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ISSN 1647-3574

ano ii · revista nº08 · set/out 2009


350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros
Economia & Negócios · Sociedade · Turismo Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades

REVISTA Nº08 · SETEMBRO / OUTUBRO 2009


o valor do desporto
Num período em que só se fala em crise, surge um oásis onde se gere milhões.
Um mundo paralelo, detentor de um poder inigualável, numa economia em suposta
recessão. Saiba quais os nomes dos novos multimilionários

o sólido golias casa do futuro novo round


O sector bancário é um dos protagonistas Design, conforto e qualidade. Eis os União Económica e Monetária em África.
do momento. O seu contributo para o critérios porque se pautam as habitações Sonho ou realidade? Países preparam
progresso tornaram a banca fundamental do Século XXI. Um bom investimento para integração financeira com a criação de
para a expansão económica e social. Nesta quem deseja aliar a excelência à eficiência. blocos regionais para se unir a Europa em
edição, descubra a força do gigante Não perca as mais recentes inovações novas parcerias estratégicas
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in loco

revista bimestral nº08 - set/out 2009


http://angolain.blogspot.com · http://twitter.com/angolain
ECOS DO MUNDO OCIDENTAL
Direcção Executiva Desengane-se quem imagina África como um dores. A Angola’in apresenta-lhe um dossier
Daniel Mota Gomes · João Braga Tavares
conjunto de países afastados da realidade exclusivamente dedicado à matéria, em que
Direcção Editorial
Manuela Bártolo - mbartolo@comunicare.pt mundial, longe da ‘movida’ desportiva, desco- o mundo do desporto-rei, devido às recentes
Redacção nhecedores das vantagens e existência de tele- transferências astronómicas como a de Cris-
Patrícia Alves Tavares - ptavares@comunicare.pt
Mónica Mendes - mmendes@comunicare.pt comunicações e da banca, conduzindo viaturas tiano Ronaldo, merecem especial enfoque.
Colaborador Especial obsoletas e espantando-se com os automó-
João Paulo Jardim - jpjardim@comunicare.pt
Design Gráfico veis europeus. O continente, que Angola tanto Na edição deste mês fazemos também o ba-
Bruno Tavares · Patrícia Ferreira dignifica, servindo de exemplo para as nações lanço da actividade do sector bancário, cuja
design@comunicare.pt
Fotografia menos evoluídas, está a fervilhar de progresso implementação no país tem sofrido profundas
Ana Rita Rodrigues · Shutterstock · Fotolia e os seus habitantes aproximam-se cada vez evoluções, nomeadamente no que concerne ao
Serviços Administrativos e Agenda
Maria Sá - agenda@comunicare.pt mais dos cidadãos mundiais, adoptando as alargamento da rede a diversas zonas rurais e
Revisão suas marcas, estilos de vida e produtos. municípios mais longínquos. O sucesso e cres-
Marta Gomes
Nesta edição, a Angola’in debruça-se sobre cente procura da banca é reflexo do desenvol-
Direcção de Marketing a modernidade angolana e aborda a evolu- vimento económico e respectiva reconstrução
Pedro Posser Brandão
Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369 ção dos sectores de actividade responsáveis nacional, bem como da integração monetária
E-mail - pbrandao@comunicare.pt
por incrementar a qualidade de vida. E fa- em África, onde já se fala inclusive na criação
Publicidade
Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369
lando em poder de compra, é inevitável fu- de uma moeda única, à semelhança do que
E-mail - publicidade@comunicare.pt gir a uma área que marca um estilo e uma aconteceu com o Euro na União Europeia.
João Tavares - jtavares@comunicare.pt
Daniel Gomes - dgomes@comunicare.pt identidade que não flutua ao sabor da crise.
ASSINATURAS - assinaturas@comunicare.pt É o mundo do desporto que merece a nos- A população angolana está cada vez mais cos-
Envie o seu pedido para: sa atenção. Todos se recordam das declara- mopolita e a procura de produtos bancários re-
Rua Rainha Ginga, Porta 7
Mutamba - Luanda - Angola ções de Platini, que no final da última época flecte o aumento do poder de compra, que se
apelava aos clubes para que fossem pruden- traduz na crescente demanda de automóveis
Departamento Financeiro
Sílvia Coelho tes na gestão dos seus recursos financeiros. e das telecomunicações. A Angola’in analisa
Departamento Jurídico Contudo, as recentes notícias provam que as a sociedade do século XXI e demonstra nes-
Nicolau Vieira
Impressão modalidades não se deixam afectar pela con- te número como os angolanos já não sabem
Multitema tenção económica. As avultadas receitas ge- viver sem os telemóveis e como a constante
Distribuição
Africana Distribuidora Expresso radas pela publicidade, direitos televisivos, procura de viaturas novas e das marcas inter-
Luanda - Angola bilheteiras, patrocínios e todo o merchandi- nacionais motivou a criação da primeira fábri-
Tiragem
10.000 exemplares sing envolvente revelam que o desporto gera ca nacional de produção automóvel. São sinais
— milhões e que são modalidades como a Fór- dos tempos modernos e de uma população ca-
ISSN 1647-3574
DEPÓSITO LEGAL Nº 297695/09 mula 1, o ténis ou o golfe que se assumem da vez mais próxima dos hábitos globais.

Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos,
como as marcas mais valiosas. O futebol não
fotografias e ilustrações, sob quaisquer meios e para lidera o ranking, mas encontra-se no topo e
quaisquer fins, inclusive comerciais
é certamente aquele que move mais segui- A Direcção

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IN LOCO · ANGOLA’IN |3
86
DESPORTO

vício dos
telemóveis
Com 7,5 milhões de utilizadores, o
‘assalto’ ao sector das telecomunicações
não pára de crescer. Unitel e Movicel
apostam na inovação para captar mais
clientes. Marcas investem em novos
modelos para combater a concorrência.
Conheça as últimas novidades do mercado

22 76
IN FOCO INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO
‘áfrica negra’ crédito ao carbono
nigéria - retrato de uma potência O mercado do carbono merece destaque nesta edi-
Os africanos têm razões para sorrir. O continente tem- ção, uma vez que é um sector de actividade que co-
-se afirmado mundialmente e as medidas desenvolvi- meça a captar a atenção dos governantes. A emissão
das no âmbito do fomento económico e das condições de gases poluentes é um facto. É fundamental regu-
de vida são evidentes. A Nigéria é uma das economias lar esta actividade e aplicar medidas que protejam o
que tem merecido destaque. Apesar dos conflitos in- ambiente, numa altura em que o país está a crescer
ternos, este país é uma das potências em ascensão. a um ritmo galopante e a poluição aumenta diaria-
Compreenda o que faz da Nigéria um império mente

ANGOLA IN PRESENTE
03 IN LOCO 12 INSIDE 50 SOCIEDADE

10 EDITORIAL 18 MUNDO 56 GRANDE ENTREVISTA

6 | ANGOLA’IN · SUMÁRIO
28 ECONOMIA & NEGÓCIOS
‘o sólido golias’
Quase inexistente há 20 anos, o sector bancário sofreu um
forte impulso nos últimos anos. O final da guerra e a es-
tabilidade económica permitiram novas apostas e a banca
encontrou as condições necessárias para florescer. A re-
construção nacional tem fomentado este sector, que recebe
um incremento de pedidos de crédito e de novos clientes.
Conheça as entidades mais poderosas e a sua expansão em
todo o território

32 pirâmide invertida
Índia. O continente asiático tem-se assumido indiscutivel-
mente como uma economia em constante crescimento,
cujo poder económico começa a ser respeitado entre os gi-
gantes do mundo, como EUA e os grandes da Europa. A Ín-
dia é um desses exemplos de desenvolvimento e evolução 82
financeira. A inovação, modernidade e franca expansão co- INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO
meçam a dar cartas no panorama internacional
império das quatro rodas
A evolução do sector automóvel é a imagem
44 comunicar com êxito do angolano moderno. Requintado e
Conhecida mundialmente, a Nokia lidera e está na vanguar- apaixonado por viaturas de elevado calibre, o
da na concepção de telemóveis, que aliam a tecnologia de
homem actual não dispensa o carro e prefere
ponta a um design inovador. A Angola’in traça a evolução do
as marcas internacionais, preterindo os
maior produtor de telefones sem fios, cujos modelos con-
automóveis usados. Esta edição faz o balanço do
quistam pequenos e graúdos
desenvolvimento deste mercado, num período
66 TURISMO em que arranca a primeira unidade fabril
nacional para fazer face à procura
jamaica e camboja
Esta edição sugere dois espaços distintos para passar as
sição da Angola’in para a rubrica Estilos. Admirada pelo seu
suas férias. Para os que preferem climas tropicais, com
perfil e carácter inovador e experiente promete fazer furor
belas praias, temperaturas altas e população simpática e
com os seus conselhos de moda. A não perder!
descontraída, a Jamaica é a escolha certa. Os amantes de
circuitos culturais e que procuram conhecer melhor a his-
tória mundial encontram na Cidade Perdida de Angkor a
126 CULTURA & LAZER
oportunidade de descobrir uma civilização ímpar e única imagem vale mais que mil palavras
O seu aparecimento acompanha a evolução da humanida-
90 DESPORTO de. As artes plásticas manifestam-se sob diversas formas,
patins vitoriosos tendo surgido nos primórdios das pinturas rupestres. Em
Angola, esta arte, que se caracteriza pela diversidade de
O desporto tem longa tradição. O hóquei em patins é uma
estilos, desenvolveu-se ao ritmo dos momentos históricos
das modalidades com maior potencial, em que os masculi-
que marcaram o país
nos séniores se destacam pelos bons desempenhos a nível
nacional e internacional. O inédito sexto lugar alcançado no
último mundial revela o talento dos hoquistas, cujas pres-
130 PERSONALIDADES
tações da selecção fazem os grandes respeitá-la angolano de alma e coração
Apaixonado pelo movimento interventivo nacional e pela li-
106 ESTILOS teratura, Luandino Vieira é um dos escritores mais consa-
Lisete Pote, prestigiada estilista nacional, com provas da- grados, que esteve ligado à fundação da União de Escritores
das em todo mundo, tendo realizado desfiles em países Angolanos. Nasceu em Portugal, mas cresceu em Angola.
como Portugal, Espanha, França, Suécia, Japão, Namíbia, Sempre reivindicou a condição de luandense e interveio na
Benin e Moçambique, entre outros, é a mais recente aqui- libertação nacional

60 FOTO REPORTAGEM 96 LUXOS 118 VINHOS & COMPANHIA

72 ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO 112 LIVING

SUMÁRIO · ANGOLA’IN |7
editorial

continente on-line
On-line com o mundo! A frase pode parecer, numa to. Com uma projecção de custos de 650 milhões de
primeira leitura, algo intangível, mas de facto é esse dólares, esta ligação tem rota traçada para percorrer
o poder que as novas tecnologias oferecem aos seus o Quénia, Madagáscar, Moçambique e Tanzânia com
usuários nos dias de hoje. A dar passos largos no mun- uma rede de banda larga internacional conectada com
do da informação digital, África continua, no entanto, a África do Sul, Índia e Europa, com conclusão prevista
a ser um info-excluído por força dos elevados preços para o início de 2010.
de acesso, ligações lentas e por Três outros projectos desti-
mbartolo@comunicare.pt
vezes estagnadas, que sofrem Ligar África à Europa nam-se a espalhar as liga-
ainda com os problemas ener- por fibra óptica vai ções de fibra óptica por cerca
géticos que afectam grande
transformar o panorama de 22 países por toda a Áfri-
parte dos países. Pouco mais ca Subsariana. Falando so-
das telecomunicações no
de 4% da população do conti- bre o projecto que agora vai
nente pode aceder à Internet. continente e ter um impacto ser financiado, Lars Thunell,
A dificuldade deste número directo e positivo a nível vice-presidente executivo do
atingir os dois dígitos faz com económico e social IFC, sector privado do Banco
que os poucos utilizadores se- Mundial dedicado aos em-
jam obrigados a pagar taxas demasiado elevadas pa- préstimos, sublinha que «os custos normais de
ra usufruírem de ligações demasiado lentas. Lentas acesso à Internet na África Oriental são de 200 ou
ou mesmo estagnadas, esperando pela boa vontade 300 dólares mensais, o que significa que são dos
da conhecida teimosia do sistema de electricidade de mais elevados do mundo». Expectativas para o pa-
grande parte dos países. Inúmeros projectos tentam norama deste sector depois de terminado o projec-
levar a cabo operações de conexão do continente à re- to? «Esperamos que os preços caiam cerca de dois
de, mas os custos são normalmente uma barreira difí- terços assim que este projecto esteja concluído e
cil de derrubar. Agora, um consórcio de empresas que que continuem a descer depois», afirmou Thunell
planeia a instalação de uma ligação através de cabo recentemente. Para além da descida dos preços de
subaquático para ligar África à Europa recebeu o finan- acesso, o outro objectivo assumido pelo consórcio
ciamento necessário para arrancar com o projecto. Es- é fazer triplicar os subscritores, proporcionando o
ta auto-estrada, onde o alcatrão cede lugar ao cabo de acesso à Internet a cerca de um quarto dos africa-
fibra óptica, com cerca de 10000 mil quilómetros, que nos - 250 milhões de pessoas. Lars Thunell não tem
pretendem vinte e um países (Europa e Regiões Este, quaisquer dúvidas relativamente à importância do
Oeste e Sul de África), já começou a ser construída e projecto: «este projecto vai transformar o panorama
espera-se que entre em funcionamento até ao próxi- das telecomunicações em África e vai ter um directo
mo ano. O financiamento, no valor de 70.7 milhões de e positivo impacto nos negócios da África Oriental»,
dólares, foi atribuído por cinco instituições financeiras assegura. Depois de concluída uma primeira fase do
internacionais: a Corporação Financeira Internacional projecto, outros treze países serão também incluí-
(IFC) do Banco Mundial, o Banco Europeu de Investi- dos na rede através ligações adicionais. Esses paí-
mento, o Banco Africano para o Desenvolvimento, a ses são o Botswana, Burundi, a República Central
Agência Francesa para o Desenvolvimento e o Banco do Congo, Chade, Etiópia, Lesoto, Malawi, Ruanda,
Alemão para o Desenvolvimento. Um outro projecto, Suazilândia, Uganda, Zâmbia e Zimbabué. Sem dú-
denominado SEACOM, que ostenta um plano ainda vida, um projecto megalómano, há muito esperado
mais ambicioso garantiu também o seu financiamen- no continente!

10 | ANGOLA’IN · EDITORIAL
EDITORIAL · ANGOLA’IN | 11
INSIDE | patrícia alves tavares

SAÚDE
MÉDICOS CUBANOS VÃO REFORÇAR HOSPITAIS
Mais de duas dezenas de profissionais de ao nível das províncias, o responsável admi-
saúde cubanos vão deslocar-se para Angola, tiu que os 2400 médicos existentes no país
ainda este ano, com o objectivo de reforçar correspondem a um “número bastante redu-
o sistema de saúde nacional. O intercâm- zido”, argumentando que está a ser feito tu-
bio surge no âmbito de um acordo assinado do para ultrapassar esta dificuldade, uma vez
entre os governos de Angola e Cuba. Actual- que existe apenas um médico para cada 10 mil
mente, actuam no país cerca de 605 médicos habitantes (OMS recomenda um profissional
cubanos, dos quais 200 encontram-se a tra- para cada mil pessoas). “Os esforços consubs-
balhar em hospitais e unidades periféricas. tanciam-se na criação de cinco faculdades de
A notícia foi divulgada pelo ministro da Saú- medicina”, esclareceu. Van-Dúnem informou
de, José Van-Dúnem, que preferiu não adian- ainda que “há um programa com Cuba”, no
tar a data de chegada dos 239 profissionais. sentido de trabalhar em conjunto “numa va-
Questionado acerca da carência de médicos cina contra a cólera”.

TECNOLOGIA net e vídeo, em situações de emergência ou e telefonia móvel e fixa. No caso de uma fa-
INFRASAT APRESENTA UNIDADE MÓVEL necessidades especiais. De acordo com o di- lha na ligação web de uma empresa, a uni-
A Infrasat, empresa do grupo Angola Te- rector executivo, Eduardo Continentino, o no- dade móvel (também apelidada de ‘antena
lecom, dispõe de uma unidade móvel, que vo dispositivo representa um grande avanço móvel’) pode garantir a normalização do ser-
permitirá assegurar as situações críticas e para o país, uma vez que se apresenta como viço, de forma célere e eficaz. A vantagem
pontuais, no que concerne às novas tecnolo- uma solução alternativa para os problemas do novo mecanismo consiste no facto de es-
gias de comunicação. O novo veículo, recen- de quebra da Internet, geralmente relaciona- te poder ser instalado em qualquer parte do
temente apresentado, dispõe de uma antena dos com a danificação de fibras ópticas, que território nacional, inclusive onde não exis-
móvel, capaz de funcionar com energia eléc- podem afectar o funcionamento dos mais tem infra-estruturas físicas no âmbito das
trica ou gerador, de modo a poder atender variados serviços, nomeadamente a banca, novas tecnologias, resistindo a condições at-
serviços de transmissão de voz, dados, inter- instituições de ensino e saúde, radiodifusão mosféricas adversas.

SEGURANÇA
BANCOS COM SISTEMA DE VIDEOVIGILÂNCIA
As agências bancárias deverão ser aconselhadas a adoptar o
sistema de videovigilância, com vista a travar a onda de assal-
tos, em que os bancos são os principais visados. A decisão foi
tomada durante um encontro entre o Governo da Província
de Luanda, a Polícia Nacional e a Associação dos Bancos de
Angola. Luanda é a região onde se regista o maior número
de roubos, situação que tem gerado alguma instabilidade
entre os clientes das instituições. Desta forma, de acordo
com declarações de Domingos Francisco, governador para a
área económica de Luanda, “a implementação de um sis-
INTERNET tema de videovigilância permitirá à polícia ter elementos
ANGOLA TELECOM LANÇA A BANDA LARGA que permitam analisar e investigar”, sempre que se re-
A empresa pública de telecomunicações e multimédia Angola Telecom gistar um assalto. Grande parte das dependências dos
apresentou a sua mais recente oferta, o sistema de Internet com quatro bancos comerciais já tem este serviço instalado, pelo
megas em banda larga, que se destina às pequenas e médias empre- que as autoridades recomendam que se aplique o dis-
sas. Segundo João Avelino, presidente do conselho de administração, positivo à medida que se proceda à expansão da re-
o sistema permitirá resolver os problemas de acesso à Internet e da de bancária. Por outro lado, a polícia argumenta que a
qualidade telefónica. A tecnologia, denominada de “SuperNet ADSL”, é maioria dos bancos assaltados não possuía sistemas
um meio capaz de manipular o grande fluxo de informação, que pode de vigilância.
ser usado por utilizadores que trabalhem com elevadas quantidades de
dados. A Internet em banda larga permite aos empresários usufruírem
de um serviço de alta velocidade, com consequências altamente favo-
ráveis para os negócios. O sistema baseia-se em ligações ADSL, pelo
que é possível usar a linha telefónica e aceder à Web em simultâneo.

12 | ANGOLA’IN · INSIDE
INSIDE · ANGOLA’IN | 13
INSIDE

INVESTIMENTO
SINOPEC QUER ADQUIRIR 20% DA MARATHON
A empresa Sinopec, constituída pela China Petroleum & Chemical e pela CNOOC vai
pagar 1,3 mil milhões de dólares pela compra da participação em 20 por cento da Ma-
rathon Oil, no bloco 32 de Angola. O referido espaço petrolífero offshore de águas pro-
fundas é detido em cinco por cento pela Galp. A Marathon é actualmente a quarta
maior petrolífera dos Estados Unidos da América e vai manter uma posição de dez por
cento no bloco 32, onde já foram encontrados 12 poços de petróleo, facto que motivou
todos os parceiros da empresa norte-americana a disputar os seus 20 por cento. Para
tal, terão que igualar a oferta da Sinopec. A Galp é a companhia que detém a posição
mais pequena naquele bloco. A operadora do espaço é a Total, com 30 por cento, se-
guindo-se a Sonangol com 20 por cento. Este é já o quarto desinvestimento da Mara-
thon em termos de participação na exploração e produção de energia.

DESENVOLVIMENTO
CIMANGOLA AUMENTA PRODUÇÃO
A Nova Cimangola pretende aumentar a sua
produção para um milhão e 200 mil toneladas
de cimento Portland. A meta será executada
ainda este ano. O referido acréscimo enquadra-
se no modelo de gestão que a empresa está
a implementar, que deverá ser eficiente e efi-
caz. Em 2008, a fábrica produziu pouco mais
de um milhão de matéria-prima, ocupando 30
por cento da quota de mercado. O assessor do PRESIDÊNCIA DA OPEP
organismo explicou que a produtora de cimen- CORTES NA PRODUÇÃO
to tem apostado em manufacturar mais com O actual presidente da Organização dos
menos recursos, recorrendo a tecnologia anti- Países Exportadores de Petróleo (OPEP)
ga. Quanto à necessidade de implantar novos e ministro angolano dos Petróleos, Bote-
meios, como forma de aumentar a produtivida- lho de Vasconcelos garantiu que os mem-
de, o responsável admitiu que essa opção con- bros da organização estão a cumprir com
duziria à redução de mão-de-obra da empresa os cortes de produção, estabelecidos pe-
de 842 para 200 trabalhadores. Aliás, a empre- lo cartel em Maio último. As reduções têm
sa anunciou recentemente que está em curso oscilado entre 78 e 80 por cento, facto que
um processo de recrutamento para as áreas de permitiu reduzir significativamente a vo-
debilidade. A nova gestão da cimenteira englo- latilidade antes registada no mercado in-
ba a implementação de um plano de carreiras e PETRÓLEO ternacional do crude. Quanto às oscilações
melhoria das condições sociais, com vista a re- ODEBRECHT DESCOBRE NOVA JAZIDA de preços no âmbito internacional, Bote-
juvenescer e envolver todos os trabalhadores. A A construtora brasileira Odebrecht encontrou pe- lho Vasconcelos lembrou que alguns dos
Nova Cimangola compõe o conjunto de empre- tróleo na costa angolana, revelando que a aposta fundamentos do mercado ainda não estão
sas licenciadas pelo Ministério das Obras Públi- no sector do petróleo e gás tem sido bem sucedi- totalmente controlados, pelo que ainda
cas, que estão autorizadas a importar cimento, da, alcançando assim o primeiro êxito. “Trata-se existe muito petróleo armazenado, con-
de acordo com as necessidades do mercado de crude leve, de boa qualidade e foi encontrado duzindo a algumas especulações do mer-
nacional. No entanto, o organismo não encara a uma profundidade de 4.725 metros, a 315 qui- cado. O dirigente afirmou ser urgente que
esta actividade como a melhor saída, centran- lómetros da costa de Luanda”, congratulou-se o o sector petrolífero tenha em considera-
do-se essencialmente na produção de cimento. presidente da companhia, Miguel Gradin. O gru- ção a vertente da responsabilidade social,
A fábrica labora desde 1957 e é constituída pe- po brasileiro tem uma participação de 15 por cen- ou seja, o incentivo à criação de coopera-
los accionistas da Ciminvest (49 por cento), da to no consórcio operado pela Maersk OIl, que por tivas deve ser alargado a todas as provín-
Cimangola (40 por cento) e do Banco Africano sua vez detém 50 por cento da empresa estatal cias, para que funcione como alavanca do
de Investimento (9,5 por cento). angolana Sonangol. desenvolvimento económico do país.

14 | ANGOLA’IN · INSIDE
INSIDE · ANGOLA’IN | 15
INSIDE

INOVAÇÃO
GÁS DE COZINHA NO MERCADO
A Sonangol colocou este ano 8.200 novas gar-
rafas de gás de cozinha no mercado. A pro-
víncia de Bié foi a maior beneficiária, devido à
crescente procura do produto no mercado lo-
cal. De acordo com o delegado de vendas da
“Sonangol Distribuidora” no Bié, Manuel Nu-
nes, as botijas são comercializadas pelo preço
único de 12.200 Kwanzas, pelo que até ao mo-
mento já foram vendidas quatro mil garrafas.
A venda abrange todos os municípios do inte-
rior da província. Com esta medida, além de
satisfazer as necessidades dos consumidores,
será possível estender os serviços às restan-
tes localidades da região. O delegado explicou
que a transportação do produto também me-
lhorou nos últimos tempos, graças à requalifi-
MERCADOS cação dos troços rodoviários.
BOLSA DE VALORES ARRANCA EM 2010
Cruz Lima, coordenador da Comissão do Mercado de Capitais (CMC), adiantou que a Bol-
sa de Valores e Derivados de Angola (BVDA) vai arrancar no primeiro semestre de 2010.
O responsável assegurou que desde Julho estão a “ser criadas as condições necessárias
para o funcionamento da Bolsa”. O dirigente da CMC explicou que a abertura do referido
organismo é uma prioridade para o Primeiro-Ministro. “Estamos a cumprir as orienta-
ções do Governo”, ressalvou, recordando que “seria uma falha inaceitável e indesculpável
do programa governamental”, caso não contemplasse a criação da Bolsa de Valores. Sem
revelar os nomes e números das empresas que podem participar no futuro projecto, Cruz
Lima admitiu que as entidades petrolíferas, diamantíferas, cervejeiras, transportadoras
aéreas, energia, águas e telecomunicações “são indispensáveis para o mercado bolsista”.
O coordenador assegura ainda que o país dispõe de todas as potencialidades para se tor-
nar numa praça financeira regional importante, esperando-se que no primeiro ano venha
assumir o quinto ou sétimo lugar no ranking dos mercados africanos.

JUSTIÇA
SISTEMA DOS PALOP NA INTERNET
A ministra da Justiça de Angola, Guilher-
mina Prata, apresentou a base de dados
online, que contém informações sobre os
sistemas de justiça de todos os países
dos PALOP. O acesso ao portal baseia-se
em subscrições, que serão definidas de
acordo com a realidade financeira de to-
dos os Estados. O mecanismo consta do
programa do Fundo Europeu de Desen-
volvimento (FED) e está orçado em 9,8
milhões de euros. A página Web terá co-
mo funções divulgar e facilitar o acesso à
legislação, jurisprudência e doutrina dos
órgãos de administração da Justiça des-
AVIAÇÃO
ses países. A gestão dos conteúdos fica
ao cargo de técnicos dos ministérios da
LUANDA E DUBAI COM LIGAÇÃO DIRECTA
A partir de 25 de Outubro voos directos vão aproximar Dubai e Luanda. A notícia foi divulgada
Justiça, que receberão formação especí-
pela companhia de aviação comercial ‘Emirates’, que assegurará o transporte dos passageiros.
fica. Os critérios de acesso ao portal de-
A circulação entre os dois países decorrerá três vezes por semana (terça-feira, quarta-feira e do-
vem-se à necessidade de assegurar os
mingo). A nova linha insere-se no plano de extensão das ligações aéreas internacionais, nomea-
encargos financeiros da manutenção do
damente em África. O Boeing 777-300 é o avião que vai fazer o itinerário e dispõe de 364 lugares
site. A ideia da base de dados surgiu em
divididos pelas classes Económica, Business e Primeira Classe.
2003, mas a fase II do projecto apenas fi-
cou concluída este ano.

16 | ANGOLA’IN · INSIDE
MUNDO | patrícia alves tavares

efeméride
Homem rumo a Marte
A 20 de Julho de 1969, o mundo parou para
ver Neil Armstrong a pisar a Lua pela primei-
ra vez. Por ocasião das comemorações da
data, Buzz Aldrin, o segundo homem a pôr
o pé no satélite da Terra falou sobre o futu-
ro da exploração do espaço extraterrestre.
Durante uma conferência comemorativa,
organizada pela Nasa, em Washington, os
sete astronautas pioneiros da Lua aponta-
ram Marte como a meta para o futuro. Al-
tecnologia drin mostrou-se surpreendido pelo facto do
Mais de 2 mil milhões de internautas em 2013 Homem ainda não ter alcançado Marte no fi-
A Forrester Research, uma companhia independente especializada em estudos de mercado na nal da primeira década do século XXI. O as-
área da tecnologia, acredita que, em 2013, o número de internautas no mundo deverá chegar aos tronauta defende há muito a concretização
2,2 mil milhões contra os actuais 1,5 milhões. De acordo com o estudo recentemente divulgado, 43 de uma viagem tripulada ao planeta vizinho
por cento desses novos utilizadores serão asiáticos, dos quais 17 por cento correspondem apenas da Terra, argumentando que a solução para
à China. “Apesar da desaceleração económica global, um número crescente de consumidores con- reduzir o impacto dos custos e dificuldades
verte-se anualmente à Internet”, esclarece a analista Zia Widger, que prevê um aumento de novos técnicas pode passar por uma expedição sem
cibernautas na ordem dos 45 por cento, entre 2008 e 2013. O continente asiático registará o maior regresso, com colonos espaciais dispostos a
crescimento, enquanto a Europa rondará os 22 por cento e a América do Norte os 17 por cento. Por não voltar à Terra. Por outro lado, o grupo de
seu lado, na América Latina as futuras conexões à Internet deverão manter-se nos 11 por cento. O veteranos criticou ainda o pouco investimen-
documento revela ainda que a China ultrapassará os Estados Unidos, que conjuntamente com os to financeiro que os EUA têm conferido à ex-
restantes países industrializados registará uma fraca progressão nos próximos cinco anos. ploração espacial.

internet
Google chega à Lua
No ano em que se comemoram os 40 anos da chegada do Homem à Lua, o Goo-
gle resolve assinalar a efeméride com o lançamento de uma ferramenta, que per-
mite ver imagens de satélite, fotografias e vídeos das várias expedições da Nasa.
O novo serviço, intitulado Google Moon, faz parte do Google Earth, que consiste
literatura numa aplicação para download gratuito e que tem como função permitir a visua-
lização de imagens da Terra, captadas por satélite. Esta nova ferramenta integra
Nasce a maior ainda mapas geográficos e topológicos, informação sobre os muitos artefactos
e-livraria do mundo humanos que foram à Lua e uma visita virtual conduzida por Buzz Aldrin e por Ja-
A maior cadeia de livrarias do mundo, a Barnes & ck Schmitt, da missão Apolo 17. O Google Moon é produto de um acordo assinado
Noble anunciou que vai criar a maior loja online com a Nasa, em 2006.
de livros electrónicos nos Estados Unidos. O es-
paço virtual albergará as obras digitalizadas pelo
Google. O projecto tem como finalidade facilitar
o acesso às diversas compilações, uma vez que o
presidente da marca, William Lynch acredita que
“os leitores devem ter acesso aos livros a partir
de qualquer dispositivo, a partir de qualquer lugar
e a qualquer momento”. A futura loja virtual será
considerada a maior livraria online de livros elec-
trónicos, em todo o mundo. No total, serão dis-
ponibilizados mais de 700 mil títulos, dos quais
meio milhão consiste em obras livres de direitos
de autor, oferecidas através do Google Books. As
obras digitais serão compatíveis com vários siste-
mas operativos e leitores electrónicos, bem como
os conhecidos telefones “inteligentes”. Contudo,
a empresa está a desenvolver uma parceria com
a britânica Plastic Logic, para criar um leitor que
possa competir com o Kindle e o Sony Reader.

18 | ANGOLA’IN · MUNDO
ambiente
Alterações climáticas afectam peixes
Os peixes das águas europeias perderam metade da sua massa cor-
poral, em apenas algumas décadas, devido aos efeitos das alterações
climáticas. A conclusão é de um estudo do Cemagref, um instituto
especializado na gestão saudável das águas e dos territórios. Durante
o período em análise, os investigadores observaram as populações de
peixes nos rios europeus, no Mar do Norte e no Mar Báltico. O relatório
indica que os habitantes aquáticos perderam em média 50 por cento
da massa corporal, nos últimos 20 ou 30 anos. Isto verificou-se em
todas as espécies, sendo que os peixes das águas europeias perde-
ram cerca de 60 por cento. Os investigadores explicaram que as águas
quentes são habitadas por espécies mais pequenas e que o seu aque-
cimento afecta as migrações e os hábitos de reprodução dos animais.
Os impactos são “enormes”, uma vez que os peixes mais pequenos
têm menos crias e são presas mais fáceis para os predadores, tendo
consequências graves na cadeia alimentar e no ecossistema.

banca
Deutsche Bank investigado
O maior banco da Alemanha, o Deutsche Bank, pode ser
acusado de espionagem. Segundo a imprensa interna-
cional, a instituição corre o risco de ser investigada por
alegada espionagem de administradores, executivos de
topo e accionistas. Os jornais adiantam que dois altos
funcionários terão sido entretanto despedidos, por te-
rem tido responsabilidade nas acções de vigilância, que
a justiça pretende indagar. Aliás, um dos quadros demi-
tidos era responsável pelo departamento da seguran-
ça e outro pelas relações com os investidores. Ainda de
acordo com o Deutsche Bank, os procuradores alemães
estão a reunir a documentação necessária para verificar
se existem bases para avançar com um processo criminal
contra o banco. “O Deutsche Bank foi, obviamente, lon-
ge de mais nas acções de espionagem”, frisou Wolfgang
Gerke, presidente do Centro Bávaro de Finanças de Muni-
que, em declarações à agência Bloomberg.

guantánamo
Fecho da prisão em risco de ser adiado
O relatório encomendado por Obama foi adiado por seis meses, levando os ana-
listas a acreditar que o encerramento da prisão de Guantánamo, marcado para Ja-
neiro, poderá não ser cumprido. O documento, encomendado pelo Presidente dos
Estados Unidos, é crucial para a avaliação daquela prisão militar norte-americana
e surgiu no âmbito dos esforços da nova Administração para encerrar aquele polé-
internet
mico centro de detenção de suspeitos de terrorismo. A extensão do prazo está re-
Brasil lidera Twitter lacionada com a necessidade de se fazer uma “análise o mais detalhada possível”
Um estudo do Ibope Nielsen Online anunciou que o Brasil sobre a situação de Guantánamo, explicaram os conselheiros de Obama, ligados à
assumiu o lugar de líder mundial ao nível da participação equipa encarregue de elaborar o relatório. Os mesmos garantem que o adiamento
no Twitter, tendo registado cinco milhões de utilizadores por seis meses não provocará atrasos em relação à data estabelecida para o en-
nos últimos meses, representando um acréscimo de 71 por cerramento da prisão de alta segurança. Até ao momento, o presidente americano
cento em relação a Maio. O documento revela que o país apenas tomou conhecimento do documento interno, que enumera as opções de
não tem o maior número de utilizadores do site, mas que é que a Casa Branca dispõe, nomeadamente julgar os suspeitos em tribunais cíveis
a região com maior penetração da ferramenta web. Em se- ou transferi-los para outros países. Já, os analistas encaram com alguma renitên-
gundo lugar, ficaram os EUA e em terceiro o Reino Unido. cia o cumprimento dos prazos de encerramento.

MUNDO · ANGOLA’IN | 19
MUNDO
saúde
Obesidade pode tirar dez anos de vida
Um estudo, publicado na revista científica “Lancet”, analisou 900 mil pessoas durante 20 anos e provou
que a obesidade pode chegar a tirar até dez anos de vida. A investigação foi conduzida pela Universidade de
Oxford e analisou 57 estudos sobre o tema, que incidiram sobre as populações da Europa e da América do
Norte. “O excesso de peso diminui a esperança de vida. Em países como a Inglaterra ou os EUA, pesar um
terço a mais do que seria óptimo encurta o tempo de vida em cerca de três anos”, enuncia Gary Whitlock,
médico da referida faculdade e um dos autores do estudo. Das pessoas que participaram na investigação,
uma centena morreu durante as duas décadas de acompanhamento. Os estudiosos usaram o Índice de Mas-
sa Cultural (IMC) para definirem a obesidade, dividindo o peso de uma pessoa pelo quadrado da sua altura. A
população com um IMC entre 30 e 35 (o normal vai dos 18,5 aos 25) morreu três anos mais cedo do que aque-
les que tinham um peso normal. Os casos de obesidade severa viveram dez anos a menos, o mesmo tempo
que um fumador. Doenças cardiovasculares, diabetes, cancro e complicações relacionadas com os pulmões
foram as principais patologias associadas pelos investigadores à obesidade.

eua astronomia
Lulas invadem Califórnia Ásia assiste a eclipse
Milhares de lulas gigantes, que atacam seres Ásia, Japão e Pacífico assistiram a um
humanos, invadiram a costa de San Diego, na eclipse total do sol, o mais longo do sé-
Califórnia, estando a causar o pânico entre os culo XXI, com duração superior a cinco
habitantes. As lula-de-humboldt frequentam minutos. O fenómeno teve início no gol-
habitualmente as águas profundas do México fo de Khambhat, a Norte de Bombaím
e são conhecidas por atacar os humanos. Es- e moveu-se para Este, escurecendo pri-
tas podem medir até 1,5 metros e pesar até 45 meiro a Índia e depois o Nepal, Burma,
quilos. Os cientistas explicam que as lulas gi- Bangladesh, Butão e China, respectiva-
gantes podem ter saído do seu habitat natu- mente. Prosseguiu para o Japão, tendo
ral devido à escassez de alimentos, provocado sido visto pela última vez a partir da
pelo aquecimento global. Este facto pode es- ilha de Nikumaroro, no Kiribati. O eclip-
tar na origem da sua deslocação para a zona se durou cerca de quatro horas. O últi-
costeira californiana. Não é a primeira vez que mo acontecimento idêntico ocorreu em
as praias de San Diego são invadidas por lu- Agosto de 2008 e durou pouco mais de
las. A última vez foi em 2005, período em que dois minutos. A longa duração do eclip-
estes animais apareceram mortos na costa de se permitiu aos cientistas estudar os
literatura Orange County. fenómenos solares.

Fãs de Graham Greene


podem terminar inédito
Um romance inacabado de Graham Greene (1904
– 1991) está a ser publicado numa revista norte- honduras
americana, convidando os fãs de policiais a ter-
minar o enredo desta história, que data dos anos
EUA emitem aviso
Hilary Clinton, secretária de Esta-
20. “The Empty Chair” (“A cadeira vazia”) possui
do norte-americana ameaçou sus-
apenas cinco capítulos concluídos e conta a histó-
pender a ajuda às Honduras, caso as
ria de um assassinato misterioso. O enredo des-
negociações promovidas pelo pre-
ta obra faz recordar os misteriosos assassinatos
sidente costa-riquenho Óscar Árias
cometidos nas casas de campo, típicos de Agatha
falhem. De acordo com o porta-voz
Christie. O autor iniciou o livro em 1926, quando
do departamento, Philip Crowley, a
tinha apenas 22 anos e foi encontrado no ano pas-
dirigente mostrou-se muito firme
sado por François Gallix, um estudioso das obras
na conversa telefónica com o pre-
de Greene. O romance encontrava-se no Cen-
sidente de facto das Honduras, Ro-
tro de Humanidades da Universidade do Texas e
berto Micheletti, firmando assim a
corresponde ao ano mais importante na vida do
posição dos EUA.
escritor, período em que atingiu o sucesso. “The
Strand Magazine” publica um capítulo por sema-
na e pondera lançar um concurso para completar
a história. Graham Greene é conhecido internacio-
nalmente pelas obras “O Condenado”, “O nosso
agente em Havana”, “O poder e a glória”, “O ame-
ricano tranquilo” e “Monsenhor Quixote”.

20 | ANGOLA’IN · MUNDO
MUNDO · ANGOLA’IN | 21
IN FOCO | manuela bártolo

POLÍTICA
Outro dos aspectos negativos apontados pe-
la população é a dificuldade em arranjar em-
prego e a escalada dos preços. Após a eleição
de Obasanjo em 1999, uma nova Constituição
foi aprovada que garante que haja eleições de
quatro em quatro anos. Obasanjo ganhou em
2003, muito embora as eleições tenham sido
consideradas falseadas. O PDP que está no
poder, fortaleceu a sua posição tanto na As-
sembleia Nacional, como nos 36 estados que
constituem a Nigéria, 31 dos quais têm gover-
nadores do partido do governo. Uma tenta-
tiva de amendar a Constituição para permitir
que o presidente se candidatasse ao terceiro
mandato foi reprovada em 2006. As eleições
presidenciais de 2007 permitiram a primeira
transferência de poder civil no país desde a
independência. Os três principais candidatos
presidenciais (todos muçulmanos do Norte),
reflectiram a crença que o cargo de líder da
nação deve pertencer a um nortenho, depois
de Obasanjo ter estado no poder.
Atiku Abubakar candidatou-se pelo partido
do Congresso da Acção, mas foi impedido de o
fazer por acusações de corrupção que até hoje
nega. No entanto, o Supremo Tribunal decidiu
que a Comissão de Eleições não tem o poder
de impedir que nenhum candidato concorra
ao lugar. Contudo, um dos maiores progressos
políticos dos últimos oito anos é que o exér-
ÁFRICA ‘NEGRA’ cito foi politicamente neutralizado. Quaisquer

NIGÉRIA
generais com ambições políticas foram afas-
tados e outros têm estado num esquema de
rotação que os impede de se agarrarem ao po-
der. A nova geração de oficiais são profissio-

retrato de uma potência nais e, pela primeira vez em décadas, todos os


observadores concordam que um golpe militar
é pouco provável. A nível regional, a Nigéria é
Com mais de 120 milhões de habitantes e uma densidade populacional de 131 habitantes/
o poder predominante no Oeste africano e es-
quilómetro2, a Nigéria é um dos maiores produtores mundiais de petróleo e pode vir a definir-
tiveram na origem da Comunidade Económi-
se como uma das principais potências económicas da África Negra. Após o longo período de
ca dos Estados da África Ocidental (ECOWAS),
instabilidade política, nos anos setenta, dá-se a explosão da sua economia, resultante da
através da qual tiveram um papel preponde-
abundância do petróleo na zona do Delta do Níger e na sua exploração acelerada provocada pelo
rante na resolução de conflitos, principalmen-
aumento elevado da procura mundial dessa matéria-prima. Hoje, o país é destino de grandes
te na Libéria e na Serra Leoa.
fluxos de imigração provenientes de todos os países da zona. No início dos anos 80 as crises
Num panorama mais alargado, o presidente
petrolíferas conduziram à queda dos preços e os estrangeiros em situação irregular são expulsos
Obasanjo foi um dos principais fundadores da
do país, o que envolveu cerca de 2 milhões de pessoas, obrigadas a regressar por qualquer
Nova Parceria para o Desenvolvimento Africa-
meio para os territórios de origem. Mesmo assim, o país continua com uma grande densidade
no (NEPAD) e foi presidente da União Africana
populacional e um valor do rendimento médio por habitante reduzido, estando a concentração
em 2005/06, promovendo conversações de
das políticas económicas nas mãos dos grupos do poder, visto pelos organismos internacionais
paz com o Sudão. A Nigéria tem a aspiração
como “corrupto”. A estrutura urbana é essencial e, além da gigantesca concentração urbanística
de ter um lugar permanente no Conselho de
de Lagos, conta também com um grande número de cidades com 200 mil a 300 mil habitantes
Segurança da ONU.
que elevam a taxa de urbanização para os 50%. Números que não encontram representação
nas infra-estruturas e serviços, ainda bastante pobres. As perspectivas, no início do século XXI
são elevadas. Aqui fica o retrato actual de uma Nigéria de contrastes.

