0 evaluări0% au considerat acest document util (0 voturi)
177 vizualizări4 pagini
O documento resume um livro que discute como a globalização cultural afeta as identidades culturais individuais. O autor utiliza três estudos etnográficos de artistas japoneses, religiosos americanos e intelectuais de Hong Kong para mostrar como as pessoas negociam suas identidades entre pertencer a uma cultura nacional e ter acesso a uma variedade global de opções culturais. O autor argumenta que a noção tradicional de cultura como "modo de vida de um povo" está se tornando obsoleta e sugere que a antropologia precisa se adaptar
O documento resume um livro que discute como a globalização cultural afeta as identidades culturais individuais. O autor utiliza três estudos etnográficos de artistas japoneses, religiosos americanos e intelectuais de Hong Kong para mostrar como as pessoas negociam suas identidades entre pertencer a uma cultura nacional e ter acesso a uma variedade global de opções culturais. O autor argumenta que a noção tradicional de cultura como "modo de vida de um povo" está se tornando obsoleta e sugere que a antropologia precisa se adaptar
O documento resume um livro que discute como a globalização cultural afeta as identidades culturais individuais. O autor utiliza três estudos etnográficos de artistas japoneses, religiosos americanos e intelectuais de Hong Kong para mostrar como as pessoas negociam suas identidades entre pertencer a uma cultura nacional e ter acesso a uma variedade global de opções culturais. O autor argumenta que a noção tradicional de cultura como "modo de vida de um povo" está se tornando obsoleta e sugere que a antropologia precisa se adaptar
Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 9, n. 20, p. 309-312, outubro de 2003 MATHEWS, Gordon. Cultura global e identidade individual. Bauru: EDUSC, 2002. 414 p. Nicole Isabel dos Reis Mestranda, Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil O que um lar? Quem somos ns neste mundo? Essas so as inda- gaes que basicamente norteiam as quatrocentas pginas da obra do an- troplogo americano Gordon Mathews. Esses questionamentos so descontrudos e fragmentados em inmeros outros a respeito do que significa cultura hoje tanto para o senso comum como para mundo acadmico da antropologia e como as pessoas entendem quem so culturalmente. A principal ferramenta usada por Mathews para problematizar a ques- to da identidade cultural o conceito de supermercado cultural global: como pensar em culturas nacionais quando uma boa parcela da populao mundial, diariamente, escolhe aspectos da sua vida nas prateleiras de um supermercado cultural global? As opes de escolha disponveis a todos so inmeras: tratando-se de comida, por exemplo, pode-se comer ovos e bacon no caf da manh, lasanha no almoo e sushi no jantar; como entretenimen- to, pode-se ouvir jazz, samba, reggae e salsa; no campo da religio, pode- se escolher entre se tornar cristo, budista, sufi ou ateu. A tenso entre pertencer a uma cultura nacional e ser um consumidor do supermercado global apresentada com a etnografia de trs grupos: artistas japoneses tradicionais e contemporneos; americanos em busca de religio, cristos e budistas; e intelectuais de Hong Kong procura de uma identidade aps um evento histrico recente, a devoluo de Hong Kong China. Essas etnografias se guiam por indagaes aparentemente simples, mas que evocam a dificuldade de se colocar identidades nacionais em categorias estanques: o que no mundo japons? (Ou americano? Ou chins?). No primeiro captulo, Sobre os Significados de Cultura, Mathews inicia com um panorama geral do conceito de cultura em antropologia e suas inmeras significaes, desde seu aparecimento no sculo XIX, passando pelos evolucionistas, Franz Boas, Ruth Benedict e Clifford Geertz, at a espcie de mal-estar contemporneo no uso do conceito por alguns antro- plogos. Seu objetivo fazer um contraponto entre o conceito clssico de cultura como o modo de vida de um povo e o conceito mais contemporneo, 310 Srgio F. Ferretti Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 9, n. 20, p. 309-312, outubro de 2003 Nicole Isabel dos Reis que trata cultura como as informaes e identidades disponveis no super- mercado cultural global. Para ele, a oposio fundamental entre esses dois conceitos seria de que o primeiro coloca cultura como formada pelo Estado, e o segundo, como formada pelo mercado. A questo volta-se para como os grupos etnografados formulam suas identidades culturais entre os princ- pios contraditrios de Estado e mercado, que tm inculcados em suas men- tes. Assim, ele apresenta uma teoria fenomenolgica da formao cultural do eu, focada em como os eus entendem a formao cultural de suas identidades. Essa formao colocada como acontecendo em trs diferen- tes nveis. Um primeiro nvel, extremamente profundo, aceito sem questionamento, e que est abaixo do nvel de conscincia (algo similar ao conceito de habitus). Um segundo nvel, intermedirio, que o autor chama de shikata ga nai, uma expresso japonesa que significa no h nada que eu possa fazer a respeito, e que o nvel no qual fazemos o que devemos fazer enquanto membros da sociedade, gostando ou no: parar no sinal vermelho, ir escola, trabalhar para viver. So as presses sociais sobre o eu, e dentro delas ou contra elas que, conscientemente, se luta para moldar seu prprio caminho. O terceiro nvel, bem mais superficial, o do super- mercado cultural global, e o nvel no qual as pessoas sentem que tm absoluta liberdade de escolha (que no absolutamente livre, mas feita a partir de