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CARACTERIZAÇÃO
HIDROGEOLÓGICA DO
SETOR ORIENTAL DO PÓLO
INDUSTRIAL DE CAMAÇARI
UTILIZANDO GEOFÍSICA
ELÉTRICA
SALVADOR – BAHIA
ABRIL – 2004
Documento preparado com o sistema LATEX.
Documento elaborado com os recursos gráficos e de informática do CPGG/UFBA
Caracterização hidrogeológica do setor oriental do Pólo Industrial
de Camaçari utilizando geofı́sica elétrica
por
Saulo Ueslei Sousa Mota
Engenheiro Civil (Universidade Federal da Bahia – 1998)
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Submetida em satisfação parcial dos requisitos ao grau de
MESTRE EM CIÊNCIAS
EM
GEOFÍSICA
à
Câmara de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa
da
Universidade Federal da Bahia
Comissão Examinadora
550.370:556.34(813.8)(043)
Resumo
iii
Abstract
Electrical resistivity and induced polarization sounding measurements were used for the
structural mapping and the hydrogeological characterization of the subsurface in an area of
the eastern part of the Camaçari Industrial Complex, Camaçari, Bahia. The experiment was
conducted through the quantitative evaluation of 40 vertical electrical soundings, acquired
using Schlumberger electrode array up to a maximum spacing AB/2 of 1000 meters. The
geoelectrical interpretation of such data was useful to delined at least two hydrostratigraphic
units, important for groundwater exploration: (i) the first and most important covers 2/3
of the studied area and is composed of sandstones bodies within Marizal and São Sebastião
formations. It behaves regionally as a free or water table aquifer; (ii) the second unit at
the nothern corner is totally included in the São Sebastião Formation and has a thick cover
of shales and siltstones. This is followed by an interlayring of thick sandstones and shales
forming a multiple confined or semi-confined system. The geophysical results are presented
as geological cross sections and contour maps showing the lithologic variability and water
quality changes within the uppermost freatic aquifer. The combined interpretation of ρa ,
ma data together with the use of parametric soundings (sounding near a well site) and
geoelectrical association of neighbour soundings have contributes to reduce the ambiguity
normally present in the inversion of electrical data.
iv
Índice
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iii
Abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iv
Índice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
v
Índice vi
4 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Índice de Figuras
vii
Índice de Figuras viii
O uso racional e a gestão dos recursos hı́dricos subterrâneos tornam-se cada vez mais im-
portantes, principalmente pela crescente demanda de água e dos problemas de escassez e
mal uso, os quais já ocorrem em diversas partes do mundo. O desenvolvimento de estudos e
novas técnicas visando um melhor entendimento das potencialidades dos sistemas aqüı́feros
torna-se necessário visando não somente a exploração, mas principalmente o conhecimento
para a proteção e a gestão sustentável dos mesmos. Nesse contexto,os métodos geofı́sicos
aplicados ao estudo de aqüı́feros vêm ganhando uma importância cada vez maior, principal-
mente pela redução dos impactos ambientais, menor custo e maior rapidez para obtenção
dos resultados, se comparados aos métodos penetrativos de investigação da subsuperfı́cie
(OverMeeren, 1989; Araújo, 1995; Payne e Stubben, 1997; Lima, 1999; Cavalcanti, 1999;
Júnior, 2003).
No caso da Bahia, o Pólo Industrial de Camaçari, através de suas indústrias, vem apre-
sentando, a cada dia, uma maior necessidade de uso dos mananciais subterrâneos, princi-
palmente pela importância da água de boa qualidade nos seus processos industriais. Vale
ressaltar que a partir de 1995, foram paralisados alguns poços na região do Complexo Básico,
devido à super exploração das águas subterrâneas e também pela ausência de um planejamen-
to racional na distribuição dos poços de produção. Por esse motivo, atualmente, nenhuma
captação pode ser implantada dentro do Complexo Básico (Santos et al., 1998). Isso faz com
que os orgãos gestores do COPEC tenham necessidade de definir novas regiões de exploração
de águas subterrâneas capazes de atender às futuras demandas para implantação de novos
poços de produção (CEPRAM, 2001).