22 | ANGOLA’IN · IN FOCO
Durante os dois mandatos Internacional ainda refere o país como um dos dente Obasanjo, os nigerianos ainda estão à
do Presidente Olusegun países mais corruptos a nível mundial. Dados espera de um fornecimento de electricidade
Obasanjo, o país pagou oficiais dizem que metade dos lucros anuais de eficaz, de uma rede de água potável, de ser-
quase na totalidade a dívida crude estimados em 40 mil milhões de dólares, viços de saneamento, de melhorias nos cami-
estrangeira de 35.9 mil são roubados ou desperdiçados. nhos de ferro, nas estradas e nos telefones.
milhões de dólares. Estima-se A capital Abuja é a cidade mais cara da Ni-
que restem 5 mil milhões Muitos nigerianos queixam- géria, seguida de Port Harcourt, uma cidade
se que não tem havido pro- rica em petróleo, e pela maior cidade Lagos,
ECONOMIA gressos nas infra-estruturas que é a capital comercial do país. Em Maio
A Nigéria é a grande potência económica do básicas como a luz, água e de 2004, Obasanjo promoveu um programa
Oeste africano, contribuindo com quase 50% saneamento básico. Outro dos de reformas económicas chamado NEEDS
do PIB da região. Economicamente, o país es- aspectos negativos apontados que pretendeu promover a disciplina fiscal,
tá dependente do sector do petróleo e do gás. pela população é a dificuldade a reforma dos serviços civis e bancários, bem
Membro da Organização de Países Produtores em arranjar emprego e a esca- como o início de privatizações e transparên-
de Petróleo (OPEP), é o oitavo maior exporta- lada dos preços cia. Os direitos humanos melhoraram consi-
dor mundial de crude. Os lucros da associação deravelmente desde 1999, ainda que o país
nigeriana de gás, a NLNG (Nigerian Liquefied SOCIEDADE continue com a pena de morte. O governo
Natural Gas Ltd) vão superar os lucros de petró- O país tem dos piores Índices de Desenvolvi- de Obasanjo estabeleceu um painel para in-
leo nos próximos dez anos. Ainda que o crude mento do mundo: uma em cada cinco crian- vestigar os abusos de direitos humanos nas
produzido precise de pouca refinação, o país até ças morre antes de chegar aos cinco anos. organizações militares e criou uma comissão
agora foi incapaz de construir as suas próprias Doze milhões de crianças não estão na escola de direitos humanos. Há no país uma vasta
refinarias e trabalhar na produção de petróleo. e há quase 2 milhões de orfãos devido ao ví- e activa sociedade civil. Os orgãos de comu-
Os produtos refinados são todos importados. O rus do HIV/Sida. Mais de metade da popula- nicação social são livres e independentes. No
aumento da criminalidade na região do Delta ção (75 milhões de pessoas) vivem abaixo do entanto, ainda surgem informações de es-
do Niger lançou dúvidas se será possível haver limiar de pobreza, num país onde a esperança pancamentos e execuções sumárias, que as
eleições nos estados de Rivers, Delta e Bayelsa. média de vida é de 47 anos. Após os progra- pessoas atribuem à má preparação das forças
No período de um ano (Abril de 2006 a Abril de mas de privatização introduzidos pelo Presi- de segurança.
2007) mais de 100 trabalhadores estrangeiros
foram raptados, 70 dos quais em 2007. Os ata-
ques às plataformas de petróleo levaram a que
a Nigéria reduzisse 20% a 25% da sua produção
de crude. Uma das áreas em expansão é o sector
das telecomunicações. Há aproximadamente
1.25 milhões de linhas terrestres telefónicas no
país, enquanto o número de utilizadores de te-
lemóveis ascende os 30 milhões. Vários analis-
tas acreditam que o crescimento vai continuar,
com a Nigéria a ultrapassar a África do Sul como
o maior mercado africano deste sector. Durante
os dois mandatos do Presidente Olusegun Oba-
sanjo, o país pagou quase na totalidade a dívida
estrangeira de 35.9 mil milhões de dólares. Esti-
ma-se que restam 5 mil milhões. Após o acordo
com o Clube de Paris (instituição de crédito en-
tre governos) em 2005, a Nigéria liquidou 12.4
mil milhões de dólares da dívida. Está também
prestes a pagar 900 milhões de dólares ao Clu-
be de Londres (instituição de crédito privada), a
quem já tinha pago 1.4 mil milhões de dólares. O
outro credor é o Banco Mundial, que já afirmou
publicamente que a forma como a Nigéria tem
liquidado a sua dívida de 2.07 mil milhões de dó-
lares é “muito boa”. No entanto, a Transparência

IN FOCO · ANGOLA’IN | 23
IN FOCO

RELIGIÃO Um dos maiores progressos estão em maioria na grande parte dos esta-
O país com mais população de África pas- políticos dos últimos oito dos do Norte, que adoptaram a lei islâmica,
sou de um regime militar à democracia. No anos é que o exército foi também conhecida como Sharia. Os estados
entanto, a liberdade não permitiu alterar os de Kanu e Niger não são regulados segundo a
politicamente neutralizado.
constantes cenários de violência religiosa e Sharia, mas são muitas vezes descritos como
Quaisquer generais com
étnica. De facto, a população nigeriana tem sendo 50% cristãos e 50% muçulmanos. Os
ambições políticas foram estados do Centro do país também são uma
fama de ser controversa, violenta e sobre ela
afastados e outros têm estado mistura de cristãos e muçulmanos, enquanto
pairam alegações de manipulação e fraudes.
Os censos de 2006 decorreram de uma forma
num esquema de rotação que os estados do Sul são na sua maioria cristãos
geralmente pacífica, mas houve casos de vio- os impede de se agarrarem e animistas.
lência - incluíndo mortes - e o crescimento de ao poder. A nova geração de
tensões étnicas e políticas. Os censos incluem oficiais são profissionais e,
questões sobre a educação, o emprego, rendi- pela primeira vez em décadas,
mento, tamanho da residência, fornecimento todos os observadores
de água, saneamento básico, tipo de combus- concordam que um golpe
tíveis usados, acesso a rádio, televisão e tele- militar é pouco provável
fones, mas na tentativa de impedir conflitos,
não inclui temas religiosos. Grupos religiosos
e étnicos mostraram preocupação quanto aos
resultados dos censos que incluíssem dados
religiosos, pois acreditavam que os mesmos
fossem afectar a sua posição na sociedade,
nos fundos governamentais e a influência po-
lítica que têm na sua região. Os muçulmanos

A African Business, revista


pan-africana publicada em
Londres, coloca a Nigéria em
terceiro lugar numa lista das
empresas de países africanos
mais cotadas no continente.
Entre as 200 empresas mais
cotadas de África, trinta são
nigerianas. E as estatísticas
regionais da revista para
a África Ocidental são
ainda mais reveladoras.
Na classificação das 50
maiores empresas da África
Ocidental estabelecida pela
revista, a Nigéria tem 45
empresas

24 | ANGOLA’IN · IN FOCO
ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

união económica

‘novo e monetária

round’
A integração económica A não integração monetária e financeira do
em Lisboa em Dezembro de 2007. No estudo,
intitulado “Estado da Integração Regional em
África”, foram analisados os planos macroeco-
nómicos e financeiros da Comunidade Econó-
mica e Monetária da África Central (CEMAC),
União Económica e Monetária Oeste-Africana
e política tem sido des- continente é responsável pelos sucessivos (UEMOA) e Comunidade de Desenvolvimento
de sempre um objectivo avanços e recuos nas negociações com vista da África Austral (SADC). Subjacente à cria-
para África e para o po- ção da UA, o objectivo de integração regional
às parcerias económicas entre a Europa co-
vo africano. Esse é aliás o dos diferentes blocos tem “fracassado”, uma
munitária e os 54 Estados africanos
maior desígnio da União vez que está ainda longe a harmonização, en-
Africana (UA), em concílio com a promoção quadrada num acordo comum, dos equilíbrios
nas políticas integradas dos diferentes blo-
da união no continente e a prevenção da dis- orçamentais e da redução da inflação e da dí-
cos regionais africanos. “Os países africanos
persão dos países em campos rivais. O seu vida pública. Nesse sentido, a segunda fase
estão a passar por enormes problemas para
papel na cooperação pan-africana e na eman- do Centro Africano para as Políticas Comer-
aplicar os critérios de convergência macroe-
cipação das nações tem sido exímio a todos ciais (CAPC) ficou mandatado de identificar
conómica estabelecidos pelas comunidades
os níveis, sendo que um dos maiores desa- uma nova estratégia global, tendo como pano
económicas regionais do continente”, lê-se no
fios actuais é precisamente a integração mo- de fundo a definição de critérios para a nego-
documento, em que se sublinha também os
netária e financeira. A sua grande debilidade ciação de acordos comerciais regionais, como
obstáculos que tais disparidades provocam
tem criado obstáculos à convergência macro- as parcerias económicas com a UE e de livre
nas desejadas parcerias com os “27”.
económica desejada no “continente negro”, comércio com outras regiões ou blocos. Cabe
Essa questão é uma das razões para os su-
gerando também dificuldades para a concre- agora ao CAPC dar às comunidades económi-
cessivos avanços e recuos nas negociações
tização das parcerias económicas definidas, para as parcerias eco-
há cerca de um ano, na Cimeira Europa/Áfri- nómicas entre a Euro- O objectivo de integração regional dos diferentes
ca. Esta é a conclusão contida num estudo pa comunitária e os 54 blocos tem “fracassado”, uma vez que está
conjunto da Comissão Económica para Áfri- Estados africanos, num ainda longe a harmonização, enquadrada num
ca (CEA), órgão das Nações Unidas, e UA, em impasse desde o fim da acordo comum, dos equilíbrios orçamentais e
que são destacadas as dificuldades sentidas cimeira que se realizou da redução da inflação e da dívida pública

26 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


te africano - comparáveis aos dos chamados
tigres da Ásia - retiram fundamento a pes-
simismos em relação à possibilidade do pro-
gresso em África: o sentimento crescente é o
de que também é possível obter bons resul-
tados económicos, e com eles, a prazo vencer
a pobreza. O que está a ser feito no Gana, no
Botsuana, no Uganda, no Burkina-Faso, em
Moçambique, em Cabo Verde e noutros paí-
ses africanos, engajados na modernização e
no desenvolvimento, é disso prova. O esforço
de renovação é tão grande que os países in-
dustrializados não podem deixar de o notar. A
cas regionais a possibilidade de criar capaci- custo a exclusão da economia global, acertar o evolução é encorajadora. Começam a existir,
dades comerciais integradas e outras globais passo com o resto do mundo, criar condições cada vez mais, pólos de democracia no conti-
a todos os agentes económicos. Paralela- de bem-estar económico, lançar as bases de nente, com um certo nível de desenvolvimen-
mente, são apresentadas “recomendações” uma paz social alargada e promover a estabi- to económico - como é o caso de Angola, que
para que os governos africanos integrem os lidade política tanto nacional, como regional. exerce uma influência positiva, a um tempo
objectivos macroeconómicos nas suas estra- Um desafio enorme que África enfrenta atra- catalizadora e estabilizadora nos sistemas po-
tégias nacionais de desenvolvimento e que vés de uma transformação progressiva para líticos africanos e no desenvolvimento de Áfri-
“dêem prova de sentido de responsabilidade” uma economia aberta, dinâmica, autosusten- ca. Reestruturação do Estado e do seu papel,
na elaboração dessas políticas, definindo as tada e inserida de modo dinâmico na econo- democratização, boa governação, desenvolvi-
suas próprias prioridades em matérias como mia mundial. O salto na taxa de crescimento mento dos recursos humanos, um ambiente
as taxas de câmbio e de juro e ainda a política económico do continente, de 1.4% no período institucional, legal e social incentivador do in-
orçamental. 1990/1994, para 4%, em 1995 e 5% em 1997 é vestimento privado, gestão macroeconómica
o resultado desse esforço e sinal da seriedade rigorosa, infraestruturação, integração regio-
SÉCULO DA MUDANÇA que muitos dos novos governantes africanos nal e uma conjuntura internacional favorável
Reformas estruturais têm sido levadas a ca- põem na prossecução do seu objectivo de in- ao investimento directo externo e a uma coo-
bo com relativo sucesso em diversos países do tegrar África na economia mundial. O fluxo de peração alargada que permita a transferência
continente. Políticas tendentes à liberalização capital privado estrangeiro captado por vários de tecnologia e de saber-fazer são vias exequí-
de mercados, à promoção do sector privado e países africanos - no valor de cerca de 12 bili- veis, e nalguns casos, já em curso, que levarão
à transição para a economia de mercado es- ões de dólares - embora ainda muito aquém o continente africano a vencer, desta vez, o
tão a ser implementadas um pouco por toda do desejável, traduz também o sucesso já ob- grande desafio do desenvolvimento. A boa vi-
a África, coadjuvados com a adopção de crité- zinhança e o diálogo re-
rios de rigor na gestão macroeconómica e na Começam a existir pólos de democracia no con- gional devem, por isso,
criação de um ambiente favorável ao inves- tinente, com um certo nível de desenvolvimento prevalecer, asseguran-
timento directo externo. A infraestruturação económico - como é o caso de Angola, que exer- do um clima de esta-
económica do continente avança, designa- ce uma influência positiva, a um tempo catali- bilidade e de distensão
damente nos domínios dos transportes, das zadora e estabilizadora nos sistemas políticos permanentes. As difi-
telecomunicações, da energia, água e sanea- culdades encontradas
africanos e no desenvolvimento de África
mento; atenção especial começa a ser dada à são ainda relevantes,
ciência e tecnologia e à valorização dos recur- mas é incontornável
sos humanos, na perspectiva da formação, da tido na execução de políticas económicas ade- que se está a proceder a avanços na moder-
promoção da saúde e da luta contra a pobreza; quadas e rigorosas e é igualmente um sinal de nização do continente, pelo que a sua econo-
a integração económica e financeira consoli- confiança, que reforça o optimismo em relação mia, encabeçada por diversos países, está a
dou-se e aprofundou-se em algumas regiões. ao futuro. Taxas de crescimento económico de integrar-se de uma forma dinâmica e susten-
O objectivo passou a ser o de evitar a todo o 7%, 10% e 12% em alguns países do continen- tada na economia mundial.

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 27


ECONOMIA
MIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

FINANCIAR
FIN O FUTURO
O m mercado financeiro angolano, sobretudo
o bancário,
b cuja concorrência conta já com
16 bancos comerciais, tem vindo, à medida
do possível, a responder positivamente aos
novos
nov desafios do país ligados à reconstru-
ção e à modernização das infra-estruturas,
ao rubricar em 2007 com o Governo acordos
avaliados
ava em USD mil milhões, para o finan-
ciamento
ciam de projectos estruturantes, visando
o desenvolvimento
d económico e social que
os angolanos
a tanto desejam. A estabilidade
política
polí e macroeconómica, assim como a va-
lorização
loriz da moeda nacional (Kwanza) permi-
tiram
tira com que, num espaço de tempo de dois
anos,
ano quatro acordos financeiros, visando fi-
nanciar
nan vários projectos de infra-estruturas
em execução no país, fossem rubricados en-
tre o Governo angolano, representado pelo
Ministério
Min das Finanças, e os sindicatos dos
16 bancos
b comerciais que operam no país. Es-
ses financiamentos garantidos pela banca
nacional
nac são empréstimos realizados através
da emissão de Obrigações do Tesouro. O pri-
meiro
me desta série de acordos está relacionado
sector com o financiamento do projecto de aquisição

bancário da nova frota de aeronaves da Taag, do qual


o sindicato
si de bancos nacionais (BAI, Besa e
BFA)
BFA concedeu pelo menos 250 milhões de

o sólido dólares.
dóla O segundo, rubricado em Dezembro
de 2006, está ligado à conclusão da segun-
da fase do projecto habitacional “Nova Vida”,

golias
Nos últimos seis anos, têm-se vindo a verificar progressos significativos na economia
localizado a sul da cidade de Luanda, um em-
préstimo avaliado em 12,6 biliões de kwanzas,
equivalentes a 157 milhões de dólares norte-
americanos. O terceiro acordo, assinado em
Março do ano passado, entre o Governo e o
angolana, reflectidos numa taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), pelo sindicato de bancos integrado pelo BFA, BPC
quarto ano consecutivo na ordem dos dois dígitos, o que traduz uma das mais eleva- e BAI, está avaliado em 400 milhões de dó-
das quando comparado com os restantes países da África Subsariana. Os drivers do de- lares norte-americanos e visa financiar obras
senvolvimento económico angolano assentam fundamentalmente, em três importantes de investimentos públicos, no domínio da
factores – político, económico e social. A estabilidade política e social desde 2002, as- construção de estradas via expressa Luanda/
sociada a uma maior consciencialização e esforço de governação no sentido da criação Viana, Luanda/Cacuaco e Boavista/Samba,
de uma economia sustentável, e a consolidação do processo democrático, com a con- pela marginal. Esse financiamento contem-
sequente estabilidade da gestão económica do país, como demonstrado nas recentes pla também a construção das linhas de trans-
eleições legislativas, foram sem dúvida os factores mais importantes para o crescimento porte de energia eléctrica e as respectivas
económico do país. A par disso, há a estabilidade macroeconómica e as suas naturais subestações no percurso Capanda/Lucala/
consequências positivas, bem como o esforço de transparência e abertura da economia. Luanda (Viana). Atento ao crescimento dos
O aumento do peso de variáveis macroeconómicas internas no PIB como o consumo das depósitos dos bancos comerciais, agora esti-
famílias e o investimento privado (interno e externo), em contraponto com a diminuição mados em mais de 10 mil milhões de dólares,
da participação das despesas públicas totais foram também, segundo uma pesquisa ao metade dos quais transformados já em cré-
sector bancário em Angola, elaborado pela KPMG, decisivos neste progresso. Nesse sen- dito, e a capacidade de liquidez destas insti-
tido, as políticas de dinamização da economia nacional, cada vez mais focalizadas no tuições bancárias, o Executivo angolano fez,
sector não petrolífero, têm vindo a incrementar o desenvolvimento da capacidade pro- pela quarta vez, em Outubro de 2007, recurso
dutiva angolana, em simultâneo com os benefícios marcados pela conjuntura internacio- à banca nacional, ao assinar o maior acordo fi-
nal no que respeita ao preço de petróleo. Dados extremamentes satisfatórios para o país nanceiro interno de todo os tempos, avaliado
que vê na evolução do sector bancário a construção de uma economia sólida e com maior em 3,5 biliões de dólares norte-americanos,
poder de influência quer no próprio continente, quer a nível mundial. gestão do tempo e para dar sequência ao financiamento de pro-
das atitudes. O que conta é ter mais tempo para dedicar às pessoas. gramas de investimentos públicos, ligados às

28 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


obras de reconstrução nacional, em curso em NOVAS MEDIDAS
todo o território nacional. Por tratar-se de um O Governo tem em curso várias medidas que visam a
financiamento bastante volumoso, os credo- estabilização das reservas obrigatórias em divisas nos bancos
res decidiram disponibilizar o montante em comerciais. A iniciativa surge numa altura em que são apontadas
três tranches, num período de 36 meses, para
maiores dificuldades na concessão de crédito por parte dos
facilitar o planeamento dos rácios de liquidez
bancos devido ao aumento das suas reservas obrigatórias. O
por parte dos bancos, de modo a acomodar
aumento de 20 para 30% nas reservas obrigatórias dos bancos
esta operação ao longo dos três anos. A pri-
meira tranche do financiamento (um bilião de comerciais é ainda apontado por vários economistas como a
dólares), cuja operação global é assegurada principal razão para as recentes dificuldades em transferir dividas
80% pelo BAI e BESA, começou a ser dispo- para o exterior, especialmente dólares norte-americanos. O ministro das Finanças, Severim
nibilizada no decurso de 2007 e tem um perí- de Morais, explicou que este cenário resultou da queda das receitas em divisas no país, que
odo de reembolso de cinco anos. A segunda ascendiam a 1,2 mil milhões de dólares por mês, quando o preço do barril de petróleo rondava
tranche, avaliada num bilião e 500 milhões os 140 dólares em Julho de 2008, e que “de repente” baixaram para 400 milhões de dólares. Em
de dólares, começou a ser disponibilizada no declarações à imprensa afirmou: “é evidente que isso obrigou à tomada de medidas porque
exercício económico de 2008 e o terceiro pa- as receitas quando caem abruptamente, as despesas não acompanham de imediato”, pelo
cote, calculado num bilião, está disponível a que “estas têm de ser reanalisadas e recontratadas”. Neste sentido, o Governo avançou com
partir deste ano, indo o período de carência de
diferentes acções como a redefinição das reservas obrigatórias, permitindo que uma parte destas
sete a nove anos. A disponibilização desses
seja feita em títulos de Tesouro de qualquer prazo. “É uma medida nova em relação à anterior.
valores, por parte das 16 unidades bancárias
Anteriormente só permitíamos que fossem títulos do tesouro de maturidade até um ano. Neste
comerciais, evidência, por um lado, que os
bancos acreditam no desenvolvimento eco- momento, permitimos que os bancos cumpram parte das suas obrigações com as reservas
nómico do país e nas políticas macroeconó- obrigatórias em títulos de Tesouro de qualquer maturidade, precisamente para incentivar e
micas, que têm vindo a ser implementadas dar mais confiança ao sistema bancário”, salientou recentemente Severim de Morais. Quanto à
pelo Governo, por outro, mostra que há saú- revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE) para este ano, face à crise económica e financeira
de financeira e patrimonial da própria banca mundial, o ministro das Finanças antecipou que o Governo continua a fazer um “exercício
nacional, medida pelos rácios estabelecidos comedido”, por desconhecer o comportamento futuro da economia nos próximos anos. O novo
pela supervisão bancária com base nas regras orçamento teve como referência o petróleo a 37 dólares o barril, quando o anterior colocava
de Basileia. A dinâmica que o sector bancário essa mesma referência nos 55 dólares. O sector petrolífero contribui actualmente com mais de
vem registando nos últimos anos, consubs- 50% do Produto Interno Bruto (PIB) do país
tanciada numa concorrência agressiva entre
os operadores, no aumento dos depósitos e
créditos, está a permitir com que o Governo, ficaram os “dias negros” em que os bancos especialmente os investimentos do sector
na execução e gestão da sua política econó- tinham problemas de liquidez e tesouraria, privado, ligados preferencialmente às cadeias
mica, não faça apenas recurso a credores in- hoje, fruto da estabilidade macroeconómi- produtivas do milho, feijão, algodão e mate-
ternacionais para financiar grandes projectos ca, empresários e particulares têm acredita- riais de construção civil. O banco, cuja missão
de investimentos públicos, quebrando deste do cada vez mais nas instituições bancárias, é financiar o desenvolvimento de Angola, à
modo um ciclo que durava décadas. Os resul- pelo facto de nas suas operações comerciais luz do Plano Nacional e da Estratégia de De-
tados espectaculares que a banca tem vin- terem preferencialmente os bancos como senvolvimento de Longo Prazo, aprovou, em
do a obter nos três últimos anos, em função canais de intermediação, permitindo deste Outubro de 2007, 31 projectos para a conces-
da sua rentabilidade, mostram que as con- modo que grande parte da massa monetária são de créditos, fruto de um trabalho acentu-
tas bancárias da população estão a ser ope- que circula no circuito informal comece, pau- ado junto dos empreendedores das províncias
radas por instituições financeiras eficientes, latinamente, a entrar para o mercado formal. do Bengo, Benguela, Bié, Cabinda, Kwanza
capazes de gerar lucros, em vez de prejuízos, Tendo em conta a necessidade de se finan- Sul, Huíla e Huambo. No total, foram abran-
o que constitui um marco na histórica eco- ciar projectos de desenvolvimento a médio gidos por esses primeiros financiamentos pe-
nómica de Angola. Graças a esses lucros, os e longo prazos, dois acontecimentos históri- lo menos 157 beneficiários, entre pequenos e
bancos angolanos dispõem agora de maiores cos económicos foram assinaláveis em 2007: médios empresários e produtores, a título in-
fundos próprios para alavancar o crescimen- o início das operações de financiamento do dividual ou enquadrados em cooperativas de
to das suas operações de crédito à econo- Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), produção, localizadas nas referidas regiões.
mia sem o risco de incumprir com os rácios constituído 100% por capitais do Estado, e o Entretanto, não obstante o seu carácter ain-
prudenciais. A título de exemplo, o Banco In- começo das actividades do VTB-África, uma da relativamente embrionário, o sector ban-
ternacional de Crédito (BIC), instituição finan- instituição de capitais russos e angolanos, cário angolano está a registar uma dinâmica
ceira que iniciou a sua actividade em Maio de cuja missão é financiar grandes projectos, co- muito acentuada, visível num conjunto de
2005, fechou o ano de 2007 com um bilião e mo a construção estradas, portos, aeroportos, modificações profundas que abrangem, en-
300 milhões de dólares de crédito disponibi- barragens, caminhos de ferro, entre outras in- tre outros aspectos, a entrada de vários novos
lizado, enquanto o aprovado está cifrado em fra-estruturas. O BDA, criado em 2006, cons- operadores, o lançamento de novos produtos
USD um bilião e 600 milhões. Os fundos pró- titui um instrumento privilegiado do Estado e serviços financeiros, alterações significativas
prios do banco estão calculados num valor para o financiamento, nesta primeira fase, ao seu quadro legislativo e regulamentar e, por
superior a USD 140 milhões. Assim, para trás do desenvolvimento da economia angolana, último, as consequências decorrentes da polí-

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ECONOMIA & NEGÓCIOS

tica de estabilização macroeconómica que tem de distribuição, considerada uma prioridade concentração dos depósitos ainda permanece
sido seguida pelo Governo angolano. em função da abertura próxima do mercado de elevado. Assim, os 4 primeiros bancos concen-
capitais no país. tram 74% do total dos depósitos, facto que re-
CRÉDITO À ECONOMIA vela, contudo, uma maior dispersão face a 2006,
Fruto do crescimento, em 2006, dos depósitos Os valores dos activos do sector quando estes concentravam cerca de 76%.
na ordem de 62%, o crédito à economia, so- bancário, tal como se tem veri-
bretudo à indústria, à importação e à habita- ficado nos últimos anos, con- CRÉDITO
ção está a crescer muito, tendo este último um tinuam a apresentar níveis de No ano de 2007, o total de crédito líquido con-
impacto positivo para o crescimento do sector crescimento elevados cedido pelo sector bancário manteve a ten-
imobiliário, com a consequente criação de no- dência de crescimento dos anos anteriores,
vos empregos. De acordo com um estudo sobre ACTIVOS apresentando um incremento, face ao ano
o comportamento da banca angolana em 2007, Na análise à estrutura do activo, em termos transacto, de cerca de 83% (sem considerar os
da empresa de consultoria Delloite, de Janeiro gerais, verifica-se o aumento dos pesos dos activos de crédito do BDA).
a Junho desse ano, o crédito cresceu 30%, um activos de crédito (de 26% para 38%) e das O total do crédito vencido, apesar do cresci-
ritmo superior à evolução da base dos depósi- obrigações e títulos (de 22% para 26%) no to- mento de 25%, em termos absolutos, apre-
tos. Com o alcance da paz em Abril de 2002, tal dos activos do sector. O aumento do crédito senta, em termos relativos, um decréscimo
Angola começou a trilhar irreversivelmente a concedido resulta do esforço de reconstrução importante, o que é revelador da maior pru-
rota do desenvolvimento e tal desiderato de- nacional, da revitalização de outros sectores dência do sector na avaliação dos activos de
verá ser assegurado por um sistema bancário que não o petrolífero e do reforço da rede ha- crédito (passou dos 3,69% de 2006 para os
nacional forte, capaz de dar resposta às neces- bitacional do país. O incremento do nível de 3,30% em 2007).
sidades do mercado, facto sustentado pelos obrigações de tesouro dos bancos resulta, es-
indicadores dos quatro maiores bancos comer- sencialmente, das emissões de OT’s lideradas e O crédito líquido concedido re-
ciais do país (BPC, BIC, BAI e BFA), publicados colocadas nas instituições de crédito angolana. gistou um crescimento de 83%
nos últimos estudos sobre a banca angolana.
Os estudos mostram que estas instituições e DEPÓSITOS O crédito em moeda estrangeira representa-
outras estão a apoiar, à medida do possível, a O crescimento exponencial dos bancos an- va cerca de 69% do crédito concedido no final
reconstrução das infra-estruturas, o relança- goEm 2007, o total de depósitos continuou a de 2007, versus os 70% registados em 2006.
mento da actividade produtiva e a expansão apresentar um crescimento significativo, na Continua, desta forma, a verificar-se um de-
da actividade comercial em todo o território. ordem dos 45%, passando dos 617 biliões AKZ sequilíbrio evidente entre o peso do Kwanza
Segundo estimativas do Banco Mundial, se para os 896 biliões AKZ (vs. crescimento de no total dos depósitos angariados e do crédi-
Angola manter, nos próximos tempos, a actu- cerca de 61% em 2006). Os depósitos à ordem, to concedido pelo sector. Os bancos BFA, BPC,
al tendência de crescimento na ordem de 18% no final de 2007, representavam cerca de 80% BIC e BESA detêm, em conjunto, um peso bas-
ao ano, até 2010 o Produto Interno Bruto (PIB) do total de depósitos, revelando um acréscimo tante significativo de 73% sobre o total do
poderá atingir os 100 mil milhões de dólares. de 10 p.p. face a 2006, e totalizando cerca de crédito, cabendo ao primeiro a liderança nes-
Se assim acontecer, o país estará muito pró- 714 biliões AKZ. Já no que toca à estrutura dos te indicador. O rácio de transformação (Crédito
ximo de alcançar a segunda maior economia depósitos por moeda, assistiu-se a uma maior Líquido sobre Depósitos Totais) manteve a sua
da África Subsahariana, a Nigéria. Para que tal confiança dos clientes na moeda nacional, re- trajectória de crescimento, passando de 45%
crescimento seja sustentável, a longo prazo, sultado das políticas macroeconómicas de es- para 56%. Este acréscimo, resulta, como an-
é necessário que os 16 existentes no merca- tabilização do Kwanza por parte do governo, teriormente já tinha sido referido, da dinâmica
do (BPC, BAI, BIC, BFA, Besa, BDA, VTB-África, tendo o peso dos mesmos aumentado para de reconstrução e revitalização do país, aliado
Tota Angola, Millennium, BCI BCA, BNI, BANC, 41% em 2007. à maior confiança do Estado na Banca Ango-
Keve, BPA e Sol) alarguem os seus financia- lana. Neste indicador em particular, realça-se
mentos a projectos ligados ao ressurgimento Os depósitos angariados regis- a performance dos operadores BNI, BMA, BFA,
da indústria de aço, metalúrgicas, estaleiros taram um crescimento de 45% BESA e BRK durante 2007.
navais, agricultura, investigação científica, daí
a necessidade urgente de se diversificar o cré- Registou-se uma alteração nas quotas de O BNI apresenta o rácio de
dito para estas áreas de actividade. mercado, por depósitos, dos diversos operado- transformação mais elevado
res, face a 2006. Assim, o BFA, que liderava no do sector
BANCA AO PORMENOR final de 2006 com uma quota de 23%, seguido
O crescimento exponencial dos bancos ango- do BAI (21%) e do BPC (20%), foi ultrapassado RENTABILIDADE E PRODUTIVIDADE
lanos nos últimos anos permite que existam por estes dois bancos em 2007. O BAI registou Em 2007, o sector bancário angolano regis-
hoje operadores que, pela sua actual dimen- uma quota de mercado de 24%, face aos 20% tou um crescimento positivo da sua rentabi-
são, estão próximos de figurar no ranking dos apresentados pelo BPC e os 17% do BFA. lidade. Assim, em termos gerais, assiste-se a
1000 maiores bancos do mundo. O forte de- uma evolução positiva do agregado ROE – lu-
senvolvimento operado pelo sector bancário, O BAI passou a liderar o ranking cros líquidos do sector sobre capitais próprios
aliado à actual crise financeira global implica, da banca por depósitos investidos, que em 2006 apresentava um rá-
no entanto, maiores responsabilidades para a cio de 26,96% e, em 2007, atingiu os 28,86%.
gestão dos seus operadores ao nível da mo- Embora se tenha registado a entrada de dois no- Este aumento resultou, essencialmente, do
dernização das práticas bancárias e dos canais vos operadores no mercado em 2007, o grau de acréscimo da actividade creditícia dos ban-

30 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


cos e da ligeira subida do spread de juros, mais elevado: USD 143 milhões e USD 114 mi- vestimento essencial em canais alternativos
factores que se reflectiram no maior peso da lhões, respectivamente. A performance do ao tradicional front-office poderá, no curto
margem financeira sobre o produto bancário BAI permitiria colocar este banco na 16ª po- prazo, vir a agravar este indicador. No que res-
(57% em 2007, vs. 49% em 2006). A rentabili- sição do TOP 20 da África Subsariana, caso peita a este indicador, o banco BAI assumiu a
dade dos activos médios (ROAA), de cerca de tivesse sido incluído no estudo anual promo- liderança do mercado, melhorando o seu grau
3,08%, manteve-se vido pela The Banker. No que toca à rentabi- de eficiência dos 40% para 27% em 2007, e
praticamente inalterada, reflexo do forte in- lidade dos activos totais (ROA), os 5 maiores apesar do esforço empreendido na expansão
vestimento dos operadores na expansão da bancos angolanos apresentam rentabilidades da sua rede de balcões. Em seguida figuram
sua actividade. Numa análise por entidade entre os 1,7% e 3,7%, demonstrativa da maior o BTA, o BNI e o BFA, com níveis de eficiência
bancária, assistimos a uma liderança por par- rentabilidade do sector nacional, em compa- na ordem dos 29%, para o primeiro e de 31%
te do BIC, cujo ROE registou um acréscimo de ração com os bancos subsarianos listados no para os últimos dois operadores citados. Anali-
48% em 2006, para 52% em 2007, sendo se- ranking. sando o rácio dos custos de transformação por
guido pelo BESA (47%) e pelo BNI (42%). Pe- balcão, registou-se, em 2007, a um aumento
la negativa, destaca-se o decréscimo no seu EFICIÊNCIA face ao ano anterior, passando o seu valor de
ROE operado pelo BFA, de 34% para 27%. Em 2007, o cost-to-income do sector (o rácio 82 milhões de AKZ para os 88 milhões de AKZ.
entre a soma dos gastos gerais administra- Simultaneamente, verificou-se um melho-
O ROE atingiu os 28,9%, tivos mais amortizações do exercício sobre o ramento do índice de produtividade (produto
em 2007 produto bancário) apresentou uma melhoria bancário sobre o número médio de emprega-
face a 2006, diminuindo de 46% para 42%. dos), o qual passou dos 10 milhões de AKZ pa-
O spread de juros do sector registou uma li- Todavia, os valores destes rácios ainda se en- ra os 12 milhões de AKZ em 2007. Analisando o
geira subida, passando de 5,63% em 2006 contram distantes dos níveis de eficiência da rácio cost-to-income do TOP 20 do The Banker
para 5,88% em 2007. No sector bancário an- banca internacional. A necessidade de reforço relativo à África Subsariana, conclui-se que o
golano, o BFA e o BAI são os bancos que apre- dos sistemas de controlo interno e análise de nível de eficiência da banca angolana em ter-
sentam o resultado antes de impostos (RAI) risco global das instituições de crédito, e o in- mos consolidados é excelente. *tica de estabi-
lização macroeconómica que tem sido seguida
pelo Governo angolano.
TOP DOS 20 MAIORES BANCOS DA çFRICA SUB-SAHARIANA ANO DE INêCIO DE ACTIVIDADE
fonte: the banker e relatório dos bancos de angola fonte: bna e relatórios dos bancos
nota: o bda não foi sujeito a análise
top 20 áfrica subsariana usd’000’000
posição banco país activos banco ano
1 Standard Bank Group (Stanbank) África do Sul 174.920
Banco de Poupança e Crédito, S.A.R.L. 1976
2 Firstrand Banking Group África do Sul 76.901
3 Nedbank África do Sul 71.454 Banco de Comércio e Indústria, S.A.R.L. 1991
4 Investec África do Sul 46.813 Banco Totta de Angola, S.A. 1993
5 Intercontinental Bank Pic Nigéria 11.781
Banco de Fomento, S.A.R.L. 1993
6 Access Bank Nigéria 10.055
7 United Bank for Africa Nigéria 9.479 Banco Africano de Investimentos, S.A. 1997
8 Zenith Bank Nigéria 8.716 Banco Comercial Angolano, S.A.R.L. 1999
9 Oceanic Bank Nigéria 8.265 Banco Sol, S.A.R.L. 2001
10 First Bank of Nigeria Nigéria 6.855
Banco Espírito Santo Angola, S.A.R.L. 2002
1 Guaranty Trust bank Nigéria 6.225
12 Union Bank of Nigeria Nigéria 5.460 Banco Regional do Keve, S.A. 2003
n/a BAI Angola 3.574 Novo Banco, S.A. 2004
13 Ecobank Transnational Togo 3.504
Banco Bic, S.A. 2005
14 Mauritius Commercial Bank Maurícias 3.479
n/a BFA Angola 3.474 Banco Privado do Atlântico, S.A. 2006
15 Platinium-Habib Bank Nigéria 3.001 Banco Millennium Angola, S.A. 2006
n/a BPC Angola 2.787
Banco de Negócios Internacional, S.A. 2006
n/a BIC Angola 2.276
n/a BESA Angola 1.890 Banco de Desenvolvimento de Angola 2007
(...) Banco VTB - África, S.A. 2007
18 African Bank África do Sul 1.051
Banco Angolano de Negócios e Comércio, S.A. 2007
19 Spring Bank Nigéria 992
20 IBTC Chartered Bank Nigéria 861 Finibanco Angola, S.A. 2008

sabia que...
Tendo em conta a necessidade de se financiar projectos de desenvolvimento a médio e longo prazos, dois acontecimentos históricos económicos foram assinalá-
veis em 2007: o início das operações de financiamento do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), constituído 100% por capitais do Estado, e o começo das
actividades do VTB-África, uma instituição de capitais russos e angolanos, cuja missão é financiar grandes projectos, como a construção estradas, portos, aeropor-
tos, barragens, caminhos de ferro, entre outras infra-estruturas

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 31


ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

pirâmide invertida

O sonho é da pirâmide social invertida, onde mais e mais pessoas tenham acesso a canais
de crescimento e de qualidade de vida, para que possam promover o próprio sustento e
dedicarem-se ao progresso das suas comunidades
Como a Índia se tornou uma referência mundial no desenvolvimento de produtos e
serviços para a população mais pobre

INOVAÇÃO, COMPETIÇÃO E RIQUEZA por uma equipa de especialistas da cidade de concorrentes, ninguém conseguiu chegar a
Após dois anos de pesquisas e um investi- Jaipur, na região noroeste da Índia. Feito de um produto com a mesma relação custo/be-
mento de 6,9 milhões de dólares, o Massachu- madeira, borracha vulcanizada e alumínio, o nefício. A prótese surgiu de uma parceria entre
setts Institute of Technology (MIT), celebrado produto evidentemente não tem o mesmo as- dois indianos, o médico Pramod Karan Sethi e
centro de ensino e investigação norte-ameri- pecto moderno e os recursos do equipamento o artesão Ram Chandra. Os dois conheceram-
cano, desenvolveu a prótese de pé e tornozelo do MIT, mas funciona admiravelmente bem. O se nos anos 60 quando trabalhavam no Sawai
mais avançada do mundo. O modelo é equipa- Jaipur Foot, como foi baptizado, permite que o Man Singh Hospital, em Jaipur. Na época, Sethi
do com um pequeno motor e sensores eletró- usuário volte a andar, correr, conduzir, pedalar, fazia parte de uma equipa que tentava desen-
nicos que, entre outros avanços, reproduzem subir árvores e levar uma vida sem as limita- volver um modelo de prótese com materiais
de maneira espantosa o trabalho de músculos ções de uma cadeira de rodas ou de um par de mais baratos, sem perda de resistência. Chan-
e tendões. “É uma simulação quase perfeita muletas. Além disso, tem a grande vantagem dra entrou na história por acaso. Certa vez, ao
do andar humano”, afirma Hugh Herr, chefe do de custar apenas 40 dólares — o que significa levar o pneu da sua bicicleta para um conserto,
grupo de investigadores. “Não dá para notar que o dinheiro pago por uma prótese desen- prestou atenção na borracha vulcanizada utili-
se a pessoa que utiliza a prótese está a man- volvida pelo MIT compraria 625 unidades do zada para tapar o buraco. Saiu de lá com a im-
car.” O pé biónico do MIT deve chegar ao mer- Jaipur Foot. “Este é um grande exemplo de co- pressão de que o material poderia ser útil aos
cado até ao final deste ano, mas será acessível mo usar a criatividade para atender o mercado colegas do hospital que pesquisavam a nova
a poucos. Cada prótese custará cerca de 25 mil de baixa renda”, afirma o consultor indiano C.K. prótese. Sethi gostou da sugestão e os dois
dólares, o que a torna uma possibilidade dis- Prahalad, professor de economia da Universi- passaram a trabalhar juntos. Enquanto o mé-
tante para 85% dos mais de 20 milhões de dade de Michigan, nos Estados Unidos, e autor dico construiu as articulações da prótese, o ar-
pessoas no mundo que sofreram amputação do livro ‘A Riqueza na Base da Pirâmide’. Cerca tesão encarregou-se de dar forma estética ao
abaixo do joelho. A maioria dos mutilados vi- de 90 mil unidades do Jaipur Foot são distri- produto. O resultado foi a prótese adaptada às
ve em países pobres e perdeu parte dos mem- buídas actualmente por ano em países como necessidades de moradores de países pobres
bros inferiores em tragédias como guerras e o Afeganistão, Angola e Camboja. As primei- — andar descalço, realizar trabalhos braçais,
doenças. Para eles, a melhor opção disponí- ras unidades foram desenvolvidas em 1968 e caminhar e correr sobre pisos molhados — e re-
vel no mercado é uma prótese desenvolvida até hoje, apesar das inúmeras tentativas de sistente para durar mais de cinco anos.

