"Se manter é complicado, conquistar é mais difícil ainda"
Uma das donas da Cambodja, grife de grande reconhecimento em Salvador, mostra como é possível fazer moda na Bahia sem se deixar abalar pelas dificuldades oferecidas pelo mercado
Fátima, Aninha e Mariana
Berenguer são as irmãs que levam á frente a grife baiana Cambodja, além de dividirem a paixão pelo universo da moda. A Cambodja acaba de realizar seu quarto desfile pelo evento Barra Fashion Bahia. Além de tomar conta da parte de criação e produção da grife, Fátima ainda é mãe, bailarina profissional e dona de um sorriso simpático. Ela é responsável, entre outras funções, por lidar com a imprensa, e mostra que, mesmo com as dificuldades no mercado baiano de moda, é possível fazer bonito . A Cambodja tem como sócias as irmãs Fátima, Ana Lúcia e Mariana Berenger. A idéia da grife partiu de uma vontade das três e foi planejada ou a sociedade aconteceu por acaso através de uma das irmãs? Na época, a idéia surgiu de uma iniciativa minha. Pedi para um namorado meu, que estava viajando a trabalho, que trouxesse algumas metragens de tecido para eu confeccionar algumas peças. Surgiu do "Meu armário é interesse de tentar formar, talvez, um pequeno negócio. A gente não imaginava exclusivamente onde podia chegar, mas talvez fosse a Cambodja. É intenção de iniciar alguma coisa. Eu tinha me formado e minha mãe sempre costurou complicado falar em casa, fazia muita roupa pra gente usar e tínhamos o exemplo do que era confeccionar de outra marca, uma peça. Então, quando ele foi a trabalho - lembro que na época as pessoas falavam porque, na daquela moda batik, uma coisa meio tye die, verdade, eu realmente não umas cangas - eu pedi pra ele trazer alguns metros de tecido pra mim. Quando ele chegou, eu liguei pra Aninha e disse “poxa, Durval trouxe umas cangas lindas, alguns visto." metros de tecido. Vamos ver o que a gente consegue fazer com isso”. Aí eu comprei uma máquina e a gente começou a fabricar umas pecinhas com essa canga de base. Daí eu fiz um bazar em casam – tinha até camisa masculina de botão - onde as peças todas foram vendidas. Então, foi criada uma sementinha e a partir dali as coisas foram acontecendo. bem direcionado.Na loja tem também "Hoje já existem mais produtos, 30% são essas pecinhas uma linha da Bianca de bijuteria. básicas, que não podem faltar, os Sendo que pro desfile usamos faculdades (de moda). outros 70% são forte da Cambodja, acessórios de couro da Mary Design. Acredito que isso que é aquela peça que você vai usar ajuda a alavancar e de repente vai marcar.Agora essa Quais são as dificuldades pecinha básica que não pode faltar, enfrentadas por vocês no mercado da esse cenário, abrindo que deve estar presente no seu moda baiano? Considero que a mais possibilidades." guarda-roupa, que de repente não matéria-prima é muito complicada de cansa de usar, normalmente ser encontrada e os acessórios - como o E acessórios? investimos nessas peças que eu botão, a linha, um zíper legal, um Uso os acessórios que a grife considero com essas padronagens material diferenciado para detalhes de importa. Meu armário é mais neutras, essas cores mais roupa - também. Temos uma carência exclusivamente Cambodja. É básicas. Primeiro, a premissa da cor, muito forte, em tecido principalmente. complicado falar de outra marca, que é o preto, o cru. De uma coleção Buscamos nas importadoras, mas, no porque, na verdade, eu realmente pra outra está sempre presente e o fundo no fundo, não temos muita não visto. branco, o cinza e o chocolate. Agora opção. Acho que o detalhe que faz a vem o nude com tudo, que é esse tom diferença e, para isso, não temos muita Em relação ao Barra Fashion, de pele. Eu vou mais pelas cores, alternativa. Essa é a maior dificuldade. vocês desfilaram na 7°, 9°, 10° e porque as modelagens adicionais, Com relação às vendas, trabalhamos no 13° edição. Como surgiu o como uma calça clássica, como um mercado com todas as dificuldades que convite? Por termos uma loja no vestidinho, um tubinho básico, isso todo mundo tem. Temos que estar Shopping e ser uma iniciativa do de coleção pra coleção você sempre sempre lançando algo diferencial, próprio Shopping, eles dão vai encontrar. Mas não é isso que o trabalhando vitrine, equipe de vendas... oportunidade a qualquer lojista de cliente busca lá na loja. O básico é A marca como um