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Este documento discute os instrumentos lógicos do pensamento, incluindo conceitos, juízos e raciocínios. Explica que conceitos são representações mentais abstratas de classes de objetos, expressas por termos. Juízos estabelecem relações lógicas entre conceitos através de afirmações ou negações. Raciocínios envolvem a conexão de vários juízos.
Este documento discute os instrumentos lógicos do pensamento, incluindo conceitos, juízos e raciocínios. Explica que conceitos são representações mentais abstratas de classes de objetos, expressas por termos. Juízos estabelecem relações lógicas entre conceitos através de afirmações ou negações. Raciocínios envolvem a conexão de vários juízos.
Este documento discute os instrumentos lógicos do pensamento, incluindo conceitos, juízos e raciocínios. Explica que conceitos são representações mentais abstratas de classes de objetos, expressas por termos. Juízos estabelecem relações lógicas entre conceitos através de afirmações ou negações. Raciocínios envolvem a conexão de vários juízos.
1.1-Noes Bsicas de Lgica __________________________________________________________________________________________________________ 9
1.1.2.Os Instrumentos Lgicos do Pensamento
Para pensar, necessitamos, no apenas dos princpios lgicos (princpios reguladores do pensamento vlido), mas tambm de instrumentos lgicos (utenslios, meios atravs dos quais pensamos).
Tais instrumentos so: os conceitos; os juzos; os raciocnios.
a) O conceito e o termo
a.1) O conceito de conceito
O conceito o elemento bsico do pensamento.
Pensamos a realidade (coisas, factos, acontecimentos, aes, etc.) atravs de conceitos.
Os conceitos exprimem-se atravs de termos.
NOTA: Recorde-se a relao entre pensamento e linguagem e a impor- tncia desta na estruturao daquele: rigor de linguagem e clareza de conceitos esto intimamente ligados.
O conceito um instrumento mental por intermdio do qual possvel pensar realidades, representando-as no esprito.
As operaes intelectuais envolvidas na construo do conceito so:
a comparao entre os objetos de uma dada classe, procurando determinar as suas caractersticas comuns (essenciais), distinguindo-as das que so prprias de cada um (acidentais);
a abstrao ou separao mental do que comum (essencial) aos vrios objetos da classe;
a generalizao ou aplicao das caractersticas abstradas a todos os objetos da classe.
O conceito apresenta-se assim como a unidade mental (uma construo abstrata), sntese do que comum ao conjunto dos indivduos de uma dada classe:
Uma representao intelectual, abstrata e geral do que comum (a essncia) de uma dada classe de seres. Racionalidade Argumentativa e Filosofia: 1.Argumentao e Lgica Formal 1.1-Noes Bsicas de Lgica __________________________________________________________________________________________________________ 10
Um conceito, em si mesmo, no verdadeiro nem falso, uma vez que no afirma nem nega coisa alguma.
Pelo menos em teoria, podemos imaginar um conjunto infinito de conceitos. Mas h pelo menos um limite lgico formao de conceitos: um conceito no pode reunir em si elementos contraditrios.
Os conceitos devem restringir-se ao campo da possibilidade lgica.
Os conceitos no existem isoladamente, mas antes constituindo redes conceptuais.
Note-se que a noo de rede conceptual -nos j familiar desde o 10 Ano. Falvamos ento, por exemplo, de rede conceptual da ao.
a.2) O termo
O termo a expresso verbal do conceito (a sua vestidura convencional e simblica).
Um mesmo conceito pode ser expresso por vrios termos (em diferentes lnguas rei, king, roi, etc. e at na mesma lngua prmio, galardo, recompensa) como um termo pode exprimir vrios conceitos (p. exemplo, compasso instrumento de desenho, visita pascal, diviso de tempo musical).
Termo diferente de palavra: um termo pode ser expresso por uma ou por vrias palavras (expresses conceptuais ser vivo, animal racional, homens que habitam o hemisfrio norte).
Finalmente, um mesmo objeto (p. ex. o planeta Vnus) pode ser designado por expresses verbais diferentes (a estrela da manh, a estrela da tarde) com significados diferentes (a ltima estrela visvel no cu a nascente, quando a noite acaba, a primeira estrela a ver-se a poente, quando o sol se pe).
