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Revista da FAE

A construção do conhecimento no trabalho:


uma condição para o desenvolvimento da
qualidade organizacional e profissional
Heloísa Lück*

Resumo
Tomando como referências os pressupostos de que aprender e construir
conhecimento constituem condição não apenas de desenvolvimento
organizacional, mas até mesmo de sobrevivência dos profissionais e das
empresas e organizações, este artigo tem por objetivo analisar aspectos a
eles relacionados. Além disso, propõe-se a indicar a necessidade de se orientar
pelos referidos pressupostos no cotidiano do trabalho, como contingência
para a superação dos impasses e crises do mundo do trabalho e dos negócios,
vivenciados num contexto de competitividade e mudança, que demandam
agentes de trabalho construtores de conhecimentos. Uma das conclusões
aponta para a necessidade de os profissionais e as organizações se
habituarem a fazer novas perguntas sobre o seu fazer e, a partir da
observação e reflexão estimuladas por essas perguntas, elaborarem um
processo aberto de construção do conhecimento, como base para a contínua
melhoria profissional e organizacional.
Palavras-chave: conhecimento; desenvolvimento organizacional,
qualidade e trabalho.

Abstract
Having as reference the assumption that learning and building up
knowledge are conditions not only to the organisational development,
but also to the survival of professionals, companies and organisations,
this article aims at the analysis of its related aspects. Furthermore, it presents
the indication of the need of orientation by the regarded daily tasks at
work, as the eventuality to overcome impasses and crisis within the business
and commerce world, fully experienced in a competitive and changing
environment, demands labour operatives who build up knowledge. One *Doutora em Educação pela
Universidade de Colúmbia,
conclusion shows the need professionals and organisations have to get Diretora Educacional do Centro de
used to making new questions about what to do and from the observation Desenvolvimento Humano
and reflection caused by the questions elaborate an open process of Aplicado (CEDHAP) e Professora do
building up knowledge, as a base to continuous professional and Curso de Mestrado em Educação
da Universidade Federal de Santa
organisational improvement
Catarina (UFSC).
Key words: knowledge; organisational development; quality and labour. E-mail: cedhap@terra.com.br

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“Uma das características básicas dos operários esse enfoque, procura-se em outros centros a
japoneses é que eles usam tanto o cérebro,
quanto as mãos”. orientação para os problemas organizacionais e de
(Eiji Toyota - Presidente da Toyota Motor) produção, criando-se, desta forma, os modismos.
Na atualidade, vai-se principalmente ao Japão e
aos Estados Unidos, a fim de importar pacotes de
Introdução qualidade, como, por exemplo, o Kanbam, o Just-
in-Time, o Kaizen, dentre outros – Nunca os
A mortalidade das organizações em geral consultores internacionais tiveram um prato tão
e das empresas em particular é muito maior do cheio, a eles entregue de bandeja, tão facilmente,
que a mortalidade infantil e a sobrevida nos legitimado, aliás, pelo princípio da globalização.
países em desenvolvimento, conforme apontado Sugere-se aqui que projetos de melhoria da
por DRUCKER (1992). Evidencia-se, pois, como qualidade e competitividade, orientados por tal
imprescíndível para as organizações que, em paradigma, resultam em muito movimento, em
qualquer estágio de sua vida, estabeleçam melhoramentos temporários e passageiros, mas
condições necessárias para garantir uma vida em nenhuma transformação efetiva e significativa
saudável e orientada para o desenvolvimento, da cultura organizacional e do modo de
traduzidas por sinais de competitividade pela produção, gerando, a médio e longo prazos, o
superação contínua de seus processos e agravamento da condição que se propunha
participação dinâmica no processo produtivo da corrigir, pela desconsideração de que o
sociedade. Do contrário, não lhes resta outra entendimento dos problemas, o mergulho na
alternativa senão exaurir-se gradativamente, realidade, por todos que dela fazem parte, é
vindo, finalmente, a sucumbir. condição para a superação das dificuldades . Por
A necessária competitividade é, portanto, uma aquela prática orientada pela externalidade,
preocupação vital. No entanto, movimentos levanta-se muita poeira, para nela afogar-se mais
adotados pelas empresas, no sentido de promovê- tarde, quando a mesma começar a baixar, o que
la, podem resultar em uma situação caracterizada (é possível afirmar) corresponderia, portanto, a
muito mais pela mera intenção, do que pela ação uma falsa visão estratégica.
conseqüente, muito mais pelo discurso, do que pela Tal ponto de vista é firmado a partir de certos
prática. Ou seja, com dispêndio de tempo, dinheiro pressupostos:
e energia, sem resultados correspondentes. Isto 1) o problema da produtividade, competi-
porque, a construção da competitividade e a tividade e qualidade de uma empresa ou
melhoria da qualidade têm sido ainda orientadas organização dependem, sobremodo, de
por um paradigma superado, que é o da sua cultura organizacional, isto é, do seu
externalidade e da fragmentação, associado a uma modo de ser e de fazer, centrado em
visão limitada e distanciada das condições pessoas (como pensam, como sentem,
concretas e globais do trabalho, mediante a busca, como agem);
pelos dirigentes de empresas e organizações, de 2) o trabalho é circunstância natural de
modelos, métodos e técnicas inteiramente externos aprendizagem e de construção de
às condições de produção e de trabalho, para conhecimento, que se constituem em
resolver os seus problemas, o que evidenciaria condições fundamentais para a
desconsideração à cultura organizacional própria transformação e a melhoria da qualidade
e às pessoas que dela participam. De acordo com como processo continuado;