todo. Temos uma participar. Agora, obviamente que muito raro. Eles compram por preocupação diária com isso, para estar tem um custo alto e a maioria das impulso, por estarem indo comprar sempre conquistando novos clientes, lojas, não sei, não tem interesse... um vestido diferenciado. porque se manter já é complicado, Talvez elas não queiram atrelar o Normalmente as pessoas chegam na conquistar é mais difícil ainda. Então, produto ao mundo fashion, já que loja e perguntam “poxa, eu quero um temos essa preocupação de geralmente são mais ligadas ao comercial. Não vestido diferente, um blusa...” a estar lançando um diferencial na loja, são todas as lojas que participam, palavra é sempre “diferenciada”. É seja na vitrine, como eu disse, seja com são poucas. Mas acreditamos que a alguma coisa que ele quer para, de uma promoção interessante pro cliente, Cambodja deve estar presente nos alguma forma, se diferenciar do dando essa informação a ele através de eventos de moda, que deve estar outro. Ele não busca na loja alguma e-mail. É um trabalho que vai desde a sempre atrelando a moda ao coisa para se parecer com ninguém confecção até o comércio. conceito. Esse conceito fica bem ou estar discreto. claro quando colocamos na O cenário de moda em Salvador está passarela. Trazemos credibilidade Em meio a tantas coleções se ampliando ou ainda está muito pra marca, o cliente fala que tem lançadas, já houve alguma peça em restrito? Acho que está se ampliando. orgulho de vestir a marca. Sempre especial que não teve aceitação do Esse ano foi notório, inclusive a dizemos que é um bom retorno, que público?Normalmente tem. Toda presença de vocês e do público apesar de sair apenas mil pessoas, coleção tem algumas peças que vão estudante de moda, que compareceram repercute bem. Sempre que justamente para a liquidação, que são mais pedindo convite nas lojas. Eu pudermos participar do evento, que aquelas peças com problema de sinto esse interesse crescente pelo tiver um formato que acreditamos, modelagem. Às vezes você pode mundo da moda e pela especialização pretendemos continuar presente. acertar na estampa, mas errar num em moda. Nós não temos nenhuma corte e aquela peça não vestir bem. formação em moda. Nem eu, nem A moda se dá como um ciclo. As Mas isso é raro. Normalmente, minhas irmãs. Na nossa época, era tendências, como anos 70 e 80, trabalhamos muito bem essa parte de muito raro você encontrar um trabalho estão voltando. Mas alguns elaboração do produto, com a interessante de moda. Hoje já existem estilistas consideram que existem aprovação da piloto. Também mais faculdades, há um leque maior peças únicas, que não podem sair acontece de uma cor não agradar. nesse sentido. Acredito que isso ajuda do guarda-roupa, tipo um Você pode vender um modelo em a alavancar esse cenário, abrindo pretinho básico e uma calça duas ou três cores e uma cor mais possibilidades. jeans. O que não pode faltar nas encalhar. Essas peças normalmente araras da Cambodja? (Risos) vão pra liquidação e daí termina por O que você, Fátima, usa e recomenda Pois é. Acho que, do nosso mix de sair, porque a gente dá o diferencial da grife baiana? no preço (risos). Ah! Eu só visto Cambodja! (Risos) Só, única e exclusivamente. E para o processo de criação, vocês “O mercado baiano em com pessoas interessadas em utilizam alguma fonte especial, tem relação a tecidos é abrir novas lojas Cambodja pelo alguma inspiração, buscam nas ruas muito escasso, oferece Brasil. Ainda nos fortalecendo modelos variados ou seguem algum dentro da produção para que ritual para isso? pouca variedade e, por possamos abrir esse leque de Começamos com a pesquisa virtual, isso, normalmente franquias em outros Estados. através da internet, nos desfiles de compramos de moda (internacional) que acontecem ... E importar? Temos alguns com antecedência, porque a coleção importadoras” fornecedores em Recife e em São deles é lançada quase um ano antes da Paulo, que já fazem o produto nossa. A primeira pesquisa eu verão. Logo que lançamos a coleção, acabado com a nossa etiqueta. considero que seja essa, para entender chamamos de transição, que é o Não conseguimos fabricar 100% as apostas das coleções. Então, a período que você está saindo do do que vendemos, por conta das pesquisa do verão começa com um ano inverno, onde você já mostra um dificuldades no mercado