TERRA LIVRE

PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

BOLETIM Nº14 NOVEMBRO DE 2009

-SOBERANIA ALIMENTAR E AGRICULTURA

-ARROZ TRANSGÉNICO NOS NOSSOS PRATOS?

- SOS-CAGARRO E O AMBIENTALISMO DE ALCATIFA

 SOBERAIA ALIMETAR E AGRICULTURA

Em 1960, havia 80 milhões de seres humanos que mais do que 30 conglomerados transnacionais
passavam fome em todo o mundo. Um escândalo! controlam toda a produção e comércio agrícola.
Naquela época, Josué de Castro, que agora
completaria 100 anos, marcava posição com suas Quais foram os resultados sociais?

teses, defendendo que a fome era consequência

Os seres humanos que passam fome aumentaram
das relações sociais, não resultado de problemas
de 80 milhões para 800 milhões. Só nos últimos
climáticos ou da fertilidade do solo.
dois anos, em função da substituição da produção

O capital, com as suas empresas transnacionais e o de alimentos por agro combustíveis, de acordo

seu governo imperial dos Estados Unidos, com a FAO (Organização das Nações Unidas para

procurou dar uma resposta ao problema: criou a Agricultura e Alimentação), aumentou em mais 80

chamada Revolução Verde. Ela foi uma grande milhões o número de famintos. Ou seja, agora são

campanha de propaganda para justificar à 880 milhões.

sociedade que bastava "modernizar" a agricultura,

Nunca a propriedade da terra esteve tão
com uso intensivo de máquinas, fertilizantes
concentrada e houve tantos migrantes camponeses
químicos e venenos. Com isso, a produção
saindo do interior e indo para as metrópoles e
aumentaria, e a humanidade acabaria com a fome.
mudando de países pobres para a Europa e os
Estados Unidos.

Somente neste ano, a Europa prendeu e extraditou

200 mil imigrantes africanos, a maioria
camponeses. Há oito milhões de trabalhadores
agrícolas mexicanos nos Estados Unidos. Setenta
países do Hemisfério Sul não conseguem mais
alimentar seus povos e estão totalmente
dependentes de importações agrícolas.

Perderam a auto-suficiência alimentar, perderam

Passaram-se 50 anos, a produtividade física por sua autonomia política e económica.
hectare aumentou muito e a produção total
O pior é que, em todos os países do mundo, os
quadruplicou em nível mundial. Mas as empresas
alimentos chegam aos supermercados cada vez
transnacionais tomaram conta da agricultura com
mais envenenados pelo elevado uso de agro
suas máquinas, venenos e fertilizantes químicos.
tóxicos, provocando enfermidades, alterando a
Ganharam muito dinheiro, acumularam bastante
biodiversidade e causando o aquecimento global.
capital e, com isso, houve uma concentração e
Isso acontece porque as empresas transnacionais
centralização das empresas. Actualmente, não
padronizaram os alimentos para ganhar em escala
e lucros. Os alimentos devem ser produzidos de
acordo com a natureza, com a energia do habitat.

A comida não pode ser padronizada, uma vez que

faz parte de nossa cultura e de nossos hábitos.
Diante disso, qual é a saída? O Estado, em nome
da sociedade, deve desenvolver políticas públicas
para proteger a agricultura, priorizando a
produção de alimentos. Cada município, região e
povo precisa produzir seus próprios alimentos,
que devem ser sadios e para todos. Assim nos
ensina toda a história da humanidade. A lógica do
comércio e intercâmbio dos alimentos não pode se
basear nas regras do livre mercado e no lucro,
como pretende impor a OMC.

Por isso, consideramos o alimento um direito de

todo ser humano, e não uma mercadoria, como,
aliás, já defende a Declaração Universal dos A chamada agricultura industrial é predadora do
Direitos Humanos. Cada povo e todos os povos ambiente, só produz com agr tóxicos. É
devem ter o direito de produzir seus próprios insustentável a longo prazo. Por isso, neste 16 de
alimentos. Isso se chama soberania alimentar. Não Outubro, Dia Mundial da Alimentação, as
basta dar cesta básica, dar o peixe. Isso é a organizações camponesas, movimentos de
segurança alimentar, mas não é soberania mulheres, ambientalistas e consumidores faremos
alimentar. É preciso que o povo saiba pescar! manifestações em o todo mundo para denunciar
problemas e apresentar propostas para que a
No Brasil, com um território e condições
humanidade, enfim, resolva o problema da fome
edafoclimáticas tão propícias, não temos soberania
no mundo.
alimentar. Importamos muitos alimentos, do
exterior e entre as regiões do país. Mesmo em Artigo de João Pedro Stedile, economista,
nossas "ricas" metrópoles, o povo depende de integrante da coordenação nacional do MST e da
programas assistenciais do governo para se Via Campesina, e Dom Tomás Balduíno, mestre em
alimentar. A única forma é fortalecer a produção teologia, bispo emérito da Diocese de Goiás, é
dos camponeses, dos pequenos e médios conselheiro permanente da CPT (Comissão da
agricultores, que demandam muita mão-de-obra e Pastoral da Terra), órgão vinculado à CBB
têm conhecimento histórico acumulado. (Conferência acional dos Bispos do Brasil

Fonte:
http://diariogauche.blogspot.com/2008/10/soberan
ia-alimentar-e-agricultura.html
 ARROZ TRASGÉICO OS OSSOS PRATOS?

come arroz todos os dias. E, de entre os europeus,

os portugueses são os maiores consumidores de
arroz: cada um de nós come em média cerca de
15 quilos por ano!