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3) o trabalhador, independentemente Por seguinte, apresentam-se neste artigo


de seu nível profissional, desenvolve subsídios para que os profissionais direcionem
no seu dia-a-dia de trabalho concepções sua atenção e exerçam esforços no sentido de,
e idéias sobre o mesmo, de que ao produzir os resultados que seu trabalho
resulta, caso não sejam levadas em demanda, construam também conhecimentos
consideração, não apenas um desper- sobre o processo laborativo e sua relação com
dício desse potencial, como também seu contexto organizacional e econômico, a fim
prejuízos de produtividade e de de que possam promover as mudanças e
desenvolvimento organizacional e transformações necessárias na construção da
profissional, dado o conflito gerado qualidade total, como também a própria
por essa desconsideração; empregabilidade.
4) as condições de trabalho e produção
O artigo associa o processo de mudança ao
são condições socioculturais, além de
desenvolvimento da qualidade e à construção
serem afetadas continuamente pelo
do conhecimento no trabalho, centradas no
rápido desenvolvimento da tecnologia.
papel do trabalhador e profissional como
Portanto, são condições dinâmicas e em
produtor de tal conhecimento. Aponta, ainda,
constante mudança, que exigem a
estratégias para tal prática.
transformação constante do acervo de
conhecimento do trabalhador;
5) a continuidade da transformação cons- O processo de mudança é o
tante do acervo de conhecimento só é grande desafio do mundo
possível no cotidiano da ação, em produtivo e dos profissionais
associação com o processo reflexivo e de
sistematização das reflexões resultantes.
É reconhecido que “os negócios evoluem
Este artigo tem por objetivo analisar aspectos mais depressa do que a capacidade de seus
relacionados a esses pressupostos e, conseqüen- administradores para desenvolver formas de
temente, indicar a necessidade de se orientar por
organização novas e mais adequadas” (DAVIS e
eles no cotidiano do trabalho, como contingência
DAVIDSON, 1993, p.21). Mediante esse reconhe-
para a superação dos impasses e crises do mundo
cimento, somos alertados para duas situações
do trabalho e dos negócios, vivenciados num
atuais que devemos enfrentar, para que
contexto de competitividade e mudança, que
possamos não apenas vencer os desafios
demandam agentes de trabalho construtores de
conhecimentos. cotidianos do mundo dos negócios, da produção
e da prestação de serviços, como também, e
Aprender e construir conhecimento consti-
mais fundamentalmente, os desafios do
tuem condição não apenas de desenvolvimento
desenvolvimento auto-sustentado, que
organizacional, mas até mesmo de sobrevivência
dos profissionais e das empresas e organizações. constitui condição fundamental para a saída
Portanto, é fundamental que nos alertemos a dos nossos problemas.
respeito desta questão e orientemos nossas Uma das situações é a da mudança, como
ações de acordo com a mesma. um processo dinâmico e contínuo, a qual consiste

