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O documento discute a teoria da sociologia do conhecimento de Karl Mannheim como um referencial para entender a pluralidade de interpretações dos conceitos de educação física, esporte e lazer ao longo da história. Mannheim propõe analisar o pensamento dentro de seu contexto histórico-social e de grupos, reconhecendo que as classes sociais influenciam a produção e disseminação de ideias. O texto apresenta os principais pontos da teoria de Mannheim e discute sua aplicabilidade para estudar a evolução conceitual dessas áreas.
Descriere originală:
Titlu original
Educação Física, Esporte e Lazer à Luz Dasociologia
O documento discute a teoria da sociologia do conhecimento de Karl Mannheim como um referencial para entender a pluralidade de interpretações dos conceitos de educação física, esporte e lazer ao longo da história. Mannheim propõe analisar o pensamento dentro de seu contexto histórico-social e de grupos, reconhecendo que as classes sociais influenciam a produção e disseminação de ideias. O texto apresenta os principais pontos da teoria de Mannheim e discute sua aplicabilidade para estudar a evolução conceitual dessas áreas.
O documento discute a teoria da sociologia do conhecimento de Karl Mannheim como um referencial para entender a pluralidade de interpretações dos conceitos de educação física, esporte e lazer ao longo da história. Mannheim propõe analisar o pensamento dentro de seu contexto histórico-social e de grupos, reconhecendo que as classes sociais influenciam a produção e disseminação de ideias. O texto apresenta os principais pontos da teoria de Mannheim e discute sua aplicabilidade para estudar a evolução conceitual dessas áreas.
CONEXES: revista da faculdade de Educao Fsica da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 21-32, dez. 1999.
ISSN: 1983-930
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EDUCAO FSICA, ESPORTE E LAZER LUZ DASOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO DE MANNHEIM
Dagmar Hunger
Resumo o presente texto apresenta a sociologia do conhecimento de mannheim como um possvel referencial terico para se compreender o processo histrico da pluralidade de interpretaes dos conceitos de educao, educao fsica, esporte e lazer.
PHYSICAL EDUCATION, SPORT AND LEISURE TO THE LIGHT OF SOCIOLOGY OF THE KNOWLEDGE DE MANNHEIM
Abstract the current text shows mannheim's knowledge sociology as a possible theoretical reference to understend the histirical process of plurality interpretations of conceptions about education, physical education, sports and leisure.
ARTIGO CONEXES: revista da faculdade de Educao Fsica da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 21-32, dez. 1999. ISSN: 1983-930
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INTRODUO A importncia de se estudar a pluralidade de interpretaes de um determinado conceito social luz de um referencial terico significa, especialmente para esse texto, intelectuais imbudos do esprito do historiador e do socilogo, que no se descuidam da memria da educao, educao fsica, esporte e lazer, ou melhor, das relaes que a humanidade vem processando historicamente entre sua vida corporal e seu tempo social.
no obstante existirem crticas teoria sociolgica de mannheim, 1 especificamente no que se refere aos conceitos de ideologia e utopia, apresentar-se- seu mtodo sociolgico: a sociologia do conhecimento. 2
acredita-se que no deva ser descartado como uma perspectiva de referencial terico para aqueles pesquisadores que desejem impor, como desafio, a discusso e compreenso do processo histrico conceitual dos termos: educao, educao fsica, esporte e lazer.
