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Dissertação
2º Draft
Orientadores:
José Manuel Leite Viegas
André Freire
2001-2003
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
2
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Dedicatória
À Memória de Carlos Joaquim Gregório que, mesmo quando a sua vida findou,
aflorou a minha com determinação, compreensão e fé.
À minha Mãe
Ao meu Pai
Aos meus afilhados Catarina e Luís
Ao meu irmão Jorge
3
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
AGRADECIMENTOS
Aos meus amigos e colegas das boas e das más horas, e também à Ana,
Carmen, Susana, Alexandra, Mário, Bartolomeu, Mafalda deixo a minha estima, sem
esquecer a Catarina e o Rui, pilares importantes. Sem eles este trabalho teria sido um
interminável calvário.
Por fim, a minha palavra de apreço aos meus orientadores, Mestre André Freire
e Prof. José Leite Viegas, pela disponibilidade que manifestaram, pelas suas críticas
construtivas, paciência, rigor e empenho pedagógico e científico que permitiram a
elaboração deste estudo.
4
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Introdução
1
PS – Partido Socialista
2
PPD/PSD – Partido Popular Democrático / Partido Social Democrata
3
Ver Viegas (1996), Lobo (1996),
5
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Esta tese, confinada aos fins académicos que lhe foram atribuídos, pretende
analisar um período histórico importante de Portugal. Assim sendo, é nosso intuito
contribuir para a comunidade científica com uma abordagem diferente da que até
então já havia sido realizada. A evolução das propostas de políticas económicas dos
dois maiores partidos políticos é um importante instrumento de análise que
acreditamos poder identificar quais as tendências ideológicas de cada partido na
prossecução dos seus interesses políticos e na pretensa satisfação das necessidades
colectivas.
O período de tempo que decorre de 1976 a 1986 foi o eleito por várias razões. A
primeira, por ser um período de transição e consolidação do regime político 4. A
4
Ver Pág. 30
6
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Por fim, o terceiro capítulo, que pretende elaborar um estudo comparativo das
várias propostas de políticas económicas do PS e do PPD/PSD. Numa primeira parte
deste capítulo, optámos por uma descrição das políticas propostas por cada partido
político em cada eleição legislativa. Numa segunda fase, procedemos então a um
estudo comparativo entre as várias propostas, tendo em conta as áreas económicas
em questão.
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
PARTE I
PROGRAMAS ELEITORAIS
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
As origens do termo ideologia não são muito claras. Pensa-se que a palavra
ideologia surgiu durante a Revolução Francesa com Antoine Destutt de Tracy, e foi
usada publicamente pela primeira vez em 1796. Nessa altura, Tracy havia definido a
ideologia como uma nova “ciência de ideias”, literalmente idea-logia. ( HEYWOOD:6).
A ideologia enquanto termo político teve a sua origem com as obras de Karl
Marx. O uso que Marx fazia deste termo foi objecto de estudo para os seus
seguidores. No entanto, a ideologia em Marx tem uma conceptualização que se afasta
da estrutura base da actual análise política. A obra de Marx que melhor abordou este
tema foi The German Ideology, escrita em colaboração com Friedrich Engels, onde é
descrito o que entende por ideologia:
“The ideas of the ruling class are in every epoch the ruling ideas, i.e. the
class which is the ruling material force of society, is at the same time the
ruling intellectual force. The class which has the means of material
production at its disposal, has control at the same time over the means of
mental productions, so that thereby, generally speaking, the ideas of those
who lack the means of mental production are subject to it.
Marx & Engels, 1970, p. 64
9
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
grupo ou partido político. A ideologia total seria o conjunto de ideias de classe social,
sociedade ou mesmo período histórico. ( HEYWOOD:9).
Não existe um único conceito de ideologia, mas sim vários. Assim sendo, impõe-
se definirmos desde já qual o conceito de ideologia que neste estudo irá ser tido em
conta. Optamos, então, por assumir o termo “ideologia” como um conjunto de ideias e
pressupostos que nos ajudam a compreender e interpretar a vida política. Este termo é
muitas vezes restrito a uma explicação justa, coerente e elaborada de um conjunto de
ideias, isto é, a uma teoria política. (Budge 1997:195)
5
Trad. de Behaviourism
6
No sistema marxista, o “modo de produção” é o que determina o tipo de vida social, política e espiritual dos
indivíduos. Mais especificamente, a um modo de produção particular corresponde um conjunto de “relações de
produção”. Em termos legais, as relações da produção são expressas como um conjunto de relações com a
propriedade. Por sua vez, estas relações de produção definem o carácter de estrutura de classes de uma sociedade
sendo a classe definida como um conjunto de indivíduos que se encontram numa posição similar, tanto quanto ao grau
de posse de propriedade como em relação ao grau de liberdade que usufruem.
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Muitas tentativas têm sido feitas para delinear o espectro político relacionando as
ideias políticas com as ideologias. O que nos é mais familiar é o da direita e da
esquerda. Existem contudo dois tipos de classificações de ideologias. Uma que
assume a direita, centro e esquerda e outra que só assume a direita e a esquerda. A
7
VIEGAS, J. (1996), Nacionalizações e Privatizações – Elites e cultura política na história recente de Portugal, Oeiras
Celta, pág. 14
8
Idem, pág. 16
11
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A tese que se caracteriza pelo Dualismo, defendida em grande parte por Maurice
Duverger, sustenta que mesmo que não se verifique a existência de um dualismo nos
partidos políticos, quase sempre existe um dualismo de tendências. Esta é a principal
razão por que não se considera o centro, acreditando estar este dividido em si mesmo,
acabando por ser sempre separado por uma das duas metades, direita e esquerda.
