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Este trabalho analisa a divisão de competências legislativas entre os entes federados brasileiros de acordo com a Constituição de 1988. Estuda como a interpretação constitucional pode solucionar conflitos entre normas dos diferentes entes. Primeiro examina o modelo federalista brasileiro e sua evolução. Depois detalha as competências legislativas privativas da União, estados, Distrito Federal e municípios. Por fim, discute métodos de interpretação para solucionar antinomias entre normas dos entes federados.
Este trabalho analisa a divisão de competências legislativas entre os entes federados brasileiros de acordo com a Constituição de 1988. Estuda como a interpretação constitucional pode solucionar conflitos entre normas dos diferentes entes. Primeiro examina o modelo federalista brasileiro e sua evolução. Depois detalha as competências legislativas privativas da União, estados, Distrito Federal e municípios. Por fim, discute métodos de interpretação para solucionar antinomias entre normas dos entes federados.
Este trabalho analisa a divisão de competências legislativas entre os entes federados brasileiros de acordo com a Constituição de 1988. Estuda como a interpretação constitucional pode solucionar conflitos entre normas dos diferentes entes. Primeiro examina o modelo federalista brasileiro e sua evolução. Depois detalha as competências legislativas privativas da União, estados, Distrito Federal e municípios. Por fim, discute métodos de interpretação para solucionar antinomias entre normas dos entes federados.
Orientadora: Profa. Dra. Anna Cndida da Cunha Ferraz
Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo So Paulo - 2011
DOUGLAS CAMARINHA GONZALES
COMPETNCIA LEGISLATIVA DOS ENTES FEDERADOS; CONFLITOS E INTERPRETAO CONSTITUCIONAL
Dissertao de Mestrado apresentada Banca Examinadora do Departamento de Direito de Estado da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, como exigncia parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Direito do Estado, sob a orientao da Professora Doutora Anna Cndida da Cunha Ferraz.
Faculdade De Direito da Universidade de So Paulo So Paulo - 2011
Resumo
Esta dissertao dedica-se ao estudo das competncias legislativas no mbito do federalismo brasileiro e interpretao constitucional que dita a soluo de possveis conflitos legislativos. O trabalho foca inicialmente o federalismo brasileiro e a diviso constitucional de competncias entre os entes federados - suas origens, caractersticas e peculiaridades. Estuda-se, dessa forma, a competncia legislativa de cada ente federado, da Unio, dos Estados, dos Municpios e do Distrito Federal. Procura-se, pois, compreender o funcionamento do sistema de repartio de competncias, suas tcnicas e princpios, para se alcanar o balanceamento necessrio para um federalismo de equilbrio almejado pelo constituinte. Fiel aos fundamentos do federalismo nacional, o estudo aborda o papel da Hermenutica Constitucional para a soluo de conflitos entre os entes federados. O trabalho busca, assim, visualizar resultados que otimizem as diretrizes constitucionais do federalismo, mediante a aplicao dos seus princpios e de mtodos que auxiliem o jurista no processo interpretativo para solucionar confrontos jurdicos entre os entes federados. O estudo parte de uma anlise sistemtica dos dogmas do federalismo em sintonia com a Teoria da Argumentao para, dessa maneira, examinar diversas querelas judiciais de conflitos legislativos e sugerir possveis solues.
The aim of this paper is to study the Legislative jurisdiction, which rules the solution of possible conflicts within its Political Entities, in the Brazilian Federalism and the Constitutional Interpretation. Initially, the foccus is on the Brazilian Federalism and the Constitutional jurisdiction in the role of the Federalism, its origin, characteristics and particularities.The Dissertation studies the Legislative jurisdiction of each Political Entity, the Union, the States, the Municipal District and Federal District. The essay looks for to comprehend the system frame of competences, its techinics and principles wich work to reach the necessary balance to a Federalism with the equilibrium desired by the Constitutions Representative. Faithfull to the basis of the National Federalism, the essay takes the Constitutional Interpretation in approach to lead and solve conflicts among the Political Entities. Therefore, the study looks for results which optimize the Federalism assertive, through principles and methods that help the interpreter in the process to solve Legislative conflicts among Political Entities in the Federalism. The study goes on through a systematic view of the dogmas of the Federalism according to Argumentation Theory to examine several legislative conflicts and propose possible solutions.
