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de
John Newton
Tradução
Helio Kirchheim
Textos de John Newton -2-
2 2 Timóteo 4.3
3 1 Coríntios 4.7
Textos de John Newton -4-
4 2 Coríntios 12.7
5 1 Samuel 16.7
Textos de John Newton -5-
o coração ainda não desistiu, são prontamente aceitos, a fim de esquivar-se dos
protestos da consciência.
Noutras ocasiões, os erros, descuidadamente aceitos, enfraquecem de forma
imperceptível o senso de dever, e passo a passo espalham a sua influência por toda
a conduta. Com frequência, o apóstolo menciona em conjunto a fé e uma boa
consciência, visto que são inseparáveis; abrir mão de uma é abrir mão de ambas.
Aqueles que conservam o mistério da fé numa consciência pura serão preservados
num espírito próspero, crescerão na graça, avançarão de força em força, haverão de
andar honrada e prosperamente. Mas no momento em que as doutrinas ou regras
do evangelho forem negligenciadas, se espalhará uma debilitante enfermidade nos
órgãos vitais da religião, uma enfermidade mortal, e da qual ninguém se reabilita —
a não ser aqueles a quem Deus misericordiosamente concede a graça do
arrependimento para a vida.
Os SINTOMAS de uma tal doença da alma são tão numerosos e variegados
quanto o são os temperamentos e as situações da vida. A seguir, apresentamos
alguns poucos que são mais frequentes e aparentes, e que indicam com segurança
um declínio religioso.
A doença física com frequência é acompanhada de perda de apetite,
inatividade e desassossego. De forma semelhante, a doença da alma remove o
descanso e a paz, provoca tédio e apatia no serviço a Deus, e uma indisposição para
com os meios da graça6, indisposição para esperar em Deus em secreto, e
indisposição para as ordenanças públicas7. Esses compromissos, tão necessários
para preservar a saúde espiritual, são gradualmente negligenciados e abandonados,
ou a participação deles se definha num ciclo formal, sem sabor nem benefício.
Para a pessoa sadia, a comida simples é saborosa — mas o paladar, quando
afetado pela doença, torna-se exigente e difícil de satisfazer, ansiando por variedade
e iguarias. Dessa mesma forma, quando o genuíno leite do evangelho, verdade
simples exposta com palavras simples, não mais satisfaz — mas a pessoa exige
estranhas especulações, ou a espumosa eloquência da sabedoria humana, a fim de
cativar a sua atenção, isso é mau sinal. Pois essas coisas destinam-se a fomentar não
a normalidade, mas a doença.
Depois de desprezar ou menosprezar os meios que Deus designou para
satisfazer a alma — o passo seguinte normalmente é buscar alívio por meio da
conformação com o espírito, os costumes e os entretenimentos do mundo. E essa
conformação, uma vez tolerada, em breve será defendida; e aqueles que não
aprovam nem imitam essa conformidade com o mundo serão acusados de estar sob
a influência de um espírito mesquinho, legalista ou farisaico.
O professador enfermo encontra-se num delírio, o qual impede que ele
perceba a sua doença — e ele em vez disso supõe que a sua mudança de conduta se
6 Meios da graça: São as práticas pessoais do cristão, que o põem em condições de usufruir a graça de Deus e nela
O segredo do contentamento!
(Cartas de John Newton)
“De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento” (1 Tm 6.6).
17 de agosto de 1776.
Caro amigo:
Convém que cada cristão diga o seguinte: Não é essencial que eu seja rico — ou que
seja aquilo que o mundo julga como sábio. Não é essencial que eu seja saudável — ou
admirado pelos vermes iguais a mim. Não é necessário que eu passe por esta vida
numa situação de prosperidade e conforto exterior. Essas coisas podem acontecer, ou
8 Tiago 4.4
9 2 Pedro 2.21.
Textos de John Newton -8-
“...aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado
como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho
experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de
escassez” (Filipenses 4.11,12).
eterna; temos de nos submeter completamente a elas, já que elas e somente elas
testificam de Cristo, em cujo conhecimento consiste nossa vida eterna.