Esta tese tem sido amplamente criticada, especialmente pela falta da variável
multipartidarismo, sendo algumas vezes acusada de ser uma abordagem etnocêntrica
e ambígua, uma vez que não permite explicar porque é que, em alguns casos, não há
mais do que um partido para uma tendência, e, noutros, há vários partidos para a
mesma tendência. O uso das posições graduais nas clivagens esquerda e direita
promove acima de tudo a especificidade política de cada uma delas.
Adaptado de; Heywood, A. Political Ideologies – an introduction, New York, Palgrave, Mamillan, pág. 17
9
SOSPEDRA, M. (1996), Introducción a los partidos politicos, Ariel Derecho, Barcelona, pág. 170
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Partidos
População /
Políticos e
Ideologia Base cultural Valores Sociais Tipo de políticas Intervenção do Estado
Movimentos
de apoio
Típicos
Encorajam o
Jovens, sentido de
Habilitações comunidade,
literárias protecção da
Intervir no mercado Verdes,
superiores, Ambiente, natureza, contra o
quando a iniciativa feministas,
“Nova Política” pós- participação, poder nuclear,
privada se demonstrar socialistas de
materialistas, paz ajudar os grupos
ineficiente. esquerda
novos sociais mais
movimentos desfavorecidos,
sociais especialmente as
mulheres.
Extensão da Socialistas de
Igualdade de
Trabalhadores protecção do bem- esquerda, ex-
oportunidades e Necessidade de
, funcionários estar social (Saúde comunistas,
Socialismo direito ao aumentar a intervenção
públicos, e pensões), sociais-
serviço de do Estado.
intelectuais regulação do democratas,
saúde
capitalismo, paz trabalhistas
Igrejas,
especialmente Exaltam a
Fraternidade, Sociais cristãos,
as católicas, moralidade familiar Intervir quando
comunidade, democratas
os sectores de e tradicional, necessário,
Democracia Cristã dignidade cristãos e
classe média, extensão do bem- particularmente no bem-
humana, partidos
pequenas estar social, estar social.
subsidiariedade populares.
cidades e economia mista
aldeias
Partidos neo-liberais: o
papel do Estado na
Sectores
intervenção na
seculares e
economia deve ser
anti-clericais
Ausência de mínimo por forma a Radicais,
da classe
controlos, mercados garantir um mercado progressistas,
média, Liberdade,
Liberalismo livres, eficiência, livre sem embargo da partidos
minorias individualismo
governação preocupação social; libertários,
religiosas,
limitada liberais progressistas liberais
algumas
defendem a intervenção
regiões
do Estado na defesa das
periféricas
liberdades individuais e
colectivas
Conservadorismo Classes média Ordem, Assegurar a A que for necessária de Partidos
13
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
estabilidade nas
estruturas estatais e
e alta,
nas fronteiras
especialmente
nacionais, forma a assegurar a
nas pequenas segurança, conservadores e
manutenção das estabilidade nas
e médias hierarquia social nacionalistas
Forças Armadas e instituições públicas
cidades e
oposição ao crime
zonas rurais
através da
repressão
Fonte: Budge, I. (1997), The politics of the New Europe, Longman, New York, Pág. 199
Socialismo
14
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
A Revolução Russa de 1917 foi decisiva no que concerne às várias cisões que
ocorreram no socialismo. Os socialistas revolucionários, que acabaram por seguir
Lenine, e os bolcheviques, são os comunistas; os socialistas que optaram por medidas
reformistas continuaram a designar-se por socialistas ou sociais-democratas.
15
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
- Comunidade
- Cooperação
- Igualdade
- Classe Social
- Propriedade Comum
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
democratas, por outro lado, associam a classe social aos rendimentos obtidos por
cada indivíduo e ao seu status profissional.
Por fim, temos a propriedade comum como característica desta ideologia, e que
se opõe à propriedade privada, que acredita promover a corrupção moral,
encorajando os indivíduos a tornarem-se materialistas, promovendo o conflito na
sociedade (entre a classe dominante e a oprimida) e por fim lesando a propriedade
comum.
A social-democracia
11
HEYWOOD, A. [1992 (2003)] Political Ideologies An Introduction, London, Palgrave McMillan, pág. 140
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
A ideia do fim das ideologias surgiu em 1960 com Daniel Bell12, que havia ficado
“impressionado” com os acordos entre os mais variados partidos políticos no pós II
Guerra Mundial, constando-se um vácuo no debate e clivagem ideológica. A
discussão, segundo este autor, baseava-se mais nos factores económicos que
12
Na sua obra The End if ideology, Bell chamava a atenção para as aproximações racionalistas exaustivas sobre os
assuntos políticos e sociais, e, na sua edição de 1988, ele avisa sobre os perigos da utopia tirânica do fim dos
Estados.
