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OS ESTABELECIDOS E OS OUTSIDERS
Norbert Elias e John L. Scotson
Carisma grupal: virtude compartilhada por todos os membros do grupo superior, e que falta aos
outros.
Termo "nobre": duplo sentido de categoria social elevada e atitude humana altamente valorizada.
Winston Parva: moradores antigos x recentes - modelo explicativo, em pequena escala, da figuração
que se acredita ser universal.
Tabu mantido através dos meios de controle social: fofoca elogiosa (praise gossip) e fofoca
depreciativa (blame gossip).
Não havia diferenças nos padrões habitacionais, nacionalidade, ascendência étnica, "cor" ou "raça",
tipo de ocupação, renda, nível educacional. A única diferença era o tempo de residência na
comunidade.
Moradores antigos: coesão grupal, identificação coletiva, normas comuns > euforia de pertencer a um
grupo superior; desprezo pelos outros grupos.
Maior potencial de coesão > cargos importantes das organizações locais (o conselho, a escola, o
clube).
Exclusão dos recém-chegados: visava preservar a identidade e afirmar a superioridade do grupo dos
antigos.
Embora a natureza das fontes de poder possa variar muito, a figuração estabelecidos-outsiders
mostra, em contextos diferentes, características comuns e constantes.
Os estabelecidos constróem a imagem dos outsiders enquanto grupo baseando-se nas características
ruins de seus piores indivíduos (minoria anômica).
Em Winston Parva viam-se membros de um grupo estigmatizando os de outro, não por suas
qualidades individuais, pmas por pertencerem a um grupo coletivamente considerado inferior.
Um grupo só pode estigmatizar outro com eficácia quando está bem instalado em posições de poder
das quais o grupo estigmatizado é excluído.
Nas disputas de poder, o estigma social imposto costuma penetrar na auto-imagem do grupo menos
poderoso, contribuindo para enfraquecê-lo e desarmá-lo.
Com a diminuição das disparidades de força (ou do desequilíbrio de poder) os antigos outsiders
tendem à retaliação (contra-estigmatização).
Antigos residentes:
Barreira emocional: rigidez extrema dos estabelecidos contra os outsiders; perpetuação do tabu.
A legislação estatal da Índia pode abolir a posição de párias dos antigos intocáveis, mas a repulsa dos
indianos das castas superiores ao contato com eles persiste, especialmente nas zonas rurais.
Outsiders vistos como não observantes dessas normas e restrições; indignos de confiança,
indisciplinados e desordeiros.
"Medo da poluição": evitação de qualquer contato social com os outsiders (tal contato seria o
rompimento de normas, levando o "inserido" a ter seu status rebaixado).
Auto-imagem dos outsiders: por algum tempo pode entravar sua capacidade de retaliação, bem como
sua capacidade de mobilizar as fontes de poder que estejam ao seu alcance.
Termos da língua inglesa que estigmatizam: crioulo, gringo, carcamano, sapatão, papa-hóstia
(nigger, yid, wop, dike, papist): característicos do desequilíbrio de poder, uma vez que os outsiders
não dispõem de termos estigmatizantes equivalentes em relação aos estabelecidos.
Quando os termos que partem dos outsiders passam a ser insultosos, é sinal de que a relação de
forças está mudando.
"Os mal-lavados" (the great unwashed): a crença de contaminação pela anomia e pela sujeira
tornavam-se uma coisa só.
"Dê-se a um grupo uma reputação ruim e é provável que ele corresponda a essa expectativa" (Fazer
o que lhes é censurado: ato de vingança contra os censuradores. Página 30)
Crescer como membro de um grupo outsider estigmatizado pode resultar em déficits intelectuais e
afetivos específicos.
Adjetivos "racial" ou "ético": sintomáticos de um ato ideológico de evitação. Chama-se a atenção para
um aspecto periférico dessas relações, desviando os olhos do que é central (diferenças de poder e
exclusão)
O objetivo da sobrevivência física assume prioridade em relação aos demais sempre que sua obtenção
é incerta.
Burakumim: crença de que carregam no corpo um sinal físico hereditário (sinal de nascença azulado,
abaixo das axilas) > coisificação do estigma social, eximindo o grupo estigmatizador de qualquer
responsabilidade.
Cor da pele e outras características inatas e biológicas servem à mesma função objetificadora.
Construção de fantasias enaltecedoras e depreciativas: papel vital na condução das relações de poder
(o sonho americano e o sonho russo, missão civilizadora dos países europeus, terceiro reich, etc)
A opinião interna de qualquer grupo com alto grau de coesão tem profunda influência em seus
membros, como força reguladora de seus sentimentos e de sua conduta.
O membro de um grupo estabelecido pode ser indiferente ao que os outsiders pensam dele, mas
raramente é indiferente à opinião dos insiders.
Antigamente: coesão interna (sentimentos e ordens de conduta) definida por ordens clericais. Hoje:
por establishments de partidos-governos.
Freud reconheceu a capacidade humana de controlar e moldar os impulsos libidinais na vida em grupo
(ego e superego > autocontrole), mas não falou sobre o nós e o ideal do nós. Seu conceito de homem
continuou a ser o do indivíduo isolado.
A imagem do nós e o ideal do nós de uma pessoa fazem parte de sua auto-imagem tanto quanto a
imagem e o ideal do eu.
"Sou mexicano", "sou budista", "sou da classe trabalhadora", "somos de uma antiga família
escocesa": aspectos da identidade grupal de uma pessoa, não menos integrantes de sua identidade
pessoal do que outros aspectos mais "individuais"
Em alguns casos, o escudo do carisma como grupo pode ter um valor de sobrevivência. Em outros,
pode dar a dimensão errada de seu poder, levando à sua auto-destruição. (Ex. comunidade holandesa
que foi enviada em grupo para os campos de concentração. Página 43)
Certas características, tidas como usuais e até mesmo como virtudes entre os estabelecidos, são
imputadas por estes aos outsiders como motivo de censura. Exemplo: intocáveis devem tirar os
sapatos ao passar pelas ruas das castas superiores, porque usar sapatos seria um exibicionismo. Da
mesma forma, usar bigodes com as pontas viradas para cima é proibido por ser sinal de auto-
afirmação.
Como se passou a considerar a diferença na cor de pele como fator determinante para classificação
num outro grupo? Na verdade, as relações de poder e dominação que se estabeleceram passaram a
adotar as diferenças físicas como justificativa para as diferenças de poder.