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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO


FACULDADE DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA

Batalhas eleitorais
SANTA RITA, Chico. Batalhas eleitorais. Geração Editorial : São Paulo, 2001, p.159-
163
Campo Grande-MS - 1996/2000
No primeiro semestre de 96 fui a Campo Grande como participante de um seminário de marketing
político. Depois da minha palestra fui convidado por Giovane Favieri, diretor da VBC - Vídeo
Brasil Central, a maior produtora local, a dar uma consultoria para a campanha de André Pucinelli,
que começava a ser estruturada.
De qualquer ponto de vista, a parada era duríssima. A começar pela pesquisa de intenção de voto,
feita por pesquisadores locais, que me foi mostrada:
Levy Dias - 33%
Nelson Trad - 24%
Chico Santa Rita
Zeca do PT - 15%
André Pucinelli - 12%
O candidato representava o continuísmo de administrações sem
brilho do PMDB. No Estado, o dr. Wilson Martins encerrava a carrei-
ra aos 80 anos, com um governo de poucos recursos e poucas obras.
Na Prefeitura, Juvêncio da Fonseca não chegava a comprometer, mas
não era reconhecido pela população como um grande administrador
e, por isso, também não era um cabo eleitoral de peso.
Zeca do PT André Pucinelli
Para completar, André nem era de Campo Grande, nem era do Mato
Grosso do Sul... nem era brasileiro. Tinha nascido em Andrea, na Itália, viera pequeno para o Brasil, estudou no Paraná e, só depois
de formado médico cardiologista, viera tentar a sorte em Fátima do Sul, pequena cidade do interior. Ali casou e teve dois filhos.
Ali fez carreira profissional e acabou na política, candidato a prefeito. Ganhou no número de votos individualmente, mas perdeu na
soma das sublegendas. Tornou-se o deputado estadual mais votado (86), reeleito quatro anos depois. Em seguida, deputado federal
(94), com a maior votação do Estado. Estava começando a consolidar o seu espaço no momento de renovação das lideranças no
Estado. André só veio morar na capital em 92, quando o governador o fez secretário estadual da Saúde.
Nesta eleição iria enfrentar uma turma de peso: Levy, senador, ex-prefeito, Trad e Zeca do PT, várias vezes deputados; os três políti-
cos de nome e de história.
Uma boa história sempre é um bom começo, e André também tinha a sua. Para completar o conceito de "bom candidato" acrescenta-
va uma determinação e uma força de trabalho poucas vezes vista. Seis da manhã ia pra rua, cabalar votos, e só voltava pra casa de-
pois da meia-noite. Caminhava durante o dia todo, incansavelmente.
A estratégia que me foi apresentada pelo comando da campanha previa uma disputa renhida com o senador Levy Dias, o líder na
intenção de votos. Esses números teriam que ser fortemente abaixados. E pensava-se que, saindo dele, os votos viriam automatica-
mente para o candidato do PMDB. Havia uma unanimidade:
- De alguma forma, vamos ter de "bater" no Levy.
Pedi tempo para pensar, enquanto Iracema Rezende trabalhava numa pesquisa qualitativa.
Com os resultados na mão firmei minha visão daquele momento eleitoral com um encaminhamento surpreendente. Fui esperar o
candidato em sua casa, madrugada correndo. Ele estava tão cansado quanto ansioso. Fui direto ao ponto:
- Trago-lhe uma bela surpresa. Seu inimigo não é o Levy, muito menos é o Trad. Seu inimigo é o Zeca!
André me questionou profundamente: como tinha chegado àquela conclusão, afirmando que a decisão seria entre o terceiro e o quarto
colocados? Como seria possível tirar fora o primeiro e o segundo?
Não foi difícil explicar. Naquele momento a intenção de voto não era consistente; era apenas representativa do nível de conheci-
mento que a população tinha dos candidatos; por isso é que os dois mais antigos na política eram os preferidos. Mas havia um