18
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
No entanto, Bell não estava preocupado com o facto de estar a emergir um novo
consenso ideológico entre os maiores partidos e com a ausência do debate ideológico
como consequência. No imediato do pós-guerra, os representantes das três maiores
ideologias ocidentais – liberalismo, socialismo e conservadorismo – aceitaram como
objectivo comum a “gestão do capitalismo”. Esta é perfeitamente verificada na
prospecção feita ao mercado, propriedade privada e aos incentivos materiais,
doseada com o bem-estar social e a intervenção na economia. Assim sendo, a
ideologia do “Welfare capitalism” ou a “social-democracia” parecia ter triunfado perante
os seus rivais.
Esta teoria era, contudo, circunscrita ao Ocidente, pois tanto a ex-URSS, como a
China e outros países não ocidentais, não foram então abordados.
Como já havíamos referido, existe um amplo debate nesta matéria e, por sua
vez, o reconhecimento da conturbação político-ideológica. No entanto, existem alguns
autores que defendem o inverso do que anteriormente foi descrito como o fim das
ideologias. A clivagem entre direita e esquerda continua, segundo esta abordagem, a
ser usada quer nos debates políticos, quer nos programas dos partidos políticos,
conferências de imprensa, movimentos sociais, etc. (Belchior, 2003:4)
19
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
E) Partidos políticos
13
BARADAT, L. (1997) Political Ideologies-Their Origins and impact, New Jersey, Prencite Hall, pág.345
14
CHAGNOLLAUD, D. (1999), Dicionário da Vida Política e Social, Plátano Edições Técnicas, pág.137
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
15
BONAVIDES;P. (2000[1967] ), Ciência Política, São Paulo, Brasil, pág. 358
16
Idem
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Quanto aos partidos de “massas”, a sua estrutura foi criada pelos partidos
socialistas no início do século XX18. Foi utilizada mais tarde por alguns partidos
conservadores e liberais que tentaram passar de uma estrutura de partidos de quadros
para a de partidos de massas. Atribuem um papel central aos militantes que actuam
como intermediários do partido junto da opinião pública. O membro adere a uma
ideologia relativamente estruturada, favorecendo a consciência dos cidadãos para
uma transformação da sociedade. Os membros deste tipo de partido possuem uma
forte fidelidade ao partido.
17
DUVERGER,M. (1983), Os Grandes Sistemas Políticos, Coimbra, Almedina, pág.74
18
Idem
19
BONAVIDES, P.2000 [1967], Ciência Política, São Paulo, Brasil, Pág.346
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
21
BONAVIDES, P . [2000 (1967)], Ciência Política, São Paulo, Brasil, pág. 81
22
PINTO, J. (2000) Estruturas sociais e práticas simbólico-ideológicas nos campos, Porto, pág. 52
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
A via mais utilizada para dar conhecimento das propostas de cada partido
político é através de um documento unificado e aprovado pelo corpo partidário. Por
vezes assume-se como uma larga convenção, outras por um pequeno compromisso
especialmente elaborado para um objectivo concreto. Mas basicamente traduz-se num
documento elaborado e aprovado pelo corpo partidário. Na maior parte das
democracias, os programas eleitorais são anunciados numa conferência de imprensa,
dando a conhecer os pontos fulcrais que vão caracterizar a sua campanha eleitoral. É
muitas vezes a divulgação desses temas, e por vezes a sua crítica, nos media, que se
supõe provocar impacto nos votantes. (Klingeman et al, 1994:21).
Dado que os partidos políticos da ala esquerda, com raízes ideológicas oriundas
da Revolução Industrial, e por sua vez, da mecanização da produção, tendem a
defender a intervenção do Estado na economia, assegurando políticas sociais
eficazes, proporcionando um aumento do bem-estar social, seria normal esperar a
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
h) Políticas económicas
As linhas divisórias que a análise das políticas económicas requer, entre os fins,
os objectivos e as medidas, são necessárias para a compreensão dos instrumentos
em particular. Existem também em alguns países outras “instituições públicas” que,
como indústrias nacionalizadas acabam por adoptar uma postura de agentes de
políticas económicas do Governo.
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Fonte: KIRSCHEN, E., et al. (1964), Economic Policy In Our Time – General Theory, Vol. 1, North –
Holland Publishing Company – Amesterdan, Rand Macnally & Company – Chicago, págs. 5 e 6
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Fonte: KIRSCHEN, E., et al. (1964), Economic Policy In Our Time – General Theory, Vol. 1, North – Holland
Publishing Company – Amesterdan, Rand Macnally & Company – Chicago, págs. 5 e 6
Assim sendo, vamos considerar três variáveis fundamentais que permitem uma
avaliação global da performance económica de um país. São elas, o PIB23, a taxa de
desemprego e a inflação. As políticas económicas são então utilizadas com o
objectivo de obter um elevado nível do PIB24, uma taxa de emprego elevada em
contraponto com uma de desemprego reduzida e um nível de preços estável ou com
aumentos diminutos.
23
Produto Interno Bruto
24
Y= C+I+G+NX, em que Y= PIB, C=Consumo pessoal em bens e serviços, I = Investimento interno privado bruto,
G=Gastos públicos de bens e serviços e NX = Exportações líquidas.
