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ISCTE

Instituto Superior de Ciências


do Trabalho e da Empresa

Mestrado, “Cidadãos e Democracia na Europa”, 1ª edição

Dissertação

“Discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986:


Análise dos textos programáticos”

2º Draft

Orientadores:
José Manuel Leite Viegas
André Freire

Autor: Sónia Isabel Fernandes Barreto

2001-2003
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

“Os amigos da ciência, dizia eu, sabem que


a filosofia, que lhes tomou conta da alma
neste estado, a encoraja docemente e se
esforça por libertá-la: mostrando-lhe que,
no estudo das realidades, o testemunho
dos olhos está cheio de ilusões, como cheio
de ilusões estão o dos ouvidos e o dos
outros sentidos (...); exortando-a a recolher-
se e a concentrar-se em si mesma e a não
confiar senão em si mesma e no que ela
própria e por si própria concebeu de cada
realidade em si ...”

Sócrates em “Platão Diálogos III – Apologia


de Sócrates, Críton e Fédon” .

2
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Dedicatória

À Memória de Carlos Joaquim Gregório que, mesmo quando a sua vida findou,
aflorou a minha com determinação, compreensão e fé.

À minha Mãe
Ao meu Pai
Aos meus afilhados Catarina e Luís
Ao meu irmão Jorge

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

AGRADECIMENTOS

Toda uma obra necessita do contributo de personalidades que, com a sua


sabedoria, inspiram os autores nos seus primeiros passos de investigação científica.
Seria uma injustiça e ingratidão não mencionar as pessoas que, de uma forma ou de
outra, a tornaram possível.

A minha palavra de apreço e agradecimento para todos os colegas, professores


e funcionários do ISCTE que tornaram todo este trabalho possível.

Não podia deixar de realçar a importância do contributo e uma palavra de


agradecimento ao Prof. Luiz Arouca, que, com a sua determinação, sabedoria e
infindável apoio moral e científico, tornou esta dissertação possível. Ao Prof. Rui
Verde pelo tempo e paciência que hipotecou.

Aos meus amigos e colegas das boas e das más horas, e também à Ana,
Carmen, Susana, Alexandra, Mário, Bartolomeu, Mafalda deixo a minha estima, sem
esquecer a Catarina e o Rui, pilares importantes. Sem eles este trabalho teria sido um
interminável calvário.

Ao Partido Socialista, na pessoa do Sr. André Salgado, e ao Partido Social


Democrata, na pessoa da Dª. Margarida Ferro, pela simpatia e eficiência com que
acolheram os meus pedidos de documentação.

Por fim, a minha palavra de apreço aos meus orientadores, Mestre André Freire
e Prof. José Leite Viegas, pela disponibilidade que manifestaram, pelas suas críticas
construtivas, paciência, rigor e empenho pedagógico e científico que permitiram a
elaboração deste estudo.

Lisboa, 30 de Julho de 2003

4
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Introdução

Os processos de transição de um regime autoritário para um regime democrático


são únicos e complexos. Profundamente vinculados à realidade social, económica e
política de cada país, constituem um processo de indiscutível significado científico.

Esta tese propõe um estudo de análise programática das propostas de políticas


económicas, apresentadas pelo PS1 e PPD/PSD2, os dois maiores partidos políticos
portugueses, no processo de transição e consolidação política de Portugal do regime
do Estado Novo para o democrático.

A análise programática dos partidos políticos portugueses no período para a


transição e consolidação da democracia em Portugal tem sido alvo de vários estudos 3
que permitiram o apoio bibliográfico necessário para este estudo, e sem os quais este
trabalho de investigação não teria sido possível. Acreditamos, contudo, existir ainda
uma área que se encontra por explorar.

A análise programática que se pretende realizar está ao nível dos programas


eleitorais em legislativas, tendo-se optado por uma comparação evolutiva das
propostas de políticas económicas.

Assumindo as políticas económicas como parte intrínseca e característica de cada


ideologia política, pode-se constatar que, em Portugal, ao nível da aplicação das
políticas económicas, se pressupõe uma distinção clara entre um partido e o outro. O
PS é considerado como um partido de esquerda, o PPD/PSD de direita.

Os partidos políticos e a sua inerente clivagem ideológica são normalmente


inseridos num espectro político que nos permite posicioná-los na ala direita ou na ala
esquerda. Este posicionamento está fortemente relacionado com as medidas
económicas que cada partido advoga. Os partidos da ala esquerda defendem uma
economia planificada, com uma intervenção regulamentadora do Estado na economia,
promovendo o bem-estar social. Os partidos da ala direita defendem uma intervenção

1
PS – Partido Socialista
2
PPD/PSD – Partido Popular Democrático / Partido Social Democrata
3
Ver Viegas (1996), Lobo (1996),

5
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

minimalista do Estado, meramente reguladora, na economia e na sociedade, de forma


a não comprometer a livre escolha dos indivíduos, optando também pelo bem estar
social.

É certo que a evolução política, social e económica originou várias cisões


partidárias, tendo sido a origem mais provável da criação de novos partidos políticos e
movimentos sociais. No caso específico de Portugal, a percepção que se vai tendo
com o decorrer do tempo é de uma proximidade de acção política entre o PS e o PSD,
se não mesmo uma inversão de adopção de políticas.

O estudo da evolução das propostas de políticas económicas poderá desta


forma permitir analisar ou sustentar a veracidade da proximidade de acção ou mesmo
inversão das políticas económicas que partimos do pressuposto estarem
correlacionadas com as ideologias partidárias.

Esta tese, confinada aos fins académicos que lhe foram atribuídos, pretende
analisar um período histórico importante de Portugal. Assim sendo, é nosso intuito
contribuir para a comunidade científica com uma abordagem diferente da que até
então já havia sido realizada. A evolução das propostas de políticas económicas dos
dois maiores partidos políticos é um importante instrumento de análise que
acreditamos poder identificar quais as tendências ideológicas de cada partido na
prossecução dos seus interesses políticos e na pretensa satisfação das necessidades
colectivas.

A actualidade económica, assim como a intenção de conquistar o poder legislativo,


tendo de para tal captar votos à população, podem distorcer a transposição da
ideologia política de cada partido político para a realidade. Assim sendo, as propostas
das políticas económicas enquanto instrumentos de análise condutores poderão
oferecer uma visão que nos permitirá analisar o “desvio padrão” das ideologias com o
pragmatismo necessário a cada partido político. Temos contudo de ressalvar que essa
não foi a intenção deste estudo, muito embora acreditemos ter criado um espaço
nesse sentido.

O período de tempo que decorre de 1976 a 1986 foi o eleito por várias razões. A
primeira, por ser um período de transição e consolidação do regime político 4. A
4
Ver Pág. 30

6
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

revisão da Constituição de 1982 não deixou de ser um marco histórico representativo


de mudança de regime, uma vez que aí se procedeu à desmilitarização do poder
legislativo. No entanto, e porque estamos a tratar da evolução de políticas económicas
apresentadas pelos dois maiores partidos políticos portugueses e acreditando estarem
estas correlacionadas com a actualidade económica de cada período, o ano de 1986,
por ter sido o ano em que Portugal aderiu à Comunidade Económica Europeia (CEE)
representa per se, o fim da etapa económica que nos havíamos proposto estudar. A
segunda, e consequente da primeira, tem em atenção o facto de estarmos a trabalhar
numa área de investigação de intersecção entre a economia e a política, em que os
factores económicos e políticos relevantes são considerados em conjunto o que
também justifica a escolha desse período como objecto de investigação.

O primeiro capítulo deste trabalho consagra o enquadramento teórico-


metodológico do trabalho de investigação que pretendemos realizar. Pretende-se
prosseguir com o estudo teórico, enquadrando numa primeira fase, as ideologias
políticas, em seguida, aborda-se a génese dos partidos políticos, a sua relação com
as ideologias, nomeadamente o que respeita à ideologia dos partidos políticos que são
o objecto de estudo. A seguir, abordamos genericamente o que se entende por
políticas económicas, apelando ao que já está escrito e analisando um pouco as suas
diferenças metodológicas.

O segundo capítulo caracteriza-se por uma análise do processo de transição e


consolidação para a democracia em Portugal. Neste capítulo, interessou-nos elaborar
um estudo sobre as condições sociais, económicas e políticas, por forma a
contextualizar o estudo empírico pelo o qual se optou, enquadrando-o no período de
tempo em análise. O estudo da evolução política do PS e do PPD/PSD no processo
de revolução e transição para a democracia foi um ponto determinante neste estudo,
pois permitiu-nos analisar o comportamento dos partidos políticos em relação à prática
e prossecução dos seus interesses políticos.

Por fim, o terceiro capítulo, que pretende elaborar um estudo comparativo das
várias propostas de políticas económicas do PS e do PPD/PSD. Numa primeira parte
deste capítulo, optámos por uma descrição das políticas propostas por cada partido
político em cada eleição legislativa. Numa segunda fase, procedemos então a um
estudo comparativo entre as várias propostas, tendo em conta as áreas económicas
em questão.

7
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

PARTE I

QUADRO TEÓRICO-METODOLÓGICO PARA O

ESTUDO DAS POLÍTICAS ECONÓMICAS EM

PROGRAMAS ELEITORAIS

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

I. SOBRE OS CONCEITOS DE IDEOLOGIA, PARTIDOS POLÍTICOS,


PROGRAMAS ELEITORAIS E POLÍTICAS ECONÓMICAS

a) As origens e noções de ideologia

As origens do termo ideologia não são muito claras. Pensa-se que a palavra
ideologia surgiu durante a Revolução Francesa com Antoine Destutt de Tracy, e foi
usada publicamente pela primeira vez em 1796. Nessa altura, Tracy havia definido a
ideologia como uma nova “ciência de ideias”, literalmente idea-logia. ( HEYWOOD:6).

A ideologia enquanto termo político teve a sua origem com as obras de Karl
Marx. O uso que Marx fazia deste termo foi objecto de estudo para os seus
seguidores. No entanto, a ideologia em Marx tem uma conceptualização que se afasta
da estrutura base da actual análise política. A obra de Marx que melhor abordou este
tema foi The German Ideology, escrita em colaboração com Friedrich Engels, onde é
descrito o que entende por ideologia:

“The ideas of the ruling class are in every epoch the ruling ideas, i.e. the
class which is the ruling material force of society, is at the same time the
ruling intellectual force. The class which has the means of material
production at its disposal, has control at the same time over the means of
mental productions, so that thereby, generally speaking, the ideas of those
who lack the means of mental production are subject to it.
Marx & Engels, 1970, p. 64

Uma das primeiras tentativas de construir um conceito não marxista da ideologia


foi a de um sociólogo alemão, Karl Mannheim, que, de acordo com Marx, também
acreditava que os ideais dos indivíduos eram moldados pelas circunstâncias sociais
em que se encontravam, acrescentando, no entanto, a esta definição, as implicações
negativas que até à altura não haviam sido abordadas. Acreditava Mannheim que as
ideologias seriam correntes de pensamento que serviriam para defender uma
determinada ordem social, e que visavam manifestar os interesses de um grupo
dominante.

Esta abordagem defendia a divisão das ideologias em dois tipos de concepções,


a “particular” e a “total”. Por ideologia particular entendia-se as ideias de um indivíduo,

9
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

grupo ou partido político. A ideologia total seria o conjunto de ideias de classe social,
sociedade ou mesmo período histórico. ( HEYWOOD:9).

Não pretendemos com este estudo analisar em pormenor as noções de


ideologia, no entanto, consideramos não poder deixar de as abordar, muito embora de
forma resumida.

A posição assumida pela escola comportamental5, escola de Psicologia


associada a John Watson e B. F. Skinner, entende que os seres humanos pouco mais
são que máquinas biológicas, condicionadas para agir (ou mais correctamente, reagir)
a estímulos externos. O facto de pensarem, juntamente com os seus ideais, valores e
intenções é simplesmente irrelevante. (Heywood:2).

Há quem reveja no “materialismo dialéctico” de Marx esta mesma linha de


pensamento, uma vez que suporta que os ideais políticos só podem ser
compreendidos segundo a vertente económica ou o interesse das classes, assumindo
assim que as ideologias possuem uma “base material”. Os marxistas ortodoxos
chegam mesmo a considerar as ideologias políticas como uma manifestação do
interesse de determinadas classes6.

Não existe um único conceito de ideologia, mas sim vários. Assim sendo, impõe-
se definirmos desde já qual o conceito de ideologia que neste estudo irá ser tido em
conta. Optamos, então, por assumir o termo “ideologia” como um conjunto de ideias e
pressupostos que nos ajudam a compreender e interpretar a vida política. Este termo é
muitas vezes restrito a uma explicação justa, coerente e elaborada de um conjunto de
ideias, isto é, a uma teoria política. (Budge 1997:195)

b) A cultura política e as ideologias

As contribuições para a conceptualização da cultura política assentam tanto


num conjunto de “orientações especificamente políticas, posicionamentos

5
Trad. de Behaviourism
6
No sistema marxista, o “modo de produção” é o que determina o tipo de vida social, política e espiritual dos
indivíduos. Mais especificamente, a um modo de produção particular corresponde um conjunto de “relações de
produção”. Em termos legais, as relações da produção são expressas como um conjunto de relações com a
propriedade. Por sua vez, estas relações de produção definem o carácter de estrutura de classes de uma sociedade
sendo a classe definida como um conjunto de indivíduos que se encontram numa posição similar, tanto quanto ao grau
de posse de propriedade como em relação ao grau de liberdade que usufruem.

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

relativamente ao sistema político e seus diferentes elementos, assim como as atitudes


de cada um relativamente ao seu papel neste mesmo sistema” [Viegas, 1996:8
(Almond e Verba, 1963:13)], como num “conceito de cultura política como sistemas de
leitura, interpretação e avaliação de objectos políticos, identificáveis com estruturas
simbólico-ideológicas de codificação e descodificação, de carácter sedimentado, e
que regulam as práticas dos agentes sociais”. (Viegas, 1996:12). Assumindo a última
concepção do conceito de cultura política não poderemos deixar de desenvolver esta
questão, nomeadamente no que concerne aos aspectos característicos do conceito
designados por ideologias e as disposições básicas. (Viegas, 1996:12).

A cultura política demonstra ser uma variável importante no estudo do discurso


dos partidos políticos portugueses, uma vez que nos pode informar sobre a
“consistência do posicionamento político dos indivíduos – que a sedimentação dos
sistemas de leitura e avaliação político-social enraíza nas estruturas sociais nas quais
os agentes estão ou estiveram integrados”7. No entanto, este processo não é
automático, a ele junta-se toda a vivência social acumulada por cada indivíduo.

Assim sendo, não poderemos deixar de referir a importância das condições


sociais de formação das culturas políticas “a um nível de grande generalidade, (...) a
formação e consolidação (...) resulta da dimensão simbólica das relações sociais em
que os agentes estão, ou estiveram, integrados”8

Estas são questões abordadas em quase todos os estudos de comportamento


eleitoral, no entanto, reservamo-nos a entrar em detalhe nesta matéria, acreditando
ser para este trabalho, o estudo das ideologias e das famílias partidárias de um maior
grau de relevância.

c) A ideologia e as famílias partidárias

Muitas tentativas têm sido feitas para delinear o espectro político relacionando as
ideias políticas com as ideologias. O que nos é mais familiar é o da direita e da
esquerda. Existem contudo dois tipos de classificações de ideologias. Uma que
assume a direita, centro e esquerda e outra que só assume a direita e a esquerda. A

7
VIEGAS, J. (1996), Nacionalizações e Privatizações – Elites e cultura política na história recente de Portugal, Oeiras
Celta, pág. 14
8
Idem, pág. 16

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

então chamada concepção dualista que assume a inexistência de Centro, formulada


por Duverger, e outra que assume os três tipos de classificações. 9

A tese que se caracteriza pelo Dualismo, defendida em grande parte por Maurice
Duverger, sustenta que mesmo que não se verifique a existência de um dualismo nos
partidos políticos, quase sempre existe um dualismo de tendências. Esta é a principal
razão por que não se considera o centro, acreditando estar este dividido em si mesmo,
acabando por ser sempre separado por uma das duas metades, direita e esquerda.

Esta tese tem sido amplamente criticada, especialmente pela falta da variável
multipartidarismo, sendo algumas vezes acusada de ser uma abordagem etnocêntrica
e ambígua, uma vez que não permite explicar porque é que, em alguns casos, não há
mais do que um partido para uma tendência, e, noutros, há vários partidos para a
mesma tendência. O uso das posições graduais nas clivagens esquerda e direita
promove acima de tudo a especificidade política de cada uma delas.

Dadas as amplas críticas feitas à tese dualista, e porque acreditamos serem


válidas, para este trabalho, optámos por uma visão tripartida: direita, centro e
esquerda. Para que todas as variáveis sejam devidamente identificadas e por
aplicação a uma realidade concreta, exige saber-se que espectro político estamos a
admitir. Optámos por um linear, que abaixo se indica:

Quadro I: Espectro Político Linear

Nova Política Socialismo Democracia Cristã Liberalismo Conservadorismo

Adaptado de; Heywood, A. Political Ideologies – an introduction, New York, Palgrave, Mamillan, pág. 17

Os partidos do centro tendem a apoiar economias mistas, e movem-se para um


apoio intervencionista, ou não, conforme a performance económica do país, como
poderá ser verificado pelos programas eleitorais, de eleição em eleição.

9
SOSPEDRA, M. (1996), Introducción a los partidos politicos, Ariel Derecho, Barcelona, pág. 170

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Um quadro-resumo poderá ajudar-nos a compreender melhor esta realidade:

Quadro II: As ideologias políticas

Partidos
População /
Políticos e
Ideologia Base cultural Valores Sociais Tipo de políticas Intervenção do Estado
Movimentos
de apoio
Típicos
Encorajam o
Jovens, sentido de
Habilitações comunidade,
literárias protecção da
Intervir no mercado Verdes,
superiores, Ambiente, natureza, contra o
quando a iniciativa feministas,
“Nova Política” pós- participação, poder nuclear,
privada se demonstrar socialistas de
materialistas, paz ajudar os grupos
ineficiente. esquerda
novos sociais mais
movimentos desfavorecidos,
sociais especialmente as
mulheres.
Extensão da Socialistas de
Igualdade de
Trabalhadores protecção do bem- esquerda, ex-
oportunidades e Necessidade de
, funcionários estar social (Saúde comunistas,
Socialismo direito ao aumentar a intervenção
públicos, e pensões), sociais-
serviço de do Estado.
intelectuais regulação do democratas,
saúde
capitalismo, paz trabalhistas
Igrejas,
especialmente Exaltam a
Fraternidade, Sociais cristãos,
as católicas, moralidade familiar Intervir quando
comunidade, democratas
os sectores de e tradicional, necessário,
Democracia Cristã dignidade cristãos e
classe média, extensão do bem- particularmente no bem-
humana, partidos
pequenas estar social, estar social.
subsidiariedade populares.
cidades e economia mista
aldeias
Partidos neo-liberais: o
papel do Estado na
Sectores
intervenção na
seculares e
economia deve ser
anti-clericais
Ausência de mínimo por forma a Radicais,
da classe
controlos, mercados garantir um mercado progressistas,
média, Liberdade,
Liberalismo livres, eficiência, livre sem embargo da partidos
minorias individualismo
governação preocupação social; libertários,
religiosas,
limitada liberais progressistas liberais
algumas
defendem a intervenção
regiões
do Estado na defesa das
periféricas
liberdades individuais e
colectivas
Conservadorismo Classes média Ordem, Assegurar a A que for necessária de Partidos

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

estabilidade nas
estruturas estatais e
e alta,
nas fronteiras
especialmente
nacionais, forma a assegurar a
nas pequenas segurança, conservadores e
manutenção das estabilidade nas
e médias hierarquia social nacionalistas
Forças Armadas e instituições públicas
cidades e
oposição ao crime
zonas rurais
através da
repressão

Fonte: Budge, I. (1997), The politics of the New Europe, Longman, New York, Pág. 199

As famílias partidárias podem caracterizar-se através do quadro acima descrito.


Todas estas características dos partidos políticos estão directamente ligadas à
ideologia. Assim, no caso dos socialistas, podemos verificar que as políticas que
defendem se centram na promoção dos interesses dos trabalhadores, assim como na
necessidade de os promover através de uma sociedade mais equitativa. Em
conclusão, os socialistas defendem políticas que se caracterizam por um aumento do
bem estar-social, regulando o mercado livre através da intervenção do Estado na
economia.

C) O socialismo e a social democracia

Porque nos propusemos a estudar as políticas económicas apresentadas em


programas eleitorais dos dois maiores partidos políticos, e uma vez que estes são o
Partido Socialista e o Partido Social Democrata, parece-nos importante debruçarmo-
nos um pouco sobre o socialismo enquanto ideologia.

Socialismo

O termo socialismo deriva do Latim Sociare, que basicamente quer dizer


combinar ou partilhar. Pensa-se que o termo surgiu pela primeira vez em 1827, na Grã
Bretanha, num número da revista Co-operative Magazine. No início da década 30 do
século XIX, os seguidores de Robert Owen na Grã-Bretanha e Saint-Simon na França
começaram a referir-se aos princípios que defendiam como socialismo, acabando por
se tornar um termo familiar no grupo dos países industrializados da época.
(Heywood:105).

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

As origens do socialismo tiveram a sua maior expressão durante a Revolução


Industrial, que se caracterizava, entre outros factores, por condições de vida e de
trabalho bastante duras, com altas taxas de desemprego.

Durante o século XIX, o socialismo alterou-se conforme iam melhorando as


condições de vida e de trabalho da classe operária. Esta classe acabara por se
integrar na sociedade industrial. Os partidos políticos iam progressivamente adoptando
tácticas legais e constitucionais que poderiam promover um aumento gradual de
direitos, nomeadamente ao nível da extensão do direito de voto aos homens da classe
operária.

A Revolução Russa de 1917 foi decisiva no que concerne às várias cisões que
ocorreram no socialismo. Os socialistas revolucionários, que acabaram por seguir
Lenine, e os bolcheviques, são os comunistas; os socialistas que optaram por medidas
reformistas continuaram a designar-se por socialistas ou sociais-democratas.

O século XX assistiu à propagação do socialismo praticamente pelos cinco


continentes, incidindo em países com pouca ou mesmo nenhuma actividade industrial.
Muito do êxito da propagação desta ideologia política deveu-se ao enfoque dado na
sua oposição à opressão do colonialismo. A luta não se dava entre as classes, mas
sim entre os colonos e os colonialistas, pelo que a ideia da exploração das classes
dominantes foi substituída pela dos colonos.

Uma das grandes dificuldades em estudar o socialismo está relacionada com as


várias abordagens do mesmo. A primeira encara o socialismo como um modelo
económico, usualmente relacionado com uma forma de colectivização e planeamento.
Segundo esta abordagem, o socialismo é considerado como uma alternativa ao
capitalismo, isto é, a escolha existente entre os dois sistemas produtivos tradicionais,
qualitativamente diferentes, assumidos como fulcrais em todas as questões
económicas. Uma outra abordagem encara o socialismo como um instrumento para o
movimento dos trabalhadores. O socialismo, segundo esta abordagem, representa os
interesses da classe trabalhadora, oferecendo um programa através do qual os
trabalhadores podem alcançar o poder político e económico. Por fim, uma terceira
abordagem encara o socialismo como uma doutrina política ou ideologia caracterizada

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

por um conjunto de ideias, valores e teorias, sendo as que mais o caracterizam as


seguintes10:

- Comunidade
- Cooperação
- Igualdade
- Classe Social
- Propriedade Comum

A questão da comunidade está bastante relacionada com a base socialista que


se caracteriza por uma visão unificadora dos seres humanos, uma vez que os
considera como “seres sociais”. É então defendido que a sua capacidade de enfrentar
os problemas sociais e económicos advém do poder da comunidade e não do esforço
individual. Esta visão colectivista admite só ser possível atingir os objectivos de cada
indivíduo através de um esforço conjunto, opondo-se assim à ideia de que cada
indivíduo agia segundo o seu interesse próprio.

No seguimento do que anteriormente foi referido, podemos fazer uma


associação com as relações existentes numa sociedade que, segundo esta ideologia,
deverão ser de cooperação e não de competitividade. Os indivíduos, quando
trabalham em conjunto, possuem uma maior capacidade de obtenção de resultados.
Assim sendo, existe um incentivo moral para que cada indivíduo trabalhe arduamente,
com o desejo de contribuir para o bem comum, o que por sua vez desenvolve o
sentido de responsabilidade nos restantes indivíduos.

O compromisso para a igualdade, sendo esta uma igualdade social e de


redistribuição de riqueza, é o que define em termos gerais a ideologia socialista, este
valor político que lhe é intrínseco acaba por ser o que o mais o distingue das outras
ideologias.

O socialismo considera a classe social como um conjunto de pessoas que


partilham uma posição social e económica, o que é tradicionalmente visto como tendo
um profundo significado político. Esta é uma característica da ideologia política que
não tem sido pacífica. Enquanto o pensamento marxista associa a classe social à
relação existente entre os indivíduos e aos factores de produção, os sociais-
10
HEYWOOD, A. [1992 (2003)] Political Ideologies An Introduction, London, Palgrave McMillan, págs. 107 e 108

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

democratas, por outro lado, associam a classe social aos rendimentos obtidos por
cada indivíduo e ao seu status profissional.

Por fim, temos a propriedade comum como característica desta ideologia, e que
se opõe à propriedade privada, que acredita promover a corrupção moral,
encorajando os indivíduos a tornarem-se materialistas, promovendo o conflito na
sociedade (entre a classe dominante e a oprimida) e por fim lesando a propriedade
comum.

A social-democracia

O termo social-democrata assumiu ao longo do tempo várias definições, tendo


o seu significado original estado relacionado com a ortodoxia marxista. Os partidos
marxistas formaram no século XIX os partidos sociais-democratas, sendo o mais
conhecido o partido social democrata alemão, fundado em 1875. Esses partidos
rapidamente começaram a adoptar tácticas parlamentares e comprometeram-se a
proceder a transições para o regime socialista de forma gradual e pacífica, do
socialismo. Este regime que defendiam, ao contrário do socialismo revolucionário, era
um regime democrático. Depois da Revolução Russa de 1917, os revolucionários
optaram pelo nome de comunistas por forma a distanciarem-se dos sociais-
democratas reformistas.

