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com fé!
O novo Portal Catolicanet,
lançado no mês de junho,
está ainda mais dinâmico e
interativo, permitindo a você,
internauta, acompanhar passo
a passo a vida da
Igreja Católica no Brasil
e no mundo.

Participe comentando notícias,


votando em enquetes,
en­viando mensagens e
sugerindo novos temas
para discussão.

www.catolicanet.com

Depois de longa espera e muitos pedidos, sai da gráfica o novo livro


da Infância e Adolescência Missionária – Subsídio para Assessores e
Coordenadores de grupos de crianças.
O livro, com 250 páginas (bem maior que os anteriores), traz novos e
mais numerosos temas, novas ilustrações, nova diagramação mas mantém
o mesmo método (quatro áreas integradas), mesmo carisma (formação
da consciência missionária universal) e mesmo preço (R$ 5,00).
Este subsídio substitui a série “Animando a Infância Missionária”, cujo
nível I atingiu mais de 100 mil exemplares impressos.

Informações e pedidos:
Tel.: (61) 3340.4494 (falar com Renato ou Conceição)
ou pelo e-mail material@pom.org.br
Pontifícias Obras Missionárias
SGAN 905 – Conj. B – Brasília
70790-050 - DF
EDITORIAL
SUMÁRIO
mês das missões outubro 2006/08

A
Campanha Missionária deste mês de outubro de 2006
tem como tema “A fé não tem fronteiras” e é inspirada
na vida de São Francisco Xavier, padroeiro das Missões,
no aniversário dos 500 anos do seu nascimento (1506-
2006). O conteúdo desta edição é um rico subsídio
para aprofundar o sentido desta fé sem-fronteiras e
nos preparar para viver este mês e o Dia Mundial das Missões, no
penúltimo domingo, 22.
1 - Deus criou o mundo
A origem da Missão se encontra em Deus que confia seu Plano sem fronteiras.
de Salvação a Cristo, no Espírito Santo. Partimos do batismo de Foto: Divulgação
Jesus. Ele marca uma passagem da vida oculta em Nazaré para a 2 - Dom Erwin Kräutler.
atividade missionária. Nele, Jesus recebe o Espírito Santo e dá início Foto: Jaime C. Patias
à sua missão (Mt 3, 13-17). Depois, numa sinagoga em Nazaré, Ele
apresenta o seu programa missionário citando o profeta Isaías (Is
40) “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para  MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a liberdade aos Cartas
cativos e aos cegos a recuperação da vista...” (Lc 4, 18-20). Na  OPINIÃO--------------------------------------------------05
sua atuação, Jesus revela um Deus cheio de compaixão e miseri- Após as eleições, qual o rumo do Brasil?
Pedro A. Ribeiro de Oliveira
córdia, que ama, cuida, cura e restabelece a vida com ternura. São
essas ações de Jesus que definem a sua Missão evangelizadora  FÉ E POLÍTICA--------------------------------------------06
- transformadora. Em sintonia com essa atitude de Jesus, o lema Compromisso público com a democracia
Humberto Dantas
da Campanha Missionária é: “Aproximou-se e Teve Compaixão”
(Lc 10, 33).  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
Ou nos salvamos juntos, ou não nos salvamos
Arquivo Missões

Jesus escolhe e cha- Rosa Clara Franzoi


ma discípulos para estar
com ele, formar comuni-  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
Notícias do Mundo
dade na unidade com o Fides / ZENIT
Pai e o Espírito (cf. Mc
3,13) e para os enviar  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
A fé rompe as fronteiras
até os confins da terra. Ramón Cazallas Serrano
Eles recebem do Mestre
a ordem de continuar a  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
Comunidade Missionária a serviço do Reino
mesma obra como Igreja, Luigi Prandin
comunidade de discípulos
 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------14
vocacionada para a Mis- Campanha Missionária 2006
são. Os que acolhem o Redação
Evangelho reúnem-se em
 MISSÃO HOJE-------------------------------------------19
comunidade e, pelo batismo assumem a obra de Jesus (At 2, 41). Muitos batizados, poucos missionários
Nesse sentido, quem aceita a sua mensagem, não pode guardá-la Joaquim Gonçalves
para si. A ordem é: “Ide, pregai a Boa Nova a toda criatura” (Mt 28),  DESTAQUE DO MÊS------------------------------------20
a todos os povos e culturas de todos os tempos. A Igreja sabe que A Caridade, Alma da Missão
as palavras de Cristo “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Carta de Bento XVI para o Dia Mundial das Missões
Deus”, tornam-se agora sua Missão. O Apóstolo Paulo, consciente  ATUALIDADE----------------------------------------------22
desta ordem chega a afirmar: “é um dever que me incumbe, e aí Retrato de Xavier
de mim, se eu não pregar” (1Cor 9, 16). Estêvão Raschietti
Com muita razão o papa Paulo VI, na Encíclica Evangelli Nuntian-  INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24
di, nº 13 afirma: “Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação Crianças em favor da vida!
própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para Roseane de Araújo Silva
evangelizar”. Assim, a comunidade cristã nunca pode permanecer  CONEXÃO JOVEM--------------------------------------25
fechada em si mesma. Missão é partir, deixar tudo e ir além das Dia Nacional da Juventude
Robério Crisóstomo da Silva
próprias fronteiras pessoais, comunitárias, culturais e geográficas,
para encontrar o outro, o diferente, o desconhecido. Jesus conclui  ENTREVISTA DOM ERWIN KRÄUTLER----------------26
sua Missão entre os discípulos dizendo: “vós sereis testemunhas de O risco da Missão numa terra sem lei
Jaime Carlos Patias
tudo isso” (Lc 24, 48). Portanto, somente seremos cristãos de fato
quando testemunharmos a vida e obra de Jesus. O missionário é uma  AMAZÔNIA-----------------------------------------------28
pessoa que vive uma fé sem-fronteiras, capaz de derrubar qualquer Religião e ecologia
Ricardo Castro
barreira geográfica, sociológica, religiosa, cultural ou humana. Na
sua mensagem para o Dia Mundial das Missões, o papa Bento XVI  Volta ao Brasil---------------------------------------30
Notícias do Brasil
nos recorda que "a caridade é a alma da Missão".  CNBB / CIMI

- Outubro 2006 3
Mural do Leitor
A no XXXIII - no 08 O utubro 2006 Revista Missões
Quanto ao conteúdo, a edição de Resposta da Redação:
Diretor: Jaime Carlos Patias setembro está muito boa. Mas, vou ser Obrigado pela observação que aco-
sincero: não gostei da capa. Ficou muito lhemos com apreço. A capa que inaugura
Editor: Maria Emerenciana Raia institucional - só aparece a Basílica e o uma série de artigos sobre a V Conferência
papa. Faltou Cristo e seu povo. Alguém quer mostrar quem a convoca: o papa, e
poderá argumentar: o papa representa o lugar onde ela se realiza: o santuário
Equipe de Redação: Joaquim F. Gon-
Cristo e o povo está na Basílica. Mas mariano de Aparecida. Com isso não dei-
çalves, José Tolfo e Rosa Clara Franzoi
partilho com vocês apenas este detalhe xamos de lado Cristo nem seu povo, que
que, talvez, não seja tão importante. Foi estão no centro do tema da V Conferência:
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
a sensação que tive ao ver a capa. “Discípulos e missionários de Jesus Cristo,
Lírio Girardi, Luiz Balsan, Roseane de
para que Nele os nossos povos tenham
Araújo Silva, Júlio César, Manoel Apa-
Castel Romero, vida”. A capa traz também o logotipo da V
recido Monteiro, Humberto Dantas, Via e-mail Conferência no qual Cristo é visível.
Ramón Cazallas, Luiz Carlos Emer,
Giovanni Crippa

Agências: Adital, Adista, CIMI,


CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA,
Missionária da Consolata é assassinada
Pulsar, Vaticano Irmã Leonella Sgorbati, 66 anos, mis-

Arquivo MC
sionária da Consolata que trabalhava em
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires um hospital pediátrico, foi assassinada
no dia 17 de setembro, em Mogadíscio,
Jornalista responsável: capital da Somália, por homens armados.
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) Segundo testemunhas a religiosa foi socor-
rida no hospital e antes de apagar como
Administração: Eugênio Butti uma vela, em três ocasiões ela repetiu:
"perdôo, perdôo, perdôo".
Sociedade responsável: Para dom Giorgio Bertin, bispo de
Instituto Missões Consolata Djibuti e Administrador Apostólico de Mo- 1985, tornou-se professora principal na
(CNPJ 60.915.477/0001-29) gadíscio, o assassinato de Irmã Leonella escola de enfermeiras do hospital Meru
deve ser visto no atual contexto da situação de Nkubu. Em 26 de novembro de 1993,
Impressão: Edições Loyola da Somália, que viu surgir, nos últimos foi eleita superiora regional das irmãs no
Fone: (11) 6914.1922 tempos, um forte aumento da tensão Quênia, função que desempenhou por
em relação ao Ocidente e aos cristãos. 6 anos. Em 2001, Irmã Leonella passou
Colaboração anual: R$ 40,00 “Na Somália, está em andamento uma vários meses em Mogadíscio, para verificar
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 luta de poder na qual a religião é instru- a possibilidade de criar uma escola de
Instituto Missões Consolata mentalizada”, afirmou monsenhor Bertin. enfermagem no hospital administrado pela
(a publicação anual de Missões é de 10 números) Recentemente, as mesmas irmãs foram ONG SOS Village. Em 18 de abril de 2002,
alvo de sequestros e atentados. O xeque iniciaram-se os primeiros cursos da escola
Muktar Robow, vice-chefe da segurança profissional, cujos alunos se diplomaram
Missões é produzida pelos
das Cortes Islâmicas, que controlam Mo- em 2006. Em agosto passado, depois de
Missionários e Missionárias da Consolata
gadíscio, condenou sem meios-termos o vários trâmites burocráticos, Irmã Leonella
Fone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP
crime, definindo-o como um ato “bárbaro conseguiu obter para seus alunos o diplo-
(11) 6231.0500 - São Paulo/SP
e contrário aos ensinamentos do Islã”, e ma internacionalmente reconhecido pela
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR
comprometendo-se a descobrir e punir Organização Mundial da Saúde.
os responsáveis”. Irmã Leonella Sgorba- A sua missão terminou no hospital onde
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa ti, batizada Rosa, nasceu em Gazzola, tantas vezes cuidou e consolou numerosos
Missionária Latino-Americana) e da UCBC Piacenza, Itália, em 9 de dezembro de pacientes. Mulher de coração grande,
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) 1940. Em maio de 1963, entrou para a missionário e alegre, espalhava conso-
Congregação das missionárias da Con- lação e ajuda à sua volta, numa cidade
Redação solata em San Frè, Cuneo, e fez os votos privada dos serviços públicos fundamen-
Rua Dom Domingos de Silos, 110 perpétuos em novembro de 1972. Depois tais. A organização “SOS Children”, onde
02526-030 - São Paulo da escola de enfermagem na Inglaterra trabalham as missionárias da Consolata,
Fone/Fax: (11) 6256.8820 de 1966 a 1968, foi enviada, em 1970, é muito prestigiada em toda a Somália.
Site: www.revistamissoes.org.br ao Quênia. De 1970 a 1983, serviu nos É neste hospital que nasce a maior parte
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br hospitais da Consolata em Mathari, Nyeri das crianças de Mogadíscio, quase todas
e Nazareth, na periferia de Nairóbi. Em nos braços das irmãs.

4 Outubro 2006 -
Após as eleições,

OPINIÃO
qual o rumo do Brasil?
Robert Atanasovski
Os movimentos sociais terão papel decisivo nos
próximos quatro anos. Ou o Brasil caminha para
efetivar a democracia, transferindo riqueza e
renda dos mais ricos para os mais pobres, ou a
eleição presidencial de 2010 terá como marca o
desespero dos pobres.
Eleitores aguardam na fila a vez de votar.
de Pedro A. Ribeiro de Oliveira em torno às medidas de resgate da dívida social e de construção
de uma nação soberana. Reeleito, Lula terá a oportunidade de

A
provar sua vontade política de democratizar a sociedade brasi-
pesar de sua despolitização, estas eleições fizeram leira, operando mudanças também na política econômica, pois
avançar o processo de construção da nação brasileira, enquanto não superarmos a desigualdade sociocultural e eco-
reafirmando a necessidade da democratização do país nômica implantada pelo domínio colonial escravista, não haverá
pela redução das desigualdades sociais e regionais, a desenvolvimento nacional. É evidente que isso não depende
eliminação da fome e do analfabetismo e a soberania apenas do presidente da República, mas sim do incentivo que
nacional. Esse projeto se dá em sintonia com o de ele tiver da sociedade para enfrentar o poderoso lobby finan-
outros povos latino-americanos, que - apesar dos esforços em ceiro. Lula deve ser apoiado quando atender as reivindicações
contrário dos EUA - buscam a integração econômica e cultural populares – como fez em seu primeiro governo ao barrar as
apoiada numa estratégia de longo prazo para o controle dos estatizações, a ALCA e a base dos EUA em Alcântara, ao orientar
recursos energéticos, e não apenas interesses comerciais ime- a política externa pela soberania e solidariedade com os povos
diatos. O entendimento entre Chávez, Kirchner, Morales e Lula pobres, ao aumentar o PRONAF (Programa de Fortalecimento
forma o núcleo desse plano de integração regional. da Agricultura Familiar), e tomar outras medidas políticas em
Esse projeto de construção da Nação quer superar o antigo favor do desenvolvimento nacional. Mas, deve ser criticado pela
projeto colonial escravista, implantado desde o século XVI e ainda subserviência de sua política econômica ao capital financeiro. As
vigente. Nele, os modernos herdeiros da casa-grande dominam lutas sociais não devem diminuir quando contrariam o governo,
a população oriunda das senzalas (hoje nas favelas e periferias como têm sido as lutas pela reforma agrária, pelos direitos dos
urbanas), porque detém o controle da terra, dos capitais, do poder povos indígenas e quilombolas, na questão ambiental (contra os
político e da cultura oficial. Seu poder, contudo, nunca contraria transgênicos, o “deserto verde” e o desmatamento da Amazônia),
os interesses da metrópole - que deixou de ser Portugal para ser e em favor dos direitos sociais (contra a precarização dos direitos
os EUA e as grandes empresas transnacionais, principalmente trabalhistas, a privatização da seguridade social).
as financeiras e comerciais. Os movimentos sociais terão papel decisivo nos próximos
Os movimentos sociais são os principais portadores desse quatro anos. Ou o Brasil caminha para efetivar a democracia
projeto de mudança de caráter estrutural, onde a fratura entre transferindo riqueza e renda dos mais ricos para os mais pobres
uma elite privilegiada e uma enorme massa despossuída - que (isso implica não só prioridade às políticas sociais, mas também
só se reconhecem como uma mesma nação durante a copa reforma agrária e reforma tributária), ou a eleição presidencial
mundial de futebol – dê lugar a um povo de cidadãos e cidadãs de 2010 terá como marca o desespero dos pobres: se Lula não
igualmente sujeitos a direitos e deveres. der conta de atender seus anseios por equidade e justiça social,
quem o fará? Terá ainda credibilidade o projeto de se construir
Processo de democratização uma Nação justa, pacífica, ecologicamente harmoniosa, dentro
Com acertos e erros, o PT é parceiro desse processo de dos parâmetros da democracia? Este é o desafio da realidade
democratização do Brasil, trazendo os pobres à vida política atual a todos os que anunciam um "outro mundo possível". 
pela valorização das bases populares. Isso ficou evidente na
Constituinte de 1988, quando se aglutinou o campo democrático Pedro A. Ribeiro de Oliveira é membro do Iser-Assessoria e do movimento Fé e Política.

