EDITORIAL

Um convite à conversão
SUMÁRIO
março 2008/02

A
bundante nos documentos da Igreja é o convite à conver-
são. O Documento de Aparecida é o mais recente deles,
objetivando mudanças urgentes e necessárias na vida
dos seguidores de Jesus. Dentre as várias chamadas
à conversão, podemos destacar três: a pessoal, no en-
contro com Cristo ressuscitado, numa experiência de fé
profunda que gera mudança integral de vida (DA 226); a pastoral,
na passagem do esquema existente, de mera conservação, para 1 - Páscoa: luz do Ressuscitado que
uma pastoral decididamente missionária (DA 370); e a conversão deve contagiar a humanidade.
Foto: Jaime C. Patias
estrutural, na renovação das estruturas eclesiais, abandonando as
ultrapassadas (DA 366). Detalhe: a renovação das paróquias exige 2 - Aparecida Severo.
a reformulação de suas estruturas, para que se torne uma rede de Foto: Arquivo Pessoal
comunidades e grupos capaz de se articular, conseguindo que seus
membros se sintam realmente discípulos missionários de Jesus
Cristo em comunhão. Tudo isso sem esquecer da realidade dos  Comemoração---------------------------------------04
nossos povos. Toda mudança é um processo que requer tomada de Centenário de dom Hélder Câmara
cons­ciência pessoal, decisão e esforço para que de fato, aconteça  NOVICIADO----------------------------------------------06
na nossa vida. Isso também vale para a vida da Igreja. Ousamos Consagrados a serviço da Missão
Robério Crisóstomo da Silva
colocar algumas questões para contribuir no debate proporcionado
por Aparecida. Estaria a Igreja Povo de Deus, organizada sobre a  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
hierarquia e comunidades, decidida a converter-se? Estaria a Igre- Nunca deixe para começar amanhã
Rosa Clara Franzoi
ja disposta a rever sua postura e práticas pastorais em relação a
temas como a inculturação do Evangelho, que enriquece a fé cristã  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
nas mais variadas culturas e povos indígenas Notícias do Mundo
Divulgação

Cimi, Fides, IPS/Envolverde

e afro-americanos, incluindo um pedido de
perdão pelos danos causados por uma pastoral  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
A Páscoa nossa de cada dia
pouco encarnada? Estaria a Igreja disposta a José Tolfo
deslegitimar o sistema neoliberal capitalista que
produz pobreza, impede a experiência comuni-  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
Onde for, leve seu coração!
tária e inviabiliza a vivência do cristianismo? A Aparecida Severo da Silva
tratar com seriedade a questão dos ministérios
ligados à Eucaristia para garantir a atualização  FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14
A lógica da queda
do mistério Pascal na grande maioria (70%) Humberto Dantas
das comunidades cristãs sem a Eucaristia? Discutir uma revisão do
 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15
exercício de poder em suas instâncias e pastorais para superar uma Aparecida: Evangelizar na outra margem
mentalidade machista que ignora a novidade do cristianismo quando Ramón Cazallas Serrano
reconhece e proclama a igual dignidade e responsabilidade da mulher
 Juventude missionária ----------------------------19
em relação ao homem? Reconhecer a chave da questão acerca da A alegria de viver!
família? Rever critérios e opções em relação à presença do clero Patrick Gomes Silva
no meio do povo? Repensar a catequese, a liturgia, a comunicação,  DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20
a acolhida...? A lista continua... o que precisamos fazer é nos dar Jovens lutam por políticas públicas
conta do quanto a Igreja como um todo, fala, insiste e aponta para Dirceu Benincá
a conversão e mudanças, mas ela mesma dá poucos sinais dessa  AÇÃO SOCIAL ------------------------------------------22
conversão, especialmente naquilo que, ao longo dos séculos foi Uma opção corajosa
assumindo e que não a deixa livre para avançar. Não negamos a Valeriano Paitoni
realidade humana da Igreja de Jesus Cristo, que também é divina.  infância missionária ------------------------------24
Contudo, ficar repetindo que a Igreja, Povo de Deus é santa e pe- Chega de fumaça!
cadora para justificar as suas incoerências, pouco ajuda. Aparecida Roseane de Araújo Silva
não passará de mais um projeto ousado se não levar a Igreja a  ENTREVISTA IR. ANA DE FÁTIMA ---------------------26
tomar decisões sérias nas questões que bloqueiam um verdadeiro Educação é vida!
Jaime Carlos Patias
processo de conversão pastoral e missionária. Tudo começa com a
conversão pessoal que nos dispõe a propor, aceitar e implementar  PROFISSÃO RELIGIOSA--------------------------------28
as mudanças almejadas. Vidas para a Missão
Cristina Ribeiro Silva
O Senhor nos diz: “Não tenham medo” (Mt 28, 5). Como às
mulheres na manhã da ressurreição, Ele nos repete: “Por que  ATUALIDADES--------------------------------------------29
buscam entre os mortos Aquele que está vivo?” (Lc 24, 5). Os Fórum Social Mundial 2008
Redação
sinais da vitória de Cristo ressuscitado nos estimulam enquanto
suplicamos a graça da conversão e mantemos viva a esperança  volta ao brasil---------------------------------------30
Carta do 12º Encontro Nacional dos Presbíteros
que não engana (DA 14). 

- Março 2008 3

Ano XXXV - Nº 02 Março 2008
Diretor: Jaime Carlos Patias
Editor: Maria Emerenciana Raia
Equipe de Redação: José Tolfo,
Ramón Cazallas, Patrick Gomes Silva e
Rosa Clara Franzoi
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
Lírio Girardi, Luiz Balsan, Roseane de
Araújo Silva, Humberto Dantas, Luiz
Carlos Emer, Dirceu Benincá, Ricardo
Castro
Agências: Adital, Adista, CIMI,
CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA,
Pulsar, Vaticano
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires
Jornalista responsável:
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532)
Administração: Eugênio Butti
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Instituto Missões Consolata
(CNPJ 60.915.477/0001-29)
Impressão: Edições Loyola
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BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2
Instituto Missões Consolata
(a publicação anual de Missões é de 10 números)
Missões é produzida pelos
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4 Março 2008 -
Centenário
dom Hélder
Dom Hélder Câmara recebe o papa João Paulo II na Catedral Metropolitana, Rio de Janeiro, 1997.
do Regional Nordeste 2 da CNBB
U
ma missa em Recife, no dia 7
de fevereiro, marcou a abertura
das comemorações do cente-
nário de nascimento de dom
Hélder Câmara, arcebispo de
Olinda e Recife, falecido em 27
de agosto de 1999. Cerca de 700 pessoas
participaram da celebração, realizada junto
à sede do Regional Nordeste 2 da CNBB,
com a presença de 17 bispos e 60 padres.
Também o governador do Estado, Eduardo
Campos, além de outras autoridades e
personalidades, esteve presente.
Segundo o arcebispo de Maceió e
presidente do Regional, dom Antônio Mu-
niz Fernandes, a celebração não poderia
ocorrer em melhor momento, lembrando a
abertura da Campanha da Fraternidade,
cujo tema é a defesa da vida. “O tema da
Campanha se encaixa com os conceitos
de dom Hélder, que defendeu a vida, o
amor e a paz”, disse o arcebispo.
Nascido em 7 de fevereiro de 1909,
em Fortaleza, Ceará, dom Hélder foi or-
denado sacerdote em 1931. Em 1952, foi
nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro
e, em 1964 tornou-se arcebispo de Olinda
e Recife onde ficou até se tornar emérito
em 1985.
Outras atividades deverão ocorrer
durante o ano para lembrar o centenário
de seu nascimento. O bispo de Palmares,
Pernambuco e secretário do Regional,
Gregg Newton/Reuters
dom Genival Saraiva, explica o sentido
destas comemorações.
O que é o centenário de dom Hélder
Câmara?
O centenário de dom Hélder é nosso
olhar no tempo, para o dia 7 de fevereiro
de 1909, dia de seu nascimento, em For-
taleza. Não tem como endereço o culto
à personalidade, mas visa reverenciar a
memória e, principalmente, render graças a
Deus pela existência deste pastor da paz,
porque nele o dom da vida se tornou um
serviço ao povo de Deus. A comemoração
de cem anos do seu nascimento nos dá a
oportunidade de identificá-lo como homem
de Deus, servidor da Igreja, pastor de
todos, irmão dos pobres, com o objetivo
de fazer chegar às bases o conhecimento
da pessoa de dom Hélder.
De quem é esta iniciativa?
A iniciativa de promover a comemo-
ração do centenário envolve o Regional
Nordeste 2 da CNBB, a arquidiocese de
Olinda e Recife, o Instituto Dom Hélder
Câmara (IDHeC) e a Universidade Católica
de Pernambuco. De conformidade com a
natureza da programação, a comemoração
do centenário vai acontecer no âmbito do
Regional Nordeste 2 da CNBB, com uma
acentuação maior em Recife, por sua
condição de sede das instituições que
assumiram a organização. A programação,
todavia, por sua natureza e abordagem,
ultrapassa os limites locais e fala à Igreja
e à sociedade brasileira.
de
Câmara
Quais os objetivos desta come-
moração?
O fator tempo já distancia dom Hélder
das gerações mais novas, que precisam
conhecer as suas iluminações e contribui-
ções em assuntos de interesse da vida
da Igreja. Basta vê-lo ante a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e
o Conselho Episcopal Latino-Americano
(CELAM), instituições a que esteve ligado,
do momento de sua criação à maturidade
de seu funcionamento. As novas gera-
ções precisam conhecer dom Hélder por
sua eficiente participação no Concílio
Vaticano II. Por sua visão de Igreja, de
sociedade, de mundo e por sua capaci-
dade de articulação, ele contribuiu muito
junto aos padres conciliares, peritos e
assessores, na elaboração do conteúdo
dos Documentos. Outro objetivo é tornar
presente as suas preocupações e con-
tribuições em relação à vida do povo,
com iniciativas que vencem a prática do
assistencialismo, estimulam a promoção
social e defendem a dignidade humana,
a exemplo da Cruzada São Sebastião,
Banco e Feira da Providência, bem como
sua condição de corajoso defensor dos
direitos humanos, da justiça e da paz. Essas
preocupações e contribuições continuam
sendo razão da ação evangelizadora da
Igreja no Brasil.
Reprodução
- Março 2008
No dia 7 de fevereiro de 1909 nascia dom Hélder,
que viria a ser um grande pastor da Igreja do Brasil.
Para marcar esta data, merecidas homenagens serão
realizadas durante o ano de 2008 e o próximo.
Qual é a programação do ano cen-
tenário?
Ela compreende momentos celebra-
tivos, atividades científicas, culturais e
marcos materiais que serão vividos no
período de 2008-2009. A partir de 11 de
fevereiro de 2008 começamos a reapre-
sentar o programa de dom Hélder, “Um
olhar sobre a cidade”, que ele comandava
na Rádio Olinda. Será realizado também
o Seminário “O Século de Dom Hélder:
cristianismo e construção da cidadania no
Brasil, ontem e hoje”, no período de 12 a
15 de maio, coordenado pela Universidade
Católica de Pernambuco. Já as celebra-
ções de aniversário de sua ordenação
sacerdotal serão realizadas na Igreja do
Regional Nordeste 2, no dia 15 de agosto,
e de sua morte, na Sé de Olinda, no dia 27
de agosto, com a participação da CNBB.
Em setembro, a Universidade Católica de
Pernambuco criará uma Cátedra, com a
temática dos Direitos Humanos, sugestão
de dom Hélder ao receber o título de doutor
Honoris Causa. Em sua homenagem, será
chamada Cátedra de Direitos Humanos
Dom Hélder Câmara. No site Obser-
vatório das Religiões, da Universidade
Católica, estará inserido o seu legado
inter-religioso. Também a Câmara de Ve-
readores de Recife realizará uma sessão
comemorativa. Em 2009, a referência de
todas as atividades comemorativas é 7
de fevereiro, Dia do Centenário de Dom
Hélder, com a celebração eucarística no
Ginásio de Esportes “Geraldão”. Serão
feitas gestões junto à direção dos Correios
para edição de um Selo Comemorativo.
Estão previstos, ainda, um segundo Se-
minário, de caráter internacional, com
o tema “O Século de Dom Hélder” e
várias celebrações nos aniversários de
sua ordenação e de morte, além de uma
cerimônia ecumênica. Outras atividades
previstas: uma sessão comemorativa na
Assembléia Legislativa de Pernambuco,
as inaugurações do Memorial Dom Hélder
Câmara e da reforma da Igreja das Fron-
teiras e uma apresentação da Sinfonia
dos Dois Mundos. Serão organizadas,
também, exposições itinerantes e edição
ou reedição de obras de e sobre dom
Hélder, como expressões culturais do
seu centenário.
Qual o significado de dom Hélder
para a Igreja do Brasil?
A Igreja do Brasil tem registrado em
sua história o lugar de dom Hélder, na
gênese e na vida da CNBB. Por sua mís-
tica, contribuiu para a comunhão pastoral
e para a colegialidade episcopal. A sua
espiritualidade e o seu profetismo são
exemplos a serem lidos e imitados. A ter-
nura de sua personalidade e a firmeza de
seus posicionamentos em defesa da vida
continuam falando à Igreja e à sociedade.
A sua capacidade de diálogo e a coragem
de denunciar as injustiças sociais devem
também estar presentes na ação ministerial
de todos os agentes pastorais da Igreja,
na sua condição de discípulos missionários
de Jesus Cristo. Nele, a ação pastoral e
a construção da cidadania eram marcas
indissociáveis. Sem dúvida, sua vida e seu
ministério episcopal, sempre comprometidos
com a causa dos pobres, com o drama
dos injustiçados e perseguidos durante os
governos militares e a incansável defesa
dos direitos humanos são referências para
a vida da Igreja do Brasil. 
5
 Consagrados
a serviço da Missão
Profissão religiosa de 11 jovens noviços
da Consolata em Buenos Aires.
de Robério Crisóstomo da Silva
O
chamado que Jesus fez aos discípulos, como nos
relata o Evangelho de Mateus (10, 1-15), nos apre-
senta a Missão como forma de gratuidade e entrega,
a qual se concretiza no anúncio da Boa Notícia. Esse
mesmo chamado faz-se presente hoje na história da
Igreja e da humanidade. Percebemos que a Igreja
sempre teve e tem, a missão de preparar homens e mulheres
capazes de assumir a Vida Religiosa, consagrando-se a Deus,
em função do seguimento de Jesus Cristo.
O Noviciado
Foi procurando responder a esse chamado de Jesus, que
ao longo do ano de 2007, o Noviciado Latino-Americano Nossa
Senhora de Guadalupe, em Buenos Aires, obra do Instituto Mis-
sões Consolata, acolheu 11 jovens provenientes da Argentina,
Brasil, Colômbia e Venezuela. Tendo como mestres os padres
Daniel Bertea e Matteo Pozzo, nos preparamos para a profissão
religiosa, vivendo uma profunda experiência de vida em vista da
Noviciado IMC
6 Março 2008 -
Missão Ad Gentes, característica do carisma da Congregação.
Esta Missão nos identifica na Igreja como evangelizadores dos
povos, principalmente daqueles que ainda não conhecem Jesus
Cristo em termos de fé, assim como das populações menos
favorecidas ou excluídas. A nossa formação em comunidades
multiculturais e internacionais nos prepara para trabalhar além
de nossas fronteiras, em diversas nações e etnias. Além de
internalizar as principais características da Congregação, o
tempo de Noviciado tem como atividades exercícios espirituais,
oração, contemplação, adoração eucarística, trabalho, estudo
e pastoral. O objetivo é levar o jovem noviço a assumir a Vida
Consagrada de forma radical e consciente em todos os seus
valores e desafios.
No dia 29 de dezembro de 2007, na capela do Noviciado,
ante o superior provincial, padre Ruben Horácio Lopez, com a
presença de vários missionários da Consolata da região, do padre
Pietro Plona, representante do Brasil, sacerdotes diocesanos e
do povo de Deus, durante a missa fizemos nossa primeira pro-
fissão religiosa consagrando-nos a Deus através dos votos de
obediência, pobreza e castidade, para a vida missionária.
Estudos de Teologia
Depois do Noviciado a formação continua com os estudos
de Teologia em seminários localizados em diferentes partes
do mundo, sempre tendo no coração os horizontes da Missão.
Para o Seminário de Bravetta (Roma), foram Juan Carlos Araya,
(argentino) e Dawinso Licona, (colombiano); ao Seminário de
Bogotá (Colômbia), Marinei Ferrari, (brasileiro), Yair Ligardo
Morales, (colombiano) e Efrain Ocanio (argentino); ao Seminário
de Kinshasa (Congo), Edwin Becerra (colombiano) e Manuel
Pereira (brasileiro); e ao Seminário de São Paulo (Brasil), Júlio
César Caldeira e Robério Crisóstomo (brasileiros), Victor Ernesto
Ochoa (colombiano) e José Rafael Zambrano Durán (venezuela-
no). Os novos estudantes somam-se aos colegas que já vivem
nessas comunidades formando comunidades internacionais. O
Seminário Teológico Padre Bísio, em São Paulo, por exemplo,
conta com 20 membros, provenientes de oito países da África,
Europa e América Latina. Os padres Elio Rama e Luiz Carlos
Emer, brasileiros, são os nossos guias na formação. Além dos
estudos teológicos e atividades formativas colaboramos nas
diversas pastorais das comunidades da Paróquia Santa Pauli-
na, em Heliópolis, periferia de São Paulo. Atuamos também na
Animação Missionária e Vocacional, em albergues de moradores
de rua, em assentamentos de sem-terra e junto às crianças que
vivem com o vírus HIV em casas de apoio. Na nossa caminhada
queremos manifestar nossa alegria em seguir Jesus na Vida
Consagrada missionária para testemunhar o amor de Deus a
toda a humanidade. 
Robério Crisóstomo da Silva é seminarista do IMC.
Nunca deixe para começar amanhã
Senhor, o que queres
que eu faça?
de Rosa Clara Franzoi
I
magine-se num lugar aprazível, bonito, onde a natureza
explode em toda a sua pujança. Depois de olhar e apreciar
tudo, experimente fechar os olhos. Aquela beleza toda
entra no seu coração e na sua imaginação e você continua
vendo, percebendo e sentindo a vibração que toma conta
de seu ser. E se isso não acontece, é porque, infelizmente,
você está vivendo distraído e agindo roboticamente. Os robôs
podem ter os olhos bem abertos, mas nada percebem. Todas
as coisas criadas acontecem por um chamado de amor; e a
sua presença, cada qual desempenhando a sua finalidade, é
a resposta amorosa ao seu Criador e Senhor. O mundo não é
obra do acaso. Não foi o acaso que lhe deu a vida e a pôs em
Quer ser um missionário/a?
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui
02611-001 - São Paulo - SP
Tel. (11) 2231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br
Centro Missionário “José Allamano” - padre José Tolfo
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP
Tel. (11) 2232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br
Missionários da Consolata - padre César Avellaneda
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br
- Março 2008
pró-vocações
movimento. “Faça-se.... E Deus viu que tudo era bom” (Gn 1).
Ao dar existência a todos os seres, Deus deu a cada um, uma
tarefa específica a cumprir; e eles a desenvolvem fielmente. É
por isso que os astros não se chocam entre si; todos seguem
a ordem estabelecida pelo Criador. E como os astros, todos os
demais seres da natureza.
Uma Criação diferenciada
Quando Deus pensou em criar o ser humano, ele o imaginou
inteligente, com vontade própria e lhe deu o precioso dom da
Divulgação
liberdade. Só nós, humanos, temos o privilégio de fazer opções
conscientes e livres; de escolher esta ou aquela maneira de
organizar e orientar a nossa própria vida. Tudo o que foi criado,
foi colocado a serviço do ser humano. “Crescei, multiplicai-vos
e dominai a terra” – é assim que lemos na Bíblia Sagrada, no
primeiro capítulo do livro do Gênesis (Gn 1, 28). Talvez, pensamos
muito pouco na responsabilidade que nos foi dada por Deus,
em relação ao mundo que nos rodeia, e em relação à nossa, e
à vida de cada pessoa. Talvez, paramos pouco para pensar que
Deus, mesmo respeitando a nossa liberdade quanto a escolha
do nosso futuro, está continuamente torcendo para que não
façamos nenhuma besteira, e em poucos instantes coloquemos
tudo a perder - adeus, liberdade! Esta é a questão que deve nos
preocupar: A vida, e o que iremos fazer com ela.
O que será que Deus quer de mim?
Para todos chega o momento de ter que responder às perguntas:
O que serei amanhã? Qual será o meu futuro? Seja em termos
profissionais ou vocacionais. Nunca esquecer de acrescentar outra
pergunta: Senhor, o que queres que eu faça? Essa disposição de
abertura, já é meio caminho andado; porque Deus é quem mais
quer que nos sintamos realizados. Ele, mais do que ninguém quer
que acertemos na escolha do nosso futuro e sejamos felizes. E
você, quer acertar? Oriente a sua busca sempre na direção do
bem, da verdade, do compromisso, da doação, nunca na direção
do egoísmo e você estará no caminho certo.
Jovem! Não deixe para começar amanhã este caminho de busca.
A vida é curta e passa num piscar de olhos. Cultive a sua liberda-
de, porque tudo o que não é assumido, livre e conscientemente,
não é duradouro. 
Para refletir:
Leia o texto do livro do Gênesis 1, 26-28 e tente responder:
1 - Você já se deu conta que foi criado à semelhança de Deus e
que pode estar sendo chamado para alguma missão importante
sobre a terra?
2 - O que significa para você cultivar a própria liberdade?
Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.
7