Recorde-se a distino (e a relao) entre significado e referente.
a.3) O conceito: extenso e compreenso
No conceito devem ser distinguidas a sua extenso e a sua compreenso.
A extenso (denotao ou domnio de aplicao do conceito) o conjunto dos objetos (coisas, pessoas, acontecimentos) designados pelo conceito, constituindo a classe lgica definida pelo conceito.
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A compreenso o conjunto das caractersticas ou atributos que definem o conceito e que so comuns aos objetos por ele designados.
Definir um conceito analisar rigorosamente a sua compreenso; definir um termo indicar a sua significao.
Extenso e compreenso variam em sentido inverso:
Quanto maior o nmero de objetos designados pelo conceito (extenso), menor o conjunto das caractersticas comuns (compreenso).
Quanto maior a compreenso do conceito, menor a sua extenso.
b) O Juzo e a Proposio
b.1) Pensar relacionar conceitos entre si, formando juzos: o juzo uma relao lgica entre conceitos.
Viu-se j que os conceitos no existem isoladamente, mas antes inseridos em redes conceptuais. Pensamos as coisas no interior de tais redes conceptuais, estabelecendo relaes entre os conceitos.
O juzo o ato mental pelo qual se afirma ou nega uma relao entre conceitos (M. Gex).
Pelo juzo afirmo ou nego alguma coisa (um predicado) acerca de alguma coisa (um sujeito), afirmo (ou nego) que um certo predicado (e a sua compreenso) convm (ou no convm) a um sujeito, que tal predicado (ou no ) atributo do sujeito.
Quando digo que a casa branca, afirmo que o predicado (ou atributo) branca convm ao sujeito casa
Note-se: o juzo expressa uma relao lgica do tipo S P. Os conceitos sujeito (S) e predicado (P), com a respetiva compreenso, representam a matria (significao) do juzo. A cpula (, que relaciona S e P) representa a forma (afirmando ou negando a relao de convenincia ou no convenincia de P a S).
O juzo a operao mental que estabelece uma relao lgica (de afirmao ou de negao da convenincia) entre conceitos, podendo tal relao lgica ser considerada verdadeira ou falsa.
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b.2) Classificao dos Juzos
Os juzos podem ser classificados a partir de diferentes pontos de vista. Retenha-se, como essencial, a seguinte classificao dos juzos:
Ponto de vista da quantidade (ou da extenso do Sujeito):
Juzos universais quando o respetivo sujeito tomado universalmente (quando o atributo ou predicado afirmado de toda a extenso do sujeito);
Juzos particulares quando os sujeito tomado particularmente (quando o atributo afirmado ou negado apenas de uma parte da extenso do sujeito).
Ponto de vista da qualidade (da relao de convenincia entre Sujeito e Predi- cado):
Juzos afirmativos quando o atributo afirmado acerca do sujeito;
Juzos negativos quando o atributo negado acerca do sujeito.
Combinando os pontos de vista da quantidade e da qualidade, teremos:
Quanto relao lgica entre sujeito e predicado, distinguem-se:
Juzos analticos (o que o predicado afirma est logicamente contido na compreenso do conceito sujeito p. ex: os corpos so extensos; o tringulo um polgono de trs ngulos, etc);
Juzos sintticos (o predicado no este logicamente contido na compre- enso do conceito sujeito, acrescentando-lhe algo de novo p. ex.: alguns corpos so redondos; a Margarida estudiosa, etc.).
Quanto ao seu fundamento:
Juzos a priori (so juzos de razo, independentes da experincia, ainda que se apliquem experincia);
Juzos a posteriori (juzos que tm a sua origem e o seu fundamento na experincia).
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b.3) Juzos, Proposies e Frases Declarativas
O resultado do juzo, enquanto ato mental, a proposio.
A proposio o pensamento que uma frase declarativa exprime literalmente; ou, dito de outro modo, proposio o que afirmado ou negado numa frase declarativa.
Temos assim: O juzo, ato mental que estabelece uma relao lgica entre conceitos; A proposio o resultado do juzo A frase declarativa, expresso verbal do resultado do juzo, a proposio.