- Outubro 2006 5
Compromisso público
fé e política

Jaime C. Patias
com a democracia
Investir em educação é formar cidadãos conscientes de
seu papel social e político.

de Humberto Dantas Educação para a política


Uma vez concretizados tais desafios, teremos a oportuni-

O
dade de dizer que o Brasil caminha no sentido da efetivação do
Ministério da Educação tornou obrigatórias as disci- verdadeiro sentido da palavra democracia. O termo, ao longo
plinas de Filosofia e Sociologia no Ensino Médio, em dos séculos em que é debatido pela filosofia política, é visto
agosto passado. A medida entra em vigor em um ano, sempre como sinônimo de participação e educação. O primeiro
ou seja, efetivamente teremos tais conteúdos a partir quesito nós já atendemos, ao permitir que quase 70% de nossa
de 2008. Tais práticas já são garantidas no Ensino população esteja inscrita nos cadastros eleitorais do país. O
Superior, mas essa característica é extremamente segundo está muito distante de ser concretizado. Será essa a
negativa por dois motivos: primeiro porque parte expressiva oportunidade a longo prazo?
dos alunos que chega às faculdades sem um preparo anterior Aproveitando a oportunidade oferecida pelo Ministério da
demonstra um enorme desinteresse em discutir a sociedade; Educação, emerge o grande desafio dos educadores. Que conteú­
segundo porque o percentual de jovens que chega às faculdades do será oferecido em tais disciplinas? Que tipo de reflexão nós
é muito pequeno diante do enorme volume de brasileiros que pretendemos? Esse é o momento de explicarmos, por exemplo,
demanda esse conteúdo e reflexão. Assim, incluídas no Ensino os princípios fundamentais da democracia e as regras básicas
Médio, essas duas disciplinas podem se tornar um diferencial dos processos eleitorais. Isso seria o mínimo, principalmente se
importante na formação de nossos cidadãos, ampliando a lembrarmos que durante 52 anos – dos 18 aos 70 – os eleitores
abrangência da disseminação. votam compulsoriamente. O grande cuidado, nesse caso, é garantir
A despeito da relevância do tema, parece existir uma distância um professor neutro e uma educação suprapartidária. No sentido
imensa entre a garantia dessas disciplinas e a qualidade do ensino. de alcançarmos esse desafio, o envolvimento da Igreja Católica
Sabemos, por exemplo, que nos últimos anos inúmeros governos é fundamental. Primeiro para que possamos refletir tal ensino
se orgulham em dizer que o número de analfabetos adultos no país nas milhares de classes do Ensino Médio sob a responsabilidade
tem diminuído. Mas se esquecem de esclarecer que alfabetizado, das instituições religiosas. Segundo porque a experiência dos
muitas vezes, é o sujeito que apenas “desenha” o próprio nome. inúmeros grupos de Fé e Política, e da CNBB de uma maneira
Nas olimpíadas mundiais de matemática nossos resultados são geral, pode servir de base para a disseminação de um conteúdo
vergonhosos, e pesquisas mostram que entre dois terços e três preocupado fundamentalmente com os valores essenciais para a
quartos dos brasileiros não sabem sequer ler e escrever uma consolidação desse ensino. Os últimos mandatos e esses que se
carta simples de uma página. Diante de tais problemas, é possível iniciam em 2007 ainda refletem e refletirão sérios problemas de
entender que a distância entre garantir crianças nas escolas e um país que, enquanto não envolver seus cidadãos em sólidas
formar cidadãos conscientes é abismal. E o mesmo se aplica à políticas de educação, viverá uma imensa crise moral. 
implementação de Filosofia e Sociologia nas escolas: garantir a
disciplina é muito diferente de formar sujeitos críticos capazes de Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo e coordenador
compreender e agir sobre nossa realidade social. de cursos de Formação Política na Região Episcopal Lapa e na Diocese de Osasco, SP.

6 Outubro 2006 -
Ou nos salvamos juntos

pró-vocações
ou não nos salvamos
de Rosa Clara Franzoi

Importante não é fazer o que

C
omo o mês de outubro é dedicado às Missões, este se gosta, mas gostar do que
nosso papo será sobre vocação missionária, aquela
que se recebe no batismo. Se você é batizado, a
tem em seu coração, mesmo que não saiba direito
se faz. (Lair Ribeiro)
o que isto implica em sua vida. Todo cristão é mis-
sionário. Guarde bem esta afirmativa. O que é então
ser missionário? coloca-se inteiramente a serviço Dele, na Igreja, assumindo o
Num ônibus, sentadas uma ao lado da outra, duas senhoras compromisso de viver, testemunhar e anunciar a todos, Jesus
começam a conversar. A primeira se apresenta: “Meu nome é e o seu Evangelho. Faz isto através do testemunho de vida e
Marina, sou advogada e moro em Sorocaba”. A segunda faz da palavra, em casa, na escola, no trabalho, na comunidade,
a mesma coisa: “Meu nome é Neide, sou de São Paulo, mas entre os amigos; é aquele ou aquela que, não só anuncia, mas
moro em Moçambique, na África, sou missionária”. Como quem também tem a coragem de denunciar tudo o que é uma ameaça
não entendeu bem, Marina diz: “Ah, sei, missionária... dessas para a vida das pessoas, porque Jesus veio ao mundo “para
pessoas que andam pregando por aí... que batem na porta das que todos tenham vida” (Mt 10, 10).
casas e ficam falando de Jesus e curam as pessoas? É isso?
Você deve ser evangélica, não é?” Sorrindo, Neide responde: Missionários e missionárias além-fronteiras
“Não, eu sou católica. Você nunca ouviu dizer que também a Dentre os cristãos, Deus escolhe alguns homens e mulhe-
Igreja Católica envia missionários a outros países, para o trabalho res, para enviá-los além-fronteiras. Eles ou elas deixam família,
de evangelização? amigos, pátria e, depois de preparados, vão àqueles lugares do
De fato, parece que não está claro na mente de muitos ca- mundo, onde Jesus e o seu Evangelho ainda não são conhecidos,
tólicos o verdadeiro sentido das palavras missão e missionário. onde a Igreja ainda não alcançou a maturidade cristã. Eis porque
Temos aí um exemplo: Marina, diz que é advogada e tudo fica Neide disse à Marina que era paulista, mas estava morando em
claro. Neide, diz que é missionária, e logo se cria uma grande Moçambique. Isto acontece, porque Deus se preocupa com o
confusão na cabeça da Marina. Isto também acontece, porque ser humano. Ele quer que todos conheçam os ensinamentos de
hoje, há uma inflação de gente que se diz missionária. Em seu Filho Jesus e se salvem. Vejam, a Igreja pode até ficar sem
qualquer esquina, encontram-se pessoas falando de Jesus e templos; mas nela não pode faltar quem repita continuamente:
muitas vezes o fazem de maneira tão exaltada e fanática, que “Ide, pelo mundo e pregai o Evangelho a todas as nações. Ide,
acabam desfigurando-O. Lembram ainda daquela afirmação e tornai meus discípulos todos as povos” (cf. Mc 16, 15-16).
do início: todo cristão é missionário? O missionário é portanto,
o cristão, a cristã que, respondendo a um chamado de Deus, Antena e formiga
O cristão missionário pode ser comparado a uma antena,
sempre atento, captando os gritos e as necessidades dos ir-
Quer ser um missionário/a? mãos, próximos ou distantes e alertando as pessoas, para que
possam reverter as situações de sofrimento. Não se liberta o
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli Brasil, se nada se faz também para libertar a África; não se salva
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui o Nordeste, se não se socorre também os pobres da Ásia, da
02611-001 - São Paulo - SP Oceania... Ou nos salvamos juntos, ou não nos salvamos, porque
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br ninguém se salva sozinho. O missionário também é comparado
a uma formiga, dessas graúdas, que picam. Quando percebe
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. Manoel A. Monteiro (Néo) que a Igreja, os fiéis da comunidade começam a se acomodar,
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP a pensar só em si mesmos, a não responder ao trabalho de
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br evangelização, uma picada será salutar para acordar todo
mundo e recomeçar. Sejamos antenas e formigas e em nossas
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda comunidades se multiplicarão os evangelizadores. Leia 1Cor
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 9,15-16 : “Ai de mim se não evangelizar”. 
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br
Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.

- Outubro 2006 7
Na paróquia de Yu Ci, na diocese de Jin Zhong, provín-
cia de Shan Xi, realizou-se a 4ª edição do curso para
catequistas. A paróquia de Qing Gao, na diocese de
Zi Bo, província de Shan Dong, promoveu o primeiro
Congresso Missionário de sua história recente, “O
chamado da vida”. Este evento despertou uma maior
consciência missionária entre os paroquianos, os
fiéis estão entusiasmados e aprenderam “como ser
amigos do Senhor”, compreenderam a importância
da Missão e agora, estão “conscientes do sentido da
responsabilidade missionária”. Demonstraram coragem
ao “pregar e apresentar Jesus aos outros”.

Angola
Mortalidade infantil
Segundo o relatório anual do Fundo da ONU para
a população, o índice de mortalidade infantil em Angola
está em 133 crianças mortas para cada mil nascidas.
Os outros dois países africanos de língua oficial por-
tuguesa (PALOP), Guiné-Bissau e Moçambique, pos-
VOLTA AO MUNDO

Roma suem índices de respectivamente 114 por mil e 94 por


Evangelização da América Central mil. Segundo o documento do organismo das Nações
Os bispos da América Central se mostraram muito Unidas, nas regiões menos desenvolvidas, o índice de
gratos à Congregação para a Evangelização dos Povos, mortalidade infantil é de 59 por mil, na média, enquanto
pela oportunidade de participar de um Seminário de nas regiões mais desenvolvidas, o dado oficial é de 7
estudos para bispos recém-nomeados. "Este Seminário por mil. Também um estudo de Médicos Sem-Fronteiras
foi muito importante para todos nós que somos bispos, (MSF), lança o alarme para a situação dos nascituros
alguns apenas há três meses" - afirmou dom Luís em Angola. De acordo com o estudo, de janeiro a abril
Solé Fa, C.M., bispo de Trujillo, Honduras. "Para mim, de 2006, em Xa-Muteba, na província de Lunda Norte,
este Seminário possibilitou compartilhar experiências, o índice de mortalidade entre crianças menores de 5
resultados, dificuldades com outros bispos... Saber anos alcança 2,8 por dia, em cada 10 mil. “Este índice
como os outros resolvem os mesmos obstáculos é de é cerca de três vezes mais elevado do que os níveis
grande riqueza para todos, e nos ensina muito". Dom médios, registrados nos países em desenvolvimento”
Solé assinalou quatro problemas e prioridades princi- - destacou MSF em um comunicado. Cerca de metade
pais de sua diocese: "a falta de vocações sacerdotais das mortes é causada pela malária.
e religiosas, as questões do tipo social, que atingem
toda a América Central, a pobreza e a corrupção". Em Líbano
Honduras, o narcotráfico está se apoderando do país. Caritas atua na reconstrução
"Enfrentamos alguns problemas indiretamente provo- A Caritas Internationalis se prepara para realizar
cados pela pobreza, como quando ocorrem temporais significativas intervenções humanitárias no Líbano,
ou furacões. Temos também o grande problema da após os 34 dias de guerra contra Israel, interrompidos
corrupção". O fato de estar em dioceses consideradas com o cessar-fogo de 14 de agosto. Com tal objetivo,
missionárias - concluiu dom Solé - "nos coloca diante uma delegação composta por diversos membros de
de dificuldades e situações que nos obrigam a viver de Caritas nacionais, realizou uma visita ao território.
modo especial, diferente de outras dioceses". Estavam presentes representantes da Inglaterra e
Gales (Cafod), França (Secours Catholique), Áustria,
China Luxemburgo, Alemanha, Itália, Irlanda (Trocaire) e
Catequistas e Evangelização Estados Unidos (Catholic Relief Service), que falaram
“Os leigos, e, sobretudo, os catequistas, são pro- com os voluntários já presentes no território, com os
tagonistas da evangelização, e assim, sua formação refugiados e com as autoridades locais.
é fundamental para a Missão” - afirma padre Liu Ya A equipe da Caritas visitou Baalbek, Saidon, Mar-
Jing, da diocese de Zhu Ma Dian, na província de jeyoun, Bent Jbail e numerosos vilarejos, encontrando
He Nan, que recentemente liderou 40 catequistas, a população local e líderes da sociedade civil. O grupo
aprofundando e melhorando sua formação. Os temas vai avaliar as áreas onde dispor contribuições mais
apresentados aos catequistas abordaram os sacra- urgentes para a reconstrução. Os agentes tomaram
mentos, o catecismo, a Sagrada Escritura, a Moral e conhecimento de como os refugiados, uma vez em
a Música Sacra. Os participantes tinham idades entre casa, encontraram suas habitações danificadas ou
20 e 50 anos, boa preparação cultural, e uma vasta destruídas, assim como as infra-estruturas (pon-
atividade na vida paroquial. Em preparação ao Dia tes, estradas, aquedutos). O trabalho principal da
Mundial das Missões, várias dioceses promoveram Caritas Líbano é ajudar a reintegração das famílias
cursos e outras iniciativas para a formação dos leigos desabrigadas, contribuindo principalmente para a
e catequistas, com o fim de “esclarecer a missão da reparação ou reconstrução das casas e para a plena
evangelização”. Na paróquia de Wu An, da diocese ativação das escolas. Atualmente, são mais de 4.000
de Han Dan, província de He Bei, cerca de 400 fiéis as famílias assistidas. 
ouviram com atenção sacerdotes e religiosas enviados
especialmente de outras comunidades, para as aulas. Fontes: Fides, Zenit.
8 Outubro 2006 -
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
Para que a celebração do Dia Mundial

Arquivo MC
das Missões incremente em toda
a parte o espírito de animação e
cooperação missionária.
de Vitor Hugo Gerhard

J
á olhamos este tema em outras ocasiões. Mas, não custa
lembrar alguns aspectos importantes para a dimensão
missionária de toda a Igreja. A animação missionária e
a cooperação missionária devem caminhar juntas com a
coordenação e a formação, pois são os quatro eixos que
a tornam dinâmica. Vejamos cada um deles em particular.
Irmã Mary Agnes Njeri Mwangi, do Quênia, com os yanomamis no Catrimani, RR.
A Coordenação da Ação Missionária: Coordenar é “pôr as
coisas numa determinada ordem”, com a ajuda dos irmãos e das Deixar de formar agentes para a Missão por um ano, pode sig-
irmãs. O ministério da coordenação, assim como é entendido nificar a perda de muitos anos logo depois. Os fenômenos do
nos tempos de hoje, requer o princípio da subsidiariedade, do neo-pentecostalismo e do ateísmo prático, em todas as camadas
planejamento participativo e de uma adequada compreensão sociais, parecem estar a nos dizer que é necessário preocupar-
dos fins a que se destina. Ao menos por isso, a dimensão mis- se seriamente com a formação.
sionária da ação evangelizadora requer e exige uma equipe de A Cooperação entre as Igrejas: Não faz muito tempo que
coordenação, capaz de levar adiante propostas e projetos em os cristãos em geral e as Igrejas Diocesanas em particular, acor-
seu campo específico. daram para a cooperação missionária. Vários são os projetos
A Animação Missionária: Jesus reunia multidões e pe­­­­ neste sentido (Igrejas-Irmãs, Missão além-fronteiras...). Apesar
que­nos grupos com a finalidade de animá-los na vivência do de pouco expressivo o número de missionários brasileiros no
Evangelho. Se é verdade que vivemos em tempos de motivação exterior cresceu. Hoje são 1857. O deslocamento de pessoas e
mais de tipo vivencial e emocional, e que as pessoas não reagem comunidades para a Amazônia e a Região Nordeste também se
mais apenas pelo convencimento intelectual, então a animação verificou. A superação do conceito de territorialidade das Províncias
missionária é uma necessidade. Animar nossos agentes, nos- religiosas ajudou em muito para a diáspora e para a inserção da
sas comunidades e os cristãos em geral, parece fazer parte do vida consagrada. Entretanto, ainda recebemos mais dos fundos
espírito religioso baseado na opção e não na obrigação. Nossas financeiros da Congregação para a Evangelização dos Povos do
opções precisam ser provocadas, vez por outra. que recolhemos na coleta missionária realizada em outubro. Nosso
A Formação para a Missão: Uma das descobertas mais gesto de partilha, quando se refere ao dinheiro para ajudar na
desconcertantes que fizemos recentemente é de que a formação ação missionária de toda a Igreja, ainda está longe de expressar
religiosa da nossa gente não foi suficientemente sólida como a generosidade e sensibilidade tão típicas do povo brasileiro. 
desejaríamos. A formação inicial, o aprofundamento da fé e a
formação permanente requerem sempre mais grandes esforços. Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.