Quênia, Chade e Moçambique
Perda de vidas humanas
VOLTA AO MUNDO
O Comitê Permanente do Simpósio das Conferências
Episcopais da África e Madagascar (SECAM/SCEAM),
reunido dias 8 e 9 de fevereiro em Johanesburgo, na
África do Sul, manifestou a sua solidariedade à Igreja
e às populações do Chade, Quênia e Moçambique
atingidas respectivamente por uma guerra civil, uma
gravíssima crise política e várias inundações que
destruíram boa parte das plantações. Nas mensagens
enviadas ao cardeal John Njue, arcebispo de Nairóbi
e presidente da Conferência Episcopal do Quênia, e
a dom Jean-Claude Bouchard, bispo de Pale e presi-
dente da Conferência Episcopal do Chade, o Comitê
Permanente do SECAM exprime a sua “tristeza pelos
acontecimentos políticos que levaram à violência e
à perda de tantas vidas humanas, em especial de
crianças, mulheres, de pessoas vulneráveis e até
mesmo de um padre. A nossa esperança e a nossa
oração é para que o Senhor intervenha trazendo de
volta a paz, a justiça, o bom governo e o respeito à
vida humana para o vosso querido País e o continente
africano em geral”.
Bélgica
Conferências de religiosos e religiosas
A União das Conferências Européias dos Superio-
res Maiores (UCESM) realizou sua Assembléia Geral
em Torhout, na Bélgica, de 11 a 17 de fevereiro. Os
representantes das 39 Conferências de religiosos e
religiosas de 26 países da Europa se reuniram neste
encontro, que se realiza de dois em dois anos. Eles
representam 400 mil religiosos e religiosas de toda a
Europa. O tema que reuniu os participantes foi: “Pai-
xão por Cristo, paixão pela humanidade, vividas em
comunidade. Que contribuição a vida comunitária pode
oferecer à Europa?” Lugar de fraternidade e de comu-
nhão na fé e na solidariedade, a comunidade, dentro
da sociedade, é um dos sinais que a reconciliação e
a esperança são possíveis. A Assembléia redigiu uma
mensagem final, na qual expressa suas convicções
sobre a importância do valor da vida religiosa para a
Igreja e o mundo. A Assembléia também elegeu o novo
Comitê executivo para 2008-2012: irmã Lutgardis Cra-
eynest (salesiana, Bélgica), presidente; padre Manuel
Joaquim Gomes Barbosa (scj, dehoniano do Sagrado
Coração, Portugal), vice-presidente; irmã Danuta Wrobel
(snmpn, Pequenas Servas de Maria Imaculada, Polô-
8 Março 2008 -
nia), conselheira; padre Mariano Sedano Sierra (cmf,
missionário claretiano, Rússia), conselheiro.
Brasil
Direitos dos Povos Indígenas
Aprovada em 13 de setembro de 2007 pela Assem-
bléia Geral das Nações Unidas, a Declaração sobre os
Direitos dos Povos Indígenas foi tema das discussões
promovidas por organizações indígenas nos dias 13
e 14 de fevereiro, no Hotel Nacional, em Brasília,
DF. Segundo Azelene Kaingang, do Warã Instituto
Indígena Brasileiro, um dos objetivos do evento foi
discutir como os avanços propostos pela Declaração
podem ser incorporados pela legislação brasileira. O
documento é um importante instrumento para a defesa
dos direitos dos povos indígenas em todo o mundo.
Nele são colocados direitos como à livre determinação;
à terra, aos territórios e aos recursos naturais; ao con-
sentimento prévio, livre e informado; às normas não
escritas que regem internamente a vida das comuni-
dades indígenas; o direito de propriedade intelectual.
Representantes de diversas organizações de países
da América Latina participaram das discussões. Juan
Leon Alvarado, indígena maya-quiché, embaixador da
Guatemala no Equador e ex-presidente da Comissão
da OEA, falou do significado da Declaração da ONU
para os povos de todo o mundo: “pela primeira vez,
os povos indígenas são reconhecidos como sujeitos
de direitos individuais e coletivos em seus Estados e
internacionalmente. Em segundo lugar, a Declaração
representa um avanço na legislação com a criação de
novas normas que reconhecem os direitos coletivos.
Também é um importante instrumento de valorização
e auto-estima dos povos que antes não se sentiam
respaldados em suas manifestações e reivindicações.
Posso dizer ainda que a Declaração é um guia de como
os Estados devem respeitar os povos indígenas”.
EUA
Washington defende o uso da tortura
O secretário de Justiça dos Estados Unidos, Michael
Mukasey, negou-se a iniciar uma investigação penal
dentro da Agência Central de Inteligência (CIA) pelo
uso de “submarino” ou simulação de afogamento nos
interrogatórios de suspeitos de terrorismo. Mukasy
tampouco investigará qualquer outro tipo de tortura
– pelas chamadas “técnicas de interrogação intensifi-
cadas” – nem deixará que o Congresso tenha acesso a
um memorando preparado pelo Escritório de Conselho
Legal do Departamento de Justiça no qual se concluiu
que estas práticas eram legais.O funcionário afirmou
que não é viável nenhuma investigação porque os pro-
cedimentos já haviam sido considerados legítimos pelo
Departamento. Na audiência de outubro no Congresso,
Mukasey negou-se a dizer se o submarino é ou não
uma tortura. A polêmica renasceu com os comentários
do porta-voz da Casa Branca, Tony Fratto, que disse
que o submarino é legal, e que o presidente George
W. Bush poderia autorizar CIA a reiniciar seu uso em
circunstâncias extraordinárias. Ativistas pelos direitos
humanos como a Anistia Internacional, fizeram duras
críticas a estas declarações. 
Fonte: Fides.
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
Para que os cristãos, que em tantas
partes do mundo e de várias maneiras
são perseguidos por causa do Evangelho,
sustentados pela força do Espírito Santo,
continuem testemunhando a Palavra de
Deus com coragem e franqueza.
de Vitor Hugo Gerhard
U
m dos testemunhos mais eloqüentes da vida cristã
nos tempos de hoje, certamente é a perseguição,
silenciosa e anônima. E não são poucos os recantos
do mundo onde isso acontece. Sem muito esforço,
podemos identificar ao menos três lugares de perse-
guição: a) a promovida por regimes autoritários que não desejam
ver os cristãos viverem as verdades do Evangelho ou mesmo
participarem da construção de um mundo melhor; b) a religiosa,
em muitos casos realizada apenas pelo desejo desenfreado do
poder e da conquista, fundada numa visão fundamentalista da
fé: c) a de tipo econômico, onde a opção religiosa já é motivo
suficiente para a segregação e a marginalidade social.
As maneiras de perseguição vão desde as formas desca-
radas e evidentes, até aquelas sutis e mascaradas. Em alguns
lugares do globo, os cristãos morrem por causa da fé, sendo
perseguidos de forma cruenta; em outros, são sitiados geográfica
e fisicamente em guetos; noutras partes, pelo fato de se identificar
com o cristianismo, muitas pessoas são tratadas como seres de
segunda categoria, inferiores; entretanto, talvez as formas mais
desumanas de perseguição, nos tempos de hoje, sejam aquelas
ligadas à cultura, às comunicações e ao mundo econômico.
Não porque sejam violentas no sentido físico da palavra, mas,
Três anos da morte de Dorothy Stang
da Agência JB*
Mais de 600 pessoas participaram, na manhã do dia 12 de
fevereiro, em Belém, Pará, de ato ecumênico em memória da
missionária Dorothy Stang, assassinada há três anos, em uma
emboscada no município de Anapu, no interior do estado.
Além de lembrar a luta e a morte de Dorothy em defesa das
pessoas em busca de terra, os manifestantes pediram mais rigor
e agilidade da Justiça, já que, até agora, um dos acusados de ter
sido mandante do crime, o fazendeiro Regivaldo Galvão, ainda
não foi julgado, pois aguarda decisão de um recurso apresentado
no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo a freira Margarida Pantoja, uma das coordenadoras
do Comitê Dorothy, entidade que organizou o ato público, a ação
da Justiça está muito lenta. "Queremos reivindicar o julgamento
e a prisão de Regivaldo, que é um dos principais mandantes.
Ele está com um recurso na mão do ministro Cezar Peluzzo
em Brasília e, enquanto esse recurso não for julgado, a Justiça
- Março 2008
Divulgação
Irmã Dorothy Stang, mártir da fé em Anapu, PA.
porque inferem uma espécie de violência silenciosa e corrosiva,
que afeta a alma sem deixar marcas na carne.
Uma Igreja que não sofre perseguição, uma comunidade
que não é combatida, cristãos que não experimentam a con-
trariedade por causa do Evangelho e da Pessoa de Jesus, não
fizeram ainda o itinerário completo da fé e do seguimento. No
final do texto das bem-aventuranças, Jesus deixa claro que a
perseguição em Seu Nome será um componente necessário
neste caminho. Suportar estes infortúnios com alegria e es-
perança é tarefa diária em muitas partes deste velho mundo
de Deus, tão marcado por tantos tipos de perseguição e tão
sedento de testemunhas com credibilidade. A cada época da
história humana corresponde um certo grau de perseguição,
com seus ritos e formas próprios. 
Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.
paraense não pode fazer nada aqui. Para nós, isso está se
prolongando muito. Já são três anos. Está muito lento", afirmou
a irmã Margarida. Até agora, foram julgados e condenados pelo
assassinato da missionária Rayfran das Neves Sales, Clo­doaldo
Batista (como executores), Amair Feijoli da Cunha (como inter-
mediador) e Vitalmiro Bastos de Moura (como mandante). Tanto
Rayfran quanto Vitalmiro, no entanto, terão direito a novo julga-
mento, possivelmente neste ano. O primeiro, porque recebeu
pena superior a 20 anos de prisão e o segundo, porque teve o
último julgamento anulado, por alegação dos seus advogados
de que houve cerceamento de defesa durante o processo.
Participaram do ato público, realizado em frente ao Tribunal
de Justiça de Belém, representantes de sindicatos, associações
e entidades ligadas à defesa dos direitos humanos e das igrejas
católica, anglicana e metodista, além de grupos de seguidores
de filosofias orientais.
*Com informações da Agência Brasil
9
 A Páscoa nossa de
espiritualidade