Captulo I - O Estado Federal 1.1 Origem e Caractersticas.....................................................................04 1.2 Evoluo do Federalismo e a Repartio de Competncias................09
Captulo II - A Repartio de Competncias na Constituio Federal de 1988 2.1 O Modelo de Repartio de competncias adotado pelo Brasil..........18 2.2 A Competncia Legislativa Privativa da Unio..................................20 2.3 A Competncia Legislativa Privativa Estadual...................................27 2.4 A Competncia Legislativa Privativa do Distrito Federal..................36 2.5 A Competncia Legislativa Privativa Municipal................................38 2.6 A Competncia Legislativa Concorrente 2.6.1 Aspectos Gerais.........................................................................43 2.6.2. Sistemtica e Funcionamento da Competncia Legislativa Concorrente ...........................................................46 2.7 Competncias Materiais ou Legislativas Decorrentes.........................57 2.7.1 Competncia Material da Unio................................................58 2.7.2 Competncia Material dos Estados e do Distrito Federal..........64 2.7.3 Competncia Material dos Municpios......................................70 2.7.4 Competncia Material Comum dos Entes Federados................72
Captulo III Interpretao Constitucional e Solues de Conflitos 3.1 A Neo-interpretao Jurdica Constitucional................................76 3.2 Multiplicidade de Centros Normativos.........................................94 3.3 As Antinomias e a Taxionomia na Anlise dos Conflitos............98 3.4 Limites Objetivos, um Ponto de Equilbrio..................................106 3.5 Peculiaridades Interpretativas das Normas Municipais no Federalismo.................................................................................112 3.6 Antinomias e a Competncia Concorrente...................................118 3.7 Notas sobre as Competncias Legislativas Indiretas....................128 3.8 Antinomias de Normas Estaduais versus Normas Privativas da Unio..............................................................................................139 3.9 Tratados Internacionais e a Soluo de Conflitos.........................145 3.9.1 Interpretao dos Tratados....................................................147 3.9.2 A Aplicao dos Tratados Frente aos Entes Federados........155
O presente trabalho estuda a repartio da competncia legiferante positivada pelo constituinte, decorrente do modelo de Estado encampado pela Carta Poltica de 1988, que adotou o federalismo de equilbrio. O estudo busca aclarar critrios e mtodos de interpretao constitucional para solucionar possveis antinomias jurdicas advindas da mltipla positivao de normas pelos entes federados. O trabalho inicia-se com o exame do Estado Federal e a correspondente anlise da diviso de competncias legislativas entre os entes federados, sua concepo original, suas caractersticas e sua evoluo. Aborda, assim, a trajetria do federalismo brasileiro, as peculiaridades da distribuio de competncias, a diviso de foras polticas entre os entes federados e as crticas da decorrentes. As principais caractersticas para a manuteno salutar do sistema federativo so apontadas no decorrer do trabalho para se atingir o binmio do federalismo - a unidade na diversidade baseado no equilbrio de unidade na Federao e autonomia dos entes polticos. Procura-se, assim, encontrar os fundamentos lanados pelo constituinte na repartio de competncias, sob os reclamos do federalismo de equilbrio e o redimensionamento atribudo pela nova ordem constitucional brasileira. Sob esse enfoque, analisa-se o modelo federativo nacional perfilhado pelo complexo sistema de repartio de competncias que congrega critrios de tica horizontal e vertical para a partilha das competncias, contempla hipteses de delegao de competncia da Unio aos Estados-membros e outras formas de cooperao administrativa. O estudo ento se foca na competncia legislativa privativa dos entes federados, inicialmente da Unio frente ao seu papel institucional de coeso nacional sobre assuntos que demandam interesse nacional. Em seguida, parte-se para a anlise da competncia legislativa dos Estados-membros na busca da competncia legislativa remanescente no concerto da federao e das diretrizes condicionantes da Constituio Federal na formatao da autonomia dos entes federados. Traam-se, ainda, os pontos essenciais sobre as competncias legislativas do Distrito Federal. Por sua vez, o estudo volta-se competncia legislativa municipal, sob a perquirio do interesse municipal para balizar a legitimidade da lei municipal no concerto com as demais.