nesse sentido, primeiro apresenta-se uma sntese sobre a teoria da sociologia do conhecimento segundo mannheim, fundamentando-se na leitura de seu livro ideologia e utopia introduo sociologia do conhecimento. posteriormente, sob a inspirao de seu mtodo sociolgico, formula-se as primeiras reflexes sobre a possibilidade de se ter na sua teoria um referencial terico para pesquisadores interessados em estudar as pluralidades de interpretaes dentre as concepes de educao, educao fsica, esporte e lazer. pois,
uma teoria d ao homem que se encontra no sop da montanha, a viso que um passro tem dos caminhos e relaes que esse homem no consegue ver por si prprio. a descoberta de relaes previamente desconhecidas constitui uma tarefa central da investigao cientfica. tal como os mapas, os modelos tericos mostram as conexes entre acontecimentos que j conhecemos. como os mapas de regies desconhecidas, mostram espaos em brancos onde ainda no se conhecem as relaes. como os mapas, a sua falsidade pode ser demonstrada por uma investigao ulterior, podendo ser corrigidos. talvez se deva acrescentar que, constratando com os mapas, os modelos sociolgicos devem se visualizados no tempo e no espao, como modelos em quatro dimenses. 3
MANNHEIM E CONCEITO SOCIOLGICO DO PENSAMENTO NUMA PERSPECTIVA HISTRICA Karl Mannheim foi um pensador hngaro, de cultura alem, influenciado pelo marxista georg lukcs 4
(autor do livro histria e conscincia de classe - 1922), discpulo de droysen 5 e simmel. 6
1 Ler LWY, M. Ideologias e cincia social; e EAGLETON, T. Ideologia: uma introduo. 2 MANNHEIM, K. Ideologia e utopia. 3 ELIAS, N. Introduo Sociologia, p. 175. 4 Nessa sua obra, fundamentando-se no marxismo, busca superar os dilemas que o historicismo estava enfretando com relao a ausncia das classes sociais na histria do conhecimento. 5 Historiador, sendo um dos primeiros que aborda a perspectiva relativista e escreveu um texto em 1873 que muito contribuiu para o historicismo. Entretanto, em seu historicismo relativista clssico, o problema das classes sociais est ausente. 6 Socilogo alemo, que no incio do sculo XX, avana na crtica ao positivismo, defendendo que a cincia da histria um produto social humano imbudo ARTIGO CONEXES: revista da faculdade de Educao Fsica da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 21-32, dez. 1999. ISSN: 1983-930
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eram amigos e durante a revoluo hngara de 1919, quando lkacs foi ministro da cultura, nomeou mannheim que na poca era catedrtico de filosofia da universidade. tal nomeao durou apenas trs meses, pois quando a contra-revoluo triunfou, eles tiveram que fugir. lukcs foi para viena e mannheim para alemanha. assim, tomaram rumos diferentes e se distanciaram. entretanto, mannheim veio a ser aluno, tambm, de simmel e foi bastante influenciado pelos seus estudos.
Foi responsvel pela introduo da sociologia do conhecimento como disciplina cientfica e representante do historicismo, que uma das correntes mais importantes na teoria do conhecimento social. a ltima forma do historicismo a sociologia do conhecimento.
Seu estudo apresenta determinado avano quando comparado ao historicismo relativista, encontrado de certa maneira em simmel, que at ento falava em perodos histricos, em culturas nacionais e religiosas. o conceito de classe no era mencionado, porque para o idealismo alemo historicista, no era uma denominao importante. a importncia era centrada na cultura, na religio, na nacionalidade e na ptria. mannheim introduz o materialismo histrico do marxismo e, afirma que o conhecimento no s historicamente relativo, mas tambm socialmente relativo, em relao a certas condies do ser social, particularmente, das classes sociais.
Em ideologia e utopia discute o conceito sociolgico do pensamento numa perspectiva histrica. a proposta de seu estudo era elaborar um mtodo sociolgico para compreender o problema de como os homens pensam, no seu funcionamento efetivo na vida pblica e na poltica, como resultado da ao coletiva. tinha como objetivo apresentar um mtodo adequado descrio e anlise desse tipo de pensamento e de suas mudanas para formular os problemas correlatos e abrir caminho compreenso crtica do fenmeno.