Solidariedade evitará imigração massiva

A
Santa Sé considera que é necessário criar uma “onda da ditadura da pobreza. Os muros não os deterão”, assegurou.
de solidariedade” a favor dos países menos desenvol- “Por seu bem e pela prosperidade de todos nós, os países mais
vidos, que entre outras coisas ajudará a evitar que seus desenvolvidos devem pôr em prática políticas efetivas para que
cidadãos se vejam impulsionados a abandonar sua terra os cidadãos dos países menos desenvolvidos decidam livremen-
em busca de futuro melhor. Assim explicou o arcebispo te permanecer em suas casas, onde possam obter emprego e
Celestino Migliore, observador permanente da Santa Sé nas condições de vida que possam definir como realmente dignas”.
Nações Unidas, ao intervir no dia 18 de setembro em Nova York Desta forma, pediu que fossem tomadas providências “para o
na reunião para a revisão global a médio prazo da realização do rápido e total cancelamento da dívida externa dos países menos
Programa de Ação para os Países Menos Desenvolvidos (BPOA) desenvolvidos, junto com medidas que assegurem que esses
durante a década 2001-2010. “Há vinte anos, a opinião pública países não caíam novamente na dívida insustentável”. Pediu
ficou comovida com quem arriscava suas vidas saltando muros também “um investimento massivo de recursos na pesquisa e
que os aprisionavam nos regimes ditatoriais”, recordou o prelado. desenvolvimento de medicamentos para a AIDS, malária, tuber-
“Hoje, milhões de pessoas arriscam as suas vidas escapando culose e outras enfermidades tropicais”. Fonte: Zenit

- Outubro 2006 9
A fé rompe
espiritualidade
Divulgação

“...vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para


toda a humanidade”. (Mc 16, 15)
de Ramón Cazallas Serrano
“...vão e façam com que todos os povos se tornem
meus discípulos”. (Mt 28, 19)
“... no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos

N
o final dos Evangelhos sinóticos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”. (Lc 24, 47)
aparece o mandato missionário
de Jesus com três palavras
expressivas que indicam os Um mundo sem-fronteiras humanidade, encarnando-se, assumindo
destinatários e a geografia No início do primeiro livro da Bíblia a própria natureza humana, deu a vida
da missão dos Apóstolos. São vemos a Criação do mundo, do homem por todos, não se limitou a um povo, uma
elas: humanidade, povos e nações. Cada e da mulher. Deus os criou para cresce- raça ou religião. No momento da última
uma encerra implicitamente o conceito de rem e multiplicarem-se pelo mundo que Ceia, quando deixou o seu testamento,
“todo o mundo”, todos os povos e raças ele havia feito e que era “muito bom”. poucas horas antes de morrer, pronun-
devem ser alcançados pela pregação de Podiam se servir de tudo e deram nome ciou as palavras sobre o pão e o vinho
Jesus, os Apóstolos devem chegar até aos animais e às plantas como sinal para que deles todos se alimentassem.
os confins do mundo. Se começarem da sua superioridade sobre eles. Uma “Tomai e comei todos..”, “...o corpo que
por Jerusalém, devem terminar onde superioridade que não era de domínio será entregue por vós e por todos”. “To-
encontrarem as últimas pessoas. Ou indiscriminado, mas, de serviço recíproco. mai e bebei todos...”, “...o sangue que
seja, o projeto de Jesus é sem-fronteiras Assim a raça humana estendeu-se: “cres- será derramado por vós e por todos”.
e a este projeto são chamados todos os çam e se multipliquem”, foi a ordem de Jesus, circunscrito a uma nação e cultura
homens e mulheres. Deus. Quando Deus veio ao encontro da determinadas, no supremo momento da

10 Outubro 2006 -
as fronteiras
sua vida se entrega por todos, supera as aos outros dizen-

Jaime C. Patias
fronteiras da própria raça e abre o amor do: “Esta noite
para todos, um amor universal que quebra temos o vento
as barreiras humanas. da meia-noite”
e nesta mesma
As fronteiras são humanas noite, as cercas
Deus criou um mundo aberto a todos, caem pela união
mas os seres humanos fizeram dele “par- e coragem de
celas” nascidas do egoísmo: para melhor muitos que se
dominar, para possuir mais, para repartir organizam para
o poder entre poucos foram colocando que caíam. Gos-
fronteiras pequenas ou grandes que se to de pensar que
distribuíam sempre entre os mais fortes o Espírito Santo
e poderosos. Até povos com a mesma é esse vento da
cultura, língua e costumes foram separados meia-noite que
pelas barreiras das fronteiras. Pensemos vai derrubando
nas grandes povos da África, sacrificadas as fronteiras
pelos poderosos quando nasceram os (cercas) cons-
novos Estados modernos. truídas pelas
O mundo de hoje vive as suas contradi- mãos humanas. Por um Mundo sem fronteiras. 26º Encontro do Comire Sul1 CNBB, Lavrinhas, SP.
ções, anulando fronteiras antigas, mas, ao Em Pentecostes quando o Espírito abriu que no nosso continente latino-americano,
mesmo tempo criando outras. Pensemos as portas e as janelas do Cenáculo que em nome de Jesus, quebrou as fronteiras
na globalização e no neoliberalismo. As os mesmos Apóstolos trancaram com criadas pelos colonizadores: contra a in-
suas ofertas vão criando novas fronteiras segurança por medo dos judeus, esse justiça, a dignidade humana dos índios e
entre ricos e pobres. Ainda mais, vão cons- Espírito os empurrou para o Templo e para a prepotência dos europeus. Poderíamos
truindo muros de bem-estar e consumo as praças a anunciar com coragem que continuar enumerando outros homens e
que os pobres nunca poderão alcançar. Jesus era o Senhor. E é interessante ler mulheres que pela sua fé em Jesus não
Pensemos no nosso pequeno mundo: o capítulo segundo dos Atos do Apóstolos pararam de levar o Evangelho aos mais
quantas cercas de arame são colocadas para ver quantas raças, povos e línguas distantes, vivendo iluminados pelo Espírito
pelos fazendeiros para protegerem as derrubaram as suas cercas para que a para que todos se sentissem amados por
suas terras evitando que outros entrem? mensagem de Jesus circulasse livremente Deus e seus irmãos. O Dia Mundial das
Quantos títulos falsos de propriedade são nas suas vidas. Missões que celebramos no penúltimo do-
necessários para se assegurar o bem que Temos homens e mulheres que, es- mingo de outubro é uma data para que nós,
pertence a outros? A terra é de Deus e de colhidos pelo Espírito, dedicaram suas cristãos, analisemos a nossa fé, a nossa
todos os seus filhos. vidas a derrubar as fronteiras humanas: força. Pensemos nas fronteiras que temos
E todos os sistemas colocam as suas Paulo de Tarso abriu o Evangelho de nas nossas comunidades e igrejas e aos
fronteiras: na saúde, na educação, na Jesus para todos os “pagãos”. Na sua poucos vamos criando essa fraternidade
política... e não deixam atravessar os profunda fé teve que derrubar tantos universal que Cristo trouxe. Olhemos para
milhões que estão do outro lado. Quantos prejuízos instaurados pela sociedade e a nossa fé e a nossa caridade e todos
jovens do ensino público têm acesso à religião judaica contra os que não eram seremos agentes de um mundo melhor.
universidade? Qual é a distribuição dos do povo de Deus. Foi o grande Apósto- Escrevo estas reflexões no dia em que
médicos no Brasil? E poderíamos seguir lo missionário da Igreja nascente. São Irmã Leonella, missionária da Consolata foi
enumerando outros campos ou situações Francisco Xavier foi outro apaixonado assassinada em Mogadíscio, na Somália.
onde claramente as barreiras, as frontei- pelo amor de Cristo que deu a própria O seu martírio quebra as fronteiras de um
ras ou as cercas impedem que a pessoa vida pelos irmãos. O missionário maior mundo injusto e fanático. A sua vida foi
humana caminhe mais livremente pelo de todos os tempos foi um inconformista entregue aos mais pobres e ela preferiu
mundo de Deus, que é o seu mundo. da fé. Hoje pode nos parecer uma loucura ficar com eles, mesmo sabendo que corria
as viagens que realizou para pregar o riscos. Que o seu sangue possa ser uma
O Espírito derruba as Evangelho a todos. De ilha em ilha com trombeta que toca tão forte, derrubando
fronteiras pouca bagagem, só a sua fé em Jesus os grandes muros que existem em tantos
Em algumas partes do Nordeste, quando ia evangelizando os mais afastados. A “Jericós de hoje”. 
os trabalhadores rurais sem-terra querem sua vida e a sua obra traçam as vidas de
derrubar a cerca de arame de alguma muitas pessoas no ideal missionário. Frei Ramón Cazallas Serrano é missionário e diretor do Centro
fazenda não-produtiva, passam à voz uns Bartolomeu de las Casas foi outro homem Missionário José Allamano em São Paulo.

- Outubro 2006 11
Comunidade Miss
testemunho

a serviço do Reino
de Luigi Prandin

Fotos: Arquivo Pessoal


A
ntes da fundação, foi necessário
percorrer um caminho pessoal,
de atenta busca e de um sério
discernimento da vontade de
Deus, feito em oração e escuta.
Vindos por caminhos diferentes,
Maria Luigia e eu, ao nos encontrarmos
pela primeira vez, percebemos logo uma
profunda unidade de pensamento e desejos
de comunhão que, nos anos sucessivos,
se revelou num comum chamado de Deus
para dar início à Comunidade Missionária.
Nos anos 80, começou a formar-se ao
nosso redor um grupo de jovens com muita
vontade de se doar a Deus na prática da
radicalidade evangélica. Começamos com
eles um caminho de profunda vivência da
Palavra de Deus no dia-a-dia e na partilha Maria Luigia Corona e padre Luigi Prandin com um grupo de jovens.
das experiências vividas, colocando em
comum os bens materiais e espirituais. A espiritualidade da dimensão, é a escolha radical de viver
Através da nossa comunhão, queríamos Comunidade e servir o Reino de Deus num confiante
anunciar a todos e, em particular aos mais Costumamos sintetizar o nosso Caris- abandono à Providência. Depositamos
pobres, o amor da Trindade. Era esta ma, referindo-nos a três dimensões que tudo nas mãos da Providência, na con-
a experiência de um grupo de homens são inseparáveis: Comunidade, Missão vicção de que ela é uma Pessoa Viva e
e mulheres, que aceitavam o desafio Ad Gentes e Fé na Providência. O nosso renunciamos às seguranças humanas das
radical do Evangelho. Dia 7 de novem- primeiro empenho é a vivência comunitária. quais gozávamos. Confiando totalmente
bro de 1980, mesmo com um pouco de Estar juntos, procurando fazer do nosso na Palavra do Senhor: “buscai primeiro
hesitação, com Maria Luigia, oferecemos amor recíproco, um pequeno reflexo da o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo
a Deus a nossa disponibilidade e demos relação trinitária. Como as primeiras co- o mais vos será dado em acréscimo” (Mt
início a uma nova realidade eclesial. Em munidades cristãs, Deus nos chama a ser 6, 33), assumimos o empenho de colocar
1981, dom Sennen Corrà, então bispo um só coração e uma só alma, colocando a serviço de Deus, dos irmãos e irmãs,
de Chioggia, Itália, acolheu-nos em sua tudo em comum. Cada atividade que fa- todos os nossos bens, os nossos dons,
diocese, reconhecendo a originalidade e zemos baseia-se na certeza de que, na as nossas forças físicas e intelectuais,
a autenticidade do nosso Carisma. comunhão fraterna, Deus-Trindade está na certeza de que Deus pensaria em
presente e torna a Comunidade santuário cada uma das nossas necessidades. E
da sua Presença, sinal visível e eficaz do esta experiência, nós a podemos teste-
seu amor para cada um de nós e para cada munhar com fatos concretos, pequenos
pessoa que encontramos. A nossa vida é e grandes, desde a chegada do quilo de
orientada, exclusivamente, para a Missão açúcar quando este havia terminado, à
Ad Gentes e oferecida como anúncio e doação inesperada de casas e outras
testemunho da vida de Deus à humani- estruturas, necessárias ao nosso serviço
dade, em especial, àqueles povos que, de evangelização. Podemos afirmar que
além de provados pela pobreza material nestes 25 anos, nunca se interrompeu o
e moral, ainda não receberam o anúncio fluxo de generosidade que continuamente
da Boa Nova do Evangelho. A terceira chega até nós.
Sede da Comunidade, Belo Horizonte, MG.

12 Outubro 2006 -
sionária
A Comunidade é composta por
pessoas de diferentes estados de vida.
Os membros efetivos são o coração da
Comunidade. Doam suas vidas a Deus
com os votos de pobreza, obediência e
castidade celibatária ou conjugal para
os casados. Um quarto voto expressa
o Carisma específico: “Ser Comunidade
para a Missão Ad Gentes”. Atualmente,
os membros são cerca de 500, dividi-
A Comunidade Missionária de Villaregia está comemorando dos em quatro núcleos: missionários,
missionárias, missionários no mundo

um duplo aniversário: 25 anos de fundação e 20 anos e casais missionários. Os Membros


Agregados, são pessoas que se juntam
à caminhada da Comunidade, sem
de presença no Brasil. Fundada em 1981 na cidade de vínculo de votos. Hoje são milhares
e se dividem em: voluntários, grupos
Villaregia, Itália, esta nova Obra é reconhecida pela Santa interparoquiais missionários (GIM -
Grupos Animadores Missionários) e
Sé como Associação Pública Internacional e é de Direito amigos da missão.
A Comunidade está presente nos

Pontifício. Os fundadores, padre Luigi Prandin e Maria Luigia seguintes países: Brasil, em São Paulo
e Belo Horizonte; Peru, em Lima; Costa
do Marfim, em Abidjan; Porto Rico, em
Corona fazem memória deste jubileu. Arecibo; México, em Texcoco; Itália,
em Villaregia, Quartu Sant’Elena, Nola,
Pordenone, Roma e Lonato.
Casais na Comunidade países, manifestando concretamente a Contatos:
Casais missionários também são mem- sua missionariedade. Comunidade Missionária Villaregia
bros efetivos da nossa família. São pessoas Rua Canoas, 461 – Betânia
que, vivendo na própria casa e conservando Evangelização em 1º lugar 30580-040 Belo Horizonte – MG
normalmente a sua profissão, dividem o Como missionários, a nossa primeira Fone: (031) 3383-1545
empenho e a finalidade da Comunidade. tarefa é o anúncio de Jesus Cristo e do seu Fax: (031) 3383-3244
E-mail: cmvbelo@yahoo.com.br
No desejo de viver plenamente o sacra- Evangelho onde a Boa Notícia ainda não
mento do matrimônio, elas assumem o chegou ou ainda precisa ser despertada
compromisso de testemunhar e anunciar nos corações. Em geral, escolhemos como
a comunhão trinitária, construindo uma lugares privilegiados, as periferias das gran- dos mais pobres, dos que vivem à margem
família aberta ao mundo e dedicada à des cidades. Nos colocamos à disposição da sociedade, vítimas da injustiça e da
evangelização. Os filhos desses casais do bispo local assumindo uma atividade opressão, reconhecendo nesses irmãos
são acolhidos e amados pela Comuni- paroquial, numa área normalmente vasta e irmãs os prediletos de Jesus. Para ir ao
dade e, embora livres de assumirem os e necessitada. Logo nos preocupamos em encontro dessas necessidades, já nasceram
laços comunitários, podem se beneficiar descobrir as estratégias pastorais mais centros de acolhida para crianças carentes,
das riquezas desta família universal. Os adequadas ao contexto local. A nossa centros médicos, centros culturais e de
casais expressam também a sua esco- grande preocupação é sempre a de tor- formação profissional, escolas de alfabe-
lha de missionários Ad Gentes, com o nar aquela realidade a nós confiada em tização. Lugares estes, onde queremos
empenho de uma vida pessoal e familiar uma comunhão de comunidades, onde dar esperança a tantas crianças, jovens e
sóbria e aberta à partilha. Alguns casais haja espaço para todos e onde cada um adultos muitas vezes privados até de sua
da Comunidade, já foram para outros possa colocar a serviço dos outros os pró- dignidade de filhos de Deus.
prios dons. Atualmente nas
missões, estão sob nossos Celebrações Jubilares
cuidados pastorais cerca de No Brasil, as celebrações jubilares,
500 mil pessoas. Onde nos é acontecerão em novembro. Nos dias 5 a
solicitado, fazemos também 7, na Comunidade de São Paulo, quan-
um serviço de Animação Mis- do teremos a presença do presidente
sionária Comunitária. do Pontifício Conselho para os Leigos
- dom Stanislaw Rilko. De 8 a 10, em Belo
Evangelização Horizonte, MG. Dia 15, em Itapecirica da
e Promoção Serra, SP e dia 19 no Chevrolet Hall, em
Humana Belo Horizonte, MG. Com milhares de
Paralelamente ao anún- membros e amigos da Comunidade de
cio específico do Evangelho, Villaregia, celebramos a ação de graças
nos esforçamos para fomen- ao Senhor pelas maravilhas que operou
tar a promoção humana e nestes 25 anos de história. Somos todos
o desenvolvimento integral convidados a participar. 
da pessoa. O nosso servi-
ço apostólico nos pede este Luigi Prandin é sacerdote e fundador da Comunidade Mis-
Membros de vários núcleos da Comunidade. empenho concreto em favor sionária de Villaregia.

