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Mitologia Geral

Índice
Pág.
Mitologia Universal................ 01
Mito......................................... 01
Mitologia..................................01
Mitos Teogônicos.................... 02
Mitos Cosmogônicos............... 03
Mitos Escatológicos............... 04
Mitologia Grega...................... 05
Mitologia Romana................... 07
Mitologia Egípcia.....................09
Mitologia Chinesa................... 16
Mitologia Indiana.................... 23
Mitologias Pré-Colombianas... 30
O Segredo dos Astecas............ 32
Incas – Misticismo e Fé........... 37
Os Mayas...... .......................... 44
Vocabulário Maya................... 53
Mitologia Japonesa.................. 54
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MITOLOGIA UNIVERSAL

MITO

s.m. (Do gr. mythos, palavra expressa, discurso, fá bula, pelo b. lat. mythus.) 1. Relato
ou narrativa de origem remota e significação simbó lica, que tem como personagens
deuses, seres sobrenaturais, fantasmas coletivos, etc. 2. Narrativa de tempos fabulosos ou
heróicos; lenda.

MITOLOGIA

s.f. (Do gr. mythologia.) 1. Estudo sistemá tico dos mitos. 2. Conjunto de mitos de uma
determinada cultura transmitido pela tradição (oral ou escrita).
Presentes em todas as culturas, os Mitos situam-se entre a Razão e a Fé, mas são considerados
sagrados. Os principais tipos de mito referem-se à origem dos deuses, do mundo e ao fim das coisas.
Distinguem-se mitos que contam o nascimento dos deuses (Teogonia), mitos que contam a criação do
mundo (Cosmogonia), mitos que explicam o destino do homem após a morte (Escatologia) e outros.
Segundo alguns especialistas, os mitos encarnam fenômenos fundamentais da vida: o Amor, a Morte, o
Tempo, etc., e certos fenômenos, como as Florestas, as Tempestades, têm sempre um mesmo valor
simbólico, seja qual for a civilização considerada.
Vênus, Sátiro e Cúpido

MITOS TEOGÔNICOS

Em muitas mitologias, delineiam-se hierarquias de deuses, cada uma com um ou mais deuses
supremos. A supremacia pode ser partilhada pelos membros de um casal, ou ser atribuída
simultaneamente a dois ou três deuses distintos.
Pode também variar com o tempo, segundo circunstâncias históricas, como por exemplo o
domínio de um povo sobre outro ou o predomínio de determinados interesses e atividades (de tipo
agrícola, guerreiro etc.). São freqüentes os relatos de deuses supremos, por vezes identificados como
criadores originais do mundo, que a seguir ficam inativos e deixam o governo a cargo de outro deus ou
deuses. Em tais casos, a supremacia significa perfeição, autonomia, onipotência (relativa), mas não
unicidade, como é o caso nas religiões monoteístas. Na Mitologia Grega, segundo a apresentação de
Homero, Zeus é o "pai dos deuses e dos homens". Essa expressão não significa que ele seja um deus
criador, mas sim representante da figura do patriarca familiar.
Os três grandes deuses escandinavos que ocupavam posição superior no grande templo de Uppsala
eram Odin, Thor e Frey. Segundo o historiador das religiões Georges Dumézil, eles representavam as
três funções da sociedade indo-européia: autoridade, poder e fecundidade.
Odin era o deus da suprema autoridade cósmica, pai universal, rei dos deuses e senhor do Valhalla
(a morada final dos guerreiros mortos em combate). Thor era o deus guerreiro e do trovão,
correspondente ao deus védico Indra. É representado como um gigante de barba ruiva, e os mitos narram
seus festejos pela vitória sobre as forças do caos. Durante o período das migrações e do florescimento
dos viquingues (entre o século IX e XI da era cristã, aproximadamente), em que predominava o ideal
guerreiro, a primazia sobre os deuses era atribuída a Thor. Frey era o deus da fecundidade, representado
com um falo de proporções exageradas. Governava a chuva e o brilho do sol e, conseqüentemente, o
crescimento das plantas e as colheitas. No panteão hinduísta, há uma entidade divina tríplice - a Trimurti
- formada pelos deuses Brahma, Vishnu e Shiva, criador, conservador e destruidor do universo,
respectivamente. Em certos aspectos, Brahma é um deus personificado; em outros, é um princípio
impessoal e infinito. Vishnu é o deus social por excelência e destruidor daqueles que ameaçam a boa
ordem, enquanto Shiva representa a selvageria indomada. O interesse pelas próprias origens motivou a
formação de mitos sobre os grandes ancestrais dos povos ou fundadores da sociedade. Na Mitologia
Asteca, Huitzilopochtli conduziu seu povo até o lago Texcoco, onde se fundou a Cidade do México. A
inimizade entre Tezcatlipoca e Quetzalcóatl representa a luta entre o povo asteca e o tolteca, e, quando
este foi derrotado, o deus dos vencidos passou a figurar em lugar preeminente do panteão asteca. A
tendência a incorporar os deuses dos povos conquistados é comum entre os povos politeístas.

MITOS COSMOGÔNICOS
Dentre as grandes interrogações que o homem permanece incapaz de responder, apesar de todo o
conhecimento experimental e analítico, figura, em todas as mitologias, a da origem da humanidade e do
mundo que habita. É como resposta a essa interrogação que surgem os Mitos Cosmogônicos. As
explicações oferecidas por esses mitos podem ser reduzidas a alguns poucos modelos, elaborados por
diferentes povos. É comum encontrar nas várias mitologias a figura de um criador, um demiurgo que,
por ato próprio e autônomo, estabeleceu ou fundou o mundo em sua forma atual. Os mitos desse tipo
costumam mencionar uma matéria preexistente a toda a criação: o oceano, o caos (segundo Hesíodo) ou
a terra (nas Mitologias Africanas). A criação ex Nihilo (a partir do nada, sem matéria preexistente) já
reflete algum tipo de elaboração filosófica ou racional. A cosmogonia chinesa, por exemplo, atribui a
origem de todas as coisas a Pan Gu, que produziu as duas forças ou princípios universais do Yin e Yang,
cujas combinações formam os quatro emblemas e os oito trigramas e, por fim, todos os elementos. No
hinduísmo, o Rigveda descreve graficamente o nada original, no qual respirou o Um, nascido do poder
do calor.
A água é o elemento primordial mais freqüente das cosmogonias, sobretudo nas Mitologias
Asiáticas e da América do Norte. A consolidação da terra se faz pela ação de um intermediário (espírito
ou animal) que a retira do fundo da água e introduz no mundo um elemento de desordem ou de mal. A
criação a partir do nada, unicamente pela palavra de Deus, aparece claramente no livro bíblico do
Gênesis (associado, por sua vez, as Mitologias Mesopotâmicas) e em cosmogonias polinésias. Outras
cosmogonias apresentam a origem divina do cosmo como emanação: por exemplo, a partir do suor, do
sêmen ou do sangue de um deus. Outro mito cosmogônico muito difundido (no Pacífico, na Europa e no
sul da Ásia) é o do ovo primordial. Na tradição hindu, a oração do mundo é simbolizada pela quebra de
um ovo. Alguns ciclos cosmogônicos se referem a um par ou casal primevo, geralmente o céu e a terra,
que tiveram de ser separados violentamente para tornar possível a vida no espaço intermediário. Essa
separação dolorosa se verifica em outros modelos, nos quais se menciona um sacrifício inicial ou uma
batalha entre seres superiores, de cujos membros esquartejados brotam o cosmo e a vida terrestre. Na
grande lenda babilônica da criação, o Enuma Elish, Tiamat, personificação do mar, é morto por Marduk,
o deus protetor da Babilônia, que então constrói o universo a partir dos despojos daquele e cria os
homens com o sangue de Kingu, outro deus rebelde. O "hino do homem primordial", nos Vedas, fala de
Prajapati - o senhor dos seres, mais tarde identificado com o deus Brahma - como o homem cósmico
cujo corpo é sacrificado e do qual surge a variedade do mundo das formas. Outros mitos, por fim,
descrevem o surgimento da humanidade a partir das profundezas da terra (mitologia dos índios Zuni, da
América do Norte) ou a partir de uma rocha ou de alguma árvore de importância cultural.

MITOS ESCATOLÓGICOS

Ao lado da preocupação com o enigma da origem, figura para o homem, como grande mistério, a
morte individual, associada ao temor da extinção de todo o povo e mesmo do desaparecimento do
universo inteiro. Para a Mitologia, a morte não aparece como fato natural, mas como elemento estranho
à criação original, algo que necessita de uma justificação, de uma solução em outro plano de realidade.
Três explicações predominam nas diversas mitologias. Há mitos que falam de um tempo
primordial em que a morte não existia e contam como ela sobreveio por efeito de um erro, de castigo ou
para evitar a superpopulação. Outros mitos, geralmente presentes em tradições culturais mais elaboradas,
fazem referência à condição original do homem como ser imortal e habitante de um paraíso terreno, e
apresentam a perda dessa condição e a expulsão do paraíso como tragédia especificamente humana. Por
fim, há o modelo mítico que vincula a morte à sexualidade e ao nascimento, analogamente às etapas do
ciclo de vida vegetal, e que talvez tenha surgido em povos agrícolas.
A idéia do julgamento dos mortos, sua absolvição ou condenação predominou no antigo Egito.
Conforme descrito no papiro Ani, o coração do morto era levado à presença de Osíris num dos pratos de
uma balança, para que fosse pesado em comparação com o que se considera justo e verdadeiro: uma
pena do deus Maat (simbolizado pela figura de um avestruz) era posta no outro prato da balança. Os
Hebreus, ao contrário, não tinham, até o século II a.C., uma idéia clara a respeito de um julgamento
último e seu correspondente castigo ou recompensa: os escritos do Antigo Testamento mencionam
apenas uma existência ultraterrena num mundo de penumbra (sheol). Similarmente, o pensamento
mítico grego, conforme explicitado por Homero, concebia a morte como uma desintegração, da qual
apenas uma espécie de fantasma (eidolon) descia ao Hades, onde levava uma existência infeliz e
inconsciente. Já os mistérios de Elêusis, ao contrário, prometiam aos iniciados a felicidade supraterrena,
enquanto a filosofia platônica e o orfismo (seguindo, provavelmente, tendências orientais) anunciavam a
reencarnação. Zoroastro (século VI a.C.) falou de Chinvat, uma ponte a ser atravessada após a morte,
larga para os justos e estreita para os perversos, que dela caíam no inferno. O zoroastrismo posterior
elaborou a idéia de prêmio e castigo, de ressurreição dos mortos e de purificação final dos pecadores.
Os mitos retratam freqüentemente o fim do mundo como uma grande destruição, de natureza
bélica ou cósmica. Antes da destruição, surge um messias ("Ungido") ou salvador, que resgata os eleitos
por Deus. Esse salvador pode ser o próprio ancestral do povo ou fundador da sociedade, que empreende
uma batalha final contra as forças do mal e, após a vitória, inaugura um novo estágio da criação, um
novo céu e uma nova terra. Os mitos da destruição escatológica manifestaram-se tardiamente, na
literatura apocalíptica judaica, que floresceu entre os séculos II a.C. e II d.C., e deixou sua marca no
livro do Apocalipse, atribuído ao Apóstolo João. Exemplo típico de mito de destruição (embora não no
fim dos tempos) são as narrativas a respeito de grandes inundações. É bastante conhecido o episódio do
Antigo Testamento que descreve um dilúvio e o apresenta como castigo de Deus à humanidade. Esse
tema tem origens mais remotas e provém de Mitos Mesopotâmicos. Em quase todas as culturas pré-
colombianas encontram-se também mitos a respeito de dilúvios.

MITOLOGIA GREGA

A Mitologia Helênica é uma das mais geniais concepções que a humanidade produziu. Os gregos,
com sua fantasia, povoaram o céu e a terra, os mares e o mundo subterrâneo de Divindades Principais e
Secundárias. Amantes da ordem, instauraram uma precisa categoria intermediária para os Semideuses e
Heróis. A mitologia grega apresenta-se como uma transposição da vida em zonas ideais. Superando o
tempo, ela ainda se conserva com toda a sua serenidade, equilíbrio e alegria. A religião grega teve uma
influência tão duradoura, ampla e incisiva, que vigorou da pré-história ao século IV e muitos dos seus
elementos sobreviveram nos Cultos Cristãos e nas tradições locais. Complexo de crenças e práticas que
constituíram as relações dos gregos antigos com seus deuses, a religião grega influenciou todo o
Mediterrâneo e áreas adjacentes durante mais de um milênio. Os gregos antigos adotavam o Politeísmo
Antropomórfico, ou seja, vários deuses, todos com formas e atributos humanos. Religião muito
diversificada, acolhia entre seus fiéis desde os que alimentavam poucas esperanças em uma vida
paradisíaca além túmulo, como os heróis de Homero, até os que, como Platão, acreditavam no
julgamento após a morte, quando os justos seriam separados dos ímpios. Abarcava assim entre seus fiéis
desde a ingênua piedade dos camponeses até as requintadas especulações dos Filósofos, e tanto
comportava os excessos orgiásticos do culto de Dioniso como a rigorosa ascese dos que buscavam a
purificação.
No período compreendido entre as primeiras incursões dos povos helênicos de origem
Indoeuropéia na Grécia, no início do segundo milênio a. C., até o fechamento das escolas pagãs pelo
imperador bizantino Justinianus, no ano 529 da era cristã , transcorreram cerca de 25 séculos de
influências e transformações. Os primeiros dados existentes sobre a religião grega são as Lendas
Homéricas, do século VIII a. C., mas é possível rastrear a evolução de crenças antecedentes. Quando os
indo-europeus chegaram à Grécia, já traziam suas próprias crenças e deuses, entre eles Zeus, protetor
dos clã s guerreiros e senhor dos estados atmosféricos.
Também assimilaram cultos dos habitantes originais da península, os Pelasgos, como o oráculo de
Dodona, os deuses dos rios e dos ventos e Deméter, a deusa de cabeça de cavalo que encarnava o ciclo
da vegetação. Depois de se fixarem em Micenas, os gregos entraram em contato com a civilização
cretense e com outras civilizações mediterrâneas, das quais herdaram principalmente as divindades
femininas como Hera, que passou a ser a esposa de Zeus; Atena, sua filha; e Ártemis, irmã gêmea de
Apolo. O início da filosofia grega, no século VI a.C., trouxe uma reflexão sobre as crenças e mitos do
povo grego. Alguns pensadores, como Heráclito, os Sofistas e Aristófanes, encontraram na mitologia
motivo de ironia e zombaria. Outros, como Platão e Aristóteles, prescindiram dos deuses do Olimpo
para desenvolver uma idéia filosoficamente depurada sobre a divindade. Enquanto isso, o culto público,
a religião oficial, alcançava seu momento mais glorioso, em que teve como símbolo o Pártenon
ateniense, mandado construir por Péricles. A religiosidade popular evidenciava-se nos festejos
tradicionais, em geral de origem camponesa, ainda que remoçada com novos nomes. Os camponeses
cultuavam Pã, deus dos rebanhos, cuja flauta mágica os pastores tentavam imitar; as ninfas, que
protegiam suas casas; e as nereidas, divindades marinhas. As conquistas de Alexandre o Grande
facilitaram o intercâmbio entre as respectivas mitologias, de vencedores e vencidos, ainda que fossem
influências de caráter mais cultural que

autenticamente religioso. Assim é que foram incorporadas à religião helênica a deusa frigia Cibele e os
deuses egípcios Ísis e Serápis. Pode-se dizer que o sincretismo, ou fusão pacífica das diversas religiões,
foi a característica dominante do período Helenístico.

MITOLOGIA ROMANA

Os romanos ultrapassaram todos os outros povos na sabedoria singular de compreender que tudo
está subordinado ao governo e direção dos deuses. Sua religião, porém, não se baseou na graça divina e
sim na confiança mútua entre Deuses e Homens; e seu objetivo era garantir a cooperação e a
benevolência dos deuses para com os homens e manter a paz entre eles e a comunidade. Entende-se por
religião romana o conjunto de crenças, práticas e instituições religiosas dos romanos no período situado
entre o século VIII a.C. e o começo do século IV da era cristã. Caracterizou-se pela estrita observância
de ritos e cultos aos deuses, de cujo favor dependiam a saúde e a prosperidade, colheitas fartas e sucesso
na guerra.
A piedade, portanto, não era compreendida em termos de experiência religiosa individual e sim da
fiel realização dos deveres rituais aos deuses, concebidos como poderes abstratos e não como
Divindades Antropomórficas. Um traço característico dos romanos foi seu sentido prático e a falta de
preocupações filosóficas acerca da natureza ou da divindade. Seus preceitos religiosos não incorporaram
elementos morais, mas consistiram apenas de diretrizes para a execução correta dos rituais. Também não
desenvolveram uma mitologia imaginativa própria sobre a origem do universo e dos deuses; seu caráter
legalista e conservador contentou-se em cumprir com toda exatidão os ritos tradicionalmente prescritos,
organizados como atividades sociais e cívicas. O ceticismo religioso chegou a ser uma atitude
predominante na sociedade romana em face das guerras e calamidades, que os deuses, apesar de todas as
cerimônias e oferendas, não conseguiam afastar. O historiador Tacitus comentou amargamente que a
tarefa dos deuses era castigar e não salvar o povo romano. A índole prática dos romanos manifestou-se
também na política de conquistas, ao incorporar ao próprio panteão os deuses dos povos vencidos. Sem
teologia elaborada, a religião romana não entrava em contradição com essas deidades, nem os romanos
tentaram impor aos conquistados uma doutrina própria. Durante a república, no entanto, foi proibido o
ensino da Filosofia Grega, porque os filósofos eram considerados inimigos da ordem estabelecida. Os
valores dominantes da cultura romana não foram o pensamento ou a religião, mas a retórica e o direito.
Com as crises econômicas e sociais que atingiram o mundo romano, a antiga religião não
respondeu mais às inquietações espirituais de muitos e, a partir do século III a.C., começaram a se
difundir religiões orientais de rico conteúdo mitológico e forte envolvimento pessoal, mediante ritos de
iniciação, doutrinas secretas e sacrifícios cruentos. Nesse ambiente verificou-se mais tarde a chegada dos
primeiros cristãos, entre eles os apóstolos Pedro e Paulo, com uma mensagem ética de amor e salvação.
O cristianismo conquistou o povo, mas seu irrenunciável monoteísmo chocou-se com as cerimônias
religiosas públicas, nas quais se baseava a coesão do estado, e em especial com o culto ao imperador.
Depois de sofrer numerosas perseguições, o cristianismo foi reconhecido pelo imperador Constantinus
I no ano 313 d.C. São escassas as fontes que permitem reconstruir a vida da primitiva Roma, pequena
cidade-estado que se formou por volta do século VIII a.C. A descrição mais antiga é do historiador
romano Marcus Terencius Varrão, do século I a.C., mas seu testemunho já mostra a grande influência da
Cultura Grega, que motivou a reinterpretação da tradição

religiosa. No período de formação original, a religião dos romanos já apresentava características


utilitárias, em que as preocupações se centravam na satisfação das necessidades materiais, como boas
colheitas e a prosperidade da família e do estado em tempo de paz e de guerra. Entre os deuses mais
importantes dessa época estão Júpiter, deus do céu, o maior deles; Marte, deus da guerra; Quirino,
protetor da paz, identificado depois com Romulus; e Juno, cuja função principal era dirigir a vida das
mulheres. Outras deidades menores eram figuras vagas de funções limitadas e claramente definidas.
Como os deuses maiores, tinham poderes sobrenaturais e, pelo culto adequado, podiam ser induzidos a
empregá-los em benefício dos adoradores. A curiosidade dos romanos, porém, não passava desse ponto:
os deuses não tinham mitos, não formavam casais e não tinham filhos. Os romanos não tinham também
uma casta sacerdotal; seus ritos eram executados com meticulosa exatidão por chefes de família ou
magistrados civis. Essas atividades clericais, porém, eram reguladas por colégios sacerdotais.
Na segunda metade do século VI a.C., os Etruscos conquistaram a cidade de Roma e introduziram
nas práticas religiosas o culto às estátuas dos deuses, os templos, a adivinhação mediante o escrutínio
das entranhas de animais sacrificados e do fogo e maior solenidade nos ritos funerários. O primitivo
calendário religioso lunar, de dez meses, foi substituído pelo calendário solar de 12 meses. Nesse
período ocorreu a incorporação de deuses que não eram apenas etruscos. Júpiter ganhou como consortes
Juno e Minerva, uma união que resultou da influência grega, já que as duas deusas foram identificadas
como Hera e Atena, mulher e filha de Zeus. Vênus e Diana surgiram de fontes italianas. Entre os
deuses incorporados ao panteão romano por influência etrusca estão Vulcano, deus do fogo, e Saturno,
divindade de funções originais obscuras. O Período Republicano, do século V ao século I a.C.,
caracterizou-se pela ampliação da influência da cultura grega, cujos mitos revitalizaram os deuses
romanos ou introduziram novas divindades, como Apolo, que não tinha um equivalente romano
geralmente reconhecido, e Esculápio. Outro costume importado da Grécia foi convidar os deuses para o
banquete sagrado, o Lectisternium, no qual eram representados por suas estátuas e associados em casais,
como Júpiter e Juno, Marte e Vênus etc. As figuras juntas nos banquetes formaram o grupo grego
popular e típico de 12 deuses. Foram introduzidos ainda cultos orgiásticos do Oriente Médio, como o da
deusa Cibele, a Grande Mãe, e o de Dioniso, que em Roma foi identificado como Baco. O imperador
Augustus quis reavivar os cultos tradicionais - ele mesmo foi divinizado após a morte - e reconstruir os
templos antigos. A crescente demanda por uma religião mais pessoal, porém, que nem as religiões
tradicionais gregas nem as romanas eram capazes de satisfazer, foi atendida por vários cultos do Oriente
Médio, que prometiam a seus seguidores o favor pessoal da divindade e mesmo a imortalidade se certas
condições fossem atendidas, entre elas a iniciação secreta em ritos misteriosos. O primeiro deles foi o de
Ísis que, embora de origem egípcia, sofreu modificações em sua passagem pela Grécia. Depois veio o
culto de Atis, consorte da Grande Mãe, e por último o de Mitra, de origem Persa, que se tornou o
predileto dos soldados romanos. No último período do Império Romano, desenvolveu-se de forma
particular o culto ao Sol, e o imperador Aurelianus proclamou como suprema divindade de Roma o Sol
Invicto. Mas essas tentativas de reavivar uma religião que sempre servira aos interesses do estado
fracassaram, ante a expansão do Cristianismo que, em 391, foi declarado religião oficial do estado pelo
imperador Theodosius I, que suprimiu o culto tradicional.