32 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


A Índia tornou-se o maior laboratório do mundo para o desenvolvimento de um
conjunto de produtos e serviços presentes numa ampla galeria de inovações in-
dianas destinadas a um público consumidor com pouco poder aquisitivo

EM PROL DOS MAIS NECESSITADOS A ASCENSÃO DOS POBRES problema do fumo utilizando apenas gás de
A mais famosa das inovações indianas não Esta prótese faz hoje parte de uma ampla ga- cozinha e biomassa. Desde o seu lançamento,
tem fins lucrativos. O Jaipur Foot é distribuí- leria de inovações indianas destinadas a um o fogão flex já vendeu cinco mil unidades em
do gratuitamente pela ONG indiana Bhagwan público consumidor com pouco poder aquisi- distritos rurais. Em tese, são os mesmos con-
Mahaveer Viklan Sahayata Samiti (BMVSS). tivo. Não é por acaso que o país se tornou o sumidores da Bomba d’Água de Bambu. Feito,
A entidade foi criada pelo economista D.R. maior laboratório do mundo para o desenvol- como o nome sugere, quase inteiramente de
Mehta, que tomou contacto com o Jaipur Foot vimento desse tipo de produto e serviço. Se- bambu, o equipamento custa 40 dólares e é
em circunstâncias trágicas. Em 1969, sofreu gundo um estudo recente do Banco Mundial, desenvolvido para pequenos agricultores, que
um grave acidente de carro e precisou de dois o número de indianos abaixo do limiar míni- utilizam dois pedais para puxar água deposi-
anos e meio de fisioterapia para não perder a mo de pobreza é de 456 milhões de pessoas tada até sete metros abaixo do solo.
perna esquerda. Durante esse período, Mehta (o equivalente a 35,5% da sua população).
acompanhou as agruras dos amputados que Esse contingente sobrevive com uma renda EXEMPLOS QUE TRIUNFAM
precisavam de uma prótese e acabou a conhe- média até 40 dólares por mês. Consideran- Uma das grandes vantagens dos indianos na
cer o Jaipur Foot. “Era o único produto adap- do-se o restante da população, existem 390 criação de produtos e serviços a preços mais
tado às necessidades dos indianos”, revela milhões de habitantes com renda a rondar acessíveis é a oferta de mão-de-obra bara-
Mehta à revista Exame. Nessa época, porém, os 100 dólares por mês. “Esse é um imenso ta no país, mesmo em sectores qualificados,
poucos tinham acesso ao invento. O hospital mercado consumidor que não pode ser igno- como a medicina. Em diversas especialida-
que o desenvolveu doava o produto, mas ti- rado”, diz Stuart Hart, professor de negócios des, os profissionais do país viraram sinóni-
nha capacidade de fabricar apenas 50 próte- globais sustentáveis da Universidade de Mi- mo de qualidade e honorários baratos. Por
ses por ano. Mehta criou, em 1975, a BMVSS chigan. Para incluir essas pessoas no mercado causa disso, a Índia recebeu no ano passado
com o objectivo de levar o Jaipur Foot a um de consumo, as empresas locais têm-se des- mais de 450 mil turistas estrangeiros em bus-
número muito maior de pessoas. Ao longo dobrado. O Instituto de Ciências da Índia, em ca de serviços médicos. Uma das áreas mais
de mais de três décadas de actuação, a ONG parceria com a British Petroleum, criou, em procuradas é a oftalmologia. Em todo o país,
já forneceu cerca de 1,2 milhão de próteses a 2006, o fogão Oorja (que significa “energia” são realizadas 3,6 milhões de cirurgias nessa
amputados de 25 países. Cerca de 40% do or- no idioma hindu). Tradicionalmente, as cozi- área por ano. Procedimentos como uma cirur-
çamento da BMVSS vem de repasses do Go- nhas indianas são equipadas com fogões que gia às cataratas custam 45 dólares — 15 vezes
verno, outros 15% de doações particulares e o utilizam lenha ou querosene, combustíveis menos que o valor cobrado, por exemplo, nos
restante de empresas como a americana Dow caros e que produzem muito fumo. O Oorja, Estados Unidos. O mesmo princípio vale para
Chemical. Mehta, hoje com 72 anos, conti- além do preço atraente (17 dólares), elimina o as cirurgias cardíacas. Uma operação de ponte
nua na administração da BMVSS, sediada em
Jaipur. Na véspera de completar 40 anos de
existência, o Jaipur Foot continua a ser aper-
feiçoado. Com a ajuda do Centro de Pesqui- Uma das grandes vantagens
sa Espacial da Índia, a borracha vulcanizada dos indianos é a oferta de
foi substituída por poliuretano (um polímero mão-de-obra barata no país,
orgânico com textura semelhante à da bor- mesmo em sectores qualifica-
racha, mas muito mais leve) e no lugar das dos, como a medicina
articulações de metal foi adoptado um ma-
terial plástico igualmente articulado e resis-
tente. De 850 gramas, o Jaipur Foot passou
a pesar apenas 350 gramas. Mais recente-
mente, a Universidade Stanford, nos Estados
Unidos, contribuiu para a BMVSS através da
criação exclusiva para o produto de uma má-
quina de molde a vácuo de quatro mil dólares.
O equipamento industrializa uma etapa que
até hoje é feita manualmente, o que poderá
aumentar de 100 para 1 500 o número de am-
putados atendidos diariamente pela ONG. O
Jaipur Foot é uma tecnologia de domínio pú-
blico, quem sabe quantos milhões de dólares
ela não valeria se tivesse sido patenteada?

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 33


ECONOMIA & NEGÓCIOS

de safena na Índia custa sete mil dólares, con- cial. Há no mundo quatro biliões de pessoas
tra os cem mil dólares num hospital america- que vivem com cinco dólares por dia. Um terço
no. A tradição de boa qualidade de ensino no dessa população sobrevive com menos de um
país também é uma vantagem no desenvol- dólar. Se as empresas, agindo em seu próprio
vimento de inovações. Centros de excelência, interesse, melhorarem a vida dessas pesso-
como as universidades da cidade de Bangalo- as, segundo Prahalad, estarão a abrir um gi-
re, também conhecida como o Vale do Silício gantesco mercado, ávido e capaz de consumir
indiano, tornaram-se nos últimos anos gran- produtos e serviços criados sobre medida para
des incubadoras de patentes. Uma das últi- essa parcela da humanidade. Para isso é preci-
mas criações surgidas por lá foi um telemóvel pelas camadasd que se encontram
t no estrato
t t so inovar, baixando custos e colocando na pra-
popular de 15 dólares. Desenvolvido pela em- mais baixo da sociedade, em função da sua teleira aquilo que é alcançável por quem está
presa local Spice, deve chegar ao mercado até experiência e conhecimento da Índia. País pe- nesse estrato sócio-económico. No seu livro
Dezembro. Para baixar o valor do produto, os lo qual viajou em função da sua consultoria e mais recente – O Futuro da Competição -, es-
engenheiros da Spice eliminaram o visor, a me- na busca de uma solução para a pobreza no crito em parceria com Venkat Ramaswamy -
mória da agenda telefónica e outros recursos. mundo. C.K. Prahalad desafia a ordem eco- Prahalad desafia a noção tradicional de valor e
“Vendemos apenas o telefone, nada mais”, diz nómica ao propor a “base da pirâmide” como de criação de valor. Para ele as empresas não
Bhupendra Kumar Modi, presidente da Spice. um mercado potencial para qualquer compa- fazem o suficiente para aproveitar as oportu-
“Continuamos a pesquisar para baixar o preço nhia explorar, defendendo a ideia de que: “A nidades que surgem com a globalização. Nes-
até 10 dólares num futuro próximo.” O poten- fonte real do mercado não são os consumi- te novo mundo, o cliente é uma figura mais
cial de vendas do produto é enorme. Do 1,1 bi- dores médios ou emergentes que surgem no pró-activa, logo as regras do jogo mudaram:
liões de indianos, estima-se que 870 milhões mundo, mas sim biliões de pobres que aspi- não basta apenas servir, é necessário criar um
ainda não tenham um telemóvel. ram uma oportunidade de entrar num merca- valor real para o consumidor. Pois o conceito
do do qual sempre ficaram à margem.” Para de valor já é outro. Para isso, além de admitir
‘O que falta às empresas e Prahlad o que falta às empresas e instituições limitações, é necessário sair do que eles cha-
instituições financeiras é o financeiras é o ensino de como lidar com essa mam de “zona de conforto” para ingressar nas
ensino de como lidar com a chamada “base da pirâmide” económica e so- novas “zonas de oportunidades”.
chamada “base da pirâmi-
de” económica e social’, C.K.
Prahalad

RIQUEZA NA BASE DA PIRÂMIDE


Coimbatore Krishnao Prahalad, ou C.K. Praha-
lad como é conhecido, é um indiano de nas-
cimento, naturalizado americano, físico por
formação na Universidade de Madras (Che-
nai), que iniciou a sua carreira como gerente
da Union Carbide. Para complementar os seus
estudos formou-se PhD em Harvard, dedican-
do-se, desde então, à sua carreira académica,
tanto na Índia, como nos Estados Unidos. Ho-
je é professor titular de Estratégia Corporativa
do programa de MBA da Universidade de Mi-
chigan e também conselheiro do Governo in-
diano para o empreendedorismo. Sem dúvida
que C.K. Prahalad é um dos maiores pensado-
res do mundo dos negócios, além de ser um exemplos de sucesso
dos mais influentes especialistas em estra- 1. Prótese Jaipur Foot
tégia empresarial da actualidade. Consagra- Inventores – Ram Chandra Sharma e o médico Pramod Karan Sethi
do internacionalmente pela sua inestimável Características – A prótese é feita de borracha, montada numa base de madeira e alumínio
contribuição ao pensamento estratégico cor- Preço – 40 dólares
porativo, é considerado um dos dez maiores 2. Fogão Flex
especialistas em administração e negócios do Inventores – British Petroleum e Instituto de Ciências da Índia
mundo. Consultor e membro do conselho de Características – A sua base é feita de cerâmica e funciona tanto a gás, como com biomassa
administração de empresas de classe mun- Preço – 17 dólares
dial, tem entre os seus clientes companhias 3. Bomba d’água de Bambu
como o Citigroup, Colgate Palmolive, Cargill, Inventores - Gunnar Barnes de Rangpur e Dinapjur Rural Service
Motorola, Whirlpool, Oracle, Philips e Unilever. Características – Ao invés de um motor, o equipamento vem com dois pedais acoplados
No seu livro - ‘A Riqueza na Base da Pirâmide’ para o próprio agricultor fazer a força necessária para bombear a água
- Prahalad demonstra um interesse profundo Preço - 40 dólares

34 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 35
ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

DIAS NEGROS
Lamentamos profundamente. A frase, profe-
rida pelo presidente da Yamato Life Insurance
Co., Takeo Nakazono, antes de fazer uma lon-
ga reverência diante das câmaras de televisão,
tratava-se do anúncio, à boa maneira oriental,
da primeira quebra de uma instituição finan-
ceira japonesa esmagada pela crise mundial de
crédito. A maior parte dos bancos e instituições
financeiras no Japão evitou prejuízos mais gra-
ves até ao momento, situação diferente dos
seus pares americanos e europeus. A Yamato,
uma seguradora de porte médio e de capital
fechado, com aproximadamente 1000 empre-
gados e 1 trilião de ienes (US$ 10 biliões) em
apólices individuais de seguros parece ser um
caso atípico. Nakazono divulgou que o rombo
da seguradora é de 11 triliões de ienes (US$ 111
biliões) devido a uma descida rápida e drásti-
ca nos preços mundiais de acções provocada
pela crise, cuja alavanca foram as hipotecas
de alto risco nos EUA. A empresa vinha acti-
vamente a procurar retornos de investimentos
para cobrir altos custos operacionais, alocando
uma proporção relativamente alta dos seus in-
vestimentos em activos alternativos, incluin-
do fundos de hedge. A maior parte dos 170 mil
contratos individuais da Yamato serão prote-
gidos pela Life Insurance Corporation do Japão,
mas o dinheiro assegurado e os benefícios po-
dem ser cortados, informou um porta-voz da

os gigantes Yamato. Ministros japoneses e participantes


do mercado disseram que a Yamato, que pro-
curou investimentos de alto risco, não é uma

também caem?
O Japão é um país pouco dotado de recursos naturais e
empresa típica do sector de seguros do Japão e
que o colapso da companhia não significa que
outras instituições financeiras terão o mesmo
destino. A quebra da Yamato ocorreu a meio
de uma forte desvalorização da bolsa de Tó-
que sustenta uma população de mais de 120 milhões de quio. O pânico dos investidores estrangeiros
habitantes numa área relativamente pequena em fuga fez com que esta registasse a maior
queda percentual num único dia. O índice Ni-
kkei, que agrupa, sobretudo, papéis da indús-
A economia do Japão é um florescente complexo de indústria, comércio, finanças, agricultura tria eletrónica, desceu 9,62%, para fechar no
e todos os outros elementos de uma estrutura económica moderna. O país encontra-se num nível mais baixo dos últimos cinco anos. Este
avançado estágio de industrialização, suprida por um poderoso fluxo de informação e uma pânico foi também fortemente influenciado
rede de transportes altamente desenvolvida. Um dos seus traços é a importante contribuição pela bancarrota do primeiro fundo fiduciário
da indústria e da prestação de serviços, tais como o transporte, do comércio grossista e reta- imobiliário do país cotado na bolsa, o New City
lhista e dos bancos ao produto interno líquido do país, no qual os sectores primários, como a Residence Investment.
agricultura e a pesca, têm hoje em dia uma quota menor. Outro dado relevante é a importância
A participação directa do
relativa do comércio internacional na economia japonesa. O Japão é um país pouco dotado de
recursos naturais e que sustenta uma população de mais de 120 milhões de habitantes numa
Estado nas actividades
área relativamente pequena. Contudo, apesar dessas condições restritivas e da devastação económicas é limitada, embora
do seu parque industrial durante a II Guerra Mundial, o país conseguiu não apenas reconstruir o controlo oficial e a sua
a sua economia, mas também tornar-se uma das principais nações industrializadas do mun- influência sobre as empresas
do. Ao mesmo tempo, o processo de rápida expansão industrial, junto com as mudanças nas seja maior e mais intenso que
condições económicas japonesas e internacionais ocorridas nos últimos anos, criaram vários na maioria dos países com
problemas económicos que o país enfrenta hoje em dia. economia de mercado

36 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA EM ANÁLISE
O Japão tem uma economia próspera e bem O PIB (Produto Interno Bruto) do Japão recuou, no último trimestre do ano passado, 12,7%,
desenvolvida, baseada principalmente em sendo esta a maior queda percentual do PIB dos últimos 35 anos. Este é o resultado da pior crise
produtos industriais e serviços. No entanto, o vivida no país desde o fim da II Guerra Mundial (1939-1945), facto que coloca a segunda maior
seu sistema de gestão apresenta característi- economia do mundo --atrás apenas dos Estados Unidos-- num cenário de grave recessão. Duran-
cas muito peculiares. Ainda que a participação te todo o ano de 2008, a economia japonesa caiu 0,7%, pela primeira vez em nove anos. Actual-
directa do Estado nas actividades económicas mente o país está aplicar um novo pacote de estímulo económico para combater a crise. Uma
seja limitada, o controlo oficial e a sua influ- ajuda que pode chegar a US$ 109 biliões. As medidas iniciadas pelo Governo prevêem o finan-
ência sobre as empresas é maior e mais inten- ciamento de grandes projectos públicos, como a reconstrução de aeroportos e outras obras de
so que na maioria dos países com economia infraestrutura, ao mesmo tempo que estimula o desenvolvimento de empresas com projectos
de mercado. Esse controlo não se exerce por ecologicamente sustentáveis. Segundo vários analistas, a recuperação da economia japonesa só
meio de legislação ou acção administrativa, chegará no último trimestre deste ano, altura em que estima um crescimento de 0,97% após seis
mas pela orientação constante do sector pri- trimestres consecutivos de contracção. A pior recessão no Japão durou 36 meses, no início dos
vado e pela intervenção indirecta nas activi- anos 80, quando a economia do país foi atingida pelas consequências dos choques do petróleo
dades bancárias. Existem, também, várias
agências e departamentos estatais relacio-
nados com diversos aspectos da economia, é muito superior em relação aos demais pa- principalmente ao rápido crescimento dos in-
como exportações, importações, investimen- íses industrializados. Tóquio é um dos mais vestimentos, à concentração da indústria em
tos e preços, assim como desenvolvimento importantes centros financeiros do mundo e grandes empresas e à cooperação entre Go-
económico. O objectivo dos organismos ad- o seu mercado de acções equipara-se aos de verno e empresários. A sólida posição indus-
ministrativos é interpretar todos os indicado- Londres e Nova Iorque. trial do Japão, tanto em qualidade, como em
res económicos e responder imediatamente
e com eficácia às mudanças conjunturais.
A mais importante dessas instituições é a
Agência de Planeamento Económico, subme-
tida ao controlo directo do primeiro-minis-
tro, que tem a importante missão de dirigir
dia-a-dia o curso da economia nacional e o
planeamento a longo prazo. De maneira ge-
ral, esse sistema funciona satisfatoriamen-
te e sem crises nas relações entre Governo
e empresas, devido à excepcional autodisci-
plina dos empregados japoneses em relação
às autoridades e ao profundo conhecimento
do governo sobre as funções, necessidades e
problemas dos negócios. O ministro da Finan-
ças e o Banco do Japão exercem considerável
influência nas decisões sobre investimentos
de capital, devido à estreita interdependência
entre as empresas, os bancos comerciais e o
banco central. As Ferrovias Nacionais Japone-
sas são a única empresa estatal.
INDÚSTRIA preços, tem permitido ao país exportar gran-
O grau de dependência entre A característica mais notável do crescimen- de parte dos seus produtos manufacturados
o Banco do Japão, os bancos to económico do Japão após a II Guerra Mun- e equilibrar a balança comercial. Por outro la-
comerciais e a indústria é dial foi a rápida industrialização. O “milagre do, a expansão internacional das empresas
muito superior em relação aos económico” japonês ficou patente tanto no permitiu a ampliação do mercado nos países
demais países industrializados crescimento quantitativo, como na qualida- consumidores de produtos japoneses, por
de e variedade dos produtos e no alto nível meio da construção ou compra de fábricas,
FINANÇAS tecnológico. O país alcançou, com os Estados ou por associação com produtores desses pa-
O sistema financeiro japonês apresenta al- Unidos, a liderança da produção em quase to- íses. Essa estratégia observa-se claramente
gumas peculiaridades se comparado a outros dos os sectores industriais. Uma das nações no sector automóvel: as principais empresas
países desenvolvidos. Em primeiro lugar, o mais industrializadas do mundo, é também japonesas estabeleceram parcerias com gru-
crédito bancário desempenha um papel pri- um dos maiores produtores de navios, auto- pos noutros países.
mordial na acumulação de bens de capital. móveis, fibras e resinas sintéticas, papel, ci-
Em segundo lugar, o grau de dependência mento e aço, além de produtos eletrónicos de TRANSPORTES
entre o banco central (Banco do Japão, criado alta precisão e equipamentos de telecomuni- Até ao fim do século XIX, a maior parte dos
em 1882), os bancos comerciais e a indústria cações. O crescimento económico atribui-se japoneses viajava a pé. A primeira ferrovia foi

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 37


ECONOMIA & NEGÓCIOS

Uma das nações mais industrializadas ta a economia japonesa ocorra, a mudança na relação de forças políti-
do mundo, é também um dos maiores aprofundou as dificul- cas no Japão, desta vez, pode ser mais dura-
produtores de navios, automóveis, fibras e dades para o governo de doura do que aconteceu no inicio da década de
resinas sintéticas, papel, cimento e aço, além Aso. O PIB real do Japão 1990, quando a oposição chegou ao poder co-
de produtos eletrónicos de alta precisão e contraiu -3,6% no últi- mo Morihiro Hosokawa pelo Novo Partido do
mo trimestre de 2008 Japão. O novo governo poderá ser beneficiado
equipamentos de telecomunicações
e -3,8% no primeiro tri- pela melhoria da economia internacional, cujos
construída em 1872, entre Tóquio e Yokohama. mestre de 2009, o que em termos anuais, resultados positivos começam a surgir e po-
Na segunda metade do século XX, estabele- comparando com os mesmos períodos do ano derão influenciar positivamente a situação no
ceram-se no Japão as ferrovias mais rápidas e anterior, reduziram respectivamente -13,5% e Japão. E possíveis bons resultados podem dar
automatizadas do mundo e a quantidade de -14,2%. As exportações também foram afecta- maior popularidade ao novo ministro que será
veículos e camiões cresceu exponencialmente. das. De acordo com os dados da Japan External eleito em Setembro. Caso o PDJ conquiste uma
A rede de comunicações e os correios são de pri- Trade Organization, a queda no primeiro tri- maioria que permita eleger o primeiro-minis-
meira qualidade. O país possui uma das princi- mestre 2009 foi de –38,7%, comparadas com o tro, terá também como ponto favorável a go-
pais frotas mercantes do mundo e as suas linhas período homólogo. Esses factos antecederam vernabilidade derivada do facto de já possuir,
aéreas chegam a todos os grandes aeroportos o início do Governo, mas o primeiro-ministro juntamente com partidos da sua coligação, 118
internacionais. As zonas industriais -- Tóquio, a Aso também contribui para o seu enfraqueci- cadeiras, entre as 242 da Câmara Alta. Não é
área metropolitana de Osaka (que inclui Osaka, mento. Em razão dos fracos resultados eco- uma maioria absoluta, mas é uma representa-
Kobe e Kyoto) e a de Nagoya -- apresentam ex- nómicos, no início de 2009, a popularidade de ção bem mais confortável que a do PLD com
celente rede de transporte. Os principais portos Aso estava ao redor de 10%. E o episódio de 81 assentos. Esses factos podem contribuir pa-
são Yokohama, Kobe, Nagoya, Kawasaki, Chiba, embriaguês do Ministro das Finanças, Shoichi ra o início de um novo período na política ja-
Kita-Kyushu, Mizushima e Sakai. Nakagawa, durante uma apresentação na en- ponesa. A possibilidade da oposição chegar ao
trevista colectiva do G-7, realizada em Roma comando do poder político do Japão é real, con-
NOVAS ELEIÇÕES em Fevereiro, contribuiu para deteriorar a ima- forme mostram as pesquisas já mencionadas.
A recente dissolução do parlamento japonês, gem do gabinete. Desde a ascensão de Aso ao Entretanto, a sua capacidade de se manter
Dieta, e a convocação de novas eleições vão cargo, a oposição reivindicava a dissolução da como governo ainda é incerta. Alguns fatores
modificar as relações de forças políticas na Câ- Câmara Baixa e a convocação de eleições, por que contribuem para esse cepticismo são: a) a
mara Baixa no Japão. Afectado pelas disputas causa da fraqueza do Governo e da baixa po- identificação do PDJ como principal partido de
políticas nacionais e pelos problemas econó- pularidade. A esperança de Aso era de que as oposição é discutível, uma vez que a sua lide-
micos internacionais, o último Governo termi- medidas económicas pudessem surtir efeito e rança é formada por dissidentes do PLD. Yukio
na antes de completar um ano. As dificuldades fortalecer a sua posição para somente então Hatoyama, o actual presidente foi membro do
que se apresentaram ao longo desse período convocar novas eleições. O facto é que o Ja- PLD até 1993; b) o próprio PDJ foi recentemen-
de governação, frustraram as expectativas de pão continuou a viver dificuldades económicas te atingido por escândalos. O presidente do
que esse governo japonês pudesse ter boas re- e a baixa popularidade fortaleceu as pressões partido até Maio deste ano, Ichiro Ozawa, que
alizações. Havia expectativas optimistas em dentro do PLD para que este deixasse o car- foi secretário geral do PLD em 1989, renunciou
relação ao mandato de Aso, pois era tido co- go. Actualmente, o partido está diante de um por causa de denúncias que o acusavem de re-
mo um líder carismático e de opinião própria, grande desafio, que é conseguir manter a sua ceber doações ilegais e que envolviam o seu
características que o aproximava do perfil de representação na próxima eleição. Em Julho, de secretário; c) não deverão ocorrer grandes mu-
Junichiro Koizumi, que permaneceu no cargo acordo com a pesquisa do jornal Asahi Shim- danças. Os actuais líderes do PDJ além de se-
de primeiro-ministro por um período longo bun antes do anúncio da dissolução da Câma- rem dissidentes do PLD, não apresentaram até
- Abril de 2001 a Setembro de 2006 - e con- ra, o apoio da população ao PLD era de cerca de ao momento propostas inéditas para o país. Is-
seguiu bons resultados económicos. Os objec- 20% e, de acordo com o mesmo estudo, a ex- so poderá fazer com que a população frustre as
tivos imediatos do primeiro-ministro Aso era a pectativa já era de que o Partido Democrático suas expectativas de transformação. O quadro
recuperação da dinâmica económica do país e, do Japão iria aumentar a participação na Câma- da política japonesa é, portanto, de expectati-
com isso, buscar a revitalização do partido que ra. A investigação realizada pelo jornal Mainichi vas. Devemos provavelmente ver mudanças de
já apresentava popularidade decrescente. No Shimbun, confirmou essa posição da popula- nomes, de lideranças no governo, no entanto,
entanto, sabia-se que não seriam tarefas fá- ção ao apresentar que 56% da opinião pública reais transformações políticas não serão fac-
ceis, pois o seu partido (PLD) havia perdido a japonesa deseja que o Partido Democrático do tos consumados mesmo com uma possível vi-
maioria na Câmara Alta em 2007, ainda na ges- Japão (PDJ) vença as próximas eleições. E, caso tória da oposição.
tão de Shinzo Abe, sucessor de Koizumi. Essa
realidade tornara muito difícil a aprovação de
medidas pelo Governo, enfraquecendo a capa-
cidade de gestão de Aso. Em 2008, foi a crise
económica internacional, que teve o pedido de
concordata pelo quarto maior banco de inves-
timentos dos Estados Unidos, Lehman Bro-
thers, em meados de Setembro como um dos
seus ícones, que atingindo de maneira direc-

38 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


GRANDE ENTREVISTA · ANGOLA’IN | 59
ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

o desafio
da liquidez
No início de 2008, os empréstimos empresariais dirigiam-se para um ano recorde. Mas
entretanto o mercado parou. Consegue explicar porquê?
‘Uma crise de liquidez pode ser actualmente uma via muito mais rápida para a morte do
que os desafios operacionais’
Os economistas podem falar sobre se esta crise • Implementar um programa melhor de gestão de risco financeiro
se compara à crise do início dos anos 80 do sé- As empresas não conseguem lidar com a volatilidade da fluidez do dinheiro imposta pelas maté-
culo XX, mas, em Dezembro de 2008, o preço rias-primas, pelas divisas e pelas flutuações nas taxas de juro. Mas poucas empresas dedicaram
do risco do crédito empresarial chegou ao ní- atenção suficiente a quantificar, analisar e gerir a sua exposição líquida. Muitos gestores finan-
vel mais alto desde a Grande Depressão, como ceiros não compreendem totalmente as suas exposições, acreditam que já estão naturalmente
relata a história. Razão pela qual, uma crise de precavidas, acham que a precaução é demasiado dispendiosa ou relegam a precaução para o
liquidez pode ser actualmente uma via muito mundo da “engenharia financeira”. Isso tem de mudar.
mais rápida para a morte do que os desafios • Desenvolver ou comprar liquidez estratégica
operacionais. E muitas das empresas moder- Relacionado com a gestão de risco está a concepção de uma estrutura de capital. Durante anos,
nas enfrentam ambos os problemas. Com os as empresas com boas classificações de crédito e com grandes quantidades de capital eram al-
preços das acções a atingirem mínimos e o vos preferenciais de banqueiros de investimento que defendiam os programas de reaquisição de
apetite pelo risco a arruinar o mercado de ca- acções e de aumento de dívidas. Mas agora o capital é um bem estratégico. As empresas líde-
pitais, onde podem as empresas satisfazer as res de mercado estão a reter o capital, a vender bens inactivos e a cortar nos créditos bancários.
suas necessidades de capital? Para um futuro Estão a explorar outros veículos para uma liquidez secundária: linhas de crédito de apoio, finan-
imediato e previsível, terão de se virar para si ciamentos, vendas “leaseback” (vendas seguidas de locação) e mais contractos flexíveis de com-
próprias. A importância da força financeira e pras e outsourcing. As empresas estão a inverter a tendência dos programas de compras para
da liquidez estratégica nos mercados de ho- programas e dividendos de reaquisições. Também há um aumento nos métodos criativos para
je não pode ser exagerada. Esta proporciona reduzir a pressão e aumentar a força financeira.
uma força que impulsiona o valor da empre- • Gerir o portefólio empresarial pelo valor e não pelo desempenho
sa e ajuda a manter as operações, a aumentar Quando avaliam as unidades de negócio, a maioria das empresas ainda confia nas métricas tra-
o poder de negociação, a melhorar a posição dicionais de desempenho financeiro, como as margens, as receitas de operação e o retorno do
competitiva e a apoiar o investimento durante capital investido. Presume-se que estes são os parâmetros do valor. Mas, na verdade, este de-
épocas mais turbulentas. Tudo isto sugere al- sempenho já se reflecte nos valores de mercado dos bens e estas métricas são inapropriadas
guns imperativos financeiros novos: para as decisões relacionadas com o portefólio. Em vez disso, devem tomar decisões com base

40 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


no valor das receitas esperadas (fluxos de fundo reduzidos ou FFR) contra o valor que obteriam Com os preços das acções
se eliminassem a unidade. A abordagem convencional de vender “cães” (unidades que crescem a atingirem mínimos
pouco e têm poucos retornos) e de adquirir “estrelas” (unidades que crescem muito e rendem e o apetite pelo risco a
muito) pode ser a estratégia mais dispendiosa, principalmente em época de crise. Mantenham arruinar o mercado de
os bens, em vez disso, quando acreditam que o FFR é maior do que os resultados líquidos de
capitais, onde podem as
uma venda.
empresas satisfazer as
• Controlar as fontes de valor
Hoje em dia, mais do que nunca, as estratégias falham na altura da execução e não por causa da
suas necessidades de
visão. A execução da qualidade exige que inúmeras decisões económicas e com base nos valores capital?
sejam tomadas em todos os níveis da empresa – incluindo integrações, disposições, encerra-
mentos, outsourcing, promoções, alterações nos preços e proposições de valor. Estas decisões
dependem de uma base abrangente de factores económicos, mas a maior parte dos sistemas de
informação permanece concentrada na entrega de dados para as necessidades das entidades le-
gais. Se um painel significativo de clientes, produtos e unidades em stock permanece um sonho
por realizar na sua empresa, está na hora de acordar e começar a usá-lo.
• Mover na direcção do crescimento, principalmente em mercados emergentes
Os lucros empresariais tornaram-se cada vez mais dependentes da procura externa, com os lucros
internacionais a serem actualmente responsáveis por quase um terço dos lucros empresariais. A
sua estratégia global deve ter como base capacidades distintas desenvolvidas deliberadamente:
através de esforços internos orgânicos, de aquisições escolhidas para as capacidades que serão
obtidas através delas ou de acordos de colaboração.
• Avaliar as defesas contra aquisições. Os preços das acções actuais criam uma janela
de oportunidade para os compradores
Isso faz com que os executivos se assegurem de que têm o tempo necessário para conceber e
executar uma resposta a um pedido de aquisição. Uma auditoria às defesas cobre quatro tópicos
básicos: estado geral e leis de aquisições empresariais, estrutura das políticas e da administra-
ção da empresa, processos de votação dos accionistas e preparação para uma aquisição (incluin-
do estratégias para evitar aquisições indesejadas) dentro das estruturas de gestão da empresa.

COMPREENDER O FENÓMENO que o banco vai falir. Então, vou correr para o
Actualmente é cada vez mais importante balcão para tentar ser o primeiro a levantar o
compreender a definição de “crise de liquidez”. meu depósito enquanto há dinheiro em caixa
Senão vejamos, a tarefa clássica dos bancos é e guardo-o fora do sistema bancário. A primei-
atrair depósitos e fazer empréstimos, que di- ra regularidade falha, pois o dinheiro que sai
ferem numa característica fundamental - a du- não volta a entrar nos bancos. Porque todos
ração ou maturidade. Num depósito à ordem, pensam o mesmo e correm para o banco para
eu empresto ao banco a curto prazo, podendo fechar as suas contas, a segunda regularidade
levantar o dinheiro a qualquer momento, mas também falha. Ocorre uma crise de liquidez e,
quando o banco me empresta dinheiro para eu sem nenhuma intervenção, o banco vai a fa-
comprar, por exemplo, uma casa, só vai rece- lência. Os bancos centrais tentam evitar es-
ber a 30 anos. O banco consegue transformar tas crises, emprestando dinheiro aos bancos
curto em longo pazo aproveitando-se de duas a curto prazo (“injectando liquidez”) na espe-
regularidades estatísticas. Primeiro, por cada rança que entretanto as pessoas se acalmem.
levantamento costuma haver um novo depó- Viremo-nos agora para a crise recente nos
sito. Mesmo que eu deposite 100 euros hoje e mercados financeiros. Nos últimos 20 anos,
os levante amanhã para pagar uns sapatos, o tornou-se comum reunir e vender carteiras
dono da sapataria vai depositar esses 100 eu- com muitas hipotecas, conferindo direito ao
ros amanhã no banco, para por sua vez pagar seu fluxo de pagamentos (MBS para ‘mort-
ao fornecedor que os volta a depositar, e por aí gage-backed securities’). Tornou-se também
adiante. Por isso, embora cada depósito indi- comum comprar várias MBS ou outros acti-
vidual seja a curto prazo, a sua sucessão per- vos como obrigações e créditos a empresas,
mite um financiamento regular. Segundo, só rearranjar os seus componentes em diferen-
uma percentagem pequena dos depósitos é tes pacotes e revendê-los como novos títu-
levantada cada dia, pelo que basta ao banco los (CDO ou ‘collateralized debt obligations’).
guardar em caixa essa percentagem para sa- O risco destes pacotes era avaliado por ‘ra-
tisfazer as suas obrigações. O restante pode ting agencies’ e transaccionados num merca-
ser emprestado. O risco é que estas regulari- do normalmente muito activo. Durante Julho,
dades falhem. Imagine que circula um rumor descobriu-se que algumas hipotecas de alto

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 41


ECONOMIA & NEGÓCIOS

risco estavam a dar prejuízo, pelo que as su- INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA BANCOS E BANCOS
as MBS caíram em valor. Algumas empresas Em poucas palavras, os bancos são responsá- A resposta depende muito da situação e con-
neste (pequeno) mercado faliram, mas havia veis pela intermediação financeira dentro do dição de cada banco. Por exemplo, os bancos
muitos mais investidores com CDO supor- mercado financeiro moderno. Isso significa que comerciais, que possuem forte actividade jun-
tados pelas MBS. Muitos, sobretudo ‘hedge são os bancos que captam recursos junto a uma to do sector retalhista têm como fonte prin-
funds’, investiam com dinheiro emprestado parte do mercado (poupadores) e repassam es- cipal de captação pessoas físicas e empresas,
dando CDO como garantia. Porque a garantia te dinheiro a quem necessita destes recursos sem precisar de recorrer a outros bancos para
desceu de valor, eles tentaram vender os CDO, (tomadores). Sempre que você deixa o seu di- obter recursos. Numa situação como a actual,
mas porque toda a gente os queria vender e nheiro na conta corrente ou investe num CDB eles acabam a sofrer menos, pois boa parte
quase ninguém os queria comprar, o merca- de banco, você está suprindo a instituição com da sua captação não é afectada. Mas, para os
do dos CDO praticamente fechou. Por sua vez, recursos. Após captar o seu dinheiro (e de todos bancos que não têm uma base de captação
dentro dos bancos existem fundos (SIV para os outros poupadores que são seus clientes), a junto ao retalho, como os chamados bancos
‘structured investment vehicles’) que ven- tarefa do banco é repassar estes recursos para de investimento, a situação pode ser muito
dem CDO a curto prazo e investem a longo os tomadores, que podem ser pessoas físicas, diferente. Essas instituições não têm uma
prazo. Quando o mercado de CDO fechou, cor- empresas, governos ou outros bancos, a uma base de captação de recursos diversificada,
reram para a casa-mãe para se refinanciarem. taxa de juro superior àquela na qual foi feita a dependendo de recursos de grandes clientes
Foi como se milhares de depositantes apare- captação. Portanto, de forma simplificada, fica ou mesmo de outros bancos, no que é cha-
cessem à porta, gerando a crise de liquidez e claro o papel central do sistema financeiro: fa- mado de mercado interbancário. Em situa-
a intervenção dos bancos centrais que saltou zer com que o dinheiro circule na economia. ções onde existe temor em relação à saúde
para as notícias. Os principais SIV com proble- de algumas instituições financeiras, os ban-
mas eram alemães, pelo que a intervenção do FLUXO INTERROMPIDO cos que têm recursos a seu dispor reduzem
BCE foi enorme, mas é nos EUA que estão A crise de liquidez ocorre quando este fluxo de ou interrompem o fluxo para bancos vistos
muitos dos investidores apoiados em CDO. circulação dos recursos na economia é interrom- como potenciais problemas. Foi exactamen-
O desafio para a Reserva Federal é por isso pido ou severamente reduzido. Num ambiente te o que aconteceu com o banco de investi-
enorme. Por um lado, a macroeconomia su- conturbado como o actual, muitos bancos mos- mentos norte-americano Lehman Brothers,
gere uma manutenção das taxas de juro. Por tram-se receosos em repassar os recursos, te- que foi à falência após ter as suas linhas de
outro lado, os mercados financeiros esperam mendo que o tomador não tenha condições crédito (boa parte das quais provenientes de
que as taxas caiam 0,5% para restabelecer a de repagar a dívida. Caso o tomador seja uma outras instituições financeiras) cortadas, de
calma e reactivar o mercado dos CDO. Manter pessoa física, isso significa que ele pode não forma que não teve mais condições de cum-
as taxas pode levar a falências em catadupa ter recursos para consumir ou pagar o seu en- prir com as suas obrigações. Portanto, em
e causar uma crise financeira; descê-las deve dividamento. Para as empresas, uma redução cenários como este a desconfiança acaba a
aquecer a economia e gerar inflação. do fluxo pode reduzir o seu capital de gestão, tornar-se um facto: se um banco é visto como
comprimir os seus investimentos ou criar pro- potencial problema, o crédito (principalmente
As empresas não conseguem blemas na hora de pagar outras dívidas já exis- de grandes clientes e outros bancos) é rapida-
lidar com a volatilidade da tentes. Mas o que acontece quando o tomador mente cortado ou reduzido e a questão foge
fluidez do dinheiro imposta é outro banco? do controlo.
pelas matérias-primas

TURBULÊNCIA DOS MERCADOS


O mercado internacional passa pelo maior
desafio das últimas décadas, com perspecti-
va de uma recessão prolongada em boa parte
do mundo, temor quanto à saúde das insti-
tuições financeiras e forte queda nas bolsas.
Neste contexto pouco animador, um dos prin-
cipais elementos é a crise de liquidez que as-
sola o mercado. Mas você sabe exactamente
o que isso significa? Antes de aprofundar es-
te conceito, é importante conhecer um pouco
melhor qual o papel das instituições financei-
ras, pois é na percepção da fragilidade destas
que reside boa parte do problema actual.

42 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


TAXAS INTERBANCÁRIAS mercado angolano para os “perigos” das es- gerir de forma eficiente os riscos subjacentes
E A CRISE DE LIQUIDEZ tratégias exclusivamente orientadas para o a um processo de transformação acelerado”.
E como saber se existe uma crise de liquidez? crescimento. “A crise que se vive actualmente No texto, a consultoria define como “crucial
Simples! Basta analisar as taxas de juros co- nos mercados financeiros internacionais de- a convergência de esforços entre as entida-
bradas no mercado interbancário, ou seja, nas verá servir de alerta para as instituições que des governamentais, órgãos de regulação e os
transacções entre bancos. Actualmente as actuam no mercado angolano relativamente próprios agentes que operam no mercado, no
taxas encontram-se em patamares historica- aos perigos que se escondem por detrás de sentido de dotar o país das infra-estruturas e
mente elevados, evidenciando que os recur- estratégias exclusivamente orientadas para o dos instrumentos indispensáveis à moderni-
sos disponíveis para instituições financeiras, crescimento”, frisa a KPMG, no relatório “De- zação do sector financeiro”. Contudo, o docu-
estejam elas com problemas ou não, são es- safios da gestão de risco em Angola”. A con- mento frisa que “a ausência de instrumentos
cassos. Esta crise de liquidez, que pode ser sultoria reconhece que “a conjuntura de paz modernos de mitigação de risco de crédito,
traduzida como falta de recursos disponíveis e estabilidade social e política que se vive em de mercado, operacional e de liquidez, pode-
no sistema, explica muito do que tem ocorri- Angola vem criar as condições necessárias pa- rá constituir um sério obstáculo ao crescimen-
do no mercado actualmente. A crise de liqui- ra a continuação ou mesmo aceleração do es- to da área”. “Os problemas relacionados com
dez também contribui para a queda da bolsa forço de reconstrução e modernização do país, o registo de propriedade e a protecção jurídi-
de valores, na medida em que diminui a quan- não sendo difícil perspectivar o crescimento ca dos direitos dos credores têm contribuído
tidade de recursos disponíveis para comprar da economia como um processo irreversível”. para limitar a utilização de garantias como
acções e também acaba reduzindo as opções “A rapidez e a magnitude das transformações instrumento essencial de mitigação do risco”,
daqueles que necessitam de recursos, mas que estão a acontecer no país irão traduzir- acrescenta. A consultoria exalta a anunciada
têm açcões em carteira. Esta é a situação, se no aumento das necessidades da socie- abertura, em curto prazo, do mercado angola-
por exemplo, de investidores como os hedge dade e do tecido empresarial angolano e na no de capitais, mas afirma que a dualidade de
funds, que tomam dinheiro emprestado para elevação do seu nível de exigência e sofisti- moeda que caracteriza o sistema financeiro
investir. Com o crédito mais caro ou mesmo cação, tornando imprescindível a existência angolano “expõe as instituições financeiras às
interrompido, a única opção disponível é gerar de um sector financeiro competitivo e prepa- flutuações do dólar norte-americano, impli-
caixa através da venda de activos, no caso as rado para responder às solicitações cada vez cando a necessidade de adopção de mecanis-
acções em seu poder. Portanto, mesmo com mais complexas dos seus clientes”, aponta mos eficazes de gestão de risco cambial”. Por
preços baixos não resta outra opção. o relatório. A KPMG considera que o merca- fim, o estudo diz que “as deficiências ao nível
do financeiro angolano enfrenta dois grandes das infra-estruturas continua expondo as ins-
ANGOLA A RAIO-X desafios: “potencializar o seu crescimento, ti- tituições a quebras de serviço originadas por
A auditora e consultora KPMG Angola alertou, rando partido das oportunidades oferecidas falhas no fornecimento de energia, problemas
recentemente, as instituições que operam no pelo dinamismo da economia”, e “conseguir no sistema de informática e de comunicação,
ou falta de água”.