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em “uma das mais importantes questões, se não construir conhecimento que permita visualizar o
a mais importante, no círculo dos negócios da surgimento de novas perspectivas e necessidades.
atualidade” (HARMAN e HORMANN, 1992, p.216). No contexto de um ambiente empresarial e
A outra é a nossa capacidade de participar do organizacional que se torna cada vez mais instável
processo de mudança, não apenas acom- e imprevisível, dada a vertiginosa alteração de
panhando-o e sendo por ele conduzido mas, demandas sociais e estimulações tecnológicas, o
sobretudo, contribuindo para a sua vitalidade, de primeiro alerta para a sobrevivência é bem claro:
modo criativo. “nada é mais perigoso do que o sucesso de
Trata-se de duas facetas da mesma situação: ontem”. (TOFFLER, 1990, p.14).
uma externa a nós (as estimulações e demandas O paradigma da qualidade, num mundo de
que se nos apresentam) e outra interna (nossa mudança, está sendo orientado por uma nova visão
capacidade e ótica pessoal), de cuja interação globalizadora, que leva em consideração todos os
satisfatória depende todo sucesso que elementos interagentes na constituição de um
possamos alcançar e promover. Vale dizer que, sistema, bem como as forças que subjazem nessa
sem um enfoque interativo, orientado pelo interação. Isto porque “já não é possível conceber,
princípio da transformação (interação entre hoje em dia, a empresa e as pessoas que nela
elementos internos e externos), tem-se apenas trabalham, como se estivessem isoladas no vácuo”
movimento e não desenvolvimento auto- (NAISBITT e ABURDENE, 1987, p.68). O princípio da
sustentado. Isto porque, para que de fato globalização deve, portanto, ser considerado em
possamos acompanhar positivamente o seu sentido de interatividade e com visão do todo,
processo de mudança, precisamos deixar de ser
em todos os seus aspectos, isto é, não apenas
simples seguidores acríticos para sermos
levando-se em conta as tendências internacionais,
contribuintes da sua construção.
mas também as nacionais e organizacionais em seus
diversos segmentos.
O processo de mudança implica
mudança de conceitos de qualidade
Mudança e qualidade pressupõem
um processo de construção
No entremeio dessas duas facetas,
apresenta-se a questão da qualidade, que não
do conhecimento
pode mais ser entendida simplesmente como
ausência de defeito dos mesmos e antigos Neste novo e dinâmico contexto do mundo
produtos e serviços. A ótica do “zero defeito” e a do trabalho, ganham corpo e importância as
de “fazer certo da primeira vez” as mesmas coisas informações e a construção do conhecimento, a
que sempre foram feitas não basta. É preciso ser ponto de se afirmar que constituem a base da nova
criativo, é necessário reinterpretar necessidades economia (e.g. DAVIS e DAVIDSON, 1993; DRUCKER,
que se redimensionam constantemente, é preciso 1992; TOFFLER, 1993; NAISBITT e ABURDENE, 1990).

orientar-se por uma visão aguçada da realidade e O rápido movimento em todas as áreas
pela capacidade de compreendê-la e de produzir humanas cria a necessidade de se horizontalizar
sentido a partir desta compreensão, isto é, organizações e reconhecer a importância da

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tomada de decisão em todos os seus níveis e as e adotar os necessários procedimentos para se


decisões, todas elas, ganham grande relevância, constituir em “organização de aprendizagem”.
devendo ser bem fundamentadas e, portanto, Nesta organização “as pessoas expandem
baseadas em informações claras e interpre- continuamente sua capacidade de criar os
tações adequadas. resultados que realmente desejam, (...) surgem
novos e elevados padrões de raciocínio, (...) a
Portanto, a informação e sobretudo o
aspiração coletiva é libertada e (...) as pessoas
conhecimento tornam-se o principal recurso para
aprendem continuamente a aprender em grupo”
a revitalização profissional e desenvolvimento
(SENGE, 1995, p.11).
organizacional, dos serviços e dos negócios,
devendo estar presentes, dado o princípio da
globalização, em todos os segmentos e condições A construção de conhecimento
de trabalho e não apenas em certos segmentos é centrada na valorização do
especializados e da alta direção. A associação
potencial humano
entre o pensar e fazer, desde o mais simples
trabalho até a sua alta direção, constitui-se em
Na economia atual, comumente chamada de
condição básica para o enfrentamento da nova
economia da informação e do conhecimento,
dinâmica do trabalho e da economia.
ocorre uma mudança de ênfase do capital
É a ótica de aprendizagem e de construção econômico para o capital humano, mesmo
do conhecimento no trabalho que possibilita porque se reconhece que são as pessoas que
tanto a mudança e renovação dos serviços e fazem ou destroem uma empresa ou organização.
dos negócios, quanto a qualidade nos Porém, uma pessoa só representa um capital
empreendimentos, uma vez que, sem ela, há significativo na medida em que seja capaz de
a repetição dos mesmos sucessos, ou dos corresponder às necessidades de contínua
mesmos fracassos e situações de desperdício, renovação que caracterizam a nova realidade. Do
o que gera a estagnação e o imobilismo que, contrário, ela é vista como máquina.
infelizmente, marcam em grande parte a
Cabe apontar que, quanto mais informação
economia brasileira como um todo e as suas
e conhecimento se colocam num produto ou
organizações. No caso do fracasso, ocorreria,
serviço, mais este evolui desde a sua finalidade
em grande parte, o desperdício da oportunidade
original, produzindo novas finalidades e, desta
de aprender com erros; isto porque, quando as
forma, gerando um novo valor econômico, uma
pessoas tentam alguma coisa e não obtêm um
nova economia a até mesmo gerando novas
resultado desejado, pelo menos têm uma
informações e novos conhecimentos que se
experiência de aprendizagem e uma oportu-
reintegram num dinâmico e contínuo processo
nidade para construir conhecimentos que lhes
permitem reelaborar as condições e direcio- de desenvolvimento.
namento no trabalho (ROBBINS, 1987). Organiza- Em vista desse contexto, pessoas observado-
ções inteligentes são aquelas que se orientam ras, reflexivas, criativas, com capacidade de
para este fim, não restando àqueles que detectar informações significativas e, a partir delas,
pretendem se desenvolver senão assumir o papel produzir conhecimento, tornam-se a mola mestra