- Outubro 2006 13
Afronteiras
fé não tem
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Campanha Missionária 2006

Veja explicação do cartaz na 4ª capa.

A Campanha Missionária deste ano nos leva a uma


reflexão sobre o contexto, os desafios e as necessidades
da Redação
dos diversos continentes, tendo em vista as mudanças
ocorridas na sociedade pós-moderna.

P
ercorrendo os continentes
e povos do mundo, identifi-
camos os grandes desafios
para a missão da Igreja na
sociedade contemporânea.
Inspirada na vida e obra de
São Francisco Xavier, nos
seus 500 anos de nascimento (1506-
2006), a Campanha Missionária de 2006
para o mês de outubro nos convida a
viver a fé num mundo sem-fronteiras.
Aos olhos de Deus Criador realmente
o mundo não as têm. Paradoxalmente,
os seres humanos encontram-se divi-
didos por uma abismal desigualdade e
exclusão. O século XX terminou vendo
o Muro de Berlim ruir, o que represen-
tou um grande avanço na luta contra a
segregação dos povos. Mas, apenas
começou o século XXI e a humanidade
assiste passivamente a construção de
outros dois muros: um entre o México e
os Estados Unidos e outro construído
por Israel na região da Cisjordânia. Os
Estados Unidos acabam de anunciar a
construção do "muro virtual do século
XXI". Olhando por esse ângulo, vemos
um retrocesso na vivência da fraterni-
dade universal. Existem ainda tantas
outras barreiras de ordem econômica,
social, racial, religiosa e cultural que
aprofundam a divisão entre os povos,
etnias e nações. Os missionários Antônio
Bonanomi, Francisco Lerma, Fernando
Doren e Luiz Carlos Emer nos apre-
sentam alguns desses desafios para
a missão de hoje, onde a Boa Nova
de Jesus deve ser apresentada como
caminho de transformação. “A fé não
tem fronteiras”.

14 Outubro 2006 -
Europa
Secularização

Marco Di Lauro/Getty Imagem


políticos, pois dele depende atualmente
O continente europeu, tradicional- a sorte de toda a humanidade. O mal
mente cristão desde os tempos apos- é o de aceitar como lei suprema das
tólicos, conta hoje com 712 milhões de transações o lucro ilimitado e os interes-
habitantes, dos quais 80 % são cristãos ses dos indivíduos, grupos ou nações,
(40 % católicos) e 8% muçulmanos. A o que cria a falta de solidariedade e a
multiplicidade de povos e línguas engloba divisão entre pobres e ricos, cada vez
três grandes áreas culturais: a Europa mais dramática.
eslava, ao Leste; a Europa latina, ao
Sul; e a Europa anglossaxônica, ao As migrações
Norte. O continente vive atualmente As grandes imigrações em curso
um processo de unidade socioeconô- vindas dos países de influência da antiga
mica e política através da integração União Soviética, da África do Norte e
da União Européia. Está surgindo, de Subsahariana, do Extremo Oriente e da
fato, uma nova Europa, à margem dos América Latina, estão transformando
valores tradicionais que a caracteriza- a um ritmo vertiginoso a composição
ram filosofia, ética, religião, economia, do tecido socioreligioso e cultural da
política. A Igreja na Europa é de “antiga Europa. Está surgindo uma Europa
cristandade” e vê-se envolvida num multicultural e plurireligiosa no sentido
processo crescente de secularização da Imigrantes em Lampedusa, Itália. mais amplo do termo.
consciência, da cultura e da sociedade. Vive-se o fim da sociedade monolí-
Na sua parte negativa, o conceito de Globalização tica cristã, abrindo espaço para a con-
secularização na fase atual do mun- A globalização também constitui vivência com outras religiões: islâmica,
do pós-moderno, pretende construir a um dos maiores desafios da missão. budista, hinduísta e novos movimentos
sociedade não mais contra Deus, mas Trata-se de um dos sinais dos tem- religiosos. Como conseqüência surge a
prescindindo de Deus. Isto implica negar pos que com maior atenção a Igreja exigência de um novo tipo de formação
os valores absolutos, admitindo como deve investigar. Este fenômeno atinge das camadas da sociedade, baseada
critério de verdade objetiva somente a a Europa como um dos epicentros no respeito à tolerância, ao diálogo, ao
ciência experimental, e como fonte de mais importantes e responsáveis do acolhimento dos valores dos outros e
moralidade social o consenso. Neste processo. De fato, entre os oito paí- ao enriquecimento recíproco.
sentido considera a liberdade como ses mais industrializados do mundo, À missão da Igreja interessa conhe-
absoluta. Está nascendo uma cultura quatro são europeus. Daí a peculiar cer bem esta nova realidade para inserir
que sem discutir Deus, prescinde dele responsabilidade que o continente tem sua ação libertadora na sociedade,
na construção da sociedade, na solução frente às contradições e injustiças da para a construção do Reino de Deus,
dos seus problemas e na formação globalização. anunciando-o como já presente.
das novas gerações. Deste modo se O fenômeno embalado pelo sistema
proclama a insignificância de Deus na de mercado neoliberal vai mais além dos Francisco Lerma é missionário e
vida social. aspectos econômicos, tecnológicos e secretário para a Missão no IMC.

África
Marginalização pobres do mundo (Somália, Etiópia,
Angelo Costalonga

A África é o continente esquecido Sudão), vivendo com níveis de pobreza


e marginalizado na nova ordem mun- absoluta, abaixo de U$ 1 por dia cada
dial. Em 1970 representava 3% do habitante. A alta taxa de mortalidade
movimento comercial mundial, índice infantil, a média de vida que atinge o
que na última década do século XX nível de 37 anos, as doenças endêmicas
desceu para 1.7%. O continente se como malária, cólera, tuberculose, e a
encontra fora dos lugares de decisão pandemia do vírus HIV, juntamente com
da política e da economia mundial, e os baixos níveis de instrução, são outros
tem pouco acesso ao uso das novas tantos indicadores de uma situação
tecnologias e aos meios de comuni- dramática difícil de superar.
cação mais sofisticados. As guerras esquecidas, mas sempre
É um continente marcado pelo de- vivas, completam o quadro dramático
senvolvimento, pobreza generalizada, do continente. Há países que estão há
dívida externa alta e dependência eco- gerações seguidas em guerras: Congo,
nômica do exterior. Nesse continente Sudão, Libéria, Serra Leoa, Somália.
População da R.D. Congo encontram-se muitos dos países mais Outros, embora já em paz, ainda não

- Outubro 2006 15
aos prisioneiros...” (Lc 4, 18), pois a tenha forjado grandes conquistas face
promoção da justiça e da paz é parte ao desenvolvimento econômico e so-
constitutiva da Missão da Igreja. Fal- cial, representa uma ameaça profunda
taria à sua missão por omissão se não para a identidade dos povos africanos.
denunciasse a violação dos direitos Torna-se necessário harmonizar a glo-
humanos (Sínodo Africano, 31). balização com a diversificação dos
valores culturais.
Africanização da No âmbito eclesial, há uma ruptu-
experiência cristã ra entre o Evangelho transmitido em
A fé deve criar raízes no povo, que a roupagem monocultural e estrangeira
torna própria e a expressa em linguagem e a multiplicidade cultural da África. A
compreensível no seu meio. Na África, a evangelização deve, atualmente, es-
palavra-chave de todas as iniciativas de tabelecer uma ponte de comunicação
libertação é a “inculturação”, por causa entre fé e cultura, e esforçar-se para
dos eventos unidos à identidade cultural curar as feridas causadas na primeira
vividos pelos habitantes do continente fase da cristianização realizada durante
durante a sua história. a era colonial. Trata-se de um grande
A personalidade africana durante desafio que implica: superar o abismo
séculos de dominação estrangeira foi entre africanidade e cristianismo, curar
superaram as seqüelas dos conflitos fortemente abalada pela falta de apreço, a esquizofrenia e o sincretismo socio-
e das revoluções: Ruanda, Burundi, pela destruição e pela ignorância cultural religioso e harmonizar os tesouros do
Angola, Etiópia, Eritréia, Zimbabue. do colonialismo. A escravidão e o colo- patrimônio cultural com o Evangelho.
Neste contexto de dor, sofrimento e nialismo ainda tão recentes atrofiaram O Sínodo Africano falou da urgência
escravidão, a Boa Nova de Jesus deve a sociedade tradicional e geraram uma e necessidade da inculturação para a
ser apresentada como uma mensagem crise profunda de identidade individual Igreja no continente. Trata-se, pois,
libertadora. A libertação global do ser e comunitária. A cultura foi novamente de uma prioridade na vida das igre-
humano da sua situação de injustiça e abalada nos seus alicerces fundamen- jas particulares, de uma exigência da
de miséria, e das condições subumanas tais durante as guerras e revoluções missão e de um caminho obrigatório
em que vive não pode ficar alheia à em que submergiram a maior parte rumo à plena evangelização. Esse é
evangelização. A Igreja encontra aqui o dos povos africanos durante o período um dos maiores desafios para a Igreja
lugar mais indicado para o anúncio do imediatamente após a independência, no continente hoje.
Evangelho: “O Espírito do Senhor está durante os últimos 40 anos do século
sobre mim para anunciar o Evangelho XX até os nossos dias. Comtempora- Francisco Lerma é missionário e
aos pobres... um ano de libertação neamente, a moderniadde, embora secretário para a Missão no IMC.

ÁSIA
A Ásia é o continente mais vasto
Angelo Costalonga

da terra e a casa de aproximadamente


dois terços da população mundial,
contando a China e a Índia com quase
metade da população total do globo. A
característica mais notável do continente
é a variedade das suas populações,
que são herdeiras de antigas culturas,
religiões e tradições.
A Ásia é também o berço das maio-
res religiões do mundo: judaica, cristã,
islâmica e hinduísta, como também a
terra natal de muitas outras tradições de complementaridade e harmonia. hoje naquele continente como sendo
espirituais como o budismo, taoísmo, Através de uma atividade missionária aqueles desafios vindos dos três tipos
confucionismo, zoroastrismo, jainismo, que respeite este espírito asiático, con- de diálogos que a Igreja é chamada
sikhismo e xintoismo. Esta variedade de versões poderão continuar acontecendo com urgência a fazer:
religiões que o continente viu nascer nos e igrejas sendo estabelecidas, porém o
faz ver que existe uma natural percepção objetivo principal da evangelização será Diálogo com a cultura
espiritual e sabedoria moral na alma levar os povos da Ásia a um verdadeiro O Concílio Vaticano II estimulou a
asiática. Isto, pode-se dizer, constitui o encontro com Jesus. Igreja da Ásia a se engajar, baseada
centro à volta do qual se formou o “ser Nesta linha, os próprios bispos no mistério da Encarnação, numa troca
asiático”, o qual se caracteriza não pelo da Ásia pouco a pouco convergiram enriquecedora com os povos, religiões
confronto e oposição, mas pelo espírito no entender dos desafios da missão e culturas do continente, foram feitas

16 Outubro 2006 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

tentativas, porém, mais que incultu- reconhecem que durante séculos tais Diálogo com os pobres
ração ficou claro tratar-se de simples religiões constituíram o tesouro da Num continente marcado por gran-
acomodações e adaptações litúrgicas. O experiência religiosa de seus antepas- des contrastes, boa parte dos habitantes
cristianismo em geral continuou sendo sados, de onde os contemporâneos não vive em situação de pobreza, em muitos
visto como algo estrangeiro e os nati- cessam de receber luz e força. Elas casos, vítima de sistemas injustos e
vos que o abraçavam passaram a ser foram (e continuam sendo) autêntica opressores. Embora minorias em seus
suspeitos acerca de sua lealdade para expressão dos mais altos anseios do países os cristãos são chamados cada
com sua pátria e para com seu povo. seu coração e o lar de sua contempla- vez mais a se tornarem fermento de
O desafio da inculturação portanto, é ção e oração. Os bispos se perguntam mudança e luz que ilumina a escuri-
fazer os cristãos na Ásia tornarem- “como poderíamos deixar de honrá-las dão do pecado (corrupção, injustiça
se cristãos asiáticos e viverem como e reverenciá-las”? Ou poderíamos dizer, e opressão).
Igreja asiática. como anunciar Cristo sem deixar de
Acerca das tradições religiosas do entrar com elas num diálogo criativo Luiz Carlos Emer é missionário,
continente os mesmos bispos asiáticos e mutuamente enriquecedor? mestre em Filosofia Oriental.