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
A política fiscal engloba três medidas de políticas fiscais que são utilizadas de
modo a controlar uma ou várias variáveis económicas que possam afectar os
objectivos macroeconómicos pretendidos:
- Os impostos
- Gastos públicos / despesa pública
- A regulamentação ou controlo da actividade económica
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Assim sendo, vamos optar por considerar a política de taxas de câmbio, muito
embora característica das políticas monetárias, assumindo ser um conjunto de
instrumentos que poderão ser utilizados para cobrir tanto as desvalorizações como as
apreciações da moeda em determinados períodos de tempo e alterações ao nível
institucional no sistema cambial.
O Governo é o decisor político e como tal devemos encará-lo como uma unidade
singular, sendo a entidade que tem direito à coerção, cujo dever é prover a satisfação
das necessidades colectivas e sobre as quais tem responsabilidade, pelas medidas de
políticas económicas que promove.
V – Eleitorado Vs Governo
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Popularidade/Funções do voto
Eleitorado
31
ANDERSON, C. (1995), Blaming the Government – Citizens and the Economy in Five European Democracies, pág.
31.
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A Grande Depressão surgiu logo após o colapso bolsista de 1929. Durou 10 anos e caracterizou-se
fundamentalmente por uma queda acentuada da procura, provocando uma queda na produção que por sua vez
conduziu a um acentuado aumento do desemprego. Esta situação só terminou quando começou a II Guerra Mundial.
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
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ANDERSON, C.(1995), Blaming the Government – Citizens and the Economy in Five European Democracies, pág.
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Parte II
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Desta forma, Portugal esteve sob um regime autoritário durante mais de 40 anos.
No entanto, e ao contrário de outros regimes deste tipo ou subtipo, o Estado Novo
português não teve a sua origem num movimento ou partido (Shmitter,1999:25).
Em paralelo com que decorria noutros países da Europa em que vigorava este
tipo de regime político, a maior parte do quadros eram recrutados dentro do próprio
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
As bases económicas que caracterizavam este regime eram tais que visavam
essencialmente evitar ao mesmo tempo os excessos do desenvolvimento liberal e o
desenvolvimento socialista burocrático. Este tipo de medidas provocou uma forte
desigualdade na distribuição da riqueza e do rendimento, ao mesmo tempo que não
permitia ao país desenvolver-se economicamente. Portugal vivia praticamente em
autarcia e com uma economia de subsistência. O investimento estrangeiro não era
promovido. A capacidade para inovar e desenvolver era fraca, e todas as medidas que
visavam a estabilidade económica acabaram mais tarde por falhar, levando o país à
bancarrota.
35
SCHIMITTER, P. “Portugal: do Autoritarismo à Democracia”, ICS, pág. 209
40
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Abril 1974 Março 1975 Novembro de 1975 Abril 1976 Desde Outubro de
Março 1975 Novembro 1975 Abril de 1976 Set. / Out. 1982 1982
36
MORLINO, L. Come cambiano i regime politici-strumenti di analisi, Milão, Franco Angeli, P. 980, pág. 97
37
BARROSO, J. “O processo de democratização: uma tentativa de interpretação a partir de uma perspectiva
sistémica”, in, COELHO, M. B. (ed.), Portugal: o Sistema Político e Constitucional 1974-1987, Lisboa, Instituto de
Ciências Sociais, pág. 54.
41
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
38
CRUZ. M.B. (1999), Transições Históricas e Reformas Políticas em Portugal, Editorial Bizâncio, Lisboa, pág 75
39
A definição de Democracia tem sido um tema sujeito a vários debates e discussões entre autores. A teoria com uma
maior aceitação e considerada por muitos como a “clássica” reporta-se a Dahl (1979, 1985). Segundo este autor, a
definição de democracia caracterizava-se necessariamente por: votos equitativos; participação efectiva; instrução
compreensível (para que todos os cidadãos possam expressar as suas preferências, têm de ter oportunidades iguais);
Controle final da agenda pelos Demos.
40
CRUZ. M.B. (1999), Transições Históricas e Reformas Políticas em Portugal, Editorial Bizâncio, Lisboa, pág 75
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
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Fundo Monetário internacional
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Chefe do Estado Maior-General da Forças Armadas
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O resultado das eleições deu a vitória por maioria ao PSD com 50,22% dos
votos, proporcionando o aparecimento de uma maioria absoluta monopartidária. Estas
eleições proporcionaram-nos a bipolarização do sistema partidário. Se por um lado o
Governo era do PSD, por outro o Presidente da República era do PS.
Em 1991, termina o mandato de Mário Soares, tendo sido reeleito por uma
ampla maioria de 70,4% dos votos. O PSD de Cavaco Silva consegue, nas eleições
legislativas que se seguiram, renovar a sua maioria absoluta com 50,6 % dos votos.