Páscoa é a realização do ser

humano em comunhão com o
outro; é capacidade de partilha,
de estar com os demais.
de José Tolfo

A
Páscoa é o resultado de uma
caminhada, de um processo de
questionamentos e interpela-
ções provenientes da propos-
ta de Jesus, da realidade do
mundo de hoje e da situação
existencial de cada ser humano. Para
chegar ao resultado final, nós sabemos
que o caminho é permanente e as exi-
gências não são poucas. Podemos citar
como exemplo os atletas que estão se
preparando para os jogos olímpicos de
Pequim. Ainda faltam alguns meses, mas,
eles já estão trabalhando pesado para
conseguir uma medalha (nem que seja de
Prata). Muitos deles renunciam ao conví-
vio familiar, às festinhas com os amigos,
aos passeios e férias para se dedicarem
completamente aos jogos: muita concen-
tração e exercícios. É o caminho exigido
para conquistar um bom resultado. Quem
não aceita os esforços, os sacrifícios, as
renúncias e uma adequada disciplina,
não vai muito longe. Aliás, nem chega a
Pequim. O mesmo acontece com certos
jogadores famosos de futebol, quando a
disciplina é deixada de lado, o rendimento ainda estava no começo, eis que acontece com Ele. Uma reflexão sobre o que fez
diminui bastante. o inesperado: a morte de Jesus na cruz. Jesus e porque o condenaram. Pois, a
Um acontecimento que marcou profun- fé pascal é um processo de comunhão
Seguidores de Jesus damente suas vidas. Então, aconteceu a com Jesus e ela já existia na convivência
Para os seguidores de Jesus, a Páscoa dispersão e o medo da perseguição e da deles com Ele, antes de sua morte. É um
também foi uma passagem exigente. Eles morte. É a realidade de muitos movimen- reconhecimento em profundidade desta
experimentaram a alegria e o entusiasmo tos: quando o líder principal é morto, o vivência anterior. Mas, é fundamental
de viver com o Mestre e de lutar para movimento cai bastante e, alguns acabam também, a obra de Deus, o sim de Deus.
a construção do Reino de Deus: uma desaparecendo. O que aconteceu com os Esta nova ação de Deus, em Jesus, por
sociedade diferente, um novo mundo, seguidores de Jesus? O sonho acabou sua total abertura ao Pai. Então, para os
onde todos tivessem vida com qualidade. mesmo? Por que e como eles voltaram discípulos, o anúncio da ressurreição é
Ainda que nem sempre entendessem a se reunir e a proclamar com coragem e o testemunho de uma transformação, de
certas atitudes de Cristo e se deixassem alegria, o projeto do Mestre? A resposta uma conversão pela força do ressusci-
levar pela lógica do lucro, de quem seria é importante para nós hoje (discípulos tado e do Espírito Santo. Pois, só um
o maior e o mais importante, eles ficaram missionários). Uma das primeiras respos- convertido pode falar do ressuscitado.
maravilhados com Seu projeto de vida tas dos discípulos foi o fazer memória de É a própria obra do ressuscitado nos
para a humanidade. Quando o trabalho Jesus histórico: a experiência que viveram seus discípulos. Esta habitação de Jesus

10 Março 2008 -

cada dia
Divulgação
numa pessoa se transforma em missão:
o alegre e corajoso anúncio da morte e
ressurreição de Cristo. Um acontecimento
que transforma o homem por dentro.
Então, os discípulos não anunciam uma
teoria; mas, uma experiência vital: aquilo
que eles estão vivendo. O medo desa-
pareceu e o sonho cresceu dentro deles
(a realização do Reino de Deus). Pois,
eles voltaram a se reunir (Jerusalém).
Este foi o primeiro passo de conversão
e o primeiro testemunho da ressurreição.
A vivência comunitária (obra do ressus-
citado) é o lugar privilegiado para fazer
uma experiência pascal e para afirmar,
com alegria e coragem, que o crucificado-
ressuscitado está vivo.
- Março 2008
A comunidade cristã
A vivência em comunidade foi o lugar
privilegiado dos primeiros discípulos para
reavivar o sonho do Reino de Deus e para
testemunhar a sua presença no mundo.
Páscoa é a realização do homem em
comunhão com o outro; é capacidade de
partilha, de estar com os demais. Assim, nós
vamos aprendendo a conviver. Este viver
em função do outro (a dimensão da cruz)
implica esvaziar-se de nós mesmos (Fl 2,
1-11). Tal experiência é obra do ressusci-
tado e cria a comunidade dos seguidores
de Jesus. É muito importante recuperar
sempre esta dimensão de estar com o outro,
do abraço fraterno, do caminhar junto, das
equipes de vida e trabalho... Pois, o indivi-
dualismo e ultimamente, as comunicações
virtuais vão crescendo e deixando nossas
relações vazias de significado. Recuperar
a sacralidade do outro, da comunidade,
do encontro é celebrar permanentemente
a experiência pascal. Mesmo as nossas
comunidades paroquiais deveriam revelar
esta sacramentalidade. Nesses dias estive
celebrando numa pequena comunidade
da periferia de Curitiba. Foi maravilhoso
experimentar o calor e a vida antes, du-
rante e depois da celebração. Terminada
a celebração da Eucaristia, a maioria das
pessoas ficou conversando na Igreja ou
fora dela, partilhando experiências de vida
e trabalho. Quase todos se conheciam.
Não havia pressa. Só faltou um bom copo
de vinho para completar a festa. Nós esta-
mos convidados a cultivar e fazer crescer
constantemente esta simplicidade e alegria
do encontro, para que seja realmente um
sacramento na comunidade e uma fonte
de energia e vida para continuar nossas
atividades cotidianas.
Novas comunidades
Fala-se muito hoje sobre o futuro de
nossas comunidades paroquiais. Muitas
delas para continuar sendo um centro de
vida e alegria necessitam de um caminho
pascal significativo. Pois, do jeito que
estão, caminham para a morte. Pouca
comunicação e partilha de experiências;
ninguém se conhece; o líder é mais um
profissional burocrático que um anima-
dor e servidor; tudo está centralizado na
paróquia e se fica esperando aí; nada se
partilha ou se faz fora do seu território... O
que significa viver o caminho da Páscoa
para uma comunidade semelhante? O
que significa celebrar a ressurreição do
Senhor? Qual o significado da expressão:
ele está vivo, ele está no meio de nós?
Cada vez que nós por Cristo, com Cristo
e em Cristo assumirmos as atitudes de
Jesus vencendo o ódio pelo amor, a ofen-
sa pelo perdão, a discórdia pela união, a
morte pela vida, o erro pela verdade, o
individualismo pela comunidade, a indife-
rença pela participação, a exclusão pela
inclusão, as dúvidas pela fé, o desespero
pela esperança, as tristezas pela alegria,
a competitividade pela solidariedade, a
vingança pela compaixão, as trevas pela
luz... (oração de São Francisco), a expe-
riência pascal vai se realizando em nós
e na comunidade. Mas, são necessárias
decisões políticas e estruturais para que
este processo se realize na sociedade
e seja visível no meio do povo de Deus.
O Documento de Aparecida nos oferece
algumas pistas e exigências para que
a Páscoa seja permanente e aconteça
nas comunidades cristãs: isto é, a vida
em plenitude para a pessoa inteira e
para nossos povos. Para que nossas
comunidades sejam mais missionárias e
sinais visíveis e críveis da presença do
Ressuscitado, necessitam:
• desinstalar-se de seu comodismo,
estancamento e tibieza.
• converter-se em um poderoso centro
de irradiação da vida em Cristo.
• passar pela experiência de um novo
Pentecostes que livre a todos do cansa-
ço, da desilusão e da acomodação.
• renovar as estruturas eclesiais, aban-
donando as ultrapassadas, criando
comunidades eclesiais de base e
planejando as ações pastorais...
• transformar a pastoral de mera conser-
vação, em uma pastoral decididamente
missionária.
• assumir os novos rostos da pobreza,
à luz da opção pelos pobres.
• aceitar o protagonismo das mulheres
na evangelização.
• ter uma atitude permanente de con-
versão pastoral.
• constituir uma pastoral social estru-
turada, orgânica e integral
Que o Crucificado-Ressuscitado nos
transforme, pela força do seu espírito, para
viver em constante caminho de Páscoa
e converter nossas comunidades em
centros de irradiação da vida em Cristo
e, decididamente, missionárias... 
José Tolfo é missionário e reitor do Seminário Filosófico Nossa
Senhora Consolata, Curitiba, PR.
Para refletir:
1. O que necessita ser mudado em mim
e na minha comunidade para sermos
sinais sacramentais da presença do Res-
suscitado?
2. Como renovar a comunidade cristã
para que seja sempre mais um lugar de
encontro e uma fonte de santidade e de
vitalidade para todos?
3. Quais são as características de uma
comunidade cristã missionária que vive
a Páscoa todos os dias?
11
 Onde for
testemunho

leve seu coração!

Aparecida Severo da Silva,

Arquivo Pessoal
leiga missionária na
Amazônia.
de Aparecida Severo da Silva

V
enho de uma família nume-
rosa de quatro irmãos e sete
irmãs. Em 1969, quando tudo
foi se tornando muito difícil no
sertão da Paraíba, rumamos
para São Paulo. Na bagagem
trouxemos muita fé em Deus e muita es-
perança num futuro melhor. Trouxemos
também a forte religiosidade nordestina
que, para nós, era algo de sagrado. Nossos
pais, embora sendo muito simples, nos
educaram na fé, no respeito pelo outro,
no amor ao trabalho. Já o papa João XXIII
dizia: “Aonde quer que você vá, leve seu
coração”.
Luta com o povo
O povo clamava por justiça e eu fui
me engajando em sua luta por melhores
condições de vida. Pela minha cabeça a
dúvida de como poderia concretizar aquela
vontade de ser útil aos que estavam ao meu
redor. Cheguei à conclusão que a única
maneira seria me tornando religiosa mis-
sionária. Empolgada com esta descoberta,
Jaime C. Patias
Aparecida com jovens indígenas, Tefé, AM.
procurei a Congregação das Filhas de São
José. Gostei muito de ter conhecido o seu
Carisma e ter vivido momentos bonitos de
serviço e doação; mas, percebi que não
era daquele jeito que Deus me chamava
a servi-lo no seu povo. Saí do convento e
continuei minha busca. Nesse período fiz o
Curso de Teologia para leigos na diocese,
em Santo André, SP. Conheci um grupo
de mulheres leigas consagradas. Quis
aprofundar mais esse estado de vida e
gostei. Parecia que respondia ao meu
anseio. Depois de um período de orienta-
ção, fiz minha total consagração a Deus a
serviço da Igreja. Era o ano 2000. Com a
consagração, cresceu mais ainda aquela
vontade de me colocar a serviço dos que
bispo dom Sérgio Eduardo Castriani, que
viera pessoalmente nos receber. Senti-me
plenamente acolhida na terra de missão.
O jeito de ser Igreja
Ao ouvir o bispo nos contando um pouco
da história da realidade da sua diocese,
sentia de estar entrando em contato com
uma Igreja com uma longa caminhada
pastoral; uma Igreja com muitas lutas e
muitas vitórias, mas com muitos sofrimentos
e cruzes, por ser aquela uma região onde,
em muitos lugares, o povo é oprimido. O
extermínio dos povos indígenas marca, com
tristeza, a história da região. A Prelazia é
formada por dez municípios e um grande
número de comunidades ribeirinhas ao

mais sofrem. À minha grande aspiração
da missão, veio unir-se o incentivo do meu
bispo. Foi então que comecei a conhecer
o Projeto Missionário Sul 1 e Norte 1 -que
prepara e envia missionários: leigos, pa-
dres, religiosos e religiosas para a Igreja
do Amazonas - Roraima. Fui convidada a
integrar a equipe de missionários leigos
que atuavam na Prelazia de Tefé, que fica
na parte ocidental do Amazonas. Parti em
junho de 2004. Meu coração se encheu de
Ir. Rosa Clara Franzoi e Aparecida Severo, VII Enoim, SP. alegria ao avistar, no aeroporto de Tefé, o
longo dos rios e afluentes do Solimões,
Japurá, Juruá e Jutaí. Minha grande an-
siedade era a de conhecer a cidade onde
eu ficaria - Alvarães. A viagem foi feita de
barco motorizado, que o povo chama de
catraia ou voadeira. Após uma travessia
de uns 20 minutos chegamos a uma comu-
nidade simpática, chamada Nogueira. De
lá, mais 20 minutos de carro e estávamos
na paróquia de Alvarães. Fomos recebidos
pela equipe de missionárias leigas que
lá trabalham. Foi nesta comunidade que