1
Introdução 2
Com o apoio logı́stico da Cetrel foram realizadas duas campanhas de campo que resul-
taram na execução de 40 SEVs utilizando-se o arranjo Schlumberger de eletrodos. Foram
obtidos, simultaneamente, utilizando o sistema Syscal R2, os dados de resistividade e polari-
zação induzida no domı́nio do tempo, para serem utilizados no mapeamento das estruturas
dos aqüı́feros da área. A partir da análise e interpretação dos dados de resistividade, ca-
librados parametricamente com perfis de poços situados na área, e polarização induzida,
obteve-se um modelo geológico conceitual dos aqüı́feros, o qual servirá de base, através de
modelagens hidráulicas numéricas, para orientar a locação e perfuração de novos poços na
área, visando a exploração racional dos recursos hı́dricos ali disponı́veis.
A área selecionada para estudo faz parte da Região Metropolitana de Salvador (RMS) e
abrange parte do setor oriental do Pólo Industrial de Camaçari, conforme indicado na Fi-
gura 1.1. É delimitada pelas coordenadas UTM 8592000 e 8606000 de latitude sul e 576000
e 586000 de longitude oeste (DATUM - SAD 69/Zona 24). A parte sedimentar da RMS,
correspondente à bacia sedimentar do Recôncavo, comporta duas importantes bacias hidro-
gráficas, as dos rios Joanes e Jacuı́pe, respectivamente. As redes de drenagem nessas duas
bacias possuem padrões variando de dendrı́tico a retangular.
A bacia do rio Joanes possui extensão de 245 km e área drenada de 1200 km2 . As suas
vazões média e anual regularizadas são de 11 e 6,4 m3 /s, respectivamente (CRA, 2001). O
rio Joanes e seus afluentes foram enquadrados na Classe 2, das cabeceiras até o trecho do
condomı́nio Pedras do Rio, e Classe 7 do condomı́nio até sua foz (CEPRAM, 1995). Rios
nessa bacia são represados pelas barragens Joanes I e II e Ipitanga I, II e III. As águas dessas
represas são usadas para abastecer parte da cidade de Salvador e de outras sedes municipais,
além do uso no Centro Industrial de Aratu (CIA) e no Pólo Industrial de Camaçari.
3
Caracterização Regional da Área de Estudo
Figura 1.1: Mapa de localização da área de estudo no contexto da Região Metropolitana de Salvador
4
Caracterização Regional da Área de Estudo 5
2700
2.464,7
2400
1500
1200
900
600
300
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
1.2 Geologia
A área investigada está inserida na Bacia Sedimentar do Recôncavo, que faz parte do sistema
de bacias riftes do Eo-cretáceo do leste brasileiro, cuja origem e evolução estão diretamente
relacionadas à separação dos continentes africano e sul-americano (Milani, 1987).
A Bacia do Recôncavo, com área emersa de 10.200 km2 , é parte do rifte Recôncavo
- Tucano - Jatobá e foi preenchida por sedimentos Juro-cretácicos até mais de 6.000 me-
tros de espessura. É documentada como sendo constituı́da por duas seqüências evolutivas
englobadas no Supergrupo Bahia, de acordo com Viana et al. (1971):
• Membro Passagem dos Teixeiras: formado por arenitos cinzas, amarelos e rosados com
camadas de folhelhos intercaladas, possuindo estratificações cruzadas, sendo, porém,
mais comuns estruturas de escorregamento subaquosos;
• Membro Rio Joanes: composto principalmente por arenitos vermelhos e amarelos, sen-
do comum a presença de estratificações cruzadas e folhelhos restritos distribuı́dos.
1.3 Hidrogeologia
A Formação São Sebastião contém o mais importante sistema aqüı́fero da Bacia Sedi-
mentar do Recôncavo, responsável pelo suprimento de água de parte do Pólo Industrial de
Camaçari, de parte do Centro Industrial de Aratu, bem como de sedes, vilas, inúmeros mu-
nicı́pios e pequenas comunidades locais. A Formação São Sebastião ocorre numa extensão
de 7000 km2 , ocupando 2/3 da Bacia Sedimentar do Recôncavo e apresenta uma espessura
superior a 3000 m.
Caracterização Regional da Área de Estudo 8
Todo o pacote sedimentar do Recôncavo foi afetado por vários ciclos de tectonismo ex-
tensional, que ocasionaram seu intenso falhamento. Tais aspectos estruturais deram origem
a um sistema hidrogeológico complexo, contendo várias camadas permeáveis separadas na
vertical, por camadas semi-permeáveis e na lateral por falhas gravitacionais. Por ter si-
do depositada por correntes fluviais meandrantes, apresenta uma variabilidade litológica e
geométrica tı́pica deste ambiente deposicional.