Uma frase uma sequncia de palavras gramaticalmente ordenadas, exprimindo uma afirmao, uma pergunta, uma ordem, um desejo, etc.
Nem todas as frases so frases declarativas; uma frase declarativa quando afirma ou nega alguma coisa. Por exemplo:
H vida noutros planetas alm da terra; O nada s gosta de pipocas segunda-feira.
Uma proposio exprime-se atravs de uma frase declarativa; mas nem todas as frases declarativas exprimem proposies. Uma frase declarativa exprime uma proposio quando a frase tem um valor de verdade, quer dizer, quando ela pode ser dita verdadeira ou falsa.
Consideremos os dois exemplos anteriores:
a primeira frase (h vida noutros planetas alm da terra) uma frase declarativa e exprime uma proposio (pode ser dita verdadeira ou falsa);
a segunda frase (o nada s gosta de pipocas segunda-feira) uma frase declarativa mas no exprime uma proposio (porque no exprime um valor de verdade; porque no pode ser dita verdadeira ou falsa simplesmente uma frase sem sentido, por no ter um referente).
NOTA: Uma frase declarativa exprime uma proposio quando tem um valor de verda- de, quer dizer, quando, independentemente da sua efetiva verdade ou falsidade, sabemos que ela tem de assumir um de dois valores lgicos: o verdadeiro ou o falso.
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c) O Raciocnio e o Argumento
c.1) O Raciocnio
O raciocnio a operao lgica que, partindo de uma ou mais proposies (expresses de juzos) dadas previamente (premissas) conduz a uma nova proposio que a sua consequncia lgica (a concluso).
O raciocnio (ou inferncia) consiste na transio lgica de proposies dadas a uma nova proposio.
O raciocnio assim uma relao lgica de antecedente a consequente: dadas determinadas premissas, delas resulta, como sua consequncia, uma nova proposio, a concluso.
c.2) O Argumento
Do mesmo modo que o termo a expresso verbal do conceito e a proposio se exprime atravs de uma frase declarativa, o argumento a expresso verbal do raciocnio.
Um argumento uma sequncia de proposies ordenadas de tal modo que uma delas (a concluso) seja apoiada pelas outras (as premissas).
Premissas so proposies utilizadas num argumento para sustentar uma concluso.
Concluso a proposio defendida num argumento, com recurso a determinadas premissas.
Se um argumento um conjunto de proposies, nem todos os conjuntos de proposies so argumentos.
Para que um conjunto de proposies seja um argumento, necessrio que esse conjunto possua uma estrutura:
necessrio que uma das proposies exprima a tese que se quer defender (concluso) e que a(s) outra(s) (premissas) sejam apresentadas como razes a favor dessa tese.
Argumentar justificar, fundamentar, apresentar razes, quer dizer, proposies que, postas antes (premissas), do apoio concluso.
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c.3) O que um bom argumento?
Em termos gerais, um argumento cujas premissas justificam, defendem, a concluso. Mas o que isto significa depende do tipo de argumento considerado.
Um argumento bom , antes de mais, um argumento vlido. E por argumento vlido entende-se um argumento em que impossvel (ou muito improvvel) que, se as suas premissas forem verdadeiras, a concluso seja falsa.
Um argumento vlido tal que a concluso uma consequncia das premissas. Um tal argumento, partindo de premissas admitidas (hipoteticamente) como verdadeiras, conduz a uma concluso verdadeira.
Note-se que a validade do argumento (questo de forma lgica) independente da verdade das premissas: o argumento pode ser (formalmente) vlido, apesar das suas premissas e a sua concluso serem falsas, como pode ser (formalmente) invlido, ainda que as premissas e a concluso sejam verdadeiras.
Repare-se na diferena entre validade (de um argumento) e verdade das proposies (premissas e concluso).
Mas, para que um argumento seja bom, no basta que ele seja vlido. A validade condio necessria, mas no condio suficiente, para que um argumento seja bom.
Um bom argumento aquele que, alm da relao lgica entre premissas e concluso (questo de validade), parte de premissas verdadeiras, caso em que a concluso ser tambm verdadeira.
logicamente impossvel (ou, pelo menos, pouco provvel) que um argumento que seja vlido e parta de premissas verdadeiras tenha uma concluso falsa.
