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1) O documento discute a racionalização e moralização das religiões em sociedades urbanas, conduzindo à formação de um campo religioso autônomo e especialistas religiosos.
2) Isso gera uma desapropriação dos meios de salvação por parte dos leigos, que passam a ser consumidores dos bens religiosos produzidos pelos especialistas.
3) Há diferentes graus de diferenciação religiosa em sociedades, variando entre a posse compartilhada versus o monopólio dos meios de produção dos bens religios
1) O documento discute a racionalização e moralização das religiões em sociedades urbanas, conduzindo à formação de um campo religioso autônomo e especialistas religiosos.
2) Isso gera uma desapropriação dos meios de salvação por parte dos leigos, que passam a ser consumidores dos bens religiosos produzidos pelos especialistas.
3) Há diferentes graus de diferenciação religiosa em sociedades, variando entre a posse compartilhada versus o monopólio dos meios de produção dos bens religios
1) O documento discute a racionalização e moralização das religiões em sociedades urbanas, conduzindo à formação de um campo religioso autônomo e especialistas religiosos.
2) Isso gera uma desapropriação dos meios de salvação por parte dos leigos, que passam a ser consumidores dos bens religiosos produzidos pelos especialistas.
3) Há diferentes graus de diferenciação religiosa em sociedades, variando entre a posse compartilhada versus o monopólio dos meios de produção dos bens religios
1- Os progressos da diviso do trabalho religioso e o processo de moralizao
e de sistematizao das prticas e crenas religiosas. - O conjunto das transformaes tecnolgicas, econmicas e sociais, correlatas ao nascimento e ao desenvolvimento das cidades e, em particular, aos progressos da diviso do trabalho e apario da separao do trabalho intelectual e do trabalho material, constituem a condio comum de dois processos que s podem realizar-se no mbito de uma relao de interdependncia e de reforo recproco, a saber, a constituio de um campo religioso relativamente autnomo e o desenvolvimento de uma necessidade de moralizao e de sistematizao das prticas e crenas religiosas. (p.34) Neste, pelo que parece, Bordieu vai no mesmo sentido de Weber quando aborda as tenses vividas pelas religies ticas medida em que as esferas econmicas, polticas, erticas, artsticas, o intelectualismo vo se tornando cada vez mais racionalizadas, impessoais, normatizadas, momento em que essas tenses elavam-se a nveis que a religio perde cada vez mais espao na sociedade obrigando-a a acelerar cada vez mais o processo de racionalizao. Desta forma, j no mais suficiente orientar individualmente o leigo quanto suas aes no mundo, mister que a prpria igreja constitua suas normas gerais de conduta para orientao dos leigos. Com isso, a religio no s constitui um campo, como seu prprio recinto de atuao e orientao dos leigos de forma mais eficaz, a fim de evitar concorrncia entre os campos, bem como desvios dos leigos na obteno dos bens de salvao. - Sabendo-se das condies dos camponeses no qual esto mais ligados aos aspectos mgicos, trabalho periodizado e dispersos, alm do carter migratrio impossibilitando assim a racionalizao. Ao contrrio, as transformaes econmicas e sociais correlatas urbanizao, seja, o desenvolvimento do comrcio e sobretudo do artesanato, atividades profissionais relativamente independentes dos imprevistos naturais e, por isso, relativamente racionalizadas ou racionalizveis, seja o desenvolvimento do individualismo intelectual e espiritual favorecido pela reunio dos indivduos libertos das tradies envolventes das antigas estruturas sociais, s podem favorecer a racionalizao e a moralizao das necessidades religiosas. (p.35) Ainda relacionando a situao entre campo e cidade, as novas necessidades de produo com a instalao de uma economia burguesa, Bordieu diz: Todavia, o maior mrito de Weber foi o de haver salientado o fato de que a urbanizao (com as transformaes que provoca) contribui para a racionalizao e para a moralizao da religio apenas na medida em que a religio favorece o desenvolvimento de um corpo de especialistas incumbidos da gesto dos bens de salvao. (p.35) Assim como o Estado necessita de um corpo tcnico, especializado para a manuteno de suas funes fixas, da mesma forma o sistema de produo capitalista necessita de um corpo especializado para o desenvolvimento de atividades especficas, bem como o quadro de funcionrios que supervisionam a produo a fim de manter o controle sobre os operrios. Do mesmo modo, a religio necessita cada vez mais de um quadro fixo especializado de funcionrios para a produo dos bens de salvao. Bordieu, citando