O passo final no sentido da social-democracia decorreu a meio do século XX,


tendo sido fruto de uma tendência de alguns partidos sociais-democratas de não
somente adoptarem estratégias parlamentares como também de procederem a uma
revisão das ambições socialistas.

As características da social-democracia como hoje é entendida podem ser


resumidas da seguinte forma11:
- Adopta os princípios liberais-democratas, aceitando todas as alterações
políticas que visem uma sociedade pacífica e constitucional.
- Aceita o capitalismo enquanto fio condutor de aumento do bem estar
social, pelo que em termos qualitativos o socialismo não é diferente do
capitalismo.

11
HEYWOOD, A. [1992 (2003)] Political Ideologies An Introduction, London, Palgrave McMillan, pág. 140

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

- O capitalismo é contudo visto como “imoral”, uma vez que se encontra


associado à pobreza e desigualdade social estrutural.
- Os defeitos do sistema capitalista podem ser rectificados pelo Estado
através de um processo de “engenharia” social e económica; é ao Estado
que compete a responsabilidade da defesa dos interesses comuns
públicos.
- O Estado-nação é a mais importante unidade política. Ao Estado cabe a
regulação dentro dos seus limites da economia e da vida social.

A social-democracia foi amplamente difundida no período pós 1945, com as suas


ideias e teorias a desenvolverem-se especialmente no Ocidente. No entanto, essa
propagação abrandou em meados da década de 70 e 80 do século XX. O desafio que
a social-democracia enfrentava nessa altura era no sentido de manter o seu
significado político e social face aos avanços do neoliberalismo e das circunstâncias
económicas e sociais.

As últimas décadas do século XX foram testemunhos de um processo de retorno


ou recuperação dos partidos socialistas reformistas. No entanto, pode observar-se a
criação de vários partidos com o que então chamaram de sociais-democracias
modernas, outros optaram pelo nome de “terceira via”, outros ainda por “centro
radical”, ou mesmo o “centro activo”. Esta proliferação de novos partidos tem sido
matéria de amplo debate.

D) O fim das ideologias ?

O fim das ideologias tem também sido amplamente discutido. As décadas de 50


e 60 do século XX ficaram marcadas por estudos exaustivos de cientistas políticos,
como Daniel Bell e Seymour Martin Lipsey, sobre o fim das ideologias.

A ideia do fim das ideologias surgiu em 1960 com Daniel Bell12, que havia ficado
“impressionado” com os acordos entre os mais variados partidos políticos no pós II
Guerra Mundial, constando-se um vácuo no debate e clivagem ideológica. A
discussão, segundo este autor, baseava-se mais nos factores económicos que

12
Na sua obra The End if ideology, Bell chamava a atenção para as aproximações racionalistas exaustivas sobre os
assuntos políticos e sociais, e, na sua edição de 1988, ele avisa sobre os perigos da utopia tirânica do fim dos
Estados.

18
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

pudessem assegurar a prosperidade material. A economia havia assim triunfado sobre


a política. Os políticos ficaram reduzidos aos termos técnicos. (Heywood:321).

No entanto, Bell não estava preocupado com o facto de estar a emergir um novo
consenso ideológico entre os maiores partidos e com a ausência do debate ideológico
como consequência. No imediato do pós-guerra, os representantes das três maiores
ideologias ocidentais – liberalismo, socialismo e conservadorismo – aceitaram como
objectivo comum a “gestão do capitalismo”. Esta é perfeitamente verificada na
prospecção feita ao mercado, propriedade privada e aos incentivos materiais,
doseada com o bem-estar social e a intervenção na economia. Assim sendo, a
ideologia do “Welfare capitalism” ou a “social-democracia” parecia ter triunfado perante
os seus rivais.

Em resumo, os autores que defendiam o fim da ideologia acreditavam que os


apelos utópicos do comunismo, fascismo e dos outros “ismos” estariam a chegar ao
fim e seriam então substituídos por um consenso geral do bem-estar social,
economias mistas, descentralização de poder e democracias pluralistas. A defesa
deste argumento assentava basicamente no fim dos conflitos intelectuais promovidos
pela Revolução Industrial, uma vez que os trabalhadores haviam ganho cidadania
política e industrial. A luta democrática iria prosseguir, mas sem ideologia. (Budge,
1997:203).

Esta teoria era, contudo, circunscrita ao Ocidente, pois tanto a ex-URSS, como a
China e outros países não ocidentais, não foram então abordados.

O apaziguamento ideológico é um tema suficientemente controverso para não


deixar de ser referido, muito embora não o possamos desenvolver como gostaríamos.

Como já havíamos referido, existe um amplo debate nesta matéria e, por sua
vez, o reconhecimento da conturbação político-ideológica. No entanto, existem alguns
autores que defendem o inverso do que anteriormente foi descrito como o fim das
ideologias. A clivagem entre direita e esquerda continua, segundo esta abordagem, a
ser usada quer nos debates políticos, quer nos programas dos partidos políticos,
conferências de imprensa, movimentos sociais, etc. (Belchior, 2003:4)

19
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Autores como Norberto Bobbio são defensores de que em, vez do


desaparecimento das ideologias tradicionais, estas foram apenas substituídas por
novas ideologias. (Belchior, 2003:4; Bobbio, 1995:28/9)

No campo da transposição para a realidade, “direita e esquerda” misturam-se


nos programas partidários, fazendo com que os partidos de direita defendam posições
tradicionalmente associadas à esquerda e vice-versa (Belchior, 2003:4). No entanto há
que ter em conta que este tipo de posições podem ser temporárias, o que
basicamente poderá querer dizer que não afectam o conteúdo ideológico por si só.

Mas porque também estamos a falar de partidos políticos impõe-se uma


abordagem dos mesmos.

E) Partidos políticos

Existem várias definições para partidos políticos. Talvez um dos primeiros


autores a fazê-lo tenha sido Burke, definindo-os como “um corpo de pessoas unidas
para promover, mediante esforço conjunto, o interesse nacional, com base em algum
princípio especial, em redor do qual todos se acham de acordo” (Bonavides, 2000 [
1967] pág. 344). O conceito de partido político de Bluntschli, em 1862, é definido como
“grupos livres na sociedade, os quais, mediante esforços e ideias básicas de teor
político, da mesma natureza ou intimamente semelhantes, se enquadram no Estado,
ligados por uma acção comum”. (Bonavides, 2000 [1967]:349).

Do ponto de vista sociológico, Max Weber define a natureza dos partidos


políticos: ”Os partidos, disse Weber, não importa os meios que empregam para
afiliação da sua clientela, são, na sua essência mais íntima, organizações criadas de
maneira voluntária, que partem de uma propaganda livre e que necessariamente se
renova, em contraste com todas as entidades firmemente delimitadas por lei ou
contrato”13.

Existem, no entanto, quatro critérios clássicos que podem definir um partido


político14:

13
BARADAT, L. (1997) Political Ideologies-Their Origins and impact, New Jersey, Prencite Hall, pág.345
14
CHAGNOLLAUD, D. (1999), Dicionário da Vida Política e Social, Plátano Edições Técnicas, pág.137

20
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

- Um partido só poderá existir se tiver uma organização durável. Um partido


exprime uma tradição política que perdura no tempo;
- Tem de dispor de uma organização completa, o poder tem de ser não só ao
nível local como ao nível central.
- Um partido supõe uma vontade deliberada de tomar e de exercer o poder.
Isto permite distinguir os partidos de outro tipo de associações cujo objectivo
é servirem como grupos de “pressão”.
- Por fim, um partido político procura o apoio popular, nomeadamente através
das campanhas eleitorais.

E) Classificação de partidos políticos

Existem várias classificações de partidos políticos. A mais antiga será


provavelmente a de Hume, quando classifica os partidos políticos em duas categorias
principais: os partidos políticos pessoais, que teriam por base os sentimentos de
amizade ou aversão, quanto a pessoas, os partidos reais, que são originados por
alguma diferença real de sentimentos ou interesse15.

Rhomer distingue quatro tipo de partidos, que, segundo ele, ocorrem


paralelamente às fases do desenvolvimento do organismo humano: o partido radical,
com a alma das crianças; o liberal, com a psicologia dos adolescentes; o conservador
com o espírito dos homens feitos, maduros e adultos e enfim, o absolutista, com o
carácter da velhice16.

Max Weber classifica a realidade partidária em duas formas básicas: os partidos


de patronagem e os partidos ideológicos, consoante o princípio interno sob o qual se
constituem. As organizações políticas de patronagem são aquelas que têm
principalmente na mira a obtenção de poder, através de eleições, com o objectivo de
obter posições mandatárias para os seus dirigentes e vantagens materiais, sobretudo
empregos públicos, para a sua clientela. Os partidos ideológicos buscam a
concretização de ideais políticos, propondo-se, por vezes, a reformar e a transformar
toda a ordem existente, inspirados por princípios filosóficos, que implicam uma nova
concepção de sociedade e do Estado. (Bonavides,2000 [1967]: 359).

15
BONAVIDES;P. (2000[1967] ), Ciência Política, São Paulo, Brasil, pág. 358
16
Idem

21
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

A classificação que é actualmente mais utilizada assume os partidos políticos


como:
- Partidos de quadros ou de “notáveis”
- Partidos de massas
Os partidos de “notáveis” foram a primeira estrutura adoptada pelos partidos
conservadores e liberais da Europa do século XIX, assim como pelos partidos dos
Estados Unidos. Interessam-se mais pela qualidade dos seus membros do que pela
quantidade17. Pretendem agrupar, sobretudo, pessoas com alguma influência social.
São partidos com uma estrutura débil e cujos membros são de fraca fidelidade para
com a organização. O poder dos notáveis é posto ao serviço do êxito dos partidos.

Quanto aos partidos de “massas”, a sua estrutura foi criada pelos partidos
socialistas no início do século XX18. Foi utilizada mais tarde por alguns partidos
conservadores e liberais que tentaram passar de uma estrutura de partidos de quadros
para a de partidos de massas. Atribuem um papel central aos militantes que actuam
como intermediários do partido junto da opinião pública. O membro adere a uma
ideologia relativamente estruturada, favorecendo a consciência dos cidadãos para
uma transformação da sociedade. Os membros deste tipo de partido possuem uma
forte fidelidade ao partido.

f) A democracia e os partidos políticos

Com a queda do absolutismo e uma vez substituído por democracias


representativas (num grande número de países), as forças sociais que ao longo da
história tomaram o nome de partidos políticos começam a desempenhar uma função
de uma importância considerável no destino das sociedades em que se inserem.

O crescimento do partido político, bem como a sua importância pública,


acompanham o crescimento da própria democracia, assim como das instituições19.

A história dos partidos políticos revela-nos que estes foram inicialmente


reprimidos, hostilizados e desprezados. A doutrina de Rosseau e os seus intérpretes

17
DUVERGER,M. (1983), Os Grandes Sistemas Políticos, Coimbra, Almedina, pág.74
18
Idem
19
BONAVIDES, P.2000 [1967], Ciência Política, São Paulo, Brasil, Pág.346

22
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

mais reputados nem sequer os tinham em conta. Actualmente, a doutrina política


considera-os como variáveis imprescindíveis de qualquer modelo de democracia20.

A realidade sociológica dos partidos políticos esteve durante um longo período


de tempo desconhecida do ordenamento jurídico. As actividades partidárias
realizavam-se à margem dos textos legislativos que fingiam ignorá-los. Antes que se
procedesse à transição dos nossos dias (a crescente valorização dos partidos como a
função mais significativa dos mecanismos democráticos contemporâneos), os partidos
políticos constituíam apenas um fenómeno sociológico, desprovido de conteúdo ou
significação jurídica. (Bonavides, 2000 [1967]: 352, 353).

Num sistema representativo de democracia liberal entende-se que o


representante, uma vez eleito, só tem compromisso com a sua consciência. Supõe-se
livre dos vínculos a grupos, organizações ou forças sociais que o possam fazer
actuar de forma constrangedora e restritiva, afectando assim o seu desempenho
político, e assim, ditar-lhes atitudes, diminuindo a sua esfera de autonomia. Autonomia
essa que caracteriza o chamado mandato livre ou representativo e que faz do
deputado o representante da vontade geral ou nacional, sem subordinação às fontes
eleitorais (Bonavides, 2000 [1967]: 354).

g) O papel dos partidos políticos na representação

Os partidos desempenham um duplo papel na representação política. Por um


lado, enquadram os eleitores, isto é, os que querem ser representados, bem como
enquadram os representantes. Servem então como mediadores entre representados e
representantes (Duverger,1983:78).

Assim sendo, o enquadramento dos eleitores ocorre de duas formas:


- Os partidos políticos desenvolvem a consciência política dos cidadãos
permitindo explicitar de uma forma mais clara as opções políticas,
fornecendo-lhes o enquadramento ideológico, dando a conhecer a política
que desejam prosseguir enquanto representantes do eleitorado.
- Seleccionam os candidatos para as competições eleitorais. Muito embora os
partidos escolham os candidatos a propor aos eleitores, não detêm um
20
Idem

23
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

monopólio neste domínio. Qualquer indivíduo pode apresentar-se como


candidato numa eleição sem apoio de nenhum partido. No entanto, a maior
parte dos candidatos eleitos são apresentados por partidos políticos.

O enquadramento dos eleitos é feito a partir do momento em que os partidos


políticos asseguram o contacto permanente entre eleitos e eleitores, assim como o
contacto dos eleitores entre si. Os eleitos têm todo o interesse em manter o contacto
com os eleitores, uma vez que desta forma podem assegurar a sua reeleição. Este
tipo de contactos ocorre quando os políticos se deslocam a eventos sociais e se
mostram disponíveis para ouvir os eleitores (Duverger, 1983:80).

A concepção comunitária da representação reencontra-se a nível dos eleitos21.


Antes do desenvolvimento dos partidos políticos, os deputados eram independentes
entre si, e actualmente isso não ocorre. O desenvolvimento dos partidos políticos
provocou uma união entre eleitos dum mesmo partido sob a forma de “grupo
parlamentar”. Os grupos parlamentares tornaram-se os elementos oficiais da
organização das assembleias. Asseguram a designação dos eleitos nas comissões, a
delegação de voto nas assembleias, garantindo principalmente a concentração entre
os eleitos do partido.

n) A génese dos programas eleitorais

Uma vez que discutimos as origens das ideologias, enquadramo-las em partidos


políticos. Iremos justificar o que nos levou a considerar os programas eleitorais dos
partidos políticos documentos importantes para a análise do discurso económico num
sistema político.

Metodologicamente optamos por um estudo, que envolve uma análise do


discurso em textos programáticos, na óptica de José Madureira Pinto22 “o conceito de
formação discursiva pretende, quanto a nós, condensar dois importantes aspectos
desta concepção sobre as relações entre as ideologias e os discursos: a
«exterioridade» e a anterioridade das primeiras relativamente aos segundos, por um
lado, e a especificidade imposta pela matéria significante da língua à produção de
efeitos de sentido nos discursos, por outro“.

21
BONAVIDES, P . [2000 (1967)], Ciência Política, São Paulo, Brasil, pág. 81
22
PINTO, J. (2000) Estruturas sociais e práticas simbólico-ideológicas nos campos, Porto, pág. 52

24
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Todos os partidos políticos anunciam à partida, em campanha eleitoral, as


políticas que pretendem seguir caso ganhem as eleições, existindo várias formas de o
fazerem. Tem-se verificado que, em alguns casos, os partidos preferem substituir os
seus “manifestos” por debates, encontros, reuniões, etc, ou podem também optar por
distribuir vários documentos direccionados a uma população alvo, nomeadamente
programas gerais de acção, com uma maior incidência para programas de acção
económica.

A via mais utilizada para dar conhecimento das propostas de cada partido
político é através de um documento unificado e aprovado pelo corpo partidário. Por
vezes assume-se como uma larga convenção, outras por um pequeno compromisso
especialmente elaborado para um objectivo concreto. Mas basicamente traduz-se num
documento elaborado e aprovado pelo corpo partidário. Na maior parte das
democracias, os programas eleitorais são anunciados numa conferência de imprensa,
dando a conhecer os pontos fulcrais que vão caracterizar a sua campanha eleitoral. É
muitas vezes a divulgação desses temas, e por vezes a sua crítica, nos media, que se
supõe provocar impacto nos votantes. (Klingeman et al, 1994:21).

o) Os programas eleitorais e as clivagens ideológicas

É certo que o que é dito e apresentado em programas eleitorais influencia o


voto. Os líderes partidários têm basicamente dois objectivos: obter votos e manter os
já conquistados (Klingeman et al, 1994:27).

No entanto, os partidos políticos não podem ignorar o seu passado ideológico,


criando rupturas com as suas origens. É certo que, como já foi discutido anteriormente
nesta dissertação, poderemos assumir que os partidos políticos da ala esquerda
tendem a privilegiar as políticas económicas com intervenção regulamentadora do
Estado, enquanto que os partidos políticos da ala direita tendem a privilegiar as
políticas económicas com uma intervenção reguladora do Estado.

Dado que os partidos políticos da ala esquerda, com raízes ideológicas oriundas
da Revolução Industrial, e por sua vez, da mecanização da produção, tendem a
defender a intervenção do Estado na economia, assegurando políticas sociais
eficazes, proporcionando um aumento do bem-estar social, seria normal esperar a

25
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

defesa contínua de políticas económicas orçamentais, sempre com a preocupação de


diminuir o desemprego.

Ainda assim será necessário distinguir, na ala esquerda, a clivagem ideológica


entre o socialismo e comunismo, deixamos, contudo, esta explicação para mais
adiante, onde se pretende elaborar um resenha histórica do socialismo, e proceder a
uma reflexão sobre a mesma.

Os partidos da ala direita, caracterizados por correntes clássicas e neoclássicas,


promovem a minimização da intervenção do estado na Economia, e, como tal, será
de esperar que defendam políticas económicas monetaristas e, no caso de estas não
serem eficazes ou passíveis de uso, a descida de imposto, por forma a aumentar o
poder de compra dos cidadãos, aumentando assim o consumo privado e o PIB, com
uma preocupação clara sobre a inflação.

h) Políticas económicas

“A política económica, como objecto de investigação, é tão antiga quanto a


economia; talvez até seja mais velha, assim como a medicina empírica é mais velha
que a anatomia ou a patologia” (Kirschen:1964, 5). É um estudo sistemático que foi
virtualmente banido do pensamento económico e, como tal, acabou por ser
negligenciado durante décadas.

Segundo Kirschen, a política económica é então o aspecto económico da política


governamental em geral: é uma intervenção deliberada do Governo no que diz
respeito aos aspectos económicos por forma a atingir os seus objectivos.

As linhas divisórias que a análise das políticas económicas requer, entre os fins,
os objectivos e as medidas, são necessárias para a compreensão dos instrumentos
em particular. Existem também em alguns países outras “instituições públicas” que,
como indústrias nacionalizadas acabam por adoptar uma postura de agentes de
políticas económicas do Governo.

Existem vários objectivos que adoptamos para as políticas económicas seguindo


a tipologia de Kirschen, e que nos propomos resumir num quadro:

26
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

27
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

III – Objectivos das políticas económicas conjunturais

Inclui tanto os objectivos de curto prazo de


reduzir o desemprego cíclico como o objectivo de
Pleno Emprego
longo prazo de reduzir o desemprego estrutural e
o friccional.
Estabilizar o índice de preços, naturalmente com
Estabilidade dos Preços
o objectivo de controlar a inflação.
Este item inclui tanto o objectivo de curto prazo
de assumir medidas proteccionistas com o ouro
como com as reservas de divisas. Está também
Balança de Pagamentos
incluído o objectivo de longo prazo como uma
mudança estrutural nas exportações líquidas
assim como no investimento líquido estrangeiro.

Fonte: KIRSCHEN, E., et al. (1964), Economic Policy In Our Time – General Theory, Vol. 1, North –
Holland Publishing Company – Amesterdan, Rand Macnally & Company – Chicago, págs. 5 e 6

IV – Objectivos das políticas económicas estruturais

28
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Expansão da Produção Está relacionado com a problemática de longo prazo


na promoção do crescimento económico.

Melhor alocação dos Este objectivo inclui a promoção da competitividade


factores de produção interna, a promoção de uma maior coordenação
entre os produtores, o aumento da mobilidade da
mão-de-obra entre os vários países, o aumento da
mobilidade de capital entre os vários países e por fim
a promoção da divisão do trabalho ao nível
internacional, promovendo a especialização na
produção de cada país.

Satisfação das As necessidades colectivas estão agrupadas


necessidades nos seguintes itens:
colectivas - Administração Geral
- Defesa Nacional
- Relações Internacionais
- Educação, Cultura e Ciência
- Saúde Pública
Distribuição do Concerne tanto às alterações directas na distribuição
rendimento e do bem do rendimento (por exemplo através dos impostos)
estar como também às alterações indirectas (como é o
caso da segurança social, saúde, educação, justiça,
etc.).

Protecção e Este objectivo inclui tanto a protecção a uma


prioridades a regiões determinada região como a uma determinada
ou a indústrias em indústria que possa estar sob ameaça, tanto ao nível
particular nacional como internacional, figurando muitas vezes
no plano económico do Governo.

29
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Melhoria do padrão de Diz respeito a qualquer alteração que o governo


consumo privado deseje na área do consumo privado. Pode ser
necessário por vezes restringir o excesso de
consumo, ou pelo contrário incentivar o consumo.
Oferta de determinados È objectivo do Estado assegurar a oferta de
bens e serviços determinados bens que são considerados bens
essenciais.
Controlo populacional Intervenção governamental na matéria da emigração,
imigração ou taxa de natalidade.
Uma vez que a redução do horário laboral é um
Redução no horário
sinónimo de melhoria do padrão de vida (este
laboral
objectivo é muitas vezes deixado para a acção dos
sindicatos).

Fonte: KIRSCHEN, E., et al. (1964), Economic Policy In Our Time – General Theory, Vol. 1, North – Holland
Publishing Company – Amesterdan, Rand Macnally & Company – Chicago, págs. 5 e 6

Uma vez definidos os objectivos impõe-se o estudo dos instrumentos que o


Governo entende serem os adequados à prossecução dos seus interesses. Para tal
há que ter em conta as variáveis que consideramos fundamentais no estudo que cada
analista faz sobre a performance económica do país.

Assim sendo, vamos considerar três variáveis fundamentais que permitem uma
avaliação global da performance económica de um país. São elas, o PIB23, a taxa de
desemprego e a inflação. As políticas económicas são então utilizadas com o
objectivo de obter um elevado nível do PIB24, uma taxa de emprego elevada em
contraponto com uma de desemprego reduzida e um nível de preços estável ou com
aumentos diminutos.

Os instrumentos mais utilizados e pelos quais optámos por políticas económicas


dividem-se em políticas monetárias, políticas fiscais/orçamentais e políticas de
rendimentos. As políticas económicas são utilizadas por forma a controlar os ciclos
económicos (Samuelson & Nordhaus, 1999:377,378). Esta tipologia foi adoptada da de
Kirschen que defendia cinco tipos de políticas económicas, as finanças públicas,

23
Produto Interno Bruto
24
Y= C+I+G+NX, em que Y= PIB, C=Consumo pessoal em bens e serviços, I = Investimento interno privado bruto,
G=Gastos públicos de bens e serviços e NX = Exportações líquidas.

30
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

políticas monetárias, políticas de taxas de câmbio, políticas de controlo directo e por


fim as reformas institucionais

A política monetária é conduzida pelo Banco Central com o objectivo de controlar


a oferta monetária. As alterações da oferta de moeda provocam flutuações nas taxas
de juro, afectando variáveis tão importantes como o consumo, o investimento e as
exportações líquidas, i.e., têm um efeito imediato sobre o PIB de um país.

Os instrumentos de controle monetário caracterizam-se por três medidas:


- Operações open-market
- A exigência de reserva legal
- A taxa de redesconto
-
Por operações de open-market entende-se a compra e venda de títulos do
Estado. O Banco Central de cada país25 pode aumentar ou diminuir as reservas
bancárias através deste tipo de operações, o que é um instrumento valioso e
frequentemente usado em países com soberania monetária26. O Banco Central, pode,
através deste instrumento, secar a economia, i.e., diminuir a liquidez através da
compra e injectar moeda na economia através da venda de títulos. (MANKIW,
1998:607)

A operação de exigência de reserva legal consiste basicamente no aumento ou


diminuição da taxa de reserva legal às OIM27. Uma das exigências feitas às OIM’s é a
retenção nos seus cofres de uma reserva percentual sobre o montante dos
empréstimos efectuados. Caso haja necessidade de retirar moeda do mercado
monetário, o Banco Central pode aumentar a taxa de reserva legal. Deste modo
consegue-se diminuir o multiplicador monetário, e, por sua vez, a oferta monetária.
Esta medida raramente é utilizada, uma vez que pode ter eventualmente repercussões
ao nível da estabilidade das instituições financeiras.

Por fim, a operação da taxa de redesconto, que se caracteriza pelo aumento ou


diminuição da taxa de juro sobre os empréstimos efectuados pelo Banco Central às
OIM. Se a medida a seguir for a de diminuir a liquidez no mercado monetário, o Banco
Central poderá aumentar a taxa de redesconto de forma a desencorajar as OIM a
25
No nosso caso, o Banco de Portugal.
26
Como foi o caso de Portugal até à adesão à moeda única – o euro.
27
Outras Instituições Monetárias, que na sua generalidade são constituidas pelos os bancos comerciais.

31
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

obterem empréstimos, diminuindo, ou mantendo, a mesma massa monetária. Este tipo


medida pode servir não somente como um instrumento regularizador do mercado
monetário como também permite ao Banco Central estabilizar a situação financeira
das OIM que possam estar perante uma crise financeira.