MITOLOGIA EGÍPCIA

Como em todas as civilizações antigas, a Cosmogonia ocupa a primeira parte dos textos sagrados
egípcios, tentando explicar com a fantasia e o relato milagroso tudo quanto se escapa do reduzido âmbito
do conhecimento humano. Para os egípcios, como para o resto das grandes religiões, a criação do
Universo faz-se de um único ato da vontade suprema, a partir do nada, da escuridão, do caos original. O
seu criador chama-se Nun e era o espírito primigênio, o indefinido ser que tinha tomado o aspecto do
barro. Este barro que aparece com tanta freqüência em todas as mitologias junto dos parágrafos das
criações de deuses e de homens, a matéria-prima por excelência dos oleiros e (por assimilação) a matéria
lógica para os deuses criadores, não era senão a terra e a água próximas dos antigos povoadores do
mundo. Por isso o barro Nun foi o berço espiritual, a primeira força em que ia tomando forma o novo
espírito da luz, Ra, o disco solar, pai de tudo o que habita sob os seus raios. Da vontade de Ra vão nascer
os dois primeiros filhos diferenciados da divindade: são Tefnet e Chu. Ela é a deusa das águas que caem
na terra e ele é o deus do ar, e os dois filhos estarão com o grande pai Ra no firmamento, compartilhando
a sua glória e o seu poder e ajudando-o na longa e eterna viagem. Mas também Chu e Tefnet vão
continuar a obra iniciada por Ra, criando da sua união outros dois novos filhos, os dois sucessores da
última geração celestial: o deus da terra Geb, e a sua irmãe esposa, a deusa do céu Nut, para que eles
relevem à primeira geração e criem a terceira, a que vai estar na terra do Egito. Os filhos de Geb e Nut,
os quatro filhos do Céu e da Terra, dois homens e duas mulheres (embora haja versões que dão um
quinto filho, chamado Horoeris), formam a primeira geração de seres que vivem no solo do Egito, os
quatro primeiros deuses que se ocupam dessa terra escolhida e que velam por ela, ou que entram no
mundo egípcio para completar o binômio do bem e do mal, da vida e da morte. O primeiro dos homens e
o mais velho dos quatro, Osíris, é o deus da fecundidade, a divindade que representa e sustenta a
continuidade da natureza; ele é quem faz nascer a semente, quem a amadurece e quem agosta os
campos; Osíris é o princípio da própria vida. Ísis, a sua irmãe esposa, reina em igualdade sobre o
extenso domínio do Nilo, em perfeita harmonia com o seu irmão, formando o casal positivo do binômio.
Se Osíris se encarrega de proporcionar a vida aos humanos, Ísis está sempre à frente, após a invenção de
todas as artes necessárias para desenvolver a vida, desde a moagem do grão até às complexas regras e
leis da vida familiar. Neftis, a segunda irmãe a mais pequena de todos, não podia ter a sorte de Ísis, a
sorte de ser esposa do bom e belo Osíris; por isso Neftis ficou à margem da felicidade; também por isso
era a representação do resto do país útil, a deusa das terras menos felizes, as terras secas junto dos
campos de cultivo; as parcelas de sequeiro que não tinham a sorte de ser regularmente inundadas pela
água e pelo limo do rio nas suas cheias anuais. Set, o segundo homem e o terceiro dos filhos, é a criatura
que pressagiou o seu destino ao nascer prematuramente, dado que abriu o ventre da sua mãe Nut,
fazendo-a sofrer cruelmente; Set é o deus da maldade, o espírito negativo e o representante do deserto
sem vida, a personificação da morte.

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Naturalmente, Set odeia desde a infância o primogênito Osíris; esta é a fábula constante do bom
irmão diante do mau; é a lenda exemplificadora do mau assassinando o bom, tentando evitar a sua clara
superioridade, tentando apagar com a morte a distância entre ambos. Mas continuemos com a história
dos quatro filhos de Geb e Nut, e digamos que Set casou com a sua irmã Neftis, mantendo a tradição
iniciada pelos seus antecessores divinos. Mas Neftis foi esposa do malvado Set também mau grado seu,
porque ela amava Osíris, e deste casamento não surgiu nenhum filho, porque Set tinha que ser
forçosamente estéril pela sua maldade. Mas não sucedeu a mesma coisa com Neftis, dado que ela sim,
conseguiu ter um filho e, precisamente um filho de Osíris. Para conseguí-lo, embebedou o seu irmão e
deitou-se com ele. Esse filho nasceria mais tarde e seria conhecido com o nome de Anúbis. Neftis amava
tanto Osíris e tanto desprezava o seu marido que, quando se produziu o seu assassínio, a boa e infeliz
Neftis fugiu do seu perverso marido, para poder estar ao lado do amado, junto da sua irmã Ísis,
ajudando-a no embalsamamento. Após aquele momento, Ísis e Neftis permaneceriam sempre unidas à
morte, acompanhando o piedoso defunto na sua sepultura, para proporcionar-lhe a ajuda que
necessitasse no outro lado da morte. Ao assassinar Osíris, Set só conseguiu divinizar ainda mais o seu
odiado irmão, porque o Osíris triunfante sobre a morte ia estabelecer-se como a personificação divina do
ciclo, e voltaria a nascer e morrer eternamente, reinando na vida eterna do céu e deitando sobre o seu
traidor irmão na terra, ao ficar com as suas posses e ser a figura amada pelas duas irmã s Ísis e Neftis, a
figura adorada e homenageada por todos os egípcios, a divindade bondosa que governava as estações e o
benéfico Nilo em proveito dos homens.
Não foi demasiado difícil a Set terminar com a vida do seu bom irmão, o grande rei Osiris, apesar
da constante vigilância que Ísis mantinha sobre as suas idas e vindas, dado que ela sim conhecia bem o
seu malvado irmão e não confiava de maneira nenhuma nas suas artes.
Depois de tentar uma e outra vez assassiná-lo sem êxito, finalmente Set tramou um plano que lhe
permitia iludir Ísis e assim mandou construir uma caixa muito rica e bela, com o tamanho exato do seu
irmão. Com a caixa em seu poder, Set organizou uma grande festa, à qual convidou Ísis e Osíris, junto
com outras setenta e duas personagens, que não eram outras que os seus aliados no sinistro plano.
Terminada a festa, Set comentou que tinha idealizado um jogo, que consistia em ver quem de todos os
presentes cabia melhor naquela magnífica arca, e para o feliz tinha reservado um grandioso prêmio. Os
convidados provaram sorte, mas nenhum dava o tamanho adequado, de maneira que chegou a vez de
Osíris e ele sim, enchia completamente o buraco da caixa. Mas não havia tal prêmio; os presentes
lançaram-se em tropel e encerraram o rei dentro dela; depois lançaram-na ao Nilo e o rio arrastou a caixa
e a sua carga para o mar. Ísis saiu em perseguição do baú e Neftis uniu-se ela rapidamente na procura,
enquanto Set e as suas seis dúzias de cúmplices celebravam precipitadamente a suposta vitória do
usurpador. As duas irmã s entretanto, encontraram a caixa onde Osíris tinha sido encerrado e
comprovavam que já era simplesmente um cadáver. Com os seus tristes lamentos e prantos, as irmã s
comoveram os deuses e estes decidiram trazer de novo à vida ao infeliz Osíris, mandando-as que
amortalhassem o seu corpo embalsamado em ligaduras, dando assim a pauta para o posterior rito
funerário, ou que reunissem os seus restos para poder insuflar de novo a vida no seu destroçado corpo,
segundo a versão correspondente.
Também se conta, em outros relatos sagrados, que a arca tinha saído para o mar quando Ísis
chegou à foz do Nilo, e só terminou a sua viagem na muito longínqua costa da Fenícia, indo de encontro
a um tronco que crescia à beira do Mediterrâneo, muito próximo da cidade de Biblos. a árvore,
milagrosamente, cresceu num instante, englobando o féretro flutuante no seu tronco para dar-lhe o
último abrigo. Movido pelo destino, o rei de Biblos viu aquela gigantesca árvore e mandou cortar o seu
tronco e com ele ordenou construir uma coluna para

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o seu palácio. Mas Ísis soube também do portentoso fato e empreendeu a viagem até chegar à
cidade de Biblos, onde pediu ser recebida pelo rei, para fazer-lhe saber a razão da sua penosa expedição.
O rei ouviu o relato da rainha e ordenou imediatamente que lhe fosse devolvido o caixão onde
repousavam as restos mortais do bom Osíris. Concedido o seu desejo e com o caixão em seu poder,
regressou sigilosamente para o Egito, não sem antes tentar ocultar o cadáver do infeliz esposo da
maldade de Set. Mas Set, senhor da noite e das trevas, deu com ele e voltou a tentar terminar com a
ameaça que Osíris representava, fazendo com que os seus restos fossem dispersos por todo o imenso e
intransitável delta do grande rio. De novo Ísis empreendeu a procura dos restos de Osíris nos pântanos
do Nilo e, um a um, reuniu outra vez o cadáver. Quando os conseguiu, tomou a forma de uma grande
ave de presa e pousou-se sobre os despojos, batendo as suas asas até que com o seu ar benfeitor insuflou
uma vida renovada em Osíris. O esposo ressuscitado tomou-a e a boa Ísis ficou grávida de Hórus, o filho
que teria de vingar o pai assassinado e restauraria a ordem divina no Egito. Mas, enquanto chegava o
momento do nascimento de Hórus, Ísis ocultou-se de Set nos pantanosos terrenos do delta do Nilo.
Osíris retornou ao reino dos mortos, mas já tinha deixado a sua semente em Ísis e dela nasceu
felizmente Hórus em Jenis. Com a presença devota da sua mãe foi educado no maior dos segredos,
preparando-se com esmero e paciência o sucessor do rei assassinado no seu esconderijo do Delta,
enquanto a mágica Ísis o cobria com a impenetrável couraça dos seus conjuros, esperando até que
chegasse a hora da vingança definitiva. E esta hora chegou, mas a luta entre Set e Hórus seria longa e
angustiosa; uma briga que aparecia não ter fim, na qual um e outro infringiam tanto mal como o que
recebiam do seu adversário. Tão penoso era o combate que Tot, o deus da Lua e a divindade da ordem e
a inteligência, se apiedou dos combatentes e interveio para mediar na disputa, levando a ambos perante o
tribunal dos deuses e fazendo comparecer também Osíris, para que todos pudessem ouvir as razões de
um e dos outros. O tribunal sentencia que, na causa entre Set e Osíris, seja Osíris quem recupere o reino
que teve em vida, e acrescenta à sua coroa a parte do país que originalmente correspondeu ao seu irmão
e assassino. Na longa e controversa vista da briga entre Set e Hórus, que durou nada menos que oitenta
anos, os juízes celestiais terminaram por sentenciar o pleito sobre os direitos sucessórios a favor de
Hórus. O filho póstumo de Osíris recuperava o que correspondia pela sua linhagem: a sucessão no trono
de Egito. Assim, o filho era reconhecido pela divindade como soberano indiscutível, dentro da tradição
clássica que adjudicava aos reis e aos reinos um sentido de vontade divina. Por estas duas sentenças Set
perde o seu poder, conquistado com enganos, mas não é castigado senão afastado do mundo; Set passa a
ser também uma divindade necessária ao ser acolhido por Ra, divindade solar, para que se ocupe nos
céus de alternar a noite com o dia e deixe que sejam os reis os que governem sobre a terra. Hórus, por
sua vez, engendra quatro filhos: Amsiti, Hapi, Tuemeft e Kevsnef; embora não se especifique com
exatidão quem pode ser a mãe, se é que existe tal (há quem dizem que são filhos de Hórus e da sua mãe
Ísis). Estes filhos, que acompanharão Osiris nos julgamentos aos mortos, também cuidam dos quatro
pontos cardeais e se ocupam de velar pelas necessidades e pela saúde das entranhas de Osíris.
Como costuma contar-se em todos os mitos, uma vez passada a primeira época de harmonia, as
criaturas terrestres, os seres privilegiados criados pela simples vontade de Ra, deus supremo,
levantaram-se contra o seu senhor. Eram as sucessivas lutas à morte entre os inimigos da terra e as
comitivas celestiais, lutas tão ferozes que foram desgastando as energias de Ra, até o fazer perder a sua
força e babar. Com essa baba caída da sua boca, Ísis formou um barro e com ele construiu o áspide que
-colocado no caminho do deus- envenenou Ra.
Feito isto, Ísis apresentou-se diante do ferido, prometendo o antídoto em troca de que a

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divindade revelasse o seu nome secreto. Ra resiste enquanto pode agüentar a dor terrível, e trata em vão
de esquivar a resposta, pois sabe que o nome da coisa e o poder sobre ela são uma única coisa. Mas
afinal, vencido pela crescente dor, Ra tem que aceitar e dizer ao ouvido de Ísis esse nome que agora
também ela vai conhecer, comunicando-lhe com esse ato a sua força total. Uma vez vencido por Ísis, o
enfraquecido Ra vai ser também o alvo de outros ataques dos seres humanos, e a sua vingança, através
da deusa Sekhmet, a mulher-leoa que encarnava a guerra, é tão terrível que quase termina com a
humanidade, embora seja maior o amor que sente pela sua obra criadora, apiedando-se dos açoitados
humanos justamente a tempo, ao enviar uma chuva de cerveja vermelha que cobre toda a superfície do
planeta, confundindo Sekhmet, que a toma por sangue e trata de saciar a sua sede de morte com ela,
embriagando-se com o vermelho líquido de tal maneira que deixa de executar a sentença de morte que
Ra tinha decretado para os humanos. Depois deste ato de compaixão para com os seus desagradecidos
filhos da Terra, Ra retira-se para sempre de todo o relacionado com os assuntos de governo, cedendo ao
filho do seu filho Chu, o bom Geb, representante divino do planeta, o poder sobre o globo terrestre e
quem sobre ele habita, pessoas, animais ou vegetais, mas sem o abandonar à sua sorte, dado que Ra se
compromete a ajudá-lo com os seus conselhos e perpétua vigilância.
Já conhecemos Tot quando interveio nos pleitos divinos entre Osíris, Hórus e Set, levando a sua
arbitragem ao tribunal dos deuses, mas fica por definir a sua origem, o seu poder, dado que ele era o ser
que reinava sobre todo o Universo com a sua sabedoria e punha nele a ordem. O grande Tot é
identificado com a posse de todos os conhecimentos mágicos e considerado inventor da palavra, criador
da escritura, o ser superior que manejava os conceitos e possuía, pois, o poder sobre os seres e as coisas
inanimadas. Por essa ordem, era o deus natural dos muito importantes e onipresentes escribas de Egito, o
grupo dos mais significados funcionários de todo o reino, dos homens que contavam e relacionavam
todos os atos, os que catalogavam as posses de reis e senhores, e os que narravam as crônicas de cada
época. Tot, por sua parte, estava encarregado, como escriba, em fazer a relação dos reis presentes,
passados e futuros. Ele conhecia o destino dos rebentos reais e apontava qual deles reinaria pela vontade
dos deuses sobre todo o império do Nilo e quanto duraria o seu feliz reinado. Tot determinava assim
tudo o que estava escrito (pela sua própria mão) que devia suceder, ele era a personificação do destino
omnisciente. Desposado com Maat, deusa da justiça e filha de Ra, formava um casal que compreendia
todo o âmbito da justiça, pois ele exercia-a sobre os deuses e os seres vivos, e Maat presidia o
julgamento dos mortos, junto com Osíris. Também se apresenta Tot casado com outras duas esposas de
ascendência divina, Seshet e com Nahmauit, e era considerado o pai de outros dois deuses menores,
Hornub, filho havido com a primeira, e NeferHor, na sua união com a segunda, e gozava de um mês
com o seu nome, consagrado a ele, situado no princípio de cada ano.
Se importante era a alma universal de Tot, Amon converteu-se no rei dos deuses a partir da
capitalidade de Tebas, no poder divino aos faraós e no deus único e oficial do Egito, substituindo-se a
partir do trono o culto ao cansado e enfraquecido Ra no transporte do disco solar ao longo do arco
celestial. Amon, com um critério coerente com a importância do astro solar, passou a ser o deus da vida,
da criação, da fertilidade. Quando desaparecia no céu visível, Amon passava a iluminar a noite dos
mortos, o outro lado da vida. Depois, com o reinado de Amenofis (auto-batizado Akhaenaton), Amon
foi substituído por Aton, um derivado do deus criador, Atum, que doador da vida original foi converter-
se na representação do sol de Poente e de lá, por vontade do faraó, no deus único. Mas ainda mudando
de nome continuava a ser o mesmo deus solar, e pouco custou -após a morte do herege rei Akhaenaton-
devolver-lhe o velho nome e as antigas atribuições, para recuperar a sua identidade inicial de

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Amon e ultrapassar os limites do império egípcio, sendo adotado como deus supremo nos povos
vizinhos da Líbia, Núbia e Etiópia, convertendo-se em deus oracular no seu grande templo situado no
meio das arenas desérticas da Líbia. O grande Amon, casado com a deusa Mut, teve um filho, Jons, que
passou de ser uma divindade lunar secundária para converter-se em permanente acompanhante do seu
pai nas diárias travessias a bordo da barca solar. Com Mut e Jons, completa-se o panteão tebano e fecha-
se completamente a sagrada trindade dos deuses de Tebas, à semelhança do trio formado por Osíris, Ísis
e Hórus.
Se grande era o poder dos deuses e quase tanto o dos seus designados, os faraós, o mundo da
morte era, em definitiva, o que governava a vida dos humanos, dado que toda a vida se orientava a
cumprir com o custoso rito do enterramento, da preservação do corpo do defunto e do reunião dos
muitos bens que deviam acompanhá-lo na sua marcha para a vida eterna. Além de todo este cortejo de
móveis, barcas rituais, imagens do morto, efígies dos deuses menores e maiores, alimentos, livros de
orações e conselhos, devia permanecer o corpo, tão intacto como se soubesse fazer, porque ainda não se
tinha chegado a abstrair a idéia da "alma", e só se identificava a possibilidade da vida após a morte com
a conservação do aspecto humano. Por isso, nos enterros mais privilegiados conservavam-se
embalsamadas por separado, junto da múmia igualmente embalsamada, as vísceras do defunto, dado que
não resultava possível, pela sua rápida deterioração, mantê -las dentro do cadáver. Aqui desempenhavam
um papel decisivo os quatro filhos de Hórus, dado que -como faziam com as entranhas de Osíris – eles
cuidavam do bom estado das vísceras humanas e as protegiam de qualquer perigo que pudesse ameaçá-
las. As quatro repartiam as suas funções da seguinte maneira: Amsiti estava ao cuidado da vasilha que
continha o fígado; Hapi velava pela urna onde se encontrava o pulmão; Tuemeft vigiava o estômago do
defunto; e, finalmente, Kebsnef cuidava do vaso no qual se conservavam os intestinos. Mas os quatro
filhos de Hórus não estavam sozinhos nestas transcendentais tarefas de ultra-tumba, dado que Ísis
acompanhava Amsiti; Neftis estava com Hapi; Tuemeft cumpria a sua missão junto de Neith, a deusa
das águas do Nilo; e Selket, divindade do Delta e que tinha criado o grande Ra, estava com Kebsnef.
Osíris, com Hórus, Tot e Maat e os seus quarenta e dois assessores especializados nas quarenta e duas
faltas que deviam ser calibradas, (sete vezes seis, um número duplamente mágico), presidia as
cerimônias do estrito julgamento dos mortos. Ante ele eram pesadas as boas e as más obras do defunto, a
alma ou resumo da sua vida, e julgava-se essa relação depecados ou virtudes. Mas não terminava o
trâmite com a pesagem e defesa do defunto; após essa primeira parte, se passava a contrastar se o
exposto tinha sido certo e tudo o julgável tinha sido trazido à luz. A veracidade do julgamento da alma
era verificada com a pesagem minuciosa e precisa do coração, colocado na balança diante de uma leve
pena, e bastava que esse coração fosse o que inclinasse a balança para o seu lado para que se condenasse
o morto na verdadeira prova final, sendo condenado a padecer todos os sofrimentos possíveis,
imobilizado na escuridão da sua tumba ou imediatamente o seu corpo devorado por uma aterradora
divindade, Tueris, uma criatura com cabeça de crocodilo e corpo de hipopótamo que aguardava
pacientemente o mentiroso. Se tudo estava a favor do defunto, Osíris premiava-o com o renascimento e
a passagem para a vida eterna. Mas junto dele estavam outras duas divindades especializadas no ciclo da
morte: Anúbis, filho de Neftis e Osíris, embora criado e educado por Ísis, e Upuaut, um antigo deus da
guerra. Os dois aparecem sempre com cabeça de chacal, ou de cão (especialmente Anúbis)
acompanhando Osíris no transe do julgamento como seus primeiros auxiliares. Eram dois seres
acostumados a cuidar dos mortos, um por ter ajudado no seu dia a embalsamar o cadáver de Osíris, e o
outro por ter tido que fazê-lo em tantas ocasiões, quando guiava as expedições guerreiras e devia
cumprir o ritual com os seus guerreiros falecidos em combate.

