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A. Prefácio. (XXIII-XL).
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Advogado, professor universitário. Mestrando em Filosofia e Teoria do Direito pela Universidade
Federal de Santa Catarina (CPGD/UFSC). Graduado em Direito pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR).
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Os textos entre colchetes constituem esclarecimentos pessoais realizados no corpo do texto, ou
sínteses explicativas sobre algumas categorias hegelianas.
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que pensa não se limita a possuir “a verdade” segundo suas formas exteriores,
imediatas; “só pode ter para com ela a atitude de a conceber e de encontrar uma
forma racional para um conteúdo que já o é [racional] em si”. (XXVI).
5. Isso nos conduz à justificação do conteúdo para o pensamento livre: [aquele]
“que ao invés de se encerrar no que é dado (...) só a si mesmo toma como
princípio e por isso tem de estar intimamente unido à verdade”. (XXVI).
6. Incompatível [o pensamento livre] com a atitude do sentimento ingênuo, “de se
limitar à verdade publicamente reconhecida, com uma confiante convicção, e de,
sobre esta firme base, estabelecer a sua conduta e a sua posição na vida”.
Dificuldade: a infinita diversidade de opiniões não permite distinguir e determinar o
que nelas pode haver de universalmente válido, oriunda [a dificuldade] de um
obstáculo que eles mesmos [os que julgam tirar partido dessa dificuldade]
ergueram. [Lembrar da metáfora que Hegel utiliza: daquele que não consegue
enxergar a floresta porque tem uma árvore a atrapalhar sua visão].
7. É preciso lembrar que o homem pensa: “e é no pensamento que procura a sua
liberdade e o princípio de sua moralidade” (XXVII) – mas não pode afastar-se dos
valores universalmente reconhecidos, de modo que o pensamento só se
reconheça como livre ao imaginar descobrir algo que lhe seja próprio.
8. Filosofia e Natureza: a natureza contém em si a razão [imanente]: “razão que a
natureza deve conceber, não nas formas contingentes que à superfície se
mostram [sentimento imediato e imaginação contingente (XXX)], mas na sua
harmonia eterna [o universal, o válido]”. (XXVIII). Porque “a filosofia é a
inteligência do presente [historicidade] e do real [racional], não a construção de um
além [ideal vazio3] (...)”. (XXXV).
9. O que é racional é real [efetuado] e o que é real [efetuado] é racional. Fórmula
platônica (de A República). Apresentada como a convicção de toda consciência
livre de preconceitos, dela parte a filosofia (XXXVI). A Idéia não constitui a
representação da opinião, mas é real: trata-se de “reconhecer na aparência do
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Aqui Hegel apresenta crítica a filosofia transcendental kantiana. A respeito, confira-se KANT,
Emannuel. Introduction a la doctrine du droit. In: Metaphysique des moers. Oevres Philosophiques.
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própria definição de Idéia; vejamos: fosse a Idéia apenas forma, estaríamos diante
de uma pura abstração incapaz de atualizar-se, porque lhe faltaria a essência
substancial da realidade moral e natural (o conteúdo) sobre a qual conceituar de
forma conciliadora como real (pois real inexistiria); se fosse apenas conteúdo,
estaríamos diante de uma razão como essência substancial da realidade moral e
natural, dissociada das possibilidades de um conhecimento conceitual sobre ela e,
portanto, seria impossível identificar em uma tal realidade qualquer coisa de
universal ou válida, ou de ali determinar o que há de contingente e o que há de
universal e válido – seria impossível efetuar essa distinção, para a qual é
requerida a forma, razão como conhecimento conceitual].
14. Diante disso, para Hegel, o único método adequado para se falar de um
assunto é o científico e o objetivo. As críticas que não comportem refutação,
escreve Hegel, serão consideradas mera opinião (subjetiva). (XL). [Isso se deve
ao conceito de Idéia Filosófica (que liga o conceito (forma) à essência substancial
(conteúdo)) e ao conceito de Pensamento Livre].