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Prof. Artur Araujo – e-mail: artur.araujo@puc-campinas.edu.br site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
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sentimento latente muito forte de cansaço com esses velhos políticos, sempre os mesmos.
A possibilidade de consolidação dos votos e do crescimento de Levy era baixíssima; a de Trad, nula. O povo exigia mudanças radi-
cais e o quadro eleitoral tinha dois candidatos que encarnavam essa disposição com muita propriedade, então seria entre eles que se
daria a batalha final.
André afundou no sofá e fez o último questionamento:
- Tem certeza?
Eu tinha. Depois de um longo silêncio, cabeça abaixada entre as mãos, ele olhou para o coordenador-geral da campanha, deputado
Waldemir Moka. Este falou baixinho, quase sussurrando:
- Hoje, um amigo nosso doou duas kombis e dois mil litros de gasolina para a campanha de Zeca.
Pensava-se que o candidato do PT, por ter um estilo agressivo e até raivoso, jogaria as bombas que detonariam o castelo de votos de
Levy. Nós o ajudaríamos por baixo do pano e André correria por fora, beneficiando-se da briga entre os dois. Parecia muito fácil.
Mas seria um engano mortal, conforme demonstrei:
- A isso se chama "alimentar a cobra que vai picá-los".
E a picada seria, verdadeiramente fatal, já que o PT veio com uma campanha muito arrumada, com uma estratégia correta, a começar
do slogan: "Muda Campo Grande". Com um candidato asséptico, passando uma imagem que chamei de CCC: com calma e compe-
tência conserta-se o que está errado. "CCC" também no sentido de afugentar o "perigo comunista", perante uma sociedade conser-
vadora por princípios. (Lembram-se do famigerado Comando de Caça aos Comunistas?).
A nossa estratégia era semelhante, acrescentando dois outros elementos: emoção e competência. E já que o PT tinha se apossado do
slogan mais adequado, preferi personalizar e sintetizei nossos objetivos num slogan inusitado:
ANDRÉ
Amor, Trabalho e Fé.
As três palavras com significados muito especiais: o "Amor" vinha do símbolo apropriado para um médico cardiologista, já usado
nas suas outras campanhas - o coração; o "Trabalho" vinha sendo reconhecido por todos na atuação daquele verdadeiro workaholic; e
a "Fé", além da rima, colocava um toque de esperança em melhores dias, uma maneira sutil de falar em "mudança”, este sim, o
grande tema da eleição.
Não deu outra: o crescimento da intenção de voto no André e no Zeca era parelho e diário, assim como as quedas de Trad e Levy,
tudo cuidadosamente monitorado pelas nossas pesquisas bem-administradas pelo Osmar Jerônimo, autodidata, grande conhecedor
dos meandros de uma campanha.
No meio da correria, entretanto, uma interferência fez com o candidato do PT ganhasse um espaço maior. O prefeito Juvêncio exi-
giu aparecer no programa do André, para se "defender" de críticas que vinha sofrendo dos adversários. Sabíamos, através das
pesquisas, que a presença dele não era conveniente naquele momento: nada acrescentava de positivo e ainda tirava do André a inde-
pendência e a distância que mantinha dos "velhos políticos" - uma clara exigência da população. Nada pessoal contra o prefeito; uma
simples questão de oportunidade eleitoral.
As exigências partidárias acabaram prevalecendo e o resultado final da votação no 1° turno ficou um pouco aquém das nossas expec-
tativas:
Zeca do PT - 34%*
André Pucinelli - 26%
Levy Dias - 17%
Nelson Trad - 8%
*Resultados oficiais do TRE
O importante é que se confirmava o 2° turno anunciado, com a queda dos dois primeiros e o crescimento dos dois últimos.
A questão da "mudança” tinha prevalecido soberana, e o slogan petista - "Muda Campo Grande" - tinha revelado uma extraordi-
nária eficiência. Agora a briga era voto a voto, pois, com a saída dos outros candidatos, ocorreu um empate técnico entre os dois que
ficaram, mas com Zeca sempre um pouquinho à frente. Ganharia quem se demonstrasse mais capaz de implementar a tal "mudança''.
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Prof. Artur Araujo – e-mail: artur.araujo@puc-campinas.edu.br site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
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