A política fiscal engloba três medidas de políticas fiscais que são utilizadas de
modo a controlar uma ou várias variáveis económicas que possam afectar os
objectivos macroeconómicos pretendidos:
- Os impostos
- Gastos públicos / despesa pública
- A regulamentação ou controlo da actividade económica

O imposto afecta a globalidade de economia, e fá-lo de três modos:


Um aumento da taxa de imposto directamente sobre o rendimento dos
indivíduos28 provoca uma perda de poder de compra, diminuindo assim o consumo
privado, provocando uma alteração no PIB. Por outro lado, se o aumento de imposto
incidir sobre os lucros das empresas29, desencoraja o investimento, uma vez que uma
subida da taxa de imposto faz com que este se torne mais dispendioso, provocando
novamente uma alteração no PIB. Se estivermos perante um aumento da taxa de
imposto directo sobre os bens e serviços, fará com que estes se tornem menos
acessíveis, através de uma perda de poder de compra, diminuindo assim o consumo
privado, provocando alterações no PIB. Deste modo, uma subida das taxas de
imposto pode provocar uma desaceleração do crescimento económico.

Os gastos públicos caracterizam-se essencialmente pelo consumo/despesa


efectuado pelo sector público e pela transferência monetária efectuada do Estado para
determinados grupos de indivíduos que se encontrem em situação de carência
social30. Como os gastos públicos são uma parcela do PIB, são instrumentos
regularizadores das flutuações económicas.

O controlo da actividade económica afecta não só os níveis de produção de


bens e serviços, como também as condições em que o mercado funciona. Medidas
regulamentadoras apertadas provocam alterações nos factores de produção,
influenciando o PIB, a taxa de desemprego e a inflação.
28
Por exemplo o IRS – Imposto sobre o Rendimento Singular
29
IRC – Imposto sobre o Rendimento Colectivo
30
Como por exemplo os idosos, desempregados, etc.

32
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Por fim, a política de rendimento, que visa fundamentalmente, o controlo directo


sobre os preços e os salários. Este é um tipo de instrumento que é normalmente
utilizado em períodos de guerra, ou numa situação de crise em tempo de paz. As
medidas tradicionais utilizadas para suster a inflação são as políticas monetárias ou
fiscais, mas uma vez que estas provocam desemprego e reduzem o PIB, são
normalmente substituídas por políticas de rendimento que visam o controlo directo ou
orientações voluntárias sobre os salários e os preços. Este tipo de política é
normalmente utilizado em países em vias de desenvolvimento ou em transição para
economias de mercado.

Um dos instrumentos que demos conta não estar perfeitamente explícito, ao


contrário de Kirschen que o considera como um instrumento de política económica,
são as políticas de taxas de câmbio. Nesta tipologia americana, e pela qual optámos,
as alterações às taxas de câmbio estão implícitas nas políticas monetárias, fazendo
parte integrante das mesmas. Este tipo de política económica está associada ou ao
comércio internacional ou às relações externas do país, e nem sempre é
metodologicamente claro onde ela se poderá englobar.

Assim sendo, vamos optar por considerar a política de taxas de câmbio, muito
embora característica das políticas monetárias, assumindo ser um conjunto de
instrumentos que poderão ser utilizados para cobrir tanto as desvalorizações como as
apreciações da moeda em determinados períodos de tempo e alterações ao nível
institucional no sistema cambial.

O Governo é o decisor político e como tal devemos encará-lo como uma unidade
singular, sendo a entidade que tem direito à coerção, cujo dever é prover a satisfação
das necessidades colectivas e sobre as quais tem responsabilidade, pelas medidas de
políticas económicas que promove.

A opinião pública, a economia e as estruturas políticas desempenham um papel


crucial no funcionamento das sociedades democráticas (Anderson, 1995:6).

A figura abaixo descreve a relação existente entre estas três variáveis.

V – Eleitorado Vs Governo

33
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Funções de reacção Produção de políticas

Partido que está no


Economia Governo e partidos de
oposição

Variáveis económicas Preferências do votante

Popularidade/Funções do voto

Eleitorado

Fonte: Anderson, 1995:7

As componentes do sistema de políticas económicas deverão interagir da


seguinte forma:

O eleitorado expressa o seu apoio ao partido que está no Governo e aos


partidos de oposição tanto em períodos eleitorais como não, baseados na
performance económica. Se as condições económicas forem aceitáveis, o eleitorado
irá recompensar o partido que está no Governo; caso estas não sejam aceitáveis,
serão então “punidos”. Os actores políticos estão geralmente cientes da opinião
pública e do movimento das massas, assim como das consequências de políticas que
provocam uma má performance económica. Assim sendo, é muitas vezes alegado que
o Governo “manipula” as políticas orçamentais e monetárias, por forma a satisfazer o
eleitorado (Anderson, 1995:6).

l) O consenso das políticas económicas

“ Um ponto fundamental que é sempre estudado quer na


política quer na economia é a relação entre a intervenção
do Estado e os mercados”31

31
ANDERSON, C. (1995), Blaming the Government – Citizens and the Economy in Five European Democracies, pág.
31.

34
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Do período do pós-guerra nasceu um consenso entre os políticos –


conservadores, socialistas – no que diz respeito ao papel desempenhado pelo Estado
na regulação dos mercados (Anderson, 1995:20). Muitas das ideias que originaram
esse consenso foram baseadas numa obra escrita por John Maynard Keynes, General
Theory of Employment, Interest and Money, publicada em 1936. Formulada logo após
a Grande Depressão32, a teoria do Keynes visava encontrar formas de prevenir
choques económicos no futuro.

A teoria keynesiana foi a grande responsável pela divisão do estudo da


economia em macroeconomia e microeconomia. Para o estudo dos problemas globais
da economia a curto prazo (conjuntura económica) era preciso uma teoria totalmente
nova, e a essa abordagem chamou-se macroeconomia. À análise do comportamento
dos produtores, consumidores e mercados, passou-se a chamar microeconomia.

A base da teoria keynesiana assenta na convicção de que os mercados não se


equilibram, pelo menos no curto-prazo. Será provável que venham a atingir o equilíbrio
no futuro, mas isso será irrelevante, como nos demonstra a frase célebre do autor, a
longo prazo estamos todos mortos. Assim, segundo a lei de Walras, basta um
mercado estar em desequilíbrio para que os outros tenham dificuldade em atingir o
equilíbrio. Assim, poderá dizer-se que a economia é instável (Neves, 2000:318).

Quanto aos agentes económicos, segundo Keynes, em determinadas situações,


não são agentes racionais, especialmente se estivermos perante um cenário de
desajustamento do mercado.

Estes dois factores provocam a necessidade de o Estado intervir na economia.


Essa intervenção deve ser feita com o objectivo de melhorar a performance
económica do país. Assim sendo, o Estado deverá calcular, através dos modelos
económicos, qual o choque que a economia sofreu e qual a política correcta para o
corrigir, utilizando, para tal, as políticas monetárias e orçamentais ou fiscais
adequadas, por forma a atenuar os excessos dos ciclos económicos (Samuelson,
2000:625).

32
A Grande Depressão surgiu logo após o colapso bolsista de 1929. Durou 10 anos e caracterizou-se
fundamentalmente por uma queda acentuada da procura, provocando uma queda na produção que por sua vez
conduziu a um acentuado aumento do desemprego. Esta situação só terminou quando começou a II Guerra Mundial.

35
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

A contribuição de Keynes foi fundamental para clarificar o papel crucial que o


Estado desempenha no bom funcionamento da macroeconomia.

Em contraste com o keynesianismo, existem as teorias clássicas. A principal


diferença entre estas duas abordagens consiste na flexibilização dos preços e dos
salários como forças autocorrectoras que a economia possui para manter o pleno
emprego. Segundo os clássicos, tanto o preço como os salários são suficientemente
flexíveis para permitirem um equilíbrio do mercado a longo-prazo, pelo que não existe
necessidade de intervenção directa do Estado na economia. Segundo Keynes, tanto
os preços como os salários, embora mais os salários, são resistentes à descida.

Uma outra abordagem é a monetarista. O grande percursor desta abordagem foi


Milton Friedman. Segundo o monetarismo, a oferta de moeda é a variável principal que
determina as flutuações do PIB33 nominal no curto prazo e as flutuações dos preços
no longo prazo. A principal diferença entre os monetaristas e os keynesianos reside na
sua abordagem de procura agregada. Enquanto os keynesianos acreditam que
existem muitas forças que determinam a procura agregada, os monetaristas acreditam
que somente as variações da oferta de moeda podem provocar alterações no
crescimento do produto e dos preços (Samuelson, 2000: 626).

Friedman procurou, assim, fazer evoluir os conceitos keynesianos para uma


lógica de equilíbrio. Estudando, para tal, os efeitos globais do comportamento dos
agentes individuais, introduzindo, por exemplo, a racionalidade na função consumo
keynesiana. Friedman tornou-se um adepto de uma política económica liberal,
limitando ao Estado o controle do stock da moeda, por forma a acompanhar o
crescimento do produto, controlando, assim, a inflação.

Durante a década de 70, uma nova escola de pensamento económico surgiu.


Influenciada pelos monetaristas, abandonou o modelo keynesiano, tomando como
base da sua abordagem da conjuntura económica o modelo de equilíbrio geral
clássico. A escola neoclássica procura, usando técnicas de análise económica,
compreender a evolução da economia global a partir do comportamento dos agentes
económicos. (Neves, 2000:336). Os seus grandes percursores foram Robert Lucas,
Thomas Sargent e Robert Barro. Os principais pressupostos do modelo neoclássico
assentam em dois pontos: a) os preços e os salários são flexíveis b) as pessoas usam
33
Produto Interno Bruto

36
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

toda a informação disponível. O último pressuposto implica que os indivíduos


compreendem como funciona a economia e conhecem as políticas económicas
adoptadas pelo Estado. Como tal, o novo pressuposto central desta abordagem
macroeconómica é o de que, devido às expectativas racionais, o governo não pode
enganar a população com políticas económicas sistemáticas.

Em paralelo com esta discussão entre neoclássicos e keynesianos, estipulou-se


no pós-guerra a ideia de que as tensões entre a democracia e o capitalismo – ou entre
a política e a economia – deveriam ser reduzidas. Um dos mecanismos institucionais
que foi utilizado para reduzir esses conflitos foi o corporativismo ou neocorporativismo
(Anderson, 1995:22). Envolvia negociações directas dos preços e rendimentos entre
os representantes do capital e do trabalho, com a coordenação e orientação do
Estado. “O corporativismo é, na sua essência, um padrão institucionalizado das
representações de interesses entre o comércio e o trabalho que nos induz de facto a
uma linha condutora de tabelas de preços, salários e crescimento económico”34.

34
ANDERSON, C.(1995), Blaming the Government – Citizens and the Economy in Five European Democracies, pág.
22

37
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Parte II

A TRANSIÇÃO E CONSOLIDAÇÃO PARA A


DEMOCRACIA EM PORTUGAL:
UMA PERSPECTIVA POLÍTICA, ECONÓMICA E
SOCIAL

38
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

I. A transição e consolidação da democracia em Portugal

O 25 de Abril representou o início de uma transição de um regime autoritário


para um democrático. Pensamos, contudo, valer a pena abordar a temática do sistema
autoritário a que o país esteve sujeito, com a subida ao poder de António de Oliveira
Salazar, onde permaneceu entre 1933 e 1968, mais tarde, Marcelo Caetano entre
1968 e 1974.

Portugal sofreu, em 28 de Maio de 1926, um golpe de Estado, com raízes


ideológicas pouco definidas, tendo tido como consequência a instauração de uma
ditadura no país a partir de 1932.

Em 1928, António de Oliveira Salazar, a personagem política que caracteriza


este regime, ocupa pela segunda vez o lugar de ministro das Finanças, impondo
condições tão rigorosas para a ocupação do cargo tão rigorosas que acaba por se
tornar o chefe do Governo. Essa posição acaba por ser formalizada quatro anos mais
tarde, tendo nessa altura definido as linhas gerais constitucionais. Em 1935, são
criados os órgãos representativos deste “Estado Novo”, a Assembleia Legislativa e a
Câmara Corporativa.

Desta forma, Portugal esteve sob um regime autoritário durante mais de 40 anos.
No entanto, e ao contrário de outros regimes deste tipo ou subtipo, o Estado Novo
português não teve a sua origem num movimento ou partido (Shmitter,1999:25).

Este regime autoritário caracterizava-se pela autoridade política do aparelho do


Estado, sendo esta caracterizada por uma chefia de carácter pessoal e concentrado,
não sendo propriamente dinâmica, e muito menos carismática.

As políticas que eram normalmente assumidas caracterizavam-se por serem


bastante nacionalistas, viradas para o país e fechando-o ao exterior. A preocupação
parecia então ser a de conservar a pátria e não um alargamento do tipo imperialista.

Em paralelo com que decorria noutros países da Europa em que vigorava este
tipo de regime político, a maior parte do quadros eram recrutados dentro do próprio

39
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

aparelho burocrático do Estado, ou no aparelho ideológico das suas Universidades.


(Shmitter, 1999:69)

O pouco apoio necessário das massas era conquistado através da mobilização


dos notáveis locais.

A longevidade do regime é um dos factores que mais o destacou em relação aos


outros regimes da Europa. As razões apontadas são várias, sobressaindo o facto de
não ter existido um partido ou movimento político suficientemente coeso e popular
para enfrentar o regime. O facto de a burguesia dominar o circuito social não é
descurado.

As bases económicas que caracterizavam este regime eram tais que visavam
essencialmente evitar ao mesmo tempo os excessos do desenvolvimento liberal e o
desenvolvimento socialista burocrático. Este tipo de medidas provocou uma forte
desigualdade na distribuição da riqueza e do rendimento, ao mesmo tempo que não
permitia ao país desenvolver-se economicamente. Portugal vivia praticamente em
autarcia e com uma economia de subsistência. O investimento estrangeiro não era
promovido. A capacidade para inovar e desenvolver era fraca, e todas as medidas que
visavam a estabilidade económica acabaram mais tarde por falhar, levando o país à
bancarrota.

Em 25 de Abril de 1974 o MFA – Movimento das Forças Armadas, formado por


jovens oficiais, acaba por encabeçar o movimento que poria fim a este regime
autoritário.

“O golpe de 25 de Abril de 1974 pode efectivamente ser descrito como


um movimento de libertação nacional invertido, produto de uma espécie
de efeito dominó em sentido inverso. Uma potência imperial procurou
evitar a perda em série das suas dependências coloniais tendo sido
progressivamente minada e depois subitamente derrubada por esse
esforço”35.

35
SCHIMITTER, P. “Portugal: do Autoritarismo à Democracia”, ICS, pág. 209

40
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Baseado na terminologia de Leonardo Morlino36, Durão Barroso37 descreve da


seguinte forma o processo de democratização português:

Queda do regime Transição Instauração


Crise Consolidação
autoritário descontínua democrática

Abril 1974 Março 1975 Novembro de 1975 Abril 1976 Desde Outubro de
Março 1975 Novembro 1975 Abril de 1976 Set. / Out. 1982 1982

Fonte: BARROSO, J. “O processo de democratização: uma tentativa de interpretação a partir de uma


perspectiva sistémica”, in, COELHO, M. B. (ed.), Portugal: o Sistema Político e Constitucional 1974-
1987, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, pág. 54.

O I Governo Provisório, chefiado pelo Prof. Adelino da Palma Carlos, foi


empossado a 16 de Maio de 1974 e destituído a 9 de Julho, devido à não aprovação
pelo MFA de uma proposta de resolução para as manifestações de rua e greves, e
dada a sua impossibilidade de controlar e enquadrar o movimento popular (CRUZ
1999:73). O II Governo Provisório, chefiado pelo general Vasco Gonçalves, foi criado
poucos dias após a destituição do I Governo Provisório.

No após revolução verificaram-se algumas transformações nas instituições de


produção, maioritariamente devidas às movimentações dos trabalhadores, que
provocaram rupturas significativas no funcionamento interno das empresas.

A incapacidade do regime que havia acabado de ser deposto em resolver o


problema colonial, bem como a sua falta de democraticidade, tinham sido as razões
invocadas pelo MFA para legitimar o derrube do regime político existente.

O processo de descolonização desencadeou-se. Em finais de Julho, o


Presidente da Junta de Salvação Nacional, e Presidente da República por inerência,
general Spínola, reconheceu o direito à autodeterminação e independência das
colónias portuguesas (CRUZ 1999:73).

36
MORLINO, L. Come cambiano i regime politici-strumenti di analisi, Milão, Franco Angeli, P. 980, pág. 97
37
BARROSO, J. “O processo de democratização: uma tentativa de interpretação a partir de uma perspectiva
sistémica”, in, COELHO, M. B. (ed.), Portugal: o Sistema Político e Constitucional 1974-1987, Lisboa, Instituto de
Ciências Sociais, pág. 54.

41
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Em Setembro desse mesmo ano, por razões económicas, procedeu-se às


primeiras nacionalizações bancárias. A 30 de Setembro, o general Spínola é obrigado
a demitir-se, sendo substituído pelo general Costa Gomes. Toma então posse o III
Governo Provisório, continuando o general Vasco Gonçalves como primeiro-ministro.

A 11 de Março de 1975, um quartel da periferia de Lisboa, o RALIS, foi


bombardeado. Um contragolpe vencedor provocou a aceleração do processo
revolucionário. Depois do 11 de Março, foram decretadas pelo IV Governo Provisório,
de novo sobre a liderança do general Vasco Gonçalves, as nacionalizações da
Banca, dos Seguros, das principais empresas industriais, de transportes e de
comunicações. É iniciada a Reforma Agrária com as ocupações de terras, liderada
pelo PCP e com o apoio dos militares38. O MFA institucionaliza-se, assumindo a
liderança do processo revolucionário, pela acção do movimento POVO –MFA.

A 25 de Abril de 1975 realizaram-se as primeiras eleições gerais, livres e


democráticas da história portuguesa39 de acordo com o método proporcional de Hondt,
com uma participação eleitoral à volta dos 92%40, tendo o Partido Socialista obtido
maioria relativa com 37% dos sufrágios expressos. No entanto, a composição do
Governo manteve-se inalterada. O PCP continuou a ser a força política dominante,
encontrando, no entanto, uma progressiva resistência por parte dos outros partidos,
uma vez que tinham encontrado uma nova legitimidade eleitoral democrática. O MFA
começa a caracterizar-se por uma clivagem crescente entre os revolucionários, onde
prevaleciam os militares afectos ao Partido Comunista. A 29 de Julho, são decretadas
expropriações de propriedades privadas, em proveito de unidades colectivas de
produção, ocorrendo também a tomada de posse de alguns órgãos de comunicação
social.

O PS e o PSD abandonaram o IV Governo Provisório. E a 19 de Julho, o PS,


sob liderança de Mário Soares, e o PPD/PSD promoveram a grande manifestação da
Fonte Luminosa, em Lisboa, exigindo a demissão de Vasco Gonçalves (CRUZ
1999:76).

38
CRUZ. M.B. (1999), Transições Históricas e Reformas Políticas em Portugal, Editorial Bizâncio, Lisboa, pág 75
39
A definição de Democracia tem sido um tema sujeito a vários debates e discussões entre autores. A teoria com uma
maior aceitação e considerada por muitos como a “clássica” reporta-se a Dahl (1979, 1985). Segundo este autor, a
definição de democracia caracterizava-se necessariamente por: votos equitativos; participação efectiva; instrução
compreensível (para que todos os cidadãos possam expressar as suas preferências, têm de ter oportunidades iguais);
Controle final da agenda pelos Demos.
40
CRUZ. M.B. (1999), Transições Históricas e Reformas Políticas em Portugal, Editorial Bizâncio, Lisboa, pág 75

42
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Enquanto ocorrem várias manifestações pelo país inteiro, a 8 de Agosto, Vasco


Gonçalves toma posse com o V Governo Provisório. Devido às fortes tensões sociais
e políticas da altura a 2 de Setembro Vasco Gonçalves é substituído por Pinheiro de
Azevedo, tomando posse o VI Governo Provisório.

No entanto, o processo revolucionário não parava. As expropriações assim


como as ocupações, prosseguiam. A fuga de quadros para o estrangeiro aumentava.
Os saneamentos e as manifestações de rua aumentavam. A 12 de Novembro, os
trabalhadores da construção covil cercaram a Assembleia Constituinte e a residência
do primeiro-ministro, por três dias. A 19 de Novembro, o Governo suspende funções.
O confronto torna-se iminente e com ele o risco de uma guerra civil (CRUZ 1999:76).

A 25 de Novembro de 1975, os pára-quedistas de Tancos, afectos ao sector mais


revolucionário do MFA, sublevam-se. A Rádio Televisão Portuguesa é tomada pelos
revolucionários. Os sectores mais moderados conseguem porém inverter a situação,
frustando os planos dos revolucionários. O general Ramalho Eanes torna-se chefe do
Estado-Maior General das Forças Armadas. Reinicia-se o processo de normalização
democrática da vida social e política e prosseguem os trabalhos da Constituinte.

A 26 de Fevereiro, o MFA, agora liderado pelos moderados, negoceia e assina


com os partidos da Constituinte um novo pacto político-militar, no qual se abandona a
ideia de introduzir na estrutura constitucional o bicamaralismo41 político-militar
aprovado no 1º Pacto, assim como a consequente eleição indirecta do Presidente da
República (CRUZ 1999:77). Optou-se pela consagração constitucional do Conselho
de Revolução, por um período transitório de seis anos, e a eleição por sufrágio directo
e universal do Chefe de Estado.

Com a promulgação da nova constituição a 2 de Abril de 1976, aprovada por


todos os partidos à excepção do CDS, iniciou-se uma nova fase de transição
constitucional, prevista pela própria Constituição, num prazo de seis anos.

As primeiras eleições legislativas deram novamente a vitória ao Partido


Socialista, dando assim lugar à formação do I Governo Constitucional minoritário,
chefiado por Mário Soares. As primeiras eleições presidenciais, a 27 de Junho,
elegeram o general Ramalho Eanes, apoiado por todos os partidos democráticos.
41
Regime político em que a função legislativa é dividida entre duas câmaras representativas.

43
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

A defesa e a liberdade económica de iniciativa privada levou o Governo socialista


a alterar a Lei da Reforma Agrária, procedendo à delimitação dos sectores público e
privado, que conduziu aos processos de desnacionalização. Para enfrentar a grave
crise económica na altura, o governo assinou um acordo com o FMI 42, adoptando em
conformidade uma política de austeridade restritiva. Esta política de normalização da
democracia enfraqueceu os apoios ao governo socialista.

Dado o contexto social da altura, Mário Soares apresentou no Parlamento uma


moção de confiança que lhe foi recusada, com os votos contra do Partido Comunista.
O PS estabelece então uma coligação com o CDS, formando assim o II Governo
Constitucional a 30 de Janeiro de 1978. O desentendimento partidário e a gravidade
da crise financeira levaram o presidente da República a intervir, propondo um primeiro-
ministro não partidário. Surge então o IV Governo Constitucional, chefiado por Mota
Pinto (CRUZ 1999:77).

No verão de 1979, o presidente decide convocar eleições intercalares,


empossando, para as organizar, o V Governo Provisório, chefiado por Maria de Lurdes
Pintassilgo. A Aliança Democrática, constituída pela coligação do PPD/PSD, o CDS,
os monárquicos do PPM e os reformadores saídos do PS, ganham as eleições
legislativas e autárquicas de Dezembro. Forma-se então o primeiro governo maioritário
de coligação, chefiado por Sá Carneiro, vitória essa que se repetiu em Outubro de
1980.

O desastre aéreo que vitimou o primeiro-ministro Sá Carneiro e o ministro da


Defesa e líder do CDS Amaro da Costa, com os seus respectivos acompanhantes nas
vésperas das eleições presidenciais, não impediu a reeleição do general Ramalho
Eanes, a que precedida de um pacto com o Partido Socialista, mediante o qual ele se
comprometeria a imprimir um carácter civil à sua candidatura, a abandonar as funções
de CEMGFA43, a não apresentar um projecto próprio de revisão constitucional e a
aceitar os governos minoritários (CRUZ 1999:80,81).

42
Fundo Monetário internacional
43
Chefe do Estado Maior-General da Forças Armadas

44
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Em Abril de 1983, realizam-se novamente eleições, que dão a vitória ao PS e


por inerência a Mário Soares, que, no pós-eleições, decidiu formar o Bloco Central
com o PSD liderado então por Mota Pinto.

O Bloco Central vem a sofrer de divergências contínuas, tanto no interior dos


partidos como na a própria coligação, e acaba por se desintegrar em 1985,
provocando assim eleições antecipadas.O PSD de Cavaco Silva ganha as eleições
com 27,27% dos sufrágios expressos, o PRD44 obteve 17,9% dos votos, ficando o PS
com o pior resultado da sua história:20,77%45.

As eleições presidenciais de finais de 1985 foram ganhas por Mário Soares,


tornando-se assim o primeiro Presidente da República civil.

Em 1987 cai o primeiro governo minoritário de Cavaco Silva no Parlamento, em


virtude de uma moção de censura do PRD, e são então convocadas novas eleições.

O resultado das eleições deu a vitória por maioria ao PSD com 50,22% dos
votos, proporcionando o aparecimento de uma maioria absoluta monopartidária. Estas
eleições proporcionaram-nos a bipolarização do sistema partidário. Se por um lado o
Governo era do PSD, por outro o Presidente da República era do PS.

A partir de 1985, pode-se registar um boom económico, atingindo-se a


estabilidade macroeconómica, assim como altas taxas de crescimento, acompanhadas
de importantes reformas estruturais.

A democracia passava a significar em Portugal não somente a estabilidade


política, mas também desenvolvimento económico e social, com um significativo
aumento do poder de compra e melhoria generalizada das condições de vida de uma
grande parte da população portuguesa46.

Em 1991, termina o mandato de Mário Soares, tendo sido reeleito por uma
ampla maioria de 70,4% dos votos. O PSD de Cavaco Silva consegue, nas eleições
legislativas que se seguiram, renovar a sua maioria absoluta com 50,6 % dos votos.

44
Partido Renovador Democrático
45
CRUZ. M.B. (1999), Transições Históricas e Reformas Políticas em Portugal, Editorial Bizâncio, Lisboa, pág 83
46
Idem, pág. 84

45
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Em 1995, realizam-se novamente eleições legislativas ganhando desta vez o


Partido Socialista com 43,8% dos votos, tendo o PSD obtido 34% dos votos47.

II. A economia portuguesa

A intervenção na economia em países com regimes políticos fortemente


autoritários, antes da institucionalização da democracia política, baseava-se,
sobretudo, num rígido controlo social, em particular da classe trabalhadora, em
articulação com uma ideologia nacionalista (Viegas,1996:65).