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da nova ótica de qualidade nas empresas e na parte, da qualidade desses conhecimentos: sua
sociedade em geral. Conseqüentemente, abrangência e profundidade, sua coerência e
desenvolver habilidades para atuar neste patamar consistência, sua naturalidade e simplicidade, sua
consiste em condição de sucesso de todos os objetividade e adequação.
trabalhadores e profissionais e não apenas de
Muitas vezes, no entanto, o acervo do
alguns especialistas. Todos os profissionais devem
conhecimento que dominam é tendencioso
ser considerados como produtores de resultados e
(limitado sempre será) incoerente, distorcido,
também dos conhecimentos necessários para
produzi-los. Para isso, torna-se necessário que inconsistente e ambíguo, tendo em vista o modo
estejam atentos a todos os necessários ingredientes como foi construído. Como resultado, ações
e dados concorrentes no processo, observando suas orientadas por tal acervo são invariavelmente,
relações, explorando novos caminhos e inconseqüentes, ou, pelo menos, incapazes de
aprendendo novas coisas. É necessário ultrapassar produzir conseqüências positivas, direcionadas
o senso comum que, embora útil, é limitado, por para resultados efetivos, duradouros; serão
condicionar a visão ao familiar e já conhecido e inseguras; produzirão conflitos desnecessários,
rejeitar tudo o que não se enquadra ao referencial desgastes inúteis e desperdício de energia.
já construído. A partir desses conhecimentos, trabalhado-
“O sucesso deixa pistas” (ROBBINS, 1987), res e profissionais tomam decisões e agem, não
mas para que elas existam como tal é necessário devendo ser surpresa que passem por tantos
saber decodificá-las, compreendê-las. Em vista problemas, pois, de fato, criam-nos quando agem
disto, é necessário que as empresas e organizações deste modo.
invistam na capacidade das pessoas de gerar
Por que tal situação acontece e é registrada
conhecimento enquanto trabalham, e de saber
continuamente?
sistematizá-lo e socializá-lo como forma, por um
Pode-se sugerir que, em geral, profissionais
lado, de desenvolvimento da cultura organi-
trabalham com o objetivo único de produzir
zacional, dos processos de produção e dos
resultados a partir do que já conhecem, ou
negócios e, por outro lado, de desenvolvimento
de sua empregabilidade. Esse investimento está pensam conhecer sobre a realidade, sem mesmo
centrado, por certo, numa mudança de cultura questionar e analisar esse conhecimento; não se
da organização, numa alteração do enfoque orientam no trabalho para aprender e construir
singular e limitado do seu processo de trabalho, conhecimentos, mas sim para, de modo limitado,
de produção de bens e de serviços. resolver problemas; não se orientam para
desenvolver sua organização ou sua empregabi-
lidade, segundo uma visão de médio e longo
Agimos a partir do que conhecemos prazos, mas para alcançar um benefício imediato,
para resolver um problema com que no momento
Todos se organizam e enfrentam as questões se defrontam. Vale dizer que, orientados por essa
que se lhes apresentam no dia-a-dia de trabalho, atitude, o que aprendem ocorre por acaso, de
a partir dos conhecimentos que já dominam. maneira assistemática e de forma muito mais
Portanto, o sucesso que alcançam na superação emocional do que racional, de maneira mais
dos desafios que enfrentam depende, em grande espontânea e desorientada, do que de maneira