A ausência de instrumentos modernos de mitigação de risco


de crédito, de mercado, operacional e de liquidez, poderá cons-
tituir um sério obstáculo ao crescimento da área financeira

Hoje em dia, mais do que


nunca, as estratégias falham
na altura da execução e não
por causa da falta de visão

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 43


ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS | manuela bártolo

comunicar com êxito


PESSOAS REAIS do conhecimento do que da habilidade de se Comunicar é uma actividade
Uma velha e sábia frase diz que o homem não comunicar e é aí que vejo a grande vantagem que todos nós fazemos, todos
é uma ilha. Metaforicamente, defende a ideia da escrita: expõe, de forma crua, as reais ca- os dias, mas que ainda assim,
de que ninguém vive isolado. No mundo con- pacidades intelectuais de cada um. Evidente merece especial atenção.
temporâneo, ir contra essa realidade é quase que não se pode determinar o potencial das
O que é, em regra, simples,
uma missão impossível: mais de seis biliões pessoas simplesmente com base na sua ca-
pode vir a ser uma arte - a
de pessoas povoam a Terra e as formas de se pacidade de escrita, mas que este é um bom
comunicar são incontáveis. A básica, e acre- ponto de partida para tal isso é. Fora as van-
arte de se comunicar. E a
dito que a mais utilizada, é a fala. Aliás, esta tagens já mencionadas, na escrita tem-se to- Nokia sabe-o bem
deve ser também a mais antiga. Se os docu- da a calma do mundo para pensar, repensar,
mentários da BBC estiverem correctos, desde retificar erros, enfim, fazer uma análise crítica MENTES SEM FRONTEIRAS
os primórdios que os nossos antepassados se e rígida sobre o que se deseja transmitir aos Como vimos, a comunicação está intimamen-
comunicavam através de grunhidos, que em demais. As possibilidades de erros e gafes ca- te associada ao ser humano, seja ela no modo
todo caso são sons que provêm da boca, logo, em drasticamente (embora ainda existam). visual, verbal ou corporal. Entretanto, exis-
se não forem, podem ser equiparados à fala. Comunicar é, por isso, uma actividade que to- te uma forma de linguagem que está em as-
Falar é bom, porém exige um certo treino, isto dos nós fazemos, todos os dias, mas que ain- censão nos dias actuais – a publicidade que
porque actualmente o exercício deste acto se da assim, merece atenção especial. O que é, permite a propagação de princípios, ideias, co-
desmembra em vários meios de comunicação, em regra, simples, pode vir a ser uma arte - a nhecimentos ou teorias; ela é a arte e técnica
como o telefone, por exemplo. Este aparelho arte de se comunicar. Quem não fica fascinado de planear, conceber, criar, executar e veicular
tem favorecido ao longo das últimas déca- com um palestrante que consegue envolver a mensagens geralmente de caráter informati-
das a comunicação, permitindo ter a reacção plateia e passar, de maneira leve e quase su- vo e persuasivo, por parte da marca identifi-
do interlocutor em tempo real, facto que len- bliminar, a sua mensagem? Ou então, quem cada. Compreendo que esse género não tem
tamente produziu uma transformação no não fica espantado com uma declaração, vin- apenas como objectivo a venda dos seus pro-
mundo. A escrita é também uma forma de co- da de quem menos se espera, e de maneira dutos, visa também a venda de comporta-
municação por excelência. Nela a comunicação tão bem arranjada que chega a ser desconcer- mentos, de qualidade de vida que, na maioria
flui plenamente e aspectos subjectivos, como tante? São inúmeras as possibilidades, e elas das vezes, fica implícita, mas que tem valor
a voz desagradável ou os problemas de dic- só existem, felizmente, porque o homem não igual ou superior à estratégia de venda dos
ção, se esvaem. Paralelamente, exige-se mais é uma ilha. produtos. Com as práticas de persuasão po-

44 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


Jorma Ollila

tencializadas nos últimos anos, a publicidade de oferecer aos seus utilizadores uma tecno- DADOS CORPORATIVOS
alcançou um nível elevado de refinação na so- logia humana, isto é uma tecnologia intuiti- • Origem: Finlândia
ciedade de massas do século XX e tornou-se va, com uma forma de utilização agradável • Fundação: 1865
uma arma poderosa. Hoje ela protagoniza a e uma qualidade estética elevada. A mesma • Fundador: Fredrik Idestam
mobilização de forças físicas, intelectuais ou defende a ideia de que vivemos numa era em • Sede mundial: Espoo, Finlândia
morais, para vencer uma resistência ou difi- que a conectividade se está a tornar realmen- • Proprietário da marca: Nokia Corporation
culdade, para atingir algum fim, orientando te ubíqua. A indústria das comunicações está • Capital aberto: Sim (1915)
convicções, atitudes ou acções de um gran- em constante mudança e a internet está no • Chairman: Jorma Ollila
de número de pessoas para certo objectivo, centro desta transformação. Razão pela qual, • CEO & Presidente: Olli-Pekka Kallasvuo
criando no público uma imagem positiva ou actualmente, este é o grande desafio para a • Facturação: €50.7 biliões (2008)
negativa de certo fenómeno (ideia, facto, mo- Nokia. • Lucro: €3.98 biliões (2008)
vimento ou pessoa), induzindo dessa forma a • Valor de mercado: €30.7 biliões (Fevereiro/2009)
um comportamento desejado. A Nokia perce- O carácter decisivo do sector • Valor da marca: US$ 35.94 biliões (2008)
beu estes pressupostos desde cedo, motivo • Lojas-Conceito: 10
torna, ainda mais relevante
pelo qual a sua publicidade exerce sempre um • Clientes: 1 bilião
e preocupante uma questão:
carácter influenciador no quotidiano do seu • Vendas: 430 milhões telemóveis/ano
a da acessibilidade, ou seja, a • Presença global: 185 países
público. Sendo ela uma empresa na área das
telecomunicações, utiliza de forma primorosa
questão da “fractura digital”. • Funcionários: 128.000
as palavras, as imagens e os sons como es- Algo a que a empresa está • Segmento: Telecomunicações
tratégias de persuasão. Com o esforço siste- atenta ao democratizar, cada • Principais produtos: Telemóveis, sistemas de co-
mático de irradiar ideias e comportamentos, vez mais, os seus serviços municação, computadores
a publicidade da marca revela que a evolução • Outros negócios: Vertu (marca de telemóveis de
tecnológica está a um nível bastante avança- ÍCONE GLOBAL luxo), Navteq
do, impondo um pensamento sem fronteiras, A Nokia é um verdadeiro ícone global. Os nú- • Principal slogan: Connecting People
em que são transpostos os limites e as barrei- meros deste gigante mundial assustam: a ca-
ras à nossa forma de…comunicar. Os resulta- da três meses vende mais de 100 milhões de Fortune. Nada menos que um bilião de pesso-
dos positivos da marca têm sido construídos a telemóveis em todo o mundo (mais do que a as em todo o mundo têm hoje um telemóvel
partir de uma matéria-prima básica, que ha- Motorola, Samsung e Sony-Ericsson juntas), da Nokia. Isso é mais do que qualquer fabri-
bita em noções rudimentares conscientes e ao ritmo de 13 unidades por segundo; tem cante de bens de consumo, de qualquer sec-
inconscientes presentes na totalidade da po- participação de mercado de 38,7% nas ven- tor e em qualquer época jamais conseguiu até
pulação – a de que ninguém vive sem comu- das globais e lança mais de 50 novos modelos hoje. A sua liderança é incontestável e pode
nicar. Todas as pessoas têm necessidade de de telemóveis por ano. Além disso, a marca ser traduzida pelo slogan da empresa: Con-
partilhar. A Nokia tem como estratégia prin- apareceu em quinto lugar na lista das marcas necting People. Com sede localizada em Es-
cipal ajudar as pessoas a darem resposta a globais mais valiosas de 2007, (divulgada pela poo, região metropolitana de Helsínquia, é a
essa necessidade, fazendo com que estas se revista BusinessWeek), sendo também a 20ª maior fabricante mundial de telemóveis, es-
sintam mais perto de tudo o que para elas é empresa mais admirada do mundo, segundo tando actualmente presente em 185 países a
importante. A empresa centra-se no objectivo a lista deste ano da revista norte-americana nível mundial. A empresa conta com mais de

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 45


ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS

só para gurus!
A empresa lançou recentemente um pro-
grama para reconhecer e afiliar os usu-
ários que conhecem melhor a marca. O
Nokia Guru reunirá consumidores que
possuem conhecimento sobre as soluções
da empresa. O objectivo de cada guru será
actuar como frente de relacionamento da
marca nas plataformas de comunicações O QUE É O NOKIA TRENDS?
social global (Orkut, fóruns, e-groups, É uma plataforma de marketing baseada em arte multimédia e música avançada para estimu-
Yahoo respostas, Twitter, blog pessoal, lar as novas formas de consumo de informação a partir de meios eletrónicos, não só tradicio-
nais, mas sobretudo os móveis. A plataforma é permeada por eventos para trazer ao público
etc). Esta troca de experiências com ou-
em geral o que é tendência, equilibrando o novo e o consagrado. Desde que foi criado no Brasil,
tros consumidores será recompensada. em 2004, o Nokia Trends já atraiu quase 270 mil pessoas em eventos realizados em São Paulo
Após ter a solicitação aprovada, o guru re- e no Rio de Janeiro, com apresentações de bandas e Dj’s, como Fatboy Slim, LCD Soundsystem
ceberá um selo que será usado no seu blog e Laurent Garnier, Chemical Brothers, Human League e Asian Dub Foundation. A plataforma
pessoal, site, comunidade ou fórum para foi exportada para Argentina e mais recentemente para o México
servir de identidade. A cada solução apon- Os números deste gigante
tada, dúvida resolvida ou suporte dado assustam: a cada três meses A visão da Nokia é a de
são contabilizados 100 pontos. Todos os vende mais de 100 milhões de um mundo em que todos
meses, os três primeiros vencedores são telemóveis em todo o mundo. possam estar ligados entre si
premiados com aparelhos e acessórios Desde a sua criação até hoje, (Connecting People)
Nokia. Desta forma, a gigante finlandesa a empresa foi responsável
tenta criar uma comunidade de contactos pelo fabrico de um terço O GÉNIO POR DETRÁS DA MARCA
ainda maior em torno dos seus produtos, dos telemóveis existentes Desde que assumiu a liderança da empresa, o
estimulando os usuários a ajudarem-se no mundo. Em cada seis novo presidente mundial da Nokia, Olli-Pekka
uns aos outros e a produzirem conteúdos
habitantes do planeta, um Kallasvuo, conhecido simplesmente por OPK,
possui um telemóvel Nokia vive sob a sombra de Jorma Ollila, uma figu-
espontâneos sobre a marca
ra histórica na NOKIA. Como CEO, de 1990 a
CENTRO DE INVESTIGAÇÃO 2006, comandou a transição da empresa do
Um dos principais motivos do enorme sucesso seu pior momento para a sua época de gló-
128 mil funcionários, sendo que 1/3 dos mes- da Nokia pode ser creditado no seu moderno ria. Sucedeu a Kari Kairamo, responsável pela
mos trabalha em exclusivo na área da investi- Centro de Pesquisa e Design e no investimento trágica gestão da empresa nos anos 80. Uma
gação e desenvolvimento. Esta é, aliás, uma anual de US$ 7.7 biliões nessa área. Localizado época de expansão indiscriminada para novos
aposta forte da empresa, que possui nove la- na cidade de Espoo, região metropolitana de campos, principalmente por meio de aquisi-
boratórios de pesquisa espalhados em seis Helsínquia, abriga uma equipa composta por ções. O resultado da dispersão de receitas foi
países. As 11 fábricas da marca estão sedea- mais de 200 designers (quantos exactamente a maior crise da história da empresa, que cul-
das em nove países diferentes (Brasil, China, é segredo), oriundos de mais de 45 nacionali- minou com o suicídio de Kairamo, em 1988,
Finlândia, Alemanha, Hungria, México, Coreia, dades. Diariamente, os designers usam blogs e com a venda das unidades de televisores e
Roménia, Reino Unido e Índia), sendo que o para comunicarem com usuários e “futuris- computadores pessoais. Coube a Jorma Olli-
grupo é formado por duas unidades de negó- tas” são empregados para traçar cenários. In- la, corajosamente, estreitar o foco em tele-
cio - Nokia Networks (Nokia Redes) e Nokia vestiga-se, no momento, a comunicação por comunicações, uma área então deficitária na
Mobile Phones (Telemóveis), detendo tam- hologramas e a confecção de telefones com empresa. Essa decisão temerária deu origem
bém uma organização separada denominada materiais biodegradáveis. Eventuais cho- à Nokia que hoje se conhece. O seu sucesso
Nokia Ventures Organization e o Nokia Rese- ques culturais com a ala formal da empre- naturalmente chamou a atenção do mundo
arch Center (Centro de Investigação). A em- sa são amortecidos pelos valores defendidos corporativo e o seu “passe” acabou parcial-
presa ainda possui uma unidade de luxo que pela Nokia. Todos os funcionários são iguais. mente comprado, no ano passado, pela Shell.
fabrica telemóveis com a marca VERTU. A O vice-presidente e o estagiário fazem as re- Desde então, acumula os cargos de presiden-
Nokia tem 350 mil pontos de venda em todo feições na mesma cantina. Usar piercing ou te dos conselhos de administração das duas
o mundo, entre as lojas das operadoras, redes sandálias havaianas, tudo bem. Cada um tem empresas.
de retalho tradicionais e as suas próprias lo- liberdade para ser como realmente é. A Nokia
jas. Desde a sua criação até hoje, a empresa tem hoje dois centros de design global: o da A revolução digital tem um
foi responsável pelo fabrico de um terço dos matriz e um outro, localizado em Londres. Há potencial para acelerar o
telemóveis existentes no mundo. Em cada também estúdios nos principais mercados da acesso daqueles que têm
seis habitantes do planeta, um possui um te- empresa no mundo e “oásis de desenho” em tradicionalmente sido
lemóveil Nokia. lugares que os designers considerem inspira- excluídos do saber, da
dores, como o Rio de Janeiro. informação e dos mercados.
46 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS
ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS

Os três “C” da inclusão: sector. A mais recente aquisição foi a da ame- dos países para que o usuário pudesse “de-
Conectabilidade - quem não se ricana Avvenu, especializada em partilha de gustar” toda a linha de produtos e acessórios,
pode conectar está excluído da arquivos. Como uma espécie de cereja nesse tirar dúvidas sobre o seu funcionamento e,
Sociedade de Informação; bolo de parcerias, a Nokia assinou um acordo claro, comprá-los. A estratégia era gerar uma
com a Microsoft para que versões de serviços experiência de mobilidade com os produtos e
Capacidade – é preciso poder
como Hotmail e Messenger sejam carregados serviços da Nokia. A primeira delas foi aber-
compreender a informação;
nos aparelhos da sua Série 60 de telemóveis ta em Moscovo e hoje já existem outras lojas-
Conteúdos – a maioria dos con- inteligentes. Também anunciou uma parce- conceito da marca em Londres, Helsínquia,
teúdos são escritos em inglês ria com a Universal Music, que permitirá aos Nova Iorque, Cidade do México e Shangai.
clientes da empresa o downdload gratuito e Neste tipo de loja, o consumidor tem acesso
EMPRESA DO FUTURO ilimitado de músicas pelo período de um ano. a demonstrações de experiência móvel, en-
A mudança da Nokia em direcção à web coin- Ao todo a Nokia já gastou mais de US$ 10 bi- globando música, navegação, vídeo, imagens,
cide rigorosamente com a ascensão de OPK à liões em aquisições de empresas de tecnolo- Internet e jogos. Cada aparelho em demons-
presidência da empresa, em Junho de 2006. O gia e Internet. Porém a mais nova aposta da tração está conectado à Internet por uma rede
mesmo deu início a uma frenética temporada empresa atende pelo nome de Ovi (porta em WiFi e equipado com acessórios, como caixas
de aquisições de empresas de internet. Já em finlandês). Trata-se de um portal onde fica- de som, fones de ouvido, telas de LCD, im-
Agosto, investiu US$ 60 milhões na compra rão hospedados uma infinidade de produtos pressoras fotográficas e laptops. Uma área da
da distribuidora de música on-line Loudeye. como álbum de fotos, música, biblioteca de loja é dedicada a palestras, cursos, eventos e
Na sequência, adquiriu a Gate5, uma peque- livros, etc, capazes de se comunicar com o te- capacitação personalizados.
na empresa alemã de software de navegação lemóvel, o laptop e o computador pessoal do
com GPS. O ataque foi retomado no ano se- usuário. Basta arrastar os ícones com o mou- O VALOR
se. O acesso é totalmente gratuito, usando Segundo a consultora britânica InterBrand,
guinte, em Julho, com a compra do Twango,
somente a marca Nokia está avaliada em
um pequeno site de partilha de fotos e víde- uma única senha.
US$ 35.94 biliões, ocupando a posição de
os. Criado em 2004 por cinco ex-executivos da número 5 no ranking das marcas mais valio-
Microsoft, o portal tinha somente dez funcio- LOJAS-CONCEITO sas do mundo. Além disso, a Nokia é a 88ª
nários, mas, apesar de pequeno, era possivel- A empresa decidiu, em 2005, abrir algumas maior empresa do mundo de acordo com a
mente o único realmente multimédia do seu das chamadas Lojas-Conceito em determina- Fortune 500 de 2008

48 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


curiosidade tas, pneus, botas de borracha, computadores,
De onde vem o nome Nokia? Na verdade esse cabos, televisores e dezenas de outros itens.
é o nome de um pequeno mamífero que habi- Os primeiros passos para uma grande mudan-
ta a região na qual estão localizados o rio e a ça nos rumos da empresa tiveram início na
cidade onde está a sede principal da empresa década de 60, com o nascimento do departa-
mento de electrónica da Nokia que tinha como
principal objectivo pesquisar rádiotransmissão.
A tecnologia da empresa para comunicação via
rádio foi aproveitada, a partir da década de 80,
para o desenvolvimento de telefones sem fio.
O pioneiro foi o Mobira Senator, lançado em
1982, como equipamento para automóveis,
que pesava 9,8 quilos. Cinco anos depois, saiu
o Mobira Cityman 900, para muitos, o primeiro
telefone realmente portátil: pesava 800 gra-
mas e custava o equivalente a US$ 6.150 nos
quem inventou o telefone? dias de hoje. Nas décadas seguintes, os produ-
Alexander Graham Bell (1847-1922), físico tos de infra-estrutura dos telefones móveis e
escocês, realizou a primeira experiência com de telecomunicações chegaram aos mercados
o telefone em 1876 na Filadélfia, Estados Uni- internacionais, e nos anos 90, a Nokia já era
dos. Nesse mesmo ano por intermédio do seu uma das líderes mundiais em tecnologia de
advogado, solicitou a patente do invento que comunicação digital (em 1998 vendeu cerca de
chamou de “telefone eléctrico falante”. Após 40 milhões de telefones celulares, tornando-
patentear o invento, Bell apresentou-o nu- se a empresa número 1 no mundo nessa cate-
ma exposição na Filadélfia. O invento gerou goria, ultrapassando a Motorola). Observando
muita curiosidade e interesse e fez com que A HISTÓRIA o mercado agora, é fácil esquecer que a Nokia
Graham Bell fosse premiado. Antes dele, ou- A história da Nokia começou em 1865, quan- nem sempre foi dominante. Em meados dos
tros inventores tentaram transmitir a voz hu- do o engenheiro de mineração Fredrik Ides- anos 90, a Motorola dava as cartas no merca-
mana via electricidade, porém sem sucesso. tam fundou uma fábrica de celulose na cidade do, desfrutando o enorme sucesso do telemó-
No telefone primitivo, havia uma manivela de Tampere, no sudoeste da Finlândia, logo vel StarTac. Silenciosamente, porém, a Nokia
que ao ser girada produzia a corrente necessá- transferida para o município vizinho de Nokia e iniciava a sua ofensiva, adicionando elementos
ria para a sinalização na central. A invenção baptizada Nokia Wood Mills, localizada às mar- inovadores de design aos telefones, na forma
de Graham Bell evoluiu tanto que hoje po- gens do rio com o mesmo nome. A partir daí, de capas substituíveis e diferentes ringtones
demos comunicar com pessoas em qualquer a empresa teve um crescimento meteórico, e (toques). Mais importante, começou a operar à
lugar do mundo, estando as mesmas num pouco depois da I Guerra Mundial, a empresa escala global, lançando mais modelos num nú-
lugar fixo ou em deslocação (via telemóvel). fundiu-se com a Finnish Cable Works, fabri- mero cada vez maior de países. Os finlandeses
Razão pela qual, o telefone ajuda a aproximar cante local de telefones e cabos telegráficos, apostaram cedo no desenvolvimento de pla-
pessoas e minimizar distâncias. Ideia a que a fundada em 1898. Era o embrião do que, em taformas básicas para celulares, a partir das
Nokia se associou através do seu célebre slo- 1967, se transformaria na Nokia Corporation, quais é possível produzir variações de produtos
gan “Connecting People” um conglomerado produtor de papel, bicicle- com grande economia de escala. Actualmente
a NOKIA, além de ser um gigante, está a mu-
dar a forma como as pessoas se comunicam.
As suas próximas apostas foram apresenta-
sabia que… das, no final de 2007, aos mercados, a come-
A Nokia é a maior empresa da Finlândia, responsável por um terço çar pelo europeu: a loja virtual de música Nokia
do valor de mercado da Bolsa de Valores de Helsínquia, correspon- Music Store, os novos jogos para telemóvel da
dente a cerca de 3.5% do PIB e quase um quarto das exportações do série N-Gage e a linha de aparelhos que nave-
país. No ano passado, pela primeira vez na história, a facturação da gam na Internet criados para concorrer com o
empresa superou o orçamento nacional do país iPhone da Apple. E ainda provoca a poderosa
empresa americana: “Quando eles lançaram o
iPhone, conseguiram uma publicidade sensa-
cional, tudo para vender 270 mil aparelhos em
dois dias”, diz o inglês Mark Selby, vice-presi-
dente mundial de vendas da empresa. “Isso é
mais ou menos o número de telemóveis que
vendemos em seis horas”. Há poucas compa-
nhias com a marca, o alcance e a tecnologia
necessários para liderar a convergência digital.
A Nokia é uma delas.

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 49


SOCIEDADE | patrícia alves tavares

Ninguém dispensa o uso do telemóvel e pou-


cos imaginam a sua vida sem ele. Em 2006,
apenas em Luanda, 25 por cento dos seus
habitantes, com mais de 15 anos já possuía
telemóvel e 80 por cento manifestava inte-
resse em adquiri-lo, a curto prazo. Esse dese-
jo concretizou-se e, em três anos, o número
de vendas aumentou 600 por cento, ou seja,
em cada cem habitantes, 44 utilizam o tele-
móvel e um em cada cem possui telefone fi-
xo. As estatísticas revelam que até Dezembro
de 2009, estes números deverão crescer.
A Unitel, unidade internacional da Portugal
Telecom, é a maior operadora nacional, com
cinco milhões de utilizadores. Os restantes
2,5 milhões de usuários são clientes da Mo-
vicel. De acordo com as declarações do direc-
tor do Instituto Nacional das Comunicações
(Inacom), Domingos Pedro António, actual-
mente existem 7,5 milhões de angolanos que
não dispensam o telemóvel. O crescimento
foi tão extraordinário que apenas em 2005,
o número de habitantes rendidos ao pequeno
aparelho eram pouco mais que um milhão. No
âmbito das comunicações fixas também se
regista um acréscimo significativo. Em 2005,
os clientes do telefone fixo eram cerca de 94
mil. Hoje, a “Angola Telecom”, empresa esta-

A febre
tal que controla a rede básica de telecomu-
nicações nacionais, atende mais de cem mil
clientes. Em 16 milhões de habitantes, 200
mil possuem rede fixa. O presidente da Ina-

do telefone com classifica como positiva a evolução dos


serviços de comunicações no país, pois veri-
fica-se uma “crescente tendência de adesão
dos cidadãos”.

portátil UNITEL É LÍDER


Participada pela Sonangol e Portugal Tele-
com, a Unitel é a principal operadora móvel,
detentora do maior número de clientes. Fun-
dada em 1998, começou a operar no merca-
do em 2001. No último ano, a empresa deu
O telemóvel entrou no mercado nacional no início desta
inicio a uma acção de rejuvenescimento dos
década e a adesão foi tão intensa, que este pequeno
seus quadros, de forma a garantir o seu de-
aparelho, que permite contactar com os outros em senvolvimento sustentado. O recrutamento
qualquer ponto do país ou do mundo, já faz parte do dia- de jovens estudantes e licenciados tem sido
a-dia dos angolanos. Com 7,5 milhões de utilizadores, uma das medidas, permitindo alcançar os 70
Angola é um dos países africanos com maior potencial de por cento de colaboradores com menos de 30
crescimento na procura das comunicações móveis. anos. O ritmo de crescimento da operadora 92
tem sido constante e consolidado, pelo que
em 2007 possuía três milhões de clientes, su-
bindo para quatro milhões em 2008 e cinco
milhões até ao início do primeiro semestre

50 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
rcas mais
Top das ma adas
comercializ
1. Nokia
2. Motorolla
3. LG
deste ano. O volume de negócios da entida- ca a analista Sílvia Venter. A consultora refere
4. Samsung
de é proporcional ao crescimento de clien- igualmente que Moçambique deverá sofrer o
5. Alcatel
tes, o que levou a operadora a anunciar que mesmo impacto tecnológico, encontrando-se
6. Siemens
o seu novo plano de investimento, que ron- n a par de Angola, em termos de explosão ao ní-
7. Sony Ericso
da os dois biliões de dólares, será repartido vel de construção de infra-estruturas, desde
8. ZTE
entre a criação de novas infra-estruturas e de as estradas até às telecomunicações. A em-
9. Huawei
novos serviços, bem como na formação e re- presa Frost & Sullivan prevê que o volume de
10. HTC
crutamento. Para os próximos tempos, está vendas nacional poderá ascender dos 1,26 mil
em curso um plano para cobrir os 168 municí- milhões de dólares (em 2008) aos 5,7 mil mi-
pios do país, de forma faseada. Aliás, a maior lhões de dólares, em 2015. “Este mercado vai
operadora angolana vai investir 1,2 milhões ter significativos níveis de crescimento nos
de euros nos próximos quatro anos para me- próximos sete anos, bem como melhorias das
lhorar as infra-estruturas e expandir a sua tar o novo conceito de acesso à Internet, atra- infra-estruturas, que vão colocar o país como
rede, que deverá cobrir todo o território até vés da Banda Larga, o Movinet. A operadora 91 um dos mais desenvolvidos de África”, corro-
2012. A pensar no CAN, a Unitel volta a estar tem-se evidenciado ao nível dos preços, uma bora a analista.
na vanguarda e lança o serviço de televisão vez que foi a pioneira a comercializar telemó-
no telemóvel, dispondo três canais nacionais, veis a custos abaixo de valores equivalentes a A concorrência também deverá
que aderiram ao projecto: a TPA 1 e 2 e a TV cem dólares americanos. A Movicel assumiu- aumentar, com a provável
Zimbo. Os clientes da operadora 92, que pos- se no mercado através das campanhas Kila- atribuição de uma terceira
suem aparelhos 3G, podem ver televisão em pi e Gingongo, do serviço ‘Liga-me’ e o ‘Saldo licença móvel, em 2010
tempo-real, tendo a possibilidade de assistir Móvel’. Recentemente, a operadora esteve
aos jogos do CAN em qualquer ponto do país presente na Filda/ 2009, onde anunciou os
e a partir do telefone móvel. “Isto constitui novos produtos, de modo a proporcionar no-
um facto inédito no mundo das telecomuni- vas opções de comunicações aos usuários.
cações em Angola”, salientou o director de Recorde-se que a instituição foi comprada em
investimentos internacionais da Unitel, Hen- 2008 pela ZTE, que é o segundo maior fabri-
riques da Silva. Durante a última edição da cante de equipamentos de telecomunicações
Filda, a operadora apresentou ainda o portal móveis na China. A pensar já na próxima déca-
Wap, que dá a possibilidade de fazer down- da, a empresa lançou o “Cartão Taco 50 UTT”,
loads de música e imagens, dando a opor- o “Plano Movinet no Telemóvel”, a “Movinet
tunidade a “outras empresas que produzem Zone”, o “Roaming Movicel no Mundo” e os
conteúdos de participarem no projecto”. pacotes de “Mensagens Escritas”. O evento
serviu ainda para demonstrar os telemóveis
A pensar no CAN, a Unitel de terceira geração, que estarão brevemente números
lança o serviço de televisão no no mercado. Este ano, a facturação global de
› 7,5 milhões de utilizadores de telemóvel
telemóvel, dispondo de três todos serviços da Movicel é de mais de 300
› 5 milhões de clientes são da Unitel
canais nacionais: a TPA 1 e 2 milhões de dólares americanos.
› 2,5 milhões de clientes são da Movicel
e a TV Zimbo › 200 mil usuários da rede de telefone fixo
A Movicel assumiu-se no mer- › 5,7 mil milhões de dólares em vendas
MOVICEL APOSTA NA INOVAÇÃO cado através das campanhas de telemóveis, em 2015
Distinguiu-se ao tornar-se na primeira opera- Kilapi e Gingongo, do serviço › 600 por cento foi o aumento registado
‘Liga-me’ e o ‘Saldo Móvel’ nas vendas (2006-09)
dora africana a instalar nos seus produtos o
sistema CDMA (Acesso Múltiplo por Divisão FONTE: INACOM, UNITEL E MOVICEL
de Código) com tecnologia de Terceira Gera- ‘BOOM’ A PARTIR DE 2010
ção (3G). A operar no mercado nacional des- O mercado das comunicações móveis sofrerá
de 2002, a Movicel lançou em 2007 o 3G, que um impulso já no próximo ano. O valor do mer-
permitiu aos clientes transmitir dados a alta cado deverá quadruplicar até 2015. Quem é o
velocidade, à semelhança do que ocorre no es- diz é um estudo da consultora Frost & Sullivan,
trangeiro. A nova tecnologia permitiu ainda que adianta ainda que não é só o consumo que
atender um maior número de utilizadores na vai crescer. A concorrência também deverá au-
mesma faixa de frequência, oferecendo trans- mentar, com a provável atribuição de uma ter-
missão de voz e dados à velocidade de banda ceira licença móvel, em 2010. “Este facto vai
larga. No mesmo ano, a empresa lançou-se no aumentar o nível de concorrência entre os ope-
mercado das telecomunicações, ao apresen- radores e os revendedores de serviços”, desta-

SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 51
SOCIEDADE

governo aposta na tecnologia COMBATER A FRAUDE mente na área das telecomunicações. Este ano
O plano de acção governamental para Apesar das seis operadoras de rede fixa (An- a Angola Telecom adjudicou à empresa chinesa
este ano dá especial enfoque à área das gola Telecom, O Mundo Startel, a MSTelecom, ZTE o projecto de expansão e modernização da
novas tecnologias, tendo como princi- a Nexus e a Wezacom), esta tem baixa ade- rede de telecomunicações da zona leste. O in-
pais objectivos ampliar o acesso da popu- são, sobretudo quando comparada com a mó- vestimento estatal de 102 milhões de dólares
lação aos serviços de telecomunicações vel que tem tido um crescimento acelerado. abrange as províncias de Malanje, Zaire, Bié,
de qualidade e modernizar a rede básica Esta última gera maior preocupação, devido Moxico, Cuando, Cubango e Lundas Norte e Sul.
em todas as regiões. Para tal, o ministé- às constantes denúncias de fraude no sector. A data de conclusão está marcada para 2010.
rio das Telecomunicações tem como me- Assim, a empresa de telecomunicações e mul- O plano abarca a instalação de novas redes de
tas a implementação de 2,64 milhões de timédia Angola Telecom está empenhada em acesso de cobre e sem fios (3276 quilómetros
terminais da rede fixa e seis milhões de liderar o combate à fraude, para tentar evitar de fibra óptica e seis mil linhas telefónicas),
terminais da rede móvel. Por outro lado, as incalculáveis perdas financeiras a que tem permitindo a instalação de 1392 linhas VSAT,
pretende alcançar 370 mil subscritores assistido, por causa dos ‘piratas’ não identifi- 761 de Internet em banda larga (ADSL) e de 13
de Internet e conquistar uma taxa de te- cados que se apoderam das infra-estruturas e mil linhas fixas sem fio (CDMA).
ledensidade fixa de seis por cento e mó- redes, com o intuito de prestarem serviços por
vel de 42 por cento conta própria. A companhia está a criar meca- Angola será dotada de rede
nismos tecnológicos, que lhe permitam detec- de fibra óptica, que deverá
tar fraudes na rede. A outra medida prende-se estar operacional em todas
com a criação de uma associação nacional de as capitais do país dentro
luta contra o fenómeno, que coloca a rentabi- de três anos
lidade do sector em risco. Por outro lado, está
a ser estudada a implementação de um gru- SATÉLITE EM 2012
po regional de combate anti-fraude para con- Angola será dotada de rede de fibra óptica, que
trolar e desmantelar os grupos prevaricadores deverá estar operacional em todas as capitais
e para que se proceda à troca de informação do país dentro de três anos. Empenhado em
entre os respectivos membros. Uma nova le- não perder o comboio do progresso tecnológi-
gislação é outra das soluções propostas pela co, o ministro da Telecomunicações e Tecno-
entidade, apelando a que se altere a actual lei logia de Informação, José da Rocha, anunciou
que não regula os crimes contra as telecomu- que o Governo está a unir esforços no senti-
nicações. O administrador da Angola Telecom do de interligar o país através da nova rede. A
afirma que a maioria dos usurpadores da re- fibra óptica consiste num meio de transmis-
de, que beneficiam dos serviços sem pagar e são, que utiliza o sinal através de uma rede de
vendem chamadas, é proveniente do Senegal, telecomunicações de alta tecnologia de nova
Mali, Índia, Portugal e RD Congo, que actuam geração. Para o mesmo ano, está prevista a
na província de Luanda. construção do primeiro satélite do país. O pro-
jecto conta com a participação da Unitel, que
APOSTA NAS TECNOLOGIAS pretende depender cada vez menos desta in-
O desenvolvimento será sustentado pelo in- fra-estrutura. O acordo para o primeiro saté-
vestimento de empresas internacionais em lite nacional foi assinado recentemente entre
Angola, contribuindo para um aumento da Angola e Rússia e compreende um emprésti-
procura de vários tipos de serviços, particular- mo de 213,5 milhões de euros.

SERVIÇOS UNITEL E MOVICEL


Unitel Movicel
• 3G • 3G
• Roaming no estrangeiro (117 países) • Movinet (acesso à Web em banda larga,115 países)
• MMS • Liga-me’
• Pacotes avançados 3G • ‘Saldo Móvel’
• Serviço Wap • Cartão Taco 50 utt
• Televisão no telemóvel • Plano Movinet no telemóvel
• Participação no primeiro satélite angolano e cobertura do país em • Movinet zone
fibra óptica
• Roaming Movicel

52 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
· ANGOLA’IN | 129
SOCIEDADE | patrícia alves tavares

Águas arriscadas
É uma das infecções que mais mata nos países subdesenvolvidos, diferentes graus de risco entre regiões e dife-
nomeadamente africanos. As crianças são as mais vulneráveis a uma rentes bairros de uma cidade.

bactéria que se transmite essencialmente através da ingestão de ZIMBABUÉ E MOÇAMBIQUE EM RISCO


água ou alimentos contaminados. As deficientes infra-estruturas Catorze milhões de habitantes lutam com to-
existentes no continente são as principais responsáveis da cólera. Em das as armas para travar o flagelo da cólera,
Angola, o pior já passou, apesar de desde Janeiro terem registado mais que afecta a zona da África Austral. O Zimba-
de mil casos. A melhoria das condições de vida tem contribuído para bué é o mais afectado, que se vê confrontado
com uma epidemia que teve início em Agosto
uma redução da incidência do vírus.
de 2008 e já fez mais de vinte mil vítimas e
A cólera pode ocorrer em cidades, que apre- alastrou-se a outros países na Ásia, Médio infectou outras tantas. A rápida propagação
sentem uma estrutura eficaz de tratamento Oriente, África (70 por cento dos casos de- deve-se à reduzida capacidade das autorida-
de águas e esgotos. No entanto, geralmen- tectados mundialmente) e Europa, acaban- des zimbabueanas para combater o surto e
te afecta os habitantes das regiões caren- do por atingir a América do Sul, em 1991. No ao facto da maioria da população continuar
tes, onde o saneamento básico é inadequado ano seguinte, na Índia o vírus sofreu uma a beber água imprópria e não ter cuidados de
ou simplesmente não existe. Os riscos de mutação, em que o V. cholerae O139 atingiu o higiene. Apesar dos últimos números aponta-
contrair a doença são menores para quem Paquistão, o Bangladesh e a China. Já no caso rem que o pico já passou, está a alastrar-se
mora em zonas detentoras de estações de do Brasil, a cólera surgiu na região amazó- para países vizinhos. O Governo moçambica-
tratamento de águas residuais, que estão nica, registando-se actualmente casos em no divulgou recentemente que apenas entre
mais vulneráveis à ingestão de alimentos, que todas as zonas do país. Os países africanos, Janeiro e Março, a doença matou 112 pessoas,
podem chegar contaminados da origem, algo devido às parcas condições de higiene, resul- contaminando 12.262 habitantes. As zonas de
que exige cuidados higiénicos na sua prepara- tantes dos conflitos, guerras e atraso no de- Cabo Delgado e Nampula são as mais afecta-
ção. Quando uma cidade não possui as infra- senvolvimento sócio-económico, são as mais das. Actualmente, as autoridades sanitárias
estruturas adequadas, o contágio pode dar-se atingidas. Recorde-se recentemente o ata- actuam em duas frentes: evitar ao máximo os
através da ingestão de água imprópria. que de cólera que tem dizimado centenas de óbitos e intensificar as acções de prevenção.
vidas no Zimbabué. A bactéria é endémica
EPIDEMIA MUNDIAL em vários países e esporadicamente ocorrem CHEIAS LANÇARAM O PÂNICO
A doença é responsável por seis pandemias surtos, devido às inadequadas ou inexisten- Até Junho deste ano, as autoridades sanitá-
entre 1817 e 1923. A actual faz subir o número tes infra-estruturas de saneamento básico. A rias angolanas registaram 1.250 casos de cóle-
para sete e desencadeou-se na Indonésia, em probabilidade de transmissão também varia ra em todo o país, tendo ocorrido 35 óbitos. De
1961, causada pelo biótipo El Tor. Entretanto, dentro de um país, em que podem existir acordo com informações do Centro de Proces-

54 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
samento de Dados Epidemiológicos (CPDE)) da
Direcção Nacional de Saúde Pública, tem-se -se
assistido a uma diminuição acentuada do nú-
mero de casos em Angola, uma vez que em
igual período de 2008, as estatísticas aponta-
nta-
vam já para cinco mil casos e 125 mortes, cau-
au-
sadas pela bactéria. As cheias que atingiram
ram
o país no início do ano ainda fizeram temer er o
pior. A zona do Cunene foi a mais fustigada,
ada,
levando a Protecção Civil a recear um aumento
nto
dos casos de cólera. O Ministério da Saúdee e
a Cruz Vermelha tomaram as medidas neces- ces-
sárias, enviando para o local medicamentos,tos,
material e equipas médicas. Porém, o cenário
ário
não se concretizou e o alerta de epidemia não
passou disso mesmo. Ainda segundo a aná- ná-
lise dos anos anteriores, ao longo de 2008,
8, o
país teve 10.540 casos de cólera e 249 óbitos.
tos.
Os números indicam que de facto o flagelo gelo
que atinge a maioria da sociedade angolana ana
tem sofrido uma recessão ao longo dos últi-
mos anos. Para tal, tem contribuído em gran-
de escala a resposta adequada das unidades o que é a cólera?
de saúde face aos surtos e ao melhoramento É uma doença causada pelo vibrião colérico (Vibrio Cholerae), uma bactéria que se mul-
das actividades de vigilância epidemiológica. tiplica rapidamente no intestino humano, produzido uma toxina que provoca diarreia in-
tensa. O vírus afecta apenas os seres humanos e a transmissão ocorre através da ingestão de
EVOLUÇÃO FAVORÁVEL água ou alimentos contaminados. Na maioria dos casos, a infecção é assintomática (cerca
A mobilização social, através das campanhas de 90 por cento) e caracteriza-se por diarreias de pequena intensidade. Em algumas situa-
de informação e educação para a saúde são ções, pode ocorrer diarreia aquosa profusa de instalação súbita, que é a mais fatal.
um dos factores que têm contribuído para o
controlo da doença e decréscimo do grau de quais os sintomas?
incidência. Por outro lado, a distribuição de O período de incubação da doença é de cerca de cinco dias. A partir daí, surgem os primei-
água potável às comunidades, que se encon- ros sintomas, que se manifestam através de diarreias. As perdas sem reposição de água dão
tram em zonas de difícil acesso, bem como de lugar a vómitos, cólicas, aumento da frequência cardíaca, choque e insuficiência renal.
medicamentos às unidades de saúde (inclusi-
ve as mais longínquas) tem sido decisiva no quais os riscos?
combate à cólera. A distribuição de água potá- A cólera é uma doença de transmissão fecal-oral. A propagação directa entre pessoas é mí-
vel, efectuada por camiões cisternas, perten- nima. O principal risco é através da água e alimentos contaminados, nomeadamente, por
centes à administração municipal da Maianga, fezes de pessoas infectadas, com ou sem sintomas. A taxa de ataque da cólera, mesmo em
tem tido um peso importante na redução de grandes epidemias, raramente ultrapassa os dois por cento da população.
novos focos da doença, especialmente na área
de circunscrição. Para Maria José, chefe da re- como se previne?
partição da saúde em Luanda, a implementa- Existe uma vacina, que só é recomendada em casos muito especiais. Tem uma eficácia de
ção do poder local e a criação de bases para a cerca de 50 por cento e a sua duração protectora não ultrapassa os seis meses.
distribuição de água aos munícipes são decisi-
vos na erradicação da epidemia.
EMPENHO POR UMA CAUSA
Marcelina da Costa, responsável pelo centro do centro. Em Huíla, a Repartição Municipal
de cólera do Hospital Central do Bié, anunciou de Saúde está a oferecer às famílias litros de
úmeros
Cólera em N que a unidade tem apostado em palestras lixívia para desinfectarem as águas, incenti-
no: nas zonas rurais para motivar a população vando ainda os beneficiários a participarem
Caso angola local a redobrar os cuidados na prevenção da numa acção de sensibilização e formação so-
sos e 35 óbitos doença. No primeiro semestre deste ano, no bre as causas da doença e o modo de preven-
2009 › 1250 ca Bié apareceram dois casos em toda a provín- ção e respectiva contenção. A acção englobou
o)
(dados até Junh s
.5 40 ca sos e 249 óbito cia, o que levou a responsável a enaltecer o ainda a distribuição de água potável, recipien-
2008 › 10 5 ób ito s empenho da Direcção Provincial de Saúde e tes para conservação de 20 litros da mesma e
sos e 51
2007 › 18.390 ca 3 ób ito s do Hospital Central, responsáveis pelo abas- pacotes de soro de hidratação. Estas ofertas
sos e 2. 77
2006 › 67.256 ca tecimento antecipado de medicamentos e contaram com a colaboração da Unicef, Cruz
blica
nal de Saúde Pú
Direcção Nacio pela colaboração na execução das actividades Vermelha e Direcção Provincial das Águas.
Fonte: CPDE da

SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 55
GRANDE ENTREVISTA | manuela bártolo

a voz da diáspora
Naturais de Luanda, Pétio, Eurice, Druvaldo e Esperança são quatro jovens talentos, iguais
a tantos outros, que acalentam o desejo de um dia regressar a Angola e contribuir para o
progresso do seu país. Integram a Associação de Estudantes Angolanos em Portugal, núcleo
do Porto, e encontram-se actualmente a frequentar o Ensino Superior. Num discurso directo,
exclusivo para a Angola’in, desvendam certezas e tecem comentários sobre a nova geração de
mwangolés que se destaca diariamente além-fronteiras. Palavras sentidas, no fogo de uma
conversa que se estendeu tardiamente, por entre risos e confissões marcadas pela saudade
da terra. Uma nova diáspora nasce hoje para dar voz ao angolano do futuro. Como se diz em
Quimbundo: “Malembe, malembe” (devagar se vai ao longe!).

