou os irmaos ‘Wright do seu primeiro “Flyer” em 1903, ou os astronautas da nave espacial Apollo, quando contornaram a Lua no Natal de 1968, rornando-se assim os primeiros seres humanos a contemplar a Terra em contraste com a escuridéo do espago. E também, claro, © que o viajance de Friedrich vé de seu promontétio, assim como intimeras pessoas quie, elevando seus espiritos, pela mudanga de perspectiva, ampliaram sua experiéncia. Isso nos remete, entio, para uma das atividades dos historiadores. Quando pensamos 0 passado como uma paisagem, a histéria é 0 modo pelo qual a representamos, ¢ é este ato de representacio que nos diferencia do familiar, deixando-nos vivenciar através de outrem 0 que nao pode- mos experimentar diretamente: uma visio mais ampla. 0 Ganhamos 0 que com tal visio? Diversas coisas, penso; a primeira delas é um sentido de identidade que corre paralelo ao processo de crescimento. Decolar em tum avido fuz-nos sentir grandes © peque- nos ao mesmo tempo. Sem querer, remos uma sensagio de domt- niio quando o aviéo nos tira da terra, nos ergue acima dos engarrafa- ‘mentos em volta do aeroporto, revela vastos horizontes estenden- do-se mais adiante — presumindo-se, claro, que 0 assento esteja no lado da janela, que o dia nio esteja enevoado, e que nds no tenha- mos painico de avies a ponto de manter os olhos firmemente fe- chados, da decolagem até a aterissagem. Mas quando ganhamos altitude, nfo podemos nos furrar de perceber como somos peque- nos em relagio & paisagem descortinada abaixo. F uma experiéncia a0 mesmo tempo extraordindria eaterrorizante. ‘Assim & a vida. Cada um de nds nasce tio autocentrado que, pelo simples fato de sermos bebés e, portanto, mimosos, estamos

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