Esse mtodo o da sociologia do conhecimento defendia a tese que os modos de pensamento no seriam adequadamente compreendidos enquanto permanecessem obscuras as suas origens histricas e sociais, sendo assim, a principais caractersticas so:
1. procurar compreender o pensamento dentro de uma situao histrico-social concreta, de que o pensamento individualmente diferenciado emerge gradualmente. pois os homens pensam dentro
de valores e, portanto, historicamente relativa. Entretanto, acaba por tomar o caminho do ecletismo, ao argumentar que juntando-se cada teoria e os aspectos parciais e unilaterais, chega-se verdade objetiva. ARTIGO CONEXES: revista da faculdade de Educao Fsica da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 21-32, dez. 1999. ISSN: 1983-930
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de certos grupos que elaboraram um estilo peculiar de pensamento devido a uma srie interminvel de reaes a certas situaes tpicas, caractersticas de sua posio. e, como o indivduo encontra-se numa situao herdada, com padres de pensamento a ela apropriados, assim, procura aperfeioar mais ainda os modos de reao herdados, ou substitu-los por outros, para enfrentar adequadamente as novas dificuldades provenientes das variaes e mudanas da situao; e
2. Evitar separar os modos de pensamento concretamente existentes do contexto da ao coletiva atravs da qual, pela primeira vez, descobre-se intelectualmente o mundo. argumenta que os componentes de um grupo cooperam e competem em grupos diversamente organizados e, assim fazendo, oram pensam em comum, ora antagonicamente. os indivduos reunidos em grupo foram, segundo o carter e a posio dos grupos a que pertencem, por modificar o mundo circundante da natureza e da sociedade ou procuram perpetu-lo em uma dada condio. a direo desse desejo de mudar ou de conservar, dessa atividade coletiva, em suma, que fornece o fio orientador ligado ao aparecimento de seus problemas, seus conceitos e seus modos de pensamentoe, na construo desses diversos modos de pensamento, a competio que influencia na emergncia de novos conhecimentos e os sentidos em que estes se desenvolvem. alm de controlar a atividade econmica atravs do mecanismo do mercado, de dirigir o curso dos acontecimentos polticos e sociais, tambm, fornece o impulso motor de diversas interpretaes do mundo que, quando so descobertas as suas origens sociais, muitas vezes revelam-se como expresses intelectuais de grupos em luta pelo poder.
Mannheim objetivou, tambm, a elaborao de um mtodo que permitisse observar a estrutura social no seu todo, isto , a trama das foras sociais em interao de que se originaram os vrios modos de pensar as realidades existentes em diversas pocas, portanto, o estudo da histria intelectual deveria ser empreendido na seqncia e coexistncia dos fenmenos, mais do que em cima de simples relaes acidentais. assim, seria descoberto na totalidade do processo histrico, o papel, o sentido e o significado. enfim, somente dessa maneira acreditava ser possvel diagnosticar a cultura de uma poca, identifica a sociologia do conhecimento, como uma teoria que analisa as relaes entre conhecimento e existncia e, como pesquisa histrico-sociolgica, busca a origem das formas que essas relaes tm assumido no desenvolvimento intelectual da humanidade. o objetivo bsico da pesquisa determinar os vrios pontos de vista que surgem gradualmente na histria do pensamento e que esto em constante transformao. ARTIGO CONEXES: revista da faculdade de Educao Fsica da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 21-32, dez. 1999. ISSN: 1983-930
25 pois,
(...) o fato mesmo de que cada acontecimento, cada elemento de significado na histria se associa a uma posio temporal, espacial e situacional, e, pois, de que acontece uma vez no pode acontecer sempre, o fato de os acontecimentos e significados da histria no serem reversveis em suma, a circunstncia de jamais encontrarmos na histria situaes absolutas indicam que a histria s muda e insignificante para aqueles que nada esperam aprender dela e que no seu caso mais que no de qualquer outra disciplina, a atitude que considera a histria simples histria como a dos msticos, est fadada a esterilidade. 7
O mtodo, como teoria, pode ainda assumir duas formas. em primeiro lugar, uma investigao puramente emprica, mediante a descrio e a anlise estrutural, das maneiras pelas quais as relaes sociais influenciam, na realidade, o pensamento. pode passar, em segundo lugar, para uma indagao epistemolgica, sobre a significao dessas relaes para o problema da validade. considera que importante notar que esses dois tipos de anlise no esto necessariamente ligados entre si e que pode-se aceitar os resultados empricos sem ser levado s concluses epistemolgicas.
Justifica que novas formas de conhecimento sempre surgem das condies de vida coletiva e o seu aparecimento no depende da demonstrao prvia de sua possibilidade por uma teoria do conhecimento; no necessitam ser legitimadas de antemo por uma epistemologia. a relao inversa que se verifica, ou seja, a teoria nasce da preocupao com os dados empricos.
Em sntese, mannheim sempre chama a ateno para afirmar que seu estudo consiste em observar de que modo a vida intelectual em um determinado momento histrico est relacionado com as foras sociais existentes. ou seja, a sociologia do conhecimento procura obter uma compreenso sistemtica das relaes entre a existncia social e o pensamento. pois, para o autor, a vida inteira de um grupo histrico- social apresenta-se como uma configurao interdependente, em que o pensamento a expresso social e a interao desses dois aspectos (vida social e produo intelectual) o elemento essencial da configurao, cujas conxes ntimas devem ser traadas minuciosamente para que o contexto possa ser compreendido.