Da esquerda para a direita: Esperança Cafumana, Pétio Penelas de Barros, Eurice dos Santos, Druvaldo Teixeira

ESTÓRIAS DO PASSADO, aquilo que nós hoje nos predispomos fazer. É enriquecedor qualquer pessoa reconhecer os
IMPULSOS PARA O FUTURO Em termos de geração a nossa é diferente, motivos que fizeram a sua História’.
mas se formos a analisar sentimos, porque o
NOVA GERAÇÃO tempo é cíclico, que os jovens actuais voltam a ‘Para um país ter estabilidade
Pétio Juarez – ‘Os nossos pais cresceram ser aquilo que os nossos pais eram. Talvez por tem de cumprir ao máximo
no período do colonialismo e posteriormente isso não sei se haverá assim tanta diferença os princípios e os direitos
num clima de instabilidade do próprio país. ou se pelo contrário vivemos com uma capa. democráticos’
Seguindo esse raciocínio, é natural que, pelas Sentimos, cada vez mais, um apelo à cultura
dificuldades que passaram, não tenham tido angolana, que considero importante não per- ALÉM-FRONTEIRAS
a possibilidade de perceber e aprender aquilo der. O país muda, mas deve manter intacta a Pétio Juarez – ‘Considero que ainda temos
que a nossa geração tem oportunidade de fa- sua própria identidade e é isso que a maioria muitos passos a dar enquanto país. Fala-
zer e alcançar. Hoje em dia, os jovens angola- dos jovens sente’. mos em Angola como uma importante nação
nos valorizam a paz porque foi uma conquista emergente a nível mundial, mas essa análise é
dos nossos pais. Parte do que somos hoje é Druvaldo Teixeira – ‘É importante qualquer realizada tendo em conta, muitas vezes, ape-
aquilo que eles sonharam e queriam ser, caso cidadão conhecer a sua identidade, saber de nas os factores económicos. A meu ver, por
tivessem tido a capacidade de estudar como onde veio, onde está, como chegou a esse mo- exemplo, só se estão a criar agora as condi-
nós temos actualmente. Tenho a certeza que mento e para onde vai e é nesse sentido que ções necessárias para a redistribuição do ren-
se tivessem tido essa oportunidade fariam digo que é fundamental olhar para o passado. dimento, para a educação da população, etc.

56 | ANGOLA’IN · GRANDE ENTREVISTA


Desenvolvimento não é só ter crescimento, A Associação de Estudantes Angolanos em Portugal no Porto é uma instituição sem fins lucra-
um PIB elevado, um Superávit todos os anos, tivos que acolhe as várias gerações de jovens que passam pela cidade. O seu maior objectivo é
é sim fundamental ter essa riqueza distribuí- promover a cultura angolana no exterior, bem prestar apoio em diferentes níveis ao associado.
da. Angola, que é um país como se sabe com
Actualmente, existem três tipos de associados: o extraordinário, o ordinário e o honorário. To-
poucos anos de paz, só agora é que vai come-
çar a dar os primeiros passos. Existem provín- dos devem reconhecer os seus direitos e deveres e apoiar o bom funcionamento dos vários de-
cias que sofreram demasiado com a guerra partamentos da associação. Um dos principais é o Departamento Académico e de Acção Social,
e as pessoas sabem que demora. O contex- que ajuda o jovem estudante a traçar linhas directas para atingir as metas a que se propôs. Nes-
to diz tudo. As diferenças sociais preocupam se sentido, este organismo disponibiliza informação ao nível da formação profissional, cursos
todos os angolanos. Neste momento, toda a superiores, estágios de acesso a empresas e workshops, assim como convida os jovens associa-
sociedade, governantes ou não, está a dar o
dos a participar em diversos convívios culturais. A instituição oferece ainda um espaço lúdico
melhor de si para desenvolver o país em ter-
mos de educação, saneamento básico e saú- e cultural, que facilita o acesso à internet, livros, jornais e revistas do país e promove acções de
de, sectores que têm de estar minimamente apoio junto daqueles que carecem de explicações. Este grupo pretende tornar-se cada vez mais
salvaguardados para que o país comece a dar dinâmico, tornando-se uma referência na cidade para todos os jovens angolanos
passos firmes para o desenvolvimento. As
eleições são, por exemplo, cruciais para esse
progresso porque não vale a pena termos leis a guerra, soube acolher e manter a segurança ma, formação. No entanto, um dos factores
e a nível internacional as pessoas pensarem para as pessoas que chegam ao país’. que considero mais importantes é o princípio
que Angola tem uma governação fraca, sobre de rigor e equidade no acesso aos cargos das
a qual pairam dúvidas, porque não segue os ‘O meu objectivo não é empresas em Angola. É natural que tenha-
requisitos de transparência. A meu ver, é im- ganhar dinheiro, mas sim mos de estar abertos à concorrência das ou-
portante termos um Governo firme para po- dar o contributo ao país, tras pessoas. Não devemos ser nacionalistas,
dermos dar os passos que nós achamos fortes do qual espero uma nem pôr isso muito patente, o que nós deve-
e vindouros, razão pela qual haver eleições é remuneração justa’ mos fazer é contribuir para o crescimento do
fundamental. Caso contrário, até podemos país, assim como todas as outras nacionali-
caminhar e progredir, mas sempre com a má FORMAÇÃO E EMPREGO dades. Falando, por exemplo, em objectivos, o
imagem da comunidade internacional. Para meu objectivo não é ganhar dinheiro, mas sim
crescermos temos de partir dos pontos mais DENTRO DE PORTAS dar o contributo ao país, do qual, por sua vez,
básicos, como as eleições, no caso do ano pas- Pétio Juarez – ‘Hoje em dia Angola precisa, espero uma remuneração certa e justa. Se eu
sado as legislativas, este ano as presidenciais. cada vez mais, de quadros formados em di- voltar a Angola com o objectivo de só ganhar
Para um país ter estabilidade tem de cumprir ferentes áreas. Para se aceder a uma melhor dinheiro, sinceramente não estarei a lutar pe-
ao máximo tudo aquilo que puder como os qualidade de vida é preciso, sem dúvida algu- lo seu desenvolvimento. É importante, a meu
princípios e os direitos democráticos. Angola
sempre serviu de exemplo para o mundo por-
que mesmo a viver durante décadas um clima
de instabilidade, o país nunca mostrou aquilo
que se passava nas suas 18 províncias e como
se sabe ocorreram muitos desastres, sobretu-
do ao nível ferroviário e viário. Foi um país pra-
ticamente destruído, se formos a comparar
com o Afeganistão ou o Iraque, mas que nun-
ca deixou transparecer para o exterior. Essa
posição não se tratou de uma mera questão
de orgulho. Apenas eu, assim como muitos
angolanos, achamos que não se deve estar
constantemente a mostrar tudo que é de mau
de Angola. É importante mostrar também o
que o país tem de bom, visto que, mesmo em
clima de guerra e sofrimento, tínhamos coisas
de que nos orgulhávamos. Senão vejamos,
mesmo no período de maior instabilidade, o
país, dentro do contexto africano, sempre foi
considerado um oásis para os estrangeiros.
Angola, por exemplo, não tem nenhum requi-
sito para se tirar um visto de entrada em que
venha escrito “vai, mas apenas sob a sua res-
ponsabilidade”. Angola sempre, mesmo com

GRANDE ENTREVISTA · ANGOLA’IN | 57


GRANDE ENTREVISTA

raio-x
• Pétio Juarez Penelas de Barros, 28 anos,
ISPGAYA (Instituto Superior Politécnico
Gaya), estudante do curso de Engenharia
Informática e presidente da Associação
de Estudantes Angolanos em Portugal
no Porto;

• Eurice Luís Carvalho Dos Santos, Uni-


versidade Lusíada do Porto, estudante do
3º ano do curso de Arquitectura;

• Druvaldo Fernando dos Santos Teixei-


ra, 20 anos, ISCAP (Instituto Superior de
Contabilidade e Administração do Por-
to), estudante do curso de Contabilidade
e Gestão;

• Esperança Cafumana Lourenço, Uni-


versidade Lusófona do Porto, estudante
do curso de Gestão

ver, existir um sentimento de utilidade. Qua- formação e não têm a capacidade de analisar conciliarmos as nossas raízes à modernidade,
se todos queremos regressar ao país e ter um a situação, pelo que é isso que está a deses- pois se esquecermos aquilo que é nosso e im-
papel importante a desenvolver. Sair de Ango- tabilizar o mercado e tem levado consecuti- plantarmos só o que é estrangeiro estaríamos
la não é um privilégio, mas uma necessidade vamente à especulação imobiliária. Mas essa a perder a identidade angolana. Acho que vi-
que nós tínhamos’. especulação também tem o seu lado bom vemos num concílio de cultura, mas os jovens
porque hoje em dia já se vêem empresas dos hoje em dia estão a perder um pouco isso. A
Eurice Dos Santos – ‘Tenho visto Luan- mais variados países e não só de Portugal a globalização torna as pessoas mais individu-
da a mudar lentamente através de estradas irem para Angola à procura de quadros ango- alistas e esquecem o que é viver em conjun-
em melhor estado, prédios em construção de lanos para integrar nos seus quadros porque to e sociedade. Angola, por exemplo, defende
maior qualidade, etc, e cada dia que passa is- fica bastante inviável ter de pagar despesas muito em termos culturais a tradição da fa-
so é mais visível. É importante que esse de- de arrendamento e de habitação para manter mília. Para nós o mais velho é um ancião e é
senvolvimento seja realizado por angolanos, lá expatriados. Para subtrair nos custos, nem muito importante. Na comuna em que se vive,
daí considerar necessária a questão da ango- tudo que aparentemente é mau o é na tota- para tomarmos alguma decisão temos de o
lanização dos quadros nas empresas’. lidade. Acredito, por isso, que esta tendência consultar. Na modernidade são os nosso pais
é passageira porque a situação irá concerteza e respeitamos muito a sua opinião. Realidade
Druvaldo Teixeira – ‘Angola precisa de qua- estabilizar’. que hoje se tem vindo a perder’.
dros com qualificações. O país está-se a de-
senvolver e não há progresso apenas com ÍCONES INTEMPORAIS Eurice Dos Santos – ‘A ilha de Luanda e a
mão-de-obra desqualificada. Façamos um música de Rui Mingas são para mim dois íco-
breve exercício. Analisemos o facto de Luan- ONTEM, HOJE E SEMPRE nes importantes do país. Aqueles que me fa-
da ser uma das cidades mais caras do mundo. Pétio Juarez – ‘Um ícone angolano é o José zem sonhar e querer sempre regressar’.
Bem sei que é uma fase do mercado, pela qual Eduardo dos Santos. Quando falo de Angola
o país está inevitavelmente a passar. Em con- não estou a pensar logo nele, mas não gosto Esperança Cafumana – ‘Agostinho Neto e
tabilidade costuma-se falar em justo valor que de o esquecer porque ele conduziu o país des- os seus poemas. Para mim são muito cativan-
é quando duas pessoas conhecedoras de um de sempre e acho que, se não o tivesse guiado tes e descrevem na perfeição o que é se sentir
bem sabem mais ou menos o valor do mesmo da forma que o fez, talvez muitos jovens da angolano’.
e estão dispostas a negociar por determinado minha geração nem sequer estariam aqui. Ou-
preço. Agora, em relação aos preços pratica- tra figura que admiro é o Bonga, pois as suas Druvaldo Teixeira – ‘Pepetela, sem dúvida.
dos na capital, isso deve-se também um pou- músicas fazem-me regressar à terra. É a meu Um ilustre representante angolano, prémio
co à falta de formação das pessoas. Existem ver um cantor de raiz, que não esquece as su- da lusofonia, que permite encontrar parte de
muitas pessoas em Luanda que não têm essa as tradições e cultura. Considero importante Angola em todos os seus livros’.

58 | ANGOLA’IN · GRANDE ENTREVISTA


FOTO REPORTAGEM | manuela bártolo

Geração
da esperança
São os homens e mulheres de amanhã. A sua
persistência, sonhos e vontade de vencer são o
retrato da Angola do futuro. A juventude é sinal
de expectativa para os anciãos, que almejam uma
vida melhor para estes rostos infantis, repletos
de determinação. Do desejo de conseguir uma
vida melhor e de luta por um país cada vez mais
justo, mais cosmopolita, mais desenvolvido e mais
igualitário. A eles cabe fazer ainda melhor que os
seus antepassados, defendendo e honrando as suas
raízes e culturas ancestrais. Às crianças de hoje e
futuros dirigentes dos destinos do seu povo cabe a
missão de continuar a batalha pela modernização
e crescimento da sua pátria. Aos jovens cabe fazer
ainda melhor que os seus progenitores. A alegria
da meninice é um bom sinal. É símbolo de uma
vida mais confortável, onde a escola faz parte desta
viagem e o acesso a bens que os pais não tiveram é
uma realidade constante. Afinal é com instrução e
com uma infância saudável que se formam aqueles
que vão escrever as linhas da história, que se antevê
optimista e recheada de acções dignas de registo.

fotografias - Ana Rita Rodrigues - www.lightfragments.com

60 | ANGOLA’IN · FOTO REPORTAGEM


FOTO REPORTAGEM · ANGOLA’IN | 61
FOTO REPORTAGEM

62 | ANGOLA’IN · FOTO REPORTAGEM


FOTO REPORTAGEM · ANGOLA’IN | 63
FOTO REPORTAGEM

64 | ANGOLA’IN · FOTO REPORTAGEM


FOTO REPORTAGEM · ANGOLA’IN | 65
TURISMO | patrícia alves tavares

Em pleno mar das Caraíbas surge o paraí-


so na terra. A Jamaica é uma nação insular
a 145 km de Cuba e a 190 km das ilhas His-
paniola. É considerada o terceiro país angló-
fono mais populoso da América. A Jamaica
inventou o conceito de turismo de luxo em
países pobres. Com praias perfeitas e mon-
tanhas verdes, a ilha foi dividida em resorts
de luxo, auto-suficientes, que se encontram
distribuídos ao longo da costa, de modo a
isolar os turistas dos pontos conturbados da
região. Ao entrar na ilha, depara-se com um
dos países mais exóticos do planeta, em que
o movimento-religião-filosofia do rastafa-
rianismo fez surgir uma cultura singular, que
ultrapassa o próprio reggae. O destino mais
requisitado pelos viajantes independentes
é a região de Porto António, onde as praias
convivem com a floresta densa, excelente
em termos de possibilidades de ecoturismo.

MOTIVOS NÃO FALTAM


Praia, música, sorrisos, paisagens coloridas e o
espírito descontraído são os pontos fortes da
terra do reggae. Além da cultura do golfe, da
história e da natureza, o turista depara-se com
as singularidades da cultura jamaicana, produ-
to do cruzamento de diversas nacionalidades
e origens. A terceira maior ilha das Caraíbas
é um dos pontos turísticos mais procurados.
Montanhosa e banhada por muitos rios, as
suas principais atracções são as magníficas
praias. Ocho Rios é um porto de mar e cidade
de férias, que recebe grandes cruzeiros, onde
se assiste a uma forte procura das excursões
rumo às cascatas e quedas de água. O clima
é quente. Mesmo na zona das Montanhas, as
temperaturas geralmente não descem abaixo
dos 20ºC. Se pretende visitar esta zona ou a

por terras de costa leste deve ter em conta a chamada épo-


ca das chuvas, que vai de Maio a Novembro.
Contudo, a chuva cai apenas por curtos perí-

bob marley odos (normalmente ao final do dia), pelo que


deverá encontrar sol durante a maior parte da
visita. No entanto, os visitantes não devem
esquecer que este período coincide com a tem-
porada dos furacões, que varrem a ilha nesta
altura do ano. A região é muito procurada de
Dezembro a Abril, nomeadamente nas sema-
nas do Natal e da Páscoa.
É um destino fantástico para qualquer época do ano.
Belas praias, sol constante e muito reggae são a imagem KINGSTON
de marca da Jamaica. As belezas naturais, o ambiente É a capital e maior cidade do país e alberga o
descontraído e os sabores exóticos compõem o cenário centro da vida cultural local. Os inúmeros te-
atros apresentam um calendário contínuo de
deste país idílico. As estações do ano são virtualmente actuações e o National Gallery detém a maior
inexistentes e as temperaturas máximas diurnas junto à colecção de arte jamaicana. Kingston é indu-
costa rondam os 27-30ºC. bitavelmente o centro do comércio e cultura

66 | ANGOLA’IN · TURISMO
nacional. A cidade merece ser visitada pelo elo
seu dinamismo e especialmente pelas festi- sti-
vidades anuais. Se a vislumbrar a partir das
montanhas, a localidade apresenta-se atra- ra-
vés das encostas de subúrbios verdejantess e
do esplendoroso porto natural. O centro his- is-
tórico aparece a norte da zona ribeirinha, on-
de encontrará os grandes hotéis e edifícios de
escritórios. A parte nova da capital desenvol-
ol-
veu-se a norte da referida área. A antiga casa
asa
do cantor Bob Marley, em New Kingston, con-
vertida em museu, é a maior atracção da zo-
A NÃO PERDER
na urbana. O local coloca ao dispor dos fãs o Em Kingston, o National Galery e o Instituto da Jamaica estão no topo da agenda de qualquer
quarto do cantor, com a sua guitarra em for- turista. A galeria é um prédio moderno, que exibe uma colecção de quadros e esculturas de
ma de estrela à cabeceira, onde pode ver os artistas jamaicanos. Porém, se a intenção é comprar pinturas ou mapas antigos, a Livraria e
buracos das balas cravadas nas paredes (fruto Galeria Bolívar são os espaços apropriados. Os museus Arqueológico, Marítimo e da Ciência e
da tentativa de assassinato em 1976) e conhe- a Casa da Moeda são pontos de passagem obrigatórios. O Museu Bob Marley merece destaque
cer a árvore onde o cantor se sentava a fumar em qualquer programação. Para quem aprecia cozinha internacional num ambiente elegante
erva e a compor. A área ribeirinha de Kingston, e com um serviço impecável, o Blue Mountain Inn, em Kingston é a escolha certa. O restauran-
que ainda espera pelas obras de restauro, é te Jarde Garden é um bom local para os amantes da comida chinesa. Em Montego Bay, o Coral
conhecida pela feira de artesanato das docas. Cliff apresenta-lhe todas as especialidades da cozinha jamaicana. Se passar por Negril, não dei-
Na zona sul, situam-se os hotéis económicos xe de experimentar o Country Restaurant. A capital é ainda o espaço de eleição para comprar
e os restaurantes indianos, chineses e ame- bom artesanato e rum. A loja Things Jamaican é a mais procurada. Em Montego Bay, as roupas
ricanos. A música reggae ouve-se ao virar de do mercado Old Fort Craft Park fazem as delícias dos visitantes
cada esquina.

MONTEGO BAY barracas de venda de refeições saudáveis em se juntar inevitavelmente à multidão e es-
A cidade piscatória mais conhecida da Jamai- pleno areal e será saudado afavelmente pelos perar pacientemente pela vez. A menos de 2
ca recebe constantemente no seu porto uma moradores. As praias são de perder de vista e km desta área, surge uma fabulosa e restrita
multidão de turistas, que percorrem as ruas o pôr-do-sol é fenomenal. O litoral da estância praia, banhada pelas Laughing Waters.
estreitas da região em busca das praias cin- foi a primeira área natural a receber a designa-
tilantes, dos campos de golfe e das casas ção de zona protegida, que abrange um par- LONG BAY
históricas. Localizada no extremo noroeste que marítimo, os pântanos do Great Morass e Na parte nordeste da ilha, surge uma das
da ilha, a região é famosa pelos vendedo- as florestas circundantes. mais impressionantes paisagens jamaicanas,
res ambulantes e pelos admiráveis edifícios que forma uma baía em meia-lua, (com 1,5 km
“Georgeanos” de pedra, que coabitam har- OCHO RIOS de comprimento) com areia de tons rosados,
moniosamente com as casas de madeira. Insere-se num fundo vale, rodeado de encos- profundas águas azul turquesa e suaves bri-
Apesar das melhores praias estarem restritas tas verdejantes e de frente para a larga praia sas. A autêntica Long Bay é um dos melho-
aos luxuosos estabelecimentos hoteleiros, Turtle e a baía protegida por recifes de co- res locais para a prática do surf. Contudo, os
os turistas têm ao seu dispor todo o género ral. Ocho Rios é muito popular pelos navios banhistas devem ter cuidado com as corren-
de desportos náuticos. Montego Bay é o lo- de cruzeiro, que anualmente transportam tes. A região dispõe de canoas de pesca, que
cal ideal para quem procura férias repletas de 400.000 pessoas, que invadem as artérias podem ser alugadas para passeio. Os turistas
animação nocturna. As lojas e mercados lo- da cidade. Os que preferem ambientes mais que procuram desfrutar de um período de la-
tados de bugigangas atraem os turistas, que calmos e sossegados encontram a leste da re- ser na vila piscatória, intocada pelo turismo
encontram nesta pequena cidade estâncias gião praias mais pacatas. No interior da locali- de massas, optam por Long Bay, onde encon-
de luxo, que lhe proporcionam dias calmos dade, a uns 5 km no fundo de um desfiladeiro
sob a luz do sol. escavado por um antigo curso de água, encon-
tra Vala Fern. Encoberta por densas árvores,
NEGRIL a zona possui pela manhã uma luminosidade
Fica a 84 km a oeste de Montego Bay e é uma subaquática. A 3 km da cidade encontra-se a
SÍMBOLOS
estância turística essencialmente de ‘massas’. maior atracção de Ocho Rios: as cataratas do NACIONAIS
Nos últimos anos teve um crescimento feno- rio Dun. A multidão de estrangeiros acumula-
menal, sendo muito procurada pelos adeptos se no local, fazendo filas que percorrem os 180 Ave símbolo: Colibri
do conceito “férias ao sol” na Jamaica. Porém, metros até à praia, por entre as múltiplas cas- Fruta nacional: Ackee
hoe
o facto de Negril ser um dos locais mais atra- catas e piscinas naturais. É impossível evitar Árvore nacional: Blue Ma
Flor nacional: Gu aya co
sados, permite ao turista estabelecer contacto a confusão, pelo que se desejar experimen-
privilegiado com os habitantes locais, pois en- tar a refrescante água, proveniente das que- Cerveja: Red Stripe
contra os artesãos a esculpir madeira na praia, das sombreadas pela alta floresta, terá que Rum: Appleton Gold
TURISMO

sões no interior do país. Os desportistas têm


tram um rústico parque de campismo e caba- Starve Gut Bay, na costa sul da Jamaica. Os pe- ao seu dispor dez campos de golfe e uma costa
nas de madeira. Para lá chegar, a maioria dos quenos penhascos isolam as numerosas praias norte com excelentes condições de mergulho.
forasteiros apanham os autocarros que partem de areia cor de coral, cenários idílicos para umas Os tesouros nacionais vão desde os recifes de
de Porto António. Na região existe um bar-res- férias românticas. A região é pouco frequenta- pouca profundidade às grutas a poucos metros
taurante de praia e uma infindável panóplia de da por turistas e os desportos náuticos ainda da costa. Muitas instâncias têm embarcações
locais em que o peixe e mariscos secos são a não são praticados na ilha, apesar das suas ex- de vela ligeiras, iates e pequenos barcos de cru-
especialidade. celentes condições. Porém, vale a pena conhe- zeiro para aluguer.
cê-la, especialmente se procuram uma zona
ALIGATOR POND mais sossegada para relaxar. A possibilidade de
Isolada do resto da ilha, esta povoação encon- ver as tartarugas marinhas a nadar até à mar-
tra-se edificada entre uma baía azul e dunas de gem é uma das atracções da ilha. Esta zona da
areia, no fundo de um vale entalado entre ravi- costa recebe os caminhantes que seguem os
nas inclinadas. A rua principal é animada pela caminhos usados pelos pescadores.
vida rural, em que as mulheres rumam à praia
todas as manhãs para recolher o peixe acabado LEQUE DE MÚLTIPLAS ATRACÇÕES
de pescar. Em Aligator Pond, os turistas procu- A Jamaica tem muito mais que praias para ofe-
ram os Sandy Cays, os famosos bancos de areia recer. Os adeptos das caminhadas levariam
que emergem das águas a cerca de 32 km da semanas a explorar o emaranhado de per-
costa e são excelentes para a prática de mer- cursos que existem na região, sobretudo nas
gulho. Na ilha, existe um autocarro privado que Montanhas Azuis. A luxuriante Terra das Co-
faz o percurso entre Kingston e Aligator Pond. pas é ainda pouco explorada, mas perfeita pa-
ra os caminhantes mais experientes. Passear
TREASURE BEACH a cavalo é outra possibilidade para explorar a
Este é o nome dado a quatro enseadas que Jamaica, pelo que a maioria das estâncias tu-
se estendem por alguns quilómetros a sul de rísticas possuem estábulos e organizam excur-

informações gerais como chegar


Área: 10.990 km2 A entrada principal do país é através de Miami. A American Airlines
Capital: Kingston tem onze voos diários. Três chegam a Montego Bay e os restantes a
Língua Oficial: Inglês Kingston. Para conhecer toda a ilha, o ideal será alugar um carro. A
circulação faz-se pela esquerda, tal como em Inglaterra. Os cidadãos
(entre si os jamaicanos falam patois, que é uma mistura de espanhol,
não precisam de visto, mas necessitam exibir o passaporte
inglês e dialecto africano)
Moeda: Dólar Jamaicano (geralmente aceitam dólares americanos) o que evitar
As principais redes de cartões de crédito e traveler’s checks são aceites • Drogas (inclusive a marijuana, que apesar de fazer parte da cultura
na Jamaica. da Jamaica, é proibida por lei desde 1913)
Pode trocar-se dinheiro em bancos, cambistas autorizados ou hotéis • Frequentar lugares ermos ou escuros, sem a companhia de um guia
Preço médio por refeição: 2 a 5 USD confiável
Preço médio por refeição em restaurante: 10 a 20 USD • Ir à praia sem protector solar
Fuso Horário: UTC menos 6 horas • Pimenta na comida
A temporada alta situa-se entre Dezembro e Abril. Em Maio e Junho, o • Estradas à noite
clima é igualmente agradável e os preços são mais baixos • Perder a paciência

68 | ANGOLA’IN · TURISMO
TURISMO | patrícia alves tavares

a cidade perdida
de angkor
Entre as ruínas do Império Khmer ergue-se Angkor, a cidade que dominou a região do Camboja
até ao século XV. Classificada de Património Mundial pela Unesco, a região alberga mais de
mil templos. Cerca de um milhão de turistas visitam anualmente os famosos monumentos,
encobertos pelas florestas do norte do Grande Lago. O ponto de partida é Siem Rep.

SABIA QUE...
maravi-
Angkor Wat foi finalista no concurso de eleição das sete PROTEGIDA PELA UNESCO
do mundo , promov ido pela UNESC O. O principal monum ento
lhas Desde 1991, a UNESCO tem desenvolvido um pla-
ncia e geome tria sagrad a
de Angkor é conhecido pela sua imponê
no para preservar e desenvolver os sítios histó-
ricos de Angkor. Principal atracção turística do
Camboja, a cidade dificilmente sairá da memória
de quem a visita. As esculturas, que sobrevivem
a séculos de deterioração e de guerras, represen-
tam o ritmo de vida em Angkor. Os baixos-rele-
vos nas fachadas dos templos captam a atenção
dos turistas, ávidos por descobrir o quotidiano
da civilização Khmer. Além dos acontecimentos
do dia-a-dia, os monumentos relatam cenas de
guerra, através das imagens desgastadas e es-
culpidas nas paredes. Actualmente, existem cer-
ca de 1,3 milhões de inscrições nos templos de
Angkor.

ANGKOR WAT
TRAGÉDIA E EVOCAÇÃO DIVINA deroso da Indochina. A cidade de Angkor ficou É o maior monumento religioso do mundo. Edi-
Enigmática, Angkor foi o palco do colapso de inacessível por duas décadas. Oculta pela densa ficado para honrar a divindade hindu Vishnu, foi
uma das maiores civilizações da história do selva, coube a um naturalista francês, que visi- construído em menos de 40 anos e constitui um
Camboja. Só a partir do século XIX é que os ar- tou as ruínas de Angkor, seguindo as indicações símbolo nacional, marcando presença na bandeira
queólogos conseguiram traduzir as inscrições dos relatos de um missionário, a missão de co- nacional. O templo budista é a principal atracção
em sânscrito dos templos e descobrir a verda- locar a cidade perdida no mapa. Henri Mouhot turística, constituindo um dos principais emble-
deira história dos reis que os ergueram. Entre publicou os seus desenhos e diários, dando as- mas do Camboja. Construído pelo rei Suryavar-
os séculos V e XV, o reino Khmer era o mais po- sim a conhecer a região ao resto do mundo. A man II, no início do século XII, sob a designação
deroso da região, controlando todo o sudeste terra perdida merece e precisa de pelo menos de monumento central, é o templo maior e me-
asiático, desde Mianmar até ao Vietname. Con- três dias para ser explorada. O melhor meio pa- lhor preservado. É o único que assume um im-
siderado o maior complexo urbano do mundo ra fazê-lo é recorrer ao meio de transporte pre- portante significado religioso. Inicialmente hindu
pré-industrial, a cidade, que albergava mais de ferido dos asiáticos – a bicicleta. A região é ultra e posteriormente budista, Angkor Wat é o ponto
750 mil habitantes, entrou em declínio em finais plana, pelo que é impossível perder-se. Além do máximo do estilo clássico da arquitectura Khmer.
do século XV. Ninguém sabe apontar com exac- mais, os cambojanos estão sempre dispostos a O seu desenho representa o Monte Meru, a casa
tidão as causas da queda do império mais po- dar informações aos visitantes. dos deuses da mitologia hindu.

70 | ANGOLA’IN · TURISMO
Belos templos, tribos nas montanhas, ilhas cercadas de águas límpidas, be- o que deve saber sobre o camboja:
las praias e populações hospitaleiras esperam os visitantes do Camboja. A • A população é de cerca de 12 milhões
cidade de Angkor é o destino de destaque, pela sua cultura milenar, misticis- • A capital é Phnom Penh
mo e história. Visto do ar, o monumento erguido há tantos séculos aparece e • O país faz fronteira com a Tailândia,
desaparece como uma alucinação. A região perdida de Angkor, actualmente o Vietname e o Laos
em ruínas, é habitada essencialmente por agricultores de arroz, que man- • O idioma oficial é o Kmer
têm vivos e intocáveis a panóplia de espaços. A jóia da coroa é o templo de • Nos centros turísticos fala-se o inglês
Angkor Wat. O governo do Khmer Rouge foi deposto há mais de 20 anos
pelas tropas vietnamitas. Actualmente, a impressionante região arqueoló- indicações para conhecer angkor
gica de Angkor permite aos visitantes compreender a trajectória dos grandes Melhor época para visitar: os meses de De-
imperadores. Considerada uma das maravilhas turísticas do Sudeste Asiá- zembro a Janeiro são os mais agradáveis para
tico, a cidade atrai a curiosidade de historiadores, arqueólogos e cientistas. visitar o país.
Entre as casas, construídas ao estilo Khmer, surge o templo Banteay Samre. O que levar: água mineral, máquina de fil-
Localizado entre o “grande lago”, o Tonle Sap e a serra que se ergue a norte, mar ou fotográfica, boné, protector solar e
ladeada pelos montes Kulen, o templo foi restaurado na década de 40. As calçado apropriado para caminhar.
muralhas que o ladeiam simbolizam o oceano à volta do monte Meru, a mí- Imperdível: a arquitectura colonial france-
tica morada dos deuses do hinduísmo. Banteay Samre é apenas um dos mil sa da capital, Phnom Penh. Nos restaurantes,
santuários existentes na cidade de Angkor. Muitos visitantes comparam a encontra o peixe apanhado no rio Mekong
escala e dimensão destas construções às pirâmides egípcias. em todas as ementas.

ESPÍRITOS DIVINOS TEMPLOS


As principais marcas da geração de reis Khmer PARA VISITAR:
são os templos, erguidos para contemplar as Supõe-se que os mais de mil quilóme-
divindades hindus. No apogeu deste império tros quadrados da antiga cidade perdida
nasceu uma religião, que sobrevive até ho- escondam mil santuários. Até ao mo-
je, sendo a mais praticada no Camboja: o bu- mento, foram encontrados 50. Os mais
dismo. Os visitantes encontram nesta cidade conhecidos e procurados pelos turistas
uma panóplia de templos e esculturas, criadas são os seguintes:
com fins específicos e diversos. Os seguidores
do hinduísmo e budismo ergueram espaços de PHNOM BAKHENG: Erguido sobre uma colina, foi construído em 900 d.C.. Foi o
culto para as suas divindades. Os reis Khmer primeiro templo a nascer em Angkor e o seu construtor, Yasovarman I, foi responsável pela
consideravam-se semidivinos e veneravam os abertura do canal, que alterou o curso do rio Siem Reap, redireccionando-o para o sul até ao
espíritos da natureza, os Neak Ta. Ao conhe- Baray Leste.
cer Angkor, descobrirá que embora o budismo PRASAT KRAVAN: Edificado em 921 d.C., o templo é incomum devido à sua fila de
seja a religião oficial, o hinduísmo ainda per- cinco torres de tijolo em baixo-relevo. Prasat Kravan nasceu pelas mãos dos funcionários do
dura e o seu maior símbolo resiste numa está- alto tribunal.
tua, que representa a divindade hindu, a cobra
PHIMEANAKAS: Data de cerca de 910/ 1100 e é uma pirâmide única, feita em ro-
d’água com várias cabeças, que é conhecida
chas densas. A torre é lendária, bem como o local onde o rei Khmer tinha encontros com a
entre os locais como naga e que tem como
deusa serpente, que aparecia sob a forma de mulher.
função proteger Buda. Quem passa pela ci-
dade perdida, não pode deixar de descobrir as
TA KEO: Homenageia a divindade hindu Shiva. É o templo mais massivo do seu perío-
do, que data de 1000 d.C.. Ta Keo possui cinco torres e foi construído em arenito.
belas entidades femininas, mundialmente co-
nhecidas como apsaras. Os muros de Angkor PREAH KHAN: Criado em 1191, o Preah Khan constitui um labirinto de pavilhões,
possuem cerca de 1,7 mil apsaras esculpidas. salas e capelas. O templo foi erguido pelo budista Jayavarman VII, para homenagear a me-
Os gestos das entidades constituem a inspi- mória do seu pai.
ração para a dança tradicional cambojana. BAYON: Nasceu entre os finais do século XII e inícios do século XIII. Os seus murais em
baixo-relevo imortalizam as batalhas conquistadas e descrevem a vida comum do rei Khmer

nota: angkor
Designado de Património Mundial (UNESCO), o complexo de ruínas está inserido no meio das florestas do norte do Gran-
de Lago. Cerca de um milhão de turistas visitam Angkor, um dos mais importantes locais arqueológicos da Ásia. São
mais de 400 km2 de ruínas das capitais do Império Khmer

TURISMO · ANGOLA’IN | 71
ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO | patrícia alves tavares

Casa
do
Futuro
O nome do projecto diz tudo. Chama-se “Casa de Sonho” e foi dada System, o espaço, que será dado a conhecer
a conhecer ao público na Export Home Angola, onde foi feita a ante- ao público no maior evento associado ao mer-
cado imobiliário nacional, foi equipado por di-
visão de um plano habitacional, que está a ser desenvolvido pela As- versas empresas, que acederam ao convite da
sociação de Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), AIMMP e da sua marca Associative Design. As
que pretende desta forma incutir o conceito da qualidade e inovação características únicas são apenas uma das no-
aliados ao design moderno, de modo a dinamizar o mercado da cons- vidades de um projecto que tem como intui-
trução civil. As residências do futuro, que se adaptam às exigências to introduzir no ramo da construção civil uma
ambientais, de eficiência e sustentabilidade, serão apresentadas ofi- nova génese residencial, que tenha em consi-
deração a eficiência energética e a preocupa-
cialmente na Constrói. ção com a salvaguarda dos recursos naturais
A ideia de criar uma modelo habitacional que e redução da emissão de poluentes, visto que
revolucione o mercado angolano e se adapte o país começa a registar elevados índices de
às necessidades nacionais partiu da associa- poluição, sendo urgente regular este ramo de
‘casa de sonho’ ao pormenor ção portuguesa AIMMP, que se encontra no actividade.
Ocupa 386 m2 e está país a desenvolver três acções de grande en-
totalmente decorada, equipada vergadura. Por um lado, há que dar continui- NOVA GERAÇÃO RESIDENCIAL
e pronta a habitar. dade ao plano de instalação das indústrias do Após a passagem por Milão e Nova Iorque, a
sector nas várias províncias (orçado em 100 marca empresarial Associative Design esco-
Possui: milhões de euros). Os restantes objectivos lhe Angola para expor o conceito inovador de
nucleares dizem respeito ao desejo de intro- edificar residências, que se adaptem às novas
• Quatro suites
duzir, em colaboração com diversas empresas exigências da sociedade moderna. Dezoito em-
• Cinco casas de banho associadas, o projecto “Casa de Sonho”, que presas associaram-se à AIMMP para desenvol-
• Duas salas de estar foi recentemente abordado na Export Home ver um produto, concebido de raiz em Portugal.
• Uma sala de jantar e será erguido no próximo certame dedicado O facto de estar em curso a implementação de
à construção civil para que os visitantes pos- seis fábricas de produção de madeira nas pro-
• Uma piscina
sam conhecer integralmente as residências víncias nacionais é uma mais-valia, uma vez
• Um jacuzzi do futuro. De 15 a 18 de Outubro, a AIMMP que o novo modelo habitacional proposto pe-
• Um jardim mostra na sétima edição da Constrói Angola la empresa poderá, no futuro, recorrer a ma-
o protótipo da casa que faz parte do imaginá- téria-prima nacional. Totalmente decorada,
rio de cada família. Construído pela Modular equipada e pronta a habitar, a casa que todos

72 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO


export home antevê projecto inovador
A AIMMP, representada pela secretária-geral Maria Fernando Carmo e por elementos da Associação Empresarial de Portugal (AEP), participou
na Export Home, que decorreu em Luanda entre 30 de Julho e 2 de Agosto. O protocolo celebrado entre a AEP e FIL (Feira Internacional de Lu-
anda) tem como finalidade promover iniciativas, que permitam às empresas portuguesas aceder ao mercado angolano, que se assume como
destino preferencial, devido ao programa de criação de um milhão de casas até 2012. O certame permitiu aos visitantes antever o inovador e im-
ponente plano da AIMMP. “Estamos a falar de um projecto de grande impacto, que não só vai juntar empresas da Fileira Casa, mas também de
sectores que lhe são complementares. Só podemos avançar que tudo o que um angolano necessita e sonha vai encontrar no espaço que estamos
a preparar na Constrói”, avançou Maria Fernanda Carmo

idealizam ocupa 386 metros quadrados e dis- ram-se múltiplas marcas portuguesas, que divulgados, pelo que só devem ser conheci-
põe de quatro suites, cinco casas de banho, têm como responsabilidade equipar a “Ca- dos durante a edição da Constrói. Certo é que
duas salas de estar, uma sala de jantar, uma sa de Sonho” com todas as infra-estruturas, é necessário ter poder de compra para adqui-
piscina, um jacuzzi e jardim. No cômputo geral, design e decoração, essenciais para tornar o rir estas residências, já que as funcionalidades
serão utilizados cerca de 30 módulos para con- espaço habitável. Aliás, a eco-eficiência e ges- e equipamentos com que estão dotadas são
cretizar o projecto, que conta com uma vasta tão ambiental incorporam as preocupações da dispendiosos. Apesar de se tratar de um in-
equipa, composta por empresas de decoração AIMMP, cuja filosofia da empresa tem como vestimento caro para muitos, esta tipologia
de interiores e de concepção de produtos e sis- objectivos a redução do consumo de recursos permite a muitas famílias poupar a médio e
temas para a construção. e seus impactos na natureza, bem como o au- longo prazo. Uma casa que está provida com
mento do valor dos produtos e serviços. As energias renováveis e com infra-estruturas
AMIGOS DO AMBIENTE residências que a entidade pretende erguer que permitem a poupança energética acarreta
Painéis solares, espaços reservados para com- deverão ter em atenção a redução da inten- inúmeros benefícios em termos económicos e
bustão, reciclagem e electrodomésticos que sidade energética de bens e serviços, a dimi- ambientais. Desta forma, o investimento ini-
economizam energia são algumas das fun- nuição da dispersão tóxica, a promoção da cial compensa e, apesar dos custos iniciais, a
cionalidades que compõem a “Casa de Sonho” reciclabilidade dos materiais e a maximização “Casa de Sonho” traz a possibilidade de pou-
e fazem deste projecto habitacional uma es- do uso sustentável dos recursos renováveis, pança durante o dia-a-dia, em que as despesas
trutura auto-sustentável. A empreitada está aumentando a durabilidade dos produtos. com os materiais renováveis são compensa-
ao cargo da empresa Modular System, que das pela sua maior durabilidade em detrimen-
recorre a um sistema construtivo modular IMPORTÂNCIA DA SUSTENTABILIDADE to de outros mais baratos e mais poluentes.
em madeira, que parte da sua justaposição Os seus componentes são acessíveis para a O novo conceito proposto nas habitações do
para alcançar diversas configurações, que se maioria das bolsas, uma vez que a aplicação futuro é determinante para o desenvolvi-
adaptam às necessidades de cada utilizador. das técnicas de design industrial na arquitec- mento nacional, que começa a ter em conta
Os edifícios são integralmente desenvolvidos tura habitacional contribui para o fabrico em as necessidades de preservar recursos vitais e
em Portugal e apresentam um reduzido im- série das matérias, permitindo a redução dos perecíveis e de reduzir os níveis de poluição e
pacto ambiental, devido à utilização de mate- custos de produção. Os materiais usados são impactos ambientais. A evolução das cidades
riais naturais e recicláveis, em que se aposta de elevada qualidade, pautando-se pela dura- será mais sustentável caso as residências te-
nas energias renováveis e no reaproveitamen- bilidade aliada ao conforto. Não obstante, os nham em consideração as problemáticas diá-
to dos recursos naturais. Ao projecto associa- preços da “Casa de Sonho” ainda não foram rias e exigências da sociedade actual.