AMÉRICAS
valores da justiça, da igualdade de
oportunidades e de fraternidade, como
resposta à prepotência do projeto do
capitalismo neoliberal, que é a causa
última da situação de miséria, exclusão
e morte na qual vive a maioria dos
habitantes deste continente. Já desde
1968, com a Assembléia do CELAM,
em Medellín, a Igreja fez a opção pelos
empobrecidos do continente e por sua
libertação integral. Hoje a Igreja que se
prepara para celebrar a V Assembléia
do CELAM em Aparecida, em maio
de 2007, deve renovar esta opção e
Nos últimos 50 anos, embora à Este fato anima a Igreja não somente este compromisso. Tendo bem claro
custa de muitos conflitos e contradições, para que esteja presente nas realida- o horizonte do Reino, deve promover
mudou profundamente a consciência e des étnicas e culturais, embora em e fortalecer a união de todas as for-
a realidade do continente sul-america- condições de marginalidade e exclusão ças que procuram com sinceridade a
no. Essas mudanças têm desafiado e com a evangelização interculturada e alternativa da vida, como respostas às
continuam desafiando a presença e a libertadora, que fortalece a identidade forças internas e externas que querem
ação missionária da Igreja. A América de cada povo e cultura, mas também, impor um projeto de morte.
do Norte, além de ter que lidar com a promover desde estas realidades um
milhares de imigrantes e novas for- diálogo intercultural e inter-religioso, O fenômeno da
mas de pobreza, depois do atentado para que a diversidade seja fonte de urbanização
de 11 de setembro de 2001 vive em enriquecimento para todos e força para Uma das realidades mais preocu-
constante medo. resistir à invasão e à globalização, pantes do continente é o fenômeno
destruidoras das riquezas próprias de da urbanização. Há 50 anos, 75% dos
Pluralidade religiosa cada povo e de cada cultura. A Igreja, habitantes viviam no campo e 25%
Aos poucos foi reconhecido, tam- por sua catolicidade, quer falar a todos nas cidades. Hoje é o contrário: 75%
bém nas constituições e leis da maior os povos em sua própria língua e cul- vivem nas cidades e 25% no campo.
parte dos países, que o continente sul- tura, assim como os apóstolos depois O pior deste fenômeno é o fato de que
americano não é somente um continente da vinda do Espírito Santo. a maioria deixou o campo e passou a
“latino”, mas também “índio” e “afro”, é viver nas cidades para fugir da miséria
um continente multiétnico e pluricultu- Um projeto alternativo e da violência, e os governos nacionais
ral. A pluralidade étnica e cultural, que No continente americano, e em não tiveram a capacidade ou a vontade
inclui também uma pluralidade religiosa, geral, no mundo, cresce a consciência de responder com planos adequados
converte-se em riqueza para todo o da necessidade e a urgência de um a esta chegada. São “desalocados”
continente à medida que se consiga seu compromisso comum para a construção que ao chegar à cidade se convertem
reconhecimento e valor na prática e se de um mundo mais justo e mais huma- em “excluídos”, engrossando a pe-
alcance um diálogo intercultural e inter- no, como alternativa ao atual, injusto e riferia da miséria, sem possibilidade
religioso. Do contrário, converte-se em desumano, que é causa de violência de trabalho e de vida digna, vítimas
motivo de conflitos e empobrecimento e de morte. Trata-se de construir um fáceis da exploração e da violência.
humano para todos. projeto alternativo, fundado sobre os Esta realidade é um grande desafio

- Outubro 2006 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

para a Igreja missionária: trata-se de cultura diferente, ou são perseguidos por Alternativa profética
despertar a consciência dos governos serem “ilegais”. Por isso, eles precisam Se for necessário construir um
nacionais e locais, e, ao mesmo tempo, de um acompanhamento espiritual e projeto alternativo, mais humano e
de acompanhar convenientemente estas também de um apoio jurídico e político mais justo nos países injustamente
massas, de reconstruir o tecido humano, para conseguir o reconhecimento legal chamados de subdesenvolvidos ou em
de construir a comunidade, de promover de seu direito e uma vida digna. Os imi- via de desenvolvimento, mais ainda é
as condições de uma vida digna, como grantes, ao invés de serem um problema, necessário nos países mal chamados
base de uma evangelização autêntica para a evangelização podem ser uma de desenvolvidos. O modelo de desen-
e integral. Estas três realidades desa- oportunidade. Grande parte das comuni- volvimento do capitalismo neoliberal e
fiam toda a Igreja, e especialmente os dades cristãs é formada por imigrantes imperialista que os Estados Unidos e
missionários Ad Gentes, chamados por que contribuem significativamente para Canadá, junto com os outros países
vocação além-fronteiras. a evangelização urbana. desenvolvidos construíram e tratam de
impor aos outros países em benefício
América do Norte Nova forma de pobreza próprio, é um modelo desumano e
No começo do terceiro milênio, a Não obstante Estados Unidos e radicalmente injusto, causa da miséria
Igreja da América do Norte enfrenta três Canadá estarem entre os países mais e também do terrorismo e que se opõe
grandes desafios missionários: ricos do mundo, por este mesmo fato radicalmente ao espírito e aos valores
padecem, como em geral todos os do Evangelho.
Novos imigrantes países ricos e desenvolvidos, de novas É necessário urgente opor à glo-
Estados Unidos e Canadá são os formas de pobreza que os convertem em balização do mercado em benefício de
países que se adaptaram ao longo dos países mais desequilibrados e com altos poucos, a globalização da solidariedade
últimos cinco séculos à imigração de índices de violência. Estas novas formas em benefício de todos. Esta é a tarefa
pessoas de muitos países da Europa de pobreza não são somente de tipo de todos e especialmente da Igreja,
e de outros continentes: são países econômico, mas também e, sobretudo, animada pelo Espírito do Evangelho
eminentemente pluriétnicos e multi- de tipo humano e espiritual. É a pobreza libertador de Cristo. Se é difícil para a
culturais. Este processo da adaptação das pessoas e dos grupos humanos Igreja ser missionária nos continentes
não foi sem dores e sem conflitos: é que ficaram atrás e à margem do de- pobres, mais difícil ainda é sê-lo nos
suficiente lembrar quanto sofreram os senvolvimento, aqueles que se sentem países ricos como os da América do
povos indígenas despojados de suas humana e espiritualmente desalojados Norte, porque encontra não somente
terras; os afro-americanos levados como numa sociedade rica em tecnologia e desafios em culturas novas e sofis-
escravos e outros grupos humanos mar- em bens de consumo, porém, pobre ticadas, que exigem respostas à luz
ginalizados e explorados. Nos últimos em humanidade e espiritualidade, e por do Evangelho, mas também porque
anos chegaram a estes países milhões isso procuram refúgio nas drogas e em a mesma Igreja, muitas vezes, não
de imigrantes, provenientes, sobretu- outros espaços artificiais. Estas novas tem a força espiritual suficiente para
do, do Centro e Sul da América. Em formas de pobreza exigem novas res- enfrentar estas novas culturas e corre
sua grande maioria são católicos. Não postas, novos espaços e instrumentos o perigo de se acomodar e perder sua
obstante estes dois países necessitem de acompanhamento que, não somente força profética.
de imigrantes como trabalhadores, em respondam às necessidades econô-
muitas situações, estes são recusados micas, mas também às necessidades Antônio Bonanomi é missionário, diretor do “Centro Misión
por serem “latinos”, portadores de uma humanas e espirituais. y Cultura” em Bogotá, Colômbia.

oceania
Por fim, os desafios da missão na liturgia e no uso de símbolos religiosos”. mesmo nível que as outras.
Oceania podem ser resumidos assim: (Ecclesia in Oceania, 16)
Cristãos afastados
Diálogo com as culturas Religiões dos aborígenes No continente, há um bom número
Na Oceania é necessário que o O povo da Oceania vive, no dia-a- de cristãos afastados devido, talvez,
processo da inculturação da Boa Nova dia, as crenças que recebe de geração às experiências negativas. Quanto a
nas culturas locais tenha dinamismo em geração. Essa religiosidade não este desafio, a Exortação Apostólica
maior. Porque o continente é a casa possui livro sagrado, dogmas siste- Ecclesia in Oceania, 14, nos provoca:
de inúmeras culturas milenares, como máticos ou tendências expansionistas “a Igreja é desafiada a traduzir a Boa
aborígene, maori, melanésia, polinésia, como o islamismo ou o cristianismo, Nova para os povos da Oceania se-
micronésia etc. por exemplo. gundo as suas urgências e condições
“Para os povos indígenas da Oce- atuais: temos de apresentar Cristo
ania, a inculturação significou um novo Ideologia secular ao mundo de modo a dar esperança
diálogo entre o mundo que tinham co- Os países como Austrália e Nova a tantos que sofrem a desolação, a
nhecido e a fé que abraçaram. Em Zelândia são secularizados. Para que o injustiça, a pobreza.” 
conseqüência disso, o continente oferece Evangelho seja ouvido por este povo, é
muitos exemplos de expressões culturais preciso que, na sua proclamação, seja Fernando Doren é missionário SVD e Coordenador da
específicas nas áreas da teologia e colocado como uma das ideologias, no Comissão Pastoral da Terra do Estado de São Paulo.

18 Outubro 2006 -
Muitos batizados

Missão
história missão
daHoje
poucos missionários
Precisamos de missionários

Romeo Gacad/AFP/Getty Images


com nova visão de Igreja e
de mundo para sermos fiéis
à Trindade.
de Joaquim Gonçalves

Q
ue todo batizado é missionário, é um princípio
fundamental da doutrina da Igreja. Sabemos que a entendida como retorno da humanidade ao coração do Pai.
Missão começa mesmo quando o batizado chega Entretanto, a modernidade nos trouxe outros elementos
ao seu encontro pessoal com Cristo e por ele com que vieram desafiar e enriquecer a reflexão sobre o mistério
a Trindade. Esse encontro não acontece por meio da salvação: o pluralismo cultural e religioso, a globalização, a
de um ritual, mas resulta de um longo processo independência dos países colonizados, a maior autonomia entre
até chegar ao amor apaixonado pelo Reino. Mesmo assim, um ciência e fé. Este novo contexto cultural nos chama para inventar
amor apaixonado pode estacionar num certo intimismo espiritual, novas práticas para lidar com a dimensão religiosa: o diálogo,
alimentado por práticas religiosas. a inculturação, a escuta, a tolerância, a descoberta dos valores
A repetição constante de que todo o cristão é missionário do outro, a compreensão “dos cristãos anônimos”.
pode levar os batizados a pensar que para ser missionário não As novas posturas levam tempo para se incorporar em
seria necessário o “sair e ir” mais longe, em sentido cultural, convicções duráveis, e as dificuldades encontradas para levar
geográ­fico e social. Sabemos que um discurso sem prática corre adiante novas práticas podem também suscitar saudade da antiga
o risco de cair no vazio. Talvez por causa disso a admiração cristandade quando a Igreja parecia ser mais forte, ter mais poder
pelos poucos missionários e missionárias se reveste, muitas de presença na sociedade e sua voz ser mais escutada.
vezes, de um certo enfeite da vida e se torna cada vez mais
coisa rara. Na verdade, toda a Igreja é missionária e no seu seio Novos missionários e missionárias
a Igreja local é o sujeito fundamental da Missão em todas as Reconhecemos que precisamos de missionários com nova
dimensões e expressões, sendo essa a mais madura expressão visão de Igreja e de mundo para sermos fiéis à Trindade, fonte
de sua vida. Toda a água que jorra de uma fonte necessita de da Missão, e a Jesus o missionário do Pai. Missionários novos
saídas e no seu percurso vira rio, umidade do ar, chuva que com forte sentido de testemunho e de profecia, e não com sau-
gera nova vida em lugares ermos, ou vai engrossar o oceano, dade da cristandade.
se universalizando. A história da águia nos ajuda a entender isso. A águia,
O Concílio Vaticano II quis começar uma vida nova para a quando fica velha, se quiser se renovar, precisa sacrificar o
Igreja depois de um longo período de cristandade. Na cristandade bico e as asas. Bate insistentemente na rocha o seu bico até
se entendia a Missão como tarefa de alguns que partiam para que ele se solta. No lugar dele cresce rapidamente um novo.
salvar almas. Esses missionários eram apoiados por acordos É com esse bico que ela consegue arrancar as penas velhas.
entre instituições religiosas, as Igrejas e governos. Evangelização No lugar delas crescem novas. E logo, logo, ela tem tudo para
e colonização andavam normalmente de braço dado, às vezes voar novamente mais alto e enxergar mais longe. Ainda outro
silenciando algum “espírito mais profético” que reclamava do pro- exemplo: se em cada sete anos o agricultor não descascar o
cesso. O serviço missionário estava orientado para a exportação sobreiro não teremos rolhas de cortiça para novas garrafas de
de um modelo de sociedade e para a implantação da Igreja. vinho de boa qualidade, nem teremos botas ortopédicas, porque
A partir do Vaticano II muitas dessas coisas começaram a a planta, se segurar para si aquela casca apertada, morre mais
mudar. As congregações religiosas, estavam mais preparadas cedo. A Missão também tem uma constituição muito própria: se
para mudanças do que a maioria das Igrejas locais. Aos poucos não se renovar, se não ganhar novas asas, não vai voar mais
a reflexão formulou uma nova teologia missionária. Hoje com- longe nem vamos ter vinho novo para beber. 
preendemos melhor que a fonte da Missão é a Trindade, da qual
nasce a Missão histórica da Igreja. Assim, a salvação passa a ser Joaquim Gonçalves é missionário e pároco da paróquia Santa Paulina, Heliópolis, SP.

- Outubro 2006 19
Aalmacaridade
Destaque do mês

da Missão
Q
ueridos irmãos e irmãs, Mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial das
O Dia Mundial das Missões,
que celebraremos no domingo Missões, 22 de outubro de 2006.
22 de outubro, oferece, neste
ano, a oportunidade de apro-
fundar o tema: A Caridade, coração da experiência e do anúncio do
Alma da Missão. Quando a Missão não é Evangelho, e os que o acolhem tornam-se,
orientada pela caridade, ou seja, quando por sua vez, suas testemunhas. O amor
não nasce de um profundo gesto de amor de Deus, que dá vida ao mundo, é o amor
divino, corre o risco de reduzir-se a simples que nos foi dado em Jesus, Palavra de
atividade filantrópica e social. O amor que Salvação, imagem perfeita da misericórdia
Deus tem por cada pessoa é, de fato, o do Pai celeste. A mensagem da Salvação
pode ser sintetizada com as palavras do
Evangelista João: “foi assim que o amor
de Deus se manifestou entre nós: Deus
enviou o seu Filho único ao mundo, para
que tenhamos a vida por meio dele” (1Jo
4, 9). O mandado de difundir o anúncio
deste amor foi confiado por Jesus aos
Apóstolos depois da sua ressurreição, e
eles, interiormente transformados no
Dia de Pentecostes pelo poder do
Espírito Santo, começaram a
dar testemunho do Senhor
morto e ressusci-
tado. Desde en-
tão, a Igreja con-
tinua esta mesma
Missão, que é para
todos os fiéis um com-
promisso irrenunciável
e permanente.

Deus Amor
Toda comunidade cris-
tã é, portanto, chamada a
tornar conhecido Deus, que
é Amor. Sobre este mistério
fundamental da nossa fé, eu
quis me aprofundar na Encí-
clica Deus Caritas Est (Deus
é Amor). Deus permeia do seu
amor toda a Criação e a história
humana. Nas origens, o homem
saiu das mãos do Criador como
fruto de uma iniciativa de amor.
Depois, o pecado ofuscou-lhe a