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organizada e centrada. Daí o caráter fragmentado, A aquisição de conhecimentos pelo


tendencioso e frágil dos conhecimentos adquiridos. princípio de autoridade tem certas vantagens,
Por outro lado, quando se orientam para pois que, pela transmissão dos conhecimentos
aprender enquanto trabalham, para construir já construídos/elaborados, não é necessário que
conhecimentos, fazem-no de maneira incorreta, cada grupo, cada geração “reinvente a roda”.
dada a própria concepção inadequada que têm Quando o volume de informações do acervo
sobre aprendizagem. A concepção comum, criada universal de conhecimentos é por demais vasto
e impossível de ser dominado, torna-se
talvez a partir da escola, é a de que a apren-
necessário que os mais experientes sintetizem e
dizagem é um processo de aquisição de
sistematizem conhecimentos, daí a existência de
conhecimentos que são transmitidos de maneira
especialistas em área diferente de conhecimento.
formal por autoridades na sala de aula (os profes-
sores), com horário marcado e mediante No entanto, tal processo deve ser promovido
mecanismo de controle para que se aprenda – de maneira que se desenvolva a aquisição crítica
nada mais do que isso. e contextualizada de conhecimento, mediante a
qual se aprende a aprender, isto é, se avalia o
próprio conhecimento; mesmo porque, dada a
Aquisição x construção dinâmica da realidade, da ciência e da tecnologia,
do conhecimento as informações se tornam rapidamente obsoletas,
invalidando o conhecimento nelas baseado.
Como os professores responsáveis por esse O resultado negativo de tal procedimento
processo de promoção da aprendizagem são é o de que por meio dele forma-se a mentalidade
eles próprios, freqüentemente, reprodutores de de que uns são construtores de conhecimento,
conhecimentos auferidos pela leitura, e não pela outros são transmissores e outros são
prática reflexiva, reforçam a idéia de que o que consumidores. Há, pois, o reforço da concepção
vale a pena conhecer está nos livros, do que de que a grande maioria da população é
decorre outra idéia inadequada sobre o que se reprodutora de conhecimentos. Os especialistas
deve aprender e como se deve aprender. e consultores são organizadores de conhe-
cimento, os profissionais em geral são
Ambas as formas de aprendizagem reforçam
reprodutores, os professores e instrutores são
a concepção da formalização da aprendizagem
e de que a sua orientação ficaria sob a seus transmissores e os pesquisadores e
responsabilidade de alguém, considerado como pensadores são os construtores. Assim é que uns
autoridade, seja professor, seja autor de livro, cujas questionam aos outros sobre o que estes devem
idéias são tomadas acriticamente e de forma fazer. Porém, quando dispõem da possibilidade
fragmentada, desvinculada da realidade; o de realização, passam a imitá-los, reproduzindo
correspondente na organização seriam o chefe e seu comportamento acriticamente, sem
os manuais de trabalho. Tal prática cria, aliás, o aprender com ele e transformar sua concepção
princípio da certeza que detém, e até impede, as e visão da realidade.
imprescindíveis mudanças nos modos de No entanto, cabe reiterar que o conhe-
produção e de prestação de serviço. cimento que temos constitui o elo entre o objeto

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conhecido, isto é, a realidade e nós próprios, em É fundamental a integração entre
vista do que necessitamos compreender como a intervenção na realidade e a
conhecemos a realidade, para fortalecer estes elos. construção do conhecimento
Devemos nos orientar para aprender sobre a
desse processo
realidade e sobre como a vemos.