2 Em item especfico, procura-se compreender o funcionamento do sistema de repartio vertical de competncias, principal inovao da ordem constitucional vigente, tida como alternativa criativa para se alcanar o balanceamento necessrio para um federalismo de equilbrio e a co-responsabilidade dos entes federativos nas diferentes searas que atuam conjuntamente. O estudo foca a prerrogativa da Unio de editar normas gerais e a dos Estados- membros de elaborar normas especficas, a elas complementares; a definio de seus limites e de seus alcances, conforme a leitura do Supremo Tribunal Federal das regras do artigo 24, 1. e 2., da Constituio Federal de 1988 - para a anlise das conseqncias polticas Federao. Aborda-se ainda a competncia material dos entes federados, da qual emana a competncia legislativa decorrente para o exerccio funcional de tais atribuies. Parte-se, assim, para uma viso dessas implicaes materiais e legislativas prprias da Unio, dos Estados e dos Municpios, e se traa possveis conflitos da decorrentes. A discusso enriquecida com as implicaes legislativas do sistema de cooperao entre os entes federados no regime da regio metropolitana e a execuo de funes pblicas de interesse comum. J a segunda parte do trabalho dedica-se temtica da interpretao jurdico- constitucional das competncias legislativas a partir da leitura dos mtodos da neo- hermenutica constitucional, baseada no contexto ftico, valorativo e principiolgico que o intrprete depara na anlise das possveis antinomias que os multicentros normativos podem originar. So traadas as abordagens que melhor amparam a diviso constitucional de competncia, de modo a resguardar a efetiva distribuio de poderes e prerrogativas dos entes federados, na busca de um resultado que otimize as diretrizes constitucionais apresentadas nos captulos anteriores para solucionar possveis conflitos. Fiel s origens do federalismo e sua interpretao constitucional, sugere-se solues hermenuticas e principiolgicas para soluo de conflitos; as crticas aos preceitos normativos que geram insegurana normativa e a conseqente repercusso poltica na conjugao dessas foras.
3 O trabalho procurar trazer exemplos marcantes colhidos da jurisprudncia nacional e do Direito Comparado, como forma de ilustrar possveis conflitos de leis entre os entes federados, seja entre lei federais versus estaduais ou sua recproca e a interao das municipais sobre o mesmo assunto. A interpretao constitucional para as solues dos conflitos tratada de modo especfico para ampliar ao intrprete viso sensata para desvendar a aplicao das normas frente aos conflitos, segundo os dogmas do prprio federalismo. Por fim, as interaes dos Tratados Internacionais no ordenamento jurdico brasileiro so analisadas frente s competncias legislativas, seus limites e confrontos. Examina-se assim a natureza jurdica dos tratados em que a Repblica Federativa do Brasil signatria, seus desdobramentos no encaixe das normas positivadas pelos demais entes federados e o posicionamento do Supremo Tribunal Federal no controle abstrato de constitucionalidade dos Tratados.
159 CONCLUSES
Ao longo do exame do federalismo no Brasil, consagrado pela Constituio de 1988, possvel extrair, quanto ao tema objeto da dissertao, algumas concluses que no esgotam, convm que se registre, toda a problemtica examinada no texto. O federalismo fenmeno histrico, poltico e jurdico de diviso de competncias legislativas e administrativas entre os entes polticos do Estado. A Constituio de 1988 firma a forma de Estado, baseada na descentralizao jurdica e poltica do poder no mbito territorial desse Estado, ao conferir autonomia aos entes polticos e soberania ao Estado Federal. O federalismo brasileiro, na Constituio da Repblica Federativa de 1988, se apresenta como um federalismo de equilbrio, no qual as competncias dos entes federados Unio, Estados, Municpios e Distrito Federal - esto conjugadas de modo complexo, mediante o critrio vertical e horizontal de repartio de competncias Estado Federal a Repblica Federativa do Brasil que representa o todo, dotado de personalidade jurdica de Direito Pblico Internacional. J os demais so dotados de autonomia e personalidade jurdica de Direito Interno. O federalismo faz da Unio uma figura de duas faces, que tanto age em nome prprio como em nome da Federao ao expressar sua voz. O objetivo do federalismo a consecuo e harmnica manuteno da unidade e diversidade entre as partes federadas, alcanadas pela efetiva distribuio de competncias legislativas e de rendas entres os entes federados no corpo da prpria Constituio Federal, o que enseja autonomia aos entes federados a capacidade de auto-organizao pela sua prpria legislao e administrao, sem subordinao imediata aos demais entes federados. A CF/88 arrolou expressamente as atribuies materiais da Unio (art. 21) e suas competncias legislativas privativas (art. 22). Aos Estados-membros, o constituinte utilizou a tcnica da competncia remanescente no enumerada (art. 25, 1). J os Municpios receberam poderes estabelecidos indicativamente, quando presente o interesse local, tanto para legislar como administrar, bem como suplementar a legislao federal e estadual no que couber (art. 30).