20 Outubro 2006 -
marca divina. Enganados pelo nossos tempos, deram-Lhe o
maligno, os progenitores Adão supremo testemunho de amor
e Eva abandonaram a relação com o martírio! Ser missionário
de confiança com o seu Senhor, significa inclinar-se, como o bom
cedendo à tentação do maligno, Samaritano, às necessidades
que os fez pensar que Ele fosse de todos, especialmente dos
um rival e quisesse limitar-lhes mais pobres e necessitados,
a liberdade. Ao amor divino pois quem ama com o coração
gratuito, eles preferiram a si de Cristo não busca o próprio in-
mesmos, convencidos de que teresse, mas unicamente a glória
assim afirmariam o seu livre ar- do Pai e o bem do próximo. Aqui
bítrio. Em conseqüência disso, está o segredo da fecundidade
acabaram perdendo a felicida- apostólica da ação missioná-
de original, experimentando a ria, que ultrapassa fronteiras e
amargura da tristeza do pecado culturas, alcança os povos e se
e da morte. Deus, porém, não difunde até os extremos confins
os abandonou e prometeu, a do mundo.
eles e a seus descendentes, a
Salvação, prenunciando o envio Dia das Misões
de seu Filho Unigênito, Jesus, Queridos irmãos e irmãs, que
que revelou, na plenitude dos o Dia Mundial das Missões seja
tempos, seu amor de Pai, um ocasião útil para compreen­der
amor capaz de resgatar toda sempre melhor que o testemu-
criatura humana da escravidão nho do amor, alma da Missão,
do mal e da morte. Em Cris- diz respeito a todos. De fato,
to, pois, foi-nos comunicada servir o Evangelho não deve
a vida imortal, a mesma vida ser considerada uma aventura
da Trindade. Graças a Cristo, solitária, mas um compromisso
Bom Pastor que não abando- compartilhado de todas as comu-
na a ovelha perdida, foi dada nidades. Ao lado dos que estão na
a possibilidade aos homens linha de frente nas fronteiras da
de todos os tempos de entrar evangelização – e refiro-me aqui
em comunhão com Deus, Pai com gratidão aos missionários
misericordioso pronto a acolher e missionárias –, muitos outros,
novamente em casa o filho crianças, jovens e adultos, com
pródigo. Sinal surpreendente sua oração e cooperação, contri-
deste amor é a Cruz. Na morte de Cris- a Missão da Igreja em todos os tempos? buem, de várias formas, para a difusão do
to na cruz – como escrevi na Encíclica Então não é difícil compreender que uma Reino de Deus na terra. Desejo que esta
Deus Caritas Est – “Deus se volta contra autêntica solicitude missionária, primeiro co-participação, graças à colaboração de
Si próprio, entregando-se assim, para compromisso da Comunidade Eclesial, todos, aumente sempre.
levantar o homem e salvá-lo: é o amor esteja ligada à fidelidade ao amor divino, e Aproveito de bom grado esta ocasião
na sua forma mais radical. É lá que esta isto vale para cada um dos cristãos, para para manifestar a minha gratidão à Con-
verdade pode ser contemplada. E come- cada comunidade local, para as Igrejas gregação para a Evangelização dos Povos
çando de lá, pretende-se agora definir em particulares e para todo o Povo de Deus. e às Pontifícias Obras Missionárias (POM),
que consiste o amor. A partir deste olhar, Exatamente da consciência desta Missão que com dedicação coordenam os esforços
o cristão encontra o caminho do seu viver comum, reforça-se a disponibilidade gene- realizados, em todos os cantos do mundo,
e do seu amar” (nº 12). rosa dos discípulos de Cristo em realizar em prol da ação dos que estão na linha
obras de promoção humana e espiritual de frente nas fronteiras missionárias. Que
O mandamento do Amor que testemunham, como escreveu o amado a Virgem Maria, que com sua presença
Na véspera de sua Paixão, Jesus João Paulo II na Encíclica Redemptoris junto à Cruz e a sua oração no Cenáculo
deixou como testamento aos discípulos, Missio (A Missão do Redentor), “a alma de colaborou ativamente nos inícios da Missão
reunidos no Cenáculo para celebrar a toda a atividade missionária: o amor, que eclesial, sustente sua ação e ajude os que
Páscoa, o “mandamento novo do amor é e sempre será o verdadeiro motor da crêem em Cristo a serem, sempre mais,
– mandatum novum”: “O que eu vos mando Missão, e é também o único critério com capazes de amar verdadeiramente, para
é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15, o qual tudo deve ser feito ou deixado de que, em um mundo espiritualmente sedento,
17). O amor fraterno que o Senhor pede fazer, mudado ou mantido. É o princípio tornem-se “fonte de água viva”.
aos seus “amigos” tem a sua fonte no que deve nortear toda ação e o fim para Faço, de coração, estes votos, en-
amor paterno de Deus. Observa o Apóstolo o qual ela deve tender. Quando se age viando a todos a minha bênção. 
João: “Todo aquele que ama nasceu de tendo como referência a caridade, ou
Deus e conhece Deus” (1Jo 4, 7). Assim, inspirados pela caridade, nada é impróprio Vaticano, 29 de abril de 2006.
para amar segundo Deus, é preciso viver e tudo é bom” (nº 60). Assim, ser missio-
n’Ele e d’Ele: a primeira “casa” do homem nário significa amar a Deus com todo o
é Deus, e somente quem mora n’Ele arde ser, até dar também a vida por Ele, se
de um fogo de caridade divina capaz de necessário. Quantos sacerdotes, religio-
“incendiar” o mundo. Não é, afinal, esta sos, religiosas e leigos, também nesses

- Outubro 2006 21
Retrato de
Atualidade

Xavier
A celebração dos 500 anos
de nascimento de São
bilidade aguda, curiosa e interessada em
tudo, interiormente livre e afetivamente
rica, madura, coerente, psicologicamen-
te bem identificada. Xavier era capaz
Francisco Xavier é uma de defender suas idéias e, ao mesmo
tempo, aberto às novidades, sobretudo,
ocasião para redescobrir às relações interpessoais, graças a um
temperamento feliz e expansivo, comuni-
uma figura missionária cativo e alegre, com uma extraordinária
disposição à amizade.
extraordinária que, através
Amigo de Inácio de Loyola
de sua profunda humanidade, Essa sua amizade é dirigida em pri-
meiro lugar a seus companheiros, parti-
encontrou o caminho da cularmente a Inácio de Loyola, ao qual
era afetuosamente ligado. Partindo de
santidade no encanto pelo Roma, Francisco sabe que não o verá

rosto do outro e do pobre ...


mais e então sonha com o dia em que
no céu o encontrará “face a face e com

um encanto que o conduz ao muitos abraços”. Mas, antes de embarcar


para a sua última viagem rumo à China,

pleno encontro com Deus. ouve falar de uma estrada que da China
vai até Jerusalém. Francisco retoma um
sonho de sua juventude, quando junto
a Inácio e aos primeiros companheiros,
faz o propósito de ir a Jerusalém com
de Estêvão Raschietti
a intenção de levar aos muçulmanos
um singelo testemunho de pobreza e de

O
entrega a Deus. Neste projeto, ele tem
s biógrafos de Francisco Xa- um desejo louco de reencontrar Inácio,
vier dizem que seu aspecto seu amigo e seu pai espiritual, que está
físico e exterior revelava uma em Roma e que não vê a mais de dez
pessoa forte e equilibrada: anos. Na última carta que lhe escreve
“O padre Francisco era de de Goa, em abril de 1552, fala-lhe dessa
estatura antes grande que possibilidade e já planeja concretizar seu
pequena, tinha o rosto bem proporcionado, sonho: “se isso for como me contam, eu
branco e corado, alegre e de muito boa o escreverei a Vossa santa Caridade,
graça; os olhos negros, a fronte larga, o quantas léguas e quanto tempo precisará
cabelo e barba pretos”, escreve o padre para chegar da China até Jerusalém”.
Manoel Teixeira. Poucos meses depois, Francisco morrerá
Suas qualidades, moldadas desde a na Ilha de Sancião na companhia de um
infância pela educação familiar e por uma crucifixo, de um fiel amigo chinês e de
vida marcada pelos conflitos, o habilitava um pequeno estojo com as assinaturas
a resistir às fadigas do ministério e a en- de Inácio e de todos seus companheiros,
frentar os riscos e os perigos das viagens recortadas das cartas deles. Ele as levava
daquele tempo. Era também uma pessoa sempre consigo, guardando-as do lado
dotada de grande inteligência e de sensi- esquerdo do peito.

22 Outubro 2006 -
Sempre amigo intérpretes. Para as coisas mais importantes
Ele faz também outras amizades em não preciso de intérpretes”. Em Goa, um
sua missão. Numa de suas cartas a Inácio dos seus jovens confrades relata: “ele era
lembra-lhe de dar suas recomendações sempre carinhoso, cheio de espírito em
a Faustina Ancolina, uma nobre viúva da seus discursos, era o primeiro a colocar a
cidade de Roma que tinha conhecido e sela e a dar de comer aos nossos cavalos.
ajudado espiritualmente por ocasião do Falava de Deus e ganhava os corações
assassinato do filho Vincenzo: “Dizei-lhe de todos os que o ouviam. Em qualquer
que disse missa pelo seu Vincenzo e lugar, ele deixava a impressão de sua
meu, e que direi amanhã outra por ele; santidade e, sobretudo, do seu amor”. Ao
e que tenha por certo que eu nunca me Rei de Portugal escreve nove cartas sobre
esquecerei dela, mesmo quando estiver problemas muito delicados relativos a sua
nas Índias”. Com grande intimidade e vida espiritual, como também sobre sua
confiança pede-lhe também de manter “a maneira de governar e de vigiar os seus
promessa que me fez de se confessar e subordinados que oprimiam o povo e não
comungar, e que me faça saber se o tem se preocupavam com as exigências da vida
feito e quantas vezes ... e que perdoe aos cristã. Francisco era uma daquelas pessoas
que mataram o seu filho”. que se apaixonavam pelo bem, a justiça e
Cartas cheias de carinho, dirigidas
a pessoas que tinha encontrado no seu
Os melhores pela defesa dos direitos dos pobres.
A simplicidade e a linearidade do
ministério, são aquelas também que es-
creve a Diogo Pereira, capitão do barco
amigos das pessoas caráter de Francisco Xavier transparecia
também pela sua maneira de vestir, que era
português Santa Cruz, ao qual estava A disposição humana à proximida- muito simples, em nada suntuosa, mesmo
ligado por uma “grande amizade”. Dele se de e à amizade com as pessoas, pode sabendo que era o Núncio Apostólico do
despede pedindo a Deus que “nos junte ser encontrada também na experiência papa para o Oriente. Assim o descreve o
missionária de outro grande Francisco,
outra vez, se não for nesta vida, seja na padre Teixeira: “trazia uma batina pobre
o de Assis. Nesse diálogo com frei
glória do céu”. Numa outra carta escreve: Tancredi, ele esclarece o que significa e limpa, sem faixa nem manto, pois este
“A saudade que de vós levo, e a lembrança anunciar a Boa Nova aos outros: era o traje dos sacerdotes pobres da
que continuadamente tenho de ver que “O Senhor nos enviou a evan- Índia ... Era muito afável com os de fora,
ficais em terra tão doentia, me faz maior gelizar os povos. Mas você nunca alegre e familiar com os de casa”. Como
lembrança de Vossa Graça”. refletiu o que significa isto? Evange- as pessoas verdadeiramente grandes,
Francisco sabia que tinha um grande lizar uma pessoa significa dizer-lhe: Xavier não mostrava sua grandeza na
‘Você também é amado por Deus em
coração que o amarrava facilmente às Cristo’. Não basta dizê-lo: precisamos
aparência, mas na caridade. Somente no
pessoas. Ele precisava dominar, de vez estar convencidos. Não basta também encontro com o príncipe de Yamagushi,
em quando, seus sentimentos. Narra que, estarmos convencidos: devemos agir no Japão, ele vestirá paramentos de ce-
depois de uma Quaresma em Ternate nas com aquela pessoa de modo que ela tim para ser oportunamente aceito como
Ilhas Molucas, teve que embarcar escondi- perceba e descubra em si mesma algo figura importante da Igreja que representa.
do à meia-noite para evitar se deparar com que foi salvo, algo de maior e mais Nesta simplicidade e pobreza, Francisco
nobre que ela não tivesse pensado
os “choros e prantos dos meus devotos, Xavier seguia a disposição das primeiras
antes. Devemos, enfim, provocar nela o
amigos e amigas”. Além de uma grande despertar de uma nova consciência de
Constituições da Companhia de Jesus
sensibilidade, ele tinha também uma força si mesma. Isso significa anunciar-lhe a que diziam quanto “mais suave, mais
de vontade excepcional e uma inteligência Boa Nova. Contudo, não poderá obter pura, mais edificante para os fiéis é a
superior, amadurecida em Paris, estudando este bom resultado senão oferecendo vida quando é absolutamente distante
Filosofia, antes de conhecer Inácio. Com àquela pessoa a sua amizade: uma de toda sombra de interesse e mais
a vontade e a inteligência ele controlava amizade real, desinteressada, sem conforme à pobreza”.
complacência, toda alimentada de
sua afetividade para colocá-la a serviço Para concluir este retrato da perso-
confiança e de estima recíproca. Nós
da missão que lhe foi confiada. devemos ir às pessoas. Isso não é nalidade de Xavier, é lícito perguntarmos
fácil. O mundo humano é um imenso se este homem não tinha algum defeito.
A serviço de todos campo de batalha onde as pessoas Com certeza, no seu ardor missionário
Francisco tinha o dom de criar e manter combatem para se enriquecer e domi- deve ter incomodado muitas pessoas e,
profundas relações humanas, de saber nar. Demasiadas dores e atrocidades sendo um homem de grande atividade,
falar com as pessoas de todas as classes escondem aos seus olhos o rosto de terá precisado de alguém, depois dele,
Deus. Aproximando-nos a elas, deve-
sociais, desde os príncipes até o último pobre que colocasse em ordem as coisas e tudo
mos, sobretudo, evitar aparecer aos
pescador, desde os mais devotos cristãos seus olhos como uma nova espécie o que ele não conseguia acabar. Podemos
até os marinheiros e os comerciantes que de competidores. Nós devemos ser, pensar que em alguma ocasião pode ter
encontrava, capaz de explicar o catecismo no meio das pessoas, as testemunhas exagerado em contrastar as pretensões
aos mais humildes e de encarar o Rei de pacíficas do Todo-poderoso, sem som- e as injustiças causadas pelos portugue-
Portugal. Numa de suas cartas ele afirma: bra de cobiça e de desprezo, capazes ses nas colônias. Particularmente, deve
“Eu vou no meio do povo sozinho, sem in- de nos tornarmos realmente seus me- ter feito sofrer as pessoas medíocres.
lhores amigos. As pessoas aspiram à
térprete. Eles não me entendem e nem eu No final, porém, deve ter sido perdoado
nossa amizade, uma amizade que os
a eles. Batizo os recém-nascidos e outras faça sentir ser amados por Deus e ser de tudo pela sua bondade alegre e sua
pessoas que encontro para batizar: para salvos em Jesus Cristo”. generosidade. 
isso não preciso de intérpretes. Os pobres
me fazem entender suas necessidades sem (Éloi Leclerc. La sapienza di um povero. Milano: Edizioni Estêvão Raschietti é missionário e diretor do Centro Xaveriano
Biblioteca Francescana, 1989, pp. 148 – 149)
intérpretes e eu, olhando-os, os entendo sem de Animação Missionária (CXAM).

- Outubro 2006 23
Crianças
Infância
Missionária
em favor da vida!

Divulgação/Arte Cleber Pires


“Pela boca de nossas crianças
de Roseane de Araújo Silva

(...) a canção da eterna

N
este mês em que celebramos as Missões e a padroei­
ra do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, festejamos esperança que em nós nunca
também o Dia das Crianças em 12 de outubro. Mas,
o que temos para comemorar hoje em nossos dias? pode calar”. (Zé Vicente)
O que percebemos é que a cada dia que passa, é
menor o número de crianças nos lares brasileiros. Bem-vindas todas as crianças que com o seu sorriso enchem de
Até pouco tempo, era comum encontrar casais com dois ou três alegria os nossos dias, nos ajudando a manter firme os nossos
filhos, mas é cada vez mais fácil encontrarmos famílias sem ideais e sonhos. Deus as abençoe e as guarde sempre! Que a
filhos ou apenas com uma criança. nossa Mãe Maria continue abençoando também a nossa missão
Esta situação me lembra a China, o país mais populoso do em favor dos pequeninos. Das crianças do mundo – sempre
mundo (1,3 bilhão de pessoas), que introduziu em 1979 a “política amigas! 
de filho único” como resposta ao rápido crescimento da população
durante o governo de Mao Tsé-Tung, temendo que a explosão Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.
demográfica levasse à falta de comida. Há bem pouco tempo,
os casais só tinham permissão para ter um segundo filho, se o
primeiro fosse uma menina, isso porque cada região da China
tem uma “cota de nascimento”. Quase não se noticia o que de
Sugestão para o grupo
horrível ocorre naquele país junto aos pequeninos, como abortos Acolhida
forçados ou “seletivos” quando se trata de meninas, assassinatos Motivação (objetivo): Relembrar a história da Infância Mis-
de muitos bebês e punições e multas aos pais que têm filhos sionária e a importância da evangelização entre as crianças
e adolescentes.
“fora do plano”. Segundo a Universidade de Beijing para que a
Oração: rezemos por todas as crianças do continente asiático
diferença entre o número de mulheres e o de homens nascidos sem lar e sem esperança, vítimas de uma sociedade que as
de 1979 para cá fosse equilibrada, deveriam existir cerca de 17 exclui.
milhões a mais de meninas na China. Foi essa realidade que Partilha dos compromissos semanais
há dois séculos, inspirou dom Carlos Forbin Janson a criar a Leitura da Palavra de Deus: Marcos 1, 16-20: Seguir Jesus
Infância Missionária e ainda está bem presente em nossos dias é comprometer-se
nas muitas crianças vitimizadas de várias formas neste país. Compromissos missionários: No Evangelho de Marcos, Jesus
convida os irmãos Simão e André a se tornarem “pescadores de
homens”. Neste mês missionário somos convidados a assumir o
O Reino pertence a elas! nosso batismo, “pescando” novos missionários ou missionárias.
Mas, temos muitas razões para nos alegrar, louvar e agrade- Nos dias atuais, muitas crianças ainda não se tornaram amigas
cer ao Deus da Vida pelos exemplos de solidariedade de muitas de Jesus. Vamos convidar uma criança que não participa da IM
crianças que ajudam e evangelizam outras crianças. Este foi o a tornar-se missionária? Cada membro do grupo fará o convite
sonho de dom Carlos e hoje é a realidade de muitos: Infância a um novo colega (sugestão: preparar convites personalizados
Missionária – criança evangelizando criança. Jesus se alegra com no final da reunião com canetinhas coloridas, revistas, cola e
muita imaginação!).
a ação desses meninos e meninas, crianças livres para amar e
Momento de agradecimento ao Deus Pai pela vida de cada
lutar em favor da vida. Agindo em defesa das crianças do seu criança que conhecemos.
tempo, Jesus afirmou “Deixem as crianças vir a mim. Não lhes Canto e despedida
proíbam, porque o Reino de Deus pertence a elas” (Mc 10, 14).