Se entendermos a expressão como simples afirmação, da forma que foi
proferida para os escribas e fariseus, isso nos dará uma útil cautela para não pôr
peso demais nem no que pensamos nem no que fazemos. Porque essas pessoas, de
alguma forma, tinham um correto sentimento para com as Santas Escrituras: elas
criam que nelas estava a vida eterna; e, de certa forma, isso as motivava a ler, sim a
perscrutar essas Escrituras. Mas apesar de assim pensarem e assim agirem, e apesar
de as Escrituras, da primeira à última página testificarem de Cristo, essas pessoas
não conseguiam entender nem receber esse testemunho, mas rejeitaram o Messias
que afirmavam esperar, e se empenharam em vão nessa exploração das Escrituras.
Minha idéia é apresentar a você o meu pensamento na seguinte ordem:
primeiro, mencionar alguns poucos requisitos, sem os quais é impossível entender
corretamente as Escrituras; segundo, mostrar como as Escrituras testificam de
Cristo; terceiro, examinar o que significa esse testemunho; quarto, compelir à
prática do exame das Escrituras baseado no argumento do texto, que é igualmente
aplicável a nós como o foi aos antigos judeus, "porque nelas julgamos ter a vida
eterna".
é guardar seus mandamentos: Salmo 111.1-10, mas da mesma forma que não
podemos guardá-los sem os conhecer, não podemos conhecê-los sem diligente
procura.
A palavra traduzida como "procurar" foi emprestada dos mineiros: implica
em duas coisas, escavar e examinar. Primeiro, com muito trabalho eles escavam a
terra até considerável profundidade; e quando enfim encontram um veio de metal
precioso, eles o quebram e separam, e não deixam nada escapar do seu exame.
Assim nós temos de juntar freqüente e assídua leitura com densa e atenta
meditação; comparar coisas espirituais com espirituais, observando cuidadosamente
as circunstâncias, as ocasiões, e aplicação daquilo que lemos; certos de que há um
tesouro de verdade e alegria debaixo de nossas mãos, se apenas nos esforçarmos
para descobri-lo e aproveitá-lo.
Tenhamos sempre o cuidado de ter os mesmos propósitos ao ler as
Escrituras, que Deus tem ao revelá-las a nós; propósitos que o Apóstolo enumera
em 2 Timóteo 3.16,17: "Toda a Escritura" ou a Bíblia toda "é inspirada por Deus e
útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a
fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra". No versículo 15, se nos diz que as Escrituras são poderosas para nos tornar
sábios "para a salvação pela fé em Cristo Jesus".
Não seria um absurdo um homem ler um tratado sobre economia doméstica
com o propósito de aprender navegação, ou buscar os princípios de negociação e
comércio num ensaio de música? Não menos absurdo é ler ou estudar as Escrituras
com outro propósito que não seja receber suas doutrinas, submeter-se a suas
reprovações, e obedecer a seus preceitos, para que sejamos feitos "sábios para a
salvação". Quaisquer pesquisas e comentários que parem aquém disso, que não
retifiquem tanto o coração como a mente, são vazios e perigosos, pelo menos para
nós mesmos, qualquer que seja o uso que deles façam os outros.
Uma experiência com isso levou um erudito crítico e eminente comentador
(Grotius) a confessar perto do fim da sua vida: Vitam prorsus perdidi, laboriose
nihil agendo! ‘Que lamentável! Desperdicei minha vida em muito trabalho sem
nenhum proveito!’ Mas, por outro lado, se somos diligentes e cuidadosos, de forma
que tenhamos conhecimento pessoal dos preceitos e promessas divinos, e mais
inclinados a obedecer-lhes e confiar neles, aí podemos esperar alegre sucesso; pois
"Bem-aventurado o homem ..." cujo "... prazer está na lei do Senhor, e na sua lei
medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que,
no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele
faz..." debaixo dessa influência, "... será bem sucedido" (Salmo 1.1-3).
Assim Deus prometeu, e assim muitos já provaram, e foram capacitados a
adotar as palavras de Davi: "Os teus mandamentos me fazem mais sábio que os
meus inimigos; porque, aqueles, eu os tenho sempre comigo. Compreendo mais do
que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos" (Salmo
119.98,99).
Textos de John Newton - 12 -
Devo mencionar ainda uma coisa, que é tão necessária quanto qualquer das
precedentes, e da mesma forma necessária para obtê-las. É a ORAÇÃO. Sinceridade,
diligência e humildade são dons de Deus; a bênção que procuramos ao exercitá-las está
nas mãos dele; e ele prometeu dar gratuitamente todas as boas coisas, até mesmo o
"Espírito Santo àqueles que lho pedirem" (Lucas 11.13).