Partindo do tradicional entendimento de


separação de funções, segundo o qual a indústria
A construção de conhecimentos
transforma produtos, o comércio vende, os
demanda concepções e institutos de pesquisa produzem conhecimentos
habilidades específicas e as escolas os transmitem, a construção e a
transmissão do conhecimento são consideradas
Observar a realidade, detectar informações, como funções próprias destas instituições
descrevê-las, estabelecer relações e interpretá-las específicas e especializadas. Em decorrência, as
para construir conhecimento não constituem, organizações em geral e seus trabalhadores nada
porém, tarefa simples e que se promova facilmente teriam a ver com o processo de construção e
transmissão do conhecimento.
– do contrário seria mais comum e não tão rara no
contexto do trabalho. Depende de motivação, É fundamental, porém, compreender que
entendimento e concepções básicas, bem como essa visão fragmentada e fragmentadora da
realidade, levada às suas conseqüências
do desenvolvimento de habilidades cognitivas que,
extremas, produz uma atitude e postura diante
infelizmente, têm sido descuidadas, até mesmo no
das situações de trabalho, que cerceia a produção
contexto escolar, onde o objetivo principal seria a
de resultados significativos de qualquer esforço
promoção do seu desenvolvimento.
voltado para a construção da qualidade total. Os
Por outro lado, a ótica até agora vigente de problemas são globais e dinâmicos, demandando
enfrentamento do trabalho dissocia o pensar do uma visão crítica de quem nele interfere ou atua
fazer, criando mecanismos a serem repetidos e, de modo que, ao produzir um resultado,
continuamente em todos os segmentos de reoriente a intervenção para uma nova realidade
trabalho, até mesmo no intelectual, centralizando criada por este resultado. Tal prática promove a
o processo de pensar e tomar decisões (RIBEIRO, possibilidade de se gerar interpretações sobre a
1989). Em vista dessa situação, os trabalhadores e realidade, mais comprometidas com a sua
profissionais não têm sido estimulados e orientados transformação e, portanto, mais conseqüentes.

a desenvolver tais conhecimentos e habilidades.


É importante observar que, apesar da falta O trabalho é circunstância natural
de estímulo e orientação, essas pessoas pensam de construção do conhecimento
e, quando solicitadas, têm apresentado
contribuições fantásticas para suas organizações. O mundo do trabalho é o mundo da mate-
Pensar é condição fundamental da existência rialização de idéias da sua realização, da sua
humana, como afirmado por Descartes: “Penso, aplicação e da sua revisão, expansão, transfor-
logo, existo”. mação e construção. Na circunstância de

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trabalho, o ser humano pode perceber e • condição de ação sobre a realidade e


compreender a realidade dada e a realidade que de transformação da mesma;
cria e, portanto, a sua relação com o mundo, vale • ação material objetiva e processo social
dizer, a sua identidade. O ser humano conhece- subjetivo;
se a partir da reflexão do que faz e dos resultados • condição de transformação de consciência
do que faz sobre a realidade e em si mesmo como comum, reprodutiva para consciência
parte dessa realidade. O trabalho é socialmente crítica, interativa.
construído a partir da ação humana sobre o seu
ambiente. Conforme afirmado por KOSIK (1986),
o ser humano constrói o conhecimento de si
O desenvolvimento contínuo
mesmo e do mundo. Pelo trabalho e no trabalho da competência está associado
ele contribui na construção da realidade, a partir à construção do conhecimento
das células sociais de que participa e, na medida no trabalho
em que o faz superando a ótica do senso comum
e o sentido da práxis meramente utilitária, de Como apontado anteriormente, a apren-
caráter imediatista, transforma a realidade e se dizagem e a construção de conhecimento
transforma nesse ato. profissional estão diretamente associadas à
Portanto, é fundamental que se reconheça experiência no trabalho, uma vez que se
o trabalho como circunstância do verdadeiro constitui em processo de relação entre ser
exercício da práxis significativa , pela qual humano e realidade e, portanto, em condição
reflexão e ação se interligam dinamicamente, ímpar pela qual ele se torna sujeito pelo
de modo a constituir uma experiência pela conhecimento de si em relação a sua realidade,
qual, ao mesmo tempo em que é produzido um pela compreensão da interação entre seu
resultado desejado, desenvolvem-se os potencial, sua competência e seus efeitos e
influência sobre o que faz, sobre a realidade e
conhecimentos necessários à contínua correção
sobre si mesmo. Todavia, anos de serviço não
de rumos, à socialização da experiência e dos
significam, necessariamente, a construção do
conhecimentos. Desenvolvem-se, sobremodo,
conhecimento. Muitos profissionais apregoam
a competência e a responsabilidade profissional,
possuir um elevado número de anos de
eliminando-se o sentido de distanciamento entre
experiência profissional, quando, no entanto,
trabalhador e o produto de seu trabalho, o que
poderão ter, apesar dos muitos anos de
ocorre como resultado da acentuada separação
trabalho, apenas uns poucos anos de
entre pensar e fazer existente no contexto da
experiência efetiva, uma vez que pode ocorrer
produção e até mesmo da prestação de serviços.
comumente uma tendência de se trabalhar
O trabalho como práxis se constitui, ao mecânica e rotineiramente, do que resultaria,
mesmo tempo, em: por exemplo, um ano de experiência, seguido
• finalidade de aplicação de idéias e fonte de uma série de outros, todos mais ou menos
para seu alargamento e produção de iguais, pela repetição dos mesmos padrões de
novas idéias; trabalho, da mesma ótica, resultado de