24 Outubro 2006 -
conexão jovem
Dia Nacional
da Juventude
No mês em que comemoramos o Dia
da Juventude, uma reflexão sobre a
participação política dos jovens na
sociedade brasileira.

de Robério Crisóstomo da Silva grande desejo de aceitação, participação e expectativa que a


juventude tem, pois o jovem é convidado a sair do comodismo

É
e tornar-se sujeito conhecedor e comprometido com novas
conquistas. A grande crise de nossa sociedade passa pelo
impossível falar da juventude sem falar de cidadania, desemprego, violência, discriminação e miséria, essa situação
pois esse é um dos elementos que mais tem sido dis- cada vez mais se torna uma forma de fazer política por parte
cutido nos últimos anos. A cidadania nos lembra uma de alguns parlamentares.
sociedade com indivíduos que sentem o desejo de Durante 2006, os jovens se questionaram sobre seu espaço
participação ativa em todos os setores. O jovem hoje na sociedade, despertando para sua própria história, evidenciando
vive um grande dilema, pois tenta buscar essa participação na a necessidade de educação. A educação é um dos elementos
política e nas discussões que venham favorecer o desenvolvimen- essenciais para que a juventude adquira um espaço no meio
to de uma sociedade estruturada na democracia e nos valores social. Dessa forma, surgem várias propostas que os jovens
como respeito, justiça e solidariedade. Política aqui entendida procuram concretizar, tornando-se cada vez mais agentes ativos
como participação social, não somente nos partidos ou eleições, na expectativa de uma política pública séria, que abra espaço
mas no dia-a-dia, pois se torna um espaço do cidadão para se para a juventude, principalmente na valorização das diversidades
organizar, lutar e não se deixar iludir pelas ideologias vigentes culturais, pois no nosso país existem jovens de várias raças que
da sociedade. O jovem não pode deixar que o sistema opres- devem ser respeitados diante de qualquer sistema social.
sor tome posições em seu lugar, ou seja, nunca deve perder a A Igreja, por sua vez, vem contribuindo e abrindo espaço para
sua própria identidade, pois ser jovem é não perder o encanto que a juventude possa se sentir cada vez mais comprometida
de qualquer espera e muito menos ficar fixado nos padrões e empenhada com o desenvolvimento de várias oportunidades
da própria formação, é ir além do conhecido, não se contentar no país. Podemos constatar que existem ainda várias soluções
com pouquíssimas coisas, buscar, sonhar, promover, acreditar, para a superação dessas desigualdades. O que nos torna
participar, reivindicar, enfim, é ser diferente. pessoas conhecedoras de tantas realidades é justamente a
O jovem hoje tem sido vítima da corrupção e da alienação, nossa participação e atuação em todos os discursos e debates
expostas principalmente pelos meios de comunicação, que que surgem diante dos meios de comunicação, pois devemos
tentam legitimar o seu pensamento, impondo verdades que não buscar informações e reunir vários elementos necessários para
correspondem às suas necessidades e anseios. A característica o julgamento da realidade de nossa sociedade em relação ao
de nossa sociedade hoje é a relativização dos valores. A juventude mundo da juventude.
procura um sentido prático e fundamentalmente rico de dinamis- Ouvimos falar em mudanças, transformações, globalização,
mos para aplicar em suas vidas e isso se torna algo impossível, enfim, são várias as utopias, ainda não realizadas, porém, não
longe de suas realidades e necessidades. Não encontra uma se tem uma definição lógica de quanto realmente o mundo
estrutura social para fundamentar seus sonhos. Seria uma falha tem evoluído. Falta algo de pragmático que realmente mostre
nossa julgarmos toda cultura da juventude sem nos informar dos resultados, pois o próprio jovem cansou de ouvir e acreditar
seus projetos, planos e ações, pois cada um de nós sonha com em promessas e expectativas. Com isso não escapa de nossa
uma vida digna e um país de ordem e progresso, onde exista análise a temática da política enquanto processo de qualifica-
cidadania e direitos e deveres iguais para todos. ção das estruturas sociais da sociedade, que deve ser voltada
para a realização de projetos que fundamentalmente devem ser
Construção de um Brasil popular aplicados e aprovados para o bem comum das pessoas, das
O lema do Dia Nacional da Juventude 2006, que será ce- famílias e, principalmente, da própria juventude. 
lebrado no dia 29 de outubro é: “juventude que ousa sonhar
constrói um Brasil popular”. Esse lema nos faz refletir sobre o Robério Crisóstomo da Silva é seminarista em Curitiba.

- Outubro 2006 25
Arquivo Pessoal
O risco da Missão
entrevista

numa terra sem lei


detentor do prêmio de Bispo da Prelazia do Xingu,
Arquivo Pessoal

Direitos Humanos da
Ordem dos Advoga- no Pará, denuncia luta pela
dos do Brasil (OAB),
secção Pará, também terra e violência no campo e
são alvos de amea-
ças. A grande mídia
é ameaçado de morte.
guarda silêncio sobre
elas. Nem mesmo a já nos torna, aos olhos deles, inimigos do
caravana do Jornal “desenvolvimento”.
Nacional que passou
pela região noticiou o Quais as principais linhas de ação pas-
fato ao país. toral da Prelazia do Xingu na região?
A Prelazia do Xingu procurou sempre
Dom Erwin, por estar em sintonia com toda a Igreja na
que o senhor e seus América Latina e seguir as linhas traçadas
colaboradores estão por Medellín e Puebla depois do Concílio
sendo ameaçados Vaticano II. O Encontro Interregional de
de morte? Santarém, em 1972, em que os bispos
de Jaime Carlos Patias Colocar-se ao lado dos menos favo- da Amazônia se reuniram para aplicar as
recidos, defender os legítimos direitos decisões de Medellín ao chão concreto dos

O
indígenas e dos povos ribeirinhos, dos planos pastorais de toda a Amazônia, teve
latifúndio, o poder e a impuni- pequenos agricultores e suas famílias, enorme influência também na Prelazia do
dade são algumas das causas denunciar a grilagem e invasão de terras Xingu. A maior circunscrição eclesiástica do
que levam o estado do Pará e a pilhagem, o saque inescrupuloso das Brasil com 365 mil quilômetros quadrados
a apresentar o maior índice riquezas naturais da Amazônia, tudo isso e meio milhão de habitantes se desdobra
de assassinatos relacionados mexe com os interesses e ambições de hoje em 750 comunidades espalhadas
com a disputa de terras no fazendeiros, sojeiros, mineradores, ma- nas cidades e vilas, ao longo dos rios e
Brasil. A tensão tem como protagonistas deireiros e barrageiros e provoca reações igarapés e das estradas que surgiram
fazendeiros vindos do Paraná, Rio Grande irracionais por parte dos que querem desde o início da década de 70, mormente
do Sul e Mato Grosso que defendem o apoderar-se de vastas regiões e derrubar a Rodovia Transamazônica (BR 230). De
plantio de soja, e o grupo formado por a mata virgem. Estes homens, ávidos por cinco em cinco anos representantes de
moradores antigos da região e ambientalis- lucro imediato e loucos por riquezas, não cada comunidade do Xingu se reúnem
tas. Em Santarém, localizada no encontro se deixam convencer de que sua ação numa grande assembléia para avaliar a
dos rios Amazonas e Tapajós, entre 2004 destruidora causará danos para esta e caminhada e planejar a ação evangeliza-
e 2005, imagens de satélite revelaram que para as futuras gerações. A situação se dora. A última realizou-se em novembro
1,2 milhão de hectares de terra viraram torna ainda pior porque eles contam com de 2004 e contou com a presença de 794
plantações de soja. Toda a produção é o apoio de políticos, que repetem há dé- pessoas. Para o quinquênio 2004 – 2009
consumida na Europa. De 1.237 mortes cadas slogans, tais como “tanta terra para a Prelazia escolheu como objetivo: “A
ligadas à violência no campo no Brasil, entre poucos índios!” ou “só o agronegócio em Igreja, Povo de Deus no Xingu, para ser
1985 e 2001, conforme a Comissão Pas- grande escala dá lucro!” Eles só sabem fiel à missão profética e à prática liber-
toral da Terra, 40% aconteceram no Pará. responder às nossas preocupações com tadora de Jesus, compromete-se com a
Existe uma lista de 120 pessoas marcadas difamações e ameaças que infelizmente evangelização inculturada, à luz da opção
para morrer. Natural da Áustria, há 41 anos não são apenas intimidações genéricas. pelos excluídos, enfrentando os desafios
vivendo no Xingu, o bispo da Prelazia, Dom Elas muitas vezes se concretizam em da realidade, organizando as comunida-
Erwin Kräutler, o presidente da Comissão brutais assassinatos. Nós não buscamos des, através do anúncio, do serviço, do
de Direitos Humanos da OAB-Pará, padre o conflito. Nossa posição a favor dos diálogo e do testemunho, participando
José Boeing e o padre Edilberto Sena, menos favorecidos e do meio ambiente da construção de uma sociedade justa e

26 Outubro 2006 -
solidária a caminho do Reino de Deus”. As pequeno grupo que se levanta contra o ber uma carta de solidariedade de outra
propostas de ação pastoral decorrentes do bispo e quer manchar a ação da Igreja. comunidade religiosa que trabalha numa
objetivo geral visam a formação de lide- Nunca me passou pela mente abandonar periferia de cidade ou na zona rural deste
ranças, dando especial destaque à Bíblia a minha missão por causa desses adver- nosso Brasil. É animador receber um
e a uma mística que sustenta nossa ação sários do Reino. Fiz um depoimento sobre e-mail ou telefonema de um bispo irmão
evangelizadora numa realidade complexa as ameaças e suas causas que intitulei que afirma seu apoio. É emocionante
e conflitiva, uma espiritualidade que une de “Se Deus está conosco, quem estará receber uma cartinha de uma jovem, de
fé e vida, ação e oração-contemplação e contra nós?” (Rom 8, 31). Eis a razão um jovem, de uma criança, de um casal,
desperta o ardor missionário. porque continuo a missão até o dia que de uma vovó que diz: “Continue firme!
Deus quiser. Foi Ele que me enviou para Deus está com o senhor. Nós estamos
O governo e o Poder Judiciário têm o Xingu e é Ele que está comigo. Sei que rezamos pelo senhor...“
alguma parcela de culpa pela situação não tirará as pedras do meu caminho. Mas,
de conflito? como já falou a Jeremias, Ele confirma sua No seu país de origem, como seus
Aí está a questão principal. Não deve- presença no meu caminho: “Eles lutarão familiares e amigos reagem vendo sua
ria ser missão de bispo, padre, religiosa contra ti, mas nada poderão contra ti, vida em perigo?
ou religioso defender o direito à terra e à porque estou contigo...” (Jr 1, 19). Tenho Fui ordenado aos 25 anos de idade na
simples sobrevivência das pessoas. Isso fé em Deus e Nossa Senhora. Mais não Áustria, em julho de 1965, e em novembro
é assunto do Estado, da Justiça. Infeliz- posso dizer. do mesmo ano já estava no Brasil. No dia
mente na linha de frente da Amazônia, 21 de dezembro cheguei em Altamira, no
o Estado está praticamente ausente, os O programa de proteção aos defen- Xingu. Nunca exerci meu ministério de
sores dos Direitos Humanos estabele- padre ou de bispo em outra região. O Xingu
cido pela ONU e adotado pelo governo é minha segunda pátria. Mesmo assim
federal vigora no Pará? não nego minhas raízes. Sou brasileiro,
Esse programa vigora em nosso esta- xinguara, nascido na Áustria. Meus pais
do. De fato, fui escoltado por mais de duas faleceram em 2004. Tenho irmãos e irmãs e
semanas por policiais militares até o dia muitos parentes e amigos, amigas. Nunca
em que eu mesmo pedi que relaxassem cortei os laços com a terra onde nasci e
essa medida. É simplesmente impossível me criei. Mas sou missionário e sempre
exercer a minha missão de pastor tendo entendi essa vocação não no sentido de
dois guarda-costas 24 horas por dia ao ser um de fora, mas de eu tornar-me em
meu lado. Chego na comunidade e o todos os sentidos membro do povo a quem
povo se apavora quando vê as armas na fui enviado. Hoje me interessa muito mais
cintura desses homens. Já pensou, eu o fato de pertencer ao povo do Xingu. As
sentado à beira da cama de uma pobre notícias de ameaças se tornaram manchete
enferma com câncer em sua fase terminal também na Áustria e desde então, as ma-
a ministrar-lhe os sacramentos enquanto nifestações de apoio por parte de pessoas
o soldado monta guarda na porta? Com amigas, de Igrejas locais, de paróquias,
toda a boa vontade da Segurança Pública até do cardeal de Viena e do arcebispo de
de proteger minha integridade física, isso Salzburgo, onde cursei a universidade e
não passa de um paliativo, porque os em cuja catedral fui ordenado padre, não
Desmatamento na região dos formadores do Rio Xingu.
problemas que estão na raiz das ameaças param de chegar. Mesmo sendo natura-
seus organismos inoperantes ou então continuam. O estado, através do INCRA, lizado brasileiro há quase trinta anos, o
muitas vezes coniventes com a ilegalida- do IBAMA, da Polícia, da FUNAI, tem que Ministério das
Divulgação

de dos invasores. A Justiça é vagarosa, assumir o seu papel constitucional. Se Relações Ex-
negligente e os verdadeiros culpados por uma terra é pretendida por fazendeiros teriores e a
morte e agressão à integridade física e e ao mesmo tempo destinada aos PDS embaixada
aos direitos humanos se evadem ou “se (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) da Áustria
arranjam” com os órgãos judiciários. Se é necesário resolver este impasse. Assen- apelaram ao
algum mandante de assassinato for julga- tar pobres colonos numa área grilada por nosso gover-
do e condenado, em pouco tempo estará fazendeiros ou invadida por madeireiros no e mani-
“aguardando em liberdade” o recurso, o é programar o conflito armado em que festaram sua
que equivale a dizer que o processo já morre o mais fraco, o colono. Uma vez preocupação
está arquivado. Se o Estado e a Justiça resolvida essa situação pela Justiça, não a respeito da minha segurança. Vejo
estão ausentes, quem ainda vai defender será mais necessário preocupar-se com nisso uma expressão de solidariedade e
este povo? Em nome de Deus a Igreja a segurança do bispo. carinho e sou muito agradecido a todos.
assume a missão profética como outrora Espero que o quanto antes, em nossa
o fez Isaías, Jeremias, Ezequiel, Amós e Nestes tempos difíceis, o que o se- região, se cumpra a profecia de Isaías:
tantos outros. nhor espera dos cristãos do Brasil? “Fazei da paz a tua administradora, e da
Há tanta solidariedade e carinho por Justiça a tua autoridade suprema. Na tua
Como bispo missionário, onde o este Brasil afora! Recebi e continuo rece- terra não se tornará a falar em violência,
senhor encontra forças para continuar bendo e-mails e cartas de muitas pessoas nem em devastação e destruição nas tuas
o seu trabalho? e comunidades. É confortante saber que fronteiras” (Is 60, 17-18). 
Primeiro preciso dizer que o povo não neste exato momento uma comunidade
se coloca contra o bispo, mas, o defende contemplativa de Carmelitas ou Clarissas Jaime Carlos Patias é missionário, mestre em comunicação e
contra as difamações e ameaças. É um está rezando por você, dá coragem rece- diretor da revista Missões.