A oração é verdadeiramente a melhor parte do nosso negócio enquanto
estamos nesta terra, a que vivifica e torna eficaz todo o resto. A oração não é
somente nossa mais básica obrigação, mas é a mais alta honra, o mais rico privilégio
que somos capazes de receber deste lado da eternidade; e negligenciá-la implica na
mais profunda culpa, e acarreta a mais pesada punição.
Aquele que desconhece a oração desconhece igualmente a Deus e a
felicidade, diz Tiago: "... semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento"
(1.6). Algum de vocês, meus amigos, não têm familiaridade com a oração? Então
vocês estão sem Deus no mundo, sem guia na prosperidade, sem recurso na aflição,
sem verdadeiro conforto na vida, e, enquanto vocês continuarem assim, sem
esperança na morte. Mas especialmente, vocês estão completamente
desqualificados para "perscrutar as Escrituras".
Textos de John Newton - 13 -
seguida pela súbita e total ruína do governo judeu. Comparar essas promessas e
profecias umas com as outras e com seu exato cumprimento registrado no Novo
Testamento, isso por si só fará com que nos empenhemos numa intensa pesquisa
nas Escrituras, e nos trará as mais convincentes provas da sua procedência divina e
da sua exatidão.
Os tipos de Cristo no Antigo Testamento podem ser considerados de duas
formas: pessoais e relativos. A primeira forma descreve, debaixo do véu da história,
seu caráter e ofícios que ele exerce; a segunda forma, oculta numa variedade de
metáforas, descreve as vantagens que aqueles que nele crêem devem receber dele.
Desta forma, Adão, Enoque, Melquisedeque, Isaque, José, Moisés, Aarão,
Josué, Sansão, Davi, Salomão e outros foram, em diferentes relações, tipos ou
figuras de Cristo. Alguns de forma mais evidente representaram sua pessoa; outros
prefiguraram sua humilhação; outros referiam-se a sua exaltação, domínio, e glória.
Assim, no último sentido, a arca de Noé, o arco-íris, o maná, a serpente de bronze,
as cidades de refúgio, foram alguns dos muitos emblemas que apontavam a
natureza, necessidade, o meio e a segurança da salvação que o Messias estava por
prover para o seu povo.
Essas não são alusões fantasiosas de nossa própria autoria, mas garantidas e
ensinadas nas Escrituras, e facilmente evidenciadas nelas, caso o tempo no-lo
permita; porque de fato não há nenhuma dessas pessoas ou coisas que eu
mencionei, que não dê assunto para uma longa exposição, se for considerado deste
ponto de vista, como típico do prometido Redentor.
O mesmo se pode dizer das cerimônias levíticas. A lei de Moisés é, nesse
sentido, um feliz aio que nos conduz a Cristo (Gálatas 3.24), e isso se pode
comprovar sem contradições, que nessas leis o Evangelho era pregado há muito
tempo a todos os verdadeiros israelitas, cujos corações estavam certos para com
Deus, e cujo entendimento havia sido iluminado pelo Seu Espírito.
A arca da aliança, o propiciatório, o tabernáculo, o incenso, o altar, as
ofertas, o sumo sacerdote com seus ornamentos e paramentos, as leis relativas à
lepra, o nazireu, e a redenção das terras, tudo isso, e muito mais que não tenho
agora tempo de mencionar, tem profunda e importante significado além da sua
aparência exterior: cada um, no seu lugar próprio, apontava ao "Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo" (João 1.29), derivando sua eficácia dEle, sendo
plenamente cumpridas nEle.
Desta forma, o Antigo e o Novo Testamento mutuamente se esclarecem, e
não podem ser corretamente compreendidos isoladamente. O Antigo Testamento,
através de histórias, tipos, profecias e cerimônias, desenha vivamente o perfil
dAquele que, na plenitude dos tempos, havia de vir ao mundo para executar a
reconciliação entre Deus e o homem. O Novo Testamento revela que todos esses
caracteres e circunstâncias finalmente se completaram em Jesus de Nazaré; que foi
a respeito dEle que "Moisés e os profetas escreveram"; e que não devemos
procurar outro.
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Lemos, em Gênesis 21, que Abraão tinha dois filhos: Isaque, o filho da
promessa, o filho da sua velhice, através de sua esposa Sara; e Ismael, nascido
alguns anos antes, de Hagar, a concubina, e serva de Sara; que este último,
juntamente com sua mãe, foram expulsos da família. Alguns considerarão trivial a
ocasião em que isso aconteceu - a ira e o ciúme de Sara, porque Ismael zombou de
seu filho. Mas quando pareceu penoso a Abraão mandá-los embora por tão pouca
coisa, Deus mesmo interveio, e ordenou que ele cedesse ao desejo dela.