Assim, uma das conquistas fundamentais da prpria sociologia do conhecimento, de acordo com o autor, foi nada mais do que ter constatado que o processo pelo qual os motivos coletivos inconscientes se tornam conscientes no pode operar em qualquer poca, mas s em uma situao muito especial, sociologicamente determinvel. tais problemas s podem se tornar gerais em pocas em que o desacordo mais pronunciado. ou ainda, a multiplicidade de modos de pensar no pode vir a constituir um problema
7 MANNHEIM, K. op. cit., p. 86. ARTIGO CONEXES: revista da faculdade de Educao Fsica da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 21-32, dez. 1999. ISSN: 1983-930
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em determinadas pocas em que a estabilidade social sustenta e garante a unidade interna de uma concepo de mundo.
a mudana decisiva s ocorrer quando for alcanado um estgio de desenvolvimento histrico em que as camadas previamente isoladas comearem a se comunicar entre si, estabelecendo uma certa circulao social. sendo que, a fase mais significativa dessa comunicao ser alcanada quando as formas de pensamento e experincia, at ento desenvolvidas independente-mente, penetrarem numa mesma conscincia, levando o esprito a descobrir a incompatibilidade das concepes antagnicas do mundo.
e o que permitir tal mudana o processo de democratizao. pois, este possibilitar as maneiras de pensar das camadas inferiores, at ento desprovidas de validade pblica, adquirir prestgio. uma vez alcanada esta fase, as tcnicas de pensamento e as idias das camadas inferiores vem-se, pela primeira vez, em situao de acompanhar as idias das camadas dominantes no mesmo nvel de validade.
Ao criticar os mtodos epistemolgico e psicolgico argumenta que para o mtodo sociolgico, nada se ope a que se investigue e descreva o significado de uma grande personalidade no processo social.
A distino reside no fato de que o ponto de vista individualista, em muitos casos, no logra perceber o significado das vrias formas da vida social para o desenvolvimento das faculdades do indivduo; sendo que o ponto de vista sociolgico trata, desde o princpio, de interpretar a atividade individual, em todas as esferas, dentro do contexto da experincia de grupo.
Certamente, um grupo de 2 mil pessoas no percebe 2 mil vezes a mesma coisa. ser de acordo com a articulao ntima da vida grupal e segundo suas funes e interesses, que aparecero subgrupos que agem e pensam coletivamente ora em concurso, ora em oposio. o que significa dizer que s quando so encarados por esse ngulo possvel obter uma compreenso de como, numa mesma sociedade fechada, podem aparecer diversos significados, em conseqncia das origens sociais divergentes dos diferentes membros da sociedade em questo.
Compreendendo que o pensamento humano no motivado por um impulso contemplativo e que conhecimento fundamentalemnte conhecimento coletivo; critica a deformao insconsciente cometida pela epistemologia clssica que caracterizava a gnese do processo cognitivo, como se o conhecimento surgisse de um ato puramente terico de contemplao. mannheim enfatiza que: ARTIGO CONEXES: revista da faculdade de Educao Fsica da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 21-32, dez. 1999. ISSN: 1983-930
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(...) pertencemos a um grupo, no apenas porque nascemos nele, nem porque professamos pertencer a ele, nem finalmente porque lhe oferecemos nossa lealdade e lhe prestamos nosso preito de fidelidade, mas primeiramente porque vemos o mundo e certas coisas do mundo da mesma maneira pela qual eles os v (isso , em funo das significaes do grupo em apreo) cada conceito, cada significado concreto resultante das experincias de um determinado grupo. em qualquer definio todo contedo substancial, toda avaliao no mais suscetvel de merecer um consenso sofre uma reinterpretao em termos funcionais. 8
Portanto, esta nova teoria do conhecimento seria uma tentativa para levar em conta as razes do conhecimento na textura social. pois, atua nela uma nova espcie de orientao de vida, que procura atalhar a alienao e a desorganizao decorrentes do exagero da atitude individualista e mecanicista dos mtodos epistemolgico e psicolgico.