160 Inovou o constituinte ao positivar a competncia concorrente entre a Unio, os Estados e o DF, a chamada diviso vertical de competncias legislativas (art. 24) e as competncias administrativas comuns (art. 23). A competncia legislativa privativa da Unio (art. 22) congrega a chamada repartio horizontal de competncia, pois cabe to somente ao ente federado legislar sobre a matria ento arrolada. Aos Estados-membros, o constituinte deferiu a autonomia legislativa condicionada to somente pelos princpios estruturantes da Constituio Federal de 1988 entre esses, a forma republicana, o sistema representativo, o regime democrtico, a temporariedade das funes eletivas, a separao de Poderes, a autonomia municipal, a prestao de constas da administrao pblica direta e indireta e as regras de pr-ordenao institucional. Deve, pois, o legislador estadual observar esse amlgama organizacional mnimo Federao. A competncia dos Estados ampla, pois, em tese, tem legitimidade para atuar em todas as searas no enumeradas Unio e aos Municpios. O Distrito Federal tambm ente federado e congrega as competncias prprias dos Estados-membros e as Municipais. Contudo, a Unio reservou para si a tutela e a legislao sobre organizao judiciria do Ministrio Pblico, da Defensoria Pblica, da polcia civil e militar, bem como do corpo de bombeiros. O Municpio tido como ente federado pela CF/88. Tem, portanto, autonomia para se auto-organizar mediante legislao prpria, a Lei Orgnica do Municpio, e autoadministrar- se. Dever tambm observar as condicionantes fundamentais federais e estaduais. Outra inovao constitucional positivada pela CF/88 a competncia concorrente, onde mais de um ente poltico atua de modo conjunto - tanto na competncia administrativa (art. 23 da CF), como na seara legislativa (art. 24 da CF). Por meio da competncia concorrente, a Unio estabelece as normas gerais sobre o assunto, ao passo que os Estados legislam em carter complementar. Normas gerais so regramentos de interesse comum aos entes federados; devem tomar a forma de lei quadro, apto a ser pormenorizado por normas estaduais. O art. 24, 3, por sua vez, contempla a competncia estadual legislativa plena, no caso de inexistncia de lei federal sobre o tema; ao passo que o 4 dispe que a supervenincia de lei federal que discipline normas gerais suspende a eficcia da lei estadual, no que lhe for contrria. Congregam-se, pois, foras de
161 duas ordens: a de centralizao de um lado (normas gerais) e a de descentralizao doutro (provinda dos Estados, atravs de normas particulares aos seus interesses). Das competncias materiais (art. 21, 23) advm as chamadas competncias legislativas imprprias ou decorrentes, as quais surgem por via transversa, isto , emanam da competncia administrativa, da necessidade de regular os interesses que lhe so deferidos constitucionalmente. Tm lugar ante a necessidade de se dar alicerce legislativo para o exerccio da competncia material. Para a Unio, a atividade administrativa volta-se para definir linhas de desenvolvimento nacional, com ntida importncia ao papel de planejamento e coordenao de polticas pblicas. Aos Estados cabem as tarefas remanescentes, cumulada com a explorao de servio local de gs canalizado, e aos Municpios as atribuies que congregam interesse local. Quanto s competncias comuns, leis complementares provindas da Unio (para cada assunto de interesse) fixaro normas de cooperao entre os entes federados, onde caber Unio apontar as diretrizes da poltica pblica e aos demais entes a definio de suas peculiaridades tpica mecanismo do federalismo cooperativo. Regies metropolitanas, aglomeraes urbanas e microregies so criadas por lei complementar estadual; j o planejamento e a execuo de funes de interesse comum devero ser realizadas pela entidade criada. A CF/88 firmou a passagem de uma forma extrema de federalismo centralizado, construda sob o regime autoritrio, para uma forma de federalismo cooperativo ou de equilbrio. O nosso federalismo tem trabalhado com a centralizao e descentralizao concomitantemente (e no de forma excludente) cujo processo ainda est em fase de amadurecimento. Assim, o federalismo brasileiro continua a desenvolver-se como fenmeno poltico-jurdico vivo em franca evoluo, cuja proliferao das competncias legislativas e respectiva interpretao dos operadores do Direito e da prpria Justia ditar os rumos do nosso federalismo no futuro. O estudo da Hermenutica Constitucional fundamental para visualizar os resultados que otimizem as diretrizes constitucionais do federalismo, aplicveis s competncias legislativas para a soluo de conflitos legislativos entre os entes federados. A evoluo da dogmtica jurdica tomou conscincia de que a interpretao jurdica vai alm da norma, congrega o contexto social, os fins dirigidos pela norma e os princpios