Se nada mais soubéssemos desta história, nós a consideraríamos como parte
de uma história familiar, sem grande importância para ninguém além dos
diretamente envolvidos nela. Talvez nos admirássemos de encontrar tantos detalhes
a respeito do assunto num livro que nós professamos crer que foi escrito por
inspiração divina; talvez nos atrevêssemos a questionar a sabedoria divina por
descer a tais detalhes, nos quais, de acordo com nossa maneira de ver as coisas, não
podíamos discernir nada interessante nem instrutivo.
A fim de nos guardar dessas erradas e precipitadas conclusões, de modo a
explicar o verdadeiro sentido desse caso particular, e ao mesmo tempo nos suprir
com uma chave para entender muitas outras passagens similares, onde a sabedoria
humana não consegue descobrir nem beleza nem utilidade; aprouve a Deus nos
favorecer com uma certeira exposição da matéria toda.
Não foi por causa de Abraão, ou Isaque, ou Ismael, ou Hagar, que isso tudo
foi registrado; e muito menos para meramente satisfazer nossa curiosidade. Não:
"Essas coisas", diz o Apóstolo Paulo, "são alegóricas; porque estas mulheres são
duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão;
esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual,
que está em escravidão com seus filhos. Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é
nossa mãe. ... Vós, porém, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaque. Como,
porém, outrora, o que nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o
Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e
seu filho, porque de modo algum o filho da escrava será herdeiro com o filho da
livre. E, assim, irmãos, somos filhos não da escrava, e sim da livre" (Gálatas 4.24-
26,28-31).
Não preciso tomar seu tempo para lhe mostrar em detalhes como o
Apóstolo nos ensina a descobrir o espírito e os privilégios do Evangelho,
juntamente com tudo aquilo que todos que verdadeiramente o recebem devem ter
como expectativa, numa passagem que de outra forma teríamos considerado
desnecessária, ou mesmo sem sentido.
Mantenha isso em mente quando você ler as Escrituras. Certifique-se de que
não há nada insignificante nem sem sentido na palavra de Deus. Compare uma
passagem com a outra; a Lei com o Evangelho, os Profetas com os Evangelistas:
ore a Deus que Ele lhe abra o entendimento para compreender as Escrituras, assim
como ele fez com os discípulos (Lucas 24.45); e dentro de pouco tempo você
descobrirá que não são apenas uns poucos versículos que se referem a Cristo, aqui
Textos de John Newton - 17 -
e ali, mas que, assim como eu lhe disse anteriormente, Ele é o centro, o cerne de
cada livro, e de quase cada capítulo.
Gostaria de adicionar um ou dois exemplos do significado das cerimônias,
daquilo que eu mencionei a respeito de Hagar em referência aos tipos.
Podemos apreciá-lo especialmente na lei da Páscoa (Êxodo 12), que nenhum
osso do cordeiro pascal deveria ser quebrado. Agora, quem imaginaria que isso
estaria se referindo a Cristo? Contudo vemos que o evangelista abertamente aplica
isso a Ele, e se enche de admiração com o seu cumprimento.
As pernas daqueles que foram crucificados com Jesus foram quebradas (João
19), mas os soldados não fizeram isso com o nosso Senhor; e que isso seria assim,
já se havia previsto mil e quinhentos anos antes, nesse assunto referente ao
cordeiro. Novamente, nós encontramos em vários lugares, onde um touro era
designado para ser morto como oferta pelo pecado, e se especifica que a carne e a
pele deveriam ser queimados fora do acampamento; e na Epístola aos Hebreus,
capítulo 13.11-13, aprendemos que isso não ocorria por acaso.
Temos ali a seguinte explicação: "Pois aqueles animais cujo sangue é trazido
para dentro do Santo dos Santos, pelo sumo sacerdote, como oblação pelo pecado,
têm o corpo queimado fora do acampamento. Por isso, foi que também Jesus, para
santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a
ele, fora do arraial, levando o seu vitupério". Não é preciso me estender mais, pois
os indícios apresentados pelos Apóstolos em seus escritos, para nos revelar a
importância do significado de muitas dessas instituições, as quais zombadores
(sábios a seus próprios olhos) embora não tenham nenhuma familiaridade com o
assunto, atrevem-se a denunciar como supérfluas.