Do ponto de vista hidráulico, o sistema aqüı́fero São Sebastião constitui-se num meio
extremamente heterogêneo, normalmente se apresentando como um sistema multi-confinado
por causa da presença de extensos pacotes dominados por folhelhos. A direção de fluxo
subterrâneo é de W-NW para E-SE, coincidindo, em geral, com o mergulho regional dos
estratos, conforme mostra a figura 1.3. Segundo Lima (1993), o gradiente hidráulico regional
é de 3,5 m/km.
A Formação Marizal, que compõe o topo freático do sistema Recôncavo (Lima, 1991),
se sobrepõe à Formação São Sebastião. Normalmente poços de abastecimento de água são
selados em toda a espessura dessa formação para evitar captar uma água que é vulnerável à
contaminação devido ao seu posicionamento mais próximo da superfı́cie.
Caracterização Regional da Área de Estudo 9
Um zoneamento de litofácies para a parte superior da Formação São Sebastião foi proposto
por Lima (1999), com base no estudo de uma série de perfis geofı́sicos de poços, descrições
de amostras de calha e de testemunhos, além de comparações com dados de afloramentos,
na área de Camaçari-Dias D’Ávila.
1) Fácies Arenosa J1 - A parte basal do Membro Rio Joanes é composta de uma sucessão
vertical de bancos arenosos caracterizados por erosão basal e acamadamento gradacional em
direção ao topo. Os arenitos são laranja avermelhados a castanho avermelhados, conglo-
meráticos com seixos de quartzo e de folhelhos, e portadores de estratos cruzados na parte
da base; passam a arenitos friáveis, maciços, de granulação média a fina, mas com nı́veis
esparsos de grânulos, seixos quartzosos e pelotas de argilas; tornam-se finamente granulados
no topo, argilosos e micáceos, e com estratificação cruzada tabular; finalmente, são recober-
tos por folhelhos castanho-avermelhados, bandeados com siltitos e arenitos finos, na zona de
transição. Os folhelhos, pobres em fósseis, podem conter diques centimétricos de arenitos
finos, nı́veis limonı́ticos e nódulos de manganês.
Zoneamento
Litológico
J3
J2
JI
J1
SAS
PT.3
SAM
PT.2
SAI
PT.1
SAB
LEGENDA
Arenitos
finos a médios
Folhelhos
Arenitos
muito finos
Siltitos
Figura 1.4: Coluna composta pelos membros Rio Joanes e Passagem dos Teixeiras,
segundo o zoneamento de litofácies proposto por Lima (1999) para a
Formação São Sebastião na região de Camaçari-Dias D’Ávila.
2.1 Introdução
Diversos métodos podem ser utilizados na pesquisa de água subterrânea para obter infor-
mações das condições hidrológicas de subsuperfı́cie. Dependendo de como as informações
subsuperficiais são obtidas, eles se classificam em métodos diretos ou indiretos. Ambos são
importantes e se empregados conjuntamente e corretamente, permitem um melhor entendi-
mento na interpretação final dos resultados.
11
Fundamentos dos Métodos Elétricos 12
A resistividade de uma rocha é uma das propriedades fı́sicas mais significantes na prospecção
elétrica e mede a dificuldade de transporte de cargas livres pelo meio. De modo geral, os
minerais formadores das rochas resistem muito à passagem de corrente elétrica (Telford et al.,
1990). A condução elétrica nas rochas da crosta ocorre basicamente porque poros, fraturas
e falhas normalmente são preenchidas com fluidos aquosos eletrolı́ticos (Ward, 1990). Logo,
o conteúdo de água das rochas e sua salinidade exercem grande influência na resistividade
das mesmas, fazendo com que a técnica da eletrorresistividade seja completamente adequada
para investigações hidrológicas (Keller, 1988).
A Lei de Archie (Archie, 1942), formulada através de uma série de experimentos reali-
zados em amostras de arenitos, revela que a resistividade de uma rocha (ρr ) depende não
somente da quantidade de água (Sw ) presente nos poros da mesma, mas também da própria
resistividade desta água (ρw ), da porosidade efetiva do meio (φ) e dos ı́ndices de cimentação
m e de saturação n .