- Outubro 2006 27
Religião
amazônia

e ecologia
Encontro internacional realizado em Manaus, entre os dias 29
e 31 de agosto, proporcionou uma leitura teológica dos Novos
Movimentos Religiosos na Amazônia.
de Ricardo Castro criatividade e o espírito profético, ao lado de movimentos reli-
giosos e filosóficos oriundos das filosofias budista, hinduísta e
pagã. Surgiu também a percepção de que o universo religioso

F
encontra-se fortemente fragmentado, exigindo-se o diálogo com
reqüentemente somos levados a pensar a Amazônia outras religiões e culturas.
não somente como um espaço geográfico, um bioma Ao nos referirmos aos NMRs podemos perguntar pelo termo
ou um local de interesses geopolíticos e econômicos. “novo”. Em que sentido são novos tais movimentos? Não se
A Região é um paradigma de vida, um modo de se trata de trazer à tona alguns tão antigos quanto a história da
relacionar com a natureza, com Deus e com o mundo. humanidade? Certamente eles são “novos” apenas quanto a sua
Os povos que aqui viveram e vivem são naturalmente presença intensa no campo religioso do mundo ocidental, há
religiosos, aprenderam dos seus antepassados indígenas, nor- dois milênios dominado pelo cristianismo em suas várias formas.
destinos e missionários europeus,
que entrar nestas matas é se inserir

Cecília Tada
num grande mistério.

O pluralismo religioso
Na América Latina, a experiência
do pluralismo religioso não está
basicamente separada da sua forma
original cristã. Uma grande maioria
do povo vive numa “dupla pertença”,
por muitos chamada pejorativamente
de sincretismo, para outros uma
forma autêntica de inculturação
popular ou reinvenção da fé cristã
com as bases culturais religiosas
locais. Com a perda de hegemonia
por parte do catolicismo e do pro-
testantismo, surgiram e cresceram
os Novos Movimentos Religiosos
- NMRs, tanto os de tradição cristã
como os de origem afro, indígena
e oriental. Na América Latina se
expandiu, com notável rapidez, o
neopentecostalismo, movimento
religioso que busca encarnar a Participantes do Encontro.

28 Outubro 2006 -
Jaime C. Patias
Pode-se perguntar também por seus aspectos religiosos, porque,
alguns deles não somente recusam ser assim designados, como
também se apresentam como “filosofias de vida”.
Mesmo com relação ao neopentecostalismo deve-se observar
o seu caráter mutante quanto as suas origens protestantes e
pentecostais. Isto porque ele recusa a ética herdada dos movi-
mentos de santidade, a negação pura e simples da política e vida
econômica. Privilegia rituais e práticas comuns no catolicismo
rústico e popular, nas religiões mágicas e nas práticas xamânicas
de antigas culturas, sincretizando tudo num modelo temperado
com as aspirações de prosperidade econômica, própria das
classes médias inferiores e dos excluídos de uma sociedade
que pretende ser de abundância. Esse pentecostalismo perdeu
também a sua vocação escatológica pré-milenista, pois, desperta
em seus membros o sonho da construção de um Reino de Deus Povos indígenas no 11º Intereclesial das CEBs, Ipatinga, MG.
dentro das próprias fronteiras da sociedade de consumo. Jesus Cristo, o Deus solidário do Reino que caminha com seu
povo, na construção histórica através de nossas ações e orações
Quem é Deus? na vida do mundo. O Deus comprometido com a luta dos pobres
A questão fundamental para a Teologia é sobre Deus que se que morre assassinado na cruz e ressuscita para vida plena na
revela na história, ao mesmo tempo em que manifesta seu plano história, torna-se cada vez mais distante da vida das multidões,
e a vocação humana. A experiência religiosa dos NMRs aponta que em cultos espetaculares, onde se experimenta expulsão de
para a pergunta sobre como Deus se relaciona com o mundo e demônios e pacotes milagrosos, são levadas a experimentar um
com o ser humano pessoalmente. É a partir da análise desses deus assistencialista, paternalista e individualista.
aspectos que se pode tocar no âmago da experiência religiosa
dos NMRs. Tanto as novas formas pentecostais, como as novas O misticismo
formas de xamanismo e pajelança, apontam para um aspecto, Uma característica importante dos NMRs é o retorno ao
“como se relacionar de modo apropriado com o sagrado para misticismo. Situa-se o misticismo dos NMRs no contexto das
que se possa adquirir benefícios, prosperidade, bens materiais, expressões da “pós-modernidade” como reação ao racionalismo
sorte no amor e auto-conhecimento?” frio e homogêneo da modernidade. O misticismo dos NMRs tem
Quem é Deus? E como ele se relaciona com o mundo e sua base nas culturas religiosas brasileira: catolicismo devocional,
com cada ser humano em particular? É na resposta a essas sincretismo afro-indigena, espiritismo kardecista e novas formas
questões que se pode compreender e desenvolver atitudes e de orientalismo. Suas expressões são diversas e criativas na
práticas frente aos NMRs. A experiência religiosa dos NMRs é sua busca de superação do racionalismo religioso-teológico.
o grito de uma humanidade que se distanciou de uma forma de Caracteriza-se principalmente pelas práticas rituais onde o imedia-
raciocinar, ou seja, de separar experiência religiosa da razão. tismo do contato com o sagrado substitui a reflexão, o discurso.
Que não se sente mais sujeita de sua própria história, ou mesmo O misticismo ritualista dos NMRs, nos contextos urbanos, traz
que se sinta assim, se sente capaz de compactuar com deuses o descanso para um mundo extremamente condicionado pela
e demônios da realidade. pressa, produz uma certa unidade, comunhão com um deus
que é alívio, que escuta as lamentações, que ajuda a superar
O problema do mal um dualismo perturbador.
Parte da compreensão teológica dos NMRs passa pela análise A experiência mística dos NMRs é inédita para a tradicional
de como se confronta com a questão do mal no contexto atual. linguagem teológica, aqui ela assume a forma de produto, é
Uma grande maioria dos NMRs compreende que o mal como utilitarista, terapêutica e está a serviço das necessidades hu-
personificação de espíritos malignos ou energia negativa está manas básicas (dinheiro, emprego, vida afetiva etc). Com este
presente nas estruturas sociais (violência, desestruturação familiar, fim claramente presente na mente do adepto, o misticismo se
incapacidade das instituições de resolver os problemas sociais). dá principalmente no corpo que deve primeiro sofrer na prática
O mal também está na vida psíquica das pessoas na medida em de rituais ou oferecimento de ofertas, para que seja possível
que estas se tornam inaptas para lidar com um mundo urbano conseguir os milagres de Deus. No aspecto do misticismo os
cada vez mais complexo (estresse, depressão, fobias, solidão NMRs recuperam a ritualidade, ou reinvenção do cotidiano, a
e outras). O mal toma forma econômica na impossibilidade de força e o poder do simbólico e o uso da emoção, dos condicio-
mudanças dentro deste campo (desemprego, consumismo). namentos psicológicos de massa para uma experiência corporal
Todas essas formas do mal vão ser descritas ou expressas como da mística.
demônios, espíritos, karmas, encostos, desarmonia interior, forças O que fica claro nesta análise dos NMRs é o que o ser
sobrenaturais e outras. Espera-se a chegada de uma era, de humano desta era, principalmente aqueles e aquelas das clas-
uma outra realidade que será conduzida ou desencadeada por ses mais pobres, buscam superar suas dificuldades materiais
um Messias, ou através de rituais religiosos. e espirituais via misticismo religioso. O ser humano hoje tem
No interior desta experiência religiosa se encontra também sede de espiritualidade como meio fundamental para enfrentar
uma visão teológica. Deus nos salva do mal pela sua onipotência, os desafios da vida. Tendo em conta os princípios da teologia
o ser humano é relegado à sua incapacidade de agir historica- do pluralismo religioso, fundada sobre a experiência do Deus
mente e inteligentemente. Deus age diretamente respondendo Trinitário e do Reino de Deus, somos chamados como gente de
as necessidades humanas, principalmente essa da prosperidade fé, a viver uma espiritualidade aberta às experiências religiosas
milagrosa e da superação de sofrimentos de todas as espécies. autênticas, que busque uma relação saudável entre a humani-
O ser humano se torna receptáculo de bênçãos de todas as dade e a natureza. 
formas e não parceiro, co-criador com o Deus da história e da
vida. Esta concepção teológica se distancia daquela do Deus de Ricardo Castro é missionário professor doutor em Teologia Dogmática.

- Outubro 2006 29
Assembléia Geral da CNBB e a V Conferência do CELAM
Segundo o secretário-geral da Conferência Nacional de maio. Dom Odilo recorda que o CELAM recomenda
dos Bispos do Brasil, CNBB, a próxima Assembléia Ge- especialmente a difusão e o uso da oração do papa
ral do episcopado do país será uma oportunidade dos Bento XVI pela V Conferência, bem como a promoção
prelados darem contribuições à V Conferência Geral do de outros momentos de freqüente prece pelo bom
Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Dom Odilo êxito dessa importante assembléia eclesial, da qual
Scherer explica que o Conselho Permanente da CNBB se esperam muitos frutos no presente e no futuro dos
já escolheu o tema da 45ª Assembléia Geral, que será nossos povos. A oração está disponibilizada na página
“Rumo à Conferência de Aparecida”. Marcada para eletrônica da CNBB. As Novenas de Natal de 2006 e
abril de 2007, entre os dias 18 e 27, a 45ª Assembléia os roteiros quaresmais de preparação à Páscoa de
será realizada poucas semanas antes da abertura da 2007 serão outras tantas ocasiões de oração pelo bom
Conferência de Aparecida, prevista para os dias 13 a 31 êxito da Conferência.

Dom Luciano Mendes de Almeida, sj Dom Franco Masserdotti, mccj


Arcebispo de Mariana (MG) Bispo de Balsas (MA)
Faleceu no dia 27 de agosto, festa de Santa Mô- Faleceu no dia 17 de setembro dom Franco
nica, aos 75 anos, dom Luciano Mendes de Almeida, Masserdotti, presidente do Conselho Indigenista Mis-
VOLTA AO BRASIL

vítima de câncer. Seria aniversário de sua falecida sionário, na cidade de Balsas, no Maranhão, vítima
mãe, data em que ele de atropelamento. O bispo foi velado na Catedral de

Fotos: Jaime C. Patias


recebeu o sacramento Balsas e sepultado na mesma cidade.
da crisma, e sétimo ani- Dom Franco nasceu em Brescia, Itália, no dia 13
versário de morte de dom de setembro de 1941. Foi ordenado sacerdote no dia
Hélder Câmara. 26 de março de 1966, em Padova, Itália. Em 22 de
Dom Luciano nasceu novembro de 1995 foi nomeado bispo e foi ordenado,
no Rio de Janeiro, em 5 no dia 2 de março de 1996, em Balsas. Em agosto
de outubro de 1930. Na de 1999 foi eleito presidente do Conselho Indigenista
juventude, entrou para Missionário, reeleito em agosto de 2003. É autor do
a Companhia de Jesus livro “A missão a serviço do Reino”, publicado pela
– os jesuítas. Fez seus Paulus, em 1996.
estudos de Filosofia em Nova Friburgo, de 1951 a Seu lema como bispo era: “Para que tenham
1953 e, em Roma, fez seus estudos de Teologia, de vida”. No último texto
1955 a 1958 e doutorou-se em Filosofia no ano de que escreveu para o
1965. Foi sagrado bispo em 2 de maio de 1976. Cimi, em memória de
Dom Luciano foi secretário-geral da CNBB por dom Luciano, disse:
dois mandatos consecutivos, de 1979 a 1986, e pre- “a verdadeira morte
sidente, também por dois mandatos consecutivos, de acontece quando co-
1987 a 1994. Foi constante seu empenho em colocar locamos a nossa es-
em prática o Concílio Vaticano II e as orientações perança e o sentido de
das Assembléias de Puebla (1979) e Santo Domin- nossa vida na posse,
go (1992). Havia sido eleito para a V Conferência no poder, no prazer
Episcopal de Aparecida, no próximo ano. Desde desregrado, quando
1987 atuou como membro do Conselho Permanente fechamos o nosso co-
do Sínodo dos Bispos e desde 1992 foi membro da ração ao próximo e nos deixamos levar pelo egoísmo.
Pontifícia Comissão Justiça e Paz e Vice-Presidente A verdadeira morte é quando temos medo de perder
do CELAM (1995-98). nossa vida por causa de Jesus e do Evangelho (cf. Mt
A sua primeira paixão eram os pobres e sofridos, 8, 35). Por isso dom Luciano não morreu.” Também
mas particularmente as crianças e os meninos e me- por isso, dom Franco não morreu.
ninas de rua. Ao lado de Betinho (Herbert de Souza), Dom Franco também foi membro do Conselho
Dom Luciano foi um dos promotores da Ação da Geral dos Missionários Combonianos (1979-1985),
Cidadania contra a Miséria e pela Vida. formador dos seminaristas de Teologia em São
Defensor convicto e incansável da causa indígena, Paulo (1986); superior Provincial dos Missionários
ajudou no processo que culminou na vitoriosa homolo- Combonianos do Nordeste do Brasil (1987-1992);
gação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. secretário executivo do Conselho Missionário Na-
Em 2002, inspirou os bispos do Brasil a aprovarem, cional (COMINA) de 1988 a 1994; e coordenador
unanimemente, o Mutirão de Superação da Miséria e do Centro de Formação e Animação Missionária de
da Fome. O esforço pela paz o levou, anos atrás, ao Teresina, PI (1995). Como bispo, foi responsável
Líbano. Apostava na comunicação e na evangelização pela Dimensão Missionária do Regional Nordeste
pela mídia. Teve grande participação na criação da 5; presidente da Comissão Episcopal de Missões
primeira rede católica de TV, a Rede Vida. Com sua - CNBB e responsável pela Missão Ad Gentes do
lucidez, profetismo, testemunho de caridade, bondade Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). 
e santidade, resumia-se simplesmente como uma
pessoa feliz. Na doença, costumava dizer: “Estou
nas mãos de Deus” ou “Deus é bom”. Fontes: CNBB, CIMI.
30 Outubro 2006 -
Casa de Retiro e Encontro
Centro Missionário José Allamano
ATENDEMOS: Congregações e grupos religiosos, movimentos, paróquias, empresas,
associações e outros.
A casa possui:
47 quartos com banheiro individual com uma ou mais camas, podendo alojar 115 pessoas.
01 capela com capacidade para 80 pessoas e 02 oratórios,
01 auditório com 120 lugares, 01 Sala de palestras para 50 pessoas,
04 salas pequenas para grupos e muito mais.
Ampla área externa com quadra esportiva, espaço coberto com churrasqueira e cozinha.

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São Francisco Xavier, “o gigante da história das Missões”, nasceu há 500 anos (1506/2006).
A fé, a Missão, o amor de Deus, a Salvação oferecida a todos, não têm fronteiras.
A Campanha Missionária 2006, com seu cartaz, quer fazer ver e entender que o campo da ação missionária é o mundo.
Os cinco continentes, as diferentes raças, culturas e povos levam-nos a alargar os horizontes da Missão.
No mapa vemos as rotas das viagens de São Francisco Xavier para chegar ao Oriente. Viagens pouco turísticas e muito missionárias.
É preciso ousar, ir além-fronteiras, acalentar sonhos e ideais de âmbito universal: a humanidade é maior.
Com São Francisco Xavier vamos aprender e sonhar!

PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS: Caixa Postal 03670 - 70084-970 - Brasília - DF - Tel.: (61) 3340-8660 - E-mail: pom@pom.org.br

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