REQUALIFICAÇÃO
ATRAI NOVOS
PROJECTOS
A associação portuguesa pretende investir
100 milhões de euros na concretização de
um plano encomendado pelo Ministério da
Indústria, em Outubro de 2008. O projecto
consiste na criação de seis fábricas (uma de
aglomerados de madeira, outra de pavimen-
tos, duas de mobiliário e duas de carpinta-
ria) e de um centro de formação profissional.
A iniciativa vai gerar 720 postos de traba-
lho directos e dois mil indirectos. A AIMMP
propõe-se desta forma a assumir o desafio de
criar uma indústria de transformação flores-
tal semelhante à portuguesa, num período
de 15 anos (e que em Portugal demorou 35
anos)

ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO · ANGOLA’IN | 73


ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO BREVES | patrícia alves tavares

INAD clarificou maior área de estradas


Mais de nove milhões de metros quadrados de bermas de estradas e da faixa do aeroporto Albano Machado, na província de Huambo, foram cla-
rificados apenas no primeiro semestre de 2009. A acção esteve a cargo do Instituto Nacional de Desminagem (INAD) e segundo o responsável lo-
cal, Victor Jorge, os trabalhos foram concretizados através dos métodos de desminagem manual e mecanizada (Hitachi). As operações permitiram
recolher 52 minas anti-pessoal, três minas anti-tanque, 307 engenhos explosivos e 96 munições. O técnico explicou que a maioria das áreas con-
cluídas se inseriram nos projectos de fibra óptica, levados a cabo pela empresa de telecomunicações Angola Telecom. Vítor Jorge recordou que no
referido período foram desenvolvidas actividades de pesquisa e levantamento nas zonas de reserva fundiária do governo, nas localidades de Los-
sambo, Canhama e S. José-Canjaia, na sede dos municípios de Huambo e Caála. Estão igualmente em curso os trabalhos de desminagem do novo
traçado das torres de alta tensão Belém do Huambo-Chinguari (Bié) e o acompanhamento da reabilitação do Caminho-de-Ferro de Benguela.

Isenção de impostos favorece


reconstrução
António Lapa, director comercial da empresa FERMAT, defende que
a isenção de impostos aduaneiros e de consumo sobre os materiais
de construção civil vai contribuir para a dinamização do processo de
requalificação das infra-estruturas nacionais. A referida medida foi
aprovada recentemente em Conselho de Ministros e mereceu elo-
gios por parte do responsável, que admitiu que a acessibilidade dos
materiais terá como beneficio a minimização dos custos de cons-
trução das residências sociais. O consumidor também é afectado
por esta medida, cuja inexistência de carga fiscal permitirá ven-
der mais barato. Além das vantagens para privados e empresas,
a iniciativa, segundo António Lapa, favorece “aqueles que estarão Cem mil lotes para construir
integrados no processo de construção de habitações para as po- O Governo pretende doar até ao final deste ano cem mil lotes de terra aos
pulações de baixa e média renda”. De acordo com o empresário, o cidadãos nacionais, que se destinam à construção de residências em todo
processo contribuirá para a evolução da economia nacional, através o território. A iniciativa insere-se no programa de fomento habitacional. O
da redução dos preços de construção, que se traduzirão mais com- anúncio foi proferido pelo ministro do Urbanismo e Habitação, José Ferreira,
petitivos. A FERMAT está implementada no mercado angolano há que explicou que 50 por cento das referidas áreas já se encontram total-
18 anos, trabalhando no ramo da venda de artigos como máquinas, mente urbanizadas nas 18 províncias. O responsável preferiu não avançar a
ferragens, cerâmicas, sanitários, andaimes, prumos, cofragens, ci- data da entrega dos lotes. No entanto, avançou que o projecto se enquadra
mento, massas de reboque, tintas, entre outros. no programa de construção de um milhão de casas nos próximos quatro
anos (lançado em 2008). O ministro aproveitou o momento para confirmar
que a iniciativa decorre a bom ritmo, contando com a colaboração das direc-
ções provinciais, que têm actuado essencialmente nos espaços destinados
à criação de residências de baixa, média e alta renda. José Ferreira apontou a
acção do governo da Huíla como exemplo a seguir, pois nos últimos seis me-
ses a execução do processo tem sido rápida. Por seu lado, Isaac dos Anjos,
governador da Huíla anunciou que foram identificados 25 701 hectares, o
que permitirá atribuir 135 mil lotes às populações dos 14 municípios, estan-
do prevista a construção de habitações para todos os estratos sociais, fábri-
cas, hospitais, escolas, universidades, indústrias e outras infra-estruturas.
“A província da Huíla tem condições propícias para que este projecto decorra
sem sobressaltos. Depois de Luanda, a província é a segunda em termos de
densidade populacional. Por isso, é preciso que canalizemos com urgência
os projectos que aqui forem direccionados”, finalizou.

74 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO | manuela bártolo

crédito ono Mercado de emissões


como motor de progresso
económico

ao carb

Os executivos devem estar atentos às potencialidades que as no-


vas políticas ambientais propiciam aos seus negócios

As alterações climáticas são diferentes de to- a acção empresarial sobre as alterações cli- apenas compensariam em cenários mais ex-
dos os outros desafios ecológicos ou de saú- máticas. Mas o ‘cap and trade’ por si só será tremos (e pouco prováveis). A tecnologia de
de pública que as democracias alguma vez insuficiente, por duas razões. Primeiro, ten- fixação de carbono actualmente disponível,
enfrentaram. A escala do problema ao longo do em conta as tecnologias actuais, o preço por exemplo, faz sentido apenas quando os
do tempo e espaço, as suas causas versáteis dos créditos de CO2 precisaria primeiro de su- preços dos créditos de CO2 estão extrema-
e complexas, o enorme custo de o abordar (e bir a níveis politicamente insustentáveis para mente altos; o desenvolvimento de fábricas
o custo ainda maior de o ignorar) – tudo is- atingir as reduções de emissões que a maio- convencionais a carvão só funcionaria finan-
so desafia a nossa intuição. E esta enorme ria dos cientistas acredita serem necessárias ceiramente se não existissem limites de CO2.
complexidade irá confrontar os executivos à para evitar danos irreparáveis no ambiente. Uma avaliação lúcida aos pontos fortes e aos
medida que estes começarem a contemplar Segundo, muitas das medidas mais podero- limites de um sistema ‘cap and trade’ suge-
o que as realidades das políticas climáticas sas para reduzir as emissões envolvem infra- re uma via estratégica mais evolutiva para os
significarão para os seus negócios. Muita estruturas novas, padrões técnicos novos, produtores energéticos e industriais.
da discussão actual entre os líderes empre- planeamento regional e pesquisas básicas
sariais e políticos envolve pormenores sobre – domínios nos quais os preços e os merca- A regulação do carbono será
como aplicar um sistema de ‘cap and trade’ dos, por si, são inadequados. A natureza das
inesperadamente complexa e
com base no mercado. Isto, claro, é o esque- alterações climáticas, assim como as realida-
ma em que os reguladores definem limites des do comportamento económico e político,
os líderes empresariais terão
de emissões e um sistema de créditos que tornam mais provável que no final seja usada de planear a sua abordagem
permite às empresas cumprirem esses limi- uma abordagem reguladora com várias fren- de modo adequado
tes – criando assim um incentivo para que es- tes – incorporando, mas não se limitando a,
tas encontrem as formas mais eficientes de abordagens baseadas no mercado. Apesar de CUSTOS E COMPLEXIDADES
reduzirem emissões pelos custos mais bai- ser impossível prever exactamente que for- As alterações climáticas são uma questão
xos. É claro que a maioria dos governos vai ma terá este conjunto de políticas públicas e inerentemente complicada para se compre-
acabar por se convencer principalmente, ou privadas, as possibilidades mais realistas es- ender. Primeiro há a amplitude do proble-
até exclusivamente, neste tipo de aborda- tão hoje em enfoque. Infelizmente, algumas ma. Sob os cenários “do costume”, em que as
gem concentrada no mercado e isso propor- empresas, ao planearem um futuro “pós-car- emissões de carbono continuam a subir (ou
cionará um contexto nacional e global para bono”, estão a apostar em estratégias que até a estabilizar), calcula-se que o custo total

76 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


dos danos relacionados com as alterações cli- temos uma ciência imperfeita que se desen-
máticas ao longo dos próximos dois séculos volve rapidamente e ao mesmo tempo pers-
seja “equivalente a uma redução média no pectivas muito partidárias. As questões da
consumo global per capita de pelo menos 5%, equidade (como por exemplo se as nações
agora e para sempre” e 20% nos países mais ricas ou pobres deverão pagar ou se as in-
vulneráveis (a fonte destes cálculos está no certezas actuais justificam que paguem as
relatório de 2007 de Nicholas Stern intitula- futuras gerações) abundam. Os esforços pa-
do The Economics of Climate Change e publi- ra estabelecer taxas de juro apropriadas pa-
cado pela Cambridge University Press). Estes ra uma análise custo/benefício de políticas
custos podem ser mitigados, mas apenas se alternativas acabam enredados no que pare-
as emissões do sector energético forem cor- cem ser contradições irreconciliáveis. Apesar
tadas em 60 a 75% e sejam realizados cortes das muitas complexidades desta questão, o
extensivos nas emissões dos transportes. apoio público a acções que combatam as al-
Até as melhores abordagens podem exigir bi- terações climáticas é vasto e está a crescer.
liões de euros na sua implementação. Para a Muitas nações já adoptaram limites obriga-
maioria das pessoas, estes números são tão tórios às emissões de CO2; o mesmo fizeram
grandes que acabam por perder significado. muitos estados, cidades e empresas no mun-
O problema na forma de abordar as altera- do industrializado. O debate sobre o sistema OLHAR SOBRE ÁFRICA
ções climáticas é igualmente intrigante, em ‘cap and trade’ em particular está a passar do O comércio de carbono pode-
parte graças à cadeia difusa de causalidade e “Devemos fazê-lo?” para as múltiplas ques- se converter numa garantia de
aos atrasos envolvidos. As emissões que en- tões que envolvem o “Como fazê-lo?”. E aqui, segurança alimentar em África,
tram na atmosfera hoje podem ter impactos mais uma vez, há desacordos: em relação à se a comunidade internacional
insignificantes a curto prazo, mas contribuir percentagem dos direitos às emissões que
reconhecer que a agricultura
directamente para níveis perigosos de gases devem ser dadas às empresas em oposição
sustentável e a preservação das
com efeito de estufa (GEE) daqui a cem anos à percentagem que deve ser leiloada; em re-
florestas contribuem para minimizar
ou mais. As melhores respostas tecnológicas lação à velocidade e severidade das reduções
ainda não estão disponíveis comercialmente nas emissões; em relação ao uso apropriado a mudança climática. O continente
e por isso não sabemos quanto vai custar a dos procedimentos por parte dos governos. é responsável por apenas 3,8% da
sua implementação. E a variedade de activi- Em geral, estes debates reduzem-se a uma concentração de gases causadores
dades humanas que resultam em emissões questão de distribuição: se os pormenores da do efeito de estufa, mas será a região
apresenta os seus próprios desafios. distribuição devem ser definidos para favo- mais prejudicada do planeta. A
recerem geografias em particular (áreas de- África deve utilizar o comércio de
As questões de igualdade, co- pendentes do carvão versus áreas receptivas carbono para conseguir a segurança
mo por exemplo se as nações a moinhos de vento), sectores em particular alimentar em risco. No contexto do
pobres deverão pagar ou se as (produtores que precisam de mais energia mercado de carbono estabelecido
versus sectores de serviços) ou tipos de em-
incertezas actuais justificam no Protocolo de Quioto, as empresas
presas em particular (empresas de energia
que paguem as futuras gera- que superam os seus limites de
eléctrica com grandes portefólios nucleares
ções, abundam e renováveis versus empresas com mais uni-
emissões de GEE podem investir em
dades movidas a carvão). Contudo, a qualida- projectos limpos, enquanto ganham
A chuva ácida foi reduzida significativamente tempo para reduzir a sua própria
de acalorada destes debates pode obscurecer
com o ‘cap and trade’, mas foi principalmen- contaminação. É aí que entram os
uma questão mais fundamental relacionada
te causada pelas emissões de dióxido de en- pequenos agricultores africanos. Se
com a natureza dos próprios mercados.
xofre e de óxido nitroso, ambas de centrais
forem reconhecidas a importância do
eléctricas alimentadas a carvão; as emissões
No mundo real, o esquema de cultivo sustentável e a preservação
de GEE vêm de várias actividades e sectores
da economia. Nenhuma fonte única de car-
troca de emissões da União das florestas, os contaminantes
bono atmosférico representa mais de 30 ou Europeia passou por uma vo- dos países ricos poderão comprar
40% do total. Em vez disso, o único consen- latilidade. Os impostos sobre o créditos de carbono aos camponeses
so actual sobre soluções parece ser que não carbono são vistos em geral co- deste continente. Dessa forma, o
há uma fórmula mágica. E, claro, toda a dis- mo um fracasso político mercado global de carbono cresce.
cussão está a ter lugar numa altura em que

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · ANGOLA’IN | 77


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

sabia que…
O sistema ‘cap & trade’ funciona como algo similar a um mercado de créditos de car-
bono. O governo estabelece limites de emissão; quem se mantiver abaixo do limite
pode vender créditos; quem precisar emitir acima do limite terá de comprar créditos.
Esta é uma opção para sistemas ambientalmente mais desgastantes, como, por exem-
plo, os EUA, que tem prevista a tributação das emissões ou a proibição de emissão
acima de determinados patamares. O ‘cap and trade’ não deixa de ser controverso,
AS OMISSÕES NO MERCADO DE EMISSÕES mas tem vindo a encontrar cada vez mais adeptos, inclusive entre ambientalistas
Winston Churchill afirmou que a democracia
era o pior sistema político, exceptuando to-
dos os outros. Pode dizer-se algo semelhante
sobre o uso dos mercados de ‘cap and trade’
para reduzir os gases com efeito de estufa.
Os mercados podem ser imperfeitos e estar
incompletos, mas todas as alternativas (pe-
lo menos individualmente) são piores. A re-
gulamentação clássica de “ordem e controlo”
pode ser ineficiente e provavelmente intragá-
vel em termos políticos. Os impostos sobre baixo, as pessoas se mostrem relutantes pe- outras oportunidades para melhorar a efici-
o carbono são vistos em geral como um fra- rante a ideia de um aumento nos impostos. ência energética, apesar de essas soluções
casso político pelo menos nos Estados Uni- Mas os inquiridos que são ambientalmente serem economicamente atractivas aos pre-
dos. E ficar de braços cruzados, pelo menos e socialmente progressivos de locais como o ços actuais. O hábito, a ignorância e a incon-
a nível empresarial ou nacional, é uma pro- nordeste e o noroeste dos EUA também não veniência servem como barreiras resistentes
posta demasiado arriscada. Como referido se sentem inclinados a pagar um preço mais à mudança de comportamento, independen-
anteriormente, os regimes ‘cap and trade’ fo- alto pela electricidade ou pelo combustível temente dos incentivos. Outra falha dos sis-
ram aplicados com grande sucesso na regu- para transportes, mesmo depois de ficarem tema ‘cap and trade’ é a sua dependência por
lação da chuva ácida, com início em 1989. Os a saber que isso iria reflectir a necessidade incentivos pecuniários – os quais têm um his-
regimes reguladores existentes na Europa, de reduzir as emissões de carbono. Em vez torial pobre na influência de certos tipos de
no nordeste dos EUA e na Califórnia estão a disso, a pesquisa mostrou que os consumi- comportamentos humanos. Vejamos os mi-
usar abordagens semelhantes. Os benefícios dores dos EUA e de todas as cores políticas lhões de pessoas que decidem dar sangue,
destes regimes com base em mercados, em acreditam que os outros (nomeadamente os fazer trabalho militar voluntário em tempos
comparação com mandados quantitativos ou grandes negócios) deveriam desembolsar os de guerra, perder algum tempo com as co-
tecnológicos, são bem conhecidos. Os mer- custos. Isto sugere que as tentativas de im- munidades locais e separar voluntariamente
cados criam sinais de preços que permitem pingir o aumento nos preços aos consumido- todas as semanas o lixo reciclável. A sensa-
que milhões de escolhas descoordenadas se- res para reduzir as alterações climáticas seria ção de auto-satisfação ou a aprovação ou a
jam direccionadas para a redução do carbono, politicamente insustentável, talvez até redu- recriminação social podem funcionar onde
apresentando ao mesmo tempo inovações zindo a boa vontade geral que actualmente os mercados não funcionam – ou onde es-
tecnológicas e empresariais, sem a neces- apoia as acções contra as alterações climá- tes são vistos como socialmente inapropria-
sidade de um controlo centralizado. Mas as ticas. Infelizmente, os preços da energia sob dos. O mesmo parece acontecer no caso das
desvantagens da utilização de mercados na a maioria dos sistemas ‘cap and trade’ e dos atitudes populares em relação às alterações
redução de emissões não podem ser ignora- sistemas de trocas não serão suficientemen- climáticas. Cerca de 80% dos inquiridos pe-
das. Primeiro, e antes de mais, como mostrou te altos para fazer com que os consumidores la Booz & Company afirmou que pagaria um
um inquérito recente da Booz & Company aos dêem os passos necessários para mitigarem preço substancialmente mais alto pelas su-
consumidores dos EUA, muitas pessoas não as alterações climáticas. E as provas suge- as próprias soluções renováveis, mas que não
estão preparadas para os preços que teriam rem que, não importa quão altos fiquem os pagaria uma pequena percentagem dessa
de pagar pela energia com um regime ‘cap preços da energia, mesmo assim serão moti- quantia por um preço mais alto na energia.
and trade’. Não surpreende assim que no cen- vadores insuficientes por si só. Por exemplo, Por exemplo, a maioria dos inquiridos revelou
tro e sul dos EUA, onde o preço da electricida- muitas pessoas continuam sem aproveitar o que preferia instalar um painel solar em casa
de permaneceu igual ou caiu em termos reais isolamento das suas casas, a climatização (a do que pagar um ligeiro aumento na conta da
no espaço de duas décadas e onde o apoio po- modificação de edifícios para os tornar me- electricidade para reflectir o custo da redução
lítico à abordagem às alterações climáticas é nos vulneráveis ao calor, frio e humidade) e no carbono. Por fim, como a crise no sector

78 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

financeiro da segunda metade de 2008 nos acrescentar outros instrumentos políticos


relembrou, os mercados livres nem sempre veneráveis ao sistema ‘cap and trade’. Algu-
Tome nota
dirigem as pessoas a escolhas ideais ou apro- mas iniciativas para as alterações climáticas
priadas. Nos mercados energéticos em geral, já seguem a abordagem denominada “cin- Os mercados de carbono são um
a capacidade dos preços para fornecerem in- to e suspensórios” (em que há mais de uma mecanismo previsto no Protocolo
formações úteis é comprometida pelas falhas abordagem para o mesmo problema). Por de Quioto da Convenção das Nações
temporais e pela enorme escala dos investi- exemplo, o Global Warming Solutions Act da
Unidas sobre Mudança Climática,
mentos, típicos neste sector de capital inten- Califórnia, de 2006, estabeleceu um progra-
sivo. As simulações recentes levadas a cabo ma de referência para as alterações climáti- segundo o qual países e empresas,
pela Booz & Company sobre as possíveis im- cas que junta os mecanismos reguladores especialmente do sector da energia,
plicações de um regulamento climático para e de mercado com o objectivo de reduzir as podem adquirir o direito de emitir
o sector eléctrico dos EUA (com executivos lí- emissões de GEE para apenas 20% dos níveis
gases de efeito estufa em troca
deres de empresas de utilitários e de petró- de 1990 em 2050. Como os transportes con-
leo e gás e outros participantes) sublinharam tribuem 39% para as emissões brutas de GEE, de financiamento de projectos
esta questão. Tal como no mundo real, até os esse sector tornou-se um alvo importante. A que minimizem o fenómeno
peritos mais experientes falharam na previ- Califórnia usa uma mistura de políticas, in-
são das consequências das escolhas uns dos cluindo a eficiência de veículos e padrões de
outros. O resultado foi uma onda geral de de- quilometragem, mandatos para níveis bai-
sinvestimento e depois um excesso de inves- xos de carbono nos combustíveis para trans-
timento na nova geração de energias, com o portes e uma transição de gasolina e gasóleo ís já tem a percentagem mais alta de capaci-
preço das emissões a subir a níveis muito al- para combustíveis alternativos e renováveis. dade eólica instalada no mundo). Além disso,
tos antes de caírem e chegarem quase a ze- Além disso, o estado oferece 90 milhões de o governo vai implementar um pacote de po-
ro. No mundo real, o esquema de troca de euros todos os anos em concessões, emprés- líticas de redução de emissões, assim como
emissões da União Europeia passou por uma timos rotativos, garantias de empréstimos e 14 novas leis e regulamentos concebidos pa-
volatilidade semelhante. Este padrão pode outras medidas para desenvolver e usar tec- ra encorajar os negócios que conservam ener-
facilmente reaparecer no mercado de ‘cap nologias automóveis e combustíveis. A Cali- gia. E ao dar centenas de milhões de euros
and trade’ dos EUA. fórnia também quer aumentar a produção de em subsídios para encorajar os proprietários
electricidade a partir de recursos renováveis de edifícios e de casas a instalarem sistemas
Muitas nações já adoptaram li- em 33% até 2020, através de uma combina- de aquecimento eficientes, o governo alemão
mites obrigatórios às emissões ção de padrões para edifícios e aplicações e espera aumentar a eficiência energética dos
de CO2; o mesmo fizeram mui- programas fornecidos por empresas públicas, edifícios. Tendo em conta a novidade, com-
governos locais, organizações comunitárias plexidade e escala do desafio, os governos
tos estados, cidades e empresas
e o sector privado. Formaram-se subgrupos irão indubitavelmente passar por várias abor-
no mundo industrializado
Climate Action Team em sectores como a dagens. Contudo, ao longo do tempo acaba-
agricultura, silvicultura e energia para iden- rão por gravitar na direcção de políticas que
O QUE PODEM FAZER OS LÍDERES tificarem e analisarem medidas de forma a reflectem as realidades subjacentes da redu-
POLÍTICOS? reduzir as emissões. O uso de terras e as polí- ção de emissões, das políticas nacionais e lo-
No final, a natureza multifacetada das alte- ticas agrícolas também estão incluídas neste cais e da economia. Isso quase de certeza que
rações climáticas e as mudanças exigidas no portefólio robusto. Do outro lado do Atlânti- significa, no fundo, que a paisagem regulado-
comportamento e no investimento necessá- co, o governo alemão implementou um plano ra irá reflectir estes três princípios gerais:
rio para lidar com elas fazem com que qual- semelhante para uma redução de 40% nas
quer abordagem que dependa apenas do emissões de GEE do país até 2020. O plano, O debate sobre o sistema ‘cap
programa ‘cap and trade’ seja problemática. que afecta sectores como o da agricultura e and trade’ em particular está a
O que podem então fazer os líderes políticos? transportes, também exige que a electricida- passar do “Devemos fazê-lo?”
Em vez de colocarem um peso excessivo em de produzida na Alemanha a partir de fontes para as múltiplas questões que
cima das frágeis instituições de mercado, vão renováveis seja de 25% a 30% em 2020 (o pa- envolvem o “Como fazê-lo?”

80 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


1.soluções “low-cost”
As fontes mais acessíveis para a redução das emissões de GEE são, de longe, a melhoria
da eficiência energética e programas de conservação de terrenos e reflorestação; foi essa
a experiência de dezenas de empresas e de governos de todo o mundo. No passado, as op-
ções mais bonitas e com custos mais altos, como o solar fotovoltaico e as tecnologias de
“carvão limpo”, receberam mais atenção e fundos. Isso vai mudar à medida que os acordos
de custo/benefício favorecem essas medidas como padrões de eficiência para edifícios e
produtos electrónicos. A automatização também ajudará a reduzir as barreiras comporta- FAZER APOSTAS ACERTADAS
mentais ao proporcionar maiores poupanças através da eficiência energética. Por exemplo, Se as políticas públicas forem desenvolvidas
as tecnologias avançadas de controlo, juntamente com os dados sobre preços em tempo desta forma, então o caminho é claro para
real e as trocas de informações possibilitadas por sistemas de redes inteligentes, farão com os líderes empresariais no sector energéti-
que os aparelhos “decidam” quando reduzir a carga como uma função das condições da re- co e industrial. Não vale a pena apostar em
de geral de electricidade (o que por sua vez incorpora os preços do carbono). A opção mais projectos que só compensam com um preço
acessível para reduzir emissões em termos de custos irá muitas vezes variar consoante a muito alto de CO2. Por exemplo, com as tec-
geografia e o estado do desenvolvimento económico local. Um estudo de 2008 do World nologias actuais, a fixação de carbono só é
Wildlife Fund e da Booz & Company revelou que as fontes mais significativas de emissão financeiramente viável se o preço do CO2 se
mudam bastante ao longo do ciclo de vida de uma cidade ou região. Durante as primeiras mantiver aproximadamente acima dos 50
fases do desenvolvimento económico, a maior redução acontece na concepção de novas euros por tonelada. Por outro lado, uma es-
infra-estruturas para transportes e comunicações de forma a apoiar uma habitação densa tratégia de status quo que dependa da “li-
e uma banda larga (a ligação à internet pode reduzir as viagens para o trabalho e outras via- berdade” das emissões de carbono (como a
gens e possibilita um uso mais inteligente de energia dentro dos edifícios). Para as cidades estratégia da geração que dependia tradi-
mais estabelecidas com um crescimento mais lento, as fontes mais eficazes de redução de cionalmente do carvão) também é arriscada.
emissões são as alterações no fornecimento de electricidade e a eficiência energética. As maiores oportunidades para investimento
serão as transformações holísticas em infra-
2. mercados aerodinâmicos estruturas urbanas ou regionais onde os sis-
A concepção de mercados de emissões de carbono ainda está em desenvolvimento. Uma temas de energia, transportes, saneamento
das tendências mais importantes, por exemplo, é o movimento para incorporar “compen- e telecomunicações são vistos como estando
sações” como as florestas, as quais têm um papel enorme na redução de CO2 mas nem interligados e o desenvolvimento financeiro,
sempre são aceites como viáveis num programa de trocas. Outro desenvolvimento provável de construções e tecnológico e o design so-
será a criação de mecanismos que reduzam a volatilidade dos preços. Por exemplo, certos cial são concebidos em uníssono. Muitas das
líderes podem aplicar nas alterações climáticas alguns dos princípios que William Hogan, discussões sobre a soluções baseadas em
professor em Harvard, propôs para o controlo dos mercados de electricidade. mercados são demasiado optimistas ou de-
masiado pessimistas. Essas discussões igno-
3. um compromisso a longo prazo ram ou subvalorizam os custos ou insistem
Até agora, os governantes de muitos países, incluindo dos EUA, não forneceram as condi- que os custos são demasiado grandes para
ções estáveis e a longo prazo para que as novas tecnologias florescessem. No coração da qualquer acção. A melhor resposta empresa-
redução de GEE estarão escolhas corporativas sobre quais os projectos a apoiar, os quais rial envolve uma análise aos pontos fortes e
envolvem biliões de euros e várias décadas para implementar. Infelizmente, as empresas aos limites das opções disponíveis, à luz da
que querem investir em tecnologias limpas enfrentaram uma paisagem reguladora impre- complexidade do ambiente regulador, políti-
visível e inconstante. Os subsídios param e começam. As leis mudam. Sem um compro- co e social emergente. Idealizar um mundo no
misso correspondente por parte dos seus homólogos políticos, os líderes empresarias não qual a sociedade usa várias ferramentas para
conseguem prometer o capital necessário para transformar o sector ao longo do tempo. abordar o problema das alterações climáticas
Comparemos o destino do sector da energia eólica dos EUA com o do sector da energia (incluindo padrões, programas de pesquisa,
solar fotovoltaica no Japão e Europa. Nos EUA, o investimento na energia eólica tem de- subsídios e interdições, além dos mercados
pendido de um “crédito fiscal de produção” fornecido pelo governo, o qual foi oferecido e de carbono) abre uma vaga muito maior de
retirado numa série de “pára e arranca” ao longo dos últimos anos. Mas o mecanismo pa- oportunidades novas do que as estratégias
ra subsidiar o sector da energia solar fotovoltaica no Japão, Alemanha e noutros locais foi limitadas (apesar de meritórias) que actual-
explicitamente concebido para durar. Os subsídios diminuíram de uma forma lenta e cui- mente são seguidas. O carvão limpo, a gera-
dadosamente planeada, criando assim incentivos para os produtores fornecerem a preços ção renovável e afins são apenas a ponta do
reduzidos através do aumento de escala, aprendizagem e inovação. A resultante melhoria icebergue “pós-carbono”. São as acções sob a
nos custos e o crescimento do sector seguiram-se previsivelmente. Nos EUA, a mudança superfície (mudanças comportamentais, efi-
na regulamentação contribuiu para um aumento drástico no custo dos projectos, enquanto ciências, inovação incremental, concepção de
que em França, um ambiente regulador mais estável possibilitou um crescimento rápido e infra-estruturas e boas práticas de gestão)
custos de projecto mais baixos. que acabarão por ter o impacto maior.

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · ANGOLA’IN | 81


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO | patrícia alves tavares

império
das quatro
rodas
sabia que...
O BMW X6, orçado em cerca de USD
120 mil, foi fabricado de acordo com as
estradas, o combustível e o clima angolano

É a outra face da recuperação finan- vertente de produção interna avança timida- reduzindo a excessiva dependência da activi-
ceira. Apesar das estradas débeis e das mente e começa a dar os primeiros passos, dade petrolífera e diamantífera e relançando
reduzidas infra-estruturas rodoviá- com a entrada em funcionamento da primei- a economia nacional, através de reequilíbrio
rias, os automóveis proliferam no país, ra grande fábrica. A elevada procura deste da balança comercial (reduzir as importações
mostrando que este nicho de mercado produto, tão apreciado pelos angolanos, tem e fomentar as exportações).
é um mundo de possibilidades para os levado os fabricantes internacionais a investir
investidores, uma vez que as condições no território nacional, onde é mais fácil res- O crescimento da economia
de produção automóvel são ainda mui- ponder às necessidades dos clientes. Com angolana proporciona novas
to imberbes e a procura de viaturas de uma produção forte, será possível responder oportunidades de negócios
gama alta fez disparar as importações. com rapidez e eficiência aos pedidos, melho-
As empresas de renome internacional rar o serviço pós-venda e de distribuição de CRESCIMENTO CONSOLIDADO
aproveitam para explorar este sector al- peças. Além do mais, o país encaminha-se A importância estratégica do sector contribui
tamente lucrativo e que pode funcionar para a concretização da meta de combate à para que este se assuma como intervenien-
como alavanca do desenvolvimento in- pobreza, através da criação de postos de tra- te directo, possibilitando a concretização de
terno, numa altura em que se procura balho. O crescimento da economia angolana bons negócios. Nos últimos quatro anos, a
diversificar a produção nacional. proporciona novas oportunidades de negó- área cresceu 60 por cento. Com importações
cios e permite a consolidação de segmentos, anuais que ultrapassam as cem mil viatu-
O sector automóvel tem um largo mercado que ao longo dos anos de guerra enfrentaram ras, a evolução deste ramo tem acompanha-
de clientes e uma infinidade de potencialida- dificuldades de afirmação no país. Porém, ac- do o desenvolvimento financeiro. Relatórios
des. Nos últimos anos, tem assumido um pa- tualmente estes sectores registam elevadas da especialidade referem que entre 2005 e
pel preponderante, fazendo parte dos hábitos taxas de crescimento. É o caso do ramo au- 2006, o segmento, representado pelas con-
do angolano do século XXI. A actividade vive tomóvel, que exemplifica o ‘boom’ económico cessionárias, cresceu em média 59 por cen-
essencialmente das importações, em que as que se tem verificado na nação africana. No to. No ano seguinte subiu para 79 por cento
marcas de reconhecida qualidade estão im- âmbito da reconstrução nacional, o Executi- e em 2008 evoluiu cerca de 32 por cento. No
plantadas no país há alguns anos e têm di- vo de José Eduardo dos Santos procura apoiar último ano, a marca Toyota de Angola foi lí-
ficuldades em responder à crescente procura, todas as áreas, para levar a bom porto a po- der de vendas, escoando quase duas mil via-
que aumenta anualmente. A nível nacional, a lítica de recuperação da produção nacional, turas. O segundo concessionário que mais

82 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


vendeu foi a Cosal, representante da marca BMW VENDEU 1,5 lar postos de venda a nível nacional e inter-
Hyundai, seguindo-se a Angolauto e a Luso- MILHÕES DE CARROS nacional, bem como dar assistência e adaptar
landa, ambas embaixadoras da Suzuki. Os automóveis. No total, serão criados 680 pos-
angolanos são apaixonados pelos automó- A marca alemã tem fechado os tos de trabalho directos em diferentes espe-
veis, tendo preferência pelos carros das me- últimos anos com saldo positivo e cialidades, 510 dos quais para funcionários
lhores marcas internacionais, que oferecem angolanos. Os promotores do projecto são
tem como meta a curto prazo tornar-
inovação tecnológica e conforto. Também as empresas britânicas Pearkbright Interna-
se num dos líderes do mercado
o mercado de importadores paralelos, se- tional Limited (cinco por cento do capital so-
angolano na venda de viaturas. Para
gundo a Associação dos Concessionários de cial) e a Powerquest International Limited (95
Transportes Rodoviários, tem assistido a um tal, abriu em 2008 uma representação por cento do capital). Cada viatura deverá ter
acréscimo na procura de viaturas pesadas, oficial da marca em Luanda, para um preço médio de 26 mil dólares, sendo que
nomeadamente jipes e carrinhas, em que a comemorar os resultados do último o mais barato custará 24 mil e o mais caro
preferência vai para os produtos chineses, ano, em que registou um volume de 32 mil dólares. No final de 2009, os primei-
que custam entre 20 e 24 mil dólares. Ape- vendas na ordem do milhão e meio ros automóveis fabricados em território an-
sar dos elevados preços do combustível, o fo- de automóveis. O espaço BMW em golano deverão chegar ao mercado nacional.
mento do poder de compra e a possibilidade Angola está dotado de uma oficina Nesse âmbito, 45 profissionais já receberam
de adquirir crédito automóvel junto da banca de apoio equipada com tecnologia formação em vários domínios da mecânica,
são as bases do desenvolvimento do sector. de última geração e de uma loja de na China. O responsável pelas Vendas e Ma-
A mudança de atitude e cultura dos clientes rketing da CSG Angola, Wu Hu Ming, afirmou
venda de peças, num investimento de
tem desencadeado a procura de viaturas no- recentemente que o mercado se revela bas-
12 milhões de dólares. O fabricante
vas. Os modelos adaptados ao clima e às ca- tante favorável para os investidores, visto
alemão inaugurou no mesmo local
racterísticas do país têm sido responsáveis que a unidade industrial ainda não arrancou e
por esta opção, levando os angolanos a pre- um estaleiro e um centro de formação, já estão encomendadas 2.800 viaturas, o que
terir os carros usados. Por outro lado, a dura- que desde então tem dotado os jovens ultrapassa a produção de um mês, estimada
bilidade e o facto de as viaturas chegarem ao angolanos das capacidades técnicas em 2.500 automóveis. A fábrica será dotada
país completas (evitando-se o roubo de pe- necessárias para trabalhar no ramo. de tecnologia japonesa.
ças) também pesam na escolha. Aliás, a pro- Recorde-se que a marca entre 2007 e
cura de automóveis novos é tão intensa, que 2008 registou um volume de negócios Com competência para
as concessionárias, representantes oficiais de 56 milhões de euros fabricar dez mil automóveis
das marcas mais vendidas, não conseguem de vários modelos por ano,
satisfazer todos os pedidos. Em média os
a CSG terá capacidade para
clientes esperam dois meses para receberem
produzir 32 mil carros por
os modelos dos seus sonhos, devido às cons- ra vai criar na economia angolana um valor
tantes rupturas de stock. A demanda exces-
ano até 2016
acrescentado médio anual na ordem dos Usd
siva tem originado algumas complicações ao 18.520.530. A fábrica de automóveis CSG, im-
nível do serviço pós-venda, situação que tem plantada no município de Viana (Luanda), vai ANGOLA, SÍMBOLO DE CONFIANÇA
merecido a atenção dos representantes das produzir viaturas de todo o género, desde je- A crise financeira internacional tem abalado
marcas, que têm apostado na melhoria das eps e carrinhas até autocarros de pequeno, a confiança dos consumidores e investidores,
infra-estruturas e respectivos serviços. médio e grande porte, bem como acessórios. que arriscam menos. O mercado angolano, por
A fábrica, no valor de 21,4 milhões de euros, seu lado, garante confiança, devido à estabili-
A marca Toyota de Angola surge no âmbito de uma iniciativa da Agên- dade económica dos últimos anos. Essa situ-
foi líder de vendas, escoando cia Nacional de Investimento Privado (ANIP). ação reflecte-se no sector automóvel, levando
quase duas mil viaturas Com aptidão para fabricar dez mil automó- as companhias internacionais a optar pelo
veis de vários modelos por ano, terá capaci- mercado africano, especialmente o angolano,
PRIMEIRA UNIDADE FABRIL dade para produzir 32 mil carros por ano até para alargar a sua área de actuação, encon-
O projecto foi aprovado em Julho e vem dar 2016. A infra-estrutura, cujo projecto de in- trando no país estabilidade e uma forte pro-
um novo fulgor ao sector, que se aventura vestimento privado foi entretanto aprovado, cura de automóveis, fruto das melhorias da
no mercado, com produtos ‘made in Ango- terá ainda a função de comercializar e alugar qualidade de vida das populações. De facto,
la’. A implementação da nova infra-estrutu- veículos. O plano tem como objectivo insta- a dinamização do sector tem incentivado os

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · ANGOLA’IN | 83


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO | patrícia alves tavares

investidores a estabelecerem parcerias, enca- APRENDIZAGEM NACIONAL A BMW arranca


rando Angola como parceiro económico, com A formação de quadros tem sido uma das este ano com
um sector cheio de potencialidades por explo- metas das grandes marcas, que se concen-
um centro de
rar. A indústria de automóveis joga um papel tram essencialmente em Luanda, o maior
fundamental no desenvolvimento económico, mercado consumidor. Segundo os operado-
formação, que
especialmente num momento em que se in- res, há falta de técnicos, nomeadamente formará técnicos
veste nas estradas, situação que tem levado mecânicos e electricistas. As novas fábricas informáticos,
as entidades a adaptarem as viaturas às ruas, e oficinas representam o fomento do mer- mecânicos,
com resultados animadores. cado de trabalho. No caso do Ingombota, os pintores e
cursos profissionais básicos de electricidade
manobradores de
CHINA LIDERA MERCADO ANGOLANO e mecânico-auto são os mais procurados. A
Já em 2006, o país asiático exportava mil ve- preferência por estas áreas revela a impor-
equipamentos
ículos de passageiros para Angola, movimen- tância e peso que este sector tem vindo a
tando valores na ordem dos 10,6 milhões de assumir. A BMW também arranca este ano
euros. O projecto partiu do governo chinês e com um centro de ensino, que formará téc-
marcou a sua entrada no mercado de exporta- nicos informáticos, mecânicos, pintores e
ção de carros para Angola, criando uma equipa manobradores de equipamentos. “A Sada-
específica para o efeito. A primeira acção ficou sa investe não só em infra-estruturas, mas
a cargo da Dongfeng Nissan, que produziu pela também no homem. Angola é um país gran-
primeira vez veículos completos e montados, de pelo que precisa de uma academia para a
direccionados para o exterior. A empresa, fruto formação de técnicos para atender as neces-
da parceria entre a Dongfeng Motors e a japo- sidades da BMW em Luanda e noutras cida-
nesa Nissan, aumentou entretanto a unidade des, para onde iremos expandir brevemente”,
de produção para fazer face às exigências do afirmou recentemente o gestor da marca. A
mercado angolano. Conhecidos por serem os implementação da produção nacional pode
mais avançados tecnologicamente e sempre contribuir para empregar jovens, que quan-
na vanguarda, os chineses estão em força no do terminam os cursos de aprendizagem não
mercado angolano. Em 2008, a Hipogest ar- conseguem montar a sua oficina, devido à
rancou com as negociações para a entrada de falta de espaço e de ferramentas, que são
uma terceira marca chinesa no ramo automó- muito dispendiosas.
vel, para juntar-se à BYD e Jin Bei.

CARRO ELÉCTRICO
CHINÊS EM 2009
Hipólito Pires, importador exclusivo
da BYD Auto para Portugal e Angola
está confiante no desenvolvimento
dos modelos híbridos e eléctricos do
construtor chinês BYD, acreditando que
as novas viaturas, menos poluentes,
devem ser comercializadas na Europa
ainda este ano. O responsável da
Hipogest acredita que a empresa chinesa
tem capacidade para substituir os
híbridos eléctricos a gasolina e tornar-
se num dos sistemas mais eficientes do
mundo. A aposta deste gestor centra-se
no lançamento das marcas chinesas em
Angola, uma vez que os lóbis franceses e
alemães limitam a homologação destes
veículos em Portugal. O gestor é ainda
importador da BMW e está a negociar a
entrada de uma terceira marca chinesa,
no mercado nacional

84 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


VIDRO... É FVK
FÁBRICA DE VIDRO DO KIKOLO

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DESPORTO · ANGOLA’IN 93
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DESPORTO | patrícia alves tavares

Há crise
no desporto?
O marketing é ferramenta essencial para o sucesso do desporto.
O poder das marcas, que investem nos atletas e clubes, as
receitas publicitárias, de merchandising e direitos televisivos,
os patrocínios e prémios são os motores de todos os sectores de
negócio e o desporto não é excepção. Estes factores são decisivos
para manter a máquina em funcionamento. Mas o marketing
desportivo não se resume apenas ao futebol. Movimenta todas
as modalidades, em que a Fórmula 1, o ténis e o golfe geram
lucros, que ultrapassam o imaginável.