O ano de 1976 trouxe consigo algumas alterações fundamentais para a


economia nacional. São exemplos disso a introdução do salário mínimo e ainda o seu
aumento no decorrer do mesmo o que, naturalmente, levou a uma alteração na
distribuição dos rendimentos.

As despesas correntes do sector público aumentaram 48,1% em relação ao ano


de 197548, devido ao processo de descolonização e ao aumento das remunerações
dos funcionários públicos. O investimento diminuiu ainda 54,2%. É ainda de realçar
que o sector público representa 45,4% da formação bruta de capital fixo49. O PIB,
calculado ao custo de factores, cresceu 4,5%. Se o considerarmos a preços
constantes de 1970 ele atinge o valor de 212,3 milhões de contos50, mas se o
considerarmos a preços correntes atinge 473 milhões de contos51.

O já referido processo de descolonização, bem como a desmobilização das


Forças Armadas, influenciaram negativamente os valores relativamente ao
desemprego, crescendo este em 27,2% relativamente ao ano de 1975, fixando-se a
taxa de desemprego em 14%, o que representou um aumento desta taxa em 2,6
pontos percentuais. No mesmo período, a população activa aumentou 3,3%, devido
aos mesmos factores.52

47
FREIRE, A. ( 2001b), Mudança Eleitoral em Portugal: Clivagens, Economia e Voto nas legislativas (1983-99), Oeiras,
Celta, Pág. 9
48
BANCO DE PORTUGAL, Relatório do Conselho de Administração, Gerência de 1976, Balanço, Contas, Revista
económica e Financeira, Lisboa 1977, Tipografia Banco de Portugal, Lisboa 1977,Pág 56
49
Idem, pag 58
50
Idem, pág.59
51
Idem, pág 60
52
Idem, pág 65

46
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

A poupança pública era em 1976 negativa, -24,1 milhões de contos, e o défice


financeiro atingia o valor de 42,5 milhões de contos. Também a poupança corrente da
segurança social era negativa (-9,9 milhões de contos) 32,9% das despesas do sector
público foram financiadas através de crédito concedido por instituições monetárias, o
que levou a uma expansão de 76,1% do crédito líquido, ascendendo assim a dívida a
instituições monetárias a 63,4 milhões de contos53.

A execução orçamental do ano de 1976 acarretou um défice de 45.062 milhares


de contos, o que excedeu em 39,9% o previsto no orçamento inicial 54. Apesar do
processo de desmobilização das forças armadas, as despesas com a Defesa e
Segurança foram do montante de 19.222 milhares de contos55, o que representou
15,4% das despesas totais do Estado.56

O saldo da balança de transacções correntes tinha no final de 1976 um défice


no valor de 37,1 milhões de contos 57. O valor do autofinanciamento das empresas não
era conhecido. Foi tomada uma medida em relação aos aumentos salariais para o ano
de 1977 que limitava estes aumentos a 15%. O Estado procedeu ainda ao aumento do
capital social em algumas empresas públicas no valor total de 7.900 milhares de
contos58.

A partir de 1976, começaram a ser adoptadas mediadas graduais que visavam o


reforço do papel da iniciativa privada e da liberalização económica: pôs-se fim às
intervenções do Estado em inúmeras empresas privadas ou reduziram-se os controles
de preços ou flexibilizou-se a sua aplicação; foi publicada legislação sobre a
delimitação dos sectores público e privado; foram fixadas indemnizações para os
accionistas das empresas nacionalizadas, oferecendo mais garantias aos empresários
privados; estabeleceram-se condições favoráveis aos investimentos estrangeiros;
removeram-se diversas restrições nas transacções com o exterior, etc.

A revisão constitucional de 1982 orientou-se explicitamente para o modelo de


economia de mercado, substituindo as disposições de natureza claramente socialista
do texto de 1976.

53
Idem, pág. 111 e 112
54
Idem, pág. 113
55
Idem, pág. 117
56
Idem, pág. 122
57
Idem, pág. 129
58
Idem, pág. 131

47
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

As limitações impostas ao sector privado foram reduzidas. Passou a ser possível


a abertura à iniciativa privada em algumas actividades económicas que anteriormente
lhe estavam vedadas (nomeadamente a banca) e veio mesmo a iniciar-se um
processo de privatização parcial e minoritária de algumas empresas nacionalizadas.

A terceira revisão à Constituição, em 1976 – promulgada em 1989 – eliminou os


preceitos de tipo socialista que ainda restavam: suprimiu o objectivo da propriedade
social, enfraqueceu ainda mais o papel do plano, anulou as referências à reforma
agrária, revogou o princípio da irreversibilidade das nacionalizações, abrindo caminho
às reprivatizações plenas, etc. De uma maneira geral, tornou-se mais claro o modelo
de organização económica que assentava preponderantemente sobre a propriedade
privada e os mecanismos de mercado.

O intervencionismo do Estado na vida económica continuou a ser intenso até


meados dos anos 80. A desregulamentação económica e as reformas estruturais
destinadas a reforçar o papel dos mecanismos de mercado só começaram a progredir
substancialmente a partir de 1986, com o PSD no poder e os partidos da esquerda na
oposição.

A adesão à CEE impôs a completa eliminação, até 1992, do proteccionismo


contra a concorrência externa. Foram eliminados os monopólios estatais de
importação e abriram-se concursos públicos à concorrência internacional. Os
controlos sobre os preços foram quase totalmente suprimidos. Alterou-se a legislação
sobre a concorrência. Promoveu-se a reestruturação e a liberalização parcial do
sector dos transporte rodoviários. Deu-se uma aceleração das nexportações e das
importações, assim como surgiu um afluxo considerável do montante de capitais
estrangeiros proporcionando o recebimento de transferências de montantes muito
consideráveis financiados pelos fundos estruturais da Comunidade (Lopes, 2000:38)

No domínio laboral, foi publicada em 1989 nova legislação de trabalho destinada


a tornar mais fáceis os despedimentos, mas, ao mesmo tempo, restringir o recurso a
contratos a prazo.

Promulgou-se a reforma fiscal, com base na introdução do IVA e na


reestruturação dos impostos sobre o rendimento das pessoas singulares e colectivas.

48
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

O sector financeiro foi talvez aquele em que se observou uma alteração mais
profunda em consequência da liberalização e da desregulamentação: estimulou-se a
actividade dos mercados de capitais; avançou-se na desregulamentação do sector
bancário, através da eliminação dos controlos sobre as taxas de juro e da
liberalização de uma boa parte dos movimentos de capitais com o exterior;
abandonou-se o sistema de limites à expansão do crédito, que durante mais de uma
dúzia de anos havia sido o principal instrumento da política monetária; desenvolveu-se
o mercado de títulos da dívida pública, que passou a constituir uma das principais
fontes de financiamento dos défices orçamentais.

Durante os anos de 1980 a 1984, a política de dívida pública, além de ter


passado a basear-se mais sobre o mercado, tornou-se mais transparente.

Entre as grandes orientações traçadas no programa do I Governo Provisório


após o 25 de Abril incluía-se «a extinção progressiva do sistema corporativo e a sua
substituição por um aparelho administrativo adaptado às novas realidades políticas,
económicas e sociais»59.

A extinção dos organismos corporativos demorou algum tempo e, na maior parte


dos casos, em vez da eliminação total, verificou-se a sua transformação em
organismos de natureza diferente.

Os princípios constitucionais sobre a planificação nunca chegaram a ser


concretizados. A partir de 1976, em vez de se caminhar para uma economia socialista
e planificada, começou-se a reforçar o modelo de economia de mercado. O
planeamento económico passou mesmo a ser menos importante do que na década de
60, durante o regime do Estado Novo.

No domínio da política económica, a preocupação principal foi a reanimação da


actividade produtiva e o restabelecimento do equilíbrio económico-financeiro de muitas
empresas. A decadência que assim ocorreu no planeamento económico não foi,
contudo, um fenómeno tipicamente português. Ela integrou-se numa tendência comum
não só à generalidade dos países industrializados e em vias de desenvolvimento,
como aos próprios países que constituíam o bloco comunista. A crescente
59
LOPES, J. (2000), Políticas Económicas 1960/1995, Pág. 40

49
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

dependência em relação à situação económica internacional tornou a execução dos


planos cada vez mais difícil e inoperante. Não obstante esta evolução, a Constituição
de 1989 continuou a incluir várias disposições sobre o planeamento económico. Mas
deixou de fazer referências ao Plano como instrumento de organização económica e
social do país e deixou de se mencionar o princípio de imperatividade dos planos.

No que respeita às políticas de taxa de juro e de câmbio, houve efectivamente


bastante hesitação. Receava-se o efeito inflacionista através da desvalorização da
moeda, mas reconhecia-se, por um lado, que a deterioração da Balança de
Transacções Correntes (BTC) não se corrigiria apenas pelo reforço de controlo
cambial, selectividade do crédito e sobretaxa às importações. No conjunto do ano de
1976, a depreciação da taxa de câmbio efectiva foi de 9,1% 60. Em Fevereiro de 1977 o
escudo foi desvalorizado em 15%, as taxas juro subiram 1,5 pontos percentuais, foi
criado um adicional de 20% sobre o imposto de transacções 61, podendo este conjunto
de medidas ser considerado como requisito prévio para o saque da primeira «credit-
tranche» do FMI. Em 1977, Portugal usufruiu ainda de um crédito intercalar dos
Estados Unidos.

No entanto, as medidas tomadas não foram suficientes para conter o consumo e


as importações, nem para estimular as exportações. As subidas das taxas de juro
foram muito pequenas, relativamente à inflação e às expectativas inflacionistas. Por
sua vez, a desvalorização também não foi nem bastante para recuperar a
competitividade externa, nem suficientemente credível para parar a especulação e as
fugas de capitais para o exterior. Um novo pacote de medidas foi colocado em
funcionamento em Agosto de 1977, sendo uma das medidas adoptadas a
desvalorização do escudo em 1% ao mês, por forma a compensar as diferenças de
inflação entre Portugal e o exterior.

A desvalorização discreta e gradual efectuada em 1977, apesar de praticamente


ter reposto a competitividade externa das exportações ao nível de 1973 não deixou de
agravar a inflação.

Foi esta situação cambial aflitiva, associada com a crise política que conduziu à
dissolução do 1º Governo Constitucional, que começaram as negociações para o

60
PINTO, A., A Economia Portuguesa e Acordos de Estabilização Económica; Pag. 562
61
Idem, Pág. 563

50
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

estabelecimento de um acordo de estabilização económica com o FMI ao nível da


segunda «credit-tranche».

As políticas de estabilização que então foram aplicadas podem-se considerar


bem sucedidas, uma vez que foi possível reequilibrar rapidamente a BTC sem se ter
sacrificado o crescimento económico e o emprego. De facto, o défice da BTC diminuiu
bastante até ao final de 1979, enquanto o PIB cresceu em valores bastante acima da
média da OCDE. Estes resultados deveram-se fundamentalmente à predominância da
estratégia de alteração de preços relativos, taxas de juro e de câmbio sobre a
contenção da despesa interna, e ao comportamento dos sindicatos, que aceitaram
pacificamente quebras significativas dos salários reais, e ainda à favorável conjuntura
económica internacional.

A política económica de 1980 esteve direccionada para o combate à inflação e


para a melhoria do rendimento disponível, assim como para o relançamento do
investimento, visando expandir a actividade económica e o emprego e procurando
manter sob controlo um défice suportável na BTC.

As medidas aplicadas, juntamente com um bom ano agrícola, possibilitaram a


baixa da taxa de inflação para valores abaixo dos previstos, o que provocou um
aumento substancial nos salários reais. Esta evolução, juntamente com o alívio na
tributação dos rendimentos do trabalho, permitiu um acentuado crescimento do
consumo privado.

O momento de intervenções em empresas atingiu o seu pico em 1975,


continuou em 1976, embora já bastante enfraquecido, e esgotou-se em 1977. Esse
movimento começou logo a ser invertido em 1976 com as primeiras desintervenções,
que se intensificaram e concluíram na sua quase totalidade durante os anos de 1977 a
1979. O fenómeno das sociedades onde a intervenção do Estado era predominante
foi encerrado com a revogação do respectivo regime legal em 1981. A Constituição,
na sua versão de 1989, estabeleceu que «o Estado só pode intervir na gestão de
empresas privadas a título transitório, nos casos expressamente previstos na lei e, em
regra, mediante prévia decisão judicial»62.

62
Constituição da República Portuguesa, artigo 87 nº 2, 1989

51
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

No entanto, há que ter em conta que as intervenções terão permitido evitar


várias dezenas de falências e conservar algumas dezenas de milhares de postos de
trabalho. De outra forma, teria sido impossível manter em actividade um certo número
de unidades produtivas válidas. Na realidade, o sistema bancário nacionalizado apoiou
durante os anos de 1976-1978, muitas dessas empresas com créditos que, em
condições normais, seriam recusados pelo seu elevado risco.

As intervenções terminaram, na grande maioria dos casos, com a devolução da


gestão aos proprietários das empresas ou aos seus representantes. Quando essa
devolução teve lugar, muitas das empresas estavam em pior situação do que quando
sofreram a intervenção do Estado e tiveram de continuar a ser financeiramente
apoiadas em condições favoráveis pela banca nacionalizada.

A partir dos anos 80, desenvolveu-se, quer nos países desenvolvidos, quer nos
países em vias de desenvolvimento, quer mais tarde nos países que tinham pertencido
ao sistema comunista, um forte movimento de privatizações de empresas do sector
público. Portugal não escapou a esse movimento. Os governos do Partido Social-
Democrata chefiados por Cavaco Silva, que dirigiram o país a partir de 1985, fizeram
das privatizações uma das componentes mais importantes da sua política de reformas
estruturais.

As possibilidades legais para promover esse objectivo foram abertas pela revisão
constitucional de 1989, que, com o acordo do Partido Socialista, eliminou o princípio
estabelecido no n.º 1 do artigo 83.º da Constituição, segundo o qual «todas as
nacionalizações efectuadas depois do 25 de Abril de 1974» eram consideradas
«conquistas irreversíveis das classes trabalhadoras».

As privatizações provocaram, sem dúvida, um maior movimento no mercado de


acções. Mas esse mercado continuou a não oferecer garantias de protecção
adequada aos pequenos investidores. E não se pode dizer que das privatizações
tenha resultado uma contribuição significativa para que ele se tenha transformado
numa fonte importante de financiamento da formação de capital fixo das empresas,
sobretudo as do sector não financeiro.

Pode considerar-se que este período da economia portuguesa fica marcado


principalmente por três fases distintas: a primeira corresponde aos anos de 1974 a

52
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

1979, onde a necessidade de recorrer ao FMI, e suas implicações, e o


intervencionismo do Estado nas empresas são na nossa opinião os factos mais
relevantes para a economia portuguesa, não esquecendo nunca que se estava em
plena Revolução. O segundo, que identificamos como o do início dos anos 80, 1980 a
1986, onde a adesão à CEE é sem dúvida o principal factor influenciador da economia
portuguesa. O terceiro, de 1986 até 1992, é marcado pela liberalização da banca e
pela privatização das empresas anteriormente nacionalizadas, sendo também nesta
fase que se atinge pela primeira vez estabilidade a nível de Governo, o que contribuiu
para o crescimento económico a que o país assistiu neste período.

III. Os dois maiores partidos políticos portugueses e a transição para a


democracia

a) O Partido Socialista

O primeiro Partido Socialista Português (PSP) foi fundado em 1875 e


autoproclamou-se marxista, muito embora a sua linha de orientação entroncasse em
Proudhon e Fourier, com laivos de positivismo e anticlericalismo63.

Em 1878, verificou-se a fusão entre o Partido Socialista e a Associação dos


Operários Socialistas de Portugal (POSP). As divergências que marcaram o plano
internacional da época reflectiam-se por toda a parte. No Partido Socialista Português
podem observar-se pela entrada e saída das diversas facções. Em 1907, o Partido
encontrava-se novamente coeso, à excepção dos anarquistas, que se haviam tornado
a força dominante do movimento operário.

Em 1913, o PSP aderiu à II Internacional. Por várias razões, o Partido acabou


por não prosperar, acabando por ser ultrapassado pelos anarquistas que haviam
conquistado o movimento operário através de acções muito mais directas.

Em 1926, o PSP foi ilegalizado e cessou a sua actividade após o Congresso de


1933.

Foram muitos os esforços que se fizeram na época de Salazar de forma a


manter os ideais socialistas presentes na vida política do país. Incluíram a formação
63
SABLOSKY, J. (2000) PS e a transição para a democracia, Noticias Editorial, pág. 26

53
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

da Aliança Republicano-Socialista (1931), o Núcleo de Doutrinação e Acção


Socialista (1942), a União Socialista (1944), a Frente Socialista (1950) e a Resistência
Republicana e Socialista (1953), esta fundada por Mário Soares.

Em 1964, Soares, Francisco Ramos da Costa e Manuel Tito de Morais fundaram


a ASP – Acção Socialista Portuguesa, que muito embora não fosse um partido político
enquanto tal, reunia um conjunto de personalidades com ideias convergentes sobre
alguns aspectos da teoria e prática socialistas.

O pós-Maio de 1968 proporcionou a abertura do comércio, nomeadamente de


importação de livros marxistas e neomarxistas de vários pontos do mundo, mesmo
textos básicos sobre o marxismo que estavam anteriormente proibidos. Este foi um
facto muito importante para a história do socialismo em Portugal.

O Partido Socialista português acaba por ser fundado em Bona em 1973, durante
a realização do Congresso da ASP – Acção Socialista Portuguesa. O Partido nessa
altura possuía cinco objectivos imediatos64:

1. Destruir o fascismo, não somente no plano das instituições como através


das suas bases sociais de suporte, construindo uma democracia
pluralista;
2. Liquidar a organização corporativa, arrancar o poder à oligarquia e
construir uma democracia económica;
3. Elevar o nível de vida das classes trabalhadoras;
4. Acabar com as guerras coloniais;
5. Restaurar o prestígio de Portugal no mundo.

De partido clandestino e de quadros, o PS passaria, depois do 25 de Abril, a um


dos partidos de coligação, na qual sempre teve a maior representação política. O I
Congresso do PS teve como objectivo a organização do partido, definindo a estrutura
dos seus órgãos e procedendo à criação de mais alguns. Constituíram órgãos
centrais65:
a) O Congresso Nacional, órgão supremo;

64
Autor: desconhecido (1975) Partidos e Movimentos Políticos em Portugal, Coordenação e Edição Soalpi –
Sociedade de Estudos e Publicações Lda., pág. 221
65
Idem, pág. 222

54
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

b) A Comissão Nacional, responsável pela aplicação e actualização das


orientações aprovadas pelo Congresso;
c) A Comissão Directiva;
d) O Secretariado Nacional.

A campanha eleitoral de 1975 foi as mais competitivas das eleições entre o PS e


o PCP66, nesse ano o PCP havia aumentado o número de militantes para cem mil,
estando largamente organizados pelo País, o PS podia contar com cinquenta mil que
se encontravam mal organizados. Tornara-se imperativo obter ajuda do exterior. “Uma
das facetas mais importantes da cooperação partidária internacional durante o tempo
de exílio dos socialistas foi o impacto que as ligações europeias tiveram no
desenvolvimento ideológico do partido. (Sablosky, 2000:37). O pedido de ajuda para
competirem com o PCP foi feito e acudido por alguns partidos socialistas que
desejavam que o produto da revolução fosse democrático, acreditando ser o PS um
partido moderado.

As personagens que apoiavam directamente o partido socialista (Willy Brandt,


François Mitterrand, Olof Palme e Bruno Kreisky) ajudaram a reforçar a imagem do
PS tendo sempre o cuidado de transmitir aos militantes e aos portugueses as suas
preferências por um resultado democrático. “Durante os anos 1974 e 1975, a
consequência mais visível da ajuda europeia ao PS foi no domínio da organização
partidária”67.

No período pós-revolucionário, as alianças estratégicas do Partido Socialista


centraram-se nas relações com o Partido Comunista e com os seus militantes.
(Sablosky, 2000:37) Esta cooperação acabou por não dar resultado, uma vez que se
observou incompatibilidade na prossecução das políticas que preconizavam para o
país.

O PS participou em todas as eleições legislativas, tendo ganho as que


decorreram nos seguintes anos: 1975, 1976, 1983, 1995, 1999.

66
Partido Comunista Português
67
SABLOSKY, J. (2000) PS e a transição para a democracia, Editorial Noticias, pág. 46

55
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

b) A génese do Partido Popular Democrático / Partido Social Democrata

Marcello Caetano, no período em foi líder do “Estado Novo” prometeu uma


abertura do regime, e viu nas eleições para a Assembleia Nacional, em 1969, uma
oportunidade de comprovar as suas promessas de renovação, propondo a abertura
das eleições a alguns progressistas, liberais imparciais e outros notáveis
independentes da sociedade portuguesa. “As promessas oficiais de liberalização e de
pluralismo motivaram alguns destes a aceitar a oferta de integração nas lista da UN
(União Nacional). Estes políticos principiantes quiseram realizar, a partir de dentro do
regime, uma evolução pacífica para um sistema democrático que respeitasse os
direitos e as liberdades dos Portugueses”68.

Esta ala liberal da Assembleia Nacional, constituída por cerca de vinte


deputados, começou por manifestar o seu desacordo sobre algumas matérias
alcançando, em consequência, alguma notariedade como força de oposição dentro
do próprio regime.

Muito embora esse grupo de políticos funcionasse como uma oposição ao


regime, dentro do próprio regime, este não era uma entidade coesa, uma vez que nem
todos se conheciam uns aos outros.

Frustados com a falta de prossecução das reformas liberais começaram a


abandonar os seus cargos de políticos. “O discurso político na Assembleia deu aos
liberais bastante cobertura publicitária nos meios de comunicação, mas poucos
avanços introduziu na liberalização do regime a partir dele mesmo. Consciente desta
realidade, Francisco Sá Carneiro resignou ao seu mandato (…) outros liberais
admitiram, pouco depois, estar desiludidos com a reforma do regime e renunciaram
aos seus lugares na Assembleia”69.

Este grupo de homens, apesar de não ter atingido os seus objectivos, permitiu a
partilha de uma experiência política que serviu de base à criação do PPD no pós-25
de Abril. Estes membros e fundadores do PPD começaram no imediato pós-25 de
68
FRAIN , M. (1998) PPD PSD e a consolidação do regime democrático, Lisboa, Editorial Noticias, Pág. 24
69
Idem, Pág. 27

56
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Abril a estabelecer contactos com grupos de oposição moderada que tinham surgido
nos últimos anos do regime autoritário.

A 3 de Maio de 1974, o general António de Spínola recebia Francisco Sá


Carneiro, Francisco Pinto Balsemão e Joaquim Magalhães Mota: “ Segundo relatava o
Expresso, em 4 de Maio, estes contactos eram interpretados pelos observadores
políticos como relacionados com diligências de membros da antiga ala liberal no
sentido de criação de um partido de centro-esquerda de feição social democrata”70.
Mais tarde acabaram por anunciar publicamente a formação do PPD - Partido Popular
Democrático.

A 4 de Maio desse ano foi apresentada à Junta de Salvação nacional a notícia


da constituição do Partido Popular Democrático e respectivos programas, assim como
os estatutos. A 6 de Maio é comunicada, tornando-a público, a organização do PPD
anunciando um apoio sem reservas ao programa do MFA.

Em 15 de Maio é inaugurada a primeira sede do partido, no Largo do Rato em


Lisboa. No dia 17 de Janeiro de 1975 são entregues 6300 assinaturas para a
legalização do partido no Supremo Tribunal de Justiça. O Supremo Tribunal legaliza o
PPD em 25 de Janeiro de 1975.

O pós-25 de Abril desencadeou uma forte movimentação da esquerda no país,.


Se este novo partido queria sobreviver era necessário mostra-se ao País como de
esquerda, muito embora, moderada71. Caso não o fizesse e tentasse assumir a sua
tendência ideológica, teria sido um suicídio político.

O uso do termo «social-democracia», neste período, teve dois objectivos: por um


lado, o PPD quis acentuar as suas diferenças políticas em relação aos socialistas, em
segundo serviu para afirmarem o seu antifascismo. “O uso do termo social-democracia
serviu para consolidar a posição estratégica do partido no centro/centro-esquerda do
novo espectro político em formação, entre as forças radicais da esquerda e as forças
reaccionárias da direita”72.

70
Autor desconhecido (1975) “ Partidos e Movimentos Políticos em Portugal”, Coordenação e Edição Soalpi –
Sociedade de Estudos e Publicações Lda., Pág. 221
71
O PPD apresentou-se ao país como um partido de esquerda moderada, não-marxista guiado pelos princípios da
social-democracia.
72
FRAIN , M. (1998) PPD PSD e a consolidação do regime democrático, Lisboa, Editorial Notícias, pág. 34

57
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

O símbolo do partido, as três setas a que foram sucessivamente atribuídos


outros significados, correspondem, na realidade, às linhas fundamentais do programa
do PPD. As setas representam os valores fundamentais da social-democracia: a
liberdade, a igualdade e a solidariedade.

As cores simbolizam movimentos e correntes de pensamento que contribuíram


para a síntese ideológica e de acção da social-democracia: a negra recorda os
movimentos libertários do século passado, a vermelha as lutas das classes
trabalhadoras e dos seus movimentos de massa, e a branca aponta os valores do
homem, a tradição cristã e humanista da Europa consubstanciada no personalismo.

Ao contrário do PS, o PPD não foi bem sucedido nos seus pedidos de apoio ao
exterior. Tentou numa primeira fase inscrever-se na IS (Internacional Socialista) sem o
conseguir, pois o PS utilizou o direito de veto, como membro da IS, de modo a evitar
essa adesão. Mais tarde acabou por beneficiar com isso, uma vez que o caracterizou
como o «partido político mais português»; “quando o período de transição estabilizou,
o partido usou o seu estatuto de independente e de raízes nacionais como uma
vantagem de política interna”73.