Um argumento nestas condies (vlido e com premissas verdadeiras logo conconcluso verdadeira) chama-se argumento slido (se for um argumento dedutivo) ou um argumento forte (se for um argumento indutivo).
Em sntese:
Um argumento vlido aquele em que:
o A concluso a consequncia das premissas; o impossvel (ou improvvel) que as premissas sejam verdadeiras e a concluso falsa. Racionalidade Argumentativa e Filosofia: 1.Argumentao e Lgica Formal 1.1-Noes Bsicas de Lgica __________________________________________________________________________________________________________ 16
Um argumento vlido com premissas, de facto, verdadeiras um bom argumento. o Um argumento vlido com pelo menos uma premissa falsa no um bom argumento (a concluso at pode ser verdadeira; mas tal acontece por acaso, no como consequncia das premissas). o Um argumento no vlido aquele cuja concluso no apoiada pelas premissas.
Um bom argumento um argumento vlido e com premissas verdadeiras. Um mau argumento :
o Um argumento vlido, mas com pelo menos uma premissa de facto falsa; ou o Um argumento invlido, ainda que com todas as premissas verdadeiras.
c.4) A Anlise do Discurso Argumentativo
c.4.1.Identificao e reconstruo de argumentos
Dissemos j que o que caracterstico do trabalho filosfico a discusso crtica, o jogo dos argumentos e dos contra-argumentos em que, pelo seu confronto crtico, uns e outros se vo pondo prova mutuamente.
As discusses filosficas devem assim concentrar a sua ateno aos aspetos argumentativos do discurso (oral ou escrito).
Importante , desde logo, distinguir, no discurso, os seus aspetos argumentativos e os seus aspetos no argumentativos (descries, explicaes, exemplos, etc.) que, mesmo sendo importantes para a compreenso do discurso (ajudam a compreender), no so relevantes para a argumentao.
Do ponto de vista da lgica , importa considerar, no discurso, os seus aspetos argumentativos, identificando e reconstruindo os argumentos nele presentes (por vezes de forma no imediatamente percetvel).
No processo de identificao e reconstruo dos argumentos presentes num discurso deve proceder-se realizao das seguintes tarefas:
Identificar os argumentos um mesmo discurso argumentativo pode conter (e normalmente contm) vrios argumentos. A forma de identificar um argumento verificar se h uma concluso: onde h concluso, h argumento; se h argumento, h concluso.
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O que h a verificar o seguinte:
H uma afirmao/proposio a ser defendida? H inteno de convencer algum de alguma coisa? De qu? H afirmaes que apoiam outra afirmao? Qual?
A outra componente de um argumento a identificar so as premissas o conjunto das afirmaes/proposies (uma ou vrias) que do apoio, justificam, a concluso.
o Uma parte importante da reconstruo de argumentos consiste em detetar premissas omitidas, quer dizer, premissas que no foram explicitamente apresentadas.
o Chama-se entimema a um argumento com uma ou mais premissas ocultas, quer dizer, implcitas e que, para o reconhecimento da estrutura completa do argumento, importa explicitar.
Nem sempre fcil descobrir premissas ocultas. Uma das facetas das discusses filosficas consiste exatamente em explicitar premissas implcitas, para depois as submeter a exame.
Importa formular claramente todas as premissas dos argumentos, pois s assim podemos proceder a um exame cuidadoso da relao entre as premissas e a concluso.
Auxiliar importante da reconstruo de argumentos a presena de certas expresses que so indicadores de premissa ou indicadores de concluso.
Indicadores tpicos de premissa 0ra , dado que , porque , assumindo que , admitindo que , em virtude de , considerando que , uma vez que , visto que , devido a que , a razo que , etc. Indicadores tpicos de concluso Logo , portanto , por isso , por conseguinte , infere-se que , ento , segue-se que , consequentemente , da que , o que mostra que , etc.
Nota: Bem pode acontecer, contudo, que um argumento se apresente sem qualquer dos indicadores atrs referidos, como no seguinte exemplo:
A pena de morte inaceitvel. Matar um ser humano s aceitvel se no houver alternativa moralmente vlida.
