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Liberais
Entre os
cupins e
os homens
Og F. Leme
por Roberto Fendt
O animal
siástica confiança nas possibilidades da que ri; o animal social;
razão humana de encontrar-se com a homo sapiens. São algumas das
verdade. Se é dado ao ser humano características que o homem tem
conhecer, ele pode ser livre. Descartes atribuído a si mesmo, com a finalidade
simboliza, de fato, a libertação do de se diferenciar dos animais. Mas não
pensamento humano e suas imediatas é por saber rir que o homem adquire a
e revolucionárias consequências, já a sua humanidade. Ao contrário, é por
partir da Renascença, nas artes, nas ser humano que ele aprende a rir e a
ciências e na tecnologia, às quais se chorar. De onde provém a sua huma-
associaram, em salutar reciprocidade, nidade, essa condição que efetiva-
as mudanças sociais que desem- mente o torna diferente de todos os
bocaram no estuário do liberalismo. outros animais?
Mas que significa essa retomada É esquizofrênica no homem a
pelo homem das rédeas do seu des- necessidade que tem de ser livre e, ao
tino? Que a fé e a submissão foram mesmo tempo, de alienar parte dessa
substituídas pela razão e pelo questio- liberdade ao se dispor a viver em
namento, vertentes que têm como sociedade, isto é, pela necessidade de
desaguadouro a verdade (ou a sua conciliar o ser solitário – para ser livre
busca), como condição a liberdade e – com o ser solidário – para viver em
como objetivo a construção de uma sociedade. Na realidade, em socie-
sociedade de homens livres e iguais dade os homens vivem em estado de
perante a lei, qualificados para buscar, permanente e fundamental solidão
através do intercâmbio, a sua própria junto aos outros homens. A sua vida, a
identidade e a sua razão de ser, qua- vida de cada um, é algo intransferível
lificados para viver com dignidade a e que apenas pode ser vivida por ele
sua própria vida, experiência intrans- mesmo, conforme nos ensina Ortega y
ferível que requer antes de mais nada Gasset. Dessa forma, viver em socie-
liberdade e ordem, ou ordem e liber- dade é compartilhar solidões. O riso é
dade, de vez que a segunda pressupõe uma das formas de que se vale o
a primeira. homem para fazer face à sua tragédia
A sociedade moderna, que nós ontológica.
liberais desejamos livre e democrática, A capacidade de rir e de chorar
enfrenta um fato novo como ela: a ação implica a necessidade de saber co-
social baseada no intercâmbio livre e locar-se em papéis e situações alheias.
inteligente, despido de preconceitos e Há também razões para dizer-se que
rico de tolerância, um esforço deli- ele é o “animal social”. Mas há outros
berado e heróico de transformar em animais que também vivem em socie-
debate objetivo assuntos subjetivos e dades organizadas. Além disso, o
complexos, suas soluções alternativas, homem é tanto animal social, como é
os meios para os objetivos consensuais, antissocial, sendo que essa ambi-