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Embora fundamental para a vida em Egito, o grande rio, o Nilo, nunca chegou a ter uma divindade
que o representasse no panteão nacional em igualdade de condições com os outros deuses, e só contou
com o deus Hapi, que não era o mesmo que oficiava como filho de Hórus, dado que este tinha rasgos
híbridos de mulher e de homem e luzia roupas de barqueiro do rio, tendo a sua morada numa caverna
próxima da primeira catarata, a mais de mil quinhentos quilômetros da foz. Outras partes do rio tiveram
quase mais importância do que Hapi, como foi o caso da grande corrente de água que conformava o rio -
Satis - representada por uma mulher tocada com a tiara branca do alto Nilo e o arco e as flechas nas suas
mãos, que era esposa da divindade da primeira catarata - Jnum - um deus com cabeça de carneiro,
embora haja que precisar que foram quatro os diferentes Jnum venerados sobre as águas do Nilo.
Também era esposa do Jnum da primeira catarata a deusa Anukit, a divindade que representava o
estreitamento do rio à sua passagem pelas gargantas rochosas de Filae e Siena, ou o deus dos lagos
-Hersef- que aparecia aos homens com o corpo de um homem e a cabeça de um borrego. Sabek, com
cabeça de crocodilo, era a divindade das inundações benfeitoras, filho da deusa Neith, protetora das
terras fecundas do Delta. Para as terras secas do Egito existia também uma divindade masculina
específica, Minu, relacionada com a proteção dos viajantes que cruzavam as solitárias e calorosas arenas
do deserto, e também encarregado da fecundidade dos campos e do gado. Nejbet, como mulher tocada
com a tiara branca, ou em forma de abutre que voava sobre a cabeça dos reis, era a deusa protetora do
Alto Egito.
Hathor, além de ser a vaca criadora de tudo o visível e a protetora das mulheres e a maternidade,
também estava situada no limite entre as terras férteis e as secas, oferecendo das figueiras a água e o pão
aos mortos que se aproximavam do seu terreno para fazer-lhes saber que eram bem-vindos.
Se a alegre e feliz Hathor tinha a forma de uma vaca, o seu animal companheiro devia ser o muito
relevante deus Á pis, o boi divino adorado desde os primeiros tempos da existência do Egito, embora
não chegasse à sua categoria celestial. Não é de admirar esta representação animal dado que todos os
deuses egípcios tinham uma característica animal que geralmente portavam nas suas figurações em lugar
da cabeça humana, quer fosse uma de falcão, como no caso de Hórus; de chacal ou cão, como a que
distinguia Anúbis; de leoa, como a que personificava a deusa Sekhmet; de vaca, como às vezes levavam
Ísis e Neftis; de bode, como podiam luzir Ra e Osíris; a cabeça de gato que diferenciava Bast e Mut; a de
ganso que era a de Amon; o íbis e o macaco que encarnavam o supremo Tot; o escorpião que
representava o espírito da deusa Selket, ou o fênix triunfal, que era a melhor forma de dar a conhecer a
eternidade da alma dos dois grandes deuses Ra e Osíris. Mas o boi Á pis era um verdadeiro animal,
selecionado entre os seus congêneres de acordo com umas marcas sagradas que deviam exibir, para
servir de centro do seu culto; era cuidado no seu templo de Mênfis durante vinte e cinco anos, se
chegasse a alcançar tal idade, depois era afogado e mumificado, para dar lugar ao seu sucessor. Mas
junto da magnificência do boi Á pis, não há que esquecer o escaravelho sagrado, o Jepri, representação
viva e múltipla do deus do sol e venerado em todos os cantos do Egito, sendo uma das representações
mais freqüentes da divindade solar, que faz parte essencial da civilização egípcia e que está imortalizado
entre os signos escolhidos para a linguagem escrita.
Como pudemos ver, na envolvente da muito importante civilização egípcia se gera grande parte
dos conhecimentos que vão fazer parte das culturas mediterrâneas. Como é natural, também no Egito
nascem grande parte dos mitos recolhidos posteriormente pelos povos próximos, por hebreus e cristãos
na Bíblia e pelos muçulmanos no Corão. Egito é o berço da gênese hebraica, é a primeira cultura que
trata de sintetizar a criação do mundo e o seu barro original, é aceita para explicar também os diferentes
credos que se elaboram a partir do seu.

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Egito é, sobretudo, o berço indiscutível do monoteísmo, do futuro deus único; do Egito, esta
proposta sai para o norte com os hebreus que viviam e trabalhavam para os faraós; os cristãos retomam-
na e os muçulmanos elaboram-na com novos dados, conservando o núcleo dos relatos bíblicos e
acrescentando os elementos cristãos posteriores na sua singular recopilação do relato dos livros santos;
também lá, com Set e Osíris, está a origem do mito de Caim e Abel como o vai estar o de Maria, nos
primeiros séculos do cristianismo, da diocese de Alexandria, como mãe do menino Jesus, à qual se passa
a denominar Rainha dos Céus, aproveitando o fervor que esta imagem levanta nos fiéis egípcios,
mantendo-a igual a Ísis quando era adorada com o seu filho-irmão Osíris nos braços como prova do seu
contínuo renascimento. Ainda mais importante: a vida depois da morte é outra das grandes idéias, talvez
a fundamental, sobre as quais gira o espírito religioso egípcio, e essa promessa de vida eterna de uma
melhor vida para os justos.
Se quer encontrar a melhor aportação da mitologia egípcia às religiões posteriores, há que procurá-
la na grande esperança que implica o seu sistema de julgamento dos seres humanos.
A recompensa imensa que os sucessivos deuses únicos (Jeová, a Trindade, Alá) vão oferecer aos
hebreus, aos cristãos e aos muçulmanos, é a mesma que se descreve no Egito com o relato do
julgamento de Osíris e a possibilidade da eternidade feliz; ao sair do seu contexto faraônico original
democratiza-se e torna-se acessível a todos os fiéis por igual, ou mais concretamente, é oferecida com
maior segurança a quem mais sofre, a quem menos possuí e desfruta nesta vida terrena, sendo a de
Osíris a primeira idéia que o homem forja sobre a existência de um ser superior que tem que julgar os
méritos e deméritos de cada um de nós.
Com Osíris estão os seus quarenta e dois assessores, e deles nasce e fortalece-se a idéia do pecado
estabelecido, a regra da religião exata e canônica, que toma corpo nos livros que no futuro querem ser
norma inapelável. Para os cristãos, as tríades dos deuses egípcios (Osíris, Ísis e Hórus, ou Amon, Mut e
Jons) consolidam-se e mantêm-se no conceito trinitário do seu deus. Egito, inicialmente isolado pelo
deserto e pelos terrenos pantanosos do Delta, abre-se aos gregos e aos romanos e, através de Roma, a sua
última dominadora, após a guerra entre os dois grandes rivais na luta pelo Império, Julius Caesar e
Marcus Antonius, junto de Cleópatra, a rainha grega dos últimos dias da sua existência independente e
grandiosa, termina por exportar para o Oriente próximo e para o Ocidente inteiro a base do seu ideário
mítico, quando parece que o seu poder já se extinguiu para sempre.
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MITOLOGIA CHINESA

Quanto à mitologia de todo este vasto território do continente asiático, pode constatar-se que,
realmente, talvez seja uma cópia da própria organização hierarquizada da sociedade chinesa, pois assim
como havia um governante máximo à frente de cada dinastia, também devia adorar-se um deus único e
supremo, o qual recebia, ao mesmo tempo, obediência e reverência por parte das outras deidades.
Alguns dos seus chefes religiosos foram considerados, entre a legendária população chinesa, como
seres imortais ou encarnações da denominada "Origem Primeira", deidade que fazia parte de uma
trindade de deuses com poderes para vencer o mal e os seus representantes. No entanto, o panteão chinês
conta com uma grande variedade de deuses. E até os fundadores de grandes movimentos religiosos
tiveram em conta o ancestral -rico e variado- de todos os estados feudais assentados em território chinês,
para confeccionar os seus dogmas e assertos. A povoação agradeceu, na prática, este detalhe dos seus
iluminados, pois elevou à categoria de mito tanto o autor como a sua obra. Deste modo, arraigará entre a
população o mítico conceito denominado "tan", cujo simbolismo é tão rico que ultrapassa a sua origem
primigénia; "tan" significa "caminho", "via". É um princípio guiador de tudo quanto existe e do universo
inteiro. Pelo "tan" há verdade, e sabedoria, e harmonia. Sucede a mesma coisa com a introdução da
moral como único aspecto regulador de qualquer relação social, quer seja pública ou privada, que
deveria desembocar, por obrigação, numa ética do altruísmo, do desprendimento, da solidariedade, do
respeito e da tolerância entre os humanos.
Tratar-se-ia de erradicar a beligerância, o ódio e as guerras e, ao mesmo tempo, substituí-los pelo
amor universal e a paz. Há que acrescentar, além do mencionado, outros aspectos que completarão este
panorama, real e mítico ao mesmo tempo. A população deste imenso território chinês também adorava
os fenômenos da natureza, as suas forças desatadas; comemorava o espírito dos antepassados; acudia a
consultar os oráculos e participava de um ritualismo rico em sacrifícios e esoterismo mágico. Muito
especialmente, se pretendia uma longevidade perene -o mito da eterna juventude- que, mais tarde,
aparecerá em todas as outras culturas e civilizações, especialmente na mitologia greco-latina. A verdade
é que o povo chinês tinha um deus especialmente dedicado a procurar juventude e viçosidade a todos os
que lho rogassem e, por isso, lhe ofereceram contínuos sacrifícios e preces. Esta deidade chamava-se
Cheu-Sing e era a encarregada de guardar a vida dos humanos, pois, entre outras coisas, tinha poder para
fixar o dia em que tinha de morrer uma determinada pessoa. Mas, segundo a crença popular, se podia
mudar a vontade deste deus oferecendo-lhe sacrifícios e participando nos diversos rituais na sua honra.
Tudo isto indica que era possível estender os anos de vida, bastava que Cheu-Sing prolongasse a data
que tinha marcado de antemão e, pelo mesmo motivo, ampliasse, assim, o tempo de vida daqueles
mortais que mais fidelidade lhe tivessem demonstrado.
No entanto, segundo as narrações mitológicas do povo chinês, há uma deidade superior, criadora
do mundo e de tudo quanto existe, rei dos mortais e dos outros deuses. Recebe o

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nome genérico de "Venerável Celeste da Origem Primeira" e há já muito tempo –uma eternidade- que
delegou todo o seu poder num dos seus discípulos e, ao mesmo tempo, segundo dos três deuses -
denominados os "Três Puros"- que compõem a trindade chinesa. O nome deste deus, que realiza a
pesada tarefa que lhe encomendou o seu mestre, é "Senhor do céu". E chegará um dia em que também
ele deixará que o seu sucessor leve a cabo o trabalho de ordenar e governar o universo inteiro. Mas, por
agora, é o último dos "Três Puros", e é um deus que se evoca pelo nome de "Venerável Celeste da
Aurora". Para levar a cabo a ingente tarefa encomendada pelo primeiro dos deuses, o seu discípulo
contava com a ajuda de outras deidades afins. Por exemplo, narra o relato mítico que o segundo dos
deuses, isto é, o "Senhor do céu", delegava determinadas funções no "Segundo Senhor", um deus muito
célebre e popular porque travava, a quem o invocava, os maus espíritos. Enviava contra estes o "Cão
Celeste", que os perseguia com raiva e não permitia que assustassem os humanos. Também havia deusas
de segunda ordem que tinham como missão predizer a possibilidade de casamentos estáveis. A elas
acudiam muitos jovens para consultá-las acerca das qualidades do seu futuro marido e também sobre a
conveniência ou não de casar-se.
O anterior não faz senão avaliar a teoria defendida por quase todos os investigadores da mitologia.
Estes, com respeito às lendas chinesas, afirmam que o imanente e o transcendente são uma mesma coisa,
dado que, realmente, a organização entre os deuses é similar à estrutura da sociedade dos humanos.
Aqueles se servem de outros mais inferiores para levar a cabo as suas tarefas mais custosas; sucede a
mesma coisa entre os mortais, pois os governantes se servem de subordinados -ministros, funcionários,
etc.- para levar a cabo as suas realizações em pró do bem geral do seu povo. Tanto os deuses como os
governantes devem procurar o bem material e moral dos humanos, pois, caso contrário, o universo e o
mundo albergariam unicamente ruindade e desgraça. Portanto, segundo explicam as narrações dos mitos
chineses, a atenção e a própria existência dos deuses e dos governantes são absolutamente necessárias.
Mas os governantes têm que demonstrar sabedoria em todos os seus atos. E os deuses devem
cumprir com diligência a missão que lhes foi encomendada pelos seus mestres ou pelos deuses
superiores. E, assim, existiam deidades que se encarregavam de apontar as boas e más ações dos
humanos e, ao mesmo tempo, deviam procurar levar ao mundo dos mortais a maior felicidade possível.
A encomenda de distribuir paz, felicidade e alegria entre os humanos era uma tarefa invejável que
nenhuma deidade eludia.
Outros muitos deuses menores ajudavam a deidade superior "Deus do céu"; era o seu dever e a sua
única função. Deste modo, o paralelismo com a estrutura da sociedade humana era uma realidade
tangível, pois estes deuses inferiores cumpriam os mandatos da deidade que estava por cima deles e esta,
por sua vez, devia obediência à seguinte de grau superior. Assim até chegar ao mais poderoso de todos,
por cima do qual ainda existia outro deus que tinha delegado nele as suas funções -a pesada carga de
governar- mas que, não obstante, continuava sendo o mais poderoso de todos os deuses do panteão
chinês. O mundo mitológico, portanto, tinha sido construído de acordo com os mesmos critérios usados
nas próprias sociedades humanas. Aqui, o soberano -que tinha por cima dele os deuses- organizava o seu
território e publicava as suas leis com a ajuda -com certeza, obrigatória- dos seus súditos, que se
encontravam perfeitamente organizados por categorias e deviam cumprir fielmente os mandatos dos
seus superiores. Portanto, humanos e deuses se organizavam sob uma estrutura similar; daqui que,
segundo a mitologia chinesa, até as mais fúteis funções se encontravam encomendadas a uma deidade.
Por exemplo, quando os cidadãos tinham cometido faltas graves contra os seus congêneres, ou contra os
deuses da sua tribo, deviam elevar súplicas à deidade que perdoava os pecados e que conferia, de novo, a
paz de espírito aos que já tinham sido purificados.

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A população da ancestral China chamava Ti-kuan ao deus que perdoava os pecados e, segundo a
crença popular, era o "Agente da Terra" que formava tríade com outros dois deuses; o "Agente do céu" e
o "Agente da água". Todos os desejos, e necessidades, dos humanos ficavam satisfeitos assim que estes
invocavam o deus apropriado. Por tudo isso, o número de deuses familiares era considerável. Mas não
só cada casa, mas também os bairros, circunscrições, povoações, cidades e territórios contavam com os
seus deuses protetores. As próprias deidades se ocupavam de que tudo funcionasse perfeitamente; e
assim os deuses do lugar guardavam a terra, a rua, a casa e todos os seus moradores. Em todos os lares
havia uma imagem do "Deus do lar" que, geralmente, aparecia sob a figura de um ancião com barba
branca. No desenho -impreciso e carregado de colorido aberrante- aparecia também uma mulher, que se
venerava como esposa do "Deus do lar", rodeada de animais domésticos, tais como porcos, galinhas,
cães, cavalos, etc., que cuidava e dava de comer. Nestes desenhos, que os chineses colocavam no
interior das suas casas para adorar o verdadeiro espírito das figuras que lá apareciam, o artista tinha
respeitado também a essência hierárquica da mitologia destes povos do longínquo oriente, pois a
verdade é que, em qualquer caso, o "Deus do lar" permanecia sempre sentado e relaxado sobre um
colorido trono. Em compensação, a mulher estava em pé, preocupando-se dos labores domésticos, neste
caso do cuidado dos animais que havia em casa. Isto indica que o "Deus do lar" tinha subalternos, por
assim dizer, nos quais delegava a sua própria função de cuidar pessoas e fazendas.
A mitologia chinesa conta com um lugar de perdição, similar ao que entre os greco-latinos se
denominará Tártaro, Hades ou Inferno. Segundo a tradição popular chinesa, a alma dos mortais é
conduzida a esse lugar de perdição para ser julgada e, como no mito clássico aparece o feroz cão
Cerbero custodiando as gigantescas portas do Tártaro, também aqui há um encarregado de controlar a
passagem para o interior de tão tétrico lugar: o "Deus da Porta". Se tudo estivesse em regra, a alma podia
passar e toparia imediatamente com o deus de "Muros e Fossas", que era o encarregado de submetê -la
ao primeiro, e mais benigno, dos julgamentos.
No entanto, os interrogatórios duravam perto de cinqüenta dias -exatamente quarenta e nove, que
era um número pleno de conotações simbólicas entre muitos povos do extremo oriente:
"Este é o prazo de que necessita a alma de um morto para alcançar definitivamente a sua nova
morada. É a terminação da viagem", durante os quais a alma permanecia retida nos domínios do deus de
"Muros e Fossas". Este pode condená-la ou deixá-la em mãos do seguinte juiz. Se acontece o primeiro, a
alma pode ser açoitada ou atada pelas suas extremidades superiores a uma tábua que a aprisiona o
pescoço.
De qualquer maneira, a alma terá que passar, agora, à presença do "Rei Yama", que se encarregará
de decidir, após um novo interrogatório, se aquela é uma alma justa ou um alma pecadora. Se for o
primeiro, a alma será enviada para um dos paraísos chineses -o que se encontra na "Grande montanha"
ou o denominado, de maneira pomposa, a "Terra da Extrema Felicidade de Ocidente", onde gozará de
liberdade e felicidade eterna-, dado que aqui tudo se encontra embebido da presença do Buda. Se, pelo
contrário, o "Rei Yama" sentenciou que se trata de uma alma pecadora então esta será arrojada para o
abismo dos infernos para que lá purgue as suas culpas. Depois de sofrer dores e castigos sem fim, a alma
chegará, por fim, ao décimo lugar de perdição. Uma vez aqui será obrigada a reencarnar-se e poderá
escolher entre um animal ou um humano. Se se reencarnar num animal, nem por isso perderá o seu
antigo sentir humano e, pelo mesmo motivo, sofrerá quando a maltratem ou quando a matem. Por
exemplo, pôde escolher renascer como porco e, portanto, não durará muito sem ser sacrificado, em cujo
caso a dor do animal é a mesma que sentiria o humano ao qual pertencia a alma antes de reencarnar-se.
No entanto, ninguém reparará nisso pois o porco não poderá exprimir a sua dor e o seu sofrimento, de
forma humana, dado que a alma reencarnada, antes

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de sair do décimo Inferno e dirigir-se para o lugar onde se encontra a "Roda das Migrações", deve beber
o "Caldo do Esquecimento" para, assim, guardar segredo obrigatório -pois nada do passado poderá já
então recordar- de tudo quanto lhe aconteceu na sua digressão infernal. Esta beberagem, segundo a lenda
dos povos do longínquo oriente, era preparada pela deusa que habitava na misteriosa casa edificada à
saída do Inferno. Todas as almas que abandonassem aquele lugar de perdição tinham que beber o "Caldo
do Esquecimento" pois só então lhes seria permitido continuar para a frente e chegar à "Roda das
Migrações", para assim consolidar a sua reencarnação.
Algumas versões explicam, não obstante, que as almas dos mortos, antes de chegarem à presença
do deus de "Muros e Fossas", recebiam a ajuda de Abida, deidade que tinha encomendada a tarefa de
aliviar a todos os humanos à hora da morte, pois acolhia as almas puras e purificava as impuras.
Também se diz que o Tártaro era um lugar de perdição, sim, mas constituído por cidades cheias de
funcionários e também de vários edifícios que eram como sedes dos diferentes tribunais perante os quais
tinham que comparecer as almas dos mortos para serem julgadas. O próprio palácio do Rei Yama
encontrava-se numa das cidades principais do mundo infernal e, ao lado deste soberbo -e, ao mesmo
tempo, tétrico edifício- se levantavam as diversas edificações que albergavam no seu interior as terríveis
câmaras de tortura e suplício. Esta mítica cidade chamava-se Fong-tu e tinha uma entrada principal,
denominada "Porta do Mal"; no extremo oposto, ficava protegida e resguardada por um pustulento rio
-posteriormente, também entre os mitos greco-latinos aparecerá o rio Aqueronte, cujas turvas, lodosas e
fedorentas águas, rodearão o lugar de perdição chamado Tártaro, que contava com três pontes, as quais
constituíam outros tantos acessos a Fong-tu, embora pelo lado contrário desse para a zona principal. A
primeira ponte estava construída em ouro maciço e só os deuses podiam atravessá-la. A segunda ponte
era de prata e estava reservado às almas que tinham sido justas.
A terceira ponte era muito mais comprida e estreita do que as anteriores e atravessá-la resultava
perigoso, pois carecia de corrimões para se agarrar. As almas que tinham sido perversas e viciosas
estavam obrigadas a atravessá-la e, se caíssem no fedorento rio, seriam imediatamente trituradas por
monstros que tomavam a aparência de serpentes de bronze e de raivosos cães de ferro. A mitologia dos
povos do longínquo oriente contava, também, com lugares de felicidade e de dita, isto é, com paraísos.
Como já se indicou, o da "Grande Montanha" era um deles. O outro era a "Terra da Extrema Felicidade
de Ocidente", e, geralmente, era o lugar escolhido por "Rei Yama" para enviar aquelas almas dos
mortais que tinha encontrado inocentes e que, pelo mesmo motivo, considerava justas. O primeiro dos
paraísos estava habitado pela "Dama Rainha" (a quem a tradição mítica fazia esposa do poderoso
"Senhor do céu" que, no cimo da montanha mais alta, tinha construído o seu grandioso palácio; este era
um edifício fabuloso -contava com mais de nove andares-, rodeado de jardins com plantas e flores
aromáticas e permanentemente verde. Aqui crescia, oculto num lugar recôndito, a mítica "Á rvore da
Imortalidade"; dos seus frutos se alimentavam os bem-aventurados, isto é, aqueles que tinham levado
uma vida reta e justa e que, portanto, não tinham enganado nem maltratado nenhum dos seus
semelhantes. Por tudo isso lhes era permitido conviver com as deidades denominadas "Imortais". Era
muito comum, entre as altas esferas da sociedade chinesa, tais como os seus monarcas e classes
poderosas, dar culto –nos inícios da primavera e da estação outonal- ao Céu, à Terra, ao Deus da Guerra
e ao grande mestre Confúcio. Também as duas luminárias eram objeto de adoração entre a população do
ancestral território do extremo oriente.