12 Março 2008 -
 comecei a conhecer o jeito de ser Igreja
daquele povo. Além da matriz, a paróquia
tem mais duas comunidades na cidade e
cerca de 30 no interior. É uma Igreja bem
ministerial. Com a escassez de padres,
os leigos atuam em todos os âmbitos
da comunidade, mesmo não tendo toda
aquela formação que seria necessária. As
pastorais caminham com bastante força;
então percebi que o meu, deveria ser um
serviço de animação, de formação e de
acolhida. Meu primeiro contato foi com os
jovens; um grupo com grande vontade de
lutar por justiça e disposto a transmitir esse
entusiasmo aos outros jovens. Comecei
a assessorar as pastorais já existentes,
procurando somar forças com todos. Fiquei
naquela paróquia apenas cinco meses.
Constante adaptação
Em seguida fui me juntar à equipe
missionária da cidade de Uarini. Tratava-se
de uma paróquia que estava sob a exclu-
siva responsabilidade dos leigos, distante
de Tefé, 13 horas de barco. Lá encontrei
uma realidade completamente diferente.
Aliás, esta é uma característica de toda a
Prelazia: uma diferença marcante entre as
comunidades. Se por um lado isto pode ser
um fator positivo, por outro, especialmente
para nós, é um grande desafio, pois significa
estar sempre em contínua adaptação. A
paróquia de Uarini tem 52 comunidades
espalhadas ao longo dos rios. Realizei
ali a minha primeira visita missionária às
comunidades ribeirinhas. Passei quase
um mês morando no barco para visitar
mais de 20 comunidades ao longo do
Rio Solimões. Foram dias maravilhosos e
cansativos. Acresce-se o fator psicológico
necessário de estar sempre disposta para
o encontro com a comunidade seguinte.
Confesso que foi uma boa prova para o
meu grande desejo de servir. Porém, era
Arquivo Pessoal
Aparecida em retiro com catequistas, 2007.
- Março 2008
Leigos e leigas
despertam cada vez
mais para o discipulado
missionário na Igreja.
interessante: todo aquele cansaço parecia
desaparecer quando se chegava a cada
comunidade. As crianças vinham ao nosso
encontro com flores, fazendo festa. Naque-
les encontros percebia-se o quanto o povo
estava desejoso de ouvir a Palavra de Deus
e de receber a visita da Igreja, na pessoa
dos seus missionários e missionárias. No
contato direto com eles, tocava-se nos seus
inúmeros problemas: falta de assistência
médica, remédios, saneamento básico,
escola, energia elétrica, água potável, o
alcoolismo e a droga. Naquelas visitas
procurávamos incentivá-los à luta por uma
vida mais humana. Além disso, insistíamos
muito na necessidade da preservação da
natureza, principalmente dos lagos, de onde
retiram o principal alimento da região, os
peixes. A Prelazia incentiva e dá todo o seu
apoio a uma outra luta: a defesa dos povos
indígenas, de suas terras, educação, saúde,
subsistência e o resgate de sua cultura.
Já existem organizações nesse sentido,
como o movimento das mulheres, dos
pescadores e ultimamente dos catadores
de resíduos sólidos. Para a comunicação,
além dos barcos, a Prelazia tem uma
rádio para que a voz do Pastor chegue
aos mais remotos rincões. As distâncias
são enormes. Há equipes missionárias
que para chegar à sede em Tefé, viajam
85 horas de barco. E no retorno rio acima,
são muitas horas a mais.
A escassez de missionários
As dificuldades da evangelização são
muitas: o alto custo das viagens de longa
distância e, sobretudo a escassez de mis-
sionários e missionárias. São poucas as
pessoas que decidem abraçar esta causa
ou se dispõem a dar alguns anos de sua
vida em prol desses irmãos e irmãs. Só
para se ter uma idéia: a Prelazia de Tefé
ainda não tem um padre autóctone, isto
é, filho da terra. Muitas paróquias não
têm sacerdotes e isto significa que não
têm a Eucaristia. Em muitas comunidades
ribeirinhas e indígenas, esta presença
só acontece de seis em seis meses ou
a cada ano. É de admirar a consciência
de pertença à Igreja que muitas pessoas
têm. Homens e mulheres que, mesmo com
seu pouco conhecimento, têm a coragem
de tomar a frente de uma comunidade
e levá-la adiante, em comunhão com o
pequeno grupo de padres e missionários
da região e o seu bispo. Diante desse
testemunho cristão, sinto que valeu a pena
ter ido e ter ficado lá três anos. Muito mais
desbravadores foram os missionários que
lá chegaram no início, quando tudo era
ainda muito mais difícil. Foram verdadeiros
heróis e heroínas chegando a dar a vida
pela causa do Evangelho. Tais exemplos
nunca serão esquecidos.
Um pedaço fica lá...
O último ano da minha missão foi na
cidade de Tefé, no serviço de Coordenação
da Pastoral. É um trabalho mais burocrático;
porém, de imprescindível necessidade para
que a evangelização aconteça. Quando
senti que se aproximava o momento de
despedir-me daquele povo que tão amoro-
samente me acolhera e me ensinara como
ser missionária no seu meio, o meu coração
ficou apertado. Saí da Prelazia durante a
assembléia das CEBs, que contou com
a participação de mais de 700 pessoas.
Para mim, aquele foi um momento forte
e preparado por Deus. Naqueles dias eu
pude reencontrar quase todos os repre-
sentantes das comunidades que eu tinha
visitado. Diante de tanta graça, confirmei
meu propósito de continuar servindo o Se-
nhor e seu povo. Hoje, de retorno à minha
casa e diocese, em Santo André, procuro
partilhar com o povo, a alegria que se sente
em dizer sim a Deus. Eu já me propus: vou
deixar para mais tarde os meus projetos
pessoais e renovar a minha entrega: “Aqui
estou Senhor, envia-me”. Foi-me proposto
um serviço à Igreja missionária no Centro
Cultural Missionário (CCM) em Brasília,
DF, onde me encontro trabalhando desde
fevereiro. A missão continua. 
Aparecida Severo da Silva é leiga missionária consagrada,
CCM Brasília, DF.
13
 A lógica da queda
fé e política
O governo federal tem se mostrado enérgico no combate à
corrupção, e não tem poupado ministros e amigos.
de Humberto Dantas
L
uiz Inácio Lula da Silva tem o costume de insistir na frase
“nunca antes na história desse país” como forma de
valorizar os feitos de seus anos à frente da Presidência
da República. Um olhar acurado sobre os fatos sociais,
políticos e econômicos dos últimos cinco anos atesta-
rão que, em alguns casos, o chefe de nosso Executivo
nacional tem plena razão. E em outros, está longe de tais feitos
memoráveis.
Tema relevante nessa análise é o combate à corrupção. O
trabalho da Polícia Federal é marcante no último qüinqüênio. A
quantidade de operações deflagradas resulta em descobertas
ousadas de ações contra o patrimônio público. Algumas delas
foram trazidas à tona pelas denúncias e investigações de Co-
missões Parlamentares de Inquérito que agiram, sobretudo,
entre 2005 e 2006. Diante desses resultados significativos, os
brasileiros se perguntam: o Brasil de Lula é o mais corrupto da
história ou o trabalho da PF tem funcionado como “nunca antes
na história desse país?” Tendo a apostar na segunda hipótese, e
destacar que surpreende a quantidade de ministros afastados do
governo federal por denúncias de corrupção e envolvimento. Em
que pese o fato de nenhum ter sido condenado, a lista é longa
e soma oito nomes: Benedita da Silva (Assistência e Promoção
Social, 2004), Anderson Adauto (Transportes, 2004), José Dir-
ceu (Casa Civil, 2005), Antônio Palocci (Fazenda, 2006), Luiz
José Cruz/ABr
Senadores contam assinaturas para a criação de CPI sobre o uso de cartão corporativo.
14
Gushiken (Secretaria de Comunicação e Núcleo de Assuntos
Estratégicos, 2006), Silas Rondeau (Minas e Energia, 2007),
Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais, 2007) e Matilde
Ribeiro (Igualdade Racial, 2008).
Cartões corporativos
Matilde Ribeiro, às vésperas do Carnaval, entregou o cargo
como vítima de um escândalo envolvendo cartões de crédito
corporativos do governo federal. O aumento significativo nos
milhões despendidos mensalmente chamou a atenção da
imprensa. Destaca-se que a ministra não está sozinha nessa
história. Pagou um preço alto pelas centenas de usuários dessa
facilidade. O que deveria ser um uma ferramenta capaz de agilizar
o trabalho da equipe de confiança do Planalto, transformou-se
em suposta ferramenta de corrupção.
A ex-ministra admitiu que cometeu erros, sobretudo ao utilizar
seu cartão para o pagamento de compras pessoais. Mas é pouco
provável que outros não seguiram caminho semelhante. O que
Matilde precisa entender é que a estratégia de Luiz Inácio Lula
da Silva se mostra eficaz desde 2004, quando derrubou Bene-
dita da Silva. Não importa quem cometeu o erro, em nome da
preservação da imagem do governo, tem que pagar. Foi assim
também com José Dirceu e Antônio Palocci, homens fortíssimos
do primeiro mandato. Diante de tal resultado, o que se espera
é que a ex-ministra sirva à famigerada imprensa, oferecendo à
sociedade a sensação de combate à corrupção. Nunca teremos
uma explicação para os gastos excessivos com carnes e vinhos,
e muito menos para os milhões sacados em
dinheiro? Para quem já teve um filho e um
irmão envolvidos em supostos escândalos,
uma ministra não tem grande valor.
Diante de tal cenário, seria melhor que as
organizações em defesa dos direitos dos negros
arrefecessem suas críticas à queda da ministra.
Definitivamente sua demissão não parece nos
remeter ao racismo. Um breve histórico das
deposições não permite que utilizemos etnia,
gênero, origem ou qualquer variável como
fator explicativo do afastamento. O que parece
melhor explicar as atitudes da Presidência é a
necessidade de manter-se fiel ao “combate à
corrupção”. Algo que seguramente aumentou
muito ao longo de seu governo, a ponto de piorar
a péssima imagem de nossa classe política e
reforçar uma questão que completará três anos
em breve: Luiz Inácio Lula da Silva, realmente
não sabe de nada e sequer se envolve com
tais questões? Fiquem atentos. 
Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universi-
tário São Camilo. Co-autor do livro Introdução à Política Brasileira,
Paulus, 2007.
Março 2008 -

A Conferência de Aparecida
Evangelizar na
outra margem
Muito além da missão continental, Aparecida garantiu a Missão Ad Gentes,
uma conseqüência do coração universal do cristão.
Padre Josiah K'okal, Missão entre o Povo Warao em Nabasanuka, Venezuela.
de Ramón Cazallas Serrano
N
o artigo anterior, tratamos
da Missão do discípulo
em geral no Documento
de Aparecida. Missão que
corresponde a todo batiza-
do que se torna discípulo.
Agora, vamos refletir sobre a Missão
Ad Gentes. Em nossa língua, o termo
recebeu a tradução de além-fronteiras.
Confesso a vocês que pessoalmente,
não gosto muito deste termo. Por duas
razões: a primeira, porque é uma de-
finição geográfica da Missão e nem
todos os que estão fora das fronteiras
necessariamente estão Ad Gentes.
Às vezes aparecem nas estatísticas
dos missionários brasileiros que estão
além-fronteiras e realizam serviços
- Março 2008
que têm pouco a ver com a Missão;
a segunda, porque temos no Brasil
homens e mulheres que estão fazendo
uma verdadeira missão Ad Gentes sem
sair das fronteiras do país: homens e
mulheres na fronteira da injustiça, na
pobreza de nossas periferias e nas
fronteiras da marginalização por raça,
cultura ou condição social. Desta forma,
podemos dizer que no capítulo anterior
tratamos da Missão “para dentro” e
nestas páginas vamos ver a Missão
“para fora”.
Tradicionalmente, no conceito da
Missão Ad Gentes estava o anúncio do
Evangelho a todas aquelas pessoas que
ainda não conheciam ou nunca escu-
taram falar de Jesus. Recentemente,
com alguns documentos, a Igreja tem
repetido este conceito como primeira
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
Arquivo IMC Venezuela
tarefa da evangelização e da Missão.
Lendo o evangelista Marcos pode-
mos observar o imperativo da Missão.
Os versículos de 9 a 20 do capítulo
16, são um apêndice ou acréscimo
posterior, onde sobressai o mandato
missionário: “vão pelo mundo inteiro
e anunciem a Boa Notícia a toda hu-
manidade”. No começo, nas primeiras
redações do Novo Testamento não
aparecia este mandato. Posteriormente,
as comunidades da primeira geração
provavelmente quiseram completar com
uma apresentação global da missão
da Igreja. Podemos interpretar que as
primeiras comunidades não podiam
viver o Evangelho de Jesus sem a
Missão, não existiam só para elas,
mas, para o mundo e a sociedade na
qual estavam inseridas.
15
 Os verbos do Ad Gentes
Como já assinalamos, apenas
a ­geografia não define a Missão Ad
Gentes. Mas, também é importante na
atividade e na espiritualidade missio-
nária o “sair”, ir ao encontro, caminhar
e sentir a força interior de comunicar
o que somos e partilhar o que temos.
Sair além dos limites da Igreja, da sua
pastoral ordinária. Ser separado para
a específica tarefa missionária como
Paulo e Barnabé na Igreja primitiva:
“Separem para mim Barnabé e Saulo,
a fim de fazerem o trabalho para o qual
eu os chamei” (Atos 2, 2). “Ir longe”, no
sentido de deixar uma Igreja estrutu-
rada para formar novas comunidades.
“Ser enviado” para esta tarefa pela
comunidade cristã. A Missão não se faz
sozinha, pois é a Igreja-comunidade que
envia. Para “pregar o Evangelho” como
autêntico enviado ou enviada.
Como podemos ver, são todos
verbos em movimento e a Missão é
uma ação contínua que procede da
Trindade, começa no Pai, passa por
Jesus, é animada pelo Espírito Santo
As margens humanas
As outras margens da Igreja se
encontram no mesmo continente e em
todo o mundo. Diríamos em todas as
nações, e por nações não entendemos
os estados, mas, todos esses povos e
situações onde existem as múltiplas
pobrezas: os deserdados, os excluídos,
marginalizados, perseguidos, refugia-
dos, enfim, todas aquelas vítimas que
a globalização e o neoliberalismo vão
deixando à margem da estrada. Todos
aqueles que dão prejuízo ao capital, e
ao Estado são descartáveis. E estas
situações encontramos aqui e fora. A
Igreja não pode voltar-lhes as costas.
Faz parte da sua missão evangelizadora,
desde a prática de Jesus, continuada
pelos apóstolos até nossos dias. Ilumi-
nadoras são as palavras de Bento XVI
na oração do Angelus de 27 de janeiro
deste ano: “Os milagres realizados por
Jesus constituem uma provocação
frontal ao Império Romano, pois com
eles, mostrou que havia chegado o
“Reino de Deus”. O bispo de Roma
declarou que “o termo Evangelho, nos
tempos de Jesus era utilizado pelos
16
que, por sua vez, a entrega à Igreja. E
não pode ser fechada, mas, comunicada
a todos os povos e raças. Poderíamos
dizer que a Igreja não vive para si. Ela
tem a tarefa de anunciar, convocar e
enviar servos e testemunhas do Reino.
Falar da Missão é falar da Igreja e falar
da Igreja é falar da Missão.
Aparecida não define o que é a
Missão Ad Gentes, fala do “compromisso
com a Missão Ad Gentes: conscientes
e agradecidos porque o Pai amou tanto
ao mundo que enviou seu Filho para
salvá-lo (cf. Jo 3, 16), queremos ser
continuadores de sua Missão, visto
que essa é a razão de ser da Igreja e
que define sua identidade mais pro-
funda” (373).
O papa Bento XVI confirmou que
o Ad Gentes se abre a novas dimen-
sões: “O campo da Missão Ad Gentes
se tem ampliado notavelmente e não
é possível defini-lo baseando-se ape-
nas em considerações geográficas ou
jurídicas. Na verdade, os verdadeiros
destinatários da atividade missionária
Cecília de Paiva
Lixão em Campo Grande, MS.
imperadores romanos para fazer seus
pronunciamentos”. Independentemente
do conteúdo, eram definidos como “boas
novas”, ou seja, anúncios de salvação,
pois o imperador era considerado como
o senhor do mundo e cada um de seus
editos era portador do bem”. Aplicar esta
do povo de Deus não são só os povos
não-cristãos e das terras distantes, mas
também os campos socioculturais, e
sobretudo, os corações” (375 - discurso
aos membros do Conselho Superior
das Pontifícias Obras Missionárias, 5
de maio de 2007).
A Igreja latino-americana deseja
que a influência de Cristo chegue até
os confins da terra. Não fica indiferente
quando toma consciência de que muitos
povos ainda não escutaram o primeiro
anúncio.
Aparecida fala que “devemos for-
mar-nos como discípulos missionários
sem fronteiras, dispostos a ir “à outra
margem, àquela onde Cristo ainda não
é reconhecido como Deus e Senhor, e
a Igreja não está presente” (376). “É
desejo que a V Conferência seja estímulo
para que muitos discípulos de nossas
Igrejas vão e evangelizem na “outra
margem”. A fé se fortalece quando é
transmitida e é preciso que em nosso
continente entremos em nova primavera
da Missão Ad Gentes” (379).
palavra à pregação de Jesus teve, por-
tanto, um sentido fortemente crítico, era
como dizer: “Deus, e não o imperador,
é o Senhor do mundo e o verdadeiro
Evangelho é o de Cristo”.
A luta da Igreja contra a fome, as
doenças, a ignorância e as injustiças
sociais não é “cálculo” ou “engano”
com vistas às futuras conversões, mas
sincera vontade de estender os frutos
da redenção até os últimos limites da
Criação. Por isso, nascem as mais di-
versas iniciativas para responder a todas
as exigências humanas; se participa e
colabora em todo sentido e com todos
para a promoção de um mundo melhor.
O exercício da caridade é também
exercício de esperança, especialmente
onde ainda não é possível o anúncio
pleno e explícito de Cristo.
O Evangelho de Jesus e sua presen-
ça substituem todas as “boas notícias”
que os poderes deste mundo prometem
à sociedade. Portanto, evangelizar e
ir “para a outra margem” é um dever
da Igreja como depositária dessa boa
notícia para todos os povos.
Março 2008 -