Fundamentos dos Métodos Elétricos 13
ρr = ρw φ−m Sw −n , (2.1)
Vale ressaltar também que a condução de eletricidade nos materiais geológicos pode se
processar através de grãos minerais que apresentam a caracterı́stica de serem bons condutores
eletrônicos como por exemplo, a magnetita, a pirrotita e a grafita. Este tipo de condução é
importante apenas em rochas com grande concentração desses minerais. Esse não é o caso
das rochas da área pesquisada, formações sedimentares porosas em sua maioria, de forma que
predomina, como mecanismo de condução de eletricidade, o transporte eletrolı́tico pelos ı́ons
dissolvidos nas águas dos poros das rochas, sendo a resistividade governada, principalmente,
pelo grau de saturação das rochas e pela natureza de suas águas.
Noss métodos geoelétricos uma corrente contı́nua ou alternada de baixa freqüência é injetada
no solo por meio de dois eletrodos, denominados eletrodos de corrente, e a medida da dife-
rença de potencial elétrico que se estabelece em função desta injeção é medida na superfı́cie
do solo por meio de dois outros eletrodos, denominados eletrodos de potencial.
Para uma fonte pontual injetando uma corrente de intensidade I na interior de um semi-
espaço condutor homogêneo e isotrópico de resistividade ρ, representando uma terra plana,
o potencial elétrico num ponto de observação P, distante r do eletrodo fonte, é dado por
Iρ
V (r) = (2.2)
2πr
Como a função potencial é uma grandeza escalar, o potencial total devido a diversas
fontes pode ser obtido adicionando-se as contribuições de cada fonte consideradas separada-
mente. Aplicando esse princı́pio ao quadripolo a diferença de potencial entre os os pontos
M e N gerados pela pela injeção de corrente nos pontos A e B é dada por:
Iρ 1 1 1 1
∆V = − − + (2.3)
2π AM BM AN BN
ou ainda
∆V
ρ=k (2.4)
I
Fundamentos dos Métodos Elétricos 14
onde
−1
1 1 1 1
k = 2π − − + (2.5)
AM BM AN BN
é denominado de fator geométrico do arranjo, pois depende unicamente da disposição relativa
dos eletrodos no terreno.
No arranjo Wenner (Figura 2.1), os eletrodos apresentam sempre uma separação (a), cres-
cente e constante durante todo o desenvolvimento de execução da SEV, sendo que o centro
(o) da sondagem permanece fixo. O fator geométrico para o arranjo Wenner é dado por:
k = 2πa (2.6)
Fundamentos dos Métodos Elétricos 15
A M O N B
a a a
A M O N B
b
a a
a2 b
k=π − . (2.7)
b 4
Fundamentos dos Métodos Elétricos 16
2.4.3 Ambigüidades
O levantamento geofı́sico de campo fornece uma variação da resistividade aparente (ρa ) com
a distância (AB/2). Logo é necessário encontrar um modelo geológico que corresponda a
tal comportamento. A interpretação dos dados de resistividade, para modelos de camadas
horizontalmente estratificadas, é feita predominantemente por um procedimento iterativo
de inversão. A primeira etapa consiste em obter um modelo inicial; o que pode ser conse-
guido através da técnica da superposição parcial, por exemplo. Estes parâmetros iniciais
são fornecidos ao processo de inversão automática. Após a inversão, os parâmetros finais
resultantes são usados para computar a curva teórica do modelo de melhor ajuste aos dados
experimentais.
Qualquer que seja o método de interpretação utilizado para obtenção do modelo geoelé-
trico a partir da curva de resistividade aparente observada, ele terá não somente de oferecer
um bom ajuste entre a curva de campo e a curva teórica derivada, mas também de fornecer
um modelo geoelétrico que concorde com as informações geológicas que se tenha da área.
Isto porque, na maioria dos casos, as curvas de campo admitem muitas soluções, de modo
que se deve escolher dentro das margens de variações possı́veis para a interpretação das
sondagens, o conjunto de soluções individuais que tenha maior probabilidade de representar
a verdadeira estrutura da zona estudada.
Diante deste fato, tanto os métodos de interpretação menos operacionais (gráficos) quan-
to os mais operacionais (automáticos), estão sujeitos a fornecerem interpretações formalmen-
te corretas para as curvas de campo, mas que necessitam ser ajustadas através de informações
da geologia local para que represente efetivamente a estrutura investigada.