No entanto, há que ressalvar a ajuda externa às actividades quotidianas de todos


os novos partidos, embora de forma ilegal, já que a legislação existente não permitia o
financiamento estrangeiro a partidos políticos74, em que o maior financiador era o
Partido Social Democrata (SPD) da Alemanha.

O PPD/PSD participou em todas as eleições legislativas, tendo ganho as que


decorreram nos seguintes anos: 1979 (em coligação com o CDS e o PPM), 1980 (em
coligação com o CDS e o PPM), 1985, 1987, 1991, 2002.

73
FRAIN , M. (1998) PPD PSD e a consolidação do regime democrático, Lisboa, Editorial, Pág. 46
74
Dec. Lei nº 595/74, de 7 de Novembro, artº 20, nº 3.

58
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

PARTE III

AS PROPOSTAS DAS POLÍTICAS ECONÓMICAS


EM PROGRAMAS ELEITORAIS DE 1976 a 1986

59
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

I. O Programa Eleitoral do PPD – Partido Popular Democrático em


1976

Intitulado como a Reconstrução Nacional pela Social Democracia, o Programa


Eleitoral do Partido Popular Democrático releva os aspectos económicos do país.

Os principais pontos que são discutidos na apresentação do programa estão


relacionados com a macroeconomia do país, dizem respeito ao desemprego,
produção, inflação, perda de reservas, à crise no sector empresarial e por fim, à
economia e à democracia.

Existe uma clara preocupação na delimitação das áreas da economia no sector


privado e público. É adepto do cooperativismo75 como organização empresarial, e
como tal, defende que o Estado deverá concentrar-se somente nas indústrias que
sejam de claro interesse colectivo, como é o caso da Defesa Nacional, monopólios,
empresas de energia e transportes. Assim, deverá o Estado, segundo este programa
eleitoral, evitar o controlo directo estatal sobre algumas pequenas e médias empresas
de pouco interesse colectivo.

A concorrência entre as empresas, quer sejam públicas ou privadas, é


fomentada, não se devendo conceder privilégios às empresas públicas, à excepção
dos monopólios ou em casos de produtores exclusivamente colectivos.

A participação e a confiança do sector privado, como factores importantes para


o desbloqueamento da economia, são defendidos através de várias medidas, que
passamos a descrever:

Em pleno ano de 1976 prevê este Partido Político o fim das nacionalizações. O
fomento ao investimento é visto como uma das medidas basilar para a saída do
estado depressivo em que se encontrava a economia.
75
Defendendo assim os princípios universais do cooperativismo que são:
- A livre adesão
- O Controlo democrático (um voto por cidadão)
- A neutralidade política e religiosa
- A repartição dos benefícios ou excedentes em função das operações efectuadas por cada cooperador.
- O desenvolvimento da educação e da cultura, financiado por percentagens subtraídas aos benefícios auferidos.
- A inexistência de lucros, havendo só juro limitado ao capital.

60
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Propõe-se a proceder ao fim das ocupações selvagens, à racionalização da


atribuição de créditos, focando de um modo claro o seu antagonismo com um sistema
do tipo marxista, preconiza a promoção de um mercado mais competitivo, onde as
empresas deverão concorrer livremente entre si.

Assumindo o cooperativismo como característico da liberdade e autenticidade, a


promoção de cooperativas, em todas as áreas, é bastante acentuada.. A evocação do
que terá sido escrito no programa aprovado no primeiro congresso, é bem prova disso:
“O cooperativismo é um tipo de organização firmemente defendido pelo Partido
Popular Democrático, por nele se manifestar um sentimento profundamente humano e
solidarista, factor de desenvolvimento e de maior justiça social”76.

Em relação aos investimentos estrangeiros, assume este partido político a


carência económica que existia na altura, devido ao deficiente nível de capital,
equipamentos e tecnologia, propondo, para tal, que se deva encontrar mercados
alargados para as exportações do país, devendo proceder-se à exportação de novos
produtos.

Esta carência económica poderá ser, segundo o PPD/PSD, parcialmente


suprimida pelo investimento estrangeiro que se queira integrar na economia
portuguesa e que tente, desta forma, aliar-se à iniciativa nacional.

Admite, contudo, a criação de um código de investimentos estrangeiros, por


forma a determinar as condições de aplicação e as regras de amortização e de
exportação dos lucros.

Assumindo a irresponsabilidade e indefinição administrativa e gestionária em


que haviam caído muitas empresas da altura, pensa este partido poder ultrapassar
esta situação através da implementação da responsabilidade e controlo da gestão.

Em seguimento é então proposto a definição do poder de gestão e a sua


inerente responsabilidade, dotando os gestores, nomeadamente os gestores de
empresas públicas, de um estatuto em que simultaneamente se definam os seus

76
(1976) Programa de Governo do PPD – Partido Popular Democrático, Reconstrução Nacional pela Social
Democracia, pág. 18

61
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

poderes, as suas limitações, a prestação de contas e o grau de responsabilização.


Tais poderes e responsabilidades deverão ser atribuídos tanto aos gestores nomeados
como aos eleitos e a todos os que intervenham nas tomadas de decisão.

Nestes termos, entende o PPD que o controlo da gestão deve ser regulamentado
por lei, em cuja elaboração deverão participar os trabalhadores. Existem contudo
áreas de excepção como é o caso das instituições financeiras centrais, as actividades
ligadas à defesa e os serviços públicos de ordem e urgência.

Às pessoas que viram o seu dinheiro perdido, devido às nacionalizações,


compromete-se este partido político a reembolsá-las da seguinte forma: as pessoas
que tivessem investido as suas poupanças em empresas através de títulos, e que
viram essas mesmas empresas serem nacionalizadas e as suas acções perdidas,
deveriam de ser indemnizadas pelo valor actual a que estariam os títulos das
empresas. Em troca dever-lhe-iam ser dados títulos de dívida pública dando prioridade
às pequenas e médias empresas, com uma taxa de juro mais alta e um período de
amortização mais curto. E porque existe também a necessidade de activar o mercado
financeiro e imobiliário, estas poderiam servir como garantias bancárias para o sector
imobiliário e mais tarde para as reprivatizações77.

Em 1976, ano do programa eleitoral que estamos a estudar, os créditos


bancários ascendiam a 20 milhões de contos. O PPD propôs a consolidação dos
créditos de capital transformando-os em participações do Estado, nos casos viáveis, e
de acordo com os devedores. Isto seria feito através da compensação à Banca,
programada no tempo, por parte do Banco Central, tentando conter a inflação como
meio de reduzir o valor real das dívidas.

A planificação democrática surge como um instrumento privilegiado de política


económica. Pretende desta forma o PPD orientar regionalmente e sectorialmente o
investimento e, no geral, a economia no sentido desejado. Isto seria realizado tendo
em conta o aproveitamento máximo das potencialidades, mediante objectivos e
acções, fixados obrigatoriamente para a administração pública e empresas públicas,
contratos-programa para as actividades de interesse nacional e incitamentos para as
actividades cooperativas e empresas privadas. Esta planificação deve ser participada

77
(1976) Programa de Governo do PPD – Partido Popular Democrático, Reconstrução Nacional pela Social
Democracia, pág. 21

62
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

por todos, de forma a favorecer o relançamento da economia, a estabilização e o


progresso das empresas públicas e privadas, i.e., o aumento da riqueza para distribuir
e do emprego. A sua estruturação deve ser paralela com a dos órgãos regionais, para
que de novo a tentação do centralismo lisboeta não prejudique a autonomia das
regiões que integram o país78.

Em relação à política fiscal e orçamental, propõe o PPD, neste programa


eleitoral, o aperfeiçoamento do aparelho administrativo de avaliação da matéria
colectável e de cobrança de impostos.

Uma vez que considera o sistema de impostos vigente o mais injusto e ineficaz
da Europa, propõe que o imposto sobre o rendimento seja único e progressivo. Em
matéria de sistema de tributário diligenciará no sentido de haver a progressão do
imposto sobre sucessões e doações, assim como a aplicação de imposto sobre os
bens de luxo e por fim a isenção, nesta fase de transição, dos impostos prediais. Em
suma propõe a simplificação do sistema tributário, defendendo no que acreditam ser
uma diminuição nos custos dos serviços fiscais, e um aumento da justiça fiscal.

Uma vez clarificada a política fiscal, em termos de obrigações para com o


cidadão, é abordado, neste programa eleitoral, a obrigação que o Estado deverá ter
na utilização correcta e eficiente das receitas provenientes dos impostos. Para isso,
defende que o Orçamento Geral do Estado e o das regiões, enquadrado no plano
anual, devam prever não só a fiscalização financeira das despesas, como também a
avaliação económica das acções realizadas em função de objectivos fixados.

Ainda no campo da política fiscal e orçamental, considera este partido político


que o défice orçamental deva ser contido dentro de limites bastantes rigorosos,
propondo desta forma a criação dos serviços de previsão e de conjuntura da
responsabilidade do Ministério das Finanças.

Entende também o PPD que deverá ser dada autonomia às autarquias, ao nível
financeiro, devendo proceder-se a uma autonomia na determinação dos programas da
despesa. Deverão portanto as autarquias possuir receitas próprias para darem
resposta aos problemas e necessidades colectivas locais.

78
Idem, pág. 23 e 24

63
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

No que respeita às políticas de crédito, e uma vez que pretendem dar prioridade
ao relançamento do emprego e da produção, entendem que se chegarem ao
Governo, as autoridades monetárias deverão praticar, nesta fase depressiva de 1976,
uma política de juros baixos para estes investimentos, embora isso possa contrariar
algumas políticas financeiras ortodoxas. Deve criar-se um clima de confiança
bancária, suprimindo os congelamentos arbitrários assim como a garantia do sigilo
bancário.

Em relação às políticas de emprego e considerando o PPD o desemprego e a


sua diminuição como o problema social e económico mais importante, deve este
constituir-se como o objectivo primeiro da política económica. Assim propõem-se
melhorar a cooperação com os sindicatos e associações de trabalhadores, ajudando-
os a reorganizar certas actividades existentes e a orientar novos empreendimentos
para a prática de dois turnos de pessoal a tempo integral, a fim de que, com o mesmo
dispêndio de capital, se duplique o número de postos de trabalho sem perda de
competitividade e qualidade de produção. Por outro lado, deverá generalizar-se o
subsídio de desemprego, que, em princípio, não se deve afastar substancialmente do
salário mínimo.

A política de rendimentos proposta por este partido político relaciona-se por um


lado com as propostas da política fiscal, e por outro com as políticas sociais e de
salários.

Assim sendo existe a preocupação de implantar o imposto único, promover-se a


progressiva participação dos trabalhadores na gestão das empresas e dar-se lugar à
concertação com os sindicatos, com o objectivo de se proceder a uma melhor
orientação da repartição funcional e pessoal do rendimento nacional. Em relação à
política salarial pretende-se que esta vise a diminuição das disparidades entre os
vários sectores para as mesmas qualificações profissionais, bem como a diminuição,
dentro do possível, das disparidades entre os extremos das remunerações.

Em oposição a alguns aspectos do decreto-lei n.º 201/75, de 15 de Abril79


propõe–se este partido político a intervir na reforma agrária, defendendo um novo

79
Ver anexos

64
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

estatuto de arrendamento rural, mais adequado ao desenvolvimento da agricultura


nacional.

Propõem um novo estatuto de arrendamento rural que esteja mais adequado


ao desenvolvimento da agricultura nacional. Consideram que o arrendamento vigente
à data deste programa eleitoral, 1976, salvaguardado pelo decreto–lei acima citado,
não se adequava às necessidades existentes para o desenvolvimento na agricultura.

Entende também este partido político que a intervenção do Estado na estrutura


fundiária não se deverá limitar ao Alentejo e às zonas de cultura extensiva. Assim
sendo, defende que se deverão proceder a outras intervenções fundiárias,
nomeadamente ao nível do minifúndio do Norte e Centro de Portugal, bem como dos
Açores e Madeira.

A empresa, enquanto promotora da comunidade do trabalho ao serviço do


consumidor, deverá ter as suas regras de organização, de funcionamento e de
responsabilidade amplamente definidas. Para tal deverá o Estado emanar legislação e
adoptar as medidas administrativas adequadas. Deverá também o Estado apoiar as
empresas cuja estrutura seja socialmente mais produtiva, como é o caso das
cooperativas, que é o exemplo dado neste programa eleitoral. Deverá também o
Estado ter em conta a necessidade de promover o estudo e a realização de novas
experiências viáveis.

É também de ressalvar a importância dada neste programa eleitoral à


racionalização das situações em que se encontram as empresas assistidas pelo
Estado, ou nas que tenham a intervenção do mesmo. É assim feito o apelo à
revogação do decreto-lei n.º 222B/75 de 12 de Maio, sanando desta forma as aludidas
injustiças que decorriam, na altura, em relação aos credores e aos sócios. Admitindo,
ainda que dentro de certos limites, a legitimidade do lucro como compensação do
capital investido, do trabalho da gestão da inovação e do risco suportado.

II. O Programa Eleitoral do PS – Partido Socialista, em 1976

65
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Com o título de “Programa para um Governo PS – Vencer a crise “Reconstruir


o país”, este programa apresentado para as eleições legislativas de 1976, apresenta-
se dividido em duas partes: problemas económicos e problemas sociais.

Apelando ao respeito e prática dos princípios da Constituição da República


Portuguesa, pretende o Partido Socialista executar um conjunto de medidas por forma
a alcançar os objectivos a que se propõe. Em traços gerais, esses objectivos
caracterizam-se por80:

a) Reorganizar a actividade económica e social ao serviço das classes


trabalhadoras;
b) Alcançar o pleno emprego e o desenvolvimento acelerado da produção;
c) Satisfazer as necessidades básicas da população e garantir a qualidade da
vida dos Portugueses;
d) Promover a justiça social e a defesa do poder de compra dos trabalhadores;
e) Assegurar a independência nacional;
f) Fortalecer a autoridade democrática do Estado e garantir as liberdades.

O PS considera que para assegurar um planeamento social da economia, o


Plano é um instrumento fundamental da sua política. Sendo não só um método de
organização, como também o espaço de intervenção concreta dos cidadãos na
definição das suas aspirações e necessidades, na construção das respectivas
respostas, possibilitando que as grandes escolhas económicas e sociais sejam
convenientemente feitas pelo conjunto da população81.

O Plano deverá permitir a reanimação da iniciativa pública e privada na


produção e no investimento. Irá deste modo impor metas de consecução obrigatórias
assim como responsabilizar as unidades produtivas pelo seu cumprimento no sector
público. No sector privado irá ser exigido o respeito por critérios de prioridade,
apreciando os respectivos projectos e concedendo facilidades (crédito, isenções
fiscais, formação profissional aos trabalhadores, colocação de produtos, absorção de
pequenas poupanças, etc.), sempre que forem respeitados os objectivos sociais
previamente definidos (emprego, localização, independência do exterior, etc).

80
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 25
81
Referência à Constituição da República Portuguesa de 1976 artigo 91º, n.º 2, ver anexos.

66
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Será então no Plano que se irão concentrar as tarefas de programação global a


médio e longo prazo, assim como a orientação, coordenação e arbitragem dos planos
sectoriais e regionais, elaborados nos órgãos respectivos.

O Plano deverá também enquadrar o sector privado através da utilização de


incentivos e desincentivos, sendo o comando directo de que o Estado pode dispor; em
particular, o sistema de incentivos fiscais, a política selectiva do crédito e a realização
de Acordos de Planeamento com empresas ou conjunto de empresas que, para
beneficiarem de certos incentivos, deverão submeter à aprovação os seus programas
de expansão e reconversão. O Plano é dito coordenador, mas a orientação dos
investimentos importantes82 terá de resultar sempre de escolhas feitas pelo Plano83.

Quanto à delimitação dos sectores público e privado, começa este partido


político por descrever o objectivo das nacionalizações, entendendo para isso dever
ter-se como fim o controle dos sectores básicos e estratégicos da economia, por forma
a controlar os recursos naturais fundamentais do país, e por fim, para eliminar os
grupos económicos monopolistas.

Muito embora considerem como concluídas, as nacionalizações, acreditam ser


fundamental consolidar e assimilar as até então efectuadas.

São focadas algumas situações em que seria necessário promover a expansão


das empresas públicas e nacionalizadas, através de iniciativa própria84, tais como a
reconversão técnica de sectores em regressão, o lançamento de indústrias novas que,
pelos elevados investimentos iniciais em equipamento e tecnologia, requeiram
iniciativa do Estado, a criação de empresas-piloto em certas actividades, com o
propósito de desenvolver economicamente uma região.

Quanto ao sector privado estrangeiro, o Governo propõe-se a ratificar o Código


de Investimento Estrangeiro elaborado pelo IV Governo.

Tendo em conta as inúmeras empresas geridas por trabalhadores, o Partido


Socialista propõe-se a adoptar medidas, como é o caso da criação dum sector
embrionário de propriedade social, autogestionário ou com formas de gestão do tipo
82
É omisso o critério e o centro de poder que irá definir a “importância”.
83
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, Pág. 29 §1º
84
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, Pág. 30 § 2º

67
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

cooperativo. Este será dotado de estruturas de apoio financeiro, técnico e de gestão,


que garantam a sua sobrevivência e expansão e a indemnização aos proprietários ou
accionistas das empresas nacionalizadas, principalmente através de dívida pública.

Segundo este partido, há que dar um tratamento preferencial às pequenas


poupanças, sem esquecer as pequenas colocações de capital feitas em fundos de
investimento ou imobiliárias, que entretanto caíram nas mãos do Estado (Fides,
Torralta).

Quanto ao cooperativismo propõe-se este partido a promover um esforço


particular em relação ao domínio das cooperativas:

“Estas, como formas de organização económica, serão uma


das bases da construção do Socialismo, apontando para o
desenvolvimento da autogestão e da democracia económica.
Através das cooperativas se privilegiarão os modos e sistema
de apoio às pequenas unidades de produção. Servirão
igualmente as cooperativas como meio de redimensionamento
de empresas que se afigure necessário e urgente”85.

Assume, como princípio básico de todas as cooperativas, a associação livre de


homens livres, devendo este tipo de organização afirmar-se sobretudo através da
qualidade e da superioridade dos resultados.

Considera como prioritários os sectores para o fomento do cooperativismo, a


produção agrícola (incluindo as chamadas cooperativas integrais 86), a aquisição de
factores de produção, a comercialização (em particular de produtos agrícolas), os
transportes, a pesca, a construção e habitação e por fim o apoio aos serviços
domésticos (creches, lavandarias, etc.).

Quer no domínio do cooperativismo agrícola, quer no sector dos pequenos


agricultores como no das grandes empresas, pretende-se com esta medida conferir
um grau de autenticidade criando para tal estímulos à participação de forma a darem
o seu verdadeiro significado.

85
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, Pág. 31 § 2º
86
Por cooperativas integrais entende-se como sendo cooperativas de produção e de consumo.

68
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Em relação ao Controlo de Gestão entende o PS dever proceder-se à sua


institucionalização através dos trabalhadores como está consagrado na Constituição
(art.º 56-b, CRP)87, como forma privilegiada de intervenção dos trabalhadores na vida
colectiva das empresas. Com o objectivo de possibilitar aos trabalhadores a
verificação do cumprimento das leis e planos do Governo, será garantido às
Comissões de Trabalhadores, de forma organizada e regular, o acesso a toda a
informação sobre a actividade da empresa, com a excepção de segredos
tecnológicos.

Sobre a reorganização do sector nacionalizado, propõe-se este partido a


promover, a título de urgência, a aplicação de programas de reestruturação dos
sectores nacionalizados, com audiência prévia dos trabalhadores, abrangendo os
seguintes domínios de actividade: Banca, Seguros, Indústria Química e Adubeira,
Aproveitamentos Mineiros, Celulose, Transportes e Comunicações, Pescas e
Electricidade.

Com esta reestruturação, pensam dar origem a um sector nacionalizado


dinâmico e coeso, apto a promover o seu próprio desenvolvimento como centro
dinamizador de toda actividade económica, orientada para a satisfação das
necessidades essenciais da população e para o aproveitamento integral dos nossos
recursos, segundo as orientações do Plano.

É também objectivo prioritário do PS o cumprimento dos princípios da autonomia


da gestão, contemplado no art.º 90, n.º 3 da CRP88, de modo a efectivar-se a
socialização do aparelho produtivo nacionalizado.

As medidas que visam a reforma agrária não se caracterizam somente pela


modernização da agricultura, mas também se preconiza a conciliação de dois
objectivos essenciais:
“Criar as condições estruturais necessárias ao progresso da agricultura e
lançar as bases indispensáveis para o estabelecimento de novas relações
de produção nos campos”89.

87
Ver anexos
88
Ver anexos
89
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, Pág. 36 § 2º

69
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Em relação às regiões de latifúndio, e segundo o Programa Eleitoral do Partido


Socialista às eleições de 1976, o ponto de partida para a Reforma Agrária é a
expropriação e nacionalização dos solos. Estas terão de ser, no entanto,
enquadradas num conjunto de medidas integradas num plano coerente de
desenvolvimento agrícola, que terá necessariamente de levar em conta a
diversificação regional, mesmo dentro da área onde predomina o latifúndio.

Pretende-se deste modo proceder a uma “liquidação dos latifúndios, num


espírito de justiça social”90. As regiões de minifúndio deverão assentar
fundamentalmente no fomento das associações cooperativas.

Um outro aspecto que é também focado neste Programa Eleitoral é a


reestruturação do Ministério do Comércio Externo, de forma a promover-se a
dinamização e a coordenação das trocas comerciais internacionais.

Deste modo, pensam proceder à reestruturação geral de todos os organismos


ou instituições que interferem no comércio externo, no sentido do aumento da sua
eficácia, nomeadamente do Fundo de Fomento de Exportação, dos Organismos de
Coordenação Económica e dos órgãos dependentes, caso dos Ministérios, dos
Negócios Estrangeiros e das Finanças.

A revisão da legislação laboral é também preconizada neste Programa Eleitoral,


ressalvando a sua aplicação somente após uma audiência das organizações
representativas. Nesse âmbito, esta revisão deverá compreender as seguintes
acções:
- A legalização das Comissões dos Trabalhadores;
- Nos termos da Constituição, a revisão da legislação sindical, revogando a lei
da unicidade, visto ser a única maneira, segundo este partido político, de
preservar o movimento sindical;
- A revogação da actual Lei da Greve e salvaguarda da defesa dos direitos
fundamentais da sociedade;
- O desenvolvimento das acções que permitam a efectivação do princípio pela
educação permanente nos campos profissional e sindical, como forma de se
atingir a Formação Profissional Permanente;
- A criação de uma Inspecção do Trabalho;
90
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 37 § 1º

70
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

- A revisão do quadro em que tem decorrido a Contratação Colectiva, no âmbito


dos sectores nacionalizados;
- A criação de um Tribunal de Conflitos Colectivos de Trabalho, constituído por
membros do Estado, do patronato e dos trabalhadores.

O objectivo fundamental deste partido é o de chegar a uma situação de pleno


emprego o mais rapidamente possível, e para isso considera o PS que a batalha pelo
emprego passa pela batalha do investimento. Para além da criação de condições que
permitam reanimar o investimento privado, tem de caber ao Estado o papel essencial
na criação de novos postos de trabalho.

O investimento deverá ser orientado para o desenvolvimento económico da país,


virado sobretudo para as necessidades básicas da população e para a produção dos
bens de consumo colectivo, devendo-se no entanto dar apoio às regiões mais
desfavorecidas, como é o caso dos arquipélagos dos Açores e da Madeira e Nordeste
Transmontano.

Em termos de investimentos públicos, defende o PS o desencadear de um vasto


programa de investimentos públicos, com recurso ao Orçamento Geral do Estado, às
fontes internas de financiamento e ao crédito externo, sob a coordenação do Plano.

Em relação ao relançamento do investimento privado, escreve o Partido


Socialista: “A delimitação dos sectores público e privado, a estabilidade política e a
paz social são as condições em que assenta a criação de um clima de confiança, que
favoreça o relançamento do investimento privado, indispensável para a criação de
empregos e para o desenvolvimento económico do País” 91.

O PS propõe-se a proceder à promoção da revisão de esquemas de incentivos


ao investimento privado em geral, nos domínios do crédito, das facilidades fiscais e
aduaneiras e da simplificação administrativa. Tal programa deverá ser vocacionado
para as PME.

O Governo PS pretende estudar as possibilidades de formação de zonas francas


para a instalação de indústrias e serviços virados para os mercados externos, e a

91
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 44, § 7º

71
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

promoção da instalação de indústrias em regiões cujo desenvolvimento for


considerado prioritário.

Em relação ao desenvolvimento da produção do sector primário e das


actividades agro-industriais defende este Partido que deverá o país procurar ser auto-
suficiente em produtos alimentares, alterando significativamente a tendência já
existente, procedendo à eliminação da crescente dependência em relação ao exterior.
Defende-se a substituição do sistema com base predominante nas garantias reais, por
um sistema com base em planos de exploração aprovados e controlados pelos
serviços competentes do Ministério da Agricultura.

No que respeita às Pescas defende-se a reestruturação de todo o sector


pesqueiro numa perspectiva de acção global e planificada.

Sobre o desenvolvimento da produção industrial, novamente se fará uso do


crédito, quer interno quer externo, para executar este ponto do programa. Propõe-se a
assumir as seguintes medidas:

Entende o PS que o crescimento industrial deverá relacionar-se intimamente com


o desenvolvimento em geral, tendo em vista as necessidades do sector primário e a
integração das suas produções, o fornecimento de materiais e equipamentos para o
programa da habitação das obras públicas, a adequação ao desenvolvimento da rede
de transportes e infra-estruturas básicas e a simplificação dos circuitos de distribuição
dos produtos industriais.

O Programa Eleitoral de 1976 define também uma Política Geral de Energia,


intimamente ligada ao conjunto de orientações que presidem à elaboração do Plano e
da Política Industrial. São definidos como objectivos desta política92: a maior
exploração possível de todas as fontes de energia nacional; a consolidação de uma
política geral de diversificação das fontes energéticas e dos fornecimentos de
matérias-primas, em particular reduzindo a dependência do petróleo; o lançamento de
uma campanha nacional de utilização de energia, de luta contra os desperdícios e de
austeridade; e proceder rapidamente a todos os debates e estudos necessários
(económicos, sociais, tecnológicos, ecológicos, etc.), a fim de encarar o lançamento
de um programa de centrais nucleares.
92
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 53 § 3º

72
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

O Programa de Governo PS propõe-se também a promover a execução de


programas de emergência de carácter forçosamente diversificado, destinados a evitar
o colapso dos sectores que atravessam as crises mais agudas, permitindo a
progressiva reconversão, tendo como seu objectivo a integração das mesmas numa
estrutura económica reestruturada e modernizada.