“As margens” da fé
Há 40 anos o Concílio Vaticano II
falava que 66% da humanidade “nada
ou muito pouco escutaram falar do
Evangelho”. Hoje, esta cifra aumentou
para 80%, ou seja, 4/5 da humanidade.
Estes números demonstram a urgência
do mandato missionário, do primeiro
anúncio a todos os povos. Uma boa
parte da humanidade está “à margem”
da vida da fé e, conseqüentemente, da
Igreja. Portanto, esta última deve pensar
bem a sua missionariedade quanto à
distribuição dos agentes de pastoral,
examinar a sua caminhada missionária
e perguntar-se se não existe demasiada
preocupação pelo que tem e se não
esqueceu o mandato de Jesus de “ir a
todos os povos”. Não se pode cair num
“eclesiocentrismo”, numa preocupação
exagerada com os problemas da Igreja
vendo essas multidões de homens e
O diálogo ecumênico
É atitude fundamental que nos leva a
dialogar com as outras confissões cristãs
na procura da unidade que Jesus desejou
para “todos aqueles que acreditassem no
seu nome”. Há pouco tempo, Bento XVI
falou que a evangelização hoje passa
pelo ecumenismo. Uma evangelização
O diálogo inter-religioso
Desde o Concílio Vaticano II a Igreja
Católica convidou ao diálogo e colabo-
ração com outras religiões não-cristãs
testemunhando sempre a fé e a vida cris-
tã. Nessas religiões podemos descobrir
“um raio daquela verdade que ilumina
todos os seres humanos”, nelas podemos
encontrar “a semente do Verbo” e elas
podem ser uma “preparação evangélica”.
O diálogo inter-religioso é também um
diálogo de Salvação que tem seu lugar
na missão salvífica da Igreja.
Nestes tempos, o diálogo está sendo
intenso entre as religiões monoteístas
(que acreditam em um só Deus: cris-
tianismo, judaísmo e islamismo). O
centro deste diálogo está na paz que
se encontra na raiz das três revelações.
O terrorismo atual, exercido em nome
de Deus pelos fanáticos, está produ-
zindo um anseio de paz que todas as
- Março 2008
Ernesto Viscardi
Crianças na Mongólia.
mulheres que ainda não escutaram a
mensagem do Evangelho.
Destes homens e mulheres não-
evangelizados, alguns seguem uma das
grandes religiões; outros se mantêm
à margem da mesma idéia de Deus;
que continua com o escândalo da separa-
ção é uma evangelização pela metade. A
mesma fé, o mesmo Senhor e o mesmo
batismo são o fundamento da missão
evangélica, mas, pode somar forças nas
grandes questões não confessionais
que hoje atormentam a humanidade:
religiões possuem nas suas Escrituras,
os Livros Sagrados.
O diálogo inter-religioso se estende
também às grandes religiões milená-
rias, até mais antigas do cristianismo,
sem excluir, na nossa América Latina,
Encontro ecumênico no Mosteiro de São Bento, maio de 2007, São Paulo.
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
alguns negam claramente a existência
de Deus e outros mais, lutam contra
Deus. A Igreja deve enfrentar estas
situações concretas porque foi cons-
tituída com o fim de “oferecer a todos
o mistério da Salvação e a vida trazida
por Deus” (AG 10).
A globalização derrubou todas as
fronteiras territoriais, culturais e reli-
giosas. O fenômeno das migrações
está provocando situações novas e
desconhecidas até pouco tempo. A
Missão mudou o conceito de missão. A
territorialidade e a geografia da Missão
tiveram uma grande mudança, sobre-
tudo, nos países da antiga cristandade
e também nos antigos países chama-
dos de Missão. Estas situações novas
nos levam a diferentes considerações
que hoje fazem parte da missão Ad
Gentes.
a paz, a justiça, a diversidade cultural,
a nova ordem mundial, a ecologia e as
futuras gerações. Ultimamente diversas
autoridades ecumênicas falam do “ecu-
menismo espiritual” alicerçado na oração
como motor do movimento ecumênico
entre as Igrejas cristãs.
o diálogo com as religiões dos povos
indígenas e das culturas africanas.
Um bom protetor para o diálogo inter-
religioso seria Carlos de Foucault, que
passou grande parte de sua existência
em terras islâmicas.
Michelino Roberto
17
 FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
Entre os que não crêem em Deus
Há um número crescente de pes-
soas que não acreditam em Deus,
em todos os continentes e em todas
as culturas. Nas estatísticas da Igreja
sobre o número de cristãos, se viu a
Missão Inter Gentes
Superado o conceito geográfico
da Missão e o desenvolvimento dos
movimentos migratórios, a globalização
dos conhecimentos, o propagar-se das
religiões, as situações sociais em muitas
áreas urbanas e a generalização das
pobrezas, podemos dizer que a Missão
Ad Gentes pode estar fora de casa, na
rua onde habitamos e a poucos metros
dos lugares de culto. Elenco algumas
situações para ver como muitas vezes
os cristãos estão em situações Inter
Gentes:
- Dizem os especialistas que a paró-
quia tradicional tem um influxo que não
vai além dos 600 metros de distância. E
os outros como ficam? Aparecida fala
de renovação das estruturas obsoletas
e de “conversão pastoral”. Talvez abran-
jam 10% da população, e os outros? O
cuidado das estruturas, que emprega
a maior parte dos agentes de pasto-
ral, está criando, sem querer, o novo
paganismo e o indiferentismo, porque
muitas pessoas não são tocadas pela
Palavra de Vida. Uma paróquia que
não está aberta à evangelização está
condenada à morte.
- As religiões cristãs estão se es-
tendendo por nações e cidades tradi-
cionalmente católicas. Temos uma boa
oportunidade para realizar o diálogo
Jaime C. Patias
Dom Servilio Conti (italiano) e o diácono Lourenço Elísio (moçambicano), São Manuel, SP.
18
diminuição dos católicos e o aumento
de pessoas que declaram abertamente
a não-crença em Deus. A diminuição
dos cristãos foi muito rápida, quase
10% em nove anos. Para os bispos
ecumênico, como parte integrante da
pastoral ordinária.
-As migrações de pessoas de religião
não-cristã estão crescendo cada dia
mais para países tradicionalmente ca-
tólicos. Pensemos nos fiéis das grandes
religiões asiáticas que estão emigrando
por todo o mundo. Os árabes da reli-
gião muçulmana que estão chegando
às nações ricas. Abre-se para muitas
paróquias a possibilidade do diálogo
inter-religioso.
- Muitos destes migrantes, es-
pecialmente os da Ásia e da África
sub-sahariana estão em condições de
primeiro anúncio.
Como podemos ver, já não se trata
de áreas geográficas, mas, de situações
diversas num mesmo lugar. Hoje, a
Igreja, em muitas partes do mundo
se encontra em situações Ad Gentes.
Vamos ver alguns exemplos:
Na Espanha, nação tradicionalmente
católica e berço de muitos missionários,
temos centenas de muçulmanos que
professam a sua fé até com símbolos
externos como são as belas mesqui-
tas. Centenas de milhares de latino-
americanos à procura de emprego,
muitos deles católicos de origem, mas
não atendidos suficientemente pela
Igreja local. Encontram-se padres de
do Brasil esta situação é de urgência.
E aqui não conta mais a “distância
geográfica” e sim a “distância religiosa”.
É um novo Ad Gentes no qual a Igreja
deve pensar.
outros continentes dando assistência
em algumas paróquias carentes de
clero. Na França, “filha primogênita da
Igreja”, há cidades com mais presen-
ça de muçulmanos que de católicos.
Concretamente em Marselha, terceira
cidade da França, 60% por cento de seus
habitantes são de religião muçulmana. A
França já não precisa sair para realizar
o diálogo inter-religioso ou para fazer o
primeiro anúncio. Está em casa.
No Brasil, temos desafios concretos
dentro da sua geografia: culturas indí-
gena ou afro nas grandes cidades, com
sua própria religiosidade. Encontramos
os pobres nas periferias das grandes
metrópoles urbanas.
Podemos ver como os antigos des-
tinatários do Ad Gentes se encontram
nas antigas cidades cristãs. Portanto, os
temos em casa que é também a casa
deles. Portanto, a Igreja e a Missão
estão Inter Gentes.
Estas situações, missionárias cem
por cento, não anulam o mandato mis-
sionário de Jesus: “Ide e ensinai”, a
todos os povos, raças e culturas.
Temos figuras missionárias muito
interessantes na História da Igreja que
podem ser luz para a Missão hoje: São
Francisco Xavier, São Pedro Claver,
Santa Teresinha do Menino Jesus, Madre
Teresa de Calcutá, Carlos de Foucault,
Mateus Ricci e tantos outros e outras. O
Ad Gentes teve muitas formas e modos
de presença e atividade, mas estes ho-
mens e mulheres viveram radicalmente
a sua vocação missionária. 
Ramón Cazallas Serrano é missionário e mestre em
Teologia Dogmática.
Para Refletir:
1. Conhece alguma experiência de
ecumenismo, diálogo inter-religioso
ou ateísmo no seu ambiente?
2. A comunidade católica faz alguma
atividade conjunta, ou se encontra para
dialogar ou colaborar?
Março 2008 -
Roteiro de Encontro
Tema do mês: “A alegria de viver!”
a) Acolhida
b) Invocação do Espírito Santo
c) Dinâmica
d) Apresentação do tema,
A alegria de viver!
questionamentos e debate
e) Compromisso mensal
O sorriso é uma conseqüência direta da felicidade.
f ) Oração conclusiva

Jaime C. Patias
de Patrick Gomes Silva

N
ão sei se você conhece alguém que sempre acorda
com cara de quem vai para um velório, passa o dia
inteiro com o semblante fechado e cada vez que abre
a boca é para se lamentar ou reclamar de algo... Eu
conheço algumas pessoas assim! O mais triste de tudo,
é que, por vezes, tratam-se de jovens que perderam
a alegria de viver...
A Campanha da Fraternidade deste ano nos lança um convite
tirado do livro do Deuteronômio: “Escolhe, pois, a vida”. Mas, não
basta escolher a vida, é preciso redescobrir a alegria de viver. Somos
criaturas de Deus, modeladas à sua imagem e semelhança e a
melhor resposta que podemos dar a este Deus criador é a alegria
de viver. Viver a vida na sua plenitude. Sei que tantas vezes em-
barcamos num ritmo frenético em nossas atividades. Parece que
sempre estamos correndo atrás de coisas que não nos enchem
o coração, mas, ao contrário nos tornam pessoas tristes e com
um grande vazio... Quando deixamos que as coisas tomem conta
de nós, perdemos esta alegria, por isso, é preciso ter o domínio
sobre a nossa própria vida. Mas, atenção: a sociedade de hoje não
quer que tenhamos domínio sobre a nossa vida, ao contrário, quer
que sejamos como “marionetes” ou seja, deseja que façamos o
que os outros querem. Um simples exemplo: todos os dias somos
submetidos a inúmeras propagandas. A publicidade não quer nos
ajudar a pensar no que é melhor para nós, ao contrário, ela nos
induz a comprar produtos que muitas vezes nem precisamos. O
que importa é que consumamos, essa é a lógica.
O primeiro passo para redescobrirmos a alegria de viver é
estarmos no comando da nossa própria vida, sermos capazes de
parar e descobrimos que não precisamos de muitas coisas para
poder sorrir para ela.
O poder de um sorriso
No ano passado trabalhei como administrador paroquial em
São Paulo, por cerca de seis meses. Com a chegada do novo
pároco, no dia da despedida, um senhor se aproximou e me disse:
“padre, quero lhe dizer obrigado”. Confesso que fiquei orgulhoso,
pensando que provavelmente teriam sido as belas palavras das
minhas homilias que tivessem feito o senhor dizer aquilo, mas,
estava profundamente enganado e o senhor continuou, “... quero lhe
dizer obrigado pelo seu sorriso, pela sua alegria de viver!” Naquele
instante caí por terra... afinal não foram as minhas palavras que
o impressionaram, mas um simples sorriso tocara a vida daquele
homem. Por uns tempos fiquei pensando naquele episódio. Depois
entendi que um sorriso tem o poder que muitas palavras não têm.
I Fórum da Igreja Católica no Rio Grande do Sul, setembro de 2007.
Um dos mais bonitos testemunhos que podemos dar é exatamente
esta alegria de viver, não ter medo de sorrir. Perante um estranho
que encontramos na rua, por que desviar o olhar? Não seria mais
fácil sorrir? Somos jovens e temos a vida em plenitude, ainda não
sentimos os limites da natureza fazendo efeito em nós, então é
tempo de sorrir, de declarar ao mundo que amamos viver, que não
existe nada melhor do que isto. Quando você encontrar alguém
que só se lamenta e reclama da vida, devolva-lhe um sorriso e o
faça entender toda a alegria de viver!
Despeço-me com este texto de Cris Íris:
O sorriso é uma conseqüência direta da felicidade.
O sorriso é a expressão mais bonita que o ser humano tem.
O sorriso embeleza qualquer pessoa, independente de sua
aparência.
O sorriso nos traz forças e esperanças para lutarmos contra
todos os empecilhos.
O sorriso é universal, tem reflexos por toda parte.
Quando sorrimos, mostramos que estamos felizes, de bem
com a vida; mostramos que temos esperança e que não nos
deixamos levar pelos problemas.
Quando sorrimos passamos nossa alegria para quem nos ama,
e não damos prazer para quem quer nos ver chorar.
Portanto, sorria sempre para que o amor que está em você,
brilhe. 
Patrick Gomes Silva é missionário, diretor do Centro de Animação Missionário José Allamano,
em São Paulo, SP.