Num período em que a crise financeira mun- ros para renovar a equipa para a época 2009/ a Major League Baseball (Liga de Basquetebol
dial é tema de conversa diária, existe um sec- 2010. Contudo, se os valores movimentados americana) com 2,8 biliões de euros e a NBA
tor da economia que não parece sofrer dos neste meio são considerados para além do ra- (Liga de Basquetebol), com 2,4 biliões de eu-
males internacionais, representando um nicho zoável, o futebol europeu não é a marca des- ros. A Fórmula 1 vale 1,7 biliões de euros.
de mercado que vive num tempo e realidade portiva mais valiosa. A Sport Magazine revelou
próprios, onde as transferências milionárias recentemente que a Fórmula 1 é, em valor, uma
fazem corar os mais cépticos. Veja-se o caso das competições e modalidades com maior va- raio x
do futebol, cujo mercado das transferências lor comercial do mundo. A National Footeball TIGER WOODS É
foi notícia na imprensa mundial. Apenas o Re- League (futebol americano) ocupa o ranking O MAIS RENTÁVEL
al Madrid investiu cerca de 200 milhões de eu- da lista, com 3,2 biliões de euros. Seguem-se O desportista individual
mais cotado é o
quanto vale alonso? jogador de golfe Tiger
Os milhares de fãs compram tudo o que ele vende, o Woods, que ocupa o
11º lugar do ranking,
que leva as marcas a seguir Alonso para todo o lado.
encontrando-se à frente
da cotada Liga dos
Marcas que investem em Fernando Alonso: Campeões da UEFA.
Silestone (fabricante de superfícies de quartzo): 2.000.000 € O atleta deverá subir no
Bridgestone (Fabricante de pneus): 8.900.000 € ranking nos próximos
anos, graças aos
Renault (fabricante de automóveis): 100.700.000 €
lucros provenientes
Total (gasolina e lubrificantes): 23.240.000 € do desenho de novos
Viceroy (relógios): 2.000.000 € campos de golfe no
Universia (portal sobre universidades): 380.000 € mundo inteiro, o
que representa uma
Puma (roupa desportiva): 1.230.000 €
verdadeira mina de
ING (banco): 41.800.000 €
ouro para os mais
Mutua Madrileña (Seguros): 4.640.000 € cotados jogadores de
Pepe Jeans (roupa jovem): 6.200.000 € golfe da actualidade
Unicef: 0 €

86 | ANGOLA’IN · DESPORTO
por outro lado, que no Estoril Open, o lucro da
bilheteira corresponde apenas a dez por cento
da receita global. O restante é assumido pe-
los direitos de transmissão televisiva e pelos
patrocínios da empresa de telecomunicações
PT e do banco BES. Em termos de desportistas
individuais, é no golfe que surgem os atletas
‘MARCA’ FERRARI SUPERA FÓRMULA 1 uma marca com ‘alto perfil’ e capacidade fi- mundiais mais caros. A modalidade surge no
As grandes escudeiras como a Ferrari ou a nanceira para o desenvolvimento do projecto topo, graças a Tiger Woods.
McLaren investem anualmente 450 milhões da pequena equipa norte-americana.
de euros e pilotos de topo, como Fernando PARTICULARIDADES DESPORTIVAS
Alonso ou Kimi Räikkönen ganham 30 milhões A venda de Cristiano Ronaldo Os adeptos são factor determinante e a es-
de euros por época. Os patrocinadores também tratégia de gestão da marca tem que estar
por 94 milhões de euros ao Real
investem quantias exorbitantes, uma vez que adaptada à realidade de cada país, aos valores
Madrid fez agitar os mercados,
este campeonato está no topo das audiências de cada clube e às necessidades dos seus se-
mas em termos de retorno guidores. Esta é a opinião da maior referência
televisivas internacionais, com uma base de
mediático global nenhuma mundial nesta matéria, William Sutton. O es-
fãs cada vez mais transversal em todo o mun-
do. O retorno para os patrocinadores é bastan-
marca, equipa, competição ou pecialista não tem dúvidas de que o marketing
te lucrativo. As estimativas realizadas no início jogador de futebol consegue desportivo é diferente de tudo, pois lida com
da temporada da F1 revelam que a competição suplantar a NASCAR e a Ferrari a imprevisibilidade e as emoções das pesso-
de alto nível é um mercado rentável. Analisan- as, o que traz proveitos. O segredo está em
do o valor de cada equipa no actual campeona- ELITES VALIOSAS concentrar-se nas extensões do produto, en-
to do ponto de vista comercial e patrimonial, Se o FIFA World Cup é o campeonato mais va- carando as novas tecnologias e as crianças co-
ou seja, os pilotos e respectivos contratos, os lioso, em termos de acontecimentos anuais, o mo aliados de peso na definição do marketing
preços dos patrocínios que angaria e o impacto torneio de ténis de Wimbledon surge em pri- de uma modalidade. William Sutton defende
dos direitos de transmissão televisiva, a Fer- meiro no ranking geral, avaliado em 900 mi- que o desporto será “um negócio de entrete-
rari ocupa o topo da lista, com 550 milhões de lhões de dólares. Os tenistas também possuem nimento”, pois “devido à situação económica
euros. Seguem-se a McLaren (400 milhões cotações altas. De uma maneira geral, um jo- que se vive, será mais visto como um negócio,
de euros), a Renault (280 ME), a BMW (230 gador não participa em mais de vinte torneios porque tem de fazer economicamente senti-
ME), a Toyota (225 ME) e a Williams (220 ME). anuais, apesar de se organizar mais de 60. Os do para os investidores e patrocinadores”. Em
Curiosamente, as equipas menos valiosas, em melhores atletas são os mais disputados e, entrevista à revista ‘Marketeer’, o gestor en-
termos comerciais, dominam actualmente as curiosamente, os que jogam menos. Tenistas tende que o bom profissional de marketing
corridas, pelo que o seu valor patrimonial é como Federer disputam obrigatoriamente os desportivo é o bom observador. “Se visitar a
agora superior. De acordo com a revista britâni- torneios essenciais. Os restantes não são ne- página da internet dos Phoenix Suns, uma
ca Sports Pro, a Ferrari é a sétima propriedade cessários e obviamente têm cotações. João equipa da NBA, vai ver um balneário virtual,
desportiva mais valiosa do mundo, com uma Lagos, mentor e responsável do Estoril Open, onde é possível encontrar diferentes tipos de
avaliação de 1,5 biliões de dólares. Aliás, a mar- em Portugal, conseguiu trazer a vedeta inter- produtos e ao clicar sobre esses produtos na-
ca de Maranello vale ainda mais que a própria nacional ao último evento (em 2008) e reco- vega directamente para a respectiva página
modalidade onde está inserida (F1) e que os nhece que não é fácil requisitar os tenistas de (ex. McDonalds, Coca-Cola, etc.) e pode com-
‘reis’ do futebol, o Manchester United e o Real topo. Tal implica um bom cachet e muita habi- prar o bilhete para o jogo já com uma bebida
Madrid. A venda de Cristiano Ronaldo por 94 lidade. Conseguir a participação de Federer nu- ou jantar incluído e depois no estádio é mui-
milhões de euros ao Real Madrid fez agitar os ma das competições fora do círculo obrigatório to prático para utilizar. Com isso, ganham mi-
mercados, mas em termos de retorno mediá- custa entre meio milhão e um milhão de eu- lhões de dólares. Viram uma oportunidade de
tico global nenhuma marca, equipa, competi- ros. No caso do Estoril Open, como não podia ganhar dinheiro e aproveitaram-na”, exempli-
ção ou jogador de futebol consegue suplantar aumentar o cachet, João Lagos propôs que dez ficou. A inclusão das mulheres no mundo do
a NASCAR e a Ferrari. O investimento de 250 por cento do mesmo fosse para uma funda- desporto é igualmente uma oportunidade de
mil dólares realizado para o GP da Austrália por ção que o atleta possui para ajudar crianças na mercado, uma vez que estas se interessam
Richard Branson na Brawn GP permitiu à mar- África do Sul. O responsável do evento admite, por diferentes partes do produto.
ca Virgin um retorno de dez milhões de dólares
em cobertura televisiva, relativamente a esse f1 perderá milhões
evento. A publicação “Sports Pro” calculou que
Se a FOTA abandonar o campeonato, a F1 perde 2,2 biliões de dólares em investimento,
a Brawn ocupou 42.38 minutos da transmis-
o que representa metade do total das receitas obtidas em 2008. Os valores dos contratos
são televisiva durante a qualificação e a cor-
televisivos podem passar para metade das quantias actuais, que chegam aos 550 milhões
rida e que durante esse período os logótipos
da Virgin estiveram ‘em exibição’ durante 8.56 de dólares. De facto, as próprias equipas ao dividirem-se ficam a perder, devido à quebra
minutos. Daí em diante, o contrato de 250 mil potencial das audiências televisivas. Se a FOTA fugir com todo o valor comercial da
dólares por corrida tem sido um negócio das disciplina para outra série, equipas como a BMW-Sauber, Brawn, Ferrari, McLaren,
arábias para Branson, patrão da Virgin. À pro- Red Bull e Renault podem estar de saída. “Estas equipas também gastam grandes
cura de um patrocinador principal, encontra-se montantes em alojamento e publicidade nas pistas. Por isso, a sua partida terá outros
a USF1, que tem tentado seduzir o You Tube, impactos nas receitas”, revela o relatório da Fórmula Money, citado pela Reuters

DESPORTO · ANGOLA’IN | 87
DESPORTO | patrícia alves tavares

Bola de ‘ouro’
A transferência mais cara da história do futebol agitou
os mercados e a sociedade. Cristiano Ronaldo vale 94
milhões de euros e é o jogador mais valioso do mundo.
A injecção de dinheiro fresco por parte do Real Madrid
e do Manchester City fez correr muita tinta, suscitando
comentários por parte dos analistas de futebol, que
consideram exageradas as quantias investidas pelos
clubes, numa altura em que a crise faz tremer todos
os sectores da economia e Michel Platini aconselhou
prudência nos investimentos. Enquanto as formações
regionais e com menos poder económico se vêm em
dificuldades para pagar aos atletas e assegurar a
permanência, os grandes da Europa demonstram que
nem tudo vai mal no futebol.

“Um espectáculo desportivo tem caracterís- vela que o futebol é mais que um desporto, surgem na lista com quatro equipas cada, en-
ticas únicas como a inconsistência e a im- é sobretudo um negócio, bastante rentável quanto França e Espanha têm apenas duas.
previsibilidade. São características que não para todos os envolvidos. O Manchester Uni-
existem em mais nenhum sector. Não se quer ted, o Real Madrid e o Barcelona são os mais MARCA DE QUALIDADE
que um carro seja imprevisível, não quere- valiosos. Analisando o estudo anual, efectua- O valor da marca (brand) de um clube é ac-
mos ir ao teatro ver o Hamlet e que toda a do pela consultora Brand Finance, as três for- tualmente o seu maior activo. Símbolo de
gente morra no fim, enquanto num evento mações valem no seu conjunto mil milhões grandeza desportiva e financeira, a marca
desportivo, um jogador pode marcar um go- de euros, onde o clube inglês lidera com 386 desperta o interessa das grandes empresas,
lo, na próxima semana pode marcar quatro milhões de euros. A avaliação, realizada com que estão sempre dispostas a apostar o seu
e na próxima talvez não marque nenhum”, base nas receitas oriundas da venda dos bi- capital em mercados que lhes gerem retorno
afirmou recentemente William Sutton. Não lhetes, do merchandising, dos patrocínios e através da publicidade. O relatório da Brand
é a marca comercial mais valiosa do mundo, direitos televisivos, define os Red Devils co- Finance, “Most Valuable European Football
mas encontra-se no “top ten” e desperta o mo uma marca “extremamente forte”. O va- Brands 2008” mostra que dos 20 clubes ava-
maior interesse da população. É a modalida- lor da equipa cresceu em 77 milhões de euros liados em 2.940 milhões de euros, cerca de
de que ocupa maior tempo de antena na co- relativamente ao ano anterior. Embora as du- 51 por cento desse mesmo valor diz respei-
municação social. O futebol vale 1,2 biliões de as marcas mais valiosas sejam espanholas, to aos cinco primeiros lugares. O actual cam-
euros, a Liga dos Campeões movimenta 787 a Liga Inglesa é a mais representada na lista peão europeu, Manchester United lidera a
milhões e os Jogos Olímpicos valem 744 mi- dos 20 mais importantes do mundo, contan- tabela, em que a marca “Man U” é conhecida
lhões de euros. A importância patrimonial re- do com sete clubes. As ligas alemã e italiana à escala global. A transferência de Cristiano

1. as 10 marcas desportivas mais valiosas 2. quais os clubes com maiores receitas?


O Valor das Marcas dos Clubes Europeus 2009 Deloitte - Football Money League 2008
CLUBE PAÍS VALOR CLUBE BILHETEIRA DIREITOS TV COMÉRCIO TOTAL
1. Manchester United Inglaterra 372.000.000 € 1. Real Madrid CF 82.2 132.4 136.4 351.0
2. Real Madrid Espanha 339.000.000 € 2. Manchester United FC 137.5 91.3 86.4 315.2
3. Barcelona Espanha 300.000.000 € 3. FC Barcelona 88.6 106.7 94.8 290.1
4. Bayern Munich Alemanha 279.000.000 € 4. Chelsea FC 110.7 88.5 83.8 283.0
5. Arsenal Inglaterra 227.000.000 € 5. Arsenal FC 134.6 65.8 63.5 263.9
6. Chelsea Inglaterra 203.000.000 € 6. AC Milan 28.6 153.6 45.0 227.2
7. AC Milan Itália 174.000.000 € 7. FC Bayern Munchen 54.9 61.2 107.2 223.3
8. Liverpool Inglaterra 153.000.000 € 8. Liverpool FC 57.1 77.5 64.3 198.9
9. Inter Milan Itália 113.000.000 € 9. FC Internazionale 29.8 128.0 37.2 195.0
10. Juventus Itália 105.000.000 € 10. AS Roma 24.0 54.0 29.1 157.6

Fonte: Brand Finance Valores em milhões de euros

88 | ANGOLA’IN · DESPORTO
Ronaldo para o Real Madrid pode alterar o CONTRATAÇÕES MILIONÁRIAS cada, convidando empresas potencialmente
‘ranking’, recolocando a formação espanhola No marketing desportivo, não são apenas as interessadas em patrocinar o clube a comprar
na liderança. “Se o estudo fosse feito no final SAD e os clubes que lucram. Os jogadores são as que desejar. A entidade sorteada associará o
do ano, é natural que o Real Madrid altere a peça-chave nesta estrutura de aquisição de lu- seu nome e marca ao nome do estádio (méto-
sua posição”, pois “os jogadores levam todo cros. Bons salários e um nível de vida muito aci- do da Liga de Rugby Inglesa);
um conjunto de merchandising atrás”, expli- ma da média ocupam os sonhos da maioria dos 2) pode, à semelhança da Liga de Futebol Ame-
cou Pedro Tavares da Brand Finance. O Real jogadores, que sonham chegar à liga inglesa ou ricano, criar objectivos para a aquisição de rifas,
Madrid é a segunda marca de futebol mais espanhola. Os africanos não são excepção. To- em que a empresa ao comprar dez mil bilhetes
valiosa, com um património de 352 milhões dos desejam atingir o patamar de Manucho, ou lugares anuais ganha um bilhete de rifa para
de euros (mais 34 milhões que em 2008). A que assinou pelo Valladolid após uma época no o sorteio anual do direito de naming do estádio;
terceira posição é ocupada pelo Barcelona, gigante inglês Manchester United. O angola- 3) por último, o clube pode usar este método
com uma avaliação de 312 milhões. As três no é o ídolo dos jogadores nacionais, que mes- para encontrar um patrocínio para a camisola
marcas distinguem-se por serem as únicas mo quando chegam ao campeonato português do clube, colocando ao dispor dos interessados
avaliadas com o ‘rating’ AAA. A gestão da (que para eles simboliza um salto significativo 100 rifas ao preço de dez mil euros cada. O pri-
marca desportiva é baseada em investimen- na carreira) têm como meta profissional e pes- meiro prémio consiste em estampar a marca
tos, que têm como retorno avultadas recei- soal alcançar as maiores marcas desportivas do da empresa nas camisolas do clube nos jogos
tas. No caso do futebol, o valor dos adeptos mundo. As compras “astronómicas” de Cristia- efectuados em casa, o segundo prémio vale o
é uma mais-valia para engrossar os lucros da no Ronaldo, Kaká e Benzema pelo Real Madrid patrocínio nas camisolas em jogos fora e o ter-
marca, uma vez que a venda dos bilhetes pa- revelam que as opções de marketing permitem ceiro prémio equivale a um placar publicitário
ra os espectáculos desportivos é uma fon- obter lucros, que duplicam de ano para ano. Por de destaque no estádio.
te de dinheiro. A sondagem da Sport+Markt outro lado, estas movimentações impulsionam
aponta o Barcelona como sendo a forma- indirectamente todo o mercado, incluindo os NOVAS TECNOLOGIAS AO SERVIÇO
ção detentora de maior número de adeptos, clubes mais pequenos. Veja-se o caso da com- DO FUTEBOL
com cerca de 50,3 milhões. Os clubes espa- pra de Benzama, cujos 35 ME cobrados pelo O. Atento à evolução tecnológica, o marketing
nhóis são os que detêm mais seguidores, Lyon permitiram ao clube francês comprar ao desportivo encontra-se na vanguarda. O “Blue-
com 103,5 milhões contra os 99,2 milhões Futebol Clube do Porto o Lisandro Lopez (24 tooth Marketing” é o mais recente gerador de
das equipas inglesas. A competição inglesa ME) e Cissoko (15 ME). dinheiro, que já é explorado pelos clubes brasi-
registou ainda um crescimento recorde das leiros e ingleses. O sistema caracteriza-se pe-
receitas da Premier League. Comparativa- ‘RIFAR’ O CLUBE la instalação de uma rede de comunicação nos
mente com o ano anterior, os clubes da liga A constante necessidade de obtenção de recei- estádios, que envia aos adeptos durante o jogo
inglesa arrecadaram 953 milhões de euros, tas para suportar os gastos do clube, incita os uma mensagem, pedindo autorização prévia
o que permitiu investir mais na aquisição de directores de marketing a procurarem constan- para downloads de imagens, vídeos e mensa-
jogadores. O campeão da primeira divisão, o temente alternativas inovadoras para vende- gens. As receitas provêm das empresas que
Manchester United foi o clube que mais ga- rem os espaços de publicidade. O sistema de desejam anunciar através deste sistema. Esti-
nhou, com mais de 61 milhões de euros pro- rifas é um método inovador de venda de espa- ma-se que cerca de 1/3 dos clubes ingleses e
venientes dos direitos televisivos. O papel ço publicitário e é já utilizado por alguns clubes, brasileiros instalaram o mecanismo, cujos va-
da televisão ganha particular enfoque quan- com resultados favoráveis. O sistema funciona lores são negociados através da empresa de-
do se trata do mercado internacional. A Ásia em diversas formas: tentora dos direitos, que vendem o sistema
e o Médio Oriente são os principais consumi- 1) o clube quer vender o direito de naming do bluetooth em pacotes de publicidade, em que
dores de futebol europeu, cujo acréscimo da estádio (avaliado em um milhão de euros) por o clube recebe 25 por cento da receita dessa
procura tem tido benefícios elevados para as uma época. Para tal, divide o valor pretendido venda. Este dispositivo pode render entre 150 e
ligas e respectivos clubes. por 50 bilhetes de rifa, no valor de 20 mil euros 300 mil euros por época, só em jogos da liga.

3. as 10 maiores transferências do futebol mundial

JOGADOR PAÍS POS VENDEDOR COMPRADOR ANO VALOR


1. Cristiano Ronaldo POR A Manchester United Real Madrid 2009 94.000.000 €
2. Zinedine Zidane FRA M Juventus Real Madrid 2001 73.500.000 €
3. Ricardo Kaká BRA A AC Milan Real Madrid 2009 65.000.000 €
4. Luís Figo POR M Barcelona Real Madrid 2000 61.500.000 €
5. Hernan Crespo ARG A Parma Lazio 2000 51.200.000 €
6. Gianluigi Buffon ITA G Parma Juventus 2001 46.800.000 €
7. Rio Ferdinand ING D Leeds United Manchester United 2002 46.000.000 €
8. Christian Vieri ITA A Lazio Internazionale 1999 45.300.000 €
9. Andriy Shevchenko UCR A AC Milan Chelsea 2006 45.000.000 €
10. Gaizka Mendieta ESP M Valencia Lazio Roma 2001 44.900.000 €

DESPORTO · ANGOLA’IN | 89
DESPORTO | patrícia alves tavares

PATINS VITORIOSOS
O fomento do hóquei em patins enquanto desporto de sucesso é aposta ganha. A prová-lo está o sexto lugar
alcançado pela selecção sénior masculina no último mundial. O resultado é inédito e prova que a evolução da
modalidade é uma realidade e os bons resultados revelam que o país tem capacidade para disputar os títulos
internacionais com os melhores do mundo.

A recente prestação dos atletas nacionais no XII e o primeiro patim de rodas foi divulgado
39º campeonato do mundo é produto do esfor- pelo belga Joseph Merlin. A primeira prova or- À LUPA colec-
s é um desporto
ço e dedicação dos responsáveis e praticantes ganizada data de 1905 e coube a Inglaterra a O hóquei em patin ad os , em
recintos fech
do hóquei em patins. Em Vigo e Pontevedra, vitória do primeiro campeonato europeu (1926) tivo, praticado em s e us am
lam sobre patin
os hoquistas derrotaram a veterana selecção e do mundo (1936). Actualmente, o hóquei em que os atletas ro A eq ui pa
nduzir a bola.
italiana, ascendendo assim à sexta posição, a patins é praticado em mais de 60 países e tem um stick para co s (q ua tro
cinco jogadore
melhor de sempre em competições do géne- como principais potências Portugal, Espanha, é formada por orga-
guarda-redes). O
ro. No último Mundial, os palancas não foram Itália e Argentina. Nos últimos anos, tem cres- em campo e um od al id ade
que tutela a m
além do oitavo lugar. A formação comandada cido exponencialmente em regiões como a nismo máximo, qu ei em
rnacional de Hó
por Miguel Umbert Riera já tinha impressio- França, Suíça, Brasil, Angola, Moçambique, Es- é o Comité Inte o Co mi-
nível europeu,
nado os seus adversários no torneio interna- tados Unidos e China. As previsões para o fu- Patins (CIRH). A ve l po r to-
H) é responsá
cional de Blanes (Espanha), que antecedeu o turo são de que a modalidade vai crescer ainda té Europeu (CER nt in en te.
istentes no co
Mundial. O cinco nacional derrotou a França e mais (sobretudo nas áreas emergentes), tanto das as provas ex te rm os
mpeonatos, em
a congénere da Áustria e apenas não passou à ao nível masculino como feminino, esperan- Os principais ca m in in as ,
asculinas e fe
fase seguinte, devido ao gol average, em que do-se que volte a integrar os Jogos Olímpicos, de selecções m de Hó qu ei
o do Mundo
os franceses foram superiores. como já aconteceu em 1992, nos Olímpicos de são o Campeonat peu de
mpeonato Euro
Barcelona, mas não conseguiu a denominação em Patins e o Ca
s
NAÇÃO EMERGENTE de modalidade olímpica. Hóquei em Patin
Foi no Egipto que a modalidade deu os primei-
ros passos, existindo registos de que na França, RECONHECIMENTO INTERNACIONAL
na Idade Média, existia um desporto conheci- Angola acolheu em 2006 o Campeonato do
do por Hoquet, que provavelmente deu origem Mundo de Clubes, alcançando a desejada visi- mundiais para albergar a prova, como forma
à denominação inglesa Hockey. Já a patinagem bilidade internacional. O evento foi criado em de fomentar o desenvolvimento deste despor-
aparece representada nas gravuras do século 2005 e o país foi escolhido pelos responsáveis to. O evento, reconhecido pelo Comité Interna-

90 | ANGOLA’IN · DESPORTO
sabia que
VERBAS LIMITAM DESEMPENHO A Juventude de Viana ocupa a 18ª posição
A situação económica da Federação Angolana no ranking mundial de títulos em
de Patinagem (FAP) é o principal entrave ao de- hóqueis em patins, com nove conquistas
senvolvimento das modalidades relacionadas (1 Campeonato Africano de Clubes, 3
com a patinagem, especialmente no que con- Campeonatos de Angola, 3 Taças de
cerne ao hóquei em patins. Aliás, a débil estru- Angola, 2 Supertaças de Angola)
tura financeira do organismo colocou em risco a
participação do cinco angolano no campeonato
do Mundo, por falta de verba para suportar as taram o país no estrangeiro foi no Mundial de
despesas de preparação. A entidade é tutelada 1994, em Portugal. A partir daí, a modalidade
pelo Ministério da Juventude e Desportos e de- caiu um pouco no esquecimento e pouco ou
pende exclusivamente do seu apoio, pelo que nada foi feito em prol da formação feminina.
o atraso na disponibilização das quantias dei- O presidente da Associação Provincial de Lu-
xou o grupo em dificuldades, provocando algu- anda de Patinagem (APLP), Hirondino Garcia,
ma instabilidade emocional. Contudo, a estadia tem-se mostrado preocupado com a situação
da equipa em Espanha contou com a colabo- e defende a necessidade de reactivar a moda-
ração de alguns patrocínios e empresários, que lidade na classe feminina, de modo a oferecer
se mostraram solidários e ajudaram a pagar as maiores opções desportivas à mulher angola-
despesas da formação. A situação gerou algu- na. O responsável lamenta o actual estado do
ma controvérsia, uma vez que o orçamento pa- sector e tem solicitado que os clubes e res-
ra esta modalidade estava confirmado desde pectivas entidades desportivas desenvolvam
Fevereiro, levando o presidente da FAP, Carlos acções que visem a melhoria da modalidade,
Alberto Jaime a afirmar que não entende “por- de modo a que possa voltar a marcar presença
que o hóquei não tem o mesmo tratamento nas competições internacionais. A associação
que as outras modalidades”. luandense tem inclusive procurado implemen-
tar junto dos filiados (clubes e núcleos) acções
RELANÇAR COMPETIÇÃO FEMININA de sensibilização para o desenvolvimento da
É um dos handicaps da modalidade. Enquanto vertente feminina. O dirigente lembrou ainda
os seniores masculinos surpreendem nos cam- os vários clubes que se encontravam em ex-
peonatos internacionais e são encarados como pansão na década de 90 e que actualmente
adversários temíveis e os juniores revelam que estão praticamente desaparecidos, pelo que
o futuro do hóquei em patins angolano tem é fundamental auxiliar essas entidades, para
qualidade para evoluir, a equipa ao nível dos que possam relançar-se nas competições e as-
femininos está muito aquém das potenciali- sim, promover ainda mais o hóquei em patins
dades. A última vez que as atletas represen- nos campos mundiais.

cional de Hóquei em Patins (CIRH), escolheu


pela primeira vez e oficialmente qual o melhor
clube do mundo. O pavilhão da Cidadela, em TREINADORES ESPANHÓIS
Luanda, foi o palco escolhido para a realização EM GRANDE NOS PALOP
do campeonato, cuja ideia surgiu após o suces- Detentores de longa tradição no hóquei em patins, os espa-
so do Torneio de San Juan, em 2004. A prova nhóis são os técnicos preferidos por países como Angola e
ditou a eleição do AS Bassano Hockey 54 co- Moçambique, que se encontram em ascensão nesta moda-
mo o melhor do mundo. O evento repete-se de lidade. No caso nacional, Miguel Umbert Riera substituiu o
dois em dois anos. A referida competição re- português Fernando Fallé no comando da equipa, prometendo
conheceu o mérito do desporto nacional. Aliás, dar seguimento ao trabalho que tem sido desenvolvido nos
esse foi um dos principais motivos que leva- últimos anos. O actual técnico foi seleccionador espanhol e
ram a CIRH a seleccionar a FAP para coordenar tem como principal qualidade o desenvolvimento de jogado-
a primeira edição. A opção foi tomada tendo res jovens, tendo inclusive formado os actuais bicampeões
em conta o desejo de expandir a modalidade do Mundo, em juniores. Em Moçambique, a escolha recaiu
no continente africano, pelo que o projecto de no catalão Josep Maria Barbera, treinador que tem apoiado o
levar os melhores clubes do planeta a África seleccionador Pedro Pimental. O ex-seleccionador da Cata-
funcionou como “motor” do desenvolvimento lunha, Jordi Campos é o comandante da selecção brasilei-
da modalidade. Angola é o país do continente ra que, tal como os “Palancas Negras”, possui jogadores com
onde o hóquei em patins está mais amplifica- elevadas capacidades técnicas e que têm crescido ao longo
do, apresentando excelentes condições para a dos últimos mundiais. A par dos angolanos são excelentes
sua prática. Essa realidade é comprovada pela candidatos a lugar de destaque nas competições mundiais,
participação dos “Palancas Negras” nos cam- necessitando apenas de adquirir maior consistência técnica
peonatos continentais, internacionais e na Ta-
ça das Nações de Montreux.

DESPORTO · ANGOLA’IN | 91
PERFIL
tana Carlos
DESPORTO | patrícia alves tavares Nome: José da Silva San
be de Guimarães
Clube: Vitória Sport Clu
Posição: Avançado
Percurso:
2002 - Petro de Luanda
nça
2003/ 05 - Sagrada Espera
- Pet ro de Lua nd a
2006/ 08
2008/ 09 - Vitória
CURIOSIDADES
nry
Um jogador: Thierry He
nar din o Pedroto
Um treinador: Ber
cur a de um milagre”
Um filme: “Á pro
e”

“Vamos Um restaurante: “Ka rib


galinha
Um prato: Muamba de
o de ma nga
Uma bebida: Sum

lutar
du ro, Kiz omba
Uma música: Ku
Um cantor: Bru no
Uma cantora: Ari

para Uma qualidade: Sincer


Um defeito: Tei mo
Excentricidade: Conh
so
o

ecer o planeta

ganhar” Herói: Pais

Em 2008, saltou para as Como chegou ao Guimarães? gir muito. Vamos lutar para ganhar, mas sa-
capas dos jornais ao sagrar- No final do último ano, começaram a surgir bemos que existem equipas complicadas, tal
se goleador do Girabola, ao equipas interessadas em mim. Esperei pela como a Nigéria e o Senegal, que são difíceis de
serviço do Petro de Luanda. decisão do clube, que chegou a acordo com a bater. Mas o grupo está empenhado, há espí-
Facto que lhe abriu as portas do direcção do Vitória de Guimarães. Sempre quis rito de equipa e é motivante saber que o CAN
campeonato europeu. Santana jogar fora e chegar a um clube maior. é no nosso país, pois sabemos que o povo vai
alcançou o sonho de menino estar presente e a dar força.
e estreou-se como avançado O que espera do futuro?
no campeonato português. Gostava de evoluir ainda mais. Tenho muito pa- O que lhe parece a escolha de Manuel José?
O número 14 do Vitória ra aprender com os outros colegas. Há sempre Costumo ver alguns jogos dele pela televisão.
de Guimarães confessou à o sonho de jogar no Arsenal, no Manchester, no Conhece bem o campeonato africano, treinou
Angola’in os seus projectos e a Liverpool, no Porto ou no Benfica. Para já é ir um dos grandes, o Al Ahly e é muito bom trei-
paixão pela terra natal. trabalhando e suando a camisola. nador. É uma boa escolha.

Quando surgiu o interesse pelo futebol? Gostava de voltar a Angola? Como analisa a formação dos jovens?
Desde miúdo sempre gostei de jogar à bola, Se tudo correr bem, acabo a carreira no meu país. Tem evoluído muito. Ainda é diferente do que
mas não tinha muito interesse em ser jogador se faz aqui, mas a formação é muito boa. A mo-
profissional. Gostava apenas de assistir. Quan- O futebol português é diferente do dalidade tem crescido e nota-se a diferença.
do tinha 11/ 13 anos comecei a treinar ginástica angolano?
no Petro. Entretanto, deixei a modalidade e fui É um pouco diferente. Em Angola é mais con- Há muitos talentos por explorar?
praticar futebol. Porém, desisti e inscrevi-me no tacto físico, aqui é mais exigente. Na mínima Sim. Actualmente, os clubes europeus estão
Karaté e só em 1998/ 99 despertou o bichinho. coisa, há falta. muito atentos. Existem em Angola excelentes
jogadores, com capacidades para triunfar nos
Foi nessa altura que encarou o futebol Qual o significado do CAN? campeonatos europeus. Além disso, também
mais a sério? O CAN é excelente para o nosso país. Em ter- há bons treinadores, que já jogaram na Europa
Sim, comecei a ver os jogos do Mundial de 98 e mos de economia e negócios, é muito bom, es- e estão a dar boa formação.
a partir de 2000 comecei a treinar nos juvenis. pecialmente para a reconstrução nacional. Por
Em 2002, fiz a minha primeira estreia na equipa outro lado, o país está a fazer tudo para prepa- Que características são necessárias para
sénior. Porém, em 2003, chegou um treinador rar um bom evento e a população está alegre, se triunfar?
holandês, que me dispensou, alegando que eu pois é a primeira vez que organizam o CAN. Vai Aconselho os jovens atletas a que lutem como
era muito miúdo, preferindo os jogadores mais colocar Angola no mundo. eu lutei, para que consigam realizar os seus so-
velhos. Por isso, fui para o Sagrada Esperança nhos. É preciso ter muita disciplina, trabalhar e
ganhar experiência. Em 2005, o Petro pediu-me A selecção está motivada? fazer muitos sacrifícios. Tem que suar a cami-
para voltar e assinei contrato por dois anos. Jogamos em casa e sei que os adeptos vão exi- sola. Se ficarem relaxados não alcançam nada.

92 | ANGOLA’IN · DESPORTO
INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · ANGOLA’IN | 85
DESPORTO BREVES | patrícia alves tavares

automobilismo
Angolanos são sensação do circuito
internacional
José Carlos Madaleno e João Carvalho fizeram recentemente a sua
estreia internacional no Circuito da Boavista (Jornada do Campeona-
to de Portugal de Circuitos/ PTCC), no Porto. A dupla foi a grande
surpresa da prova, ao alcançar o 9º e 10º lugar em PTCC, respectiva-
mente, obtendo assim excelentes prestações. O bom resultado, lo-
go na estreia mundial (“top ten”), augura um futuro risonho para o
desporto automóvel angolano, que começa a evidenciar-se e a apre-
sentar-se com pilotos, capazes de desafiar os mais experientes nas
lides internacionais. Os dois automobilistas integram pela primeira
vez a equipa portuguesa Veloso Motosport, uma das mais conceitua-
das em território luso. Apesar de não possuírem currículo internacio-
nal, José Madaleno e João Carvalho detêm uma carreira de prestígio
a nível nacional, onde competem há vários anos e têm conseguido
bons resultados nas provas reservadas a carros de turismo. Repre-
sentantes do desporto automóvel africano nas pistas de renome, os
pilotos angolanos provam que a modalidade está a renascer e tem
capacidade para evoluir e dar cartas nos circuitos mundiais. Em dia
de estreia internacional, José Madaleno, o mais experiente, explicou
que “em Angola, neste momento, vive-se um momento de ascensão
no desporto motorizado e esta [participação no Circuito da Boavista]
foi uma forma de mostrarmos ao mundo que nós também estamos
cá”. O atleta já tinha competido em Portugal, em 2006, ao participar can 2010
no rally Lisboa-Dakar, fazendo dupla com o português Luís Ferreira
e em 2008 na mesma prova. Os resultados dos pilotos nacionais em
Um milhão de dólares para a selecção
Fernando Teles, presidente do Conselho de Administração do Ban-
terras lusas revelam que o desenvolvimento da formação de talen-
co Internacional de Crédito (BIC), anunciou que a instituição pre-
tos é aposta ganha, visível nas prestações ao nível dos campeonatos
tende oferecer um milhão de dólares americanos, caso a selecção
nacionais e continentais.
nacional de futebol vença o CAN2010. O responsável esclareceu
que a iniciativa tem como finalidade incentivar os jogadores e a
equipa técnica, para que se empenhem e esforcem por obter um
bom resultado na 27ª edição da Taça Africana das Nações, que de-
correrá em território angolano, de 10 a 31 de Janeiro. O presidente
do BIC convidou as outras empresas a aderirem à iniciativa, como
forma de apoiar os “Palancas Negras”. Além do prémio pela con-
quista do troféu, o banco garante ainda 250 mil dólares para o caso
da equipa fi car em segundo lugar e 50 mil por cada vitória. Dez mil
dólares serão o valor oferecido por cada golo marcado (o benefi -
ciário é o jogador marcador) e para o melhor jogador angolano em
campo (no final de em cada encontro). Os prémios anunciados por
Fernando Teles sofrem um acréscimo se Angola for apurada para
a final. Nesse caso, cada golo marcado no último jogo vale 25 dó-
lares para o autor. O BIC desenvolveu uma campanha semelhante
aquando a participação da selecção nacional no Mundial da Alema-
nha de 2006, premiando monetariamente os atletas. A estrutura
bancária opera em Angola desde 2005.

competição feminina
Mais mulheres no desporto
A Associação dos Comités Nacionais Olímpicos de África (ACNOA) pretende incentivar todas as mulheres, residentes no continente, a praticarem
desporto. A ideia foi lançada pela vice-presidente, Teresa Quarta, que ambiciona aumentar o número de atletas, de forma a alcançar uma partici-
pação regular do sector feminino nas provas internacionais. A angolana apresentou o plano da nova direcção da ACNOA durante uma conferência
de imprensa, em Luanda, que se destinou a divulgar as “linhas de força” para os próximos quatro anos de mandato. A responsável revelou que
durante esse período vai desenvolver uma base de dados, onde será possível encontrar informações concretas sobre a mulher e a sua participa-
ção no desporto africano, para que seja possível adaptar o regulamento jurídico às exigências do sector.

94 | ANGOLA’IN · DESPORTO
SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 53
LUXOS | patrícia alves tavares

CHEVROLET A Chevrolet apresenta o seu novo Camaro, que está disponível nos EUA, devendo

CAMARO SS chegar em breve à Europa. Disponível nas monitorizações V6 de 3,6 litros e V8 de 6,2
litros, este veículo apresenta potências entre os 304 e 426 cavalos. A nova geração
do muscle car norte-americano vem desafiar a hegemonia do Mustang e do Dodge
Challenger

96 | ANGOLA’IN · LUXOS
PORSCHE
GEMBALLA GT
A empresa alemã Gemballa, especializada na preparação de modelos Porsche apresenta-se com o novo modelo GT, que
se caracteriza pelas alterações na redução do peso e num ligeiro aumento da potência em relação ao original Porsche
Carrera GT. A pensar nos amantes da velocidade, o difusor inferior e a enorme entrada de ar sob o tejadilho que alimenta
o propulsor V10 são detalhes que captam a atenção.

LUXOS · ANGOLA’IN | 97
LUXOS

HUMMER
HX
O todo-o-terreno foi concebido por três jovens designers da General Motors e apresenta uma visão do futuro do
design da Hummer. O HX Concept está equipado com uma monitorização que recorre a combustível E85 FlexFuel
e propicia uma experiência de condução ao ar livre, devido aos painéis removíveis do tejadilho, que permite a rápida
reconversão do veículo fechado para uma pick-up descapotável

98 | ANGOLA’IN · LUXOS
no epicentro da comunicação

NA NOSSA COMPANHIA, NÃO PRECISA DE TEMER AS RÉPLICAS. COMUNICARE, ONDE QUER QUE ESTEJA, ESTAMOS CONSIGO.
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ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 47


LUXOS

HONDA
CB1000R
Com design inovador e futurista, a nova Hon-
da promete muita emoção, cuja potência atrai
os amantes da linha CB da marca. Com tra-
çados modernos, esta mota tem capacidade
para 17 litros de combustível e o assento do
piloto tem 828 mm de altura, com uma po-
sição mais adiantada para privilegiar a pilota-
gem desportiva.

ALPINESTARS
CR LEATHER JACKET
Este casaco em pele de elevada qualidade está disponível el em
três cores. Altamente resistente, este artigo possui protecções
cções
amovíveis e foi concebido especialmente para as necessidades
dades
do desporto motorizado, estando certificado pela CE.

SHIBUYA SHOES
Inspirado nas tendências juvenis do Japão, estes sapatos foram
oram
concebidos a pensar no estilo dos motociclistas cosmopolitas,
o itas,
ol
recorrendo ao design da roupa de basquetebol. Confortáveis e
modernos estes sapatos são à prova de água.

MP-2 GLOVES
Altamente versáteis, estas luvas adaptam-se a todas as per-
formances. Mesmo que conduza uma scooter ou uma moto de
elevada cilindrada, a MP2 é a escolha mais confortável, que ga-
rante elevada protecção.

100 | ANGOLA’IN · LUXOS


LUXOS · ANGOLA’IN | 101
LUXOS

HTC Hero
O novo telemóvel da HTC surge
com algumas novidades em
relação aos modelos anterio-
res (Magic Touch e HTC Dream):
é mais quadrado e fino que o
seu antecessor, de interface
mais atractivo e substitui os
headphones mini USB pelos 3,5
mm, mais fáceis de encontrar.

SOLIO
MG CHARG
GER
Produzida a pensar nos aventureiros, este carregador
combina duas tecnologias num único produto, isto é,
eficientes painéis solares e uma bateria de alta capaci-
dade, que permite recolher e armazenar energia. Com-
patível com a maioria dos iPhone, iPod e MP3.

Samsung
YP-S2
PEBBLE MP3
Ec táctil e bluetooth, a novidade da Samsung tem
Ecrã
as
a seguintes dimensões: 42X40X16, fazendo deste
leitor de mp3 um dos aparelhos mais
pequenos da marca. Os botões
estão na traseira do dispo-
sitivo, onde encontra o
vvolume e as teclas de
Play/ Pause.

Withings WiFi Body Scale


Balança de 32 por 32, com 2,3 centímetros pode ser configurada de forma a enviar automaticamente a evo-
lução do seu peso para o seu iPhone, bastando-lhe fazer download do dispositivo na loja virtual. Diariamente
receberá gráficos da evolução da sua massa corporal.