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Tanto o Sol como a Lua eram astros considerados como personificações de certas deidades. E não
só os imperadores e a classe poderosa mas também o povo apoiava o culto às citadas luminárias; pelo
qual a veneração à Lua e ao Sol ficava convertida, ao mesmo tempo, em culto oficial e popular. Eram
ofereciam sacrifícios aos citados astros coincidindo com ano par ou ímpar. Os anos ímpares estavam
consagrados ao Sol e os anos pares à Lua. Ambas as luminárias apareciam também relacionadas com os
dois princípios essenciais. O Sol era princípio ativo e, portanto, era associado com o "Yang"; ao passo
que a Lua era princípio passivo, pelo qual aparecia sempre relacionada com o "Yin". Para a população
chinesa, estes dois princípios tinham uma importância capital. Se concebia a eternidade como um círculo
que carecia de um princípio e que não tinha fim. O "Yang" e o "Yin" estavam dentro dela, como duas
forças que se necessitam mutuamente e, pelo mesmo motivo, em vez de opor-se, se complementam. Na
mitologia dos povos do extremo oriente, portanto, tudo se encontra estruturado com antecedência -não
há lugar para improvisações e se rejeita qualquer tipo de intuição-, e classificado em itens que se
sobrepõem, a maneira de arquivo, para dar lugar a emoções, paixões, tendências e necessidades.
Outros mitos dos povos orientais -especialmente entre a população que seguia os ensinos de Buda,
o "Iluminado"- explicavam que o Tártaro se encontrava num lugar escuro e subterrâneo e, segundo a
crença popular, tinha umas características bastante contraditórias. Havia oito infernos de fogo e outros
oito de gelo. E ambos produziam nos condenados torturas pelo calor ou torturas pelo frio. No entanto,
também existiam -distribuídos em cada um dos quatro pontos correspondentes aos infernos principais,
tanto de fogo como de gelo- outros lugares de perdição inferiores que, em ocasiões, supriam os dezesseis
principais. Contudo, não se sabia com certeza o sítio exato onde estes lugares de perdição iam surgir.
Apareciam tanto-o que sempre sucedia de forma repentina- na profundidade de um vasto e verde vale
como no pico de uma montanha; até uma árvore milenar podia converter-se subitamente em sede de um
destes infernos inferiores. À s vezes surgiam no próprio espaço e o ar abrasava ou gelava os condenados.
Por outro lado, todas as condutas estavam controladas pelos ajudantes e funcionários do "Juiz do
Averno", que se sentava num trono duro encaixado entre duas estantes de pedra. Na da sua esquerda
encontra-se o "Julgador que vê tudo"; é uma figura feminina que penetra com a sua vista no mais
recôndito do pensamento daqueles que comparecem para serem julgados. À direita situa-se o "Julgador
que cheira tudo"; trata-se de uma figura masculina que tem como função descobrir, com o seu fino
olfato, qualquer ação injusta ou imoral que tenha cometido o mortal que comparece para ser julgado.
Portanto, como se pode comprovar, não há escapatória possível para os condenados, dado que todas as
suas ações foram "vistas e cheiradas".
Embora, para reduzir a pena, estivesse permitido que os vivos intercedessem em favor dos
condenados, o que requeria sempre uma atuação inteligente e um mestre budista como mediador. Toda a
natureza, segundo a tradição popular, devia ser cuidada e mimada e resguardada, e preservada de
qualquer mal, dado que através dela se manifestavam as diferentes deidades. Fenômenos naturais como
o raio, o trovão, a chuva torrencial, o vento forte..., deviam a sua aparição a uma deidade menor. E,
assim, Yun-t Ong tinha a função de reunir as nuvens, depois de tê -las formado, e era invocado com
certa freqüência como o "jovem deus que reúne as nuvens". Também contavam os povos do extremo
oriente com a "Dama do céu Sereno", que tinha a missão de limpar todo o espaço, uma vez que a chuva
parava. Se dizia que afastava as nuvens com o seu hálito purificador. Outra deidade, considerada como
um agente celeste, era Tien-kuan, que se encarregava de levar ao mundo dos humanos a maior felicidade
possível. Em ocasiões era associada com a "Mãe dos Relâmpagos" e, então, recebia o nome de Tien'mu.
A lenda dos povos do extremo oriente

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explica que Tien'mu produzia o raio servindo-se de dois espelhos. Também o ruído ensurdecedor do
trovão era produzido por uma deidade menor; recebia o nome de "Senhor do trovão" e, por isso, estava
considerado como o amo e dono do ruído.
Também se venerava, especialmente entre as classes poderosas, o deus da riqueza. Em quase todas
as casas dos ricos havia não só um desenho com o nome do deus gravado em caracteres ideográficos,
mas também uma efígie representativa da deidade. Deste modo, sempre o consideravam próximo deles e
podiam dirigir-lhe as suas preces com assiduidade, na crença de que, assim, nunca se veriam reduzidas a
sua fortuna e o seu patrimônio. O deus das riquezas era conhecido pelo nome de T'saichem; o seu poder
era superior ao das outras muitas deidades similares e até tinha designados numerosos deuses para o
servirem e levarem a cabo as tarefas que aquele considerasse mais duras e difíceis. Outro aspecto muito
importante, que também estava regulado e protegido por uma deidade, era o estamento familiar com
todas as suas implicações. A intimidade da família, e as relações pessoais entre todos os seus membros,
ficavam a salvo de críticas adversas, proferidas por pessoas não integrantes do grupo familiar. De tudo
isto se encarregava o deus T'sao-Wang e, em troca, recebia todos os dias o reconhecimento dos seus
protegidos. Era freqüente, entre as famílias da população do extremo oriente, honrar o deus que se erigia
em seu protetor, por meio de um ritual que consistia em queimar varetas de incenso, ao mesmo tempo
que se invocava o nome do deus T'sao-Wang, duas vezes; uma quando começava o dia e outra ao
anoitecer.
Cada profissão, ofício e trabalho, tinham a sua deidade protetora. Entre todos estes deuses, a
tradição popular destacava o deus das letras e da literatura, ao qual se atribuía uma obra de conteúdo
simbólico e emblemático. Era conhecido pelo nome de Wen-t'chang e, segundo a lenda, antes de chegar
a obter a distinção de protetor das letras e da literatura já tinha passado por dezessete existências; o
dezessete estava concebido, entre os orientais, como um número repleto de significação mágica e
esotérica. O livro que tinha escrito o próprio deus era, por assim dizer, uma espécie de biografia e nele
se indicava o dado das dezessete reencarnações, ou novos nascimentos. Também se davam pautas a
seguir para agir com moralidade e retidão e, geralmente, se louvava o saber e a inteligência sobre
quaisquer outros aspectos. Segundo a mitologia dos povos do extremo Oriente, a interpretação dos
caracteres ideográficos do livro escrito pelo deus Wen't-chang leva a considerar à sabedoria por cima de
quaisquer outros aspectos. Mediante o saber e a inteligência se pode superar qualquer obstáculo e, ao
mesmo tempo, equilibrar qualquer sofrimento. A sabedoria, segundo explica na sua obra o deus das
letras e da literatura, é como uma espécie de "Candeeiro da câmara escura", o que significa que até nos
momentos mais difíceis da vida, quando vemos tudo negro, quando nos achamos encerrados na "Câmara
escura" deste mundo dos mortais, sempre existirá a luz do "Candeeiro" que proporciona o saber e a
inteligência para, assim, tornar possível uma nova procura, uma solução inédita. Outro dos deuses
principais que a população oriental venerava recebia o nome de Fo.
Este era um deus superior aos anteriores, pois ocupava o primeiro lugar entre as outras deidades
que compunham a tríade da Felicidade. A sua importância, dentro da mitologia chinesa, era acrescentada
porque representava, ao mesmo tempo, a Hierarquia, a Fortuna e a Honra. A ele acudia quem sentia o
peso de um destino e um azar adversos; também os governantes solicitavam de Fo que os guiasse no
momento de legislar, para que nenhuma norma injusta saísse da sua cabeça nem fosse permitida no seu
reino. Era solicitado, além disso, por todos aqueles que tinham sido objeto de escárnio e desonra,
mediante engano. Ao parecer -e segundo a crença popular-, Fo devolvia-lhes a sua honra perdida, pois
por algo era um deus principal. O mito relativo a este deus poderoso nos fala do seu nascimento

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portentoso, da forma em que surgiu da costela direita da sua mãe que, segundo conta a lenda, tinha
sonhado antes que um belo elefante branco a possuía.

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MITOLOGIA INDIANA

Nos assentamentos urbanos do vale do Indo, entre os restos da civilização precursora de Harappa,
nas ruínas das altamente evoluídas cidades de Harappa e Mohenjo-Daro, encontraram-se as imagens em
terracota e em selos de cerâmica de diversas divindades que bem podem considerar-se como precursoras
das posteriores representações bramânicas. Esta cultura, que já se comunicava regularmente com a
mesopotâmica no século XXIV aC, tinha o touro como animal emblemático principal, dada a
abundância das suas representações, certamente como garante da fecundidade e como símbolo da vida
após a morte; o touro ou boi sagrado compartilhava a sua popularidade, a julgar pelo número de
achados, com uma deusa-mãe que também estaria a cargo da proteção da fecundidade, de um modo
similar ao que o faria séculos mais tarde a deusa Devi, esposa de Siva, uma figura da qual esta deusa
inominada do vale do Indo pôde ser antecessora. O ubíquo e predominante touro sagrado aparece
também em outras representações de perfil perante uma pira ritual, como o fará depois uma das
advocacias de Siva, Nandi; assim como outra representação do touro sagrado, em lugar preeminente
junto de outros animais, pode ser, por sua parte, assimilada à posterior advocacia de Siva como protetor
dos animais, o deus Pashupanti. Outros animais emblemáticos terrestres e aéreos também aparecem
profusamente na cerâmica de Harappa, e são, naturalmente, os mesmos elefantes, tigres, serpentes,
búfalos, águias, macacos, etc., que continuarão sendo parte importante das personificações zoomórficas
dos deuses do panteão indiano.
Mas a primeira aparição histórica é a que nos vem colhida pelos Vedas, as obras escritas em
sânscrito do ritual religioso elaboradas pelos arianos, um povo chegado à Índia vindo do noroeste entre
os séculos XVI e XIII (aC). No grupo dos "arya", dos nobres, estavam as três castas dos bramanes ou
homens da religião, os ksatriya ou guerreiros, e a última casta dos vaisya ou povo; com eles, mas a uma
grande distância social, estavam os sudra ou vassalos, os que não eram "arya", mas iam junto dos
nobres. Esta obra do Veda, do conhecimento, que começa com o livro do Rig Veda, livro que se devia
ter escrito para o século XX (aC), se continua com o Yajur Veda, contendo o primeiro ritual, o Sama
Veda, no qual figuram os cantos religiosos, e o Atarva Veda, o tratado da religião íntima para uso
privado dos fiéis. O Rig Veda, com mais de 1.000 hinos e 10.000 estrofes, nos fala de um Universo
composto por duas partes: Sat e Asat. Sat é o mundo existente, a parte destinada às divindades e à
humanidade; Asat, o mundo não existente, é o território do demônio. Em Sat está a luz, o calor e a água;
em Asat só há escuridão, porque os demônios vivem nela, na noite. O Sat, o mundo visível e existente,
está composto por três esferas: a superior do firmamento, o ar que está sobre as nossas cabeças e o solo
do planeta onde vivemos. Mas a criação deste Universo não foi só um ato gratuito, um ato de vontade
divina; pelo contrário, a construção do mundo que agora habitamos necessitou de uma luta heróica e
decidida entre as forças do ar e as forças da matéria, porque o Universo é um lugar belo que só se pô de
conseguir com o esforço que representa o combate entre as forças do bem e as forças do mal.

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Entre os assura, os seres espirituais, havia uma grande rivalidade que se manifestava na briga entre
os deuses aditya e os demônios raksa. Esta briga desembocou, finalmente, numa luta que resolverá o
domínio do mundo dos assura, através do confronto direto entre os campeões dos dois bandos, entre o
deva Indra, um filho do Céu e da Terra, que morava no ar, e Vritra, o dono dos materiais necessários
para construir o Universo. O deva, o deus Indra, era um aditya escolhido pelos seus companheiros para
representá-los no combate no qual devia vencer o seu campeão de uma vez por todas. O seu oponente,
Vritra, era um danava ou raksa; o seu antagonismo vinha de longe, até tal ponto que se tornou necessário
chegar a iniciar o combate definitivo, aquele do qual sairá o chefe indiscutível. O deva Indra, após beber
a bebida sagrada, o soma, cresceu tanto que os seus pais, Céu e Terra, tiveram que afastar-se para lhe
deixar espaço; por isso ele habitava no ar da atmosfera que ficou aberta com a sua separação.
Indra foi armado com o raio (vayra) por Tvastri, o ferreiro dos deuses, e fortaleceu-se ainda mais
tomando outros três grandes jarros de soma, mas a luta foi longa e difícil, porque Vritra, onde andava o
filho de Danu, era nada menos que uma gigantesca serpente que vivia nas montanhas, dado que é sabido
que as forças do mal gostam de tomar o aspecto da serpente.
Indra, com ou sem a ajuda de Rudra e dos maruts, divindades do vento, que nisso há versões
diferentes, combateu Vritra até conseguir destroçar-lhe o lombo com o vayra; e não se deu por satisfeito,
pois Indra também acabou com a mãe Danu, que caiu ao morrer sobre o cadáver do representante do
mal. Mas do mal nasceru o bem e, assim, do seu ventre nasceram as águas da terra, até encherem os
oceanos, de cujo calor saiu o Sol; e com o Sol, o ar, a terra firme e os oceanos, já foi possível construir o
Universo, pois se possuíam todos os materiais requeridos, e se deu forma definitiva ao Sat dos deuses e
das suas criaturas, enquanto o Asat invisível ficava para sempre afastado e relegado à sua não-existência.
Os três deuses encarregados de velar pelo Sat desde o momento da sua criação são Dyaus, Indra e
Varuma. Dyaus está a cargo da primeira esfera cósmica, a concavidade do firmamento; Indra da
segunda, do ar da atmosfera e dos elementos e meteoros que nela acontecem; Varuma encarrega-se da
terceira esfera, da qual a ordem cósmica estabelecida rege na terra. Indra, o aditya Vritahan, o campeão
aditya que matou Vritra, já o conhecemos pela sua façanha de libertar as águas e construir o mundo.
Dyaus Pitr, o Céu Pai, é o esposo do fecundador de Prtivi Matr, a Terra Mãe; Dyaus o Grande é o
espírito benfeitor supremo do dia e da luz. Varuma, o deus que está em todos os lados, é também o chefe
dos adityas, os filhos de Aditi, a deusa virgem do ar; Varuma cuida do rito da verdade divina, e fá-lo
zelosamente da Terra e da Lua, isto é, mantém-se vigilante no dia e na noite, ajudado na sua constante
missão protetora pelas estrelas como zelador que é da ordem sagrada no Universo visível, do Sat,
embora o deus solar Mitra siga substituindo-o nas tarefas diurnas, de um modo auxiliar, pelo menos na
Índia, dado que o Mitra transferido para o Ocidente, primeiro através da Babilônia e mais tarde da
Pérsia, converte-se num deus principal. Varuma é o deus sábio que conhece tudo o que já aconteceu e
tudo o que tem de suceder. Da sua garganta brotam as águas das sete fontes do céu, de onde vêm à terra
para formar os grandes rios do planeta.
Dyaus Pitr, donde talvez sairá o Zeus grego, é o deus supremo do Céu. Varuma também velava
pelos mortos, paraíso no qual reina junto com o primeiro humano nascido e falecido, o bom Yama, e
com a sentinela dos dois cães protetores das almas, Syama e Sabala. O deva Indra, desposado com a
deusa Indrani, era uma divindade caprichosa, embora fosse o deus principal dos humanos, e os seus
caprichos manifestavam-se com mulheres, homens ou animais, tanto que a divindade Gautama teve que
enfurecer-se com a sua atitude e chegou a desmembrá-lo, embora mais tarde os seus divinos
companheiros se ocupassem de recompor o seu corpo desfeito.
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Entre os aditya estavam também Mitra, do qual já se falou, Baga, Amsa, Daksa e Aryaman, junto
de Indra e Varuma, formando o septeto básico; também se costumava pôr um oitavo aditya, o errante
Martanda, que, com o seu contínuo andar pelo céu, era simplesmente uma divindade astral, o Sol, Surya,
desposado com a deusa da Aurora, Uchas, uma deusa bondosa e benfeitora. A serviço dos adityas
estavam os cavaleiros ou Asvins, divindades menores que tinham os seus domínios na escuridão de cada
noite, dispensadores do orvalho no seu correr celestial e outorgadores de muitos mais bens espirituais e
corporais. Os centauros Gandharva vigiavam o sumo sagrado do Soma, que era, além disso, outro deus
de importância nas cerimônias sagradas. Estes centauros Gandhava eram do mesmo modo umas
divindades tutelares das almas emigrantes na metempsicose. Os Gandharva estavam unidos às mais
belas divindades, as perturbadoras Apsara, ninfas da água e concubinas dos deuses maiores.
Precisamente um Gandharva, Visvavat, foi o pai do primeiro mortal. Visvavat estava casado com
Saranya, a filha do ferreiro dos deuses, Tvachtar, o mesmo que proporcionou o raio a Indra para lutar
com Vritra. Deste casamento nasceram Yama e a sua irmã gêmea, e esposa, Yami. Os Gandharva
também se ocupavam da escolta do deva Kama, deus do amor e esposo de Rati, deusa da paixão
amorosa. Na mitologia bramânica, Kama, foi morto por Siva, dado que tinha tentado distraí-lo nas suas
meditações, seguindo as maliciosas instruções da mutante deusa Parvati, esposa de Siva; mas foi
devolvido à vida pelo mesmo Siva, ao ouvir a pena que invadia a apaixonada viúva Rati. Depois da sua
misericordiosa ressurreição, Kama passou a tomar a nova denominação de Ananga.
Os Marut, os deuses dos ventos, filhos do deus Rudra e da deusa Prasni, tinham grande poder,
tanto como o dos temporais devastadores que vinham das montanhas, ou o dos ventos carregados de
água benéfica que apareciam estacionalmente na época das chuvas, que era simplesmente o urinar dos
cavalos de Rodasi, a outra esposa do seu pai Rudra, ou o da sua mãe, a vaca Prasni. Mas os Marut não
estavam sozinhos no reino dos ares, pois o deus Savitar era quem fazia com que se levantasse o vento, se
pusessem em movimento os raios do sol e fluíssem as águas dos rios, porque ele próprio era o
movimento e até o próprio Sol, embora então tomasse o nome de Surya. O deva Puchan, armado com
uma lança de ouro, encarregava-se de unir o destino dos seres vivos e de cuidar deles em todo o
necessário para o seu sustento, assim como de guiá-los nas suas viagens pelo bom caminho. Mas o culto
mais popular, o que atraía os mais abundantes sacrifícios dos fiéis, os crauta do ritual, dirigiam-se
preferentemente a Agni ou Anhi, o deus vermelho do fogo, o dos sete braços e três pernas, o que estava
em todos os lugares onde se fizesse fogo. Anhi era filho da união entre o Céu e a Terra e,
posteriormente, foi adscrito à união entre o Céu e Brama. Anhi estava casado com Svaha, que o fez pai
de três filhos: Pavaka, Pavamana e Suc. Ao redor deste deus formou-se uma muito especializada e
importante casta sacerdotal, pois só ela se considerava capaz de dirigir-se a ele com rezos e cânticos
específicos, uma ordem sacerdotal que daria mais tarde nascimento à casta superior dos bramanes,
precisamente os responsáveis de que a religião popular que se colhia nos livros do Veda fosse deslocada
em favor do mais completo e complexo corpus do culto bramânico, uma mistura de religião e metafísica
que se converterá também no regulamento quotidiano para os crentes, fazendo dele uma forma de vida
totalizadora do religioso e o doméstico.
Da união dos Veda e do ritual sagrado elaborado de cima pela classe sacerdotal, nasceu a nova
doutrina bramânica, na qual revelação e costume se sintetizavam para formarem um único corpo de
regras que preside toda a vida dos fiéis, que vai desde os livros revelados, os quatro Veda, os livros
ascéticos do Aranyaka, os religiosos Bramanes e os litúrgicos Upanisads, aos livros escritos pelo homem
para compendiar o conhecimento humano, os que tratavam da astronomia, da arte e da linguagem, os
Vedangas, as leis reunidas nos Dharma e