44
Partido Renovador Democrático
45
CRUZ. M.B. (1999), Transições Históricas e Reformas Políticas em Portugal, Editorial Bizâncio, Lisboa, pág 83
46
Idem, pág. 84
45
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
47
FREIRE, A. ( 2001b), Mudança Eleitoral em Portugal: Clivagens, Economia e Voto nas legislativas (1983-99), Oeiras,
Celta, Pág. 9
48
BANCO DE PORTUGAL, Relatório do Conselho de Administração, Gerência de 1976, Balanço, Contas, Revista
económica e Financeira, Lisboa 1977, Tipografia Banco de Portugal, Lisboa 1977,Pág 56
49
Idem, pag 58
50
Idem, pág.59
51
Idem, pág 60
52
Idem, pág 65
46
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
53
Idem, pág. 111 e 112
54
Idem, pág. 113
55
Idem, pág. 117
56
Idem, pág. 122
57
Idem, pág. 129
58
Idem, pág. 131
47
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
O sector financeiro foi talvez aquele em que se observou uma alteração mais
profunda em consequência da liberalização e da desregulamentação: estimulou-se a
actividade dos mercados de capitais; avançou-se na desregulamentação do sector
bancário, através da eliminação dos controlos sobre as taxas de juro e da
liberalização de uma boa parte dos movimentos de capitais com o exterior;
abandonou-se o sistema de limites à expansão do crédito, que durante mais de uma
dúzia de anos havia sido o principal instrumento da política monetária; desenvolveu-se
o mercado de títulos da dívida pública, que passou a constituir uma das principais
fontes de financiamento dos défices orçamentais.
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Foi esta situação cambial aflitiva, associada com a crise política que conduziu à
dissolução do 1º Governo Constitucional, que começaram as negociações para o
60
PINTO, A., A Economia Portuguesa e Acordos de Estabilização Económica; Pag. 562
61
Idem, Pág. 563
50
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
62
Constituição da República Portuguesa, artigo 87 nº 2, 1989
51
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
A partir dos anos 80, desenvolveu-se, quer nos países desenvolvidos, quer nos
países em vias de desenvolvimento, quer mais tarde nos países que tinham pertencido
ao sistema comunista, um forte movimento de privatizações de empresas do sector
público. Portugal não escapou a esse movimento. Os governos do Partido Social-
Democrata chefiados por Cavaco Silva, que dirigiram o país a partir de 1985, fizeram
das privatizações uma das componentes mais importantes da sua política de reformas
estruturais.
As possibilidades legais para promover esse objectivo foram abertas pela revisão
constitucional de 1989, que, com o acordo do Partido Socialista, eliminou o princípio
estabelecido no n.º 1 do artigo 83.º da Constituição, segundo o qual «todas as
nacionalizações efectuadas depois do 25 de Abril de 1974» eram consideradas
«conquistas irreversíveis das classes trabalhadoras».
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
a) O Partido Socialista
53
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
O Partido Socialista português acaba por ser fundado em Bona em 1973, durante
a realização do Congresso da ASP – Acção Socialista Portuguesa. O Partido nessa
altura possuía cinco objectivos imediatos64:
64
Autor: desconhecido (1975) Partidos e Movimentos Políticos em Portugal, Coordenação e Edição Soalpi –
Sociedade de Estudos e Publicações Lda., pág. 221
65
Idem, pág. 222
54
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
66
Partido Comunista Português
67
SABLOSKY, J. (2000) PS e a transição para a democracia, Editorial Noticias, pág. 46
55
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Este grupo de homens, apesar de não ter atingido os seus objectivos, permitiu a
partilha de uma experiência política que serviu de base à criação do PPD no pós-25
de Abril. Estes membros e fundadores do PPD começaram no imediato pós-25 de
68
FRAIN , M. (1998) PPD PSD e a consolidação do regime democrático, Lisboa, Editorial Noticias, Pág. 24
69
Idem, Pág. 27
56
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Abril a estabelecer contactos com grupos de oposição moderada que tinham surgido
nos últimos anos do regime autoritário.
70
Autor desconhecido (1975) “ Partidos e Movimentos Políticos em Portugal”, Coordenação e Edição Soalpi –
Sociedade de Estudos e Publicações Lda., Pág. 221
71
O PPD apresentou-se ao país como um partido de esquerda moderada, não-marxista guiado pelos princípios da
social-democracia.
72
FRAIN , M. (1998) PPD PSD e a consolidação do regime democrático, Lisboa, Editorial Notícias, pág. 34
57
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Ao contrário do PS, o PPD não foi bem sucedido nos seus pedidos de apoio ao
exterior. Tentou numa primeira fase inscrever-se na IS (Internacional Socialista) sem o
conseguir, pois o PS utilizou o direito de veto, como membro da IS, de modo a evitar
essa adesão. Mais tarde acabou por beneficiar com isso, uma vez que o caracterizou
como o «partido político mais português»; “quando o período de transição estabilizou,
o partido usou o seu estatuto de independente e de raízes nacionais como uma
vantagem de política interna”73.
73
FRAIN , M. (1998) PPD PSD e a consolidação do regime democrático, Lisboa, Editorial, Pág. 46
74
Dec. Lei nº 595/74, de 7 de Novembro, artº 20, nº 3.
58
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
PARTE III
59
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Em pleno ano de 1976 prevê este Partido Político o fim das nacionalizações. O
fomento ao investimento é visto como uma das medidas basilar para a saída do
estado depressivo em que se encontrava a economia.
75
Defendendo assim os princípios universais do cooperativismo que são:
- A livre adesão
- O Controlo democrático (um voto por cidadão)
- A neutralidade política e religiosa
- A repartição dos benefícios ou excedentes em função das operações efectuadas por cada cooperador.