Após a interrupção de corrente, o potencial não vai imediatamente a zero porque durante
o processo de eletrificação do meio uma série de reações fı́sico-quı́micas ocorrem acumulando
parte desta energia. Com a interrupção do estı́mulo externo, ocorre a liberação desta energia
na forma de uma corrente elétrica transiente e queda do potencial acumulado, ao longo do
tempo. A energia armazenada decorre de dois fatores principais: (i) variações na mobilidade
iônica dos fluidos na interface fluido/rocha e (ii) variações nos mecanismos de condução
eletrolı́tica e eletrônica, quando há grãos metálicos presentes em subsuperfı́cie. O primeiro
fenômeno é chamado de polarização de membrana, enquanto que o segundo é conhecido
como polarização de eletrodo.
Este tipo de polarização é devido a diferença de mobilidade entre ânions e cátions, produ-
zida pela presença de minerais de argila nas paredes dos poros (Figura 2.3). Tais minerais
se carregam negativamente, atraindo uma “nuvem catiônica” que permite a passagem dos
portadores positivos, mas não dos negativos, exercendo o efeito de uma membrana. Assim
são produzidos gradientes de concentração que levam um tempo para se dissipar depois de
suprimida a tensão exterior, e que originam, portanto, uma sobretensão residual (Telford
et al., 1990).
Para o processamento de dados de IP, diversos algoritmos são propostos para estimar outros
parâmetros descritivos do meio (Oldenburg e Li, 1994; Pelton et al., 1978). De acordo com
Patella (1973), é possivel descrever o campo elétrico transiente de polarização induzida, Ep ,
existente numa rocha pela expressão: Ep = ρ∗ .Jss . Esta relação pode ser interpretada
como uma generalização da Lei de Ohm, válida em casos lineares, no qual ρ∗ (resistividade
fictı́cia) é definida como o produto da resistividade verdadeira ρ pela cargabilidade m. Desde
que o procedimento matemático para a solução da equação de Laplace ∇2 Vp = 0 é idêntico
ao usado em problemas de resistividade, o autor propôs o uso da resistividade aparente
fictı́cia ρ∗a (definida como o produto da resistividade aparente ρa pela cargabilidade aparente
ma ) como um novo parâmetro de interpretação de sondagens de IP feitas sobre estruturas
acamadadas com arranjo de eletrodos comum.
3
Caracterização Geoelétrica dos
Aqüı́feros
Neste capı́tulo são discutidos dados de geologia superficial, os procedimentos de campo para
aquisição geofı́sica e os resultados das modelagens inversas dos dados de resistividade obtidos
nas 40 sondagens elétricas verticais realizadas na área de estudo. Esses resultados são apre-
sentados na forma de mapas estruturais e perfis geológicos transversais, obtidos através da
interpretação conjunta dos dados de resistividade, calibrados com sondagens paramétricas,
e polarização induzida. As Figuras 3.1 e 3.2 apresentam os mapas topográfico e geológico
da área de estudo, com a localização dos centros das 40 SEVs e orientação das duas seções
geológicas transversais.
Do ponto de vista geológico merecem destaques as seguintes feições: (i) uma extensa,
mas delgada cobertura da Formação Marizal, na parte central mais elevada da área, em
atitude geral sub-horizontal (Figura 3.2). Nessa, a erosão ao longo dos vales expõe litologias
da Formação São Sebastião; (ii) no setor norte da área, afloram depósitos da Formação
São Sebastião, os quais estão seccionados pela falha da Fazenda Mangueira. Essa falha de
gravidade, de direção quase norte-sul, tem uma componente vertical de rejeito, determinada
no presente trabalho como da ordem de 200 m; (iii) a leste da falha da Fazenda Mangueira
ocorre uma seqüência ritmı́tica de folhelhos e siltitos intercalados que julgamos corresponder
a Seqüência Argilosa Superior SAS proposta por Lima(1999), devido aos afloramentos de
argilitos e folhelhos utilizados para fabricação de materiais cerâmicos. Nessa zona os estratos
estão dobrados numa estrutura anticlinal com eixo mergulhando para sudeste e onde os
mergulhos se tornam mais acentuados na vizinhança da falha; (iv) a oeste da falha da
Fazenda Mangueira predominam pacotes arenosos, representantes do Membro Rio Joanes;
21
Caracterização Geoelétrica dos Aqüı́feros 22
(v) na parte sul da área também afloram arenitos da Formação São Sebastião (Membro
Rio Joanes) com acamadamento regular orientado segundo N 100 -300 E e com mergulhos
baixos, em geral inferiores a 50 para SE; (vi) finalmente, registra-se ainda a ocorrência de
afloramentos da Formação Barreiras capeando áreas de relevo mais elevado no mapa da
figura 3.1.