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C.4.2. A Crtica dos Argumentos
Disse-se que o trabalho filosfico consiste na discusso crtica, no confronto crtico de argumentos e de contra-argumentos.
Uma das formas que assume o exame crtico caracterstico do filosofar a clarificao de argumentos, a verificao da respetiva fora (se so bons argumentos) para dar apoio tese que se propem justificar.
A crtica de um argumento pode fazer-se de duas formas:
Verificando se (e em que grau) as premissas (sendo verdadeiras) garantem a concluso.
o Trata-se, sob este aspeto, de verificar se o argumento vlido, quer dizer, se, sendo as premissas verdadeiras, isso garante a concluso (argumento dedutivo) ou a torna provvel (argumento indutivo).
Verificando se as premissas so verdadeiras ou falsas.
O bom argumento o que, sendo vlido, parte de premissas verdadeiras. Assim, para refutar um argumento dedutivo vlido, basta mostrar que pelo menos uma das premissas falsa.
d) Tipos de Inferncias
Disse-se j que os raciocnios (e os argumentos) no so verdadeiros ou falsos, mas vlidos ou no vlidos.
Um argumento formado por proposies (as premissas e a concluso) e estas podem ser verdadeiras ou falsas (porque afirmam ou negam alguma coisa acerca de alguma coisa).
A verdade e a falsidade aplicam-se a proposies, enquanto estas representam ou no de forma adequada a realidade.
Mas um argumento no uma proposio (no afirma nem nega nada); estabelece relaes entre proposies.
Tais relaes so vlidas ou no vlidas (mas no verdadeiras ou falsas).
Distinguem-se habitualmente trs tipos de inferncias: Deduo; Induo; Analogia.
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d.1) A Deduo
Entende-se por deduo a operao lgica pela qual se derivam certos enunciados de outros enunciados de um modo puramente formal (Ferrater Mora).
Pela operao lgica de deduo, dadas determinadas proposies (premissas) tidas como verdadeiras, obtm-se uma nova proposio (a concluso) necessariamente verdadeira.
A validade dedutiva uma relao entre valores de verdade e a estrutura lgica de um argumento
Se o argumento tiver uma estrutura formalmente vlida e as suas premissas forem verdadeiras (materialmente vlidas), a concluso ser necessariamente verdadeira.
Admitida a verdade das premissas, se a relao entre elas for formalmente correta (vlida), tem de se admitir a verdade da concluso.
Note-se: no interessa nada para o caso saber se as premissas so verdadeiras; importa apenas a validade formal do argumento; se o argumento for formalmente vlido, a concluso uma consequncia necessria das premissas.
A validade de um argumento dedutivo depende assim apenas da sua forma lgica, quer dizer, da coerncia ou correo, da consistncia da relao entre premissas e concluso.
Do ponto de vista lgico formal, a questo do contedo do argumento (a verdade ou falsidade das proposies que o compem) irrelevante.
Veja-se o exemplo da p. 19 do Manual (l-se com proveito todo o texto de Baggini e Fosl. Pp. 19-20).
Recorde-se a distino entre validade (validade formal) e verdade (validade material):
Um argumento pode ser vlido, tendo premissas e concluso falsas.
Um argumento invlido pode ter premissas e concluso verdadeiras.
H dois tipos de deduo:
A deduo silogstica um raciocnio formado por trs proposies, de tal maneira que, sendo dadas as duas primeiras (as premissas), se segue necessariamente a terceira (a concluso). Racionalidade Argumentativa e Filosofia: 1.Argumentao e Lgica Formal 1.1-Noes Bsicas de Lgica __________________________________________________________________________________________________________ 20
A deduo silogstica procede do mais geral para o menos geral ou, se se quiser, do geral para o particular.
Da a acusao de que, ainda que seja um raciocnio rigoroso, o silogismo no permite inovar, antes servindo para expor aos outros aquilo que j por ns conhecido.
A deduo matemtica um procedimento lgico que consiste em substituir determinadas grandezas por outras que lhes so equivalentes.
Dadas determinadas proposies (tidas como verdadeiras ou aceites por conveno), a deduo matemtica substitui-as, mediante regras de derivao, por outras que lhes so equivalentes.