Uma vez que o PS anuncia ter consciência de que esta reconversão em alguns
sectores irá provocar desemprego, propõe-se instalar parques e loteamentos
industriais por forma a poder transferir os trabalhadores de uma indústria para outra.

O turismo, considerado como uma importante fonte de receita, uma vez que
além de assegurar um número importante de empregos, directos e indirectos, é um
contributo importante para a Balança de Pagamentos, tendo a vantagem de na
Produção Interna, ser a única rubrica da Balança dos Invisíveis que apresenta um
saldo positivo. O principais objectivos anunciados para o sector do turismo neste
Programa Eleitoral são93: uma maior e proveitosa utilização dos tempos livres da
população; a promoção do turismo social; o fomento do turismo externo; a promoção
de uma perspectiva cultural no turismo; a integração deste sector no planeamento
socioeconómico global e regional; o lançamento de novos investimentos no sector; e
por fim, a descentralização administrativa através da criação de Órgãos Regionais de
Turismo.

Quanto ao Fomento da Produtividade e da Investigação Tecnológica, o PS


propõe-se a promover um Programa de Produtividade, envolvendo um conjunto de
medidas de estímulo, apoio técnico e financeiro às iniciativas de modernização e
reconversão tecnológica, simplificação e automatização administrativas e todas as
acções visando melhorar a produtividade. Serão também fomentadas todas as
actividades de investigação científica, permitindo assim ao país criar os seus próprios
quadros técnicos sem ter de os ir buscar ao estrangeiro.

Quanto à mobilização de recursos para o desenvolvimento, segundo este partido


político a recolha de poupanças terá de ser de múltiplos modos adaptados a cada
necessidade, a cada contexto. Assim deverão ser lançados, não só grandes

93
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 54 § 6º

73
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

empréstimos de carácter nacional, mas também empréstimos regionais ou ligados a


projectos concretos.

Pretendem também proceder a uma reorganização do sistema bancário,


prevendo o alargamento da acção do Banco de Portugal no que concerne ao
refinanciamento dos créditos a médio prazo para investimento e à expansão da gama
de operações sujeitas a redesconto preferencial, no seguimento da política já seguida
durante o IV Governo.

Para a política de salários e rendimentos aqui defendida, pretendem proceder a


uma actualização periódica do salário mínimo nacional, assim como das pensões dos
reformados e incapacitados; aplicar uma política de contratação colectiva; lançar uma
reforma fiscal profunda; implementar regras limitativas à distribuição de dividendos e,
por fim, consolidar o papel institucional do Conselho Nacional dos Preços e
Rendimentos.

Neste domínio não deixa o Programa Eleitoral do PS de abordar a política de


emigração, que se deverá caracterizar pela promoção de condições de emprego
legais. Quanto ao ensino e formação dos emigrantes, defende-se a possibilidade de
aprendizagem da língua e da cultura portuguesas, através do estabelecimento de
acordos culturais com os países onde existam importantes núcleos de emigrantes,
acordos esses que tenham em conta a inscrição da língua e da história portuguesas
nos currículos dos diferentes graus do ensino básico, secundário e universitário.

Quanto à Segurança Social dos emigrantes, preconiza-se a equiparação destes


com os trabalhadores nacionais no conjunto dos respectivos direitos, designadamente
no domínio do direito à reforma, admitindo-se também a possibilidade de receber
todos os direitos adquiridos em matéria de Segurança Social no país de origem.

As transferências de divisas dos emigrantes e a sua aplicação para o


desenvolvimento socioeconómico do País, também preocupam o PS. Em relação às
poupanças dos emigrantes, o PS compromete-se a garantir a sua propriedade e
salvaguarda, bem como a liberdade destes a delas disporem como bem entenderem.

Propõe-se, ainda, este Partido a conceder facilidades de crédito através da Caixa


Geral de Depósitos ou do Crédito Predial para a construção de habitação própria dos

74
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

emigrantes, sem deixar de encorajar o investimento das poupanças dos emigrantes


noutros sectores de produção, designadamente canalizando estas para o
desenvolvimento regional, uma vez que este assume um carácter essencial no
desenvolvimento nacional. É então proposto a manutenção das, recentemente
criadas, contas de depósitos em moeda estrangeira para emigrantes.

Quanto à redução das margens de dependência do exterior, entende este


partido não ser exequível uma política de autarcia, pelo que se deverá proceder à
análise de todos os sectores e ter em conta qual ou quais serão passíveis de serem
desenvolvidos em Portugal.

No que concerne a Balança de Pagamentos, definida como objectivo prioritário


de um Governo Socialista, é preconizada a rápida redução do “Défice da Balança de
Pagamentos”, por forma a que o país possa regressar a uma situação de maior
equilíbrio.

a) Tendo em conta o elevado défice comercial de pagamentos, acreditava-se no


desenvolvimento da produção, dentro do que já havia sido dito, como a melhor
forma para se atingir a sua diminuição

Sem embargo das referidas linhas de orientação referidas neste discurso deverá
ser assegurado, através do recurso ao crédito externo diversificado e isento de
condições gravosas para a independência do país, uma linha de actuação que vise a
cobertura dos défices.

III. O Programa eleitoral da AD – Aliança Democrática, em 1979

O Programa Eleitoral da Aliança Democrática94, datado de 1979, inicia-se com a


proposta de combate à inflação, propondo-se para tal defender o poder de compra.
Pretende executar uma política económica que vise o aumento da produção e da
produtividade, fomentando o investimento e a poupança. Preconiza uma progressiva
abertura à iniciativa privada nos diversos sectores da economia. Assume

94
A Aliança Democrática era constituída pelo Partido Social Democrata, o Partido do Centro Democrático Social e o
Partido Popular Monárquico.

75
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

explicitamente a pretensão de lançar as bases para uma economia de mercado, onde


os preços sejam determinados pela concorrência.

Em matéria de política fiscal, pretende a Aliança Democrática proceder à


redução de impostos pessoais, frisando, no entanto, que isto só será possível, dado o
elevado défice orçamental existente, se se proceder a uma redução da despesa
pública. Como resposta à economia da época, regida por um forte défice público,
propõe a AD uma apertada fiscalização sobre as despesas, assim como o combate à
evasão fiscal.95

O Programa Eleitoral segue com a pretensa adopção de políticas económicas


que visem o aumento do investimento, o fomento da poupança e o combate ao
desemprego.

No entanto o cenário económico de 1979 caracteriza-se por fortes desequilíbrios


da Balança Comercial e de um acentuado peso da Divida Externa sendo considerado
prioritário o desenvolvimento económico do país, que passaria obrigatoriamente pela
diminuição do desemprego e o aumento das exportações. Para que este objectivo
seja atingido é necessário, segundo a AD, fomentar o investimento estrangeiro, não
lhe promovendo, contudo, um estatuto privilegiado em relação ao investimento
nacional.

Acreditando caber ao sector privado o desenvolvimento económico do país, não


nega a importância do investimento público, acreditando, no entanto, que este deva
ser canalizado para projectos que se enquadrem numa política económica bem
definida e que tenham óbvia rendibilidade e utilidade social96.

Um dos aspectos também aqui focados diz respeito à utilização dos


financiamentos obtidos, que, segundo esta facção política, não deverão ser utilizados
somente para o consumo, mas, de forma a proporcionarem o desenvolvimento
económico do País.

Rejeitando a política monetária que, segundo o programa da AD “...servindo


apenas objectivos de curto prazo, asfixia o crescimento económico...” 97, remete para a
95
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 9 § 5º
96
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 10
97
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 11 § 2º

76
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

política de contenção do défice como a medida mais aceitável para a situação


económica vigente na época. A política económica a seguir será a de uma disciplina
financeira por parte do Estado, onde se pretende alcançar uma utilização criteriosa
dos recursos existentes removendo os principais obstáculos ao desenvolvimento do
país.

Em relação às políticas laborais, defende a AD que as relações entre o


patronato e os trabalhadores devem ser abertas e em que as decisões se tomem por
concertação social e não por vontade do Estado.

Este programa não apresenta uma política concreta para o trabalho, focando
contudo o relevo de um consenso social através de uma política livre e aberta entre os
trabalhadores e os empresários98.

A importância do cooperativismo é novamente focada, acentuando-se a


relevância deste ter de ser apartidário e orientado de harmonia com os princípios
universais definidos pela ACI (Aliança Cooperativa Internacional)99.

A adesão à Comunidade Europeia é considerada uma opção irreversível que


deverá ser concretizada num curto espaço de tempo, para o bem do país.

98
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática pág. 12
99
http://www.ica.coop/ica/pt/ptprinciples.html - A ACI defende os seguintes princípios cooperativos:
As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços, e
dispostas a assumir as responsabilidades como membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas ou
religiosas.
As cooperativas são organizações democráticas controladas pelos seus membros, que participam activamente na
formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos
outros membros são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau, os membros têm igual direito de
voto (um membro, um voto) e as cooperativas de grau superior são também organizadas de forma democrática.
Os membros contribuem equitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Pelo
menos, parte desse capital é normalmente propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem habitualmente, e
se a houver, uma remuneração limitada ao capital subscrito como condição da sua adesão. Os membros afectam os
excedentes a um ou mais dos seguintes objectivos: desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da
criação de reservas, parte das quais, pelo menos, será indivisível; benefício dos membros na proporção das suas
transações com a cooperativa; apoio a outras actividades aprovadas pelos membros.
As cooperativas são organizações autónomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se estas firmarem
acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em
condições que assegurem o controlo democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia das cooperativas.
As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos, dos dirigentes e
dos trabalhadores de forma a que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas
cooperativas. Informam o público em geral - particularmente os jovens e dos líderes de opinião - sobre a natureza e as
vantagens da cooperação.
As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais força ao movimento cooperativo,
trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.
As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas
pelos membros.

77
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

A AD compromete-se, neste programa eleitoral, a promover acções concretas de


negociação para a adesão à CEE100 acreditando ser um trabalho que deverá ser cada
vez mais um empreendimento colectivo do País.

Para já propõe-se, ainda na fase de negociações, tentar obter da CEE o apoio


técnico e financeiro para contrariar os défices da Balança de Pagamentos, assim
como proceder à adaptação da agricultura portuguesa à Política Agrícola da CEE; a
exploração e alargamento das possibilidades de financiamento de projectos através
do Banco Europeu de Investimentos; que poderá ser através do concurso do Fundo
Social Europeu lançar acções de formação para a valorização de mão-de-obra
portuguesa; a eliminação de restrições à importação pelos países da Comunidade de
produtos portugueses, nomeadamente dos que se caracterizam como as exportações
tradicionais do País; e por fim, a apreciação das dificuldades existentes em alguns
sectores e regiões da economia portuguesa, em particular nas regiões Autónomas101.

No que respeita à produção agrícola, este discurso visa basicamente uma


política de desenvolvimento rural, que assenta na melhoria das condições de vida dos
que trabalham na agricultura e habitam no mundo rural aumentando para isso a
produção agrícola102.

Ainda sobre a política agrícola, propõe a AD fomentar o uso efectivo do seguro


de colheita por forma a poder assegurar-se aos agricultores a devida protecção contra
os desastres e calamidades naturais. É também proposta a revisão da Lei de Bases,
de forma a proceder-se a uma redistribuição nacional e justa pelos trabalhadores
rurais e agricultores das terras expropriadas, devendo acelerar-se a entrega de
reservas.

O alargamento da Zona Económica Exclusiva permitiu ao país possuir uma área


marítima 18 vezes superior à terrestre103. Entende a AD ser necessário investir neste
sector com aperfeiçoamento tecnológico, tanto em terra como no mar. Entendendo ser
também necessária a renovação da frota pesqueira.

100
C.E.E. – Comunidade Económica Europeia.
101
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 14
102
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 15
103
Lei n.º. 33/ 77 de 28 de Maio - Anexos

78
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Em política industrial, considera-se ser necessário atingir os seguintes


objectivos104: utilizar de modo mais intensivo o actual parque industrial português;
promover novos investimentos quer nacionais quer estrangeiros; fomentar a
exportação de produtos industriais de alto valor adicionado nacional; racionalizar o
sector empresarial do Estado, tornando a sua gestão menos burocratizada e mais
flexível.

Em termos de política de preços, entende a AD ser importante para o país


desburocratizar a intervenção do Estado no que se refere à intervenção nos preços,
pretendendo-se com isto ir eliminando progressivamente os factores de arbitrariedade,
de forma a que sejam conhecidos os critérios de actuação a que as empresas estão
sujeitas, quer sejam públicas ou privadas.

Considera também esta Aliança que deverá ser emanada legislação de apoio ao
consumidor, que imponha a suficiente publicidade dos preços assim como a
identificação dos produtos essenciais e o controlo da qualidade. Em paralelo, propõe-
se apoiar as associações de consumidores, pondo à sua disposição os meios
materiais e técnicos que lhes permitam executar as suas funções, pretendendo desta
forma eliminar a corrupção, o mercado negro e o contrabando através do reforço da
fiscalização.

Com estes objectivos criar-se-á um diálogo permanente com as associações


representativas dos consumidores

As exportações são apontadas como um factor determinante para o reequilíbrio


das contas do país com o exterior, acreditando ser benéfica a adesão de Portugal à
CEE. Propondo-se alcançar os seguintes objectivos105: fomentar novos investimentos
voltados para a exportação; apoiar a competitividade dos produtos portugueses;
aumentar as exportações a um ritmo mais rápido, mediante o aproveitamento total da
capacidade de produção dos bens e serviços; utilizar todas as oportunidades de
colocação de produtos portugueses no mercado externo; negociar a eliminação de
restrições à importação dos vários produtos pelos países que, na altura, já pertencem
à CEE, e por fim, incrementar as exportações de serviços.

104
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 18
105
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 120

79
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Em matéria de turismo propõe a AD prosseguir com o fomento do progresso do


turismo através de uma política de incentivos fiscais e de crédito, fazendo também a
promoção de investimentos. Pensa estabelecer pólos de atracção turística sobretudo
nas épocas baixas, através de eventos culturais, musicais e desportivos. Pretende
também apoiar a promoção turística no estrangeiro com a participação dos órgãos
regionais e locais de turismo.

IV. Programa eleitoral do PS em 1979

Este programa eleitoral divide-se em duas fases distintas, numa primeira fase
propõe-se a proceder ao saneamento financeiro da situação económica e à
recuperação do investimento e da produção, numa segunda fase poderá então dar-se
o ênfase necessário às políticas sociais por forma a que as necessidades colectivas
sejam satisfeitas.

No que respeita os investimentos, pretende-se106 por um lado proceder à


dinamização dos investimentos públicos, por outro lado relançar o investimento
privado. Adopta-se também uma política monetária menos restritiva. E por fim
pretende-se dinamizar o investimento em habitação e construção.

No que concerne às exportações, que segundo o PS, no período de 1977 até à


data deste programa eleitoral, registaram um aumento a um ritmo considerável,
pretende-se assegurar a competitividade e a rendibilidade da actividade exportadora,
pelo que há que adoptar as seguintes medidas107: dinamizar a celebração de contratos
de desenvolvimento à exportação; proceder à intensificação do apoio oficial à
comercialização de produtos portugueses no estrangeiro, tendo como base a
conquista de novos mercados, e por fim aperfeiçoar os mecanismos de crédito
bonificado à exportação, simplificando o actual sistema por forma a tornar a sua
utilização mais eficaz e generalizada.

As medidas apresentadas por este partido político para o combate a desemprego


e por ser este um factor de preocupação para a sociedade portuguesa propõe-se o
seguinte108:

106
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 6 e 7
107
idem, pág. 7
108
idem, pág. 7 e 8

80
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

a) A criação de um esquema de prémios de emprego, atribuindo isenções de


pagamento de contribuições para a Segurança Social, no primeiro emprego
aos jovens que serão quem sentirá, à partida, mais dificuldade em encontrar
trabalho;
b) A criação de regulamentação do apoio financeiro do Fundo de Desemprego
a empresas com uma situação económica difícil e que sejam susceptíveis de
viabilização;
c) A eliminação de práticas e situações de pluriemprego e de recurso
sistemático a horas extraordinárias, que prejudicam quer a possibilidade de
um maior aproveitamento da capacidade instalada quer a possibilidade de
criação de empregos permanentes e temporários;
d) O lançamento de um programa de criação de empregos permanentes ou
temporários;
e) A criação, em colaboração com as autarquias locais, de postos de trabalho
de apoio à comunidade para os jovens;
f) A promulgação do estatuto de aprendizagem e o lançamento de esquemas
de emergência de formação profissional de jovens à procura de primeiro
emprego, apoiando também as empresas que se integrem nestes
esquemas;
g) O reforço do apoio às pequenas e médias empresas através dos meios de
acção do IAPMEI109, que se propõe dotar de novo estatuto por forma a
permitir a expansão da sua actividade no domínio das garantias e das
participações de capital.

A melhoria dos salários reais, bem como do rendimento geral da população, são
também um factor relevante e que se pretende atingir. Para tal propõe medidas
políticas que visem a desaceleração do ritmo de desvalorização do escudo, a
continuação da política de enquadramento da expansão do crédito e o controlo do
défice orçamental. Enquanto não for possível a substituição dos subsídios ao «cabaz
de compras» por uma política de subsídios sociais proporcionais aos rendimentos do
agregado familiar, entende o PS que estes deverão ser mantidos. O controlo directo
dos preços é também uma das medidas anunciadas e que basicamente visa a
introdução de um código de preços que defina as regras de conduta para as
empresas quanto ao cálculo de custos e margens de lucro, pretendendo também

109
Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento

81
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

introduzir em simultâneo um sistema de negociação de aumentos de preços por


sectores ou grupos.

A contenção do défice orçamental deve ser alcançada através de várias formas,


como a contenção rigorosa dos gastos correntes do Estado, a contenção de subsídios
e transferências para as empresas públicas, uma redução significativa das despesas
com juros da dívida pública, o lançamento de um vasto programa de combate à
evasão e fraude fiscal, a recuperação dos atrasos na liquidação e cobrança de
impostos assim como das contribuições para a Segurança Social e, por fim, a
manutenção dos adicionais nos impostos indirectos e sobre o capital.

Também anunciada é a adopção de uma política de rendimentos global e


negociada. Esta medida é adoptada com a convicção de que na ausência de qualquer
controle por parte do Estado, as empresas serão livres de reflectir acrescidamente nos
preços os aumentos dos salários, podendo também aproveitar a existência de um
forte desemprego para moderarem as reivindicações dos sindicatos110. Como tal,
entende o PS que deverá ser estabelecida uma política de rendimentos e preços em
forma de acordo tripartido, que envolva o Estado, os empresários e os trabalhadores.

A redução dos impostos sobre o rendimento pessoal, passa pela eliminação do


então chamado imposto extraordinário, devendo proceder-se a uma redução do
imposto profissional e complementar. Estas alterações de impostos directos devem
ser acompanhadas pela intensificação de medidas que conduzam a uma reforma
fiscal, a qual, na óptica do PS, é indispensável para garantir a maior equidade ao
sistema, que acreditam ser, na altura discriminatória em relação aos rendimentos do
trabalho.

No que concerne à agricultura, o PS considera ser um dos sectores de actividade


económica prioritário e fundamental para o desenvolvimento do país. Segundo este
partido, a questão agrária em Portugal aparecia muitas vezes dominada pela Reforma
Agrária.

Para tal propõe o seguimento de um conjunto de linhas programáticas que se


caracterizam por111: assegurar o acesso a técnicas de produção modernas; promover

110
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 10
111
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 24 e 25

82
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

uma intervenção extensiva na transformação, valorização e comercialização primária


dos bens de origem agrícola, assim como garantir o acesso a factores de produção
em melhores condições de preço e oportunidade; determinar a transferência para os
rendimentos dos agricultores de uma fracção importante do valor dos produtos finais,
que acreditavam ser na sua maioria absorvidos por uma comercialização especulativa
e por uma transformação “desligada” dos agricultores; autodisciplinar a produção, de
forma a atingir níveis aceitáveis de qualidade e de preço; aumentar e estimular a
participação dos cooperadores na gestão e direcção das cooperativas; e por fim,
convenientemente apoiada pelo Estado, incrementar a ligação entre produtores e
consumidores pela via cooperativa.

Sobre a adesão de Portugal à CEE considera este partido político que poderá ser
uma contribuição para a consolidação da democracia no país, quer pelo desafio da
inovação que irá representar para as nossas estruturas produtivas, administrativas e
legais quer pelo facto de, como estados-membros da CEE nos tornámos elementos
estratégicos fundamentais que acreditam poder marcar a evolução da sociedade
portuguesa. Admitindo os diferentes obstáculos que estão inerentes à adesão do país
à CEE acredita o PS que estes poderão ser minimizados no decurso das
negociações. Com efeito, consideram indispensável que as negociações tenham em
conta as consequências provocadas por um período de transição, como foi o caso do
nosso país.

Em termos de sistema económico, acredita este partido político ter de existir um


sistema misto onde por um lado tenhamos o sector público e por outro, o sector
privado. O sector público deverá aglutinar os sectores estratégicos do
desenvolvimento, para além dos sectores essencialmente direccionados para a
satisfação das necessidades colectivas, devendo no entanto reger-se pelas normas
fixadas no Plano. Por outro lado, o sector privado e o sector de propriedade social
deverá utilizar as indicações do Plano, integrando-as nas suas lógicas próprias112.

Sobre a delimitação do sector público e privado, o programa é bastante claro,


expressando que, muito embora o PS não esteja de acordo com reprivatizações,
também não é apologista de novas extensões do sector público.

112
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 31

83
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

V. O Programa eleitoral da AD em 1980

Com um programa muito mais sucinto que o apresentado pela FRS113, e que
veremos a seguir, a AD preferiu dividir o seu “Manifesto” eleitoral em quatro partes,
intituladas:
O que está em jogo nas eleições
O que já fizemos
Os valores que defendemos
Aquilo que nos propomos

Pode-se observar a defesa da continuidade das políticas adoptadas, que se


caracterizaram pelo combate à inflação, promovendo a redução dos impostos, que
por sua vez provoca um aumento nos salários.

Em matéria de investimento e emprego, afirma esta coligação ter feito o que


estava ao seu alcance, não tendo podido fazer mais porque o Conselho da Revolução
não consentiu. Em matéria de indemnizações, consideram ter feito grandes
progressos pela nacionalização. A taxa de crescimento de emprego havia aumentado,
bem como a taxa de colocação de trabalhadores desempregados.

Em termos económicos o escudo valorizara e o Banco de Portugal tinha


conseguido ter mais ouro não hipotecado.

Em relação à proposta de políticas económicas, anuncia esta coligação ter feito


respeitar alguns princípios simples, como acreditar que a iniciativa privada nacional
tem o principal papel no correcto aproveitamento das energias criadoras dos
Portugueses e dos recursos naturais de Portugal. Outro princípio é o facto de se
acreditar que o sector público não deverá constituir uma carga, tendo mesmo de ser
rendível e produtivo, independentemente de dever ser um factor de progresso para a
colectividade. O último princípio caracteriza-se pelo apoio e estímulos constantes que
merece a actividade cooperativa.

Pretendem assim manter a orientação geral do “Programa Eleitoral da AD em


1979”114, que sucintamente visava a adopção com pragmatismo das soluções que

113
Frente Republicana e Socialista
114
(1980), Programa Eleitoral da AD, pág. 20

84
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

acreditavam melhor servirem para a promoção de novos postos de trabalhos, para o


aumento das exportações, redução do nível de dependência alimentar do exterior,
incrementação da capacidade tecnológica nacional.

Sobre a Reforma Fiscal, entende esta coligação ser necessário introduzir o


imposto único sobre o rendimento, muito embora de forma escalonada e progressiva
durante os quatro anos de mandato.

No que concerne à actualização do salário mínimo nacional, pensões de


invalidez, velhice, sobrevivência e outras, bem como os vencimentos da função
pública, este discurso é mais cauteloso, pois remete essas actualizações para o
princípio da anuidade, pelo menos enquanto a inflação se mantiver com taxas
elevadas.

Continua também esta coligação preocupada em manter o poder de compra dos


trabalhadores, e, sempre que possível, aumentá-lo. Propõe-se também, e ainda dentro
do capítulo “Lutar contra a inflação e o desemprego”, realizar um amplo debate para o
estabelecimento de uma política estruturada de preços e rendimentos com um
horizonte temporal alargado.

A criação de emprego será conseguida através de uma maior activação do


mercado financeiro e do investimento, e pela total utilização da capacidade produtiva
instalada.

A adesão à CEE continua a ser um dos objectivos principais desta coligação,


como faz prova, a anunciada adesão de Portugal para o ano de 1983, considerando-a
como uma oportunidade para o país se desenvolver.

VI. O Programa eleitoral da FRS – Frente Republicana Socialista, em


1980

Em 1980 o Partido Socialista candidata-se às eleições legislativas em


coligação com a ASDI (Acção Social Democrata Independente) e a UEDS ( União de
Esquerda para a Democracia Socialista). Apresenta um extenso programa eleitoral
onde são focados temas como: Revisão Constitucional; Direitos, Liberdade e

85
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Garantias; Governo e outros Órgãos de Soberania; Poder Local e Regional;


Administração Interna; Segurança dos Cidadãos; Reforma Administrativa;
Comunicação Social; Justiça; Promoção da Igualdade Social; Defesa Nacional;
Política Externa.

Num segundo capítulo denominado por “Desenvolvimento e Satisfação das


Necessidades dos Portugueses”, são focadas temáticas como: concepção do
desenvolvimento económico e social; uma nova política económica global; políticas
sectorais e, por fim, política social e cultural.

A revisão da Constituição corresponde a uma profunda preocupação da FRS,


acreditando ser a legislatura que se segue a altura ideal para se proceder à revisão da
mesma115 .