- O desenvolvimento da educação e da cultura, financiado por percentagens subtraídas aos benefícios auferidos.
- A inexistência de lucros, havendo só juro limitado ao capital.
60
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
76
(1976) Programa de Governo do PPD – Partido Popular Democrático, Reconstrução Nacional pela Social
Democracia, pág. 18
61
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Nestes termos, entende o PPD que o controlo da gestão deve ser regulamentado
por lei, em cuja elaboração deverão participar os trabalhadores. Existem contudo
áreas de excepção como é o caso das instituições financeiras centrais, as actividades
ligadas à defesa e os serviços públicos de ordem e urgência.
77
(1976) Programa de Governo do PPD – Partido Popular Democrático, Reconstrução Nacional pela Social
Democracia, pág. 21
62
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Uma vez que considera o sistema de impostos vigente o mais injusto e ineficaz
da Europa, propõe que o imposto sobre o rendimento seja único e progressivo. Em
matéria de sistema de tributário diligenciará no sentido de haver a progressão do
imposto sobre sucessões e doações, assim como a aplicação de imposto sobre os
bens de luxo e por fim a isenção, nesta fase de transição, dos impostos prediais. Em
suma propõe a simplificação do sistema tributário, defendendo no que acreditam ser
uma diminuição nos custos dos serviços fiscais, e um aumento da justiça fiscal.
Entende também o PPD que deverá ser dada autonomia às autarquias, ao nível
financeiro, devendo proceder-se a uma autonomia na determinação dos programas da
despesa. Deverão portanto as autarquias possuir receitas próprias para darem
resposta aos problemas e necessidades colectivas locais.
78
Idem, pág. 23 e 24
63
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
No que respeita às políticas de crédito, e uma vez que pretendem dar prioridade
ao relançamento do emprego e da produção, entendem que se chegarem ao
Governo, as autoridades monetárias deverão praticar, nesta fase depressiva de 1976,
uma política de juros baixos para estes investimentos, embora isso possa contrariar
algumas políticas financeiras ortodoxas. Deve criar-se um clima de confiança
bancária, suprimindo os congelamentos arbitrários assim como a garantia do sigilo
bancário.
79
Ver anexos
64
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
65
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
80
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 25
81
Referência à Constituição da República Portuguesa de 1976 artigo 91º, n.º 2, ver anexos.
66
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
67
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
85
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, Pág. 31 § 2º
86
Por cooperativas integrais entende-se como sendo cooperativas de produção e de consumo.
68
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
87
Ver anexos
88
Ver anexos
89
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, Pág. 36 § 2º
69
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
70
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
91
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 44, § 7º
71
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
72
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Uma vez que o PS anuncia ter consciência de que esta reconversão em alguns
sectores irá provocar desemprego, propõe-se instalar parques e loteamentos
industriais por forma a poder transferir os trabalhadores de uma indústria para outra.
O turismo, considerado como uma importante fonte de receita, uma vez que
além de assegurar um número importante de empregos, directos e indirectos, é um
contributo importante para a Balança de Pagamentos, tendo a vantagem de na
Produção Interna, ser a única rubrica da Balança dos Invisíveis que apresenta um
saldo positivo. O principais objectivos anunciados para o sector do turismo neste
Programa Eleitoral são93: uma maior e proveitosa utilização dos tempos livres da
população; a promoção do turismo social; o fomento do turismo externo; a promoção
de uma perspectiva cultural no turismo; a integração deste sector no planeamento
socioeconómico global e regional; o lançamento de novos investimentos no sector; e
por fim, a descentralização administrativa através da criação de Órgãos Regionais de
Turismo.
93
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 54 § 6º
73
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
74
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Sem embargo das referidas linhas de orientação referidas neste discurso deverá
ser assegurado, através do recurso ao crédito externo diversificado e isento de
condições gravosas para a independência do país, uma linha de actuação que vise a
cobertura dos défices.
94
A Aliança Democrática era constituída pelo Partido Social Democrata, o Partido do Centro Democrático Social e o
Partido Popular Monárquico.
75
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
76
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Este programa não apresenta uma política concreta para o trabalho, focando
contudo o relevo de um consenso social através de uma política livre e aberta entre os
trabalhadores e os empresários98.
98
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática pág. 12
99
http://www.ica.coop/ica/pt/ptprinciples.html - A ACI defende os seguintes princípios cooperativos:
As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços, e
dispostas a assumir as responsabilidades como membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas ou
religiosas.
As cooperativas são organizações democráticas controladas pelos seus membros, que participam activamente na
formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos
outros membros são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau, os membros têm igual direito de
voto (um membro, um voto) e as cooperativas de grau superior são também organizadas de forma democrática.
Os membros contribuem equitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Pelo
menos, parte desse capital é normalmente propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem habitualmente, e
se a houver, uma remuneração limitada ao capital subscrito como condição da sua adesão. Os membros afectam os
excedentes a um ou mais dos seguintes objectivos: desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da
criação de reservas, parte das quais, pelo menos, será indivisível; benefício dos membros na proporção das suas
transações com a cooperativa; apoio a outras actividades aprovadas pelos membros.