102 | ANGOLA’IN · LUXOS


MERIDIAN DSP7200
Adaptados para todos os ambientes, desde os mais pequenos ao
Home Theater, os altifalantes da Meridian são os primeiros a incluir
os novos SpeakerLink input/ output e são capazes de corrigir as fa-
lhas na gravação de CD’s e DVD’s, melhorando a sua qualidade.

Sony
XEL-1 LED TV
A nova TV da Sony possui apenas 17 polegadas. Com
apenas alguns milímetros de espessura, a sua qualida-
de não tem comparação, devido à taxa de contraste de
1.000.000:1. Cores intensas e portabilidade são outras
das características.

DELL
Desktop Stud
dio
Hybriid
O seu design pequeno e ul-
tracompacto conferem um
estilo único a este desktop,
que usa tecnologia móvel
da Intel, o que garante
um óptimo desempenho
e boa eficiência. As suas
dimensões são cerca de 80
por cento menores que um
computador normal.

Miccro
osofft Arcc Mou
usee
O seu design revolucionário combina o conforto de um mouse de
desktop e a facilidade de transporte de um mouse de um portátil. Es-
te pode ser dobrado e existe nas cores preto, vermelho e branco.

LUXOS · ANGOLA’IN | 103


LUXOS

HUBLOT
One Million $
Black Caviar

Poderia chamar-se ‘relógio de um milhão de dóla-


res’, uma vez que esta peça única custa de facto o
preço que surge na sua designação. Os engenheiros
da Hublot e da Bunter despenderam 2.000 horas na
concepção do engaste totalmente invisível e com-
posto exclusivamente por 544 diamantes negros.
Original, este magnífico relógio representa a fusão
perfeita entre a relojoaria e a joalharia, combinando
tradição e tecnologia

IWC Bvlgari
Aquatimer Assioma Tourbillon
A escolha ideal para homens conservadores e de Esta bela obra-prima é feita em platina
bom gosto. O modelo, à semelhança de todos e o seu mostrador de cristal não sofre
os relógios da marca, é de edição limitada a 500 riscos. A edição é limitada, estando
exemplares, produzidos em aço e platina. É um disponíveis no mercado apenas 20
modelo atractivo, cujo design e característicos relógios deste modelo, que mostra
sugerem os elementos aquáticos e marinhos, sendo mais do que as horas ou data. É uma
óptimo para usar durante o mergulho. peça única, que revela um estilo de vida
luxuoso.

Wolf-Peter
Schwarz
Global Lightwatch
É o relógio perfeito para os amantes de
desporto e viagens de aventura. A peça
disponibiliza automaticamente o fuso –
horário das várias cidades do mundo, como
Tóquio, Nova Iorque ou Londres, sem ser
necessário fazer ajustes, uma vez que o
ponteiro desloca-se para o local onde está,
possuindo no mostrador as 24 horas do dia.
104 | ANGOLA’IN · LUXOS
ESTILOS

elegância e glamour

Foi com enorme satisfação que aceitei o desa-


fio da Angola’in para, no decorrer das próximas
edições, apresentar um conjunto de propostas
de Moda, que possam ir ao encontro das ex-
pectativas e desejos dos nossos leitores. Para
este número sugiro a prestigiada marca Hugo
Boss, conceituada no mercado internacional e
com um representante em Angola, situado na
rua Rainha Ginga, Luanda.

Lisete Pote - lpote@comunicare.pt

106 | ANGOLA’IN · ESTILOS


A colecção que tenho o prazer de vos
apresentar representa uma conjuga-
ção de três estilos: Executivo, Sport
Urbana e Desportiva. A primeira é ca-
racterizada pelas cores cinzas e azuis
escuros em contraste com as camisas
em rosa de várias estampas e grava-
das nos mesmos tons. A Sport Urbana
é composta maioritariamente pelas co-
res rosa vivo, branco e lilás, enquanto
a Desportiva é a mais indicada para a
maioria das gangas, fazendo um con-
traponto com o vermelho, azul escuro
branco em conjugação com alguns pó-
los em tons vivos.

ESTILOS · ANGOLA’IN | 107


ESTILOS

A marca é subdividida em dois


conceitos, adequados às exigên-
cias do homem moderno – a Boss,
que é detentora de uma linha só-
bria e clássica, e a Hugo, jovem
e actual, dirigida a um público
masculino que querendo manter
o glamour, gosta de se sentir des-
contraído e a par das últimas ten-
dências de moda.

Ambas são um complemento, pois


representam a superação daquele
que todos os dias se esforça para
ser o melhor. Combinam a força
das linhas clássicas, especial para
homens que já chegaram ao topo
da pirâmide de status, com a su-
avidade e energia de tecidos que
permitem a mais alta perfomance
e sucesso pessoal.

108 | ANGOLA’IN · ESTILOS


ESTILOS · ANGOLA’IN | 109
ESTILOS | manuela bártolo

sean john
Unforgivable Men
é o produto certo para o
homem dinâmico e moderno.
é um perfume fresco,
companheiro ideal para
todas as tendências e
causas. reinventa o estilo
masculino com luxo clássico,
misturando química e
sentimento.

diesel
Only The Brave
é a mais recente novidade da
diesel. composto por notas de
limão e espumantes, aromas
frescos, âmbar e tons de
cedro, esta fragrância é a
opção segura para uma saída
nocturna. é um perfume
masculino e moderno, com tons
de couro.

carolina herrera
212
o 212 sexy men é a escolha ideal para
homens arrojados e que gostam de
deixar a sua marca por onde passam.
a fragrância apresenta notas de
mandarina, folhas de bambu, lavanda
francesa e almíscar suave.

jean paul gautier


Le Male
ideal para homens clássicos, que gostam
de se afirmar. este perfume possui notass
de menta, artemísia, bergamota, lavanda,,
canela, flor de laranjeira, sândalo,
baunilha, cedro e âmbar.

hugo boss
in Motion ralph lauren
a pensar nos homens desportivos, a Ex
xplo
orerr
sugestão da boss apresenta um tom as suas notas combinam frutas
oriental amadeirado. possui notas de exóticas, gengibre, flor de laranjeira,
bergamota, folhas de violeta, cardamomo, almíscar, musgo de carvalho, vetiver
noz-moscada, pimenta rosa, almíscar, e sândalo.
sândalo, canela e vetiver.

110 | ANGOLA’IN · ESTILOS


LUXOS · ANGOLA’IN | 111
LIVING | joão paulo jardim

Tailored Design
Não é uma questão de moda. Não é acessível do que em criar peças personalizadas e especí-
ecí-
à maioria. Não é certamente do conhecimen- ficas para um determinado cliente. Nada dis- is-
to geral. O tailored design (ou o que em por- to é errado. Existem actualmente muito mais ais
tuguês poderia ser traduzido como desenhado edificações e melhores condições de vida,, o
por medida) é o luxo absoluto a que só algu- que leva a que dentro das suas possibilidades
des
mas carteiras podem aceder. os seus ocupantes procurem valorizar os es-
paços. Apenas demonstra que um percentual ual
É um sector do design que sempre existiu, e muito maior de pessoas são sensíveis a estasta
que de algum modo terá sido ele próprio um área e recorrem aos serviços de profissionais.
ais.
precursor da produção do design em massa. Só que, por uma questão de custos, os pro- ro-
Existente nas diversas vertentes do design, jectos ficam na sua grande maioria por uma
interessa-nos debruçar sobre as que envol- abordagem mais aligeirada e massificada. Pe-
vem a nossa área. Nomeadamente o design de lo design prêt-à-porter, em grande escala.
equipamento, o design de mobiliário, de ilumi-
nação e das restantes actividades afectas ao No entanto, todas a grandes marcas de de-
design de interiores. sign desenvolvem peças por encomenda, com
especificações próprias, para além da colec-
Com a democratização do design e o apare- ção que apresentam regularmente ao gran-
cimento de marcas com elevados padrões de de público. Desengane-se quem pensar que a
qualidade (quer de criatividade, quer de maté- criação de peças únicas e personalizadas está
ria prima) e com produção maciça de milhares, directamente associada a algum tipo de arte-
para não dizer milhões de exemplares vendi- sanato ou de produção menor. E tudo pode ser
dos em todo o mundo, perdeu-se nas últimas personalizado e desenvolvido. Desde um so-
décadas a noção de tailored design. Os compo- fá com medidas ergonómicas adequadas ao
nentes de um projecto passaram a ser esco- cliente, até ao papel de paredes ou ao servi-
lhidos a partir da oferta existente no mercado, ço de jantar. Os custos deste tipo de produção
diminuindo drasticamente o que de facto é personalizada é que o tornam tão exclusivista
desenvolvido especificamente para o trabalho e inacessível ao público em geral. Contudo, são
em mãos. Sendo apenas desenhado de raiz o estes os projectos que se tornam intemporais
que inevitavelmente não pode deixar de o ser, e são referência a vários níveis, justificando
tal como cortinados. E mesmo estes já exis- largamente o investimento realizado.
tem prêt-à-porter!

Um projecto de interiores passou a ser quase João


J Paulo Jardim
J - jpj
jpjardim@comunicare.pt
um grande jogo de puzzle, que consiste mais
em coordenar as peças certas para um espaço,

112 | ANGOLA’IN · LIVING


ERCUIS
Presente desde o início do Séc. XX nos melhores hotéis da Ri-
viera, nos casinos europeus e nos navios de luxo que cruzavam
os oceanos, esta marca de artigos em prata de origem francesa
levou o seu nome aos quatro cantos do mundo. Continuando
ainda hoje a acompanhar os turistas das classes privilegiadas
tanto em aviões de luxo como em iates privados, a Ercuis é por
si só um símbolo de elegância e de prestígio.
Contando actualmente com linhas específicas para diversos fins,
podemos em todos os seus produtos encontrar a mesma preo-
cupação com a qualidade associada ao desempenho que tornam
esta marca também uma referência ao nível do design.

QX
LIVING

CASA MOURA
Com algumas décadas de existência, a Casa Moura tornou-se um mar-
co na decoração de interiores e um exemplo de serviço com elevados
padrões de qualidade. Sediada em Portugal e especializada em soft
furnishing, desenvolve todo o tipo de projectos de interiores, desde
espaços particulares privados até grandes obras públicas. Conta com
várias obras internacionais de renome no seu curriculum e está actual-
mente a laborar com projectos de grande envergadura em Angola.

WRX

114 | ANGOLA’IN · LIVING


LIVING

ISABEL PADRÃO
Uma artista portuguesa, uma cidadã do mundo. Nasceu no norte de
Portugal no início dos anos 60 e formou-se em Artes Plásticas pela
Faculdade de Belas Artes do Porto. O seu imaginário policromático re-
flecte a sua forte personalidade e a sua vivência, as suas viagens pelo
mundo, tanto a destinos exóticos como a grandes metrópoles. O seu
local de residência poderia ser qualquer ponto do globo, ou até fora
deste. Já não é um potencial valor do mundo das artes. É, sem dúvi-
da alguma, um investimento mais do que garantido. Expõe individual-
mente desde 1987 e é detentora de diversos prémios.

QUX

116 | ANGOLA’IN · LIVING


VINHOS & CA. | patrícia alves tavares

DONA MARIA
Vinho Regional Alentejano 2005
Este vin
vinho tinto, de aspecto límpido e cor violácea viva, é oriundo da região
alentejana. Apresenta um complexo aroma de frutos vermelhos tostados, sugerindo
alenteja
essencialmente frutos silvestres. Este sabor rico apresenta-se como persistente,
essenci
equilibrado e com uma óptima estrutura que lhe confere uma boa longevidade.
equilibr
Deve se
servir-se entre os 17 e 18ºC, de preferência uma hora após a abertura.

QUINTA DE PANCAS
Grande Escolha
Singular, complexo e elegante, este néctar apresenta notas de
minerais, amêndoas, pimenta e chocolate, inseridas num fundo
elegante de frutos vermelhos e vegetais frescos. Caracterizado
pela enorme frescura, é recomendado para carnes assadas e
pratos de caça, servindo-se à temperatura de 18ºC.

PRIMAVERA
A
BAIRRADA
A
O aroma frutado a frutos vermelhos
hos
esa
maduros, com notas de amora, framboesa
nho
e especiarias é a essência deste vinho
de cor granada. Combina a suavidade de
Castelão, o corpo e persistência de Bragaa e
riz.
a elegância de Tinta Roriz.

118 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


VIÑA MAIPO
IPO
erlot
Cabernet Sauvignon/Merlot
Oriundo das castas Sauvignon e Merlot, este néctar tinto de intenso
rubi com tonalidades violetas possui um aroma a frutos cristalizados
alizados e
ameixas vermelhas, com notas de chocolate. Na boca revela toda a sua
essência, revelando bom corpo e taninos harmoniosos.
moniosos.

CO
CONVENTUAL
Vinho Tinto
Vi
Este néctar caracteriza-se pela sua intensa cor rubi. Apresenta um
conju
conjunto de aromas complexos, com notas de frutos vermelhos maduros.
O sa
sabor destaca-se pela frescura, surgindo como um produto bem
e ui
eq
equilibrado e com um final com boa fruta e persistente.

VIÑA MAIPO CHILE


Reserva Cabernet Sauvignon
Este vinho resulta da combinação das antigas técnicas de
vinificação do Chile. Oriundo da região de Maipo, o Viña Maipo
Chile, reserva da Cabernet Sauvignon, é bem estruturado e
possui um belo final. A sua cor rubi intensa revela os aromas
de frutos vermelhos, cerejas e ameixas pretas. A estes sabores
junta-se um toque de carvalho tostado, conferindo-lhe
elegância e notas de chocolate e aromas.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 119


VINHOS & CA.

MONTE VELHO BRANCO


NCO
Aromático e frutado, este vinho branco possui um aspecto cristalino e uma corr citrina
ligeiramente aloirada. De sabor intenso, elegante e equilibrado, é uma boa escolha
lha para
uma panóplia de refeições, desde peixes grelhados e mariscos a queijos fortes
es e até à
simplicidade da cozinha vegetariana. A temperatura ideal para consumo oscila entre
ntre 10 e
12ºC, proporcionando múltiplos prazeres degustativos.
stativos.

ALVARINHO - VERDE 2007


7
Límpido e citrino, este néctar é a escolha certa para
raa
s.
acompanhar peixes e mariscos, nomeadamente ostras e aves.
No aroma apresenta-se como elegante, com notas florais,
s,
o,
citrinas e nuances de frutos tropicais. No paladar, é frutado,
m
possuindo volume e uma acidez bastante equilibrada, com
C.
final prolongado. Deve servir-se entre 10 e 12ºC.

EVEL DOURO
GRANDE ESCOLHA
Este vinho apresenta uma cor rubi intensa. Os aromas são
potenciados pela madeira nova, assumindo-se com uma mistura
de taninos redondos e madeira bem integrada, tornando-o
muito encorpado. A prova é caracterizada por sabores a frutos
pretos, apresentando um longo final. Ideal para carnes e queijos
fortes, este néctar é servido à temperatura de cave.

120 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


HERDADE ESPORÃO ESPUMANTE
HER
Aroma fino,
no mineral e complexo com notas de bolacha e avelãs, este espumante de aspecto
límpido caracteriza-se
car pela aparência de bolha e cordão médios. No paladar, apresenta-se como
equilibrado, seco e fresco. Na boca é frutado com alguma intensidade, rico e bem estruturado.
equilibrado
Ideal para refeições
re tipo fois-gras e peixe fumado, bem como para acompanhar frutos secos.
Deve servir-
servir-se entre os 7 e 10ºC.

QUINTA DO PORTAL BRANCO


QU
Vinho de cor citrino, é constituído por uma excelente intensidade
aromática, que apresenta aromas bem definidos de frutos
aromá
tropicais e notas florais. De frescura impar e aromas únicos, é
tropic
estruturado na boca com boa e fina acidez, deixando um final
estrut
fresco e longo.

CASAL GARCIA ROSÉ


Excelente opção para aperitivo ou para acompanhar saladas
leves ou entradas. Óptimo para ambientes jovens, este vinho
possui uma cor rosada e um aspecto límpido, ligeiramente
efervescente. Bastante fresco, é um produto frutado, em que no
nariz sobressaem notas de framboesa e morango, com um final
harmonioso e persistência suave. Serve-se entre os 8 e 10ºC.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 121


VINHOS & CA. À CONVERSA COM… Martim Guedes, Director de Marketing da Quinta da Aveleda | manuela bártolo

Hino à Alegria!
CASAL GARCIA FAZ A FESTA!
Esta é a frase-chave da campanha publicitá-
ria que marca a diferença entre o vinho Casal
Garcia e os seus mais directos concorrentes
APOSTA NOS VINHOS ‘PREMIUM’ no mercado angolano. Nenhum outro seduz
A viver uma nova fase de expansão, com investimentos significativos tanto! O segredo é simples: ideias fortes e ape-
patentes num crescimento notável no mercado internacional, a Quinta lativas que conquistam o cliente pela emoção,
da Aveleda tem-se imposto como uma das três maiores empresas vi- mas sobretudo pelo sabor suave e frutado de
tivinícolas portuguesas, sendo também uma das mais rentáveis e efi- que é detentor em exclusivo. De carácter jo-
cientes do país. Desde sempre dedicada aos vinhos verdes, nos quais é vem, fresco e leve, Casal Garcia tem-se tornado
líder de mercado, a Aveleda exporta para mais de noventa países, sen- companheiro indispensável da boa disposição.
do que os seus principais mercados (EUA, França, Alemanha, Canadá, Ideal para acompanhar pratos de peixe, maris-
Brasil e Angola) protagonizam metade da sua produção, dignificando, co, saladas ou pratos de gastronomia oriental,
assim, os vinhos portugueses e o vinho verde em particular. As suas é o protagonista principal de uma filosofia de
marcas principais são o Casal Garcia, Aveleda Fonte, Quinta da Aveleda, vida marcada pela descontracção e bem-estar.
Charamba, Follies e Adega Velha, provenientes das mais famosas regi- Dirigido a um segmento jovem, essencialmen-
ões demarcadas do Norte de Portugal – Região Demarcada dos Vinhos te feminino, consagrou-se, em 2007, como o
Verdes, Região Demarcada do Douro e Região Demarcada da Bairrada. maior exportador da alegria capaz de unir cul-
A Aveleda tem procurado ao longo dos últimos anos criar sempre uma turas, sendo consumido em mais de 60 países,
relação de confiança com os seus consumidores através da garantia de espalhados por todo mundo, que Angola tem a
qualidade que cada um espera encontrar, fortalecendo desta forma os honra de integrar. 2008 foi, no entanto, o ano
laços de união que estabelece com todos os amantes dos seus vinhos. que deu um tom rosado ao ‘verde’ Casal Garcia.
Este é aliás o seu maior segredo, pois a marca defende um vinho de Nasceu o novo Casal Garcia Rosé! O mais re-
conquista, aquele que fideliza os velhos e angaria os novos clientes de cente vinho tem ainda mais alegria associada à
uma forma consistente e intemporal, de geração em geração. A Quinta frescura, agora também com notas de morango
da Aveleda almeja alcançar a glória e o sucesso, tornando-se o vinho de e framboesa. Apesar do seu recente lançamento
eleição do século XXI, que conduz os seus consumidores numa viagem em Angola, a qualidade do vinho Casal Garcia
pelos sentidos, proporcionando uma experiência mágica e sublime. Rosé já é reconhecida no país.

122 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


curiosidade
UMA HISTÓRIA DE SUCESSO
QUE COMEÇOU EM 1939
O aparecimento da marca Casal Garcia data
de 1939, sendo já para a época um vinho ino-
vador, marcado pelas novas técnicas utiliza-
das pelo enólogo francês Eugène Hélisse. O
nome Casal Garcia advém do nome de uma
das parcelas da propriedade que ainda hoje é
conhecida por este mesmo nome e na qual se
continua a produzir uvas utilizadas na pro-
dução do vinho Casal Garcia. A imagem de
Casal Garcia manteve-se sempre fiel às suas
origens. O seu rótulo representa uma renda
antiga da família e simboliza a ligação à his-
tória da Aveleda e à tradição. Por isso mesmo
o brazão da família Guedes está também pre-
sente neste rótulo.

MARCA DE ELEIÇÃO importância deste mercado vai crescer substan-


Proprietária do emblemático vinho Casal Garcia, cialmente num futuro próximo e que, por esse
a Quinta da Aveleda está presente no mercado motivo, se justificam os avultados investimen-
angolano essencialmente através desta marca tos que temos vindo a realizar no país”. Opera-
de renome internacional. Martim Guedes, direc- ções de charme com o objectivo de “capitalizar a
tor de marketing da empresa, considera Angola marca”, assentes essencialmente em acções de
“um mercado em franca expansão e de enorme formação, comunicação e merchandising realiza-
potencial”, que tem vindo a acolher os vinhos da das em associação com parceiros locais, que per-
companhia há mais de 50 anos sempre com for- mitem explorar melhor o seu mercado de eleição
tes índices de crescimento, revelando-se, cada – “o público jovem, dos quais se destaca o femini-
vez mais, um país de consumidores exigentes. no, aquele com maior propensão para o consumo
“Em ano de crise, este é o mercado que nos tem de vinhos verdes. O sucesso tem sido evidente,
proporcionado o maior crescimento. Temos ven- facto que permitiu à empresa avançar com a en-
das 50% acima do ano anterior, o que nos moti- trada no mercado do Casal Garcia Rosé. “Uma
va a investir no país a vários níveis, procurando novidade com cerca de um ano, que tem tido
incentivar sobretudo uma maior proximidade uma boa adesão, fruto de um trabalho de base
através, por exemplo, da formação de novos de qualidade, cujo maior desafio foi a adaptação
escanções”, refere. De salientar, que as ven- ao mercado, indo ao encontro das expectativas
das em Angola atingiram um valor próximo de do consumidor nacional”, conclui. Igualmente co-
um milhão de euros em 2008. Razão pela qual, mercializados em Angola, encontram-se o vinho
a aposta actual passa por “dar continuidade ao tinto Charamba, os vinhos da gama Follies (cinco
trabalho de divulgação publicitária que tem si- vinhos de castas diferentes, dirigidos a um seg-
do implementado, sobretudo através da marca mento alto) e a aguardente Adega Velha, pre-
Casal Garcia”, uma vez que “acreditamos que a mium no mercado.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 123


VINHOS & CA. | chakall

REFEIÇÃO Quem imaginaria que o ananás e os coentros


combinam? A verdade é que estes ingredien-
e essa fruta faz-me recordar justamente An-
gola. Utilizando o ananás ou a papaia, este
LEVE tes funcionam na perfeição quando usados na
mesma refeição. Aliás, esta receita revela que
menu é uma óptima escolha para um dia ame-
no, em que as refeições leves e pouco calóri-
REPLETA não existem dúvidas de que podem ser mui- cas são as mais apreciadas. Simples e prática,

DE SABORES to felizes juntos. A ementa que vos apresen-


to foi criada em exclusivo para os leitores da
esta receita permite-lhe preparar um almoço
rápido, altamente saboroso e com produtos
EXÓTICOS Angola’in e integra o meu próximo livro, que
vai sair em Portugal entre os meses de No-
nacionais, cuja diversidade gastronómica é re-
conhecida mundialmente. Em 1999, tive a sor-
vembro e Dezembro. O conceito do meu Car- te de passar duas semanas numa missão em
paccio de ananás com coentros baseia-se na Cabinda, onde cuidaram muito bem de mim e
ideia de uma refeição digestiva, refrescante e descobri as árvores de mamão. Por isso, à tar-
ao mesmo tempo acessível, pois é muito fá- de, no final desta deliciosa refeição, o ideal se-
cil de preparar. Esta receita também pode ser rá sair de casa e ir até junto do mar de Cabinda
confeccionada com papaia (em vez do ananás) e comer um mamão fresco.

124 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


as rece
eita
as
de
e ch
haka
alll

Apresento-vos
esento-vos o meu
Carpaccio de ananás com coentros
ingredientes:
• ½ Ananás
• 100 g de açúcar
• 20 ml de água
• 2 colheres de coentros picados
• 1 ramo de canela
• 1 limão (raspas)
• Bagas de pimenta rosa

modo de preparação:
Corte o ananás em fatias finas (de preferência utilize máquina apropriada para cortar a fruta, caso pos-
sua) e reserve. De seguida, faça uma calda com os restantes ingredientes. Após a sua conclusão, mergu-
lhe as fatias de ananás na calda, onde deverão repousar apenas por um minuto. Depois retire e disponha
num prato. Regue o ananás com o preparado anterior (calda) e decore no final com coentros frescos e
pimenta rosa.

Se desejarem enviar as vossas receitas ou comentários a este ou outros pratos,


escrevam para eu@chakall.com

VINHOS
V
VIN
IN & CA. · ANGOLA’IN | 125
CULTURA & LAZER | patrícia alves tavares

Imagem
vale mais
que mil
palavras
As artes plásticas existem desde os primórdios da
humanidade, sendo ferramentas indispensáveis pa-
ra descortinar o percurso de todos os habitantes. A
pintura e a escultura representam o que melhor se
faz em Angola, em termos artísticos. As duas áreas
têm um longo historial e descrevem a evolução da
sociedade, fazendo parte das tradições e rituais mais
RECONHECIMENTO remotos. A nível nacional, a década de 80 e 90 fi-
ALÉM-FRONTEIRAS cou marcada pela afirmação dos artistas, que actual-
Dois artistas plásticos angolanos mente são reconhecidos internacionalmente, sendo
tiveram a oportunidade de merecidamente galardoados.
apresentar os seus trabalhos
numa exposição colectiva de
pinturas e esculturas, em Israel.
As belas-artes ou artes plásticas surgiram na artistas anónimos, que deixaram o seu contri-
Tomás Ana “Etona” e Sozinho
pré-história e são responsáveis pela compre- buto através de imagens pictóricas em fontes
Lopes estiveram presentes na ensão da cultura e evolução dos antepassa- arqueológicas como as grutas de Citundo, Ulo
Feira Contemporânea de Artes dos. São formações expressivas, que recorrem e Caningiri. Os escultores dessa época legaram
Plásticas do Estado de Jerusalém, a técnicas de produção, que manipulam os às gerações mais novas os testemunhos da ac-
que decorreu no último mês. materiais para construir formas e imagens tual memória e identidade cultural, assumin-
A participação neste evento que revelem uma concepção estética e poéti- do-se como fonte de inspiração para muitos
permitiu aos artistas mostrar ca de um dado período. A sua evolução acom- criadores do século XXI. Os anos que antece-
ao Médio Oriente o que se panha o desenvolvimento da espécie humana, dem a independência nacional correspondem a
produz em termos culturais em pelo que hoje em dia o sector alberga uma pa- outro marco do desenvolvimento artístico, em
Angola, através da mostra de nóplia de meios. São o caso das artes visuais, que as produções de cariz nacionalista eram as
do desenho, da pintura, da gravura, da escul- mais comuns, bem como os temas relaciona-
vinte esculturas e dez pinturas.
tura, da fotografia e da arquitectura. dos com o quotidiano da população, retratada
“Etona” salientou que as obras
por artistas oriundos de outras culturas. No en-
expostas representam questões
TRÊS MARCOS IMPORTANTES tanto, é no pós-independência que os criadores
sociais e os desenvolvimentos que Quando se fala de artes plásticas em Angola angolanos, detentores de formação académica
têm ocorrido a nível nacional, é necessário delimitar três momentos distin- específica na área, criam um novo movimento
em áreas como o desporto e tos da sua evolução, em termos históricos e artístico, baseado na formação e descoberta
economia. “É uma oportunidade de individualidades. O período mais longínquo dos novos valores. Com a explosão cultural da
que temos para exibir Angola da história da arte, caracterizado pelas primei- década de 70, os protagonistas angolanos con-
em termos de arte”, finalizou ras manifestações culturais, remete para os taram com o apoio de artistas de todo o mun-

126 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER


do, empenhados na campanha pela autonomia do INSPIRAÇÃO MODERNA perfil
país. Devido à agitação política, a arte nacional deste Os artistas plásticos nacionais partilham uma carac-
período manifesta-se em murais e cartazes públicos terística interessante. Tanto os profissionais do pas-
de grandes dimensões. Os murais do Hospital Militar sado, como os do presente recorrem frequentemente
de Luanda e as paredes externas da sede da União dos à ligação às suas raízes para desenvolverem as obras,
Escritores Angolanos são exemplos dos anos conturba- focando constantemente o seu referencial cultural
dos. Assim, hoje em dia as artes plásticas nacionais as- e os sentimentos da população angolana. Os traba-
sumem um lugar de destaque em África e no mundo, lhos plásticos angolanos voltam-se essencialmente ETONA
em que os artistas aparecem associados a eventos de para as telas, gravuras, baixos-relevos em latão, es- Natural do Zaire, Etona ini-
reconhecida qualidade. culturas e estatuária artesanal. Nos últimos anos, a ciou a sua actividade em
promoção da paz contribuiu decisivamente para as- 1970, após a conclusão do
ENTRADA NO MERCADO INTERNACIONAL segurar um padrão de qualidade às artes nacionais curso médio de Artes Plás-
A partir da década de 80, a pintura e a escultura na- e, por outro lado, fomentou o interesse dos mais no- ticas no Instituto Nacional
cional deram o salto para a internacionalização, com vos pelas múltiplas formas de expressão artística. de Formação Artística e Cul-
os primeiros artistas a deslocarem-se a países co- São muitos os jovens que procuram formação profis- tural. Especializou-se em es-
mo Cuba, Brasil, Portugal, França, Hungria, Suécia e sional na área, seja de nível médio ou superior. Os cultura monumental e novas
Noruega (entre outros), para apresentarem os seus investimentos no sector e a experiência e sensibilida- tecnologias, em Portugal, e
trabalhos. O reconhecimento do talento angolano de dos profissionais de renome auguram um futuro é autor de mais de 30 expo-
tornou-se visível através dos prémios arrecadados de sucesso para este campo de actividade, em que sições individuais e 27 co-
pela qualidade técnica e maestria das obras. Contu- o número de talentos não pára de crescer. É o caso lectivas, em Angola e no es-
do, no referido período, devido ao eclodir da guerra, de nomes como Venâncio, Sozinho Lopes, Ngola, Hil- trangeiro. Em 2005, recebeu
a maioria dos talentos nacionais refugiaram-se nou- dbrando ou Álvaro Macieira, cujas obras podem ser o terceiro prémio Internacio-
tros países, como foi o caso de António Olé (EUA), Al- apreciadas nas principais galerias da capital. nal, em Granada (Espanha),
vim (Bélgica), Viteix (França), Eleutério Sanches, Raul o terceiro prémio de Art for
Endipwo, José Rodrigues, Vazz de Carvalho e Dília Fra- Global Development (EUA)
guito (Portugal). O anos 80 simbolizaram o início da
Os trabalhos plásticos angolanos
voltam-se para as telas, gravuras, e foi condecorado por José
carreira de muitos jovens artistas,
tistas, que actualmente Eduardo dos Santos, com a
são os grandes ícones das artestes plásticas angolanas, baixos-relevos em latão, esculturas
Medalha da Ordem de Mérito
como João Inglês, Tirso Amaral,al, Jorge Gumbe, Pululu, e estatuária artesanal
Civil do 1º Grau, em Ouro
Zan Andrade, Helga Gambôa, entre outros.
A Escola Média de Artes Plásticas,
sticas, na década de 90,
permitiu consolidar a cultura angolana, impulsionan-
do a formação de técnicos médios vocacionados pa-
ra o ensino, indústria gráficaa e desenvolvimento
des e volvimento de
eessen
actividades artísticas. Coube igualmente
ig
gua
ualm enttee a este
lmen te or-
est
ste orr-
ganismo, em parceria com o M Ministério
inis
ini
in is
istério da Cultura, a
organização de exposições e a criação de prémios, co-
mo os do Banco de Fomento e Exterior e o da Cidade
Luanda em Artes Plásticas, que abrange os sectores
da pintura, gravura, esculturaa e tecelagem.

A partir da década de 80, a pintura SOZINHO LOPES


e a escultura nacional
nal deram o Oriundo do Uíge, Sozinho
salto para a internacionalização
acionalização concluiu, em 2003, o curso
médio de artes plásticas, no
Instituto Nacional de Forma-
ção Artística (INFA) e, desde
SÍMBOLO NACIONAL então, tem participado em
diversas colecções institucio-
Constitui o emblema do sector artístico angolano. O Pensador, representado pela figura
nais e particulares. Em 2006,
de um ancião, com a face ligeiramente inclinada para baixo, é considerado um símbolo recebeu a menção honrosa
da cultura nacional. O autor desta obra é anónimo e a peça adquire especial relevo devido do Prémio Cidade de Luanda
ao equilíbrio perfeito entre os gestos, a expressão calma, tranquila, serena e harmónica. e foi distinguido no concurso
A escultura retrata ainda tensões, ritmos e movimentos, que remetem para a Escola “Desenho na Areia”, promo-
Cokwe. Aliás, em Angola existem oito regiões representativas das escolas de artes tradi- vido por uma petrolífera no-
rueguesa. Em 2008, recebeu
cionais, que simbolizam o nascimento das artes plásticas enquanto expressão artística.
o prémio Cidade de Luanda
As escolas do Kikongo, Yaka, Cokwe, Umbundo, Kimbundo, Mbali, Ngangela e Lwena em Pintura
distinguem-se entre si, de acordo com a etnia e localização geográfica

CULTURA & LAZER · ANGOLA’IN | 127


CULTURA & LAZER BREVES | patrícia alves tavares

cultura
Direitos de autor discutidos
Pinto Baptista, director nacional dos Direitos de Autor e Co-
nexos, defendeu recentemente que a protecção da criação
artística é fundamental para estimular e favorecer a acti-
vidade criadora, permitindo a difusão de ideias e o acesso
do público às obras intelectuais, de forma regulamentada.
O responsável admitiu que, em muitos casos, os criadores
não estão actualizados, nem conhecem os seus direitos.
Para tal, assegurou que o organismo que tutela tem-se es-
forçado no âmbito de sensibilizar a sociedade para as viola-
ções dos direitos de autor, que ocorrem diariamente. “Até
agora, os resultados não são visíveis porque o plágio, a fo-
tocópia, a reprodução de imagem e som são feitos de for-
ma impune”, lembrou. O director revelou que a questão da
salvaguarda dos direitos de autor tem sido muito discuti-
da. O responsável apelou assim para que os criadores recor-
ram ao seu direito de exigir a menção do seu nome, sempre
que as obras passem para o domínio público.

teatro
Apelar à preservação do património
Os actores do grupo “Enigma-Teatro” sensibilizaram os habitantes da Maianga
para a necessidade de salvaguardar os bens públicos, combatendo a delinquên-
cia juvenil. A mensagem foi transmitida através de uma peça de teatro, que
procurou informar a população acerca dos cuidados a terem com o lixo, ape-
lando ao respeito pelos símbolos nacionais, sinais de trânsito e à erradicação
das construções anárquicas. As pe-
ças contam com o apoio do governo
provincial luandense, que recorre as-
sim à vertente social do teatro para
apelar ao civismo.

dança

moda
Bié carece
de incentivos
Pango propõe Conselho de Moda Cândida da Silva, governadora da pro-
literatura
A agência de consultoria, moda e eventos Pango sugeriu víncia de Bié, apelou a todos os jovens
a criação de um “Conselho de Moda Angolana”. O desafio para que utilizem a dança para recupe- Escritor lança disco
foi lançado aos agentes profissionais de moda, para que rar os valores culturais, numa alusão O primeiro disco de poesia do escri-
o organismo esteja a funcionar até ao final deste ano. O ao esquecimento de certos costumes, tor Francisco Ngola é lançado a 20 de
intuito de criar uma entidade específica prende-se com a incluindo a dança tradicional. Assim, Setembro. Intitulado “O Sabor da Po-
necessidade de impulsionar a organização, o profissiona- defende que é urgente recuperar es- esia Cristã”, o álbum é composto por
lismo e a criatividade artística de quem trabalha no meio. ses hábitos, pelo que o Governo local 12 poemas escritos e declamados pelo
A agência defende que o Conselho de Moda será determi- está disponível para apoiar a concre- artista. Numa primeira fase serão co-
nante na internacionalização da indústria e do mercado de tização de actividades culturais, pro- locados no mercado cinco mil exempla-
sector angolano, sendo decisiva no combate à ineficiência movidas pelos grupos regionais, com res do CD, que foi gravado em Luanda
da indústria de produtos têxteis, artigos e acessórios de o intuito de relançar a província, que e contou com o apoio do conhecido
moda. O Conselho de Moda, a ser criado, será composto por se encontra estagnada ao nível ar- poeta Fridolin Kamolakamwe. Segun-
todos os agentes acreditados e terá como principal missão tístico. A directora provincial da Cul- do Francisco Ngola, o disco resulta de
promover este sector em todos os domínios entre 2010 e tura, Alcida Camatali, por seu lado, vários anos de investigação e retrata
2025. À semelhança do que se faz a nível internacional, no- referiu que ao valorizar as danças, a o povo angolano. O escritor nasceu
meadamente nas grandes capitais da moda, a organização população está a criar condições para em Malanje e desde cedo que se inte-
teria ainda a função de acreditar todos os agentes, super- preservar os costumes das regiões e ressou pela poesia, sendo membro da
visionar e promover o intercâmbio técnico-profissional, en- fomentar o intercâmbio entre as múl- Brigada Jovem de Literatura de Ango-
tre outras questões. tiplas localidades. la desde os 12 anos.

128 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER


DESPORTO · ANGOLA’IN | 95
PERSONALIDADES | patrícia alves tavares

Angolano
de alma
e coração
fernaocampos

PERCURSO ATRIBULADO
“Conheci rios. Luandino Vieira teve várias profissões até ser
Primevos, primitivos rios, entes passados do mundo, preso em 1959, sendo depois libertado. Em
lodosas torrentes de desumano sangue nas veias dos homens. 1961 foi novamente detido e condenado a 14
Minha alma escorre funda como a água desses rios.” anos de prisão. Em 1964 foi transferido pa-
ra o campo de concentração do Tarrafal (Ca-
José Luandino Vieira, in O Livro dos Rios
bo Verde), onde após oito anos de clausura
Interveniente activo no movimento de liber- cam-se os livros “A Vida Verdadeira de Domin- foi libertado, em regime de residência vigia-
tação nacional, Luandino Vieira é reconhecido gos Xavier” (traduzido em várias línguas e da em Lisboa. Durante este período, escreveu
pela qualidade da sua escrita e pelo contribu- que foi adaptada pelo filme “Sambizanga”, a maior parte da sua obra, que foi publicada
to dado para o nascimento da República Po- realizado por Sarah Maldoror) e em 1972, depois de sair da prisão.
pular de Angola. Aliás, a literatura e a paixão “Luuanda”. Esta Após a independência angolana,
pelo movimento interventivo social andaram última obra, além desempenhou múltiplos cargos,
sempre ligados na vida do Prémio Camões de ter sido tra- entre os quais a direcção do De-
(2006), que possui uma vasta obra (onde se duzida em vários partamento de Orientação Revo-
inclui poesia), parte dela concebida durante os idiomas, valeu-lhe lucionária do MPLA (até 1979), a
períodos em que esteve preso. José Luandino o Prémio Literário organização e direcção da Televi-
Vieira nasceu na Lagoa do Furadouro, em Por- angolano “Mota são Popular de Angola (de 1975 a
tugal, em 1935. O escritor foi viver para Ango- Veiga”, em 1964 e 1978) e do Instituto Angolano de
la com três anos, onde passou toda a infância o Grande Prémio de Cinema (1979 a 1984). O colapso
e juventude. Para homenagear a cidade onde Novelística da So- das primeiras eleições em 1992
cresceu, adoptou o nome de Luandino, tendo ciedade Portugue- e o início da guerra civil, levou
reivindicado sempre a condição de luandense. sa de Escritores, em o escritor a decidir abandonar a
Pertencente à geração angolana da “Cultu- 1965, causando algu- vida pública, dedicando-se em
ra” entre 1957 e 1963, foi um dos fundadores ma polémica, devi- exclusivo à literatura, nomea-
da União de Escritores Angolanos (1975), as- do à violenta reacção damente infantil.
sumindo a função de secretário-geral desde do regime ditatorial
a abertura da entidade até à década de 80. que existia na altura
Desempenhou o mesmo cargo (como adjun- em Portugal, o Esta- obras publicadas
to) na Associação de Escritores Afro-asiáticos, do Novo. A sua obra de › A Cidade e a Infância
de 1979 a 1984, tornando-se posteriormente narrativas “Vidas Novas” tem um cunho im- › Luuanda
secretário-geral da mesma até Dezembro de portante, uma vez que foi concebido no pavi- › Vidas Novas
1989. Em termos literários, a escrita de Luan- lhão prisional da PIDE, em Luanda, em 1962. › Velhas Estórias
dino Vieira é original, recorrendo à linguagem Por outro lado, a compilação foi apresentada › João Vêncio: os seus amores
crioula e subversiva para conferir maior rea- no concurso literário da Casa dos Estudantes › A Vida Verdadeira de Domingos Xavier
lismo às suas personagens, enriquecendo-as do Império, em Lisboa, acabando por receber o › Nós, os de Makulusu
e conferindo-lhes a expressão viva e colorida Prémio “João Dias”, atribuído por um júri com- › No Antigamente, na Vida
das pessoas e lugares que retrata. Em 1961 posto por personalidades do mundo literário › Macandumba
ganhou o Prémio Sociedade Cultural de Ango- português, como Urbano Tavares Rodrigues, › O Livro dos Rios
la e, em 1963, foi distinguido com o galardão Orlando da Costa, Lília da Fonseca, Noémia de › Lourentinho, Dona Antónia de Sousa & Eu
da Associação de Naturais de Angola. Da vasta Sousa e Carlos Ervedosa. › Nosso Musseque
obra do ícone dos escritores africanos, desta- › A Guerra dos Fazedores de Chuva com os
Caçadores de Nuvens, (infantil)

130 | ANGOLA’IN · PERSONALIDADES


ISSN 1647-3574

ano ii · revista nº08 · set/out 2009


350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros
Economia & Negócios · Sociedade · Turismo Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades

REVISTA Nº08 · SETEMBRO / OUTUBRO 2009


o valor do desporto
Num período em que só se fala em crise, surge um oásis onde se gere milhões.
Um mundo paralelo, detentor de um poder inigualável, numa economia em suposta
recessão. Saiba quais os nomes dos novos multimilionários

o sólido golias casa do futuro novo round


O sector bancário é um dos protagonistas Design, conforto e qualidade. Eis os União Económica e Monetária em África.
do momento. O seu contributo para o critérios porque se pautam as habitações Sonho ou realidade? Países preparam
progresso tornaram a banca fundamental do Século XXI. Um bom investimento para integração financeira com a criação de
para a expansão económica e social. Nesta quem deseja aliar a excelência à eficiência. blocos regionais para se unir a Europa em
edição, descubra a força do gigante Não perca as mais recentes inovações novas parcerias estratégicas

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