No que respeita aos princípios-base da organização económica, propõe a FRS,


em primeiro lugar, a alteração do artigo 80.º da Constituição116. Em segundo lugar,
pretende-se efectuar uma manutenção do artigo 81º., sem prejuízo do seu
aperfeiçoamento formal e de eventuais aditamentos. Em terceiro lugar, pretendem
preservar a garantia da irreversibilidade das nacionalizações directas, sem prejuízo do
disposto no n.º 2 do artigo 83.º Em quarto lugar, pretendem proceder à eliminação da
referência à fase de “transição para o socialismo”, no artigo 89.º Em quinto, propõe a
manutenção dos actuais critérios de classificação dos sectores de propriedade dos
meios de produção. Em sexto, pretende proceder à substituição da referência ao
“poder democrático dos trabalhadores”, no n.º 2 do artigo 90.º pela expressão
«intervenção democrática dos trabalhadores». Em sétimo, a caracterização da
eficácia do Plano relativamente ao subsector autogerido. Em oitavo lugar, do conteúdo
essencial das disposições atinentes à Reforma Agrária. E por fim, o aperfeiçoamento
das disposições referentes à tributação do consumo e ao controlo do comércio
externo.

A política de desenvolvimento económico apresentada pela FRS pretende


responder a três questões que acredita deverem-se às alterações sociais a que a
sociedade portuguesa estava sujeita na altura. A primeira tem que ver com a
preocupação crescente com a escassez de recursos naturais, o que por sua vez

115
(1980) Programa da FRS – Frente Republicana Socialista, pág. 8
116
Idem

86
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

introduziu uma dimensão ecológica de defesa do ambiente, bem como a


diversificação de fontes energia. A segunda está relacionada com a repartição dos
resultados de crescimento, uma vez que segundo este programa eleitoral “o
escoamento do que se produz exige uma procura solvente, e certas produções só
poderão ser consumidas por elites no actual estádio de desenvolvimento” 117. Por fim,
refere a importância das condições de trabalho para a qualidade de vida, sendo então
de considerar as formas de organização de trabalho produtivo, o seu ritmo, a sua
duração, o grau de divisão de tarefas simples, etc.

No entanto, segundo a FRS, há que ter em conta as qualificações que se


aplicam ao nosso país, e por inerência à economia portuguesa da época. Uma delas
reflecte-se no atraso da economia portuguesa, que em relação a outras economias
desenvolvidas tinha como desafio um aumento de produção e produtividade superior.
Outra qualificação é o facto de ter havido uma alteração das condições do modo de
crescimento para formas mais adequadas com a crescente qualidade de vida, o que
pressupunha uma sociedade democrática, pelo que considera necessário difundir
novos valores, novos padrões culturais e ainda novas estruturas de consumo. Por fim,
havia que ter em conta a internacionalização da economia, que faria com que Portugal
tivesse de proceder a algumas alterações estruturais por forma a poder competir no
exterior, e uma vez que, por ser um país pequeno, era fortemente dependente do
exterior.

Em resposta ao modelo da AD, que chamaram de liberal-conservador, a FRS


propõe um conjunto de políticas económicas que visam o desenvolvimento económico
do país a longo prazo:
a) Assumem a inflação com origem na Oferta, na evolução dos custos e nas
condições estruturais de formação dos preços, e não na Procura. Como tal,
propõem uma política de preços e rendimentos que vise controlar o problema
da inflação;
b) Para o desemprego, uma vez que acreditam ser um problema estrutural e
não um fenómeno económico de curto prazo, propõem uma política activa de
investimento público, assim como uma maior selectividade na ajuda deste. As
políticas atrás referidas exigem uma maior participação activa dos
trabalhadores na vida económica da sociedade, devendo desta forma os
trabalhadores verem os seus direitos consolidados;
117
(1980) Programa da FRS – Frente Republicana Socialista, pág. 30

87
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

c) A inserção internacional da economia, segundo a FRS, provoca a


necessidade dum importante sector público nas indústrias de base que se
caracterize pelo potencial de criar núcleos de crescimento autónomo, onde o
crescimento do mercado interno permita a substituição das importações, não
invalidando, no entanto, a necessidade de se promover as exportações,
modernizando e diversificando o sector exportador, orientado-o para novas
produções de tecnologia mais avançada.

Acredita portanto esta coligação ser necessário a criação de um plano de


desenvolvimento económico imperativo para o sector público, que oriente a política de
investimentos e permita utilizar os mecanismos de incentivos fiscais e monetários que,
actuando sobre os preços e os custos, utilizam os sinais do mercado para influenciar a
iniciativa privada118.

No que respeita a adesão do país à CEE defende esta coligação que se deverão
fazer garantir determinados aspectos aquando das negociações com a comunidade119.
Desta forma, deverá ficar garantido de que a adesão representará para o país uma
efectiva transferência de recursos em termos de fluxos financeiros, e que os
mecanismos actuais da política agrícola e do orçamento da Comunidade não
determinem uma perda financeira para Portugal. Por outro lado, a efectivação dessa
transferência de recursos deve ser facilitada por uma maior flexibilidade nos
mecanismos de utilização dos Fundos Comunitários, em especial do Fundo Regional,
e da criação directa ou indirecta, das condições de acesso a financiamentos de médio
prazo em ligação. A agricultura, a indústria e as pescas deverão beneficiar de
períodos de transição para a adopção da política agrícola comum.

Deverá também promover-se uma política de plantação e gestão de recursos


florestais, como também, o combate à urbanização selvagem, pelo controlo do
crescimento das grande áreas urbanas, defesa das zonas urbanas antigas e apoio à
constituição de zonas verdes.

Devido às assimetrias regionais, a FRS apresenta uma política de


desenvolvimento regional que visa essencialmente a defesa de uma maior
dinamização das estruturas produtivas regionais com o objectivo de criar postos de

118
(1980) Programa da FRS – Frente Republicana Socialista, pág. 31
119
(1980) Programa da FRS – Frente Republicana Socialista, pág. 32

88
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

trabalho devidamente remunerados. Também com o objectivo de elevar a satisfação


das necessidades colectivas, propõe uma melhoria significativa dos equipamentos
sociais à disposição da população. A promoção da mobilidade, através do
desenvolvimento de uma rede nacional de transportes, é assumida como um factor
que poderá vir a diminuir as assimetrias regionais. Por último, será também necessário
introduzir políticas de desenvolvimento regional que promovam a descentralização do
poder.

Em relação ao sistema económico e social, afirma a FRS ser, ao invés do que


acontecia antes do 25 de Abril, compatível com a democracia e aberto ao progresso e
à justiça social. Deverá ser um sistema pluralista e dominado pela solidariedade
social, igualdade e participação.

A expansão da economia é um dos objectivos a ser alcançado, segundo a FRS.


Assim, dever-se-á promover a expansão do investimento, das exportações e do
consumo privado. Este último irá aumentar como resultado do aumento dos salários
reais, das prestações sociais e do incremento do rendimento disponível resultante da
redução dos impostos sociais120.

Combater o desemprego é também um dos objectivos da FRS. Uma política de


maior crescimento da produção e do investimento, será necessária, mas não
suficiente, para a resolução do desemprego, propondo para tal um conjunto de
medidas que visam basicamente o que já havia sido proposto no programa eleitoral do
PS em 1979.

Em termos de política salarial, a novidade apresentada neste programa eleitoral


corresponde à pretensão de aumentar o salário mínimo nacional, o salário mínimo
rural e o salário mínimo das domésticas, aumentando também o subsídio de
desemprego, que se encontra directamente relacionado com o salário mínimo
nacional.

A situação inflacionista que se vivia na altura, especialmente no contexto do


modo de funcionamento da economia portuguesa, exigia, segundo a FRS, a aplicação
duma política de preços e rendimentos global e negociada, que não difere da
apresentada no programa do PS em 1979.
120
(1980) Programa da FRS – Frente Republicana Socialista, pág. 36

89
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Ao nível de impostos, propõe esta coligação uma reforma fiscal muito


aproximada da proposta em 1979 pelo PS. No entanto, apresenta a intenção de dar
prossecução aos estudos sobre os impostos indirectos, nomeadamente o que hoje se
chama de IVA, e apresenta também uma série de medidas que visam não só o
combate à evasão fiscal como também possibilitar o pagamento de impostos em
atraso, com condições encorajadoras para quem estava em falta com o fisco.

A defesa do consumidor é também um dos objectivos propostos pela FRS, que


visa basicamente a criação de instituições ou centros de apoio cujo objectivo é servir
os cidadãos e mais concretamente os consumidores, e que culmina com a proposta de
publicação de uma Carta dos Direitos do Consumidor e de um Código de Publicidade,
que defenda o consumidor de algumas “manipulações” mais agressivas de
propaganda comercial.

VII. Manifesto eleitoral PPD/PSD - Partido Popular Democrático/


Partido Social Democrata, em 1983

Muito mais curto que o programa do PS, dessa mesma campanha eleitoral, o
PPD/PSD apresenta as suas propostas de políticas económicas numa única página.

Defende uma economia mista e concorrencial121 que se baseie no respeito pelas


leis de mercado promovendo assim uma economia de progresso e justiça. Deverá
para tal proceder-se à correcção dos excessos das nacionalizações e estatizações
sob o ângulo da desproletarização122. Isto exige a contenção do défice, assim como a
ampliação dos gastos sociais e dos investimentos produtivos.

É também proposta a implementação de uma reforma fiscal com sentido


resdistributivo e realista, não devendo a pressão fiscal ir para além dos limites
aceitáveis.

Defende este partido um sector público empresarial adequado à função de


equilíbrio económico, e a livre concorrência entre o sector público e o sector privado.
121
(1983) Manifesto – Eleitoral do Partido Popular Democrático / Partido Social Democrata Pág. 7
122
cfr. idem

90
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

A iniciativa privada deverá poder usufruir o máximo das condições legítimas de


actuação, reservando-se ao Estado o papel de regulador correctivo. As regras da
concorrência devem ser claras e cumpridas, quer pelo sector privado quer pelo
público. Defende também a obrigação social de subsidiar actividades ou serviços de
inequívoco interesse colectivo e que estejam carentes de apoio.

A produção deverá aumentar, e deverá também melhorar a qualidade dos seus


bens e serviços. Só assim, é possível importar menos e exportar mais. Deverão
também ser utilizadas todas as potencialidades produtivas.

Especial atenção merece a agricultura e pescas, construção civil e transportes,


o fomento ao turismo e a redução da dependência energética do país. De salientar
que, no que concerne a agricultura, é defendido o incremento da política de
distribuição de terras para explorações familiares.

De registar que todas as medidas preconizadas deverão ser efectuadas após


uma concertação social, com a celebração de um contrato social e a efectivação de
uma política de consenso social alargada.

VIII. Manifesto–Programa do PS em 1982 /1983

Para as eleições legislativas de 1983 o PS preparou um “Manifesto-Programa”.


Segundo este partido, este objecto de análise não é um programa eleitoral, mas sim,
um manifesto programático. Também não é um “Manifesto” na expressão corrente,
pois estão aqui apresentadas as linhas gerais de orientação, bem como as políticas
económicas que pretendem assumir, caso ganhem as eleições. Por essa razão,
considerámos este material como legítimo para se proceder ao estudo da evolução
das propostas de políticas económicas em programas eleitorais.

O capítulo “Estabilização e Desenvolvimento Económico e Social” inicia-se com


um item intitulado “Programa de estabilização e estratégia de desenvolvimento”. Na
sua generalidade, este item acaba por procurar fazer uma reflexão sobre as condições
económicas do país e qual a estratégia que o Partido Socialista se propunha
prosseguir caso fosse eleito. Podemos dizer que acaba por ser uma introdução para a
temática seguinte, intitulada de “Estratégia do desenvolvimento”.

91
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

A estratégia do desenvolvimento que este partido pretende prosseguir


caracteriza-se, numa primeira fase, pela criação do que chamam de “Nova Economia”.

Esta “Nova Economia” caracteriza-se por ser uma economia mista e de mercado,
que deverá sofrer um processo de modernização, processo que o PS pretende para a
economia nacional, e que assume vários pressupostos fundamentais, 123 os quais se
apresentam de seguida:
A coexistência dos sectores de propriedade;
O planeamento económico e social, concebido e implementado em
moldes escrupulosamente democráticos;
O pleno funcionamento do mercado na área que lhe é própria;
A existência de um sector produtivo sólido e moderno, com bons níveis de
produtividade;
A existência de um sector de serviços sociais;
A existência de mecanismos de prevenção, detecção e repressão do
parasitismo e do ilícito económico;
A disponibilidade de instrumentos de distribuição equitativa da riqueza
produzida, mediante a institucionalização de métodos de negociação e
de arbitragem entre as empresas (públicas e privadas) e os
trabalhadores;
A proposta de uma profunda reestruturação do Conselho Nacional do
Plano, a qual deverá garantir uma significativa participação de
trabalhadores e empresários ao nível nacional;
A participação crescente das populações, bem como dos órgãos
autárquicos.

Sobre o sector empresarial público acredita este partido ter de ser urgentemente
reorganizado, e não alargado. Apresenta, desde logo, a sua intenção de não proceder
a qualquer acto de nacionalização de bens e serviços. Ao sector público empresarial
cabe a tarefa de ser um elemento dinamizador da economia, com uma função
relevante na modernização das estruturas produtivas mediante a aplicação de
criteriosos programas de desenvolvimento. Outra função importante a desempenhar é

123
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 81 e 82

92
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

a de satisfazer as necessidades sociais, que, por razões de justiça social, não devam
estar sujeitas às leis do mercado.

O PS está convicto de que as empresas públicas devem gozar de autonomia, a


qual deverá ser de gestão administrativa, técnica, económica, financeira e comercial,
sendo além disso dotadas de património próprio. Ao Estado cabe o direito/dever de
controlar o funcionamento e a gestão das empresas públicas. E na necessidade de
frisar expressamente qual a relação entre o Estado e as empresas públicas, entende
este partido político que as empresas públicas deverão atingir níveis razoáveis de
produtividade e rendibilidade. Defende também a aplicação de um rigoroso critério de
selecção profissional dos gestores públicos, promovendo desta forma a estabilidade
na gestão das empresas públicas. Propõe-se ainda apoiar a participação dos
trabalhadores na gestão e fiscalização das empresas públicas, através da nomeação
de representantes destes nos respectivos órgãos sociais.

Sobre o sector empresarial privado, entende o PS caber à iniciativa privada um


importante papel na modernização e no desenvolvimento da economia portuguesa124.
Esse contributo pode caracterizar-se quer pela produção de bens e serviços
domesticamente ou para o exterior, quer criando emprego, quer assumindo o
investimento produtivo, sobretudo em áreas e sectores que a modernização da
economia torne mais atractivos. Deverá no entanto o Estado ter algum cuidado com
acções de apoio que promova no sector privado, uma vez que não se deve imiscuir
nas actividades dos empresários que visam a obtenção de subsídios para outros
proveitos que não o desenvolvimento económico do país, apoiando os empresários
que empreendem, corram riscos e que participem no desenvolvimento e progresso
social do País.

O PS preconiza também a participação do Estado em empresas de economia


mista, em sectores cuja importância se releve de interesse para o progresso
económico do País.

O sector cooperativo não é esquecido, nomeadamente na agricultura, pescas e


comércio, que acreditam possuir as potencialidades necessárias para ultrapassar
muitos dos problemas sociais da altura.

124
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 85

93
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

O sector autogestionário não tem visto os seus direitos constitucionais atribuídos.


Segundo o PS, as empresas em autogestão deverão estar legalmente enquadradas e
protegidas como uma experiência rica em potencialidades125; considera ainda este
sector como um contributo bastante válido para a solução grave do desemprego.

O Partido Socialista apresenta um “modelo de estabilização e desenvolvimento


económico e social” que assume as seguinte prioridades e objectivos126:
i. Aumentar a oferta de bens e serviços - de forma controlada, criteriosa,
selectiva e apoiada pelo Estado - dos sectores e empresas que contribuam
para a redução do desemprego, redução do défice alimentar, para a melhoria
do saldo líquido das contas externas e, por fim, para a modernização do nosso
sistema produtivo;
ii. O desenvolvimento das chamadas estruturas sociais e, em especial, do
investimento na valorização dos recursos humanos, considerado por este
partido como essencial para a modernização da sociedade;
iii. Sendo considerado pelo PS que o valor fundamental do socialismo
democrático é a solidariedade, pretende apoiar todas as iniciativas que, para
além dos organismos estatais, visem colaborar na resolução dos problemas
sociais;
iv. A aposta no poder local, pretendendo promover e incentivar as iniciativas
autarcas.

A política económica de desenvolvimento regional não difere da apresentada nos


programas eleitorais anteriores. Resumidamente preconiza a diminuição das
assimetrias regionais, a descentralização do poder, a promoção da igualdade de
oportunidades entre os cidadãos, a protecção do ambiente e a promoção da
solidariedade nacional.

A política da Balança de Pagamentos tem como objectivos principais a redução


das importações e o aumento das exportações, a racionalização e normalização do
sistema produtivo nacional e a afectação dos recursos públicos para o efeito
mobilizáveis à solução do problema da habitação e à execução de infra-estruturas e
obras públicas.

125
cfr. (1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 89
126
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 91

94
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

O programa de estabilização visa basicamente a redução do défice da Balança


de Transacções Correntes, disciplinar o recurso do sistema económico nacional a
bens de importação, desincentivando designadamente as irregularidades da sub e
sobrefacturação, e assegurar a cobertura financeira externa através da captação do
investimento directo estrangeiro.

A política orçamental respeita uma área difícil de controlar, sendo no entanto


imperativo actuar-se sobre a mesma. A política que pretende prosseguir encontra-se
dividida nas medidas127:

i. A progressiva redução do défice, a procura de uma maior equidade fiscal,


a nomeação de equipas mistas (elementos da Inspecção Geral das
Finanças e dos respectivos Ministérios) para análise de despesas das
empresas e organismos públicos;
ii. Uma análise crítica, ministério a ministério, das despesas correntes, sob
critérios de necessidade, razoabilidade, oportunidade e economicidade;
iii. Promoção de uma reforma fiscal prudente e profunda, depois de ouvidos
os parceiros sociais, que deve tomar em conta a adesão à CEE, e como
tal, a necessidade de aproximar o sistema tributário da comunidade.

A política monetária, financeira e cambial caracteriza-se pela adopção de


medidas como128 a manutenção e aperfeiçoamento do controlo quantitativo e
qualitativo do crédito a conceder pelo sistema bancário; a revisão e simplificação dos
condicionalismos administrativos referentes a certas categorias de crédito bancário; a
regulamentação das sanções a aplicar pela utilização abusiva do crédito; o
ajustamento da taxa de juro do crédito bancário às taxas de inflação interna; a
promoção da dinamização do mercado de capitais; a regulamentação das operações
na Bolsa de Valores, em conformidade com as normas da CEE; a definição de uma
forma clara da articulação funcional e de decisão política entre o Ministério das
Finanças, o Banco de Portugal, a futura Associação Bancária e o Instituto Nacional de
seguro; a reestruturação e especialização do sistema bancário nacionalizado, com
sociedades de desenvolvimento regional e locação financeira; e, por último, a
reestruturação do sector segurador.

127
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 101
128
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 104

95
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

A política de rendimentos e preços e de luta anti-inflacionista, tendo por base


uma acordo social, descreve-se por um conjunto de medidas que pretendem adoptar:

i. Uma progressiva melhoria da massa salarial, em conjunto com a


actualização do salário mínimo nacional, assim como, das prestações
sociais;
ii. Um ajustamento dos preços de modo a tornarem-se próximos dos custos
reais. Este processo deverá ser gradual e a ele devem corresponder
alterações no rendimento, devendo ser adoptadas medidas de defesa do
consumidor;
iii. Uma manutenção de margens moderadas de lucros; o incremento da
fiscalização da contabilidade das empresas; o estímulo à retenção de
lucros e a consequente redução do recurso ao crédito;
iv. A promoção de medidas que contrariem a inflação, nomeadamente
através de políticas de contenção do défice público, de preços e salários,
distribuição do rendimento, concertação social.

Finalmente, a última política a ser apresentada, a de investimento e poupança,


que visa a compatibilização do modelo de desenvolvimento selectivo com o programa
de estabilização129, o qual tem o seu elo forte no investimento. Neste sentido, acredita
ser necessário uma análise muito cuidada dos projectos do sector público e do sector
privado.

Assim propõe uma selectividade dos projectos de investimento, a orientação dos


projectos para sectores como a agricultura, o turismo, os que visem assegurar os
recursos naturais, o melhoramento dos circuitos de distribuição, a produção de
energia ou a racionalização do seu consumo, a diminuição dos custos de produção
de bens de primeira necessidade e a modernização de infra-estruturas básicas.

IX. Manifesto eleitoral do PPD/PSD em 1985

129
(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista, pág. 107

96
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

No seu programa eleitoral, decide proceder à compatibilização dos objectivos de


combate à inflação e criação de emprego, com a correcção estrutural das contas
externas.

A estratégia de progresso, que é aqui defendida pelo PPD/PSD, exige, como


primeira medida, a clarificação das finanças públicas, nomeadamente através da
elaboração de um orçamento de Estado realista para o Sector Público Administrativo.

Esta estratégia terá como base um grande esforço a nível de investimento, em


mercado aberto e concorrencial, de tal modo que, em pouco tempo, compense o
défice cambial que fora inicialmente provocado. Este partido, caso ganhe as eleições
propõe-se também a atacar todas as questões sectoriais que constituam um obstáculo
ao reajustamento da economia, valorizando e dando prioridade a todas as acções
que contribuam para a redução do desemprego e para a melhoria das contas
externas.

Tenciona também introduzir uma maior flexibilidade no funcionamento da


economia, reduzindo as interferências administrativas, reforçando os mecanismo de
mercado, defendendo a concorrência, fomentando o desenvolvimento da livre iniciativa
empresarial, à qual este partido atribuía o papel motor do crescimento económico do
país.

A estratégia preconizada pelo PS visa também o combate à inflação, de modo a


reduzi-la até ficar alinhada com a média dos países da CEE. Através deste
alinhamento será então possível combater a desvalorização cambial e assim repor a
solidez externa da moeda. Poderá então ser assegurado o crescimento do poder de
compra dos salários.

X. Manifesto eleitoral do PS em 1985

Com o título “Modernizar a economia, assumir o desafio europeu”, a política


económica e financeira proposta pelo PS caracteriza-se basicamente por reforçar a
estabilidade financeira para a economia e modernizar a sociedade.

Os principiais objectivos do plano de desenvolvimento económico proposto não


diferem dos anteriores, visam sucintamente: a satisfação das necessidades básicas

97
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

da população, incluindo a garantia ao trabalho; a melhoria de qualidade de vida para


os cidadãos, com uma redistribuição de rendimentos equitativa; a maior participação
das populações na vida económica; a menor dependência do exterior; atenuação dos
desequilíbrios regionais.

O PS aspira com as suas políticas económicas, atingir objectivos precisos, como


é caso de130: reorientação do papel do Estado; reorganização do sector empresarial
do estado; flexibilização das leis laborais; melhoria das estruturas de participação,
coordenação e concertação social; alteração das condições de criação, recuperação
e falência de empresas; revisão simplificadora e redutora dos esquemas de subsídios
e incentivos; apoio ao desenvolvimento da propriedade social-cooperativismo;
resolução das questões fundiárias na zona da reforma agrária; reforma fiscal e a
reestruturação do sistema financeiro.

No que concerne ao sector empresarial do Estado, este programa vem, de novo,


vincular a necessidade de definir claramente qual o termo de responsabilidade das
empresas públicas, bem como promover a definição contratual dos objectivos da sua
gestão, e do gestor público.

Este partido advoga também o reforço dos mecanismos de concertação social.


Segundo o PS, qualquer plano de desenvolvimento necessita de um pacto social, em
que se reforcem as medidas de coordenação e orientação por forma a identificar, com
uma maior facilidade, os problemas, e desta forma poder resolvê-los.

O apoio ao sector privado deve caracterizar-se pela eliminação da burocracia


que se possa considerar desnecessária e que dificulte o funcionamento corrente das
empresas, pois esta é “a base vital de uma economia sadia e próspera”131.

O sector cooperativo não foi esquecido, pelo que nesta matéria intenta reforçar
os meios de formação profissional dos gestores cooperativos; aprovar o saneamento
financeiro das cooperativas agrícolas em dificuldades; apoiar técnica e
financeiramente a constituição de cooperativas de segundo grau.

130
(1985) Programa de Governo do Partido Socialista – Um pacto de progresso para anos de governo, Pág. 41
131
(1985) Programa de Governo do Partido Socialista – Um pacto de progresso para anos de governo, Pág. 43

98
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

A concretização de uma profunda reforma fiscal é de novo focada com


objectivos, como a entrada em vigor do IVA em 1986; aplicação do imposto único
sobre os rendimentos; redução a partir de 1986, dos impostos sobre o trabalho e
complementar; bonificação das taxas de contribuição industrial; suspensão temporária
do imposto de mais-valias; isenção do imposto de selo e redução dos emolumentos
notariais; autorização, para efeitos fiscais, de reavaliação de activos das empresas a
partir de 1986; extinção do papel selado e a revisão dos impostos indirectos.

A modernização do sistema financeiro, é também preconizada por este partido


com a dinamização dos mercados de capitais, alterando o modo de financiamento do
défice e a preparação de condições para a eliminação do método de fixação de
limites de crédito, como forma de controle monetário; o relançamento do crescimento
económico, que deve assentar basicamente num plano de estabilização aproveitando
a conjuntura internacional relativamente favorável, onde as condições são as mais
adequadas ao relançamento da economia com bases sólidas.

A expansão da economia e o combate ao desemprego, assim como o aumento


do nível de vida, são também dois objectivos que, à luz do que havia sido referido
anteriormente, o PS pretende atingir.

99
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

PARTE IV

A EVOLUÇÃO DAS PROPOSTAS DAS POLÍTICAS


ECONÓMICAS EM PROGRAMAS ELEITORAIS DE
1976 a 1986

100
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

I. PS Vs PPD em 1976

Um aspecto referido, quer num programa eleitoral quer no outro, é o denominado


“Plano”. O Plano caracteriza-se, no entanto, diferenciadamente.