As cooperativas são organizações autónomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se estas firmarem
acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em
condições que assegurem o controlo democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia das cooperativas.
As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos, dos dirigentes e
dos trabalhadores de forma a que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas
cooperativas. Informam o público em geral - particularmente os jovens e dos líderes de opinião - sobre a natureza e as
vantagens da cooperação.
As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais força ao movimento cooperativo,
trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.
As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas
pelos membros.
77
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
100
C.E.E. – Comunidade Económica Europeia.
101
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 14
102
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 15
103
Lei n.º. 33/ 77 de 28 de Maio - Anexos
78
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Considera também esta Aliança que deverá ser emanada legislação de apoio ao
consumidor, que imponha a suficiente publicidade dos preços assim como a
identificação dos produtos essenciais e o controlo da qualidade. Em paralelo, propõe-
se apoiar as associações de consumidores, pondo à sua disposição os meios
materiais e técnicos que lhes permitam executar as suas funções, pretendendo desta
forma eliminar a corrupção, o mercado negro e o contrabando através do reforço da
fiscalização.
104
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 18
105
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 120
79
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Este programa eleitoral divide-se em duas fases distintas, numa primeira fase
propõe-se a proceder ao saneamento financeiro da situação económica e à
recuperação do investimento e da produção, numa segunda fase poderá então dar-se
o ênfase necessário às políticas sociais por forma a que as necessidades colectivas
sejam satisfeitas.
106
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 6 e 7
107
idem, pág. 7
108
idem, pág. 7 e 8
80
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
A melhoria dos salários reais, bem como do rendimento geral da população, são
também um factor relevante e que se pretende atingir. Para tal propõe medidas
políticas que visem a desaceleração do ritmo de desvalorização do escudo, a
continuação da política de enquadramento da expansão do crédito e o controlo do
défice orçamental. Enquanto não for possível a substituição dos subsídios ao «cabaz
de compras» por uma política de subsídios sociais proporcionais aos rendimentos do
agregado familiar, entende o PS que estes deverão ser mantidos. O controlo directo
dos preços é também uma das medidas anunciadas e que basicamente visa a
introdução de um código de preços que defina as regras de conduta para as
empresas quanto ao cálculo de custos e margens de lucro, pretendendo também
109
Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento
81
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
110
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 10
111
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 24 e 25
82
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Sobre a adesão de Portugal à CEE considera este partido político que poderá ser
uma contribuição para a consolidação da democracia no país, quer pelo desafio da
inovação que irá representar para as nossas estruturas produtivas, administrativas e
legais quer pelo facto de, como estados-membros da CEE nos tornámos elementos
estratégicos fundamentais que acreditam poder marcar a evolução da sociedade
portuguesa. Admitindo os diferentes obstáculos que estão inerentes à adesão do país
à CEE acredita o PS que estes poderão ser minimizados no decurso das
negociações. Com efeito, consideram indispensável que as negociações tenham em
conta as consequências provocadas por um período de transição, como foi o caso do
nosso país.
112
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 31
83
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Com um programa muito mais sucinto que o apresentado pela FRS113, e que
veremos a seguir, a AD preferiu dividir o seu “Manifesto” eleitoral em quatro partes,
intituladas:
O que está em jogo nas eleições
O que já fizemos
Os valores que defendemos
Aquilo que nos propomos
113
Frente Republicana e Socialista
114
(1980), Programa Eleitoral da AD, pág. 20
84
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
85
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
115
(1980) Programa da FRS – Frente Republicana Socialista, pág. 8
116
Idem
86
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
87
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
No que respeita a adesão do país à CEE defende esta coligação que se deverão
fazer garantir determinados aspectos aquando das negociações com a comunidade119.
Desta forma, deverá ficar garantido de que a adesão representará para o país uma
efectiva transferência de recursos em termos de fluxos financeiros, e que os
mecanismos actuais da política agrícola e do orçamento da Comunidade não
determinem uma perda financeira para Portugal. Por outro lado, a efectivação dessa
transferência de recursos deve ser facilitada por uma maior flexibilidade nos
mecanismos de utilização dos Fundos Comunitários, em especial do Fundo Regional,
e da criação directa ou indirecta, das condições de acesso a financiamentos de médio
prazo em ligação. A agricultura, a indústria e as pescas deverão beneficiar de
períodos de transição para a adopção da política agrícola comum.
118
(1980) Programa da FRS – Frente Republicana Socialista, pág. 31
119
(1980) Programa da FRS – Frente Republicana Socialista, pág. 32
88
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
89
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Muito mais curto que o programa do PS, dessa mesma campanha eleitoral, o
PPD/PSD apresenta as suas propostas de políticas económicas numa única página.
90
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
91
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Esta “Nova Economia” caracteriza-se por ser uma economia mista e de mercado,
que deverá sofrer um processo de modernização, processo que o PS pretende para a
economia nacional, e que assume vários pressupostos fundamentais, 123 os quais se
apresentam de seguida:
A coexistência dos sectores de propriedade;
O planeamento económico e social, concebido e implementado em
moldes escrupulosamente democráticos;
O pleno funcionamento do mercado na área que lhe é própria;
A existência de um sector produtivo sólido e moderno, com bons níveis de
produtividade;
A existência de um sector de serviços sociais;
A existência de mecanismos de prevenção, detecção e repressão do
parasitismo e do ilícito económico;
A disponibilidade de instrumentos de distribuição equitativa da riqueza
produzida, mediante a institucionalização de métodos de negociação e
de arbitragem entre as empresas (públicas e privadas) e os
trabalhadores;
A proposta de uma profunda reestruturação do Conselho Nacional do
Plano, a qual deverá garantir uma significativa participação de
trabalhadores e empresários ao nível nacional;
A participação crescente das populações, bem como dos órgãos
autárquicos.