Weber que aponta os processos de racionalizao do campo econmica, o trabalho com seus processos mais dinmicos, com fins lucrativos, e o campo religioso, racionalizao das religies ticas, eliminando todas as formas mgica, orgiasticas de salvao, introduzindo novo mecanismos para a obteno de salvao como uma conduta tica, noes de pecado e desejo de redeno. Entretanto, A racionalizao da religio possui sua normatividade prpria sobre a qual as condies econmicas podem agir apenas como linhas de desenvolvimento [...], estando, ligada sobretudo ao desenvolvimento de um corpo especificamente sacerdotal. (p.36) 1.2 o processo conducente constituio de instancias especificamente organizadas com vistas produo, reproduo e difuso dos bens religiosos bem como a evoluo (relativamente autnoma no que respeita s condies econmicas) do sistema destas instncias no sentido de uma estrutura mais diferenciada e mais complexa, ou seja, em direo ao campo religioso relativamente autnomo, se fazem acompanhar por um processo de sistematizao e de moralizao das prticas e das representaes religiosas que vai do mito (quase) sistema objetivamente sistemtico ideologia religiosa como (quase) sistema expressamente sistematizado e, paralelamente, do tabu e da contaminao mgica ao pecado ou mana, do numinoso e do Deus primitivo, arbitrrio e imprevisvel, ao Deus justo e bom, guardio e protetor da ordem da natureza e da sociedade. (p.37). Quanto a sistematizao e moralizao em algumas sociedades primitivas frente s condies econmicas, Bordieu ressalva que: Tentar compreender este processo de sistematizao e de moralizao como efeito direto e imediato das transformaes econmicas e sociais, seria ignorar que a eficcia prpria destas transformaes limita-se a tornar possvel, por uma espcie de dupla negao (isto , pela supresso das condies econmicas inteiramente negativas do desenvolvimento dos mitos), a constituio progressiva de um campo religioso relativamente autnomo e, por esta via, a ao convergente (apesar da concorrncia que os ope) do corpo sacerdotal (como os interesses materiais e simblicos que lhes so prprios) e das foras extras-sacerdotais, vale dizer, as exigncias religiosas de certas categorias de leigos e as revelaes metafsicas do profeta. (p.38) Ento assim como Weber, Bordieu coloca a questo dos interesses materiais e ideais dos sacerdotes e leigos, ou seja, no suficiente, ou no s o desenvolvimento econmico altera ou fora uma sistematizao e moralizao do campo religioso mister ainda que os interesses opostos fluam no sentido. Desta maneira, o processo moralizador de noes como ate, time, aidos, phtonos, etc., marcado fundamentalmente pela transferncia da noo de pureza da ordem mgica para a ordem moral, ou seja, pela transformao do erro como sujeira (miasma) em pecado, s se torna completamente inteligvel se levarmos em conta, alm das transformaes concomitantes das estruturas econmicas e sociais, as transformaes da estrutura das relaes de produo simblicas conducentes constituio de uma verdadeiro campo intelectual na Atenas do sculo V. (p.38) O prprio corpo sacerdotal, como afirma Bordieu, est diretamente relacionado com a racionalizao da religio no qual sua legitimidade e perenidade, est ligada a uma teologia. Desta forma, o combate a toda irracionalidade dos ritos ou mitos, ou seja, o desencantamento do mundo, principalmente num contexto urbano, facilitado pelos interesses de camadas letradas. A autonomia do campo religioso afirma-se na tendncia dos especialistas de fecharem-se na referncia autrquica ao saber religioso j acumulado e no esoterismo de uma produo quase acumulativa de incio destinada aos produtores. (p.38) [...] a arte de pensar outra coisa com as mesmas palavras, dizer outra coisa com as mesmas palavras ou dizer de outra maneira as mesmas coisas... [...] 1.3 [p.39]. Campo religioso; desapropriao do dos bens de salvao; constituio de leigos e ou profanos. Enquanto resulta da monopolizao da gesto dos bens de salvao por um corpo de especialistas religiosos, socialmente reconhecidos como os detentores exclusivos da competncia especfica necessria produo ou reproduo de um corpus deliberadamente organizado de conhecimentos secretos (e, portanto raros), a constituio de um campo religioso acompanha a desapropriao objetiva daqueles que so excludos e que se transformam por esta razo e leigos (ou profanos, no duplo sentido do termo) destitudos do capital religioso (enquanto trabalho simblico acumulado) e reconhecendo a legitimidade desta desapropriao pelo simples de que a desconhecem enquanto tal. (p.39) Fica claro que o processo de racionalizao religioso que por sua vez desenvolve-se um campo cada vez mais autnomo, concomitantemente ao processo de desencantemento do mundo, na terminologia de Bordieu gera uma desapropriao do controle dos meios de salvao, ou seja, os magos ou qualquer um que pretenda-se como gestor dos dons da graa, so desapropriados e postos na condio de consumidores dos bens de salvao e profanos. - diferentes formaes sociais diferenciao do aparelho religioso autoconsumo religioso X monopolizao completa da produo religiosa. 