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ausência de reflexão sobre o trabalho, os fatores construir conhecimentos enquanto se trabalha.
a ele relacionados, os efeitos que promove e os Compete-lhes também, portanto, mudar o
processos nele envolvidos. Vale dizer, pela adoção enfoque de seus programas de capacitação, em
de uma ótica de rotina aplicada ao trabalho. geral, que poderiam melhor contribuir para os
Além dessa limitação, acrescenta-se o objetivos de desenvolvimento da organização, caso
condicionamento em geral promovido pela escola, sejam orientados pela reflexão, de modo a tornar
que tende a enfatizar a reprodução de os trabalhadores sujeitos do seu trabalho e dos
conhecimentos e não a sua construção, que conhecimentos a ele relacionados. Para isso, é
dissocia o fazer do pensar e coloca comumente as importante que a aprendizagem seja condição
pessoas como reprodutoras e contempladoras do ativadora e acelerada de todos os avanços
significativos das organizações e que trabalho e
conhecimento. Esta ótica é, aliás, reproduzida em
aprendizagem possam ocorrer simultânea e
cursos de capacitação promovidos por empresas e
naturalmente no contexto das organizações.
organizações para “melhor” capacitar seus
funcionários para o trabalho, onde, quando se
adota o princípio do treinamento funcional para o
A construção do conhecimento
exercício de funções e prática de tarefas, essa
demanda registro e divulgação
tendência é assumida com maior sofisticação. Além
disso, estas, muitas vezes, promovem cursos cujo
Entende-se, comumente, conforme antes
objetivo é o de treinar os funcionários em
indicado, que a produção do conhecimento, o
operações a serem realizadas de maneira acritica e
seu registro e divulgação sejam tarefas próprias
mecânica, como se fossem fechadas em si mesmas.
de profissionais especializados e, portanto,
Essas falhas relacionadas à construção do
situados fora do contexto de trabalho das
conhecimento e desenvolvimento de habilidades
empresas e organizações. Esses profissionais
e atitudes podem ser compensadas por meio de
seriam principalmente professores de instituições
programas e ações voltados para a promoção do
de ensino superior ou consultores. Não admira,
desenvolvimento de pessoal por uma política e
pois, que se possa afirmar muitas vezes que “na
metodologia de capacitação em serviço pela qual
prática a teoria é outra”. Isto é, que se produza
se desenvolva o pensamento reflexivo associado
uma teoria distanciada das condições concretas
ao ato de fazer em relação com seus efeitos, que,
do trabalho.
ao serem assumidos pelas empresas e organizações,
possibilitam aos funcionários contribuir para que Há falta de teorias centradas nas condições
elas se transformem em empresas competitivas e dinâmicas e dialéticas do mundo do trabalho em
caracterizadas pelo aproveitamento de mudança e de seus processos que, dado seu
oportunidades para o seu desenvolvimento (WICK caráter dinâmico, devem ser examinadas e
e LEÓN, 1997). Porém, isso não basta. É importante entendidas pelas pessoas que dela fazem parte,
que nelas se pratique uma ótica diferente no que são aquelas capazes de realizar uma plena e
contexto organizacional, orientada não apenas ampla observação participante, mediante a qual
pelo objetivo de obter resultados específicos de poderão concomitantemente desenvolver maior
produção ou de prestação de serviço consciência de sua realidade, transformando-a, e
inovadores, mas também pelo de aprender, de contribuir para a construção de acervo de