O sentido dos escritos sagrados se encontra fundo demais para um exame
capcioso, apressado e superficial; tem de ser uma exploração, um minucioso exame;
uma humilde, diligente, sincera e perseverante busca, ou não se pode esperar
resultado satisfatório.
e morrer no meio do mato, sem nenhum meio da graça nem esperança da glória, do
que menosprezar esse registro que Deus se agradou de nos dar em Seu Filho.
Mas feliz o homem cujo deleite está na lei do seu Deus! Esse tem firme
direção em toda e qualquer dificuldade, garantido conforto em toda e qualquer
perturbação. A beleza dos preceitos são preferíveis a seus olhos a "milhares de ouro
ou de prata" (Salmo 119.72). O conforto das promessas são mais doces ao seu
paladar "do que o mel e o destilar dos favos" (Salmo 19.10). Sua vida é alegre;
porque a palavra de Deus é para ele como uma "fonte de água viva".
Ele pode se alegrar na morte; as promessas do seu Deus o sustentarão
através do vale da sombra da morte: e ele pode se alegrar para sempre na presença
e no amor dAquele por Quem ele agora perscruta as Escrituras; "a quem, não
havendo visto" (1 Pedro 1.8), contudo, pelo testemunho que encontra nas
Escrituras a respeito dEle, "amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais
com alegria indizível e cheia de glória".
alguns casos mais, noutros menos) ou aplicado mal ou desenvolvido mal. Por essa
razão, ele é devedor à graça de Deus — e vive sob o seu imenso e crescente perdão.
O cristão também faz da graciosa conduta de Deus para com ele o padrão
para a sua própria conduta para com os vermes companheiros seus. Ele não pode
gabar-se de si mesmo — nem está ansioso por censurar os outros. Ele se cuida, a fim de
não cair também. E dessa forma ele aprende a ternura e a compaixão para com os
outros, e a se desenvolver pacientemente com esses erros, deformidades e falhas...
dos outros — que já fizeram parte do seu próprio caráter, e dos quais, por
enquanto, ele está livre — mas só de forma imperfeita.
Por essa razão ele age de maneira adequada a um seguidor dAquele que Se
compadecia das fraquezas e dos erros dos Seus discípulos, e os ensinava gradualmente,
à medida que tinham capacidade de aprender — e não tudo de uma só vez.
Por outro lado, as mesmas considerações que o inspiram com mansidão e
docilidade para com aqueles que resistem à verdade — fortalecem o seu respeito
para com a verdade, e a sua convicção da importância dela. Em nome da paz, que
ele ama e promove, acomoda-se (tanto quanto lhe é possível dentro dos limites da
lei de Deus) às fraquezas e às falhas dos outros cristãos sinceros; embora por causa
disso se exponha à censura de todo tipo de pessoa intolerante, que o consideram
vergável e vacilante, como um caniço agitado pelo vento.
Mas há outros pontos fundamentais, essenciais ao Evangelho, que são o
fundamento da sua esperança, e a fonte da sua alegria. Devido ao seu firme apego a
eles, ele está contente em ser tratado como se fosse um desses próprios
intolerantes! Porque aqui ele é firme como coluna de ferro, e nem o medo nem o
favor do homem conseguem convencê-lo a recuar da verdade do Evangelho, nem
sequer por um instante! (Gálatas 2.5). Neste ponto, a sua opinião é inflexível; e ele a
expressa numa linguagem simples e inequívoca, de forma que nem amigos nem
inimigos fiquem em dúvida quanto ao lado que ele escolheu, o quanto à causa que
tem a preferência do seu coração.
Por saber que o Evangelho é a sabedoria e o poder de Deus, e o único meio
possível pelo qual o homem decaído pode obter a paz com Deus — ele com todo
o coração o abraça e confessa. Longe de envergonhar-se do Evangelho, ele o
considera como sua glória. Ele prega Cristo Jesus, e este crucificado. Ele desdenha
o pensamento de deturpar, ocultar ou abrandar as grandes doutrinas da graça de Deus,
a torná-las mais agradáveis ao gosto depravado de nossa época (2 Coríntios 4.2). E
ele não combate os erros e ditos e práticas corruptas do mundo com nenhuma
outra arma senão a verdade como ela é em Jesus — da mesma forma que não se atreveria
a lutar com um tigre enfurecido usando uma espada de papel!