Para refletir:
1. O que orienta a sua vida? Você está no comando dela, ou se deixa dirigir Compromisso Mensal:
por outras pessoas? Levar um sorriso a todos
2. Você reclama muito da sua vida? O que gera a sua reclamação? os que encontrar.
3. O que tornaria você uma pessoa alegre?

- Março 2008 19
 Jovens lutam por
Destaque do mês
políticas públicas
de Dirceu Benincá
N
o ano de 2005, a Secretaria
Nacional de Juventude definiu
como juvenil a faixa etária
compreendida entre 15 e 29
anos, num total de 50,5 mi-
lhões de pessoas em todo o
país. Ou seja, quase 1/3 da população
brasileira é constituída por jovens que
vivem, na sua absoluta maioria (84,6%),
em áreas urbanas. Não só pelo expressivo
contingente, mas também pela difícil rea-
lidade enfrentada por múltiplas categorias
de jovens e pela pluralidade de aspectos
e questões vinculadas a esse período da
vida, é importante, necessário e urgente
o debate sobre o assunto.
Interessantes ações estão sendo
realizadas para esta faixa etária. Entre
elas, o Curso de Verão de São Paulo.
Fotos: Arquivo Oficina de Jornal Popular
Participantes do Curso de Verão 2008, PUC-SP.
20
Promovido pelo Centro Ecumênico de
Serviços à Evangelização e Educação
Popular (CESEP) e realizado na Pontifí-
cia Universidade Católica de São Paulo
(PUC), a 21ª. edição do Curso ocorreu
entre os dias 6 e 16 de janeiro deste ano.
Com o tema: “Juventude: caminhos para
outro mundo possível”, 560 pessoas de
19 estados brasileiros e até de outros
países, sendo 58% jovens, refletiram e
trocaram experiências.
Durante o Curso de Verão aconte-
ceu uma conferência livre. Junto com
as conferências livres, as municipais e
estaduais são momentos de preparação
para a I Conferência Nacional de Políticas
Públicas para a Juventude, que terá lugar
em Brasília entre os dias 27 e 30 de abril.
Todo o processo da I Conferência é um
espaço de diálogo entre a sociedade civil
e o governo, visando construir políticas
públicas para os diversos segmentos
juvenis.
A I Conferência propõe a discussão e
mobilização da sociedade a partir de 12
eixos temáticos: família; educação; cida-
des e territórios; trabalho; cultura; drogas;
meio ambiente; sexualidade; diversidade;
participação política; mídia; liberdades
democráticas. Mais informações podem
ser encontradas no site www.juventude.
gov.br onde também existe sugestivo
material de apoio.
O fantasma do desemprego
Os jovens são vítimas do desemprego
ou subemprego. Em 2004, para cada 100
adultos no mercado de trabalho, 8 estavam
desempregados. No caso dos jovens, o
número era três vezes maior (24,5%). O
desemprego os obriga a encontrar saídas
em trabalhos informais, precários e/ou
autocriados. Muitos buscam uma “alterna-
tiva” de sobrevivência ao mundo da droga
e do crime. Isso ajuda a entender porque
cerca de 70% dos detentos do sistema
Março 2008 -

Elza Fiúza/ABr
Jovens no Encontro Nacional de Gestores em Políticas Públicas de Juventude.
carcerário são jovens. Dentre as iniciati-
vas de enfrentamento à exclusão juvenil,
existe o Programa Nacional de Inclusão
de Jovens: Educação, Qualificação e Ação
Comunitária (ProJovem), implantado em
2005 pelo governo federal. O ProJovem
é coordenado pela Secretaria-Geral da
Presidência da República em parceria com
os ministérios da Educação, do Trabalho
e Emprego e do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome. Destina-se a atender
jovens de 18 a 24 anos que terminaram a
4ª série, mas não concluíram a 8ª série do
Ensino Fundamental e não têm vínculos
formais de trabalho. Informações podem ser
obtidas no site www.projovem.gov.br
O submundo da droga
Há vários caminhos que conduzem à
dependência e morte. Entre eles estão as
drogas, em torno das quais se mantém um
grande e perverso comércio. A juventude
é o principal alvo desse mal. Segundo o
Grupo Interdisciplinar de Estudos do Álcool
e Drogas (GREA), da Universidade de São
Paulo, a curiosidade é a motivação que
leva nove, em cada dez jovens, a consumir
drogas pela primeira vez. Porém, as cau-
sas variam. Entre os medos enfrentados
pelos segmentos juvenis de hoje está o
medo de "sobrar". Daí a necessidade de
se encaixar em algum grupo. Mas, nem
sempre esses jovens escolhem caminhos
de vida e acabam ingressando em grupos
de risco.
Não basta dizer que a droga é ruim.
É preciso encontrar maneiras eficazes
de prevenir a dependência. Certamente
o trabalho, a educação, o bom ambiente
familiar, o diálogo sincero e elucidativo
- Março 2008
acerca do assunto, a participação comu-
nitária, a escolha de amizades saudáveis
são importantes formas de combater esse
problema. Drogas: é muito melhor prevenir
que remediar. Para isso, é necessário a
decisão pessoal, mas também exige sérios
investimentos em políticas públicas.
A questão da sexualidade
Na sociedade de consumo, a sexua-
lidade passa a ser vista e tratada como
importante fonte de lucro. Embarcando
na onda do prazer total e, muitas vezes
sem responsabilidade, inúmeros jovens
sofrem e se dão mal, contraindo Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST). Muitas
adolescentes e jovens engravidam; depois
se ressentem com a falta de acesso a um
digno atendimento; são abandonadas,
desprezadas e acabam carregando marcas
negativas pela vida afora.
A afetividade e a sexualidade na vida
juvenil são dimensões importantes e pre-
cisam ser bem integradas. Não é possível
reduzir a sexualidade à relação sexual. O
diálogo, a formação com base em princípios
éticos e o respeito pelo outro são fatores
imprescindíveis para uma vida afetiva
responsável e serena. Nisso, a família, a
escola, a Igreja e os meios de comunicação
têm um papel fundamental.
Educação e formação
Embora haja avanços na área da
educação, a situação precisa melhorar
muito. De acordo com o IPEA/2005, 68%
dos adolescentes não completam o Ensino
Fundamental aos 15 anos; apenas 40%
dos jovens brasileiros concluem o Ensino
Médio e 3,6% entre 20 e 24 anos chegam
Entre os dias 27 e 30
de abril, ocorrerá a I
Conferência Nacional de
Políticas Públicas para
a Juventude, em Brasília,
como um espaço de diálogo
entre a sociedade civil e o
governo.
à Universidade. Mas, não é só isso. Há
os analfabetos funcionais e também os
que não estudam nem trabalham. O con-
tingente dos jovens de 15 a 29 anos que
está nessa situação chega a 4,5 milhões
(PNAD/2003).
No ano 2000, quase três milhões de
jovens entre 15 e 19 anos se declaravam
analfabetos. São os que vivem no campo os
que menos estudam. Em 2003, 45% deles
estavam fora da escola. Isso se deve em
grande parte ao insuficiente investimento
de recursos financeiros para o setor. O
Brasil destina à escola pública em torno
de 4,6% do PIB (Produto Interno Bruto).
Segundo o INEP/IPEA, para cumprir as
metas do Plano Nacional de Educação,
seria necessário elevar o valor para 8%.
O desafio da participação
Existem inúmeros espaços sociais
onde a juventude está participando e
dando uma contribuição significativa e
diferenciada. Bastaria lembrar a presença
dos jovens nas comunidades eclesiais,
nos múltiplos grupos, na arte, no esporte,
nos meios estudantis, nas universidades,
nos movimentos sociais etc. Porém, nem
sempre há reconhecimento, aceitação,
compreensão e valorização da sua ca-
pacidade e potencial.
A participação dos jovens pode e ne-
cessita crescer no compromisso efetivo
com a construção de um mundo mais justo,
solidário, democrático, fraterno e humano.
Nesta perspectiva, a I Conferência Nacio-
nal de Políticas Públicas para Juventude
– com o lema “levante sua bandeira” – é
um acontecimento importante. É preciso
garantir a continuidade desse processo
na luta por direitos, na conscientização
acerca das responsabilidades e na busca
da cidadania ativa. Muitas são as bandeiras
a serem erguidas e mantidas levantadas
para que outro mundo seja possível! 
Dirceu Benincá é sacerdote, doutorando em Ciências Sociais -
PUC/SP e membro da equipe de trabalho do CESEP.
21
 Projetos Sociais

João Sinhori
Instituto Missões Consolata
promovem a vida

O
Evangelização nas periferias.
Instituto Missões Consolata - IMC, fundado em Turim, Itália, em

Lírio Girardi
1901, pelo Bem-aventurado José Allamano, tem por finalidade
a evangelização e a promoção humana como expressão do
carisma missionário. Contando com cerca de 1.000 membros
entre padres e irmãos consagrados, o IMC atua em 23 países
na África, Ásia, Europa e Américas, privilegiando situações
humanas menos favorecidas. No Brasil, os missionários da Consolata desen-
volvem projetos com a colaboração de amigos e benfeitores.

Nas periferias
A grande maioria dos missionários está prestando serviço nas periferias Jacir de Souza e dom Aldo Mongiano, Maturuca, RR.
das cidades, como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, onde a violência, a

Arquivo
falta de emprego, a moradia precária e a insegurança são grandes desafios.
Evangelização e promoção humana através de obras sociais nas áreas da
saúde, educação e formação profissional proporcionam, principalmente aos
jovens e mulheres, uma vida mais digna.

Apoio à causa indígena

Desde 1948, o IMC colabora com outros organismos na defesa e promoção
dos direitos dos povos indígenas, particularmente na Região Amazônica. Como
muitas lideranças, alguns missionários deram a própria vida por esta causa.
Curso em Salvador, BA.
Entre ameaças, invasões, raptos e mortes, juntos conquistaram algumas im-
portantes vitórias: a demarcação das terras indígenas e a sua autogestão.

José Roberto Garcia

Pastoral Afro
O Brasil tem a maior população de origem africana do mundo. No entanto,
pesquisas revelam que, entre os menos favorecidos do país, além de sofrer
com o racismo, os afrodescendentes são os mais excluídos da educação, da
saúde e do mercado de trabalho. A Pastoral Afro tem por missão resgatar a
dignidade deste povo apoiando ações afirmativas para sua inserção na uni-
versidade e no mercado de trabalho.
Cisterna em Muquem, Monte Santo, BA.
Água para o semi-árido do Nordeste

Patrick Silva
Os projetos de captação, canalização e distribuição da água para as po-
pulações do semi-árido na Bahia realizam o sonho de milhares de famílias. O
objetivo é solucionar o histórico problema da falta de água na região através
de poços, construção de reservatórios, cisternas e canalização da água até
as casas.

Apoio à causa dos portadores do vírus HIV

Quando o vírus HIV começou a se difundir entre os brasileiros, em 1990
surgiu em São Paulo o Lar Betania, uma das primeiras casas de apoio para
as pessoas portadoras. Hoje as Obras Sociais Padre Costanzo Dalbesio da Lar Betania
Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Imirim, São Paulo, conta
Jaime C. Patias

com outras três casas abrigando 20 pessoas entre crianças, adolescentes e

jovens. Cada unidade tem a capacidade para acolher 12 pessoas. Essa obra
é uma contribuição para re-inserir os moradores, com todos os seus direitos
e deveres, na sociedade (ver matéria na pag. 23).

Creche Padre Bernardo Gora

Obra social do Instituto Missões Consolata, localizada no bairro Jardim
Peri, Zona Norte de São Paulo atende 100 crianças de 3 a 5 anos. A Paróquia
Nossa Senhora da Penha administrada pelos missionários, no mesmo bairro,
mantém outras três creches que atendem juntas cerca de 350 crianças, con- Crianças da Creche Jd. Peri.
tribuindo para a sua educação e formação. 