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os Sutras, os livros de relatos legendários Puranas, e as epopéias do Ramayana e o Mahabharata, onde se
encontra o texto védico do Bhagavad Gita, que nos ensina as três vias sagradas de acesso ao
conhecimento pela contemplação, as obras e a devoção religiosa. O bramanismo contempla na sua base
o mistério da Trimurti, a trindade do absoluto, do Eu ou atman, como criador de toda a existência e
possuidor de todas as idéias. O Eu existe nas suas três pessoas complementares: Brama, o criador,
Visnú, o conservador e Siva, o destrutor. Mas também o Eu, o Único, coexiste ao mesmo tempo nas
duas naturezas unidas, na mortal e na imortal, porque as duas naturezas são simplesmente uma única
essência, o último princípio, o atman. Por isso o deus que conhece tudo e que tudo experimenta é, antes
de mais, a ubíqua presença universal, quer seja em criatura viva ou em coisa inanimada. E os humanos
não somos senão reflexo dessa dupla natureza mortal e imortal a um tempo, todos os humanos somos
um eu pessoal, mais a parte proporcional do Eu total, a esse eu ao qual devemos tentar unir-nos, para
alcançar a paz eterna, a harmonia com o último princípio, para poder aspirar a ser felizes nesta vida
contingente e eternos na vida transcendente.
Enquanto Brama ficava estabelecido num plano metafísico, as outras duas personificações do
Trimurti, Siva e Visnú, convertiam-se em figuras queridas e temidas, nos santos visíveis aos qual havia
que recorrer num caso concreto, nas pessoas divinas mas humanizadas das quais se podiam contar
lendas e acreditar em prodígios, porque os deuses que se assemelham aos homens nos seus defeitos e nas
suas virtudes sempre estão mais perto deles. Visnú, por exemplo, foi o herói amado, o ser celestial que
descia continuamente ao mundo ao qual tinha dado vida com o seu hálito divino, para livrá-lo do mal,
que também tentava perpetuar-se sobre a sua superfície, aproveitando cada uma das novas recreações.
As suas façanhas aparecem relatadas nos circunstâncias e esses textos penetram profundamente no
fervor popular, porque não há coisa melhor do que poder contar as muitas histórias do deus valente e
bondoso. Siva, por ser o deus destrutor da trindade bramânica, viu-se impelido a adotar papéis cada vez
mais terríveis e assim, transformado radicalmente desde o seu primitivo caráter de deva benfeitor,
chegou a representar o deus implacável a quem se encomendava a ingrata tarefa da destruição, mas nem
por isso deixava de dar o melhor de si em benefício das grandes causas, embora tivesse que repetir uma
e mil vezes o sacrifício. Também se fez em breve assumir ao terrível Siva a tutela da fecundidade, e os
signos fálicos elevaram-se por todo o território da Índia em sua honra, num patrocínio lógico de
compreender, porque ao ser um deus tão poderoso e valente, não podia deixar de ser o homem desejável
ao qual dirigir-se com devoção, para rogar-lhe que comunicasse a graça da sua força e vigor aos filhos
esperados.
Há muitos milênios o deus Visnú começou a sua carreira mitológica como mais uma divindade da
natureza, talvez como um deus solar, mas foi galgando postos constantemente, passando para um lugar
de máxima importância na trindade trimurtiana, para o segundo lugar, atrás do grande Brama. Agora
Visnú está à espera da última encarnação do seu ciclo, depois de ter tido nove das dez previstas pelo
plano bramânico, tendo já passado pelas do peixe que salvou Manú do dilúvio, a tartaruga que obteve a
bebida sagrada do amrita, o javali que voltou a salvar a terra do novo dilúvio, o leão que castigou o
blasfemo demônio Hiranya, Trivikrama, o Brâmane anão dos três passos, o Parasurama que venceu os
chatrias, o Rama exemplar que se narra no Ramayana, Rama Chandra, o príncipe negro Krisna, Buda. A
décima será o acontecer do gigante com cabeça de cavalo branco, de Visnú como Kalki, vindo à Terra
para a batalha definitiva contra o mal, quando se acabe o mundo e Siva apareça também sobre as ruínas
do dia do fim do mundo. Nas populares e muito belas epopéias sacropoéticas do Ramayana e do
Mahabharata, Visnú já se converte no verdadeiro protagonista da lenda, relegando Brama, o que fora
poder eterno, para um segundo plano, enquanto ele se

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aproxima mais e mais do fervor popular e habita nas moradas paradisíacas rodeado pelo amor eterno de
um milhar de incondicionais pastoras celestiais, as Gopis, e na companhia de Laksmi, divindade do
amor, da ciência e da sorte, segundo nos contam os textos do Ramayana. Quando Visnú desce à terra
para acompanhar os humanos, fá-lo geralmente incorporando-se em um deus de quatro braços, braços
que portam o disco, o maço, a concha ou a trompeta, e a espada ou o lotus, emblemas que são
representações das suas faculdades e virtudes, como são os símbolos do Sol, da força, do combate contra
o mal e o seu justo castigo, respectivamente.
Siva é a terceira pessoa do Trimurti, embora para os seus fiéis ele seja a primeira e incontestável
divindade trinitária. Casado com a também impressionante deusa Parvati, a montanha, que conhece
muitas advocacias, desde a de Sati, ou esposa, e Ambiká, ou mãe, até à de Kali, a negra, a deusa da
morte. Com a sua esposa Siva habita nas regiões que formam o teto do mundo, no Himalaia, no cima do
monte Kailas. Naturalmente, um amor como o da deusa Parvati e o deus Siva não podia deixar de ser
grandioso e conta-se que, quando por fim Siva e Parvati se uniram pela primeira vez, todo o planeta
estremeceu num gigantesco terremoto. O deus Siva apresenta-se às vezes perante os homens nu e
coberto com a cinza da ascese, com toda a pureza do seu ser, adornado com o sinal inconfundível de um
terceiro olho vertical no meio da fronte, com o qual vê tudo, símbolo da sua onisciência, e com o cabelo
preso num grande carrapicho, o mesmo que parou a queda da deusa Ganga, a deusa das águas sagradas
do rio Ganges, na Terra, absorvendo com a sua estóica dor essa imensa quantidade de água, que era tão
necessária para a vida do povo indiano. Outras vezes aparece completamente coberto de serpentes, para
apontar inequivocamente a sua imortalidade, e armado com o arco Ayakana e o Jinjira, mais o raio e um
machado, porque então é a personificação do tempo, o deus destrutor. Quando aparece como deus da
justiça, fá-lo montado num touro branco e o seu corpo está coroado por cinco cabeças e um número par
de braços, entre dois e dez, empunhando numa das suas mãos um tridente no qual estão enfiadas duas
cabeças. Na fronte destaca-se a marca de uma lua em quarto crescente, o seu cabelo vermelho eleva-se
como uma tiara e a sua garganta é azul, para recordar que é o Nilakantha, o herói que salvou o mundo de
todo o veneno vomitado por Vasuri, o rei das serpentes, e o apanhou na sua mão para bebê -lo depois,
queimando a sua garganta divina com a peçonha, antes que deixar que os homens morressem pelo seu
efeito.
O príncipe Siddharta Gautama, conhecido pela posteridade como Buda (Iluminado), viveu entre os
anos 550 e 471 (aC). Nasceu ao norte de Benarés, em Kapilavastu, com o anúncio feito a Maia, sua mãe,
segundo nos conta a sua lenda, de que a sua vida seria a de um rei de corpos, um Kakravartin, ou a de
um pastor de almas, um Buddah. Nasceu o prodigioso menino através do costado de Maia, auxiliado por
Indra e acompanhado de duas serpentes das águas, duas Nasa, que criam vastas fontes de água quente
(Nanda) e fria (Upananda) para lavar a criatura prodigiosa, que perderá uma semana depois a sua mãe. O
seu pai, o viúvo rei Suddhodana, decidiu rodeá-lo de tudo o mais belo que estava ao seu alcance, para
evitar que fosse o homem espiritual que se tinha profetizado, apartando-o daquilo que lhe pudesse fazer
pensar nas misérias humanas e pondo-o nas mãos da sua cunhada e nova esposa Mahaprajapati. Mas
Siddharta, no seu retiro perfeito, chegou a ver e a reconhecer o sofrimento alheio, soube da doença e da
morte e, sobretudo, viu num asceta a perfeição que o pai queria proporcionar-lhe com presentes e
prazeres. Foram os seus quatro encontros: com a velhice, com a doença, com a morte e com a
serenidade. Então, e após vencer qualquer classe de tentações postas pelo seu pai, o príncipe Gautama,
que tinha casado com a mais bela das donzelas, com Gopa, e já tinha um filho, decidiu seguir o exemplo
do asceta, abandonando o mundo de esplendor do seu pai. Segundo se conta, Siddharta tinha vinte e
nove anos quando

28

decidiu abandonar tudo para procurar a verdade, e ainda passou outros seis anos percorrendo a Índia na
companhia do seu fiel Chandaka, procurando essa serenidade admirável no anônimo frade, mas o seu
esforço não se via recompensado pelo êxito; não tinha encontrado o mestre procurado nem alcançado o
estado desejado. Por fim, na solidão de uma noite de Bodh-Gaya, quando se encontrava praticamente à
beira da desesperança, sob os ramos da árvore Bo, Gautama foi iluminado e, com a força da verdade, o
Buddha começou o seu caminho de pregação à boa gente que encontrava no seu caminho. A sua verdade
era simples, nada há de permanente num Universo mutante, num Universo no qual os nossos atos, e não
os deuses, nos premiam ou castigam com um novo nascimento em que o nosso ser, emigrado, alcançará
um estado mais perfeito ou mais imperfeito, segundo os méritos da nossa própria vida, segundo tenha
sido de triunfal a sua luta contra os anseios e as paixões.
A doutrina de Buda desenvolveu-se com força na Índia e fora dela, mas, pouco a pouco, a sua
implantação no território onde nasceu foi perdendo força, mudando-se com mais vigor para o outro lado
dos confins do norte, no reduto inacessível do Tibete, e atravessando mais tarde para o este, chegando à
península da Indochina, à China, Mongólia, Coréia e Japão, para ficar definitivamente assentada no
Extremo Oriente. Também com o decurso do tempo, a doutrina simples e quase ateia de Buda se foi
enriquecendo com elementos alheios, dando ao asceta Buda uma dimensão divina da qual ele teria
fugido envergonhado e confuso, e pondo junto dele toda uma corte de deuses tradicionais, até fazer
crescer da mera idéia filosófica da renúncia todo um bosque de personagens mitológicos, onde
permaneciam parte do Brama original e, sobretudo, do Indra do culto védico, agora reduzidos a pessoas
santas do budismo e transformados até no seu aspecto, com Indra batizado Sacra, à frente de uma ordem
celestial de trinta e três deuses, à espera de receber a ordem de Buda para ir em sua ajuda com o vayra
sagrado, para lutar a seu lado contra Mara, o novo demônio da tentação, o rei dos prazeres.
Este Mara, que reina na Terra, no Inferno e nos seis andares inferiores do Céu, tem sob as suas
ordens um exército de demônios e serve-se das suas três filhas, Sede, Desejo e Prazer, como avançadas
do seu mundo de pecado. O príncipe iluminado, vencido pela necessidade de uma religião que se
adaptasse à tradição indiana, transformou-se num deus múltiplo no tempo, no protótipo da
transmigração incessante, numa pessoa divina que tinha vivido em muitas ocasiões, como se o
personagem sagrado se tivesse encharcado também da essência de Visnú e das suas circunstâncias, num
deus que operava milagrosamente e que se multiplicava na Terra em outros seres humanos, dado que,
mediante o exato cumprimento da sua doutrina, ia dando lugar ao nascimento de inumeráveis
Bodhisattvas, daqueles humanos santificados que iriam progredindo no caminho da transmigração, até
chegarem a ser também outro novo Buda numa futura reencarnação, quando os seus méritos acumulados
assim os recompensassem com a divindade.
Também se viram desde os Veda os antigos Gandharva, mas agora a cargo da música do Céu, e
fizeram-no como auxiliares de um dos quatro Lokapalas, os soberanos dos quatro rumos.
Estes Lokapalas estão a cargo dos pontos cardeais: no Norte está Kubera, com os também
tradicionais Yaksas, os antigos auxiliares de Siva; no Este Dhritarastra, governando sobre os Gandharva;
no Sul está Virudhaka, senhor dos pequenos gênios anões; no Oeste o senhor é Virupksa, com as suas
serpentes aquáticas Nasa, donas da chuva. Junto dos demônios de Mara e das suas filhas, que conhecem
as trinta e duas magias das mulheres e as sessenta e quatro dos desejos, há outras criaturas infernais,
desde os desgraçados espíritos emigrantes Pretas, míseras almas penadas, ao legendário Davadatta, o
primo de Buda e traidor, passando por Hariti, a deusa da doença negra, da varíola, mãe de quinhentos
demônios, que foi transformada numa mulher bondosa por Buda, ao ver o amor que sentia pelos seus
filhos.
Com estes e muitos mais deuses, o asséptico corpo primigênio do ascetismo budista foi-se

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enchendo de personagens locais, cobertos de atributos e também de ornamentos e, ainda mais, se foi
tornando mais e mais barroco à medida em que, nos diferentes lugares da Ásia, se ia apropriando de
divindades locais para o seu novo panteão, como é o caso dos mais representativos Bodhisattvas,
Mitreya, Manjusri e Tara (que tinha sido deusa da energia na Índia e passa a ser encarnação de Buda) no
Tibete, ou a multidão de divindades existentes associadas a Buda ou aos Bodhisattvas na China e Japão.
Buda, o asceta histórico original, esvai-se perante a série de Buddahs que já alcançaram o Nirvana, o
repouso eterno, e ele só é o Gautama ou o Sakiamuni, e não haverá mais até chegar o Mitreya do último
tempo, enquanto uma nova família de Buddahs celestes reina num também novo e heterodoxo Paraíso
encravado no mais elevado. Finalmente, o budismo doutrinal evoluiu, transformando a sua essência
tanto como o seu aspecto formal, e do metta da serenidade chegou-se ao bhakti da sensibilidade e do
amor, para que no karma também se inscrevam a renúncia e os sacrifícios, abrindo-se o ser humano, da
individualidade primigénia do budismo até chegar à doutrina da necessidade de transferir a graça
alcançada por um mesmo para os outros, para o próximo.
Quase mil anos depois de Buddah, na mesma época em que nasce o hinduísmo, Nataputta ou
Vardhamana, alcunhado Mahavira (o Grande) e Jina (Vencedor), funda o Janismo. Em efeito, era filho
de uma personalidade, mas aos trinta anos morreram os seus pais e esse acontecimento levou-o a repartir
as suas riquezas e sair à procura da verdade numa longa peregrinação que desembocou numa rebelião
religiosa contra o bramanismo. O Janismo é uma religião sem deuses e que procura alcançar na
transmigração a paz do espírito, nas suas duas vertentes; digambara e svetambara, a nudez total ou
hábito branco. O janista leva vida eremita, com a esmola como simples forma de supervivência e o
respeito extremo a qualquer ser vivo, com um especial ênfase na proteção dos animais, para alcançar a
liberdade pelo triratna: conhecimento, fé e virtude. A fé alcança-se com a leitura dos Agamas do
Mahavira; a virtude exige não matar, não roubar, não mentir, a castidade e a renúncia total. Para o
janismo, o Universo divide-se em duas partes: uma material, sem vida (adjiva) e outra viva (atman), que
se liberta da matéria pelo dharma das suas obras e fica apanhada no karma das suas faltas, no seu
caminho para a perfeição do siddha, o nirvana janista.
O sincretismo sij foi fundado pelo guru Nanak nos finais do século XV, procurando a união de
hinduísmo e Islã . O guru Arjam escreveu em gurmuji, em pujabi, o que seria depois o texto sagrado do
Adigrant, recompilando os ensinos de Nanak sobre um único deus e um mundo sem castas, no qual as
almas conhecem a reencarnação em virtude da perfeição e da pureza que tenham sabido conseguir na
sua vida anterior. E assim se reencarna o guru Nanak nos sucessivos gurus que governam o culto sij. A
obra de Arjam foi escrita, precisamente, numa época de perseguição muçulmana, o que levou este grupo
religioso punjabi a transformar-se em temíveis guerreiros. À parte da humildade e da sinceridade, a
alimentação omnívora (perante o vegetarianismo hindu e os alimentos proibidos dos muçulmanos) e
rejeitar a divisão em castas, os sijs distinguem-se pelos seus turbantes e pela obrigação de conservar
sempre o seu cabelo.

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MITOLOGIAS PRÉ–COLOMBIANAS

ABCDEFGH
IJKLMNOPQ
RSTUVW
As religiões da América pré-colombiana, à época do descobrimento, variavam desde formas
animistas primitivas, com cultos estreitamente ligados à natureza, até sofisticados panteões mitológicos
que, nos casos mais avançados -- impérios asteca e inca --encontravam-se provavelmente próximos do
monoteísmo. A evolução maior ocorreu fundamentalmente em duas grandes regiões culturais -- América
Central, o México inclusive, e regiões andinas --, cujas sucessivas civilizações tenderam a integrar de
maneira sincrética, em novos sistemas, os deuses e concepções religiosas preexistentes. Cabe notar, no
entanto, que povos da América do Norte e outras regiões sul-americanas criaram mitologias próprias
originais.
No que se refere ao México e à América Central, as manifestações religiosas arcaicas adquiriram
firmeza nos panteões das grandes culturas teocráticas -- dirigidas por sacerdotes que controlavam os
calendários e os ritos -- do horizonte clássico e especialmente no centro sagrado de Teotihuacan, que,
entre os séculos I e VI d.C., difundiu por toda a região o culto ao deus civilizador Quetzalcóatl, criador
do homem. No século VII, a chegada dos toltecas -- povo guerreiro cujo sanguinário deus Tezcatlipoca,
o Sol noturno, expulsou Quetzalcóatl, segundo conta a lenda -- provocou a destruição de Teotihuacan.
Sua cultura, no entanto, perdurou em grande parte na civilização maia do Yucatán, que sofreu
também o influxo de grupos toltecas fiéis a Quetzalcóatl, conhecido pelos maias com o nome de
Kuculkán. Outras importantes divindades maias eram Itzamná, senhor dos deuses e filho do primeiro
criador Hunab-Ku; e Chac, deus da chuva equivalente ao Tlátoc asteca. O texto sagrado em língua
quiche Popol-Vuh constitui uma fonte de inapreciável valor sobre a mitologia maia, cuja variedade se
ampliava ainda mais ao se desdobrar cada divindade em quatro figuras relacionadas aos pontos cardeais.
A integração das culturas anteriores conferiu extraordinária riqueza à mitologia asteca,
correspondente a um regime teocrático dominado pela figura do rei em que as concepções guerreiras,
políticas e religiosas formavam um todo unitário. A cosmogonia asteca, de caráter fatalista, considerava
que o mundo se achava em seu quinto estado, após a destruição dos quatro anteriores, crença que
fundamentava, a prática de sacrifícios humanos, cujo propósito era proporcionar sangue ao Sol para que
sua luz não se apagasse. Veneravam-se popularmente inúmeros deuses menores, com o objetivo de
alcançar sua proteção frente aos desastres naturais. As três divindades principais do panteão eram
Quetzalcóatl, Tezcatlipoca, protetor dos jovens guerreiros e feiticeiros, e Huitzilipochtli, o Sol diurno,
deus supremo das antigas tribos astecas, senhor da guerra e adorado também pelos camponeses como
protetor das colheitas. Além deles, existiam divindades próprias das diversas classes sociais e profissões,
e outras que encarnavam forças cosmogônicas, embora se tenha observado que durante o século

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XV começaram a se desenvolver algumas tendências dualistas e, em menor medida, monoteístas.