baiano. de antecedência, nas semanas de moda pouquinho do que é que vai ser o Alguns vestidos de festa mais de Paris, Milão e Nova York. A partir verão, mas não vai direto ao assunto. trabalhados e algumas partes de daí, a gente começa a entender o que é baixo, como calças e shorts jeans, tendência no mundo para a próxima Para produção de peças, vocês não são nossa especificidade. coleção. Observamos de que forma recorrem a fornecedores de tecidos Conseguimos fabricar mais podemos transformar isso para a nossa baianos ou de outros estados? É vestidos e blusas, que é o forte da realidade. Normalmente escolhemos difícil fazer uma seleção das nossa produção. um tema, principalmente no ano que estampas e do material? Os tecidos vamos fazer desfile ou catálogo. Se não são quase todos importados, são Esse ano a Cambodja surgiu partirmos de um tema, não coreanos em sua maioria. As com uma novidade: um malha conseguimos selecionar de tudo que foi importadoras predominam hoje no ecológica, feita de fibras de apostado o que quereremos focar. As mercado brasileiro. Quase não temos bambu. De onde partiu essa passarelas internacionais têm muita fornecedores locais, só para malha idéia? A grife possui alguma variedade, os estilistas hoje conseguem com estampas, que é a Menegotti. O preocupação com o meio falar de tudo.A partir daí, escolhemos, mercado baiano em relação a tecidos ambiente? Acho que já existe dentro da nossa temática, no que vamos é muito escasso, oferece pouca essa consciência, não só nossa, nos especializar melhor, nos variedade e, por isso, normalmente mas desse fabricante, que aprofundar melhor na pesquisa. compramos de importadoras. desenvolve essa tecnologia. Eles encontraram o fio, feito de fibras Como você disse, as coleções são Para a seleção das estampas e do de bambu, ao qual procuramos feitas de acordo com as estações do material, vocês recebem alguma aderir. Essa tendência de ano, a exemplo da primavera/verão e amostra de tecido ou as estampas trabalhar com o que é do outono/inverno. Sendo uma são exclusivas? Essas estampas não ecologicamente correto é marca baiana, para desenvolver os são exclusivas da Cambodja. mundial. Esse tecido tem um projetos das coleções vocês se Trabalhamos com estampas ainda caimento melhor, tem uma baseiam nas estações do ano, mesmo padronizadas, vindas dessas sensação de leveza e conforto e é Salvador sendo uma cidade tropical? importadoras. Mas estamos iniciando uma malha bem transparente, Quando iniciamos o trabalho, há quase esse processo de tentar exclusividade com o fio bem delicado, então dezesseis anos atrás, as coleções eram nas estampas. Normalmente não é aquela malha pesada. E mais segmentadas. Nos preocupávamos desenvolver uma estampa requer um esse ano a abertura do desfile foi mais com as coleções bem custo alto. Agora começamos a com ela e toda essa linha areia. definidamente. Hoje, acreditamos em enxergar a possibilidade de pequenas coleções. Lógico que as desenvolver estampas mais ou menos A Cambodja mantêm algum coleções primavera/verão e nessas padronagens diferenciadas, tipo de parceira com outras outono/inverno ainda predominam com um traçado mais exclusivo, mais marcas, à exemplo da também dentro no estilo de uma coleção. Mas personalizado. Temos o cuidado de baiana Bianca Cabral? como na Bahia o inverno não é tão selecionar muito bem as estampas Trabalhamos com fornecedores rigoroso, uma roupa que você compra, para dar essa cara de exclusiva, de acessórios como um todo, de tanto no inverno quanto no verão, dá mesmo não sendo ainda. bijuterias, brincos e colares. para usar o ano inteiro. Agora, na loja, Trabalhamos também com Beth para sempre ter novidade, para que o Vocês são uma marca de Salvador Barreto, que fica no Sul, e com cliente perceba que, se ele voltar uma que costumam exportar produtos Mary Design, que vem de Belo semana depois ele vai encontrar um para outras cidades do Brasil? Horizonte. Desenvolvemos a produto novo, subdividimos em Ainda não. Concentramos nossa linha de bolsas desse ano em pequenas coleções. Então, dentro do produção nas três lojas. Tanto que parceira com Bianca. Ela tem um verão, fazemos duas ou três coleções, temos muito pedido de franquia, trabalho bacana e nós que é a primavera, o verão e o alto conseguimos fazer um trabalho
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