... a empresa Bayer pretende que a União Europeia

aprove até ao final de 2009 a importação e
consumo do arroz LL62, um arroz transgénico
que é muito diferente do arroz convencional
tanto em termos de vitaminas (B5 e E), como em
cálcio, ferro e ácidos gordos?
Ajudar a defender o nosso arroz é simples. Basta:
1. Informar-se! ... o arroz transgénico LL62, da empresa Bayer,
2. Agir! foi manipulado para se tornar resistente a grandes
3. Divulgar! doses do herbicida glufosinato, também da Bayer?
Isso significa que cada bago de arroz transgénico
Pela primeira vez uma empresa (a alemã vai ter mais resíduos desse poluente do que
Bayer) pretende comercializar arroz qualquer outro tipo de arroz - e o glufosinato
transgénico na União Europeia. Até aqui as foi avaliado como sendo de «alto risco» para o ser
plantas transgénicas estavam praticamente humano e outros mamíferos.
limitadas às rações animais. Mas agora a
engenharia genética chegou directamente ao ... na verdade, esse herbicida glufosinato é tão

nosso prato. O que fazer? tóxico que já foi decidida a sua proibição na
União Europeia a partir de 2017? Se a União
Europeia aprovar o arroz transgénico é como estar
1º passo: Informe-se!
a dizer: «Não permitimos cá este herbicida, mas
SABIA QUE... não queremos saber se abrimos as portas para este
arroz ser produzido noutros países que assim vão
... o arroz é o alimento mais importante do ficar poluídos. Também não nos interessa se o
mundo? Mais de metade da população mundial glufosinato, apesar de proibido, acaba por voltar a
entrar na nossa cadeia alimentar através do arroz
que importarmos.»
... os resíduos do herbicida não desaparecem bloquear esta aprovação. Para a chumbar
quando se coze o arroz? definitivamente é preciso reunir 255 votos (existe
um total de 345 votos no Conselho). Se Portugal
... a entrada do arroz transgénico na Europa,
se abstiver é como se estivesse a votar a favor - só
segundo documentos da própria empresa Bayer,
um voto contra é que interessa! Por isso vale a
vai levar à contaminação dos campos de cultivo
pena mostrar ao ministro de que lado temos de nos
de arroz normal?
colocar, porque a nossa posição pode fazer a
diferença na balança europeia.
... a Bayer não é de confiança? Nos Estados
Unidos em 2006 uma das suas variedades de arroz
transgénico, apenas autorizado para testes
experimentais, contaminou extensas áreas de arroz
agulha e o resultado foi um prejuízo superior a 1,2
mil milhões de dólares para toda a indústria
arrozeira daquele país. E a Bayer, o que fez?
Descartou-se de todas as responsabilidades
afirmando simplesmente em tribunal que esse
acidente tinha sido «um acto de Deus»!

... esta é uma decisão sem retorno? Não existe

cultivo comercial de arroz transgénico em país
algum do mundo. A Bayer quer forçar a União
Europeia a aprovar a importação do arroz LL62 de
modo a depois começar o cultivo em países com
legislação mais frágil. A consequências será a
contaminação das variedades de arroz um pouco
por todo o mundo. E finalmente a União Europeia
ver-se-á obrigada a autorizar o cultivo transgénico 2º passo: Passe à acção!
também por cá, porque – tal como já acontece
ESCREVA ao Ministro da Agricultura e diga-
com outras espécies – as variedades normais de
lhe para votar contra qualquer autorização do
arroz terão ficado irremediavelmente
arroz transgénico LL62. Os contactos são estes:
comprometidas.