Os raciocnios dedutivos da matemtica so demonstraes.
d.2) A Induo
O raciocnio indutivo consiste em concluir do particular para o geral: constatados um certo nmero de casos particulares, generaliza-se concluindo que o mesmo se h de verificar em todos os casos do mesmo tipo.
A induo a operao mental que consiste em ascender de um certo nmero de proposies dadas a uma proposio de maior generalidade que implica todas as proposies induzidas (A. Lalande).
Distingue-se habitualmente dois tipos de induo:
A induo completa (formal ou aristotlica), partindo da verificao da presena de uma determinada caracterstica em cada um dos elementos de um conjunto, generaliza, concluindo que tal caracterstica pertence a todos os elementos do conjunto.
Trata-se de uma induo totalizante (uma totalizao do saber adquirido), uma vez que o geral se infere da enumerao de todos os casos particulares.
um raciocnio rigoroso, mas no inovador (no afirma nada que no esteja j contido nas premissas).
A induo incompleta (baconiana ou amplificante), partindo da verificao de uma dada caracterstica em alguns elementos de uma dada classe, generaliza essa caracterstica a todos os elementos da mesma classe: conclui de alguns para todos.
Ao contrrio da deduo e da induo completa, que so logicamente necessrias, a induo incompleta implica um salto no desconhecido, no apoiado na necessidade lgica e portanto sem garantias formais de rigor da respetiva concluso. Racionalidade Argumentativa e Filosofia: 1.Argumentao e Lgica Formal 1.1-Noes Bsicas de Lgica __________________________________________________________________________________________________________ 21
Apesar de este salto no desconhecido no ser logicamente sustentado, realizmo-lo frequentemente, tanto na vida quotidiana como na investigao cientfica.
mesmo este salto logicamente no justificado que permite alargar os nossos conhecimentos: o progresso cientfico (pelo menos segundo alguns pontos de vista) baseia-se neste tipo de raciocnio.
Uma forma de justificar o raciocnio indutivo supor como seu suporte o princpio do determinismo causal da natureza.
Mas as crticas de David Hume (1711-1776) ao conceito de causalidade apontam para que o fundamento da induo (o princpio do determinismo causal) seja apenas psicolgico (o hbito) e no lgico ou ontolgico.
Importa reconhecer que a induo incompleta no tem as mesmas garantias que a deduo ou a induo completa (ambas logicamente justificadas).
O raciocnio indutivo sempre conjetural, sujeito a ser contrariado pela experincia futura.
Sem garantias formais, o argumento indutivo no estabelece uma relao necessria, mas apenas uma relao provvel entre premissas e concluso.
Um bom argumento indutivo (vlido) um argumento forte; um mau argumento indutivo (no vlido) um argumento fraco.
Um argumento indutivo vlido aquele em que a verdade das premissas nos d fortes razes para pensar que a concluso verdadeira.
d.3) O Raciocnio por Analogia
Para alm do raciocnio dedutivo (cujo fundamento de ordem lgico formal) e do raciocnio indutivo (fundado no, suposto mas discutvel, princpio do determinismo causal), h ainda o raciocnio analgico. O raciocnio por analogia consiste em, partindo de certas semelhanas (relaes de identidade sob determinados aspetos) entre objetos (ou classes de objetos), concluir outras identidades entre objetos (ou classes de objetos).
A semelhana funda-se na comparao entre (classes de) objetos.
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Anlogos so dois objetos (ou classes de objetos) que so em parte semelhantes (mas em parte, maior ou menor, diferentes).
Exemplo.
Se Na Terra h gua e na Terra h vida. E Em Marte h gua. Logo: Em Marte h vida.
De um ponto de vista estritamente lgico-dedutivo, o raciocnio no vlido. Semelhana no o mesmo que identidade (admitir semelhanas tambm admitir diferenas).
Contudo, o raciocnio por analogia funciona espontaneamente na vida quotidiana. Nele encontram o seu suporte as imagens, as metforas, os smbolos, de importncia bvia na produo literria.
Nas cincias, o raciocnio por analogia pode ser til e inspirador, mas o valor do seu resultado s pode ser determinado por testes empricos.