O que significa dizer, tambm, que a estrutura ntima da mentalidade de um grupo ser melhor compreendida quando se procurar entender suas concepes de tempo luz de suas esperanas, aspiraes e propsitos. com base nesses propsitos e esperanas, uma determinada mentalidade no s ordena os acontecimentos vindouros, mas especialmente o passado.
Assim, a concepo da unidade e interdependncia de significados, em determinado perodo, se encontra sempre na base da interpretao desse perodo. em segundo lugar, esse sistema interdependente de significados varia, tanto em suas parcelas quanto em sua totalidade, com o perodo em que se encontra. para tanto, a reinterpretao dessa transformao contnua e coerente de significados torna-se a preocupao principal das modernas cincias histricas.
Mannheim quer atentar para o problema, que tanto para as pocas passadas como na atualidade pode ser formulado assim: em que condies pode-se dizer que o campo da experincia de um grupo se alterou to fundamentalmente que se torna bvia uma discrepncia entre o modo de pensamento tradicional e os novos objetos de experincia, a serem compreendidos por esse modo de pensamento? a resposta que nesses perodos passados, foi a mudana verificada nas experincias sociais que acarretou a eliminao de certas atitudes e esquemas de interpretao, no congruentes com certas novas experincias fundamentais.
O que ocorre explica que surgem modelos de pensamento divergentes e antagnicos que (desconhecidos para o sujeito pensante) ordenam os mesmos fatos de experincia em diferentes sistemas de pensamento e fazem com que sejam percebidos sob diferentes categorias lgicas. isso resulta na
8 Idem, pp. 20-1. ARTIGO CONEXES: revista da faculdade de Educao Fsica da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 21-32, dez. 1999. ISSN: 1983-930
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perspectiva peculiar que os nossos conceitos nos impem e que fazem com que o mesmo objetivo aparea diferentemente, segundo o grupo de conceitos com os quais os vemos. em conseqncia, o nosso conhecimento da realidade se tornar mais completo medida que se for assimilando essas perspectivas divergentes. o que a princpio parecia apenas uma margem inintelegvel, incapaz de ser includa num dado conceito, d hoje origem a um conceito suplementar, se no oposto, com o qual se pode obter um conhecimento mais amplo do objeto.
A sociologia do conhecimento, por outro lado, tornar para si exatamente o problema dessa estrutura mental na sua totalidade, tal como se manifesta nas diversas correntes de pensamento e grupos histrico- sociais. essa teoria no critica o pensamento no prprio plano das afirmaes, que podem envolver embustes e disfarces, mas examina-o no nvel estrutural ou noolgico, que considera como no sendo necessariamente igual para todos os homens, mas antes como permitindo que o mesmo objeto assuma diferentes formas e aspectos no curso do desenvolvimento social.
Para Mannheim o que mais importante o fato de que uma vez apreendido pelo indivduo o mtodo de se orientar no mundo, ele inevitavelmente arrastado alm do exguo horizonte de sua cidade e aprende a se compreender como parte de uma situao nacional e, mais tarde, de uma situao mundial. do mesmo modo ser capaz de compreender a posio da ppria gerao, a sua situao imediata dentro da poca em que vive, e esse perodo, por sua vez, como parte do processo histrico.
O MTODO SOCIOLGICO E A PLURALIDADE DE INTERPRETAES DOS CONCEITOS DE EDUCAO, EDUCAO FSICA, ESPORTE E LAZER
O conceito bsico do mtodo sociolgico de mannheim compreender o pensamento dos homens, como resultante da ao coletiva de seu cotidiano na vida pblica e poltica.