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conhecimento centrados na realidade, de • desenvolver espírito aberto a experiências


maneira que teoria e prática – o pensar e o fazer novas, aceitando desafios e riscos;
– se associem transformando-se reciprocamente. • interessar-se por conhecer as coisas para
Esses profissionais desenvolveriam, desta além das aparências, buscando relações
maneira, uma consciência de participação e entre fatos, atos e processos;
engajamento em relação ao trabalho, de vital • aceitar contradições, tensões e conflitos
importância para a prática da qualidade total, como processos naturais da dinâmica
isto é, uma condição em que a realidade é vista social do trabalho, como condição para
sistemicamente e da qual o fazer refletido é o o desenvolvimento;
fio condutor e a melhoria contínua o objetivo
• aceitar dificuldades e fracassos como
aberto sempre buscado.
oportunidades e desafios de apren-
É fundamental, portanto, que as empresas dizagem e desenvolvimento e não como
e os profissionais interessados na promoção da problemas;
melhoria da qualidade, como um efetivo
• observar os efeitos particulares e gerais
processo contínuo de transformação, voltem-se
de suas ações, bem como os de médio
para o desenvolvimento de habilidades e
e longo prazos estabelecendo relações
atitudes que lhes permitam, enquanto
entre os seus diversos elementos;
trabalham, produzirem conhecimentos sobre
• desenvolver senso crítico sobre a reali-
este processo e divulgarem estes conhecimentos
dade, o processo de produção e a
de modo que se promova gradativamente o
natureza do trabalho, e sobre si próprio
desenvolvimento da qualidade, juntamente com
sobre seu desempenho e sobre todos
a nossa independência tecnológica e autêntica
estes elementos em interação;
vinculação com a nossa realidade. O registro e a
divulgação desse conhecimento são condição • analisar, de forma aprofundada, pro-
importante para a análise e aprofundamento do blemas específicos do trabalho e a
conhecimento, assim como da sua confrontação representação que fazem do mesmo;
e teste em outros contextos e realidade. • suspender os pré-julgamentos e tendên-
cias à rotulação dos fatos, fenômenos e
eventos, para poder compreender o seu
Algumas orientações para a significado, seus desdobramentos e
aprendizagem e construção do repercussões;
conhecimento no trabalho • assumir os conhecimentos adquiridos e
vigentes sobre o trabalho e a realidade,
Torna-se necessário, portanto, que o como orientadores provisórios de ação
trabalho seja organizado e orientado para que e não como leis e normas inquestio-
em seu contexto os seus participantes ajam de náveis e definitivas;
modo a: • partilhar com colegas de trabalho, em
• considerar toda situação de trabalho caráter de reciprocidade, informações,
como circunstância de aprendizagem idéias, opiniões sobre a sua problemática,
e oportunidade de construção de de modo a melhor entendê-la e melhor
conhecimento; agir sobre ela;

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• orientar-se pelo máximo aproveitamento Desses aspectos, a fim de promover uma ação
do potencial humano em circunstância concreta, pode-se tomar como ponto de partida a
de trabalho; capacidade de problematização, que consiste na
• manter registros sistemáticos sobre suas identificação de uma questão ou pergunta que
observações e refletir sobre o significado procura desvelar aspectos subjacentes em uma
do seu conteúdo continuamente; dada realidade. A problematização estabelece um
• integrar de quando em quando os interesse por revelar o escondido e, por isso, indica
resultados dessas reflexões, produzindo e um espírito crítico que não se satisfaz com as
divulgando os respectivos documentos; aparências e o senso comum. Tal espírito nos
• usar o que aprendeu; conduz a fazermos perguntas continuamente,
• estabelecer um plano de aprendizagem e como por exemplo:
construção de conhecimento, fazendo uma • Como é esta situação?
lista dos aspectos a serem focalizados, para
• O que está por trás dela?
um período determinado de tempo.
• Como os elementos que dela fazem parte
Além das orientações acima apontadas, é se associam?
fundamental que o profissional trabalhe
• Que fatores estão nela interferindo?
orientado de modo a pôr em prática e desenvolver
• O que resultará com ações alternativas?
certas atitudes e habilidades fundamentais:
Essas são algumas das muitas questões que
• atitude de aprender a aprender;
podem ser apresentadas a qualquer situação do
• curiosidade e independência
cotidiano e que permitiriam revelar uma
intelectual;
compreensão dos seus fenômenos e, dessa forma,
• atitude de observação;
superar o seu caráter rotineiro e repetitivo. Enfim,
• aceitação de erros; o fundamental é que profissionais e organizações
• espírito crítico e criatividade; estejam continuamente fazendo novas perguntas
• habilidade de organização e sistemati- sobre o seu fazer e, a partir da observação e
zação de idéias; reflexão estimuladas por essas perguntas,
• capacidade de problematizar; construam um processo aberto de construção do
• observação criteriosa; conhecimento, como base para a contínua
• disciplina e organização mental. melhoria profissional e organizacional.

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Revista da FAE

Referências

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Rev. FAE, Curitiba, v.5, n.1, p.13-13, jan./abr. 2002 |13

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