Sobre o sector empresarial público acredita este partido ter de ser urgentemente
reorganizado, e não alargado. Apresenta, desde logo, a sua intenção de não proceder
a qualquer acto de nacionalização de bens e serviços. Ao sector público empresarial
cabe a tarefa de ser um elemento dinamizador da economia, com uma função
relevante na modernização das estruturas produtivas mediante a aplicação de
criteriosos programas de desenvolvimento. Outra função importante a desempenhar é
123
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 81 e 82
92
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
a de satisfazer as necessidades sociais, que, por razões de justiça social, não devam
estar sujeitas às leis do mercado.
124
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 85
93
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
125
cfr. (1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 89
126
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 91
94
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
127
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 101
128
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 104
95
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
129
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 107
96
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
97
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
O sector cooperativo não foi esquecido, pelo que nesta matéria intenta reforçar
os meios de formação profissional dos gestores cooperativos; aprovar o saneamento
financeiro das cooperativas agrícolas em dificuldades; apoiar técnica e
financeiramente a constituição de cooperativas de segundo grau.
130
(1985) Programa de Governo do Partido Socialista – Um pacto de progresso para anos de governo, Pág. 41
131
(1985) Programa de Governo do Partido Socialista – Um pacto de progresso para anos de governo, Pág. 43
98
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
99
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
PARTE IV
100
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
I. PS Vs PPD em 1976
101
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
102
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
decisões da empresa, sem que seja posto em causa o respeito pelos órgãos de
gestão. Por outro lado, o Partido Popular Democrático pretende regulamentar o
controlo da gestão através de lei, em cuja elaboração participassem os trabalhadores.
Ambos parecem estar de acordo sobre a necessidade de proceder ao controlo da
gestão e na necessidade de esta ser efectuada tanto ao nível do sector público como
privado, muito embora o enfoque seja claramente sobre o sector público.
103
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
136
(1976) Programa de Governo do PPD – Partido Popular Democrático, Reconstrução Nacional pela Social
Democracia, pág. 38 §2º
137
(1976) Programa de Governo do PPD – Partido Popular Democrático, Reconstrução Nacional pela Social
Democracia, pág. 122 §5º
104
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
105
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
II. PS Vs AD em 1979
Por outro lado, consideram o Plano como aspecto indispensável para que se
possa equacionar devidamente os problemas estruturais do desenvolvimento, que na
altura estavam condicionados pela crise mundial.
106
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Por outro lado, o Partido Socialista é mais prudente na sua abordagem. Muito
embora considere que o sector público precisava na altura de ser verdadeiramente
remodelado, são mais cautelosos à abertura da iniciativa privada enunciando mesmo
que estarão contra as reprivatizações (assunto não abordado pela AD), dispondo-se
mesmo a ajudar o sector privado nos seus esforços de modernização e
redimensionamento, através das políticas fiscal, de crédito e de investimento, sendo
que no entanto esta medida tem em vista a preparação para a adesão à CEE.
Contudo, acreditam que o sector privado e o sector de propriedade social deverão
utilizar as indicações do Plano, integrando-as nas suas lógicas próprias141.
141
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 31
142
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 33
143
(1979), “Programa Eleitoral de Governo” – Aliança Democrática. pág. 15
107
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
144
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 23
145
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 13
108
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
A esta altura deu-se início a uma aceso debate sobre a adesão de Portugal à
CEE. Tanto um programa como o outro fomentam a adesão à Comunidade Económica
Europeia, bem como a necessidade de proceder às negociações, por forma a que o
país pudesse beneficiar com a adesão à comunidade. Este aspecto também é visto
por ambos os partidos como uma oportunidade para revitalizar a agricultura
portuguesa.
146
O que se deduz neste caso é que o crédito faria aumentar o consumo que por sua vez aumentava o PIB (Y =
C+I+G+NX) de C aumenta, Y aumenta.
109
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
A reforma fiscal tem diferentes abordagens, quer num programa quer no outro. O
PS enfatiza a reforma fiscal nos moldes do programa para as eleições em 1979,
inserindo no entanto a problemática dos impostos indirectos, nomeadamente o do IVA,
consequência da adesão de Portugal à CEE. A AD por seu lado continua predisposta a
proceder a uma redução dos impostos.
110
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
CONCLUSÕES
113
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Nos programas de 1979 o discurso económico ainda diverge, mas nota-se uma
certa flexibilidade da parte do PS perante as nacionalizações, admitindo que muito
embora não tenha previsto mais nacionalizações também não havia previsto
privatizações. O PPD/PSD continua irredutível na questão do sector público e na
intervenção mínima do Estado na economia.
114
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
115
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
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116
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
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117
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos
Programas Eleitorais :
118