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A Miséria Acadêmica e a Dialética da Revolta Page 2 of 20
SANCHIS , E. Da
Escola ao
ineficaz ou realizada de forma equivocada, mas toda revolta é legítima em si mesma. Por conseguinte, a
Desemprego. São idéia de punir os revoltados é apenas uma defesa da ordem e da situação que criou a revolta e não a
Paulo, Agir, 1997. abolição da revolta ou de suas condições de existência.
Tragtenberg, M. As revoltas estudantis coletivas sempre foram legítimas reações contra situações deploráveis. Hoje, mais
Sobre Educação, do que nunca, a tendência é explodir revoltas e nesta explosão de revoltas, sob as mais variadas formas
Política e
Sindicalismo. 2ª
(individuais, coletivas, grupais, superficiais, reformistas, revolucionárias, cotidianas, coisificadas, etc.),
edição, São Paulo, se colocam aqueles que se preocupam em entender a situação da revolta e os revoltosos, enquanto que os
Cortez, 1990. outros se preocupam apenas em “vigiar e punir”, isto é, defender o status quo. A diferença é que alguns
Viana, N. Violência e
olham para as causas e outros apenas para os efeitos e se preocupam apenas com estes. Os revoltosos
Escola. In: VIEIRA , R. podem sofrer sanções, punições, mas nada disto irá impedir novas revoltas. Aliás, tende a intesificá-las.
G. e VIANA , N. Um bom governo conservador, uma competente burocracia, nunca fornece motivos desnecessários para
(orgs.). Educação, os explorados e oprimidos se rebelarem.
Cultura e Sociedade.
Goiânia, Edições O caso recente dos estudantes da UNESP de Franca[1] é apenas um exemplo entre milhares de outros, tal
Germinal, 2002. como o caso da torta jogada no reitor da UnB[2], as revoltas e protestos estudantis na Europa, a luta pelo
passe livre no Brasil, entre outros casos, são apenas parte do processo mais global de mobilização e
revoltas coletivas que explodem no mundo contemporâneo, tal como ocorreu recentemente na França[3].
As revoltas estudantis, mais ou menos radicais, individuais ou coletivas, é apenas expressão da miséria
acadêmica, e protesto contra ela. Tal como Marx colocou referente à religião, as revoltas estudantis
possuem um caráter de expressão e de protesto. As revoltas estudantis, com exceção do momento em que
elas realmente questionam a condição estudantil, a instituição universitária e se articula com o
movimento operário e luta pela transformação social, são expressão da miséria acadêmica e, ao mesmo
tempo, protesto contra ela. Elas são expressão da miséria acadêmica (e estudantil). Segundo Khayati,
representante do situacionismo, “numa época em que a arte morreu, ele [o estudante – NV] continua
sendo o principal fiel dos teatros e cineclubes, bem como o mais ávido consumidor de seu cadáver
congelado e difundido em celofane nos supermercados para as donas-de-casa da abundância. Ele
participa disso sem nenhuma reserva, sem segundas intenções e sem distanciamento algum. É o seu
elemento natural. Se os ‘centros culturais’ não existissem, o estudante os teria inventado. Ele confirma
com perfeição as análises mais banais da sociologia norte-americana do marketing: consumo
ostentatório, estabelecimento de uma diferenciação publicitária entre produtos idênticos em nulidade
(Pérec ou Robbe-Grillet, Godard ou Lelouch)”. Khayati continua: “incapaz de sentir paixões reais, ele se
delicia com polêmicas sem paixão entre os ícones da ininteligência a respeito de falsos problemas cuja
função é disfarçar os verdadeiros: Althusser – Garaudy – Sartre – Barthes – Picard – Lefebvre – Levi-
Strauss – Halliday – Chatelet – Antoine. Humanismo – existencialismo – estruturalismo – cientismo –
novo criticismo – dialeto-naturalismo – cibernetismo – planetismo – metafilosofismo”; “na sua
aplicação, ele se considera de vanguarda porque assistiu ao último de Godard, comprou o último livro
argumentista, participou do último happening desse Lapassade, uma besta. Ignorante, ele acredita serem
novidades ‘revolucionárias’, garantidas por certificado, as piores versões de antigas pesquisas
efetivamente importantes em seu tempo, edulcoradas para uso do mercado” (Khayati, 2002, p. 38).