Caracterização Geoelétrica dos Aqüı́feros 23
Figura 3.2: Mapa geológico da área de estudo com a localização dos centros das
SEVs e orientação das duas seções geológicas construı́das.
Caracterização Geoelétrica dos Aqüı́feros 25
A locação dos centros das SEVs e as direções de expansão das mesmas foi determinada a
partir da análise do mapa geológico da RMS, de fotos aéreas na escala 1:15.000 e de visitas em
campo para reconhecimento geológico. Vale ressaltar que a quantidade de SEVs executadas
foi limitada por condições de topografia acidentada, pela existência de vegetação fechada
e zonas alagadiças ou brejos. Normalmente para alcançar a profundidade de investigação
desejada eram requeridas aberturas de cabos de até dois quilômetros de distância.
Como eletrodos, foram usados barras metálicas de cobre enterradas no solo e ligadas ao
sistema por um sistema de cabos condutores. Antes da execução das SEVs, procedeu-se a
verificação do estado de conservação dos cabos, a fim de evitar eventuais fugas de corrente
através dos mesmos, o que introduziria erros nas medidas de campo. As resistências de
contato entre os eletrodos e o solo foram reduzidas aumentando a área de contato entre o
eletrodo e o solo e molhando a região em seu redor com água salgada, quando necessário.
Os altos indı́ces pluviométricos, registrados durante o perı́odo de aquisição dos dados, favo-
receram bastante a execução dos trabalhos no que concerne aos problemas de resistências de
contato, principalmente nas SEVs cujos centros localizaram-se sobre a Formação Marizal.
Figura 3.3: Equipamento elétrico utilizado para obtenção dos dados experimentais.
Os valores de polarizibilidade obtidos nas SEVs podem estar sujeitos a erros inerentes
ao próprio processo de aquisição dos dados. Primeiramente pelo fato não terem sido usados
eletrodos de potencial não-polarizáveis. Segundo, porque que alguns padrões de estratificação
elétrica podem gerar valores negativos de ma . Além disso, valores obtidos nas maiores
separações de MN, podem ter erros de precisão instrumental. Sendo assim, os dados de
polarização induzida foram tratados como auxiliares nas interpretações e conclusões.
As curvas das 40 sondagens elétricas verticais foram interpretadas usando ajustes automáticos
dos dados observados a um modelo teórico de camadas plano-paralelas e “infinitamente” ex-
tensas na horizontal. A Modelagem Inversa foi executada utilizando o software Resist 1.0,
que é um programa de ajuste automático dos dados observados e de uso bastante difundido
no CPGG-UFBa (Silva, 2002). Mesmo assim, deve-se ter um modelo conceitual da região
apoiado em informações geológicas e de perfis litológicos e/ou geofı́sicos de poços próximos
à algumas das sondagens.
As soluções finais dos modelos invertidos para as 40 SEVs indicam que ocorre pelo me-
nos três das quatro camadas geoelétricas a seguir, sendo função principalmente da presença
de nı́veis argilosos em subsuperfı́cie e respectivas espessuras: (i) uma primeira camada com
valores de resistividade acima de 1000 ohm.m, representando sedimentos arenosos não satu-
rados das formações Marizal e/ou São Sebastião, (ii) uma segunda camada geoelétrica com
valores de resistividade entre 300 e 1000 ohm.m, representando arenitos saturados argilo-
sos e/ou mais limpos, (iii) uma terceira camada geoelétrica representando intercalações de
arenitos com camadas de folhelhos poucos espessa que se expressam como única camada
com resistividade inferior a 300 ohm.m. (iv) a última camada representando um substrato
condutivo de resitividade abaixo de 10 ohm.m.