162 que fundamentam o sistema. A aplicao do Direito requer a compreenso da dinmica relao desses fatores, pois a aplicao justamente o final do processo interpretativo. Assim, tem-se como ntida a distino entre o texto normativo (o dispositivo ou enunciado) e o seu contedo (a norma jurdica que se aflora), sendo aquele objeto da interpretao e esse o resultado. A soluo de conflitos legislativos situa-se em regra no plano da aplicao. A ponderao tem papel de grande importncia na anlise dos conflitos, seja entre princpios ou valores e at mesmo na interpretao de regras. Seu propsito solucionar conflitos normativos de modo mais sensato realidade e aos valores envolvidos, de forma que no se despreze qualquer das regras em confronto, mas se adote postura que privilegie o valor de maior magnitude constitucional luz das circunstncias do caso e, assim, privilegiar a tcnica argumentativa e crtica prpria do Direito, como fenmeno scio-poltico e normativo. A natureza do federalismo requer a multiplicidade de centros normativos, o que enseja a interseco de normas. Caber ao intrprete conciliar os conflitos normativos, segundo as diretrizes da Carta Constitucional e uma viso macro do ordenamento jurdico. O dever de coerncia est muito mais para o juiz do que para o legislador, tanto porque esse trabalha com a criao do Direito e aquele com a sua aplicao, ao passo que a soluo do conflito situa-se no plano da aplicao do Direito. Em eventual choque de legislaes de entes federados, a regra a permanncia de ambas as normas, pois o federalismo concebe por essncia a convivncia de ambas tratando-se de antinomias aparentes. A leitura para a soluo de conflitos legislativos entre entes federados deve sempre partir do foco constitucional. Diante dos critrios clssicos para a soluo de antinomias, o critrio da especialidade prevalece, pois se harmoniza com o critrio da preponderncia do interesse jurdico tutelado pela legislao frente ao feixe de competncias constitucionais. A dogmtica jurdica clama pela complementariedade dos mtodos interpretativos para melhor amparar o intrprete na soluo dos conflitos. Para a soluo de conflitos legislativos entre entes federados, deve-se destacar as seguintes tcnicas de interpretao constitucional: a interpretao conforme a constituio; o princpio da proporcionalidade, que interage com o princpio da concordncia prtica ou da harmonizao; e, por fim, o princpio da correo funcional.
163 O principal parmetro para os limites da interpretao consiste na exigncia de que toda e qualquer interpretao constitucional seja compatvel com a amplitude de sentidos projetada pelo texto do enunciado em cotejo ao programa normativo (e no valorativo) do sistema. Diante de conflitos legislativos entre diferentes entes federados, o intrprete dever analisar a legislao a partir de: i) o objeto jurdico que a legislao em exame est a tutelar; ii) a finalidade dessa legislao frente especificidade de seus regramentos. E da conectar a legislao em exame s clusulas de competncia dos entes federados, segundo a seguinte orientao: a) as normas municipais s sero vlidas quando interajam com leis federais ou estaduais, se legtimo o interesse municipal e a matria regrada seja suscetvel de suplementao municipal (art. 30, II); b) no mbito das competncias concorrentes, as normas nacionais provindas da Unio se sobrepem s demais, desde que no interfiram no carter acidental e particular das normas estaduais pois aquelas devem ser normas gerais (art. 24, 1). H de se respeitar a margem de espao prprio dos Estados-membros para que possam regulamentar interesses que lhe so peculiares, sob o amlgama prprio do federalismo, a preservao da diversidade na unidade. Uma vez particularizadas as normas prprias da Unio no mbito da competncia concorrente, essas s valero para a prpria Unio, especialmente para questes tributrias, financeiras e administrativas. No tida como norma particular a norma que admita ou proba determinada conduta; c) em sede de competncia administrativa comum, todos os entes federados tm competncia para firmar regulamentao normativa, ao passo que leis complementares fixaro o regime de cooperao entre os entes federados. Caber, pois, ao ente central coordenar tais atividades; d) a averiguao da competncia legislativa estadual deve ser efetivada luz das disposies constitucionais que firmam o feixe de competncia de cada ente federado em sintonia com o princpio da conformidade funcional. e) os Tratados Internacionais repercutem sobre os conflitos legislativos entre os entes federados. Pois, sob o prisma internacional, a Repblica Federativa do Brasil representa todas as pessoas polticas internas. Tal constatao tem expressiva importncia para a soluo de
164 conflitos entre os demais entes federados, pois podero surgir dos Tratados Internacionais, obrigaes gerais s quais os demais entes federados devero cumprir, eis que vinculados em nome da Federao. Os tratados internacionais no revogam a legislao interna; apenas prevalecem. Esta continua vlida, mas tem sua aplicao contida pelo tratado internacional, em um processo de autolimitao desenvolvido pelo prprio Estado soberano, tendo em vista o acordado com outro Estado.
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