22 Março 2008 -
 Uma opção corajosa
Obras sociais como expressão missionária de uma Igreja
comprometida com a vida.
de Valeriano Paitoni
E
m preparação para o Congresso Missionário Latino-
Americano (COMLA 5), - que foi realizado em Belo
Horizonte no ano de 1995 - a comunidade paroquial
de Nossa Senhora de Fátima no bairro do Imirim,
Zona Norte de São Paulo, respondeu ao chamado
missionário fundando a Sociedade Padre Costanzo
Dalbesio, no dia 20 de junho de 1994. A Sociedade tinha como
objetivo dar suporte às casas de apoio de crianças portadoras
do vírus HIV, constituindo-se como entidade não-governamental.
Iniciava-se assim um novo caminho de requalificação das pas-
torais com um renovado ardor missionário.
Em 7 de outubro de 1994 foi inaugurada a Casa Siloé, e em
janeiro de 1998 o Lar Suzanne começava suas atividades. Em
outubro de 2006 surgiu a terceira casa, destinada aos adoles-
centes e jovens, com o sugestivo nome de Vila Vitória. A escolha
do nome consagra a luta, as dificuldades e as conquistas vividas
ao longo dos 14 anos de existência, mantendo viva a esperança
da vitória definitiva, quando a ciência anunciar a cura definitiva
aos portadores do vírus HIV.
As dificuldades financeiras são reais e acompanham os
trabalhos das casas de apoio, porém, muito maiores e dificeis de
serem superadas são as dificuldades humanas, como o precon-
- Março 2008
ceito e a rejeição. Apesar de alguns avanços, infelizmente, elas
continuam constituindo o maior desafio na formação humana e
espiritual dos portadores do vírus HIV.
A afirmação do Apóstolo Tiago de que “a fé sem obras é
morta” foi a base do renovado ardor missionário que requalificou
todas as pastorais e que salvou a vida das mais de 100 crian-
ças que ao longo desse tempo passaram por essas casas de
apoio. Somente cinco vieram a óbito enquanto as demais foram
adotadas ou inseridas em suas próprias famílias. Atualmente
20 crianças, adolescentes e jovens ainda estão morando nas
casas de apoio.
A Vila Vitória destina-se aos jovens com 16 anos ou mais,
com o objetivo de torná-los protagonistas do próprio futuro, até
que atinjam condições para o desligamento da entidade.
Assim como a paróquia foi rápida em dar uma resposta ao
apelo do COMLA 5, hoje se alegra ao constatar que o compro-
misso assumido pelos bispos na V Conferência do Episcopado
Latino-Americano e do Caribe, em Aparecida, está sendo vivido
pela comunidade desde 1994.
Mais feliz ainda, a paróquia pode se sentir quando reflete
sobre o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, e percebe
a sintonia com o desejo da CNBB e da Igreja: “a riqueza de uma
existência consiste em promover vida onde ela está ameaçada
e empobrecida na sua dignidade humana”. 
Valeriano Paitoni, imc é missionário na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Imirim, SP.
Pascom Imirim
23
 Chega de fumaça!
“O ar que eu respiro [...] É o sopro do Espírito que anima a terra
Infância [...] nas quatro estações”. Roberto Malvezzi (Gogó)
Missionária
de Roseane de Araújo Silva
Q
uando pensamos em crianças e adolescentes, lem-
bramos sempre da algazarra, da alegria, da vida em
flor, dos risos incontidos, sem lembrar de momentos
nem tão alegres que alguns destes pequenos acabam
passando. Dados nos mostram que em 25 países
do mundo, mais de 15% das crianças morrem antes
de chegar aos cinco anos de idade, por inúmeras
razões, dentre as quais a desidratação, o abandono, as infecções,
desde as mais simples até as mais graves... No hemisfério sul do
planeta, onde está localizado nosso país, bem como o continente
africano, muito embora as incontáveis campanhas de vacinação,
implantação de postos de saúde e educação junto às mães, os
índices de mortalidade infantil mantém-se praticamente os mes-
mos, ano após ano.
O mal do tabagismo
Vamos falar de um mal quase invisível em nossos dias: o
tabagismo. É de conhecimento de todos os males causados pelo
cigarro, porém, pouco se discute sobre o fumo passivo. Estima-
se que 700 milhões de crianças respiram o ar poluído da fumaça
de cigarro, em um número que equivale à metade dos jovens
do mundo. É uma perigosa mistura de toxinas, como a nicotina,
Sugestão para o grupo
Acolhida
Motivação (objetivo): refletir com o grupo as enfermidades
que atingem as crianças, principalmente as doenças causadas
pela fumaça do cigarro.
Oração: Deus Pai, olhai com carinho as nossas crianças e
adolescentes que sofrem com os efeitos do fumo passivo. Que
o Teu Santo Espírito fortaleça a todos aqueles que combatem
o tabagismo nos cinco continentes.
Partilha dos compromissos semanais
Leitura da Palavra de Deus: Ato dos Apóstolos 3, 1-8 O nome
de Jesus liberta
Compromissos missionários: Neste episódio, Pedro e João
demonstram sua presença junto aos que deles necessitam.
Seu gesto de dar a mão e fazer levantar o aleijado, nos ajuda
a entender que a nossa missão ocorrerá junto aos que mais
necessitam, porque somos chamados a servir aos nossos
irmãos em qualquer situação. Cristo caminha conosco, nos
fortalecendo por maior que seja o desafio. O gesto concreto
junto à comunidade será a pesquisa do grupo a respeito das
doenças causadas pelo fumo, principalmente as mais comuns
nas crianças. Organizar o painel no mural da comunidade ou
paróquia, em conjunto com a catequese para atingir um número
maior de pessoas.
Momento de agradecimento à Santíssima Trindade pela vida
das crianças e adolescentes que resistem aos problemas de
saúde causados pelo cigarro. Abençoai ainda, aqueles que se
envolveram desde cedo no vício do fumo.
Canto e despedida.
24
o monóxido de carbono e cianeto, ou seja, o fumo causa riscos
crônicos à saúde das pessoas, sejam elas fumantes ou não.
A União Internacional contra o Câncer lançou em fevereiro,
no Dia Mundial do Câncer, a primeira campanha global intitu-
lada "I love my smoke-free childhood" (Eu amo minha infância
livre de fumo). Esta campanha ressalta a necessidade dos pais
protegerem as crianças do fumo passivo, devido a influência
prejudicial desde os primeiros meses da concepção até a idade
adulta. Um dos objetivos desta campanha é a prevenção do
câncer, principalmente junto às crianças. Cerca de 40% dos
cânceres são evitáveis através de hábitos saudáveis e o principal
deles é a prevenção através da educação, a partir da família e
comunidade. Sabemos que o interesse das indústrias do fumo
em todo o planeta é o lucro exorbitante, passando por cima da
vida de milhões de pessoas, fumantes ou não. Mais uma vez,
a vida das nossas crianças é posta em risco.
Pseudoliberdade
Jesus afirmou ser o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6),
e quando realizava sua missão na terra colocou a vida em pri-
meiro lugar. Foi assim quando curou o empregado do centurião
romano (Mt 8, 5-13), e o paralítico na piscina de Betesda (Jo 5,
1-18). Para Jesus o importante é a vida e a liberdade, porque
elas estão acima até mesmo das leis religiosas e da opinião de
quaisquer autoridades. Foi dessa maneira que Jesus agiu. Diante
da máquina de “produzir fumantes” desta sociedade do espetáculo,
onde vemos a cada dia o consumo do cigarro aumentar desde os
nossos adolescentes, também devemos agir. Sempre em grupo e
falando sobre cigarro, eles dizem: “ah, não dá nada!”, “é massa!”,
ou “é legal fumar!”; mas isso representa uma pseudoliberdade
manifestada pela rebeldia e pelo uso precoce do fumo. O desa-
fio para defender a vida das nossas crianças e adolescentes, é
não deixá-los sozinhos enfrentando este problema. Escolhemos
a vida como bandeira e é por várias vidas que clamamos, sem
esquecer que “a criança missionária sempre pensa em nós” (10º
Compromisso da Criança Missionária). Ao defender o mundo que
queremos, defendemos da mesma maneira a vida com liberdade
para todos, como Deus Pai assim sonhou. De todas as crianças
do mundo – sempre amigas! 
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.
Março 2008 -
- Março 2008 25
 Educação é vida!
Entrevista
Missão é partir, anunciar,
testemunhar, servir. Abrir
horizontes e ir ao encontro
dos que estão perto e dos
que estão longe.
Texto e fotos de Jaime Carlos Patias
N
o intuito de incrementar o
compromisso com a Missão
além-fronteiras, em 1995, as
irmãs Agostinianas Missioná-
rias abriram uma comunidade
no sul de Moçambique. As
irmãs Ana de Fátima Primavera Mendon-
ça, Evanilda de Jesus Coelho da Costa
e Antônia Eribe formaram a primeira co-
munidade em Mapinhane, província de
Inhambane, Missão que foi fundada pelos
missionários e missionárias da Consolata
em 1946.
Entrevistamos irmã Ana de Fátima, 42,
religiosa há 21 anos, enfermeira, natural
26
de Portel, Pará. Ana trabalhou na periferia
da capital, Belém, onde, além da formação
religiosa, fez seus estudos na Universidade
Estadual e foi assessora da Conferência
dos Religiosos do Brasil (CRB). Atuou
também em Divisópolis, Minas Gerais.
Em Moçambique, é diretora da Escola
Secundária Padre Gerardo Gumiero, criada
pelas Agostinianas e missionários da Con-
solata em 1995, com início das atividades
em 1996. A Escola pertence à Diocese de
Inhambane e tem por finalidade, educar e
promover a vida. Em 12 anos de funciona-
mento, a escola preparou mais de 5.000
alunos. Para Ana de Fátima, a Missão das
Agostinianas em Moçambique é promover
a pessoa humana evangelizando através
da educação na escola e comunidade, ins-
piradas na pedagogia de Santo Agostinho,
educador e mestre.
Irmã Ana, qual a importância da
Escola Padre Gumiero para a região?
São apenas dez as escolas secundárias
na Província de Inhambane, que é muito
extensa e com um número crescente de
jovens em idade escolar. Em Moçambique,
segundo o Ministério da Educação, cerca
de 400 mil alunos estão fora dos colégios
por falta de vagas. A nossa escola abran-
Parte das instalações da Escola.
ge alunos da 8ª à 12ª classe, é o ensino
secundário geral. Além das disciplinas
curriculares introduzimos educação moral,
língua e cultura local Xitshwa e psicologia
educacional, preparando os jovens para
enfrentar a vida na sociedade, que está
carente de bons profissionais. Nos últimos
anos a educação tem ajudado considera-
velmente para uma mudança de compor-
tamento na organização da vida.
Os alunos que estudam na escola
conseguem ingressar na faculdade?
Por causa dos custos, a universidade
ainda é para poucos, porém, já temos mui-
tos ex-alunos de Mapinhane cursando as
universidades do país, privadas ou públicas.
Alguns que se destacaram, pelo esforço e
boas notas como é o caso do Reginaldo
Banze, filho de Mapinhane, e Ralita, filha
de Massinga, estudam medicina em Ma-
puto, além de outros tantos que seguem
outros cursos. Sabemos de alguns que
foram contemplados com bolsas e estão
em universidades no Brasil, Portugal,
Índia e outros países. Um grande número
são professores nas escolas primárias
e secundárias da região. Existem ainda
aqueles que voltaram à Escola Gumiero
como professores e cursam a universida-
Março 2008 -
de à distância na Beira, como Ana Bela,
Florêncio e Carlos Inácio, num programa
da Universidade Católica.
Como vocês enfrentam a falta de
professores?
Esse é um dos maiores desafios da
educação no país, bem como a qualidade
de sua formação. Nos últimos anos as
escolas aumentaram de 6.114 para 8.691,
mas o número de professores diminuiu.
Na nossa escola, o problema é ainda
maior porque os nosso professores são do
Estado, que prioriza as escolas públicas.
Quando eles adquirem experiência alguns
são retirados para assumir cargos de chefia
em outros estabelecimentos de ensino.
Em 2008 matriculamos aproximadamente
700 alunos e o número de professores
diminuiu para 25, sendo 21 contratados
pelo Estado, dois enviados do Corpo
de Paz (voluntários americanos), uma
brasileira (missionária) e um assumido
pela escola. Prevalecem professores com
formação de nível médio. Os bacharéis
e licenciados são poucos. Contudo, sete
estão cursando faculdade à distância e
outros irão iniciar em breve.
No dia-a-dia quais os maiores
desafios?
Além da falta de professores forma-
dos, a maioria deles são jovens e alguns
têm menos idade do que muitos alunos.
Outro desafio é manter as meninas na
escola pela falta de prioridade que a
mulher dá ao estudo. São poucas as
que concluem o nível médio. No país, o
número de meninas corresponde a 46%
dos alunos matriculados. As meninas em
geral, tendem a ter filhos muito cedo, e
quando isso acontece abandonam a es-
cola. Não é fácil acompanhar as alunas
grávidas devido à tradição, que passa
a ser lei da vida. Ao atingir 12 anos, as
meninas já devem seguir o seu caminho,
buscar um companheiro para se manter e
ter seus filhos. A mulher que não procria
sofre algum tipo de pressão. Em 2007
cerca de 20 meninas (num grupo de 250)
Alunas da escola.
- Março 2008
deixaram a nossa escola por gravidez. A
juventude enfrenta também as Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DTS) e o
vírus HIV, que vem ceifando muitas vidas.
O índice de contaminação entre os alunos
e professores preocupa.
E como a escola se mantém?
Desde o início a Escola Gumiero fez
um acordo com o Ministério da Educa-
ção no qual o governo fornece e paga
os professores. Os alunos pagam uma
mensalidade, pois o ensino secundário
no país não é gratuito. Há uma grande
procura de vagas por famílias com me-
lhores condições de vida, residentes nas
cidades vizinhas e até na capital, Maputo,
distante 650 quilômetros, que visam uma
boa formação aos filhos. Alguns vêem o
internato (Lar) das escolas católicas como
um centro de correções, o que nos tem
trazido desafios, devido aos costumes e
vícios como drogas e álcool. Damos prio-
ridade aos alunos da região, praticando
uma taxa menor em relação aos que vêm
de fora. Os alunos que têm dificuldades de
alojamento ficam nos internatos da escola,
mas nem todos têm condições de contribuir
com as despesas. Mesmo com apoio que
a escola recebe do Programa Mundial de
Alimentação, que neste ano está sendo
retirado, fica difícil manter os internatos.
Além da alimentação, temos de pagar o
pessoal de serviço em geral.
Ao longo dos anos, o que você
aprendeu com a Missão?
Estou aqui como missionária e devo
ser feliz onde Deus me plantou. Nessa
Missão tenho aprendido bastante com os
desafios e dificuldades. Agora a vejo muito
mais abrangente, vivida e assumida desde
uma experiência de fé. O meu desejo como
missionária, ao chegar em Moçambique,
foi servir mais na área da saúde como
enfermeira, mas ao chegar em Mapinhane,
o plano de Deus foi outro. No início custou
aceitar, mas hoje sou agradecida por ter
sido capaz de trabalhar na educação como
professora e diretora, cargo inicialmente
ocupado pela irmã Evanilda. Mesmo não
atuando especificamente na minha área
de formação, Deus me deu os dons e
reconheço que eles devem estar sempre
em função das necessidades da Missão.
A experiência ensinou-me a acolher a
vida com objetividade, mas também com
o coração. Diante de algumas situações,
nem sempre tenho a solução, nem sei
como dar respostas.
Qual a importância da comunidade
para o trabalho na Missão?
Como Agostinianas estamos cons-
cientes de que o trabalho missionário
parte da comunidade e tem valor se for
assumido em fraternidade. Santo Agos-
tinho nos ensinou que devemos ter tudo
em comum e ter em conta, em primeiro
lugar, a humildade, em segundo lugar a
humildade e em terceiro lugar a humil-
dade. Sem o apoio da comunidade não
é possível viver o Evangelho de Jesus
Cristo. Muitos foram os missionários, com
seus talentos e carismas, também leigos e
colaboradores, que passaram pela região
deixando a sua contribuição. De maneira
especial, agradeço aos missionários da
Consolata, que reativaram esta Missão
e foram apoio para as irmãs Agostinia-
nas em sua chegada em Mapinhane. A
missão é de Deus e tem sempre quem
dá continuidade. Hoje vivo e trabalho
com as irmãs Lenice Echamendi e Maria
Bernadete Gonçalves, ambas brasileiras,
e na paróquia trabalham os missionários
da Consolata padres Fábio Malesa, Jorge
Guilherme e Fernando Carneiro.
O que você diria para missionários
e missionárias, mesmo os leigos que
vão para a Missão?
Diria para deixar de lado a bagagem
das certezas, da formação universitária,
profissional. Partam com o coração livre
e o espírito despretensioso, dispostos a
partilhar experiências, dar e receber, ouvir
e falar, ser e deixar que o outro seja... sem
esperar muito, mas, sobretudo servir. Em
maio completo 13 anos em Mapinhane e
cada ano que passa cresce a convicção
de que o fundamental é estar disponível
para assumir a Missão com tudo o que ela
comporta e acolher o povo que nos recebe
com alegria. Sou feliz e acima de tudo,
sinto-me realizada na minha vocação. A
certeza do amor de Deus por mim e pelos
meus irmãos faz-me mais forte e segura
onde quer que eu vá. “O meu amor é o
meu peso”. “Fizeste-nos Senhor Para Vós
e o nosso coração está inquieto até que
descanse em Vós”. (Santo Agostinho).
Jaime Carlos Patias é missionário, mestre em comunicação e
diretor da revista Missões.
27
Vidas para a Missão
Primeira Profissão Religiosa de
três jovens missionárias.
de Cristina Ribeiro Silva
A
primeira Profissão de três jo-
vens missionárias da Consola-
ta testemunha a revitalização
carismática numa Igreja sem
fronteiras. “Eu, Javé, chamei-te
para a justiça. Tomei-te pela
mão e te dei forma. Coloquei-te como
aliança de um povo e luz para as nações”
(Is 42, 6).
Um grande desafio para os tempos
atuais é, sem dúvida, a vocação religiosa
missionária além-fronteiras: radicalidade,
desapego, profetismo, internacionalidade
e compromisso no seguimento a Jesus
Cristo.
Daniela dos Reis Chagas, Maria Ca-
mila Rozalez e Stefania Raspo souberam
arriscar. Elas encarnaram durante os
anos de formação, o sentido de pertença
a uma família, a família da Consolata.
Identificaram-se com a força vital do Ca-
risma da Consolação. Como mulheres
apaixonadas por Cristo e pela humani-
dade se comprometeram a permanecer
firmes e fiéis no amor, a assumir novos
riscos e a transformar as estruturas de
violência e morte em possibilidades de
vida. Realizaram sua primeira Profissão
nos respectivos países, na própria Igreja
local, com a presença dos pais, familiares
e amigos. Camila na Argentina, Stefania na
Itália e Daniela em São Paulo, Brasil.
Verdadeira felicidade
Para Daniela, ser consagrada a Deus
e à Missão na família da Consolata, sonho
alimentado durante os anos de acom-
panhamento vocacional e formativo, foi
finalmente concretizado. Sentiu imensa
alegria por ter dado seu sim a Deus e pelo
convite que Jesus fez para anunciar seu
amor entre os povos, especialmente aos
pobres, seus preferidos. "A entrega da
própria vida é o que dá sentido à existência.
Oxalá que todo jovem sentisse a mesma
alegria e liberdade que sinto percorrendo
este caminho, que por vezes é de pedras,
não se pode negar, mas que leva à ver-
dadeira felicidade", afirmou.
28
Daniela com os pais.
Stefania.
Sim definitivo
Stefania fez a sua Profissão Religiosa
no dia 29 de janeiro de 2007. O que sentiu
foi muita paz e alegria em dizer "sim" ao
Senhor. Ao longo de sua preparação, vá-
rios "sins" foram proferidos: o ingresso na
congregação, as dificuldades do dia-a-dia
e os momentos de discernimento vocacio-
nal. Mas, para ela "este foi o definitivo. Na
minha liberdade eu entreguei tudo o que
sou ao meu Senhor, para que Ele faça de
mim segundo o seu coração. Eu não sei
aonde esta vocação missionária vai me
levar. Somente sei que onde eu for, terei
a certeza que estar naquele lugar pelo
coração de Deus-Amor. E tudo isso é e
será a minha alegria".
Amor radical por Cristo
Camila deu seu "sim" a Deus no dia
27 de janeiro. Alegria, emoção, ansiedade,
nervosismo e muita felicidade a invadiram,
porque estava confirmando o seu sim,
que foi amadurecido durante o tempo da
formação, até chegar diante do altar. Na
celebração sentiu-se acompanhada por
toda a família das irmãs, missionários e
leigos da Consolata, assim como de sua
própria família. Experimentou a verdadeira
fraternidade. Com este compromisso,
que em liberdade e tranqüilidade é dado,
sentiu-se enviada a levar a Consolação e
o amor do Senhor a todo aquele que pre-
cisar, em qualquer lugar do mundo, onde
Camila (centro).
Noviças 2008.
seja necessário. "Continuar a fortalecer
este chamado que Deus me tem feito,
aprofundando e alimentando o amor em
seu Filho Jesus Cristo, amando-O radi-
calmente assim como aos meus irmãos e
irmãs é a minha Missão" afirmou.
Noviciado
O Deus da Vida continua chamando:
“Passo por passo, eis-me aqui! Mãos em
tuas mãos na estrada sem fim!”
O Noviciado Continental América,
situado na Região Norte de São Paulo,
Brasil, acolhe mais quatro jovens: Cláudia
Liliana Gómez Cardona, Maryore López
Castro, Angélica Guevara Quirós, da Co-
lômbia e Hortência Brito Novais, do Brasil.
Elas juntam-se a outras três noviças do
segundo ano visando a preparação para
a Profissão Religiosa. Os dois anos de
Noviciado são precedidos por outras eta-
pas que progressivamente vão ajudando
a esclarecer o que Deus quer para a vida
das vocacionadas e como gostariam de
responder a este chamado. O Noviciado,
portanto, é uma etapa de encontro com
Deus e consigo mesmo, dentro de uma
comunidade e junto com outras jovens que
estão no mesmo processo. A Profissão
Religiosa é a resposta livre a um Deus
que chama com amor fiel, para o serviço
na Missão. 
Cristina Ribeiro Silva, MC, é educadora.
Março 2008 -
 Fórum Social Mundial
Jaime C. Patias
Chico Whitaker um dos fundadores do FSM e membro do Comitê Internacional, participa de ações em São Paulo.
M
ais de 800 ações em 80
países. Esse foi o Fórum
Social Mundial (FSM) de
2008: um processo de mo-
bilização descentralizada
que culminou com o Dia
de Mobilização e Ação Global em 26 de
janeiro. "A minha avaliação é de que foi
muito positivo fazer o Fórum descentrali-
zado neste ano. Nos fóruns centralizados,
mundiais e nacionais, nem todo mundo pode
participar. Muito mais gente se interessou
nesse processo", afirma, satisfeito, Chico
Whitaker, integrante do conselho internacio-
nal do Fórum Social Mundial. Ele destaca
a amplitude comunicacional possibilitada
pela divisão das manifestações entre as
cidades do mundo, o que conferiu uma
maior visibilidade para as ações. Num
balanço geral, Whitaker acredita que este
foi um ano de muito aprendizado.
Muitos aprenderam que em Belém,
Pará, daqui a um ano, provavelmente o
tempo estará chuvoso, como foi no Dia
de Ação Global, 26 de janeiro deste ano,
mas não o bastante para aplacar os âni-
mos das mais de seis mil pessoas que,
por meio de um grande cortejo político-
cultural, encerraram os cinco dias de mais
- Março 2008
de 40 atividades. As oficinas, palestras,
plenárias e vídeos, entre outras ações,
ocorreram também em mais 47 cidades
brasileiras, além das manifestações por
mais de 80 países do globo terrestre. A
descentralização serviu para levar o FSM
a diferentes regiões e para dar oportunida-
de a participantes que teriam dificuldade
de cobrir os custos de deslocamento até
locais mais distantes.
Em mais uma edição do FSM, a oi-
tava, destacaram-se os cerca de dez
mil cariocas que circularam pelas sete
tendas temáticas espalhadas no Aterro
do Flamengo – cada qual com um tema
especial como a economia solidária, artes
cênicas, audiovisual e a tenda das idéias.
Estiveram presentes o dramaturgo Augusto
Boal, o teólogo Leonardo Boff e o músico
Tico Santa Cruz.
A mobilização em São Paulo foi mar-
cada por atos em diferentes pontos da
cidade, com destaque para a encenação
anticapitalista protagonizada por integran-
tes de movimentos sociais no Centro. A
Comissão de Justiça e Paz e a Associação
para o Desenvolvimento da Intercomuni-
cação (ADI) associaram-se organizando
o "Sábado-Feira" no centro de eventos
2008
do Colégio São Luiz, um encontro de or-
ganizações da sociedade civil e pessoas
durante todo o dia. Um diferencial em
relação às edições anteriores foi a intensa
troca de experiências entre as diversas
cidades participantes ao redor do mundo.
O participante do Fórum em São Paulo,
por exemplo, poderia se inteirar sobre a
situação da Palestina, da Alemanha ou
dos países africanos por meio de uma
videoconferência.
Belém no horizonte
Depois de Porto Alegre ter sido a sede
em 2001, 2002 e 2003, o encontro dos mo-
vimentos sociais migrou para Mumbai, na
Índia em 2004, e retornou à capital gaúcha
em 2005. No ano seguinte, o Fórum teve
um arranjo diferente e dividiu-se em três:
Bamako, em Mali, Caracas, na Venezuela,
e Karachi, no Paquistão. Já o de 2007 foi
realizado em Nairóbi, no Quênia.
Em 2009, o Fórum Social será realizado
em Belém, Pará, que, oito anos depois do
primeiro encontro, apresentará um novo
contexto de enfrentamento dos movimentos
sociais. "Porto Alegre era ainda um am-
biente político onde o neoliberalismo era
hegemônico até no mundo intelectual. Foi
o grito de que outro mundo era possível,
denunciando o neoliberalismo", lembra
João Pedro Stedile, do Movimento dos
Sem-Terra. "Estamos em um ambiente
político melhor", completa. Reflexo dis-
so, para ele, são as vitórias eleitorais de
presidentes de alguns países do sul e da
América Latina como protesto ao neoli-
beralismo. "Portanto já estamos saindo
da hegemonia total do neoliberalismo",
pontua. Os temas da mudança climática
e agressões ao meio-ambiente estão
diretamente envolvidos com o modelo de
desenvolvimento atual. Um novo modelo
econômico, não-consumista, baseado na
qualidade de vida e na interação de toda
biodiversidade existente no planeta é o
que propõe o FSM 2009. 
Envolverde/Brasil de Fato
29
 Carta do 12° Encontro Nacional
de Presbíteros
Estimado irmão Presbítero:

Arquivo CNBB
Nós, 430 presbíteros delegados vindos
das dioceses do Brasil, reunidos de 13 a 19 de
fevereiro de 2008, em Itaici, Indaiatuba (SP),
no 12° Encontro Nacional de Presbíteros nos
dirigimos fraternalmente a você. Refletimos,
à luz da Conferência de Aparecida, o tema:
“Presbíteros, Discípulos e Missionários de
Jesus Cristo na América Latina”, e o lema:
“chamou-os para estar com Ele e enviá-los
em missão” (cf. Mc 3,13-14). O encontro foi
VOLTA AO BRASIL

um momento oportuno de partilha de expe­

riências e sonhos que acalentam nossa vida
e ministério presbiteral. Além dos delegados,
tivemos a presença de alunos do Pontifício
Colégio Pio Brasileiro, seminaristas, diáconos,
Instituto Mariama, Associação Nacional de
Presbíteros do Brasil, Organização dos Seminários e Institutos do Brasil, Associação Rumos - padres casados,
Comissão Nacional dos Diáconos, Conferência Nacional dos Institutos Seculares, além de dom Esmeraldo Farias
Barreto, de dom Dimas Lara Barbosa, secretário-geral da CNBB e do cardeal dom Cláudio Hummes, Prefeito da
Congregação para o Clero, que ajudaram no aprofundamento da reflexão. Menção especial merece o querido
Dom Moacyr Grechi que orientou o dia de retiro.
Vivemos numa sociedade capitalista e globalizada que se expressa em vários contextos complexos, dinâmicos,
envolventes e que ocasionam uma grande angústia, pois nossos irmãos e irmãs, em número muito elevado, não
têm acesso à cidadania e aos bens essenciais para a vida com dignidade. Com relação à ecologia, sentimos uma
grande indignação com o processo de destruição da natureza. A nossa Igreja, não raro, aparece com estruturas
“pesadas” e com dificuldade para ser fiel à dinâmica de Jesus e ao projeto do Reino de Deus e a sua justiça (cf.
Mt 6,33). Reportamo-nos à Conferência de Aparecida, que confirmou o caminho traçado no Concílio Vaticano II
e nas Conferências de Medellín e Puebla, nos interpelando para sermos discípulos missionários. Neste sentido,
reconhecemos a necessidade de uma conversão pessoal e pastoral que nos possibilite ser:
Presbíteros-discípulos abertos para acolher o chamado do Deus Trindade e compassivos aos clamores dos
irmãos e irmãs, que solicitam posturas semelhantes às do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). A renovação da
Igreja exige que sejamos autênticos discípulos de Jesus Cristo, porque só um presbítero apaixonado por Jesus
poderá renovar uma paróquia e toda a sua ação pastoral (cf. DA 201).
Presbíteros-profetas que, em comunhão, assumamos continuamente os valores fundamentais da vida, do
projeto de Deus e da dignidade humana e denunciemos tudo o que destrói a imagem de Deus nos irmãos e
irmãs mais pobres. Neste sentido, surge o grande desafio de “trabalhar para que nossa Igreja Latino-Americana e
Caribenha continue sendo, com maior afinco, companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres, inclusive
até o martírio” (DA 396).
Presbíteros-missionários movidos pelo Mestre Jesus na perspectiva do Reino de Deus para que possamos
cuidar do povo, procurando os afastados e construindo relações fraternas. Isto implica que a Igreja saia de uma
pastoral de manutenção com estruturas pesadas e ultrapassadas e passe para uma pastoral renovada, missio-
nária, ministerial, servidora do povo, acolhedora e misericordiosa (cf. DA 365).
O poeta nos ensina: “caminheiro não há caminho, o caminho se faz...” Em nossa vida presbiteral, encontra-
mos muitos testemunhos de evangelizadores, profetas, mártires, missionários como pe. Alberto Antoniazzi, pe.
Cícero, pe. Ibiapina, pe. Josimo Moraes Tavares, dom Hélder Câmera, dom Ivo e dom Aloísio Lorscheiter, dom
Luciano Mendes de Almeida, ir. Dorothy Stang..., que nos enchem de esperança. E, em cada diocese, encon-
tramos grandes referenciais igualmente significativos. Celebramos, ainda, os 80 anos do poeta-profeta-pastor
dom Pedro Casaldáliga e expressamos a solidariedade aos perseguidos na pessoa do pe. Júlio Lancelotti e
do dom Luís Flávio Cappio. (...) Foi eleita a nova coordenação da Comissão Nacional dos Presbíteros, assim
constituída: pe. Francisco dos Santos, presidente; pe. Lázaro Silva Muniz, vice-presidente e pe. Mário Spaki,
secretário. É fundamental que em cada diocese a Pastoral Presbiteral também esteja organizada.
Renovamos a esperança de que Maria, Estrela da Evangelização, continue sendo a modelo de discípula
missionária a nos incentivar e encorajar nosso ser e ministério presbiteral.

Presbíteros participantes do 12º ENP

30 Março 2008 -
 V
ivemos em uma sociedade do espetáculo, onde,
obedecendo às regras do mercado, a notícia
é vendida juntamente com outros produtos de
consumo e a informação, ao invés de gerar
conhecimento, proporciona entretenimento para
distrair. Hoje, mais do que nunca precisamos
comunicar para informar os cidadãos na sua capacidade de
refletir e entender a realidade.
Quando falamos de comunicação na Igreja não devemos
pensar apenas nos meios. Entendemos de maneira especial
o processo de comunicação nos espaços de reflexão para as
comunidades, as pastorais, os grupos, os movimentos, nas
diversas iniciativas que criam interação entre pessoas movidas
pelos valores do Evangelho.
A revista MISSÕES, editada pelos missionários e missionárias
da Consolata no Brasil, é um meio de informação e formação
que visa contribuir com a construção de um mundo mais justo
e solidário através de subsídios pastorais, espirituais, sociais
e culturais. Seu público alvo são as lideranças e os cidadãos
em geral, as famílias, os jovens e os agentes de pastoral das
comunidades cristãs. Neste sentido, MISSÕES apresenta
matérias sobre:

• Atualidade da sociedade e movimentos sociais

• Espiritualidade e temas pastorais
• Articulação de projetos sociais e ambientais
• Estudos sobre os desafios para a missão da Igreja
• Subsídios para uma pastoral missionária
• Testemunhos de vida e de experiência
• Reflexões para a juventude
• Trabalhos didáticos para as crianças, e muito mais.

Com isso, a revista MISSÕES deseja ajudar os seus leitores

a olhar para fora do próprio mundo, além das próprias fronteiras
eclesiais, culturais e geográficas.
A solidariedade em vista do bem comum é fruto da partici-
pação de todos. Faça parte desse projeto!

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