Certamente não é possível concordar com a totalidade das afirmações de Khayati, e desconsiderar Jean-
Paul Sartre, Henri Lefebvre e Georges Lapassade. Mas também é preciso ver que estes pensadores
produziram coisas horrorosas. Por exemplo, Lefebvre e seu pequeno livrinho O Marxismo (1979), da
coleção Que Sais-Je? ou, na edição luso-brasileira, Saber Atual, apresenta uma interpretação do
marxismo que qualquer stalinista concordaria... e é claro que os problemas de sua produção não se
limitam a isto, mas daí não se pode descartar a totalidade de sua produção, inclusive sua influência sobre
o situacionismo, bem como ter antecedido vários elementos desenvolvidos pelos representantes desta
tendência. Além disso, seria preciso uma atualização dos “ícones da ininteligência”: Kurz – Foucault –
Deleuze – Guatari – Derrida – Negri – Pierre Levy – Maffesolli – Moscovici – Durand – Bourdieu –
Touraine – Boaventura de Sousa Santos – Giddens. Pós-Modernismo – Pós-Marxismo –
Multiculturalismo – Teoria Crítica Pós-Moderna – Globalismo – “Marxismo” Analítico – Escola da
Regulação – Desconstrucionismo – Representações Sociais – História Cultural – Pós-Colonialismo –
Culturalismo – Situacionismo. A quantidade de ícones deveria ser bem maior, mesmo porque o mercado
capitalista de ideologias ampliou-se bastante dos anos 60 para cá. Aliás, não deixa de ser cômico como o
situacionismo se transformou em mais um espetáculo debordiano... e como é caricaturizado
contemporaneamente.
Mas as revoltas estudantis não são apenas os estudantes, são os estudantes em ação, são expressão da
miséria acadêmica e da própria miséria, mas também são protesto, mesmo que miserável, contra tal
miséria. O protesto estudantil contra a miséria estudantil e acadêmica pode ser miserável, mas continua
sendo um protesto e continua sendo legítimo, pois assim como os servos da Idade Média se revoltam
utilizando a linguagem religiosa dominante, os estudantes podem se revoltar utilizando a linguagem e
cultura miserável dominante. Mas os estudantes também podem fazer um protesto não-miserável, ir além
da miserabilidade existente e sair de sua mônada miserável. A luta miserável contra a miséria só pode
reproduzir a miserabilidade a que pretensamente se opõe. A verdadeira luta contra a miséria existe na
negação da miséria, inclusive no próprio processo de negação, o que faz com que ela seja
simultaneamente uma afirmação. Quanto mais miséria, mais revoltas miseráveis. Neste sentido, existe
um círculo vicioso da miserabilidade.
É preciso sair deste círculo vicioso. Mas este é um círculo vicioso formado não por materiais da natureza,
objetos, e sim seres humanos. Estes criam as suas relações e por isso podem transformá-las, ou
reproduzi-las.
Mas este não é o ponto de vista da burocracia universitária. Qualquer contestação, qualquer inovação,
qualquer recusa da autoridade, por mais corriqueira ou banal que seja, por mais ineficaz ou infantil que
seja, por mais irrelevante ou pouco radical que seja, por mais assimiláveis e plausíveis, do ponto de vista
burocracia universitária, que sejam as reivindicações, ela deve controlar e punir, pois é para isso que ela
existe. É por isso que a Unesp expulsa seus alunos recalcitrantes. Pessoalmente, por mais que se
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apresentem justificativas “estéticas” para o ato dos alunos, a sua ação foi, do meu ponto de vista, de mau
gosto. No entanto, igualmente de mau gosto e despropositado é a expulsão deles, pois suas
reivindicações são legítimas, afinal ninguém quer estudar num prédio caindo aos pedaços e que pode,
literalmente, cair. Por isso é necessário, deixando de lado a forma como protestaram, defender a
legitimidade de suas reivindicações e, por conseguinte, a ilegitimidade da expulsão.
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Clique e [1] Para uma descrição deste acontecimento veja o texto de João Bernardo, Um Acto Estético.
cadastre-se para
receber os informes [2] Veja: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/05/316160.shtml
mensais da Revista
[3] Sobre alguns destes acontecimentos, veja: http://www.booklink.com.br/tribuna.htx?cod_autor=1420 e
Espaço Acadêmico http://barcelona.indymedia.org/newswire/display/216772/index.php
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