As civilizações andinas também desenvolveram complexos sistemas religiosos, embora seus
panteões mitológicos não tenham alcançado a multiformidade dos da América Central.
As manifestações artísticas de culturas que floresceram durante o primeiro milênio antes da era
cristã , entre elas a de Chavín, com suas representações de animais totêmicos e grotescas figuras
antropomórficas, mostravam já acentuados traços de elementos religiosos e simbólicos associados a
cultos da natureza que seriam depurados por civilizações posteriores, como as de Huari e Tiahuanaco,
esta última centro de um importante movimento religioso.
A religião inca, estatal e teocrática, divinizava o imperador como "filho do Sol". Soube, no
entanto, assimilar as divindades e crenças dos povos conquistados para assegurar a unidade política do
império, o que explica a convivência de ritos populares junto da religião oficial encarnada pelo panteão
inca.

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O SEGREDO DOS ASTECAS


Pedra do Sol: o monólito mais célebre da civilização

Assim como os seus antecessores incas, os astecas fascinam a arqueologia e despertam suposições
em torno do seu desaparecimento. Comunidade marcada pelo trabalho e pelas crenças religiosas, os
astecas habitavam a região de Astlán, a noroeste do México. Sucessores diretos da linhagem dos
toltecas, os astecas inicialmente formavam uma pequena tribo de caçadores e coletores que, em 1325, se
deslocou em direção à zona central mexicana e desenvolveu uma agricultura moderna e de subsistência.
Entre as invenções dos astecas, constam a irrigação da terra e a construção dos "jardins flutuantes" -
cultivo de vegetais em terrenos retirados do fundo dos lagos. A construção das chinampas (nome dado a
esses jardins) era feita nos lugares mais rasos dos lagos. Os astecas demarcavam o local das futuras
chinampas com estacas e juncos, enchiam-nos com lodo extraído do fundo do lago e misturavam com
um tipo de vegetação aquática que flutuava no lago. Esta vegetação formava uma massa espessa sobre a
qual se podia caminhar. Estas tecnologias foram essenciais para a fundação e sobrevivência de
Tenochtitlán.
Tenochtitlán, capital do império asteca, era bela e bem maior que qualquer cidade da Europa na
época. Esta metrópole teve seu apogeu de 400-700 d.C. Com suas enormes pirâmides do Sol e da Lua
(63 e 43m de altura, respectivamente), sua Avenida dos Mortos (1.700m de comprimento, seus templos
de deuses agrários e da Serpente Plumada, suas máscaras de pedra dura, sua magnífica cerâmica, ela
parece ter sido uma metrópole teocrática e pacífica, cuja influência se irradiou até a Guatemala.
Sua aristocracia sacerdotal era sem dúvida originária da zona dos Olmecas e de El Tajín, enquanto
a população camponesa devia ser composta por indígenas Otomis e outras tribos rústicas. A religião
compreendia o culto do deus da água e da chuva (Tlaloc), da serpente plumada (Quetzalcoatl) símbolo
da fecundidade agrária e da deusa da água (Chalchiuhtlicue).
Acreditavam na vida após a morte, em um paraíso onde os bem-aventurados cantariam sua
felicidade resguadardos por Tlaloc.

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Ascensão e derrocada

O império inca foi construído em apenas um século (XIV). A derrocada veio tão rapidamente
quanto a sua ascensão. Em nome da Igreja Católica e da Monarquia do Velho Mundo, os conquistadores
espanhóis Hernández de Córdoba, Grijalva e Hernán Cortés, chegaram em 1517 no México,
conquistaram e destruíram a civilização Asteca, erguendo sobre as ruínas do templo de seu deus mais
importante, uma catedral cristã . A prisão do Príncipe Montezuma e sua submissão direta a Hernán
Cortés e Fernán Pizarro. Humilhado e submetido aos favores dos espanhóis, Montezuma foi decepado.
Por incrível que possa parecer, a civilização asteca simplesmente desapareceu. Várias são as
hipóteses para sua "fuga". Uma delas alega que o massacre dos astecas teria impelido os membros da
civilização a debandarem para a Floresta da América Central. Outra hipótese, coadunada por ufólogos e
fanáticos em discos voadores, afirma que os astecas eram seres extraterrestres ou produtos híbridos, que
teriam retornado aos seus planetas de origem, assim que a missão tivesse sido concretizada. Poucos
indícios revelam o paradeiro desse povo misterioso. Entretanto, por volta de 1988 uma equipe de
reportagem de uma TV de El Salvador encontrou um achado um tanto desconcertante. Incrustadas na
parede de um templo estavam escritas, em náuatle (língua tradiocional dos astecas), as palavras: "Nós
voltaremos no dia 24 de dezembro de 2.010".

A Arte Asteca

As ruínas astecas indicam muito mais grandeza do que qualidade. Sua arquitetura era menos
refinada que a dos maias. Milhares de artesãos trabalhavam continuamente para construir e manter os
templos e palácios. Pequenos templos se elevavam no topo de altas pirâmides de terra e pedra, com
escadaria levando aos seus portais. Imagens de pedra dos deuses, em geral de forma monstruosa, e
relevos com desenhos simbólicos, eram colocados nos templos e nas praças.
A mais famosa escultura asteca é a Pedra do Sol, erradamente conhecida como Calendário de
Pedra Asteca. Está no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México. Com 3,7 m de diâmetro,
a pedra tem no centro a imagem do deus sol, mostrando os dias da semana asteca e versões astecas da
história mundial, além de mitos e profecias.
Os astecas eram artesãos hábeis. Tingiam algodão, faziam cerâmica e ornamentos de ouro e prata e
esculpiam muitas jóias finas em jade.

Cultura e Religião de um povo místico

Dezoito deuses. O politeísmo dos astecas estava configurado na crença em divindades


representativas para cada uma das funções. Acreditavam em um deus que monitorava o vento, outro que
monitorava o sol, outro que cuidava das plantações e assim por diante. A religião e o Estado estavam tão
unidos na sociedade asteca que as leis civis tinham por trás de si a força da crença religiosa. Quando
entravam em guerra, os astecas lutavam não só por vantagens políticas e econômicas, como também pela
captura de prisioneiros. Estes eram sacrificados aos muitos deuses. A mais importante forma de
sacrifício consistia em arrancar o coração da vítima com uma faca feita de obsidiana, ou vidro
vulcânico. À s vezes, os sacerdotes e guerreiros comiam a carne da vítima.

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Huitzilopochtli, a divindade asteca favorita, era o deus da guerra e do sol. Exigia o sacrifício de
sangue e de corações humanos para que o sol nascesse a cada manhã. Outros deuses importantes eram
Tlatoc, da chuva; Tezcatlipoca, "o espelho fumegante", do vento; e Quetzalcoatl, "a serpente de
plumas", deus do conhecimento e do sacerdócio. Segundo as lendas astecas, Quetzalcoatl havia
atravessado o mar velejando, mas um dia voltaria. Os deuses exigiam cerimônias especiais, orações e
sacrifícios a intervalos determinados ao longo do ano e em ocasiões especiais.
Após as guerras, o mais bravo dos prisioneiros era sacrificado. Para isso, caminhava até o altar do
templo tocando uma flauta e acompanhado de belas mulheres.

NOME DO DEUS REPRESENTAÇÃO COMENTÁRIOS

CENTEOTL Deus com chifre


COATLICUE "Mulher-serpente"
EHECATL Deus do vento
HUEHUETEOTL Deus do fogo Considerado o deus mais antigo da Mesoamérica
HUITZILOPOCHTLI Deus da guerra/Sol Principal guardião da metrópole asteca de Tenochtitlan
MICTLANTECUHTLE Deus da morte
OMETECUHLTI Criador da vida na Terra Sua esposa era OMECIHUATL
QUETZALCOATL "Serpente-Plumada" - deus da civilização e aprendizado
Um dos mais significativos deuses astecas. Representa a força da natureza.
TEZCATLIPOCA
Deus da noite e da magia Deus supremo. Associado também com o destino dos homens e com a realeza.
TLALOC Deus da chuva e da tempestade Outro dos deuses mais cultuados no Antigo México
TONATIUH Sol Considerado como primeira fonte de vida
TONANTZIN A Terra, a "honorável avó"
XILONEN "Jovem espiga-de-milho" Associado com o governo
CHICOMECOATL "Sete serpentes" Associado com o governo
XIPE TOTEC Deus da primavera e do replantio
XIUHTECUHTLE Deus do fogo

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História e cultura do povo do Sol

O Homem de Jade, uma das misteriosas relíquias dos astecas

Os astecas, de acordo com sua própria história lendária, surgiram de sete cavernas a noroeste da
Cidade do México. Na verdade, esta lenda diz respeito apenas aos tenochca, um dos grupos astecas. Esta
tribo dominou o Vale do México e fundou Tenoochtitlán, que se tornaria a capital do império asteca, por
volta do ano 1325 d.C. Conta a lenda que o deus Huitzilopochtli conduziu o povo a uma ilha no Lago
Texcoco. Ali viram uma águia, empoleirada num cacto, comendo uma serpente. Segundo uma
profeciam, este seria o sinal divino para o local da construção de sua cidade.
Os tenochca começaram com um pequeno templo e logo tornaram-se os líderes da grande nação
asteca. A primeira parte da história asteca é lendária. Mas o resultado das escavações arqueológicas e os
livros astecas servem de base para um relato histórico verídico. A história possui um registro bastante
autêntico da linhagem dos reis astecas, desde Acamapichtli, em 1375, a Montezuma II, que era o
imperador quando Hernán Cortés entrou na capital asteca em 1519.
Montezuma de início acolheu os espanhóis, mas depois conspirou contra eles. Cortés então
aprisionou o imperador. Os astecas rebelaram-se contra os invasores e Montezuma foi morto no levante.
Cortés, com quase mil soldados espanhóis e a ajuda de milhares de aliados indígenas (tribos inimigas
dos astecas), finalmente conquistou os astecas em 1521. Sua vitória foi fácil. Enqüanto os espanhóis
possuíam armas de fogo, cavalos e armas de ferro, os astecas praticamente lutavam com as mãos. Outro
fator que propiciou o domínio por parte dos espanhóis foi crença, evidentemente equivocada, de que os
espanhóis seriam na verdade o deus Quetzalcoatl e seus seguidores, regressando, como rezava a lenda.
O império asteca caiu imediatamente após a conquista. As doenças européias terminaram por
assolar a população e dizimar milhares de pessoas. Os espanhóis arrasaram completamente o centro
cerimonial de Tenochtitlán e usaram a área para seus prédios públicos. Derrubaram templos astecas e
erigiram igrejas católicas.

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Cotidiano

A maioria dos astecas vivia como os índios de hoje, nas mais remotas aldeias do México. A
família morava numa casa simples, feita de adobe ou pau-a-pique e coberta de sapê. O pai trabalhava
nos campos com os filhos mais velhos. A mãe cuidava da casa e treinava as filhas nos afazeres
domésticos. As mulheres passavam a maior parte do tempo moendo milho numa pedra chata, a metate, e
fazendo bolos sem fermento, as tortillas. Também fiavam e teciam.
Os alimentos preferidos eram a pimenta, o milho e o feijão - que produziam em larga escala para
consumo. As roupas eram feitas de algodão ou de fibras das folhas de sisal. Os homens usavam tanga,
capa e sandálias. As mulheres trajavam saias e blusas sem mangas. Desenhos coloridos nas roupas
revelavam a posição social de cada asteca. Os chefes de aldeia usavam uma manta branca e os
embaixadores carregavam um leque. Em geral, os sacerdotes se vestiam de negro.
Educação

Os sacerdotes tinham controle total sobre a educação. O império asteca era provido de escolas
especiais, as calmecas, que treinavam os meninos e meninas para as tarefas religiosas oficiais.
As escolas para as crianças menos disciplinadas eram chamadas de telpuchcalli, ou "casas da
juventude", onde elas aprendiam história, tradições astecas, artesanatos e normas religiosas.
Os astecas registravam os acontecimentos mais importantes em livros feitos de papel preparados
com folhas de sisal. Estes livros eram enrolados como pergaminhos ou dobrados como mapas. Os
astecas não possuíam um alfabeto. Criaram uma espécie de escrita em logogrifo, usando imagens e
caracteres simbólicos.

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INCAS - Misticismo e fé

Rodrigo Craveiro

Conta a história que os primeiros incas surgiram em forma de duas lendas bem conhecidas. A
primeira dizia que Tayta Inti ou o Pai Sol, observando o caos e a perdição que prevaleciam na Terra,
decidiu enviar ao planeta duas crianças, com o objetivo de estabelecer a ordem. Elas surgiram as águas
do Titicaca, o lago mais alto do mundo, e carregavam uma espécie de estátua dourada, presente de seus
pais. O nome do primeiro inca era Manko Qhapaq; sua irmã era Mama Oqllo.
De acordo com a tradição, a estátua foi enterrada na montanha Wanakauri, a sudeste de Cuzco. A
interpretação desta lenda tem um suporte favorável, já que sugere que Manko Qhapaq representa uma
nação inteira do povo Tiawanako. Eles viveram na região de Titicaca e eram conhecidos por suas terras
férteis. Ainda assim, os Tiawanako foram surpreendidos pela superpopulação e pela escassez de
alimentos, o que os obrigou a bater em retirada rumo a uma terra mais promissora. Sabe-se também que
a possível capital do Estado de Tiawanako era Taypiqala, que teria sido destruída pelos guerreiros
Aymara, vindos do sul do Peru. As invasões obrigaram o povo Tiawanako a fugir em direção ao vale de
Cuzco. Já foi provado que os Tiawanako tiveram uma participação decisiva na formação de
Tawantinsuyo, o Estado que abriga Cuzco.
A segunda lenda é conhecida como "Irmãos Ayar" e indica que, de três janelas da montanha
Tamput'oqo (a 25 kms de Cuzco) teriam saído quatro irmãos. Eram eles: Ayar Manko (Manko Qhapaq),
Ayar-Kachi, Ayar-Auka e Ayar-Uchu. Cada um deles trouxe sua esposa. Eles caminharam até Cuzco,
onde apenas as mulheres e Manko Qhapaq fundaram a cidade, em nome de Teqsi Wiraqocha e do Sol.

Organização Política

É incontestável que o estado inca teve uma organização social e política peculiar. Seu chefe de
Estado era o Inka ou Sapan Inka, também conhecido como Sapan Intiq Churin ("O Único Filho do Sol"),
que tinha uma esposa com o nome de Qoya. De um modo mais compreensível, pode-se dizer que o
nome "Inka" equivale a "Rei"; e "Qoya" significa "Rainha". De acordo com a tradição andina, tanto Inka
quanto Qoya eram descendentes diretos do Deus Sol. Para perpetuar sua linhagem divina, o Inka era
obrigado a casar com sua irmã . O "Sapan Inka" também tinha um número limitado de concubinas e
filhos. A tradição conta que Wayna Qhapaq tinha mais de 400 crianças. Este privilégio era dado somente
para o Inka.
O Inka era o chefe religioso e político de todo o Tawantinsuyo. Ele praticava a soberania suprema.
Pesava o fato de que o Inka era venerado como um deus vivo, pois era considerado o Filho do Sol. Seus
súditos seguiam suas ordens com total submissão. Aqueles que conviviam com ele se humilhavam em
sua presença, em ato de extrema reverência. Apenas o mais nobre homem da linhagem Inka podia dirigir
a palavra ao Inka e repassar as informações aos outros súditos. Algumas das mulheres do Império Inca
coletavam cabelo e saliva do Rei, como forma de se protegerem de maldições. Ele era carregado em uma
maca dourada e suas roupas eram feitas de pele de vicunha da mais alta qualidade. Somente ele usava o
simbólico Maskaypacha ou uma insígnia real, espécie de cordão multicolorido. Grandes adornos
dourados pendiam de suas orelhas, o que acabava por deformá-las. O imperador inca usava ainda uma
túnica que ia até os joelhos, um manto banhado a esmeralda e turquesa, braceletes e joelheiras douradas
e uma medalha peitoral que trazia impresso o símbolo do Império Inca.

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Os historiadores ainda não chegaram a um consenso sobre o número exato de incas que
governaram Tawantinsuyo desde sua fundação. Alguns cronistas sugerem que eles fossem 14 ao todo,
outros apostam no quantitativo de número 13. A tradição reconhece os primeiros oito reis, de Manko
Qhapaq até Wiraqocha, como os Inka místicos. Até a chegada dos conquistadores espanhóis, cinco reis
governaram um dos impérios mais misteriosos e fascinantes de toda a história.
Pachakuteq governou de 1438 a 1471 e foi sucedido por Tupaq Inka Yupanqui, que ficou no poder
de 1471 a 1493. Depois, seguiram no reinado Wayna Qhapaq (1493-1527), Waskar (1525-1532) e
finalmente Atawallpa (1527-1533). A dinastia inca não acabou com a chegada dos espanhóis invasores,
mas abriu caminho para o surgimento da nação Quéchua. Movido por interesses diplomáticos, Pizarro
nominou Toparpa ou Tupaq Wallpa como o novo Inka, envenenado quando viajava até Cuzco. Mais
tarde, o direito ao trono foi oferecido a Manko Inka ou Manko II,outro filho de Wayna Qhapaq que, em
1536, começou uma longa guerra para retomar o comando de Tawantinsuyo. Ele acabou sendo
assassinado por dois seguidores do conquistador espanhol Almagro e foi substituído pelo filho, Sayri
Tupaq, que morrem em Yucay, após traição dos conquistadores. Titu Kusi Yupanqui, irmão de Sayri
Tupaq, foi denominado novo Inka. Sua primeira ação no poder foi se dirigir até Vilcabamba, com o
objetivo de continuar a guerra. Vitimado por uma doença, Titu Kusi morreu e foi sucedido pelo irmão
Tupaq Amaru. Mas Amaru foi seqüestrado pelo capitão espanhol Martin Garcia Oñas, que acabou se
casando com a sobrinha de Amaru. Tupaq Amaru foi levado até Cuzco e executado em praça pública.
Era o ano de 24 de setembro de 1572 e o conquistador Viceroy Francisco de Toledo se regozijava diante
da execução sumária. Após 36 anos de guerra, os conquistadores do Velho Mundo adquiriam todos os
direitos sobre a terra sagrada dos incas.

Os Deuses dos Incas

VIRACOCHA: (Ilha Viracocha Pachayachachi), (Esplendor originário, Senhor, mestre do


mundo), foi a primeira divindade dos antigos Tiahuanacos, proveniente do Lago Titicaca.
Como o seu homônimo Quetzalcoatl, surgiu da água, criou o céu e a Terra e a primeira geração de
gigantes que viviam na obscuridade. O culto do Deus criador supunha um conceito intelectual e abstrato,
que estava limitado à nobreza. Semelhante ao Deus Nórdico Odín, Viracocha foi um deus nômade, e
como aquele, tinha um companheiro alado, o condor Inti, grande profeta.

INTI: (o Sol), chamado "Servo de Viracocha", exercia a soberania no plano superior ou divino, do
mesmo modo que um intermediário, o Imperador, chamado "Filho de Inti", reinava sobre os homens.
Inti era a divinidade popular mais importante: era adorado em muitos santuários pelo povo inca, que lhe
rendiam oferendas de ouro, prata e as chamadas virgens do Sol.

MAMA QUILLA: (Mãe Lua), Esposa do Sol e mãe do firmamento, dela se tinha uma estátua no
templo do Sol. Essa imagem era adorada por uma ordem de sacerdotisas, que se espalhava por toda a
costa peruana.
PACHA MAMA: "A Mãe Terra", tinha um culto muito idolatrado por todo o império, pois era a
encarregada de propiciar a fertilidade nos campos.

MAMA SARA: (Mãe do Milho).

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MAMA COCHA: (Mãe do Mar)

As lendas incas

A Primeira Criação: "Caminhava pelas imensas e desertas pampas da planície, Viracocha


Pachayachachi, 'o criador das cosas', depois de haver criado o mundo em um primeiro ensaio (sem luz,
sem sol e sem estrelas). Mas quando viu que os gigantes eram muito maiores que ele, disse: - Não é
conveniente criar seres de tais dimensões; parece-me melhor que tenham minha própria estatura! Assim
Viracocha criou os homens, seguindo suas próprias medidas, tal como são hoje em dia, mas aqueles
viviam na obscuridade".

A Maldição: Viracocha ordenou aos hombres que vivessem em paz, ordem e respeito.
Entretanto, os homens se rendeream à vida ruim, aos excessos, e foi assim que Deus criador os
maldisse. E Viracocha os transformou em pedras ou animais, alguns caíram enterrados na Terra, outros
foram absorvidos pelas águas. Finalmente, despejou sobre os homens um dilúvio, no qual todos
pereceram.

A Segunda Criação: Somente três homens restaram com vida, e com o objetivo de ajudar
Viracocha em sua nova criação. Assim que o dilúvio passara, "o mestre do mundo" decidiu dotar a Terra
com luz e foi assim que ordenou que o sol e a lua brilhassem. A lua e as estrelas ocuparam seu ligar no
vasto firmamento.