B. Introdução. (1-34).
1. Tópico que Hegel inicia por tratar do objeto da ciência filosófica do direito: diz
sê-lo a Idéia do direito: o conceito do direito (forma, razão como conhecimento
conceitual = o racional é real) e a sua realização / efetuação (conteúdo, razão
como existência substancial = o real é racional).4 Da identidade consciente entre
forma e conteúdo [do direito] nasce a idéia filosófica [do direito], objeto da ciência
filosófica [do direito]. Vê-se, pois, que a filosofia não se ocupa com conceitos [em
sentido estrito], mas com Idéias, das quais os conceitos fazem parte [eles as
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“O Racional é real e o real é racional” explica, enfim, a natureza da Idéia Filosófica como razão
conciliadora com o real, como identidade consciente entre forma como conhecimento conceitual e
conteúdo como essência substancial da natureza e da moral, então a fórmula deve ser entendida
na simultaneidade atual de seus termos; quer dizer: o racional é real ao mesmo tempo e em igual
proporção em que o real é racional. Isso corresponde ao concreto e, também, à verdade [concreta]
em Hegel.
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Eis o ponto em que Karl Marx não apreendera adequadamente a filosofia hegeliana; embora
Hegel seja idealista, apenas o é na medida em que seu sistema explicativo gira em torno da idéia
filosófica. Desde Kojève, é possível, pois, perceber que a filosofia hegeliana demanda, por
princípio, uma mediação concreta; vale dizer: a idéia, caracterizada como identidade consciente
entre conteúdo e forma, não constitiu um mero ideal vazio [ideologia], como Marx define a idéia em
Hegel. Apesar disso, Marx desperta-nos, em seu Crítica à filosofia do direito de Hegel, a necessi
dade de um retorno às pulsações da realidade, já esquecida, àquele tempo, pelos chamados
hegelianos de direita; nesse ponto, verifica-se a crítica a uma corrente filosófico-política que
tomava conceitos hegelianos e os moldava de acordo com suas conveniências – e, nisso, é que
reside a grande avalia da crítica marxiana. Marx, ao afirmar que o direito não é outro senão o que
existe, porém, finda por provocar uma redução do direito, que nem mesmo Hegel permitiria com
sua idéia filsófica. A respeito, cf. MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. Tradução de
Rubens Enderle e Leonardo de Deus. São Paulo: Boitempo, 2005; e, ainda, KOJÈVE, Alexandre.
Introduction à la lecture de Hegel. Paris: Gallimard, 1947.
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Atualmente, o problema do decisionismo, que tende a transformar decisões particulares e
contingentes em princípios universais, o que tornaria o direito injustiça, segundo Hegel, pois
despidas do sentido da universalidade. (v. prefácio, XXVII.)
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não se pode querer, justamente por que é a realidade] que a liberdade negativa se
torna consciente de si.” (14).
6. O Eu: passagem da indeterminação indiferenciada á diferenciação que
caracterizará um objeto e um conteúdo, o qual pode ser dado pela natureza
[=sentimento de si animal] ou produzido a partir do conceito do espírito
[consciência de si que se realiza humana ao atingir uma consciência também para
si, ao fazer a passagem do plano subjetivo ao objetivo]. (14/15). Determinado, o
Eu entra na existência em geral [momento absoluto do finito e do particular no Eu,
como abolição de uma primeira negatividade abstrata]. [U (C) P; P (C) U; P =
determinação (finita e particular) de U]; Esse primeiro universal é abstração de
toda determinação e, portanto, não pode ser confundido com o universal concreto
[o conceito realizado]. O que lhe coloca como finito e unilateral é, justamente, o
seu ser abstrato, que constitui sua específica determinação como tal. (15).
7. A autodeterminação do Eu: consiste em situar-se a si mesmo num estado que é
a negação do Eu, pois que determinado e limitado [como abstração impossível de
qualquer determinação], e não deixar de ser ele mesmo – não deixa de estar
ligado senão a si mesmo na determinação. “O Eu determina-se enquanto é
relação de negatividade consigo mesmo, e é o próprio caráter [negativo/negador]
de tal relação que o torna indiferente a essa determinação específica [de ser
abstrato], pois sabe que é sua e ideal”.
7-A. Toda consciência se concebe como universal, como possibilidade de se
abstrair de todo o conteúdo, e como um particular que tem um certo objeto, um
certo conteúdo, um certo fim. Esse universal e particular [segundo os quais toda
consciência se concebe], contudo, são apenas abstrações; tudo o que é concreto
e verdadeiro são o universal que tem no particular o seu oposto, mas num
particular que, graças a sua reflexão que em si mesmo faz, está em concordância
com o universal. [volta à idéia de um particular como determinação (atualizada) e
particularidade (concreta) de um universal no qual está contido = estar em
concordância com o universal, como expressão de uma razão conciliadora.]