Partindo desse princpio, estudar a pluralidade de interpretaes dos conceitos de educao, educao fsica, esporte e lazer, significar buscar a compreenso de como grupos sociais em diferentes perodos histricos ou no: mdicos, militares, pedagogos, professores universitrios, do ensino infantil, mdio e funadamental, polticos, empresrios, tcnicos, atletas, crianas, mulheres, sendentrios, operrios etc., vm pensando e interagindo no processo histrico de seu tempo corporal. analisar tal processo histrico- social do pensamento, significar evidenciar as suas origens culturais, para que se possa compreender adequadamente o tempo presente e, assim, perspectivar mudanas. as questes bsicas devem ser: ARTIGO CONEXES: revista da faculdade de Educao Fsica da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 21-32, dez. 1999. ISSN: 1983-930
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1. at que ponto e por qu esto procurando aperfeioar ou no os modos de pensamento herdados ou substitu-los por outros? 2. como tais grupos diversamente organizados vm cooperando ou competindo, pensando em comum ou antagonicamente, forando assim para modificar o mundo circundante do que educao, educao fsica, esporte e lazer ou procurando perpetu-lo em uma dada condio? 3. estar implcito na construo dos modos de pensamento sobre tais conceitos, uma competio que apenas fornece o impulso motor das interpretaes, revelando-se somente como expresses de grupos em luta por um determinado poder social?
O mtodo sociolgico de mannheim orienta a observar e interpretar a trama das foras sociais em interao, de que se originaram os vrios modos de pensar as realidades existentes. portanto, trata-se de uma pesquisa histrico - sociolgica que busca a origem e a constatao dos pontos de vista intelectuais que vm surgindo gradualmente na histria do pensamento do que educao, educao fsica, esporte e lazer.
O objetivo da sociologia do conhecimento obter uma compreenso sistemtica das relaes entre a existncia social e o pensamento, considerando-se que a vida inteira de um grupo histrico-social apresenta-se como uma configurao interdependente, cujas conexes ntimas devem ser averiguadas minuciosamente para que esta possa ser compreendida devidamente.
Como j foi explicitado acima, uma das conquistas fundamentais dessa teoria, foi ter constatado que o processo pelo qual os motivos coletivos inconscientes se tornam conscientes s operam numa situao determinvel sociologicamente. problemas sociais s se tornam gerais em pocas em que o desacordo mais pronunciado. ou melhor, novos modos de pensar no se constituem em determinadas pocas em que a estabilidade social sustenta e garante a unidade interna de uma concepo de mundo. pois, em qualquer definio todo contedo substancial e toda avaliao no mais suscetvel de merecer um consenso que provocar uma reinterpretao em termos funcionais.
Partindo-se de tal constatao, questiona-se: como se encontra o pensar sobre a educao, a educao fsica, o esporte e o lazer na sociedade brasileira? acredita-se que a investigao dessa indagao possibilitar a princpio avaliar como se apresenta o estado atual da educao escolar, das polticas pblicas em lazer e esporte, dos espaos fsicos para a prtica da atividade fsica, da atuao profissional ARTIGO CONEXES: revista da faculdade de Educao Fsica da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 21-32, dez. 1999. ISSN: 1983-930
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do tcnico esportivo, do agente cultural, do educador fsico etc.
Diante do exposto, finaliza-se acreditando nas perspectivas que o pensador-pesquisador constri, segundo mannheim. ou seja, na maneira de conceber os fenmenos sociais, tal como so determinados pelo seu ambiente histrico e social, nas maneiras pela quais encara e interage, o que se percebe neles e como so interpretados. assim, com a seriedade permanente do historiador-socilogo, investig-los significa enunciar inmeras questes e possveis respostas que possam contribuir para o avano da histria da cultura corporal em nosso pas.
REFERNCIAS Eagleton, t. ideologia: uma introduo. so paulo: editora da unesp, editora boitempo, 1997. Elias, n. introduo sociologia. so paulo: martins fontes, 1980. Lwy, m. ideologias e cincia social: elementos para uma anlise marxista. so paulo: cortez, 1996. mannheim, k. ideologia e utopia: introduo sociologia do conheci-mento. porto alegre: ed. globo, 1950.
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Dagmar Hunger Faculdade de Educao - UNICAMP Departamento de Educao Fsica - UNESP-Bauru. e-mail: dag@bauru.unesp.br
Referncia do artigo:
ABNT HUNGER, D. Educao Fsica, Esporte e lazer luz dasociologia do conhecimento de mannheim. Conexes, v. 1, n. 2, p. 1-32, 1999.
APA Hunger, D. (1999). Educao Fsica, esporte e lazer luz dasociologia do conhecimento de mannheim. Conexes 1(2), 1-32.
VANCOUVER Hunger D. Fsica, Esporte e Lazer luz dasociologia do conhecimento de mannheim. Conexes, 1999; 1(2): 1-32.