Segundo o Partido Socialista, o plano assume-se, como já anteriormente havia


sido descrito nesta dissertação, o instrumento principal da política que é ali defendida
(entenda-se no programa eleitoral), quer como espaço de intervenção concreta dos
cidadãos na definição das suas necessidades e aspirações, quer na construção das
respectivas respostas, possibilitando que as grandes escolhas económicas e sociais
sejam convenientemente feitas pelo conjunto da população.132 É também de se referir
a pormenorização da conceptualidade do Plano, tanto na sua substância como na
aplicação temporal à realidade económica e social em que se encontrava o país,
sendo esta última metodologicamente explicada. O Plano acaba assim por englobar
todos os temas apresentados no programa eleitoral.

Sem entrar na contextualização que o programa do Partido Socialista manifesta,


o PPD caracteriza o Plano somente como um conjunto de temas que se encontram
divididos em duas partes. Na primeira parte é analisada a economia em crise,
englobando o desemprego, a produção, a inflação, a perda de reservas, a crise nas
empresas, e por fim, a economia e a democracia. Na segunda parte, o Plano está
subdividido em delimitação e organização do sector público, participação do sector
privado e confiança, fomento do sector cooperativo, investimentos estrangeiros,
responsabilidade de gestão e controlo de gestão, indemnizações e acumulação de
dívidas.

A abordagem na delimitação do sector público e privado é claramente distinta


num programa e no outro. O programa do Partido Socialista demonstra uma clara
preocupação na consolidação e assimilação das nacionalizações até então
efectuadas. O programa do Partido Popular Democrático, pelo contrário, manifesta a
sua reserva em relação às nacionalizações que foram efectuadas, como é ressalvado
no seguinte parágrafo:
“Na realidade, não restam dúvidas hoje que as nacionalizações
realizadas após o 11 de Março corresponderam mais à vontade
132
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 26 § 1º

101
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

de destruir a actividade privada e marcar certa conquista do


aparelho económico por uma burocracia partidária, do que ao
desejo de resolver os problemas e cuidar dos interesses dos
trabalhadores portugueses”133.

O programa do PS apresenta-se cauteloso em relação à delimitação dos dois


sectores em causa. Se por um lado refere a importância de a intervenção privada nos
mercados respeitar o Plano proposto, por outro chega mesmo a assumir a
continuação de nacionalizações em sectores que determinaram como chave. É, no
entanto, admitido a relevância da actividade privada na economia, desde que esteja
confinada aos domínios de actividade que lhe são próprios; é então assumido a
importância de proporcionar as necessárias garantias de segurança e estabilidade,
permitindo o restabelecimento da confiança e a retoma do investimento.

O programa do Partido Popular Democrático, para além das reservas


anteriormente referidas neste trabalho, demonstra-se muito mais adepto da iniciativa
privada que o programa do Partido Socialista. A abordagem à delimitação do sector
público é mais redutora que à do sector privado, defendendo-se mesmo a livre
concorrência entre as empresas públicas.

Ambos os programas acabam por neste tema abordar o cooperativismo como


uma opção válida, não se diferenciando de forma significativa tanto num programa
como no outro.

O programa do Partido Popular Democrático encara o cooperativismo enquanto


alternativa ao poder estatal sobre as empresas e, como tal, pretende fomentar a livre
criação de cooperativas. O Partido Socialista pretende, através das cooperativas,
poder proporcionar o desenvolvimento da autogestão e da democracia económica.

Ambos são a favor das confederações, federações e uniões cooperativas.

O programa do Partido Socialista remete a institucionalização do controle de


gestão pelos trabalhadores para o art.º 56 b) da CRP134, adeptos da criação de uma
comissão de trabalhadores que possa assegurar a intervenção dos trabalhadores nas
133
(1976) Programa de Governo do PPD – Partido Popular Democrático, Reconstrução Nacional pela Social
Democracia, pág. 15 § 5º
134
(1976) Constituição da República Portuguesa pág. 38

102
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

decisões da empresa, sem que seja posto em causa o respeito pelos órgãos de
gestão. Por outro lado, o Partido Popular Democrático pretende regulamentar o
controlo da gestão através de lei, em cuja elaboração participassem os trabalhadores.
Ambos parecem estar de acordo sobre a necessidade de proceder ao controlo da
gestão e na necessidade de esta ser efectuada tanto ao nível do sector público como
privado, muito embora o enfoque seja claramente sobre o sector público.

No que respeita à Reforma Agrária o discurso assumido por ambos os partidos


políticos diferencia-se mais pela forma do que pela substância.

O Partido Socialista inicia o seu discurso apelando à necessidade de criar


condições estruturais para o progresso da agricultura, assim como o lançamento das
bases indispensáveis para o estabelecimento de novas relações de produção nos
campos. Estabelece desde logo o tratamento diferenciado que tenciona efectuar entre
o latifúndio e o minifúndio. No primeiro caso (entenda-se latifúndio) o ponto de partida
para a Reforma Agrária é a expropriação dos solos, tendo no entanto em conta um
conjunto de medidas integradas num plano coerente de desenvolvimento agrícola, o
qual deverá ter em atenção a diversificação regional. Em relação aos minifúndios
remete para uma solução que passe pela criação e manutenção das associações
cooperativas, sendo que esta disposição deve ser acompanhada por medidas
progressivas de emparcelamento das explorações, cujo objectivo final será a sua
associação. Em relação à intervenção do Estado, em matéria de relações da
propriedade, defende o Partido Socialista que o Governo deverá orientar-se
essencialmente por dois eixos fundamentais, como são a liquidação dos latifúndios
num espírito de justiça social, e o respeito, de forma inequívoca, de propriedade de
terra dos pequenos e médios agricultores135.

O Partido Popular Democrático inicia por seu lado um discurso manifestamente


contra a legislação em vigor, nomeadamente o decreto-lei n.º 406-A/75, que fixa o
limite de 50000 pontos a partir do qual os prédios rústicos são expropriáveis.
Visivelmente preocupado com a legislação para o presente e o futuro, o discurso
deste partido político surge também ao nível da intervenção do Estado na Reforma
Agrária, no arrendamento rural e por fim o que denominam por “outras intervenções
fundiárias”. Em relação à intervenção do Estado na Reforma Agrária defende este
partido político que é da competência do Estado, não só corrigir e reparar desvios do
135
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 36 § 4º e 5º

103
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

passado, tendo de haver lugar à legislação, como também a três orientações


consideradas fundamentais: o assegurar efectivamente aos pequenos e médios
produtores que tenham possibilidade de ampliar as áreas de exploração das suas
terras; assegurar que as “unidades colectivas de produção” tenham um estatuto de
verdadeiras cooperativas de produção; assegurar aos expropriados um efectivo direito
de reserva, com vista ao estabelecimento de explorações económica e socialmente
viáveis136.

O discurso parece coincidente no que respeita à criação ou manutenção de


associações cooperativas ou cooperativas. Ambos os partidos condenam as
ocupações selvagens, propondo ambos legislação que possa corrigir este tipo de
acções.

Pode no entanto verificar-se pela parte do PPD uma forma de contestação em


relação à legislação que se encontrava em vigor, sendo o discurso do PS omisso no
que concerne esta matéria.

Ambos os programas são consonantes no que se refere à importância do sector


turístico na economia nacional, especificamente na Balança de Pagamentos e ao nível
do emprego.

Sendo que o programa do Partido Socialista é bastante mais pormenorizado na


política que pretende prosseguir, poderemos dizer, pelo exposto, que a principal
distinção de um programa para o outro é a assunção do Partido Popular Democrático
em revelar que considera ser um sector que não carece de ser nacionalizado137,
afirmando mesmo que a iniciativa privada nacional e estrangeira deverá ser
estimulada, salvaguardando o turismo social e juvenil, o qual deverá ser fomentado
pelos órgãos estatais adequados. Por sua vez o programa do Partido Socialista
propõe um conjunto de medidas nas quais, por estarem directamente relacionadas
com o funcionamento institucional das empresas e serviços públicos, se subentende
não existir lugar a privatizações nem sequer à promoção da actividade privada neste
sector.

136
(1976) Programa de Governo do PPD – Partido Popular Democrático, Reconstrução Nacional pela Social
Democracia, pág. 38 §2º
137
(1976) Programa de Governo do PPD – Partido Popular Democrático, Reconstrução Nacional pela Social
Democracia, pág. 122 §5º

104
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

Ambos os programas são uníssonos na pretensa reforma da rede de transportes,


embora o PPD no seu programa tenha sido mais específico nas disposições a
adoptar. Parecem também estar de acordo na necessidade de remodelar as estradas
como medida impulsionadora para a política de transportes.

Quanto à política de comunicações, ambos concordam com o alargamento da


rede de comunicações. Enquanto o Partido Socialista defende a automatização
progressiva da rede interna de telecomunicações e das respectivas conexões com a
rede internacional138, o Partido Popular Democrático propõe o melhoramento da sua
qualidade, o uso coordenado e completo do equipamento existente, bem como uma
maior eficiência das comunicações com o exterior139.

Parecem estar de acordo quer em relação ao papel do Estado e a iniciativa


privada e pública nesta actividade económica, quer em relação à execução de
políticas para a sua promoção.

É evidente a preocupação demonstrada por ambos os partidos políticos em


relação à protecção das pescas e ao apoio que o Estado deverá dar a esta actividade
económica a nível nacional.

Em relação ao comércio externo em programas eleitorais, o PPD apresenta


linhas de acção orientadas para o comércio internacional, onde se engloba a
negociação do acordo comercial da altura, focando bastante a importância para o país
em aderir à CEE. Ambos os partidos políticos demonstram uma clara preocupação na
prossecução da abertura do país ao comércio internacional.

Em matéria de exportações, o programa do Partido Socialista surge-nos como


um adepto da divisão de actuação entre o sector público e o sector privado. Assim
sendo, defende a reestruturação dos mercados onde se garanta a constituição de
uma empresa pública para cada mercado, com o cuidado de não criar mais do que
uma empresa por forma a não gerar concorrência. No sector privado defendem o
apoio à livre criação de cooperativas de produtores, de maneira a que se possa
penetrar nos mercados externos. O programa do PPD é muito mais orientado para a
intensificação da participação de Portugal nos esquemas de cooperação e integração
138
(1976) Programa Eleitoral para um Governo PS, pág. 67
139
(1976) Programa de Governo do PPD – Partido Popular Democrático, Reconstrução Nacional pela Social
Democracia, pág. 90§ 3º

105
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

económicas com o objectivo de estreitar a coordenação das políticas comerciais


mundiais, assim como facilitar o acesso nas melhores condições de concorrência dos
produtos portugueses nos mercados externos.

Tanto um programa eleitoral como o outro são igualmente caracterizados pela


preocupação dos postos de trabalho neste sector e a importância que os mesmos
assumem na vida económica da altura.

O programa do Partido Socialista aborda no entanto a questão da energia


nuclear, nomeadamente no que respeita à necessidade de se proceder a debates,
conferências e estudos para que se possa encarar o lançamento de um programa de
centrais nucleares. O programa do Partido Popular Democrático é omisso sobre o
assunto.

II. PS Vs AD em 1979

O Partido Socialista enfoca o Plano que, para além de ser considerado


imperativo para o sector público, deve também fornecer o quadro de referência para o
desenvolvimento da actividade económica em geral, permitindo enquadrar os vários
instrumentos de política que procurem orientar o sector privado corrigindo o que este
partido político considera de graves lacunas duma economia pura e livre.

Por outro lado, consideram o Plano como aspecto indispensável para que se
possa equacionar devidamente os problemas estruturais do desenvolvimento, que na
altura estavam condicionados pela crise mundial.

A Aliança Democrática, no seu programa de 1979, não refere de forma explícita


o Plano. Aborda o Plano de desenvolvimento económico como uma forma de obter
financiamentos para a construção do país, financiamentos esses que entende a AD
terem de ser utilizados para investir e não tão somente para consumir140.

A AD considera que o sector público, empresarial ou administrativo, deve ser


racionalizado e tornado eficiente, para que assim possa cumprir as suas funções.
Considera também ser indispensável abrir progressivamente os diversos sectores de
actividade à iniciativa privada. A posição da AD em relação ao sector público e privado
140
(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática, pág. 10

106
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

é bastante clara. Sem menosprezar a importância do sector público, considera


fundamental abrir os mercados ao sector privado, acreditando ser um factor de
arranque para o desenvolvimento económico do país.

Por outro lado, o Partido Socialista é mais prudente na sua abordagem. Muito
embora considere que o sector público precisava na altura de ser verdadeiramente
remodelado, são mais cautelosos à abertura da iniciativa privada enunciando mesmo
que estarão contra as reprivatizações (assunto não abordado pela AD), dispondo-se
mesmo a ajudar o sector privado nos seus esforços de modernização e
redimensionamento, através das políticas fiscal, de crédito e de investimento, sendo
que no entanto esta medida tem em vista a preparação para a adesão à CEE.
Contudo, acreditam que o sector privado e o sector de propriedade social deverão
utilizar as indicações do Plano, integrando-as nas suas lógicas próprias141.

O Partido Socialista considera o cooperativismo como um sector importante para


o desenvolvimento económico do país, destacando os sectores de consumo,
habitação e agrícola, através do aperfeiçoamento dos esquemas de incentivos fiscais
e financiamentos e de uma definição adequada do estatuto jurídico das cooperativas,
marcando as indispensáveis diferenças face às sociedades comerciais142.

A AD, tal como o Partido Socialista, considera o cooperativismo com um sector


muito importante para a o desenvolvimento económico do país. O leque de sectores
que consideram ser importantes, e que como tal deverão ser devidamente apoiados
pelo Estado, é, no entanto, um pouco mais vasto que o do Partido Socialista. Assim,
assumem o sector do consumo, agrícola, do crédito, de construção e habitação, da
produção agrária, do artesanato e pesca.

No que concerne à reforma agrária, a AD anuncia várias medidas que pretende


adoptar. Por um lado pretende proceder à revisão da Lei de Bases, propondo-se para
tal proceder à redistribuição de uma forma racional e justa das terras expropriadas por
trabalhadores rurais e por agricultores, acelerando a entrega das reservas 143. O
Partido Socialista começa por considerar que se deve ter em conta a política agrária e
rural, não empolando a Reforma Agrária, uma vez que esta, segundo este partido

141
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 31
142
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 33
143
(1979), “Programa Eleitoral de Governo” – Aliança Democrática. pág. 15

107
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

político, representa cerca de 14 %144 de superfície cultivada do continente. No entanto


propõem-se a adoptar várias medidas para o êxito da Reforma Agrária que em nada
vai contra com o programa da AD, sendo até mais precisos.

Tanto um programa como o outro anunciam medidas que visam a diminuição do


desemprego.

Procedendo a uma recapitulação do que já havia sido escrito nesta dissertação,


lembramos que enquanto a AD anuncia a potencial diminuição do desemprego
através do aumento do investimento, que seria por sua vez impulsionado pela a
abertura dos mercados à iniciativa privada, o Partido Socialista espera resolver a
questão do desemprego com várias medidas, nomeadamente através de políticas que
visam benefícios fiscais, de uma maior consistência dos subsídios de apoio aos
desempregados, da eliminação de práticas de pluriemprego, dum lançamento de um
programa do Estado para a criação de emprego e por fim do alargamento das
funções do IAPMEI.

Tanto um programa como o outro são uníssonos na necessidade do controlo da


inflação. No entanto, a AD acredita que o controlo da inflação far-se-á através do
aumento da poupança e por sua vez do investimento, focando novamente a
necessidade de abertura dos mercados à iniciativa privada. Por outro lado, o Partido
Socialista acredita que a inflação só pode ser controlada através de uma política
monetária que promova a desaceleração do ritmo de desvalorização do escudo, a
continuação da política de enquadramento da expansão do crédito, o controlo do
défice, a manutenção do cabaz de compras, enquanto não for possível a sua
substituição por uma política de subsídios sociais proporcionais ao rendimento
auferido pelas famílias, o aperfeiçoamento do controle de preços, uma política de
rendimentos e por fim a redução de impostos sobre o rendimento pessoal.

No que concerne aos impostos ou à política fiscal, o Partido Socialista defende


uma profunda reforma fiscal145 que vise uma redução dos impostos sobre o
rendimento pessoal, e ainda a redução dos impostos profissional e complementar.
Esta reforma fiscal, segundo este partido político terá como base o imposto único
sobre o rendimento individual, o imposto único sobre as empresas e o imposto sobre o

144
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 23
145
(1979) Programa Eleitoral do Partido Socialista, pág. 13

108
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

valor acrescentado. A AD defende quer a redução dos impostos pessoais quer a


criação de estímulos ao investimento e ao trabalho. Podemos então concluir que
existe uma proposta aparentemente uníssona para a redução de impostos por ambos
os programas eleitorais.

O programa do PS só refere a política monetária que pretende prosseguir


quando aborda as questões da inflação e do investimento. Assim sendo admite uma
política monetária menos restritiva em relação à expansão do crédito, promovendo
desta forma a continuação de uma política de expansão de crédito 146, que se torna
possível através da Balança de Pagamentos. Como já havíamos referido antes,
propõe também o desaceleramento da desvalorização da moeda nacional, o escudo,
e por fim propõe a contenção do défice orçamental. A proposta da política monetária
apresentada pela AD em muito pouco difere da apresentada pelo PS. Na realidade o
enfoque dado pela AD na política monetária centra-se quase exclusivamente na
contenção orçamental, muito embora ao longo do programa tenha abordado questões
como a luta à evasão fiscal e a importância do crédito para o desenvolvimento
económico do país.

A esta altura deu-se início a uma aceso debate sobre a adesão de Portugal à
CEE. Tanto um programa como o outro fomentam a adesão à Comunidade Económica
Europeia, bem como a necessidade de proceder às negociações, por forma a que o
país pudesse beneficiar com a adesão à comunidade. Este aspecto também é visto
por ambos os partidos como uma oportunidade para revitalizar a agricultura
portuguesa.

II. FRS Vs AD 1980

Ambos os partidos parecem preocupados com o combate à inflação, a reforma


fiscal, o aumento no investimento e a diminuição do desemprego.

Em matéria salarial o discurso é divergente, o PS anuncia a intenção de


proceder a aumentos dos salários mínimo nacional, rural e das domésticas. O PSD
remete estes aumentos para o princípio da anuidade.

146
O que se deduz neste caso é que o crédito faria aumentar o consumo que por sua vez aumentava o PIB (Y =
C+I+G+NX) de C aumenta, Y aumenta.

109
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

A reforma fiscal tem diferentes abordagens, quer num programa quer no outro. O
PS enfatiza a reforma fiscal nos moldes do programa para as eleições em 1979,
inserindo no entanto a problemática dos impostos indirectos, nomeadamente o do IVA,
consequência da adesão de Portugal à CEE. A AD por seu lado continua predisposta a
proceder a uma redução dos impostos.

Os discursos divergem em relação ao papel do Estado na economia. Enquanto a


FRS defende um papel dominante do Estado com vista à redução do desemprego,
muito embora considere essencial uma política de maior crescimento da produção e
do investimento. A AD, por seu lado, acredita que será através do estímulo aos
mercados financeiro e de investimento que se poderá ultrapassar a questão do
desemprego, salientando a importância de dinamizar o sector público tornado-o
produtivo e rendível.

A adesão à CEE merece o apoio tanto da AD como da FRS. É considerada, por


ambos os candidatos às eleições legislativas, como um factor determinante para o
crescimento da economia portuguesa. Enquanto que a AD apresenta o seu apoio de
uma forma geral, a FRS defende a adesão apresentando desde logo um conjunto de
medidas que deveriam ser seguidas durante as negociações da adesão de Portugal à
CEE.

Ao nível da adopção de políticas de preços e rendimentos esta é apresentada


por ambos os candidatos. No entanto, a FRS propõe a adopção imediata desta
política uma vez que acredita que a inflação existente na altura tinha origem na Oferta,
na evolução dos custos e nas condições estruturais de formação de preços, e não na
Procura. A AD é um pouco mais modesta propondo um debate sobre a adopção de
uma política de preços e rendimentos com um horizonte temporal alargado.

III. PS Vs PPD/PSD 1983

A comparação das políticas económicas destes dois partidos políticos


portugueses, tem por base um programa eleitoral emanado tanto por um partido como
pelo outro. No entanto, o Partido Socialista apresentou um Manifesto programático
que, em comparação com o programa eleitoral do PPD/PSD, é mais descritivo e
pormenorizado. Acreditamos, ainda assim, ser possível proceder a uma análise

110
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

descritivo-comparativa das propostas de políticas económicas em programas


eleitorais.

Ambos os partidos políticos destacam a coexistência dos sectores de


propriedade, e qual o papel deles na economia portuguesa. Pela primeira vez, o PS
atribui ao sector privado um papel importante na modernização e no desenvolvimento
económico de Portugal e, em seguimento, afirma claramente que o sector público,
nomeadamente as empresas públicas, devem ser rendível e produtivo. O PPD/PSD
mantém esta linha de pensamento, que aliás já havia referido em programas eleitorais
anteriores a este.

Os sectores da agricultura e o seu correspondente desenvolvimento mereceram


destaque tanto num programa como no outro.

Em relação ao sistema tributário, o PPD/PSD propõe uma reforma fiscal com


sentido redistributivo e realista, o PS uma maior equidade fiscal. Parecem ambos
preocupados com a justiça da redistribuição dos impostos pagos pelos contribuintes.

A política de preços e rendimentos é novamente abordada pelo PS, não sendo


mencionada pelo PPD/PSD.

São também uníssonos em relação à necessidade de tomadas de decisão com


o apoio dos parceiros sociais, chegando mesmo o PPD/PSD a propor um contrato
social assim como a efectivação de uma política de consenso social alargada.

III. PS Vs PPD/PSD 1985

A reforma fiscal é novamente abordada. Desta vez o PS foca a questão dos


impostos indirectos, como é o caso do IVA, a questão do imposto sobre o rendimento
e da descida dos impostos sobre o trabalho e complementares. A reforma fiscal
apresentada pelo PPD/PSD visava a redução da carga fiscal sobre os rendimentos do
trabalho e capital de risco, o que era um incentivo ao investimento. Por outro lado
propunha-se a combater a evasão fiscal, e a proceder a uma revisão da tributação
para a Segurança Social.

111
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

O cooperativismo é novamente abordado por ambos os partidos políticos como


essencial para o desenvolvimento económico do país, especialmente no
desenvolvimento regional, devendo para tal ser apoiado.

No que concerne ao sector empresarial, o enfoque dado pelo PS é na


delimitação da sua área de actuação, devendo definir-se claramente qual o termo das
suas responsabilidades. O PPD/PSD pretende diminuir gradualmente o seu peso na
economia e desgovernamentalizar a gestão das empresas assim como responsabilizar
os gestores pelos resultados obtidos nas mesmas.

A importância da concertação é definida por ambos os partidos, ambos parecem


preocupados em obter a aprovação dos seus parceiros sociais nas decisões políticas
e económicas que pretendem prosseguir.

Ambos os partidos parecem estar de acordo quanto à necessidade de apoiar o


sector privado, acreditando ser este um motor de desenvolvimento económico do país,
nomeadamente porque pode permitir uma descida da taxa de desemprego.

A modernização do sector financeiro, bem como a aposta no mercado de


capitais, parece preocupar neste programa o PS, enquanto que o PPD/PSD propõe,
como aliás já havíamos verificado anteriormente, a redução dos impostos sobre os
rendimentos de capital.

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

CONCLUSÕES

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

O Plano é realçado por ambos os partidos como um instrumento económico


fulcral para o crescimento económico do país. Mais tarde adoptado como o Plano de
desenvolvimento económico, este acaba por, a partir de 1980, convergir nas políticas
económicas que se pretendiam prosseguir.

As divergências do discurso económico assumido pelos dois maiores partidos


políticos portugueses são muito mais acentuadas logo no pós-25 de Abril ....
EXPLICAR!!!!!. O Partido Socialista inicia com planeamentos económicos tipicamente
socialistas, com uma forte intervenção do Estado na economia. O PPD/PSD começa
desde logo a defender uma economia livre e concorrencial.

Nos programas de 1979 o discurso económico ainda diverge, mas nota-se uma
certa flexibilidade da parte do PS perante as nacionalizações, admitindo que muito
embora não tenha previsto mais nacionalizações também não havia previsto
privatizações. O PPD/PSD continua irredutível na questão do sector público e na
intervenção mínima do Estado na economia.

A partir dos programas de 1980 até 1985, o PS apresenta políticas monetárias,


que até aquela altura só havia referido indirectamente, em oposição ao PPD/PSD que
havia desde logo mencionado a política monetária que pretendia prosseguir.

Posições semelhantes tiveram ambos os partidos na necessidade de proceder a


uma reforma fiscal que visasse uma maior justiça na redistribuição fiscal. Tal já não
sucedeu com a política de salários que pretendiam prosseguir. Neste caso, o
PPD/PSD sempre demonstrou ser muito mais cauteloso que o PS.

É notório a atribuição da responsabilidade ao cooperativismo por ambos os


partidos no desenvolvimento regional, sendo praticamente e de uma forma quase
insistente, nos sectores agrícolas e de pescas.

A delimitação do sector empresarial público é também uma questão que


mereceu um discurso divergente até ao programa de 1979, tendo o PS a partir de
1980, optado por um discurso que visava a necessidade de promover a produtividade
e a rendibilidade das empresas públicas, aproximando-se assim do discurso elaborado
pelo PPD /PSD.

114
O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

O desemprego, tal como a inflação, são fenómenos económicos que


preocupavam ambos os partidos. No entanto enquanto o PS acreditava que a origem
da inflação era do lado da Oferta, e propunha medidas como o desenvolvimento do
sector público, aumentando o investimento público, por forma a criar emprego e como
tal aumentar a produção, o PPD/PSD propunha medidas para o desenvolvimento do
sector privado, estimulando o investimento privado e acreditando ser esta a forma de
ultrapassar o problema do desemprego e da inflação.

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O discurso económico do PS e PSD de 1976 a 1986 – Análise dos textos programáticos

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(1979), Programa Eleitoral de Governo – Aliança Democrática

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(1983) Manifesto – Eleitoral do Partido Popular Democrático / Partido Social


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(1982) Manifesto– Programa do Partido Socialista

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