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por sua natureza [ou seja: a vontade imediata, determinada pelo conceito ao
determinar-se a si mesmo, é constituída ainda segundo um plano meramente
subjetivo (a vontade que ainda só em si é vontade livre); está, portanto, num plano
anterior à humanidade – plano objetivo: daí chamar-se vontade imediata ou
natural]. Trata-se de uma vontade de conteúdo racional, mas racional apenas na
medida de sua forma imediata – racional em si, dirá Hegel – não lhe sendo
possível adquirir a forma da racionalidade. Trata-se de vontade finita em si
mesma, uma vez que tal conteúdo não se encontra identificado [Idéia: identidade
consciente de forma e conteúdo] com a forma.
12. A vontade real: é a decisão, assim tornada vontade decisiva quando a vontade
dá-se a si mesma, sob a forma da individualidade, calcada sobre uma dupla
indeterminação da estrutura do conteúdo daquela vontade [n. 11]: consistente no
fato de que aquela vontade é apenas “(...) um conjunto e uma diversidade de
instintos; cada um deles é absolutamente o meu ao lado de outros, e é ao mesmo
tempo geral de indeterminado [dupla indeterminação], dispondo de toda a espécie
de meios para se satisfazer”. (20). É pela decisão que há: afirmação da vontade
como de um indivíduo determinado e diferenciação em relação a outrem.
13. A vontade é finita: “quando o Eu, embora infinito, não se reflete sobre si
mesmo e só formalmente está junto a si”. (21) Mantém-se acima do conteúdo, dos
diferentes instintos e de todas as espécies de realização e satisfação. Vontade
que, embora formalmente infinita, se encontra presa a conteúdo que constitui as
determinações de sua vontade e de sua realidade exterior. [Não atinge a forma
como razão conceitual; presa ao conteúdo, tem-se uma vontade limitada porque
apegada aos caracteres de sua contingência e particularidade. Por isso, trata-se
de um Eu que não se reflete sobre si mesmo: pois se refletisse, veria aquele
conteúdo como apenas um dentre as possíveis determinações de sua vontade –
trata-se do Eu ainda incapaz da consciência de si, já que as determinações não
lhe aparecem como algo de exterior, e é impossível diferenciá-las de seu interior
(consciente de si)].
14. A liberdade da vontade é o livre-arbítrio: onde se reúnem dois aspectos: (1) a
reflexão livre, que vai se separando de tudo, e (2) a subordinação ao conteúdo e à
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Daí porque não existe liberdade no sentimento de si animal...
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23. Vontade livre: quando consegue ser na sua existência o que o seu conceito é
– se referencia a si mesma. (27). [Lembrar a idéia de conciliação do conceito
(forma) com a realidade material (conteúdo)].
24. Conceito de vontade livre como universal: porque nela, toda limitação e
singularidade individual ficam suprimidas; consistem estas [toda limitação e
singularidade individual] na diferença do conceito e do seu objeto ou conteúdo,
isto é, na diversidade do seu objetivo ser para si [razão conceitual] e do seu ser
em si [conteúdo], da sua individualidade que decide [ou determina] e exclui e da
sua universalidade (28). [que não a constitui como Idéia].
25. Subjetivo: o aspecto da consciência de si, da sua individualidade, na diferença
que apresenta como o conceito em si dela mesma. [representação de si =/=
representação para si].
25-A. A subjetividade designa (28/29):
a. A pura forma da unidade absoluta da consciência de si consigo mesma.
Só em si mesma se funda, na sua interioridade e na sua abstração; é a
pura certeza de si mesma, que é diferente da verdade.
b. A particularidade da vontade como livre-arbítrio e conteúdo contingente
de quaisquer fins;
c. O aspecto unilateral, no sentido de que aquilo que se quer começa por
ser apenas um conteúdo que pertence à consciência de si e um fim por
realizar.
26. A vontade (29):
a. É simplesmente vontade objetiva no sentido se que se tem a si mesma
como destino e está, portanto, conforme com o seu conceito.
b. A vontade objetiva, desprovida da consciência de si, é também a vontade
mergulhada no seu objetivo e no seu estado [crianças, escravos etc.];
c. A objetividade é uma forma unilateral que se opõe à determinação
subjetiva da vontade; é a imediateidade da existência como realidade
exterior; a vontade só se torna objetiva no momento de realizar seus fins.
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