1.3.1.1 [p.40] - Nesse ponto Bordieu coloca, a partir da diviso entre aqueles que autoconsomem os bens religiosos e os que pretendem monoplio dos meios de produo dos bens religiosos, diferenci-los em dois pontos no que concerne a distribuio do capital religioso. Os primeiros correspondem a posse dos meios de produo no qual est, de certa forma, bem distribudos entre os membros do grupo a partir de um domnio prtico de um conjunto de esquemas de pensamento e ao objetivamente sistemticos. Uma organizao com pretende monopolizar a produo dos bens religiosos possui o domnio de um corpus de normas e conhecimentos explcitos, explcita e deliberadamente sistematizados por especialistas pertencentes a uma instituio socialmente incumbida de reproduzir o capital religioso por uma ao pedaggica expressa. (p.40) Com isso, verifica-se que a desapropriao dos meios de produo dos bens religiosos, gerando uma diviso, em favor de um corpus especializados que visa no primeiro momento que seus detentores no produzam e consumam seus prprios produtos, ou seja, perca dos meios mgicos-rituais para que este meios de posse de uma instituio e um grupo de especialistas que iro produzir para outros que consuma, ou seja, numa dada formao social no qual os meios produo dos bens religiosos esto monopolizados onde aqueles que produzem no consomem e os que consomem no produzem possam uma relao social de interesses ideais e materiais. Contrrio a perspectiva durkheiminia no qual buscava os elementos fundamentais das grandes religies nas sociedades primitivas, Bordieu e da mesma forma que Weber, ressalta que para se compreender de fato a religio no se deve buscar o que h de elementar, j a prpria religio varia no tempo e espao, assim como variado tambm as formas de culto, a distribuio do bens religiosos, a posio que cada especialista ocupa na estrutura social a partir da diviso do trabalho religiosos. Para Bordieu mister, para quem queira de fato analisar a estrutra religiosa considerando os aspecto das camadas que a compem, a mensagem transmitida, ou seja, as trocas simblicas, ento nesse senti necessrio analisar as funes que cumpre: Primeiro, em favor dos grupos que produzem e, em seguida em favos dos grupos que a consomem. Nestas condies, a transformao da mensagem no sentido da moralizao e da racionalizao pode resultar, ao menos em parte, do fato que o peso relativo das funes que se pode considerar internas cresce na medida em que o campo amplia sua autonomia. (p.43) Isso quer dizer que quanto mais se amplia a autonomia do campo religioso, quanto est possui suas prprias normas e leis internas, mais complexo ser a estrutura religiosa e o contedo de sua mensagem. 1.3.1.2 [p.43] - A oposio entre os detentores do monoplio da gesto do sagrado e os leigos, objetivamente definidos como profanos, no duplo sentido de ignorantes da religio e de estranhos ao sagrado e ao corpo de administradores do sagrado, constitui a base do princpio da oposio entre o sagrado e o profano e, paralelamente, entre a manipulao legtima (religio) e a manipulao profana e profanadora (magia ou feitiaria) do sagrado, quer se trate de uma profanao objetiva (ou seja, a magia ou a feitiaria como religio dominada), quer se trate da profanao intencional (a magia como anti-religio ou religio invertida). (p.43) Uma vez que a religio, e em geral todo sistema simblico, est predisposta a cumprir uma funo de associao e de dissociao, ou melhor, de distino, um sistema de prticas e crenas est fadado a surgir como magia ou como feitiaria, no sentido de religio inferior, todas as vezes que ocupar uma posio dominada na estrutura das relaes de fora simblica, ou seja, no sistema das relaes entre o sistema de prticas e de crenas prprias a uma formao social determinada. (p.43) Nesse ponto, alm das relaes econmicas e sociais, ou seja, com o desenvolvimento das cidades, o processo de sistematizao e moralizao constituindo assim um campo religioso autnomo no sistema de estruturas de relaes simblicas, com a diviso do trabalho religioso, assim como a desapropriao dos bens religiosos pelas religies que se pretendem ticas, universais agudizam as tenses entre magia e religio, profano e sagrado, relegando a um papel informal, a uma espcie de religio inferior os utilizam de meios mgicos e ritualsticos.