Religião

Como muitos outros elementos da cultura andina, a religião dos incas é um produto da
convivência milenar do homem com a natureza. Em síntese, é uma religião que o homem não pode
explicar, demonstrar ou dominar, pois trabalha como fenômenos ou poderes superiores incontroláveis.
Dessa forma, uma serpente que com uma picada conseguisse causar convulsões e morte em um homem
era considerada sagrada. Um puma, o mais poderoso animal da fauna andina, era considerado como deus
pelos incas.
Os trovões e raios que causavam fogo e destruição também eram venerados. Dúzias de outros
elementos andinos tinham características de divindades.
A religião é definida como a união dos valores e crenças morais, que seguem uma conduta social
individual. De qualquer modo, a prática de rituais coloca o homem em contato com o divino. Segundo
informações baseadas em arqueologia e fatos históricos, os altos sacerdotes incas reuniam-se anualmente
em um templo de Huayna Picchu. Ali, eles ofereciam a ayahuasca - uma bebida feita da decocção de
duas plantas amazônicas - a uma jovem virgem.
Tomavam da poção mágica e evocavam os espíritos da natureza. A virgem era sacrificada e seu
sangue derramado no altar, uma forma de devoção ao Deus Sol. As próprias virgens se sentiam honradas
em serem escolhidas para o ritual.
Como conseqüência de sua divisão social, havia na sociedade inca uma cosmovisão privada para a
nobreza e outra para o povo plebeu. Os templos incas sempre permaneciam protegidos e trancados. Em
termos gerais, considerava-se que todos estavam subordinados a uma entidade invisível, eterna e
onipotente, que recebera o nome de Wiraqocha. Alguns historiadores afirmam que o nome real desse
deus era Apu Kon Titi Wiraqocha ou talvez Illa Teqsi Wiraqocha. Alguns estudantes peruanos acreditam
na probabilidade de que este mesmo deus era identificado pelos nomes de Pachakamaq e Tonapa.

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Visão cosmopolita do Universo

O deus Wiraqocha estava acima dos três mundos da cosmovisão peruana. Os incas acreditavam na
existência do Hanan Pacha, um mundo no espaço sideral e chamavam de Kay Pacha a superfície da
Terra. Eles afirmavam ainda que o Ukhu Pacha era um mundo situado abaixo do solo, uma espécie de
inferno. O Inka era considerado como o Sapan Intiq Churinou o "Único Filho do Sol". Esta era a
principal razão para que cada cidade ou vilarejo inca tivesse templos dedicados ao seu culto. O mais
importante templo - todo banhado a ouro – era o Qorikancha. Na religião quéchua, considerava-se que a
Lua era uma deidade feminina, identificada com a prata e esposa do Deus Sol. O mais importante
sacerdote na sociedade inca era o Willaq Uma. Em condições normais, o cargo de Willaq Uma era
ocupado pelo irmão ou o tio do Rei.
Um estudo de Luis E. Valcarcel indca que todos os deuses, menos Wiraqocha, surgiram do Hanan
Pacha. Ali também estariam os espíritos de incas nobres também. Daquele mundo, teriam vindo os
incas, como crianças do Sol. Dois seres mitológicos estabeleceram uma comunicação regular entre os
diferentes mundos; do Ukhu Pacha saiu todo o mundo terrestre - ou Kay Pacha - e eram projetados
através do Hanan Pacha. Daí se vê um pouco da relação com o catolicismo. Os católicos acreditam que
após a morte, o espírito vá para o céu. Esses seres mitológicos ou espirituais eram representados na
forma de duas serpentes: Yakumama (mãe d'água), que ao chegar à Terra fora transformada em um
grande rio e teria voltado ao mundo sob a forma de um raio. A outra cobra era Sach'amama (Mãe
Árvore), que tinha duas cabeças e caminhava verticalmente, com a aparência de uma "velha árvore". Ao
chegar ao mundo celestial, Sach'amama foi transformada em um K'uychi (arco-íris), que era relacionado
com a fertilidade.
A Terra ou a Mãe Terra, conhecida como Pachamama, ainda é objeto de cultuação em todas as
montanhas andinas. As estrelas também ocuparam um lugar preponderante na religião pré-hispânica.
Muitas estrelas e constelações, tais como a estrela Ch'aska ou Vênus, ou a constelação Pleíades
tinham características divinas. Atualmente, alguns seguidores da religião inca ainda usam algumas
constelações para a previsão do futuro: de acordo com o brilho das estrelas, é possível saber se o
próximo ano será repleto de chuvas, prosperidade, alegria ou desastres.
Muitos historiadores indicam que Waka ou Guaca era um santuário usado para a veneração de
deuses regionais ou locais. Considerava-se que a vida de uma pessoa ou uma dinastia pudesse emergir
de um rio, uma montanha, um pássaro ou um puma. Quem nascia dos rios era denominado de Crags;
quem provinha das montanhas, era chamado de Orkjo. A arte de embalsamamento teve grande
desenvolvimento no Peru pré-hispânico. Toda a pessoas que morria era mumificada, não importasse a
qual classe social pertencia. A única diferença era que as múmias das pessoas comuns eram depositadas
nos cemitérios; enqüanto que as múmias dos nobres eram reservadas em Wakas (templos). As Mallki
(múmias) eram objetos de adoração e serviam comunidades inteiras como se estivessem vivas. Outro
elemento importante na religião inca eram os Wayke, ídolos ou representações de pessoas nobres,
esculpidos em metais e geralmente em tamanho natural. Restos de intestinos dos falecidos parentes eram
colocados em uma caixa e depositados no peito da estátua. Os metais não tinham qualquer valor
econômico na sociedade inca; apenas valores cerimoniais.
Há referências de que a sociedade inca praticava orações, abstinência sexual e festividades, e
entendia o conceito de pecado. As casas de família tinham amuletos que buscavam trazer

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prosperidade e boa sorte. Chamados de Wasiqamayoq ou Ulti, eram esculpidos em pedra e tinham
diferentes formas e cores. Normalmente tinham formas de concha, onde as pessoas colocavam vinho ou
ayahuasca durante as cerimônias chamadas de "haywarisqa" (cerimônia de oferendas).

Oferendas e sacrifícios

As oferendas consistiam em diferentes elementos, como comida, ayahuasca, Aqha (bebida


alcoólica fermentada a partir do milho), lhamas e porcos. As oferendas líquidas eram colocadas em
fontes chamadas de Phaqcha, e a ayahuasca e o sangue de animais eram irrigados no templo, como
sacrifício. Os animais eram sacrificados para que se buscasse prever o futuro pelo estudo de suas
vísceras, coração, pulmões e outros órgãos. Alguns historiadores espanhóis - normalmente padres
católicos - escreveram que em circunstâncias especiais sacrifícios de crianças eram praticados
(estudiosos peruanos alegam que essa posição da Igreja Católica visava atenuar as atrocidades cometidas
pelos conquistadores espanhóis, em nome do Cristianismo). O padre Vasco de Contreras y Valverde,
usando de diversos documentos em 1649, assegurou que quando o Wayna Qhapaq morreu "seu corpo foi
trazido para a cidade, onde em seu funeral quatro mil pessoas foram assassinadas...".
Garcilaso Inca de la Vega escreveu: "Eles não tinham sacrifícios relacionados à carne ou sangue
humano, mas abominavam isso e abominavam o canibalismo. Os historiadores que disserem o contrário
estarão incorrendo em erro grave".
Atualmente, já se sabe que algumas províncias Quéchua praticavam sacrifícios humanos; Huaman
Poma, entre 1567 e 1615, escreveu que Capacocha era o nome de uma criança sacrificada com uma ano
de idade, enquanto que Cieza de Leon acredita que esse seja o nome dado a todos os presentes e
oferendas de seus ídolos; Pedro Sarmiento de Gamboa escreveu que "Capaccocha era a imolação de
duas ou mais crianças do sexo masculino ou feminino".
Supõe-se que os sacrifícios humanos tenham ocorrido nos templos incas mais importantes.
Em 1992, Johann Reinhard informou a respeito de restos de um corpo humano encontrados em
altas montanhas andinas. O padre Cobo escreveu em 1639 que quando os garotos eram sacrificados,
"eles eram estrangulados com uma corda, ou por socos initerruptos e eles eram queimados; algumas
vezes, os incas tornavam-no bê bados, antes de matá-los". Quando os espanhóis chegaram ao Peru, a
redução sistemática dos indígenas e de suas idolatrias estava evidente.
Uma das metas principais dos espanhóis era tentar extirpar totalmente os "bruxos" da religião de
Tawantinsuyo. Quando as "Reduções de índios" foram estabelecidas em 1572 por Viceroy Toledo, (para
alguns peruanos, foi um grande organizador; mas tirano e perverso para muitos outros). Os espanhóis se
concentraram em quatro esforços quando da conquista das tribos quéchua: estabelecer o controle ou
escravizar os índios, fazer com que os incas pagassem pesados tributos à Coroa Espanhola, estabelecer o
controle moral e alterar a religião dos incas.
A religião dos incas, que se caracterizava por animista, começava a ganhar traços católicos.
Os mais importantes templos incas foram queimados e demolidos. Uma Inquisição foi instaurada e
os sacerdores "Willaq Uma" e "Tarpuntays" foram considerados como feiticeiros e, por isso, submetidos
à dura lei da Igreja Católica.
Todo o seguidor de seitas ou religiões diferentes do catolicismo era reprimido ou mesmo
assassinado. Entre os colonizadores, haviam pensamentos diferentes sobre os homens andinos e sua
religião. A mais famosa disputa em torno de dados religiosos foi travada entre o

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missionário espanhol e historiador Bartolome de las Casas (1474-1568) e o também escritor espanhol
Juan Gines de Sepulveda (1490-1573). De las Casas sugeriu a necessidade imperativa de evangelizar o
povo do Novo Mundo, em concordância com os preceitos cristãos.
Gines de Sepulveda admitiu que o indígena andino teria de ser evangelizado, mas antes teria de ser
humanizado. Sepulveda queria dizer que o componente de uma das civilizações mais ricas do mundo
devia ser tratada como animal e passar por um processo de humanização.
Tradicionalmente e oficialmente considera-se a religião oficial peruana como sendo a católica.
Como Carmen Bernard diz, "os incas não são povos fossilizados. Sua imagem é ainda vívida nas mentes
que eram excluídas de todo o poder político. Essa imagem dos incas é real para a história ou serve como
uma proposta alegórica? Não importa. Ela vive nos corações daqueles a quem o mundo moderno parece
ter sido esquecido ou rejeitado..."

Macchu Picchu – A cidadela dos Andes

Durante o início da primeira década do século XX, vários exploradores da América do Sul
procuravam por ouro e outros tesouros da extinta civilização inca. Hiram Dingham acabou descobrindo
quase que por acaso, em 1911, uma pequena cidade, no topo dos Andes. Ali, conta a lenda vivia somente
uma família. Era Macchu Picchu, a cidadela perdida dos incas.
Ninguém sabe como e porque Macchu Picchu foi construída. Fincada em um local de dificílimo
acesso, a cidade mais conhecida dos incas desenvolvia papel fundamental no império Inca. Pensava-se
que a construção da cidade tivesse sido ordenada pelo Pachacuti Inca, como uma oferenda real ou
divina, pelo ano de 1460. Sua existência era sempre mantida em segredo. Após a morte de Pachacuti, o
poder foi legado aos seus familiares e a cidade passou a ser visitada por sacerdotes incas até a invasão da
Espanha. Com a exceção daqueles que viviam na cidade, poucas pessoas tinham permissão oficial para
transpor os limites e entrar em Macchu Picchu.
Carcomidos pelas doenças (trazidas pelos europeus), pela guerra civil e outras atrocidades, os
incas começaram a abandonar a cidade, que ficou esquecida nos últimos dias do Império Inca.
Alguns historiadores relatam o encontro de Digham com uma única família - mãe e filha pequena.
"A criança tinha rosto tão lindo, como jamais eu vira", teria dito Digham. Quando Manco Tupac
começou a guerra contra espanhóis em 1536, poucos incas pensavam que a cidade poderia ser usada
como forte. Tupac e seu exército operaram de muitas montanhas ao redor da cidade. Mas a despeito da
astúcia de Tupac, os espanhóis tinham pesadas armas.
Manco Tupac e seu exército se debandaram em direção à Floresta Amazônica, onde se instalaram
em Vilcabamba. Este foi o último forte inca. Em pouco tempo, toda a população do Império foi
dizimada. Como contam algumas lendas, Capac e Atahualpa levaram o conhecimento da produção de
ayahuasca - aya=alma; huasca=vinho (o vinho das almas) aos povos indígenas. Atualmente, pelo menos
79 tribos amazônicas fazem uso da bebida sagrada e algumas religiões também a utilizam como
instrumento de desenvolvimento espiritual, como a UDV (União do Vegetal), Barquinha e o Santo
Daime.
Desde a queda de Vilcabamba, a antiga cidade de Macchu Picchu foi deixada abandonada e
esquecida. A própria floresta tomou o cuidado de abraçar as ruínas da cidade e escondê–la para os
próximos séculos. As construções de pedra de Macchu Picchu eram muito bem feitas - indicando que a
cidade provavelmente tinha importância religiosa. Muitos túmulos também foram encontrados próximo
ao monte, na floresta. A estrutura da cidade inclui residências,

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templos, jardins, um palácio real e locais para banhos cerimoniais. Cerca de duas mil pessoas viviam ali.
Há indícios da existência de uma outra cidade, chamada de Maranpampa pelos arqueólogos.
Os cientistas trabalham com a hipótese de que Maranpampa esteja oculta em algum local próximo
a Macchu Picchu. Possíveis ruínas dessa cidade teriam sido descobertas em 1986. A cidade de
Paikhikhin também foi descoberta em 1997 e se localizava na Amazônia Brasileira.
Teriam os incas se refugiado em território brasileiro?
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Os Mayas
É importante salientarmos que os historiadores não conheceram a Autêntica Civilização dos Mayas, refiro-
me a Civilização Serpentina, ou aos que viveram em Mayab. Conheceram apenas uma civilização em declínio, já
exposta e entregue aos Dzules do seu tempo, portanto as informações históricas precisam ser compreendidas
como apenas a visão que os historiadores tiveram, o que é diferente da realidade.

Os maias não chegaram a formar um império unificado. Existiram em diversos centros


praticamente independentes (com alguns costumes em comum), cada um dos quais tendo o seu
crescimento, apogeu e decadência. Isoladas e distantes da influência européia, as cidades maias
cresceram e sua cultura teve um grande desenvolvimento. A decadência dos maias aconteceu por volta
do século XIII, bem antes da invasão espanhola, que ocorreu no final do século XV. Dentre as culturas
pré-colombianas, a dos maias foi a que mais se desenvolveu em vários campos: arte, educação,
comércio, arquitetura, matemática e astronomia. Como curiosidades, confira o esporte nacional.
Nestas peças da cultura maya, vemos aspectos interessantes. Homenagens aos Deuses Mayas da
chuva e um exemplo de suas oferendas.

A sociedade

Tendo em vista a natureza dos documentos analisados pelos arqueólogos não é fácil recompor em
detalhe a organização da sociedade maia. De qualquer forma, sabe-se que apresentava grupos sociais
com características bem definidas indicando estratificação social.
Os maias dividiam-se em províncias autônomas que eram verdadeiras cidades-Estado (como nos
informa Alberto R. Lhuillier). Nelas a maior autoridade era o halach uinic. Ele desenvolvia funções
religiosas e políticas sendo o seu cargo de natureza hereditária.
Os sacerdotes eram responsáveis pelos sacrifícios, faziam oferendas, estudavam astronomia,
faziam calendários e liam escritos, em suma, concentravam uma grande parcela do poder.

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Eram muito temidos sendo responsáveis pela imposição dos prêmios e castigos e, principalmente,
pela transmissão das tradições.
Uma espécie de nobreza desfrutava de privilégios, atuava na administração da cidade.
Possuíam terras e supõe-se que não pagavam tributos.
Muito abaixo dos sacerdotes estão os guerreiros, e artesãos que se dedicam à confecção de uma
série de objetos muitos deles de uso ritual. Os comerciantes, se é que existiam como grupo social, não
tinham expressão.
Os camponeses dedicam-se a tarefas mais rudes, ou seja, eram responsáveis pela agricultura e
pelas construções.
As propriedades comunais, forneciam alimentos para a família dos camponeses e também para os
sacerdotes e nobres. A eles cabia também trabalhar nas construções dos centros cerimoniais,
transportando pedras com as quais erguiam pirâmides, faziam terraços, campos de pelota e templos.
Muitos desenhos representam nativos sem que se possa saber com segurança se seriam
sacrificados ou escravizados. "Os cronistas da época da conquista deixaram algumas informações em
seus escritos. Eles informam que a condição de escravo podia ser resultado de uma pena (adultério ou
homicídio), por nascimento (pais escravos), prisioneiro de guerra, órfão destinado ao sacrifício pelo seu
tutor ou ter sido comprado por um comerciante."
A civilização maia passou por tantos períodos, por tantas transformações; sofreu inúmeras
interferências de outras tradições indígenas, que fica difícil pensar não ter sofrido a sociedade maia
grandes alterações na sua forma de organização social. Acredita-se, por exemplo, que num primeiro
momento da vida em Tikal, as tarefas eram distribuídas de maneira pouco rígida permitindo mobilidade
entre os afazeres necessários à vida do grupo.
Provavelmente em Chichén Itzá na sua fase marcada pela presença tolteca a situação tenha sido
diferente, a sociedade bem mais estratificada e, provavelmente, com menor mobilidade.

A Pirâmide de Chiché n Itzá :

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Essa Pirâmide possui uma grande simbologia Esotérica, com seus nove degraus principais e sua
escadaria lateral que funcionava também como calendário.

Costumes e vestuário

A roupa dos sacerdotes era rica. Usavam peles de jaguar, mantos vermelhos, plumas e adornos
incrustados com jade.
O uso do ornamento era tão freqüente, que entre a nobreza era costume o uso de pedras semi-
preciososas nos dentes.

As Cidades

Os maias habitaram uma área que compreende hoje parte do México (os estados de Yucatán,
Campeche, Tabasco e Chiapas), a Guatemala e Honduras. Calcula-se que 15 milhões de habitantes
viviam em uma área de aproximadamente 325 000 quilômetros quadrados tendo como eixo a península
de Yucatán.
A região é comumente dividida em: Terras Altas (Guatemala e faixa úmida do Pacífico até El
Salvador) e Terras Baixas que se dividem em Terras Baixas do Sul (Tabasco no golfo do México,
Honduras no litoral do Caribe), tendo como expoente em Petén, onde se concentraram o mundo Maya e
as Terras Baixas do Norte que correspondem à península do Yucatán.
As primeiras aldeias em território maia datam de 1500 a.C. Nas regiões de Chiapas e Guatemala
encontramos uma cerâmica rica em ornamentação. Mas é por volta de 800 a.C. que vemos um
povoamento mais intenso nas Terras Baixas.
A cerâmica em Petén data de 800-600 a.C indicando que o homem dominara uma natureza adversa
e criara condições para se estabelecer nesta região. No ano 600 a.C., pelo que indicam as escavações,
Tikal é povoado. Ali, em 200 a.C. desenvolver-se-á a construção de um grande centro cerimonial. Ele
sofrerá alterações durante 10 ou 12 séculos até transformar-se na maior cidade da área maia.
A importância de Tikal é grande em função das modificações que ocorreram. Elas indicam o
surgimento de um estilo regional, qualificado como maia, e que influirá nas Terras Baixas.
Tikal é uma cidade totalmente envolvida pela floresta tropical, exemplo de cidade maia. Teve
grande florescimento entre 435 e 830. A área central da cidade possuía por volta de 3000 construções.
Templos, palácios, campos para jogos de bola e banhos a vapor foram algumas das funções reconhecidas
pelos arqueólogos para as construções escavadas. Encontraram-se também centenas de túmulos
contendo oferendas, cisternas e lugares para guardar víveres.
Dentre os objetos achados, vale a pena destacar a obsidiana esverdeada, típico artigo de exportação
de Teotihuacan, que não existia na área maia.
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Para termos uma idéia do porte de algumas construções, vale a pena citar como exemplo o templo
IV construído por volta de 741 com 72 metros de altura. Quanto às construções civis, a disposição era
diferente: três ou quatro quartos seguidos e a luz só entrava pela porta. A cozinha ficava fora, em uma
espécie de alpendre e pelo desconforto dessas peças muito escuras imagina-se que grande parte das
atividades eram realizadas externamente.
Em Tikal notam-se bem confluências culturais. Um dos seus soberanos "Céu tormentoso" (426-
456), soube expressar muito bem a aproximação cultural fazendo-se desenhar (na Estela 31 de Tikal)
com dois guerreiros mexicanos em cujos escudos podia-se ver Tláloc (deus mexicano), ao mesmo tempo
em que ele usava roupas tipicamente maias.
A estrutura urbana da cidade de Tikal é importante de ser compreendida na medida em que estará
presente em outras cidades. Como nos lembra um importante estudioso das cidades indígenas, Jorge
Hardoy, "seu aspecto não é ordenado como de Teotihuacán, mas seus construtores criaram efeitos
atraentes edificando "largos calçadões que desembocavam quase que invariavelmente em uma praça que
garantia uma perspectiva majestosa".
Quando Tikal entra em declínio florescerão outras cidades como Palenque, Copán, Piedras Negras,
Uxmal, Chichén Itzá, etc., cada qual apresentando sua marca específica.
Nas Terras Baixas, Piedras Negras é um espaço onde podemos contemplar em detalhe a arte maia.
São 7 200 monumentos produzidos ao logo de 200 anos (608-810), onde uma série de relevos nos
permite conhecer um pouco mais dessas culturas.
Uma das cenas representadas nesses relevos, por exemplo, é uma reunião do conselho.
"Diante de jovens nobres e de membros das famílias reinantes, um grupo de dignitários está
sentado no solo, enquanto, do alto de um trono ricamente ornamentado, em cujo rebordo apóia sua mão,
o príncipe se inclina em direção aos mais idosos de seus conselheiros".
Palenque é uma cidade localizada na serra de Chiapas. Sua arquitetura e escultura são
surpreendentes. Por exemplo: a água que chega até a cidade foi canalizada em alguns lugares através de
aquedutos subterrâneos. Embora algumas soluções possam surpreender, não devemos olhar
isoladamente cada um dos elementos arquitetônicos desta cidade.
A renovação está presente no aspecto geral da cidade no que se refere à em leveza e harmonia de
proporções.
Como conseguiram leveza arquitetônica nas construções? Aumentar os espaços interiores, e
criando aberturas em forma de "T", que permitiram a entrada de luz. Entre as construções importantes
vale a pena mencionar o chamado "palácio" com sua torre de observação, o templo das Inscrições e o
mais fantástico túmulo real conhecido no mundo maia.
Copán ao lado de Tikal e Palenque compõem os maiores expoentes da civilização maia, reunindo
os elementos culturais que são o seu cerne: arquitetura e escultura. Do ponto de vista científico, coube a
Copán o mais perfeito domínio da astronomia.
O calendário maia elaborado em Copán pelos seus astrônomos é de uma precisão admirável,
superando os calendários europeus produzidos na mesma época. Em Copán realizavam-se reuniões de
astrônomos vindos de regiæes distantes. Este é o ponto alto da cultura maia.