... nada está perdido? Ainda estão pela frente duas

votações em Bruxelas, uma a nível de comité Morada: Ministério da Agricultura, Praça do
regulador e outra no Conselho de Agricultura, que Comércio, 1149-010 LISBOA
ainda não têm data marcada. Portugal tem 12 Email: gabministro@madrp.gov.pt
votos e são necessários 91 votos contra para Fax: 213 234 604
 consumidores, nem os agricultores. Qualquer voto
português a favor, ou mesmo uma abstenção,
Pode usar o texto abaixo, ou modificá-lo como
representaria uma vénia a interesses que não são
entender. Por favor envie-nos cópia do email,
os nossos. Para protecção dos consumidores e do
carta ou fax para info@stopogm.net
arroz cultivado em Portugal apelo a que o governo
assuma as suas responsabilidades e afirme
EXEMPLO DE CARTA
publicamente que fará tudo ao seu alcance para
Exmo Sr Ministro da Agricultura, evitar este atentado à nossa alimentação e
gastronomia.
Venho por este meio expressar a minha total
oposição à aprovação do arroz transgénico LL62 Com os melhores cumprimentos,
da Bayer e solicitar que vote contra esse arroz em
NOME:__________________________________
todas as circunstâncias ao seu alcance. Se fosse
_______________________________
aprovado, o arroz LL62 seria o primeiro
BI:_____________________
transgénico em circulação na União Europeia
[ASSINAR COM NOME COMPLETO E
dirigido directamente ao consumo humano.
INDICAR O NÚMERO DO BILHETE DE
Tornar-se-ia parte da alimentação de todos:
IDENTIDADE]
pessoas saudáveis e doentes, crianças e adultos,
grávidas e idosos. Mesmo que no supermercado -
se a rotulagem estivesse a ser cumprida! - fosse 3º passo: Peça aos seus amigos para fazerem o

possível evitar comprar esse arroz, já não haveria mesmo!

nenhuma escolha em cantinas ou restaurantes. E,

Envie aos seus amigos, familiares ou conhecidos a
com o tempo, a contaminação tornaria cada vez
indicação para vir a esta página
mais difícil produzir e manter arroz normal, livre
(http://www.stopogm.net/?q=node/709) ou
da presença transgénica. O arroz não transgénico
mande-lhes a informação de modo a que também
tornar-se-ia uma raridade cara, só para as elites
possam escrever ao nosso ministro. Também é
que apreciam o gourmet e o pudessem pagar.
importante que fiquem a saber que todos os

Portugal é o terceiro maior produtor de arroz da pedidos/protestos ao ministro devem ser enviados

União Europeia, e os portugueses comem, por com cópia para a Plataforma Transgénicos Fora

ano, mais arroz do que qualquer outro europeu. Se (info@stopogm.net) para que possamos fazer uma

o arroz transgénico da Bayer for aprovado para o contagem aproximada.

mercado europeu, seremos dos mais afectados. É

Fonte: http://www.stopogm.net/
pois a nossa saúde, economia e cultura que estão
em causa.

Senhor Ministro: não há ninguém em Portugal a

pedir arroz transgénico - nem a indústria, nem os
 SOS-CAGARRO E O AMBIENTALISMO DE ALCATIFA
Em Novembro de 1993, coordenada pelos Amigos
dos Açores, teve inicio a campanha "A Escola e o
Cagarro", no âmbito da qual foi aplicado um
inquérito, sobre a espécie, destinado a alunos das
escolas, nomeadamente do 1º e 2º ciclos do ensino
básico, e distribuídos 10 mil folhetos.
Foi esta iniciativa, que teve como principal mentor
o Eng. Luís Monteiro, do Departamento de
Oceanografia e Pescas da Universidade dos
Açores, que deu origem à actual campanha “SOS-
Cagarro”. Esta tem como objectivo principal
salvar o maior número possível de cagarros, a ave
marinha mais abundante dos Açores, cujo número
se encontra em regressão a nível mundial.
Não sendo o cagarro propriedade de ninguém, das
entidades oficiais espera-se, apenas,
disponibilização de informação e meios ao cada
vez maior número de voluntários que todas as
noites, nos meses de Outubro e de Novembro, se
disponibilizam para participar nas brigadas que se
têm constituído para a recolha de cagarros e sua
posterior devolução ao mar.
Para além dos voluntários já referidos, é de louvar
o papel de algumas associações ou grupos
informais, como os Amigos dos Açores e os
Amigos do Calhau, de São Miguel, e o CADEP,
de Santa Maria, que têm coordenado o trabalho
voluntário e promovido a defesa daquela espécie
sobretudo no Grupo Oriental dos Açores.
De igual modo, embora não seja de estranhar, as
mais de trinta associações reconhecidas como tal
pela Assembleia Legislativa Regional dos Açores
mantêm um silêncio absoluto sobre o assunto e
têm-se abstido de qualquer participação activa
nesta campanha.
Embora respeitemos a pluralidade do denominado
movimento ambientalista, não compreendemos a
sua descoordenação e muito menos a tentativa,
periódica, de alguns de criar estruturas que têm
apenas como o objectivo de lá se colocarem com
vista a tornarem-se visíveis para posteriores voos.
A obsessão em serem representantes de outros em
comissões ou nos variados conselhos consultivos
a
e a fobia em trabalharem no terreno, junto das
populações, onde estão localizados os problemas
ambientais, que mais não são do que problemas
sociais, faz com que eles pertençam a uma
tipologia especial: a dos ambientalistas de alcatifa.
T.B.
TERRA LIVRE- COLECTIVO AÇORIANODE ECOLOGIA SOCIAL

terralivreacores@gmail.com