um catlogo de opes disponveis para determinada classe so- cial, gnero, etnia, formao). Cultura como modo de vida de um povo estaria nos dois primeiros nveis, e cultura como leque de opes, no terceiro. Mathews encerra o captulo colocando em questo o conceito de identidade, problematizando o que significa uma escolha dentro do super- mercado cultural e apresentando brevemente e justificando sua escolha dos grupos estudados. Os trs captulos que se seguem, dedicados aos japoneses, americanos e chineses, formam a maior parte do livro. A etnografia foi realizada em vrios momentos, tanto no Japo como nos Estados Unidos e em Hong Kong, e fundamentalmente baseada em entrevistas longas, com cerca de 120 informantes. No captulo sobre o Japo, Mathews questiona as identidades culturais de tocadores de coto (harpa japonesa), calgrafos, pianistas de jazz, roquei- ros, artistas plsticos, entre outros artistas. So questionadas suas posturas que se inclinam ora em direo manuteno do japanismo no fazer artstico, ora em direo abertura para a ocidentalizao. A manuteno 311 Cultura global e identidade cultural Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 9, n. 20, p. 309-312, outubro de 2003 das razes japonesas, assim, pode ser vista como um grilho para o artista que quer se inserir no cenrio artstico mundial, ao mesmo tempo em que pode ser colocada como s mais um item disposio no supermercado cultural e, assim, como objeto de escolha ou de reinveno. Ao falar dos americanos, Mathews concentra-se nas identidades cul- turais dos cristos evanglicos, dos budistas tibetanos e das pessoas que simplesmente buscam o espiritual. A classificao dos Estados Unidos da Amrica como uma nao crist colocada em xeque com a contraposio de vrios discursos acerca do que seria a verdade religiosa primordial para os informantes, e sobre como os budistas e as pessoas em busca de espiritualidade exercem e justificam suas opes religiosas baseando-se no ideal americano de liberdade de escolha a verdade versus o gosto. Como os princpios culturais americanos incluem o discurso da busca de felicida- de, o autor coloca que, na realidade, o prprio supermercado cultural global americano: os japoneses podem temer uma ocidentalizao quando muito influenciados por ele, mas os americanos nada tm a temer no sentido de uma completa orientalizao: as religies do Oriente entram como mais um dos produtos do supermercado cultural, escolha do fregus. Finalmente, ao falar dos intelectuais de Hong Kong que no sabem qual sua identidade cultural/nacional (hong-konguenses? Chineses de Hong Kong? Chineses?), Mathews prope a interpretao de um processo recente e que atinge uma gerao especfica de pessoas: aqueles nascidos e criados em Hong Kong mas que possuem razes chinesas, e que esto confrontados com a questo de criar uma identidade depois da devoluo do territrio China. So questionados os processos educacionais, polticos, institucionais e miditicos que influenciam a formao dessas identidades e como os prpri- os informantes interpretam o seu lugar dentro desse jogo de espelhos. No captulo final, Procura de um Lar no Supermercado Cultural, Mathews aproxima os trs grupos e demonstra de que forma os diferentes pontos de vista dos informantes refletem correntes maiores no mundo de hoje. Assim, o jogo entre as circunstncias especiais de cada sociedade (o nvel shikata ga nai) e as escolhas e buscas individuais, (o supermercado) o fator que condiciona a negociao social dos sentidos de identidade cultural dessas pessoas. Mas at que ponto a liberdade de escolha no mera iluso? At que ponto a necessidade de escolha no o prprio shikata ga nai do mundo contemporneo capitalista? O autor discorre 312 Srgio F. Ferretti Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 9, n. 20, p. 309-312, outubro de 2003 Nicole Isabel dos Reis sobre as implicaes do capitalismo e da predominncia econmica do Ocidente na formao do supermercado cultural. Retomando uma discusso do primeiro captulo, no encerramento do livro Mathews volta s definies antropolgicas de cultura e critica o fazer e as preocupaes dos antroplogos contemporneos, argumentando que, se o conceito de cultura ao qual a tradio antropolgica tem se prendido o do modo de vida de um povo, fica cada mais difcil identificar esse modo de forma clara num mundo contemporneo fluido e fragmentado. Do mesmo modo, se a antropologia passar a se dedicar ao estudo do supermercado cultural, seu objeto e contedo se tornariam bem obscuros e demasiado sujeitos a modismos. Seria o caso de se criar uma nova base terica para antropologia? Talvez sim, afirma Mathews, citando as propostas de uma nova antropologia, de modernidade e capitalismo comparativos. Para ele, a antropologia deve se voltar para o mundo, se tornar cada vez mais acessvel a leigos (pessoas comuns), para manter uma importn- cia e um potencial liberador, j que as questes das quais trata no dizem respeito somente a quem est no mundo acadmico, mas a todos (ele afirma que seria necessria uma outra Ruth Benedict para escrever algo do tipo Patterns of Transnational Culture para o nosso tempo). E o lar, onde est? Segundo Mathews, no mundo do supermercado cultural no h mais lar particular incontestvel: ele pode ser apenas mais uma construo a partir do prprio supermercado (alm disso, na era da Internet e da conexo universal, no seria possvel deixar o lar: este seria simplesmente o ponto a partir do qual se acessa o mundo). O lar cultural fica sendo apenas um sonho enquanto isso, querendo ou no, o melhor a fazer banquetear-se no supermercado cultural global.