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Não existe outro ponto de partida que não seja o aqui e agora. Más
existem fundamentos para o aqui e agora. Procurar esses
fundamentos não é tentar uma explicação do presente a partir do
passado, mas compreender o presente a partir das raízes ainda-
visíveis que mergulham na história do homem e da vida.
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imerícia tem uma intenção profunda: erguer, enfim, do átomo até o
homem, uma energética unificada.
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A filiação assenta na realidade fisiológica da sexualidade.
Mas a etnologia cedo veio demonstrar que a determinação dos
genitores macho e fêmea é insuficiente para definir a filiação. Em toda
a parte é necessária uma norma, uma estrutura da sociedade como lei
do grupo, realidade, portanto, de ordem cultural, para transformar os
vínculos de sangue em filiação. É uma norma, aceita como tal e
interiorizada, que define a família. A consangüinidade física é condição
necessária, mas não suficiente, para a existência do parentesco. Entre
os sangüíneos, opera-se uma escolha; um costume elevado à regra
que acaba ser encarado como lei proveniente de uma espécie de
natureza social, estabelece os casos em que a consangüinidade
define o parentesco e determina ainda o rigor variável dos vínculos. A
mesma regra introduz no parentesco membros que lhe trazem sangue
novo. Por si só, o vínculo do sangue é incapaz de constituir um grupo
familiar humano,
A proibição do incesto
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A partir do momento que existe o humano, o desejo é refreado. E esta
limitação resulta duma interdição que, por sua vez, deriva, não de uma
impotência concreta, mas duma regra do grupo que é interiorizada a
ponto de se fazer dela uma lei. Este poder social que refreia o desejo
leva ao recalcamento. E a ordem, não pode ser invertida: sendo
condição do recalcamento, a proibição não pode ser resultado dele.
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Passamos de uma esfera animal onde não existia a interdição, que,
para simplificar, chamamos proibição do incesto (ainda que o incesto
nem seja sempre forçosamente interditada), para uma esfera humana
onde o desejo, de por si universal, é limitado pela lei. Mas a oposição
do desejo e da lei não explica, de forma alguma, uma transição de que
é resultado. Uma fenomenologia mais completa deveria ainda indagar
como é que o desejo se tornou universal e como é que esse desejo
universalizado se vê impor um limite interior, ainda que intransponível
ou pelo menos, de tal ordem que a sua transgressão implica
necessariamente uma ruptura da ordem total do mundo. Mas como
nasceu a lei? O que se nos apresenta é uma descontinuidade, cuja
importância mais uma vez é preciso acentuar, pois há ainda muitos
biólogos que se julgam autorizados a vulgarizar a idéia de que o
homem provém, do macho e a mulher da fêmea, como a galinha do
ovo chegando a ponto de procurar descobrir fundamentos biológicos
para as leis morais, nesta harmonia imaginária.
Ser-homem e ser-mulher
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imposto por esses condicionamentos; a única necessidade é a própria
existência de uma reorganização.
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Masculinidade e feminidade não são características individuais,
de ordem biológica ou psicológica. O papel que desempenham é
variável.
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