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Em torno da precisão do calendário maia poderemos fazer inúmeras perguntas. Por exemplo:
como elaboraram cálculos tão gigantescos e complexos? Como desenvolveram em tão alto nível o
conhecimento matemático necessário à astronomia? Poderemos saber o grau de precisão dos maias ao
construir o calendário, mas não podemos demonstrar os caminhos seguidos para chegar até ele.
Em suma, cidades como Tikal, Cópan, Quiriguá, Pedras Negras, Uaxactum, Palenque, Yaxchilan,
situadas no sul do México, Guatemala e Honduras, caracterizam a região maia marcada pela presença de
grandes centros urbanos.
Feitas estas observações de caráter mais geral podemos penetrar no universo maia analisando suas
formas de organização social, política e religiosa.

O declínio da cultura maia (Já degenerada)

Por volta de 800 d.C., por motivos ignorados as civilizações das planícies do sul irão desaparecer.
Só sobreviverão os maias do norte do Yucatán. Provavelmente catástrofes como secas ou inundações,
terremotos ou epidemias tenham alterado o tênue equilíbrio responsável pela produção de alimentos
necessários ao abastecimento da região.
As guerras entre grupos ou mesmo migrações também podem ter desorganizado o equilíbrio das
populações estabelecidas nas Terras Baixas. Mas, entre as hipóteses, a mais extravagante (mas possível)
de todas diz respeito à auto-destruição. Os sacerdotes prisioneiros de uma visão fatalista do mundo,
construíram a partir dos astros o fim da própria cultura. Ou seja, prevendo o fracasso, conduziram a
história de suas cidades para essa direção.
Chichén Itza, Uxmal e Mayapán haviam formado uma aliança para manter o domínio da
península. Mas, no início do século XIII com a queda de Chichén Itzá, termina o ciclo da cultura maia.
Da cultura maia restará apenas o cálculo curto e parte da tradição mantida através da repetição
oral. Os livros de Chilam Balam recolherão algumas profecias embora muito da cultura maia, embora
suas formas diferenciadas de expressão, tenha se perdido no seu declínio.
Alguns pequenos grupos dos descendentes índios, que formavam esses Estados decadentes,
sobreviverão embora mantendo-se isolados. Mas, o que de fato ocorreu com relação a essa área foi um
processo de mexicanização, onde as marcas culturais passaram a ser impostas pelos astecas e
chichimecas.

A conquista espanhola

Os maias viviam um período de franco declínio quando os espanhóis chegaram à América.


Por volta de 7 séculos antes da chegada dos conquistadores das cidades maias foram abandonadas
e invadidas pela floresta grande parte tropical fenecendo parcela significativa da cultura de que os maias
eram depositários.
Na península do Yucatán e Guatemala os espanhóis entraram em contato com alguns
sobreviventes de uma cultura em decadência. Aliás, como nos lembra o grande antropólogo Miguel
Léon Portilla, em 1511, ou seja, 11 anos antes de Cortés iniciar sua expedição para conquistar a cidade
do México (Tenochititlan) uma caravela encalhou e seus dois

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sobreviventes chegaram às costas do Yucatán. Um deles de nome Gonzalo Guerrero casou com uma
índia optando por viver entre os maias e o outro Jerônimo de Aguilar vinculando-se mais tarde à
expedição de Cortés servirá como interprete entre Cortés e sua "amante" índia Malinche.
A conquista do Yucatán, de fato, só terá início em 1527 sendo concluída em 1546. Foi feita por
300 homens acompanhados dos tlaxcaltecas. Durante esses anos, foram submetidas as populações de
cakchiqueles, quichés, tzutujiles, entre outros. Vale a pena notar que os quichés tentaram se opor ao
domínio espanhol, mas foram derrotados e massacrados.
Assim como os astecas referem-se a presságios funestos os maias também possuem textos
proféticos. Os textos maias sobre a conquista referem-se às profecias, especialmente os livros de Chilam
Balam de Chumayel , de Tizimín e de Maní.
Os testemunhos indígenas sobre as conquistas do Yucatán estão em grande parte incluídos nos
livros de Chilam Balam.
A memória da conquista

São poucos os documentos indígenas que sobreviveram à conquista. A cristianização da América


fez-se acompanhar de um grande esforço para eliminar todo material que pudesse favorecer
manifestações idolátricas.
Restaram apenas três livros produzidos pelos indígenas antes da conquista. Os outros livros que se
referem à cultura maia e, entre eles, os chamados livros de Chilam Balam, são adaptações que os padres
fizeram à língua maia do Yucatán, descrevendo antigos costumes indígenas e a confluência entre a
cultura indígena e a cultura espanhola.
Os temas tratados nos livros são de diversas naturezas: 1. textos de caráter religioso 2. textos de
caráter histórico, tendo em vista as cronologias maias 3. textos astrológicos 4. Rituais 5. medicinais e,
também, 6. novelas espanholas escritas em língua indígena.
Devo confessar, leitor, que enquanto escrevia sobre o passado pré-colombiano uma profecia de
Chilam Balam voltava sempre à minha mente. Parecia a voz da consciência exigindo que uma última
mensagem fosse escrita.

Obedeci à ordem deixando para vocês desvendarem este último mistério:


" No hay verdad en las palavras de los extranjeros"
(Profecia de Chilam Balam, que era cantor na antiga Maní)

A língua maia

São inúmeros os dialetos falados na área correspondente ao Yucatán, Guatemala, El Salvador e


Belize. De qualquer forma, os lingüistas dividem-nos em dois grandes ramos: o huasteca e o maia. Este
segundo ramo se subdividiu em outras línguas (como o Chol, Chintal, Mopan, etc).
A língua maia, falada no Yucatán, sofreu inúmeras transformações com as invasões toltecas e
também devido às influência da língua nahuatl falada pelos astecas.
Em seus monumentos deixaram uma série de inscrições que até hoje não foram decifradas.
Infelizmente muitos documentos maias foram destruídos chegando até nós apenas três livros.
São eles o Códice de Dresde, o Códice de Madri e o Códice de Paris.

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Os livros maias eram confeccionados em uma única folha que era dobrada como uma sanfona.
O papel era feito com uma fibra vegetal coberta por uma fina camada de cal. O conteúdo desses
livros são de natureza calendárica e ritual, servindo para adivinhações.
Um dos cronista que viveu na época da conquista, o Bispo Diego de Landa, refere-se aos livros
que os maias utilizavam permitindo-lhes saber o que havia sucedido há muitos anos.
Portanto, a escrita representava um elemento importante na preservação de suas tradições
culturais. Mas, infelizmente grande parte deles foram destruídos como se pode constatar na afirmação do
próprio bispo:
"...Encontramos um grande número de livros escritos nesses caracteres, e como nada tivesse a não ser
flagrantes superstições e mentiras do demônio, nós os queimamos a todos".

Atividades agrícolas e comerciais

Os Maias cultivavam o milho (três espécies), algodão, tomate, cacau, batata e frutas.
Domesticaram o peru e a abelha que serviam para enriquecer sua dieta, à qual somavam também a
caça e a pesca.
É importante observar que por serem os recursos naturais escassos não lhes garantindo o
excedente que necessitavam a tendência foi desenvolverem técnicas agrícolas, como terraços, por
exemplo, para vencer a erosão. Os pântanos foram drenados para se obter condições adequadas ao
plantio.
Ao lado desses progressos técnicos, observamos que o cultivo de milho se prendia ao uso das
queimadas. Durante os meses da seca, limpavam o terreno, deixando apenas as árvores mais frondosas.
Em seguida, ateavam fogo para limpá-lo deixando o campo em condições de ser semeado. Com um
bastão faziam buracos onde se colocavam as sementes.
Dada a forma com que era realizado o cultivo a produção se mantinha por apenas dois ou três anos
consecutivos.
Com o desgaste certo do solo, o agricultor era obrigado a procurar novas terras. Ainda hoje a
técnica da queimada, apesar de prejudicar o solo, é utilizada em diversas regiões do continente
americano.
As Terras Baixas concentraram uma população densa em áreas pouco férteis. Com produção
pequena para as necessidades da população, foi necessário não apenas inovar em termos de técnicas
agrícolas, como também importar de outras regiões produtos como o milho, por exemplo.
O comércio era dinamizado com produtos como o jade, plumas, tecidos, cerâmicas, mel, cacau e
escravos, através das estradas ou de canoas.

A arquitetura e o urbanismo

As pirâmides em geral estavam cobertas de vegetação sendo necessário que os arqueólogos


abrissem clareiras para restaurá-las. Ao estudá-las descobriram que as primeiras pirâmides recobriam
outras pirâmides. Esse costume de recobrir uma construção com outra corria também com relação aos
pisos.

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As casas construídas em grupo eram cobertas de sapé e sempre estavam próximas de plantações de
milho.
Inúmeros caminhos faziam a ligação entre as casas e um templo que poderia ser de pequenas
dimensões. Em dias determinados, a população daquela região se encontrava para trocar produtos, fazer
oferendas, e participar de cerimônias religiosas.
Os caminhos eram movimentados por homens que carregavam milho e outros produtos que
poderiam ser trocados nas cidades. Mas o tráfico mais complicado era o de pedras necessárias as
construções.
Nos inúmeros templos os sacerdotes realizavam cultos ligados à fertilidade do solo. Os centros
rituais de maior importância eram muito freqüentados tanto por jovens que iriam ser sacerdotes, como
por artífices que construíam monumentos, produziam cerâmica e teciam.
A vida dos maias era ritualizada e, neste sentido, é difícil separar o político e o econômico do
religioso. Os rituais eram organizadores do cotidiano, da guerra e dos sacrifícios. Os maias sempre
estavam preocupados com a presença dos seus deuses.
Você pode perguntar, leitor, como sabemos da importância dos rituais. Em primeiro lugar, a
presença marcante de inúmeros centros cerimoniais é um forte indício. Ou seja, a freqüência, as
dimensões e a localização desses centros são bastante significativas da importância que possuíam na
vida daquela população. E, em segundo lugar, as pinturas murais, esculturas e decorações de vasos
elucidam muitas questões sobre a vida dos antigos maias.

O calendário
A precisão do calendário maia é muito grande, e que nos conduz a uma reflexão sobre
conhecimento científico propriamente dito.
O ponto de partida, sem dúvida alguma, são as estações do ano responsáveis pelo ciclo da vida. E,
como tais alterações estão vinculadas a fenômenos celestes, os astrônomos maias passaram a especular o
cosmo. Através de investigações puderam conhecer o movimento dos astros montando dois calendários:
um de significado ritual de 260 dias dividido em 13 grupos de 20 dias e um calendário solar de 365 dias
com 18 grupos de 20 dias mais cinco dias.
Os dois calendários acabavam por se encontrar a cada 52 anos quando começava um outro ciclo. A
estes dados acrescentaram outros referentes a Vênus, as fases lunares e eclipses conseguindo com todo
esse esforço, cálculos bastante precisos.
Para construir todo este quadro de reflexão eram indispensáveis os cálculos. E, para realizá-los,
produziram um sistema numérico. Assim, os maias conceberam um sistema que tinha como base 20. Os
símbolos utilizados eram uma barra para indicar 5, um ponto para indicar a unidade e uma espécie de
concha alongada para indicar o zero.
As inscrições glíficas que dizem respeito a números foram interpretadas faltando ser decifrado o
"glifo-emblema". Provavelmente caracteres gravados referem-se a certas festas e profecias relacionadas
com as datas, as quais se constituem em presença constante nos monumentos.
Todo esse universo lógico marcado pelos cálculos se fazia acompanhar por uma leitura do
"horóscopo". De acordo com a data do nascimento, era previsto o "destino" do recém-nascido.

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Se o dia não era de bom agouro, cabia ao sacerdote encontrar maneiras de ultrapassar aquela
dificuldade. Neste sentido, o sacerdote possuía a chave do tempo com a qual construiu uma filosofia
fatalista. O mundo podia ser destruído porque seria recomposto mantendo-se assim uma perspectiva
cíclica que marcava o ritmo da história.

Cronologia

O interesse em confeccionar um calendário vinculava-se também a uma necessidade de definir


datas.
Todos os acontecimentos que lhes pareciam importantes tinham suas datas fixadas em relevo
numa pedra. Apesar desta preocupação constante com a cronologia predominava entre os maias a busca
infindável de suas origens míticas que se sobrepunha à realidade.
Evidentemente, os arqueólogos, preocupados em datar objetos e culturas, tentaram estabelecer
uma relação entre a cronologia maia e a cronologia cristã . As conclusões são discutíveis.
Neste sentido, para não nos confundirmos, é melhor tomar a data de 2 500 a.C. como uma data
inicial a partir da qual se iniciaria a longa trajetória dos maias. Esse pressuposto é apenas uma hipótese
didática e não possui comprovação prática.

Esporte Nacional

O jogo de pelota (pok ta pok), praticado por todas as civilizações pré-colombianas, era o esporte
nacional maia, como provam as quadras construídas para esse fim.
Para esse povo, o jogo tinha caráter sagrado e cósmico, simbolizando a luta da luz contra as
sombras, através de seus deuses, e o movimento dos astros no firmamento.
Em um campo retangular de 70m de largura por 168m de comprimento, catorze jogadores
arremessavam uma pesada bola de borracha através de anéis de pedra, fixados nos dois lados do campo.
A bola só podia ser movimentada com a cabeça, braços e pernas, sendo proibido o toque de mãos.
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Vocabulário
Das palavras Mayas empregadas nos livros segundo e terceiro (“O Vôo da Serpente Emplumada”).
AHAU - Deus, homem divino, rei, “Deus-Rei”, “Grande Senhor”.
BALCHE - Bebida que se extrai de uma arvore em Yucatán e que se fermenta. Também significa
árvore escondida.
CENOTE - Poço de água subterrânea. O Cenote Sagrado existiu em Chichen Itzá e era lugar de
cerimônias místicas.
COZUMIL - Pequena ilha de frente a Península de Yucatán que significa “Terra das
Andorinhas”. Atualmente se chama Cozumil. Esta ilha foi indubitavelmente a sede de um seminário ou
escola esotérica da cultura Maya.
DZULES - Senhores; este nome se deu aos espanhóis nos primeiros tempos da conquista.
KATUN - Época ou período da cronologia Maya. Pequeno século Maya, de 20 anos de 360 dias.
KUKULCAN - Grande instrutor divino, ‘Serpente com Plumas’ equivalente ao Quetzalcoatl
Nahoa.
MANI - “Tudo passou”. Também é o nome de uma famosa cidade Maya que nos tempos da
conquista foi sede dos Reis Xiu e o último refúgio da civilização Maya e de sua cultura religiosa.
PAUAH - “Os que distribuem ou dispersam o jorro da vida”. Quatro espíritos celestiais.
TZICBENTHAN - “Palavra que há de obedecer”.
SAC-NICTÉ - Branca Flor.

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MITOLOGIA JAPONESA

Criação da terra. O mito de Izanagui e Izanami

A mitologia japonesa relata que a aparição do gênero humano na terra se deu sob forma divina. No
princípio tudo não passava de uma massa viscosa e indistinta no oceano. Deste mar surgiu algo
semelhante a um broto de junco e desabrochou. Deste surgiu uma divindade.
Simultaneamente, duas outras criaturas divinas, masculina e feminina, emergiram. Pouco se
comenta sobre o trio original, mas gerou deuses e deusas na terra celestial. Após um período incontável
de tempo, surgiu o par de energia divina Izanagui e Izanami.
Certa ocasião, os deuses deram a Izanagui uma lança enfeitada e confiaram-lhe a tarefa de criar o
Japão. O casal desceu de Takama no Hara (Planície Celeste) por "uma Ponte Lançada do Céu" (Ama no
Hashi Date) – geralmente associada ao arco-íris. Pararam no meio dela para observar a terra viscosa lá
embaixo. Do alto da ponte, o jovem Izanagui mergulhou sua arma divina dentro da viscosidade
flutuante, "agitando em forma de círculo, e ao retirar, deixou respingar da ponta gotas salgadas que
caíram da lança e, sobrepondo-se, se cristalizaram formando ilhas. Vendo as ilhas que acabaram de criar,
Izanagui e Izanami atravessaram o Ama no Hashi Date (Ponte Lançada do Céu), e desceram para lá,
onde fizeram um acordo entre si, eregindo o "Augusto Pilar Celeste" na ilha de Ono Koro, para criar
mais ilhas e assim, deram origem ao arquipélago japonês. O capítulo 6 do Kojiki descreve várias ilhas:
"Assim a terra de Iyo foi denominada Ehime". A primeira ilha que o casal divino deu à luz foi awaji, e,
em seguida, a ilha de Shikoku.
Izanagui e Izanami casaram-se e aprenderam a arte de fazer amor olhando um par de garças (tsuru)
em acasalamento. Estas aves brancas são ainda relacionadas à união e mesmo o deus Espantalho não
pode assustá-las, já que foram abençoadas na criação.
Entre a descendência de Izanagi e Izanami estão marcos geográficos, como deus das Cachoeiras,
deus das Montanhas (Ôyama Tsukimi no Kami), deus do Fogo (Watatsumi no Kami) Espírito das Á
rvores, deus das Ervas, deus dos Ventos, além dos espíritos de todas as ilhas japonesas (Dai
Yashimagumi). O deus dos Ventos foi responsável pela criação de muitas ilhas, pois era ele que
dissipava névoa densa e revelava regiões desconhecidas.
O primeiro filho do casal foi abortado, supostamente por causa de uma ofensa da parte de Izanami
à cerimônia de casamento e a criatura semelhante a um peixe-geléia foi colocado no mar. Todos os
outros filhos sobreviveram.
ORIGEM DA VIDA E MORTE NA TERRA – O último filho do casal a nascer, após uma
sucessão de ilhas terem sido formadas e povoadas, provocou a morte da mãe. Era o deus do Fogo
(Watatsumi no Kami). Izanami adoeceu com febre ardente e acabou morrendo. Para apaziguar seu
espírito, os homens construíram um altar e ofereceram flores (conforme os adeptos do shintô estaria aí a
origem do ikebana).
Izanami morre e parte para Yomi, o mundo dos mortos. O deus Izanagui, cheio de desgosto, vai
visitá-la. A deusa falecida não quer que ninguém veja como perdeu a beleza, dando mostras de vaidade
feminina. Mas, apesar de suas súplicas, Izanagui acende uma tocha, olha para ela, fica assustado com o
estado de decomposição de seu corpo e foge. Ofendida com a reação de seu esposo, Izanami e outras
criaturas da terra dos mortos perseguem Izanagui, mas ele consegue escapar, atirando para trás três
objetos, que se transformam em outras coisas. Ele então coloca uma grande pedra bloqueando a
passagem da caverna no local denominado Yomotsu Hirasaka.

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Do lado de dentro, Izanami lançou aos gritos uma maldição: –"Oh! Meu adorado esposo, se você
age assim, eu a cada dia estrangularei mil habitantes de seu país". Izanagui então respondeu que faria
nascer 1.500 pessoas diariamente.
Izanagui manteve sua palavra e depois submeteu-se a um ritual de purificação (Mizogui) para se
livrar dos efeitos de sua descida ao Mundo dos Mortos (Anoyomi). Enquanto purificava se lavando,
gerou várias divindades. As mais importantes delas são: Amaterassu Omikami, a Augusta Deusa Sol,
que nasceu enquanto ele lavava o olho esquerdo; Tsukiyomi no Mikoto, o deus Lua, na lavagem do olho
direito; e Takehaya Suzano-o no Mikoto, o deus Tempestade, enquanto ele lavava o nariz. Estas
divindades são as chamadas "filhos nobres", a quem ele escolheu para reinar, respectivamente: a
Amaterassu coube Takama no Hara (Alta Planície Celeste), a Tsukiyomi foi dado governar Yoru no
Ossukuni (País do Reinado da Noite) e para Suzano-o, Una Hara (Planície Marinha).

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