Na parte sudoeste da área estudada, referida como Espaço Alfa, já existe uma bateria
de poços de extração que é utilizada para abstecimento industrial e urbano. Trata-se de
uma exploração algo desordenada, uma vez que a distância entre os poços não obedece
a um critério racional de maximizar a produção e evitar a interferência hidráulica entre
seus bombeamentos. Embora as zonas produtoras (arenitos) tenham grandes dimensões, da
ordem de até 400 m, é de fundamental importância o controle dos nı́veis dinâmicos e das
vazões de explotação, para uma gestão sustentável da reserva hı́drica disponı́vel.
Figura 3.12: Modelos invertidos para os dados de resitividade aparente das SEVs
10 e 11
Caracterização Geoelétrica dos Aqüı́feros 41
Figura 3.13: Modelos invertidos para os dados de resitividade aparente das SEVs
03 e 08
Caracterização Geoelétrica dos Aqüı́feros 42
Figura 3.14: Modelos invertidos para os dados de resitividade aparente das SEVs
22 e 24
Caracterização Geoelétrica dos Aqüı́feros 43
Figura 3.15: Modelos invertidos para os dados de resitividade aparente das SEVs
28 e 32
Caracterização Geoelétrica dos Aqüı́feros 44
Figura 3.16: Modelos invertidos para os dados de resitividade aparente das SEVs
26 e 37
Caracterização Geoelétrica dos Aqüı́feros 45
Figura 3.17: Perfil geológico A-A’ resultante da interpretação dos dados de resistividade verdadeira.
46
Caracterização Geoelétrica dos Aqüı́feros
Figura 3.18: Perfil geológico B-B’ resultante da interpretação dos dados de resistividade verdadeira.
47
4
Conclusões
48
Conclusões 49
Aos meus Pais Leônidas Hermes de Sousa Mota e Eja Souza Mota (em memória) e ao
meu Irmão Enã Souza Mota (em memória) pelo Amor, Dedicação, Respeito e Confiança.
Vocês são e sempre serão a razão da minha existência. Dedico esse Trabalho a vocês.
A minha amada esposa Andréa Mota Medici e seus filhos Gustavo e Giovanna, pelos
momentos de alegria e felicidade juntos.
A Leandra Pessoa Alves pelo amor, carinho e lealdade desde o primeiro momento que
nos conhecemos.
Ao Professor Olivar Antonio Lima de Lima pela oportunidade de ser seu Orientando
e compartilhar de todo seu conhecimento e experiência. Agradeço pela total dedicação e
entusiasmo para que essa Pesquisa fosse concluı́da com êxito.
Ao colega Carlos Eduardo Lemos Barbosa, pelas crı́ticas, sugestões e pela cessão dos
dados geoelétricos da sua Monografia de Graduação em Geofı́sica.
A Cetrel S/A - Empresa de Proteção Ambiental pelo apoio logı́stico e financeiro para
realização da presente Pesquisa.
À equipe de campo formada pelos ajudantes Edson, Adriano, Ubirajara e Cláudio (Zé
do brejo) e pelo Técnico Luı́s Medeiros.
50
Agradecimentos 51
Aos amigos que fiz durante o perı́odo em que estive no CPGG, em especial a Ricardo
Santiago e Marilene Caruso.
Às minhas bandas e músicos favoritos: Rainbow, Deep Purple, Yngwie J. Malmsteen,
Iron Maiden, Toto, Ronnie James Dio, Yes, Narnia, Rata Blanca e ao Mestre das 6 cordas
Ritchie Blackmore.
A
Resultados das Inversões
O conteúdo deste apêndice consiste da representação gráfica dos dados observados, das curvas
teóricas computadas e dos modelos finais obtidos na inversão 1D dos dados de eletrorresis-
tividade.
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Resultados das Inversões 53
Figura A.1: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
01 e 02
Resultados das Inversões 54
Figura A.2: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
04 e 05
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Figura A.3: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
06 e 07
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Figura A.4: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
09 e 12
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Figura A.5: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
13 e 14
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Figura A.6: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
15 e 17
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Figura A.7: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
18 e 19
Resultados das Inversões 60
Figura A.8: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
20 e 23
Resultados das Inversões 61
Figura A.9: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
25 e 27
Resultados das Inversões 62
Figura A.10: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
29 e 30
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Figura A.11: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
31 e 33
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Figura A.12: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
34 e 35
Resultados das Inversões 65
Figura A.13: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
36 e 38
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Figura A.14: Modelos invertidos para os dados de resistividade aparente das SEVs
39 e 40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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