Bordieu mostra que a oposio posta entre religio e magia dissimula uma oposio mais fundamental que a oposio entre diferenas de competncia religiosa que esto ligadas estrutura da distribuio do capital cultural. (p.44) Sendo como assim, com a emergncia econmica e o desenvolvimento das cidades por sua vez na diviso entre campo e cidade, diviso do trabalho, assim como Weber, Bordieu localiza essa distribuio do capital cultural e religioso, em propores desiguais entre as camadas sociais, no qual propiciam o desenvolvimento das religies ticas, racionalizadas com isso agudizando a tenso com os meios mgicos e as camadas camponesas, que possuem uma relao estreita com essa forma de obteno de bens sagrados, desta forma essas tenso favorecem ao processo de desapropriao da posse dos agentes detentores dos meios dispersos e imediatos em favor do monoplio pro um grupo de especialistas eruditos. Tendo em vista, de um lado, a relao que une o grau de sistematizao e de moralizao da religio ao grau de desenvolvimento do aparelho religioso e, de outro, a relao que une os progressos da diviso do trabalho religioso aos progressos da diviso do trabalho e da urbanizao, compreende-se as razes pelas quais a maioria dos autores tende a associar magia caractersticas prprias s formaes sociais menos desenvolvidas economicamente, ou ento, especficas das classes sociais mais desfavorecidas das sociedades divididas em classes. (p.44) Sendo assim, numa estrutura de relaes simblicas no qual os aspectos mgicos-ritualsticos esto relegados a um mercado informal de bens religiosos, suas prticas, de certo prticas dominadas dentro dessa estrutura, como afirma Bordieu, por sua posio secundria e informal ser contestadora frente ao monoplio da reproduo dos bens religiosos. na verdade, a sobrevivncia constitui sempre uma resistncia, isto , a expresso da recusa em deixar-se dasapropriar dos instrumentos de produo religiosos. (p.45) 2- O interesse propriamente religioso. - Neste primeiro ponto Bordieu ressalta como a religio como um sistema simblico estruturado, constri e expressa prticas de forma impensada, ou seja, em suas formulaes o interesse religioso se posiciona de maneira subjacente, delimitando o que pode e o que no pode ser discutida dentro do campo religioso, tornando a problemtica implcita. Seguindo, se h uma implicitao do interesses de ambas as partes, por outro lado, h um explicitao no qual submete os agentes a disposies sistemticas e normatizadoras. Nestas condies os interesses de ambos os lados, as trocas simblicas se estruturam numa relao de interesse/desinteresse. - Por todas essas razes, a religio est predisposta a assumir uma funo ideolgica, funo prtica e poltica de absolutizao do relativo e legitimao do arbitrrio, que s poder cumprir na medida em que possa suprir uma funo lgicae gnosiolgica consistente em reforar a fora material ou simblica possvel de ser mobilizada por um grupo ou uma classe, assegurando a legitimao de tudo que define socialmente o grupo ou esta classe. (p.46) Na mesma linha de Weber, Bordieu coloca a religio como produtora de ideologia e legitimao das contradies sociais das camadas que a compem nos aspectos materiais e ideais. 2.1.1 [p.46] - A religio exerce um efeito de consagrao sob duas modalidades: 1) atravs de suas sanes santificantes, converte em limites legais os limites e as barreiras econmicas e polticas efetivas e, em particular contribui para a manipulao simblica das aspiraes que tende a assegurar o ajustamento das esperanas vividas s oportunidades objetivas; 2) inculca um sistema de prticas e de representaes consagradas cuja estrutura (estruturada) reproduz sob uma forma transfigurada, e portanto irreconhecvel, a estrutura das relaes econmicas e sociais vigentes (oculta as contradies sociais de um sociedade dividida em classes, meu) em uma determinada formao social e que s consegue produzir objetividade que produz (equanto estrutura estruturante) ao produzir o desconhecimentos dos limites do conhecimento que torna possvel, e ao contribuir para o reforo simblico de suas sanes aos limites e s barreiras lgicas e gnosiolgicas (a religio delimita o ser, o sujeito cognoscente, aquilo que pode ser conhecvel, meu) impostas por um tipo determinado de condies materiais de existncia (efeito de conhecimento-desconhecimento)
Seitas Ou Novos Movimentos Religiosos (A Questão Do Método e Do Ponto de Partida No Estudo Do Fenômeno Religioso No Mundo Contemporâneo) - Leonildo Silveira Campos