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1 À guisa de introdução
Pensar o desenvolvimento nacional na atualidade e as suas relações com a política
social é um enorme desafio. Contudo, entende-se ser essa uma tarefa necessária para
se avançar qualitativamente nas análises das situações concretas que nos rodeiam.
Admite-se que assim procedendo se ganha em clareza e se torna menos problemático
encontrar os nexos que possibilitam relações fortes entre política social e desen-
volvimento. Importa estabelecer, desde o início, que a perspectiva a ser impressa à
tarefa não é a de natureza teórico-abstrata. A inserção institucional dos técnicos
responsáveis pelo periódico Políticas Sociais: acompanhamento e análise obriga a que se
pense o desenvolvimento como um projeto nacional coordenado pelo Estado e
conduzido, na prática, sob a liderança do governo federal. Trata-se, portanto, de pensar as
relações entre desenvolvimento e política social com o intuito de colocar conhecimento
e informação a serviço da ação, seja do governo ou dos atores sociais interessados.
Posto isso, cabe reconhecer que desenvolvimento nacional é uma noção que
ainda carece de conceituação pacífica. Ademais, sofreu influência profunda de
formulações impregnadas de poderoso determinismo evolucionista-mecanicista. Em
suas inúmeras variações (liberal–conservadora, reformista e revolucionária), havia
uma crença implícita de que o desenvolvimento das forças produtivas, materializado
na industrialização, resolveria se não todos, pelo menos a maior parte dos problemas
nos países considerados subdesenvolvidos. Mas a história dos últimos sessenta anos
revelou a insuficiência de todas aquelas correntes de pensamento influenciadas pelas
visões evolucionista-deterministas. Nesse período de tempo ocorreram transformações de
vulto em nosso país e em muitos outros da América Latina, sem que tivéssemos
alcançado a condição de desenvolvidos. Mais recentemente ainda aconteceram mudanças
profundas em escala mundial e nacional que tiraram grande parte da capacidade
explicativa e orientadora das idéias elaboradas nas décadas posteriores à II Grande Guerra.
A criação de novos materiais, a química fina, a indústria de alta precisão, a
biotecnologia e principalmente as novas tecnologias da microeletrônica, da
informática, da automação e a integração planetária pelas comunicações via satélites
deram forças novas aos países centrais. Por conta da potência dessas tecnologias e das
virtuosidades que criaram, esses países foram deslocados para patamares muito
superiores em termos de poderio econômico, tecnológico, comercial, militar e
diplomático. Ficaram ainda mais distantes da periferia, industrializada ou não,
democrática ou não, produtora de energia ou não, detentora ou não de recursos
naturais importantes. O acelerado ritmo de introdução de inovações nos processos
produtivos de bens e serviços tem feito com que as distâncias não diminuam, mas
aumentem cada vez mais.
A formulação, pelos centros hegemônicos (a partir de meados da década de
1970), do que ficou posteriormente conhecido como o Consenso de Washington, a
1. Seja aqui lembrado que esse processo foi antecedido pelo acelerado endividamento dos países da periferia, iniciado com a
crise do petróleo, incentivado pela elevada liquidez internacional dos anos 1970, tornado dramático com a elevação abrupta
dos juros americanos entre 1979 e 1982. A crise que então se instala faz os governos nacionais dos países periféricos presas
fáceis das pressões e das imposições referidas.
2. Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio.
4. O real apreciado diante do dólar e do euro tem sido um elemento na obtenção da taxa de inflação de um ponto
percentual abaixo da meta, sendo que os 4,5% já é considerado por muitos como um tanto rigorosa. A face perversa dessa
apreciação é retirar rentabilidade de muitos setores que não conseguem resistir à concorrência internacional, principalmente
a chinesa. Resulta, então, o fechamento de fábricas, quedas na produção, demissões, transferência de empregos, de
produção e de arrecadação tributária para o exterior.
5. Não por acaso, os bancos batem recordes de lucratividade (e de massa de lucros) a cada balancete que publicam.
o
6. BNDES, Visão do Desenvolvimento, n 27, abr. 2007
7. Ver o capítulo “Trabalho e renda“, principalmente o gráfico 4.
8. Ver CARDOSO JR., J. C.; GONZALEZ, R. Salário mínimo e mercado de trabalho: possíveis efeitos benéficos de uma política de
valorização e de fortalecimento institucional do salário mínimo. In: PELIANO, A. (Org.). Desafios e perspectivas da política
social. Brasília: Ipea, dez. 2006 (Texto para Discussão, n. 1.248).
9. Ver o capítulo “Previdência social”.
22. IEDI. O comércio exterior brasileiro em 2006. São Paulo, mar. 2007.
23. Aliás, a crítica situação da juventude brasileira deveria ser objeto de maior atenção por parte de todos os governantes,
das lideranças de todos os setores da sociedade e de todos os cidadãos responsáveis. Principalmente os jovens pobres, que
estão submetidos a toda sorte de violência, conhecendo elevadas taxas de mortalidade por causas externas (homicídios,
acidentes e drogas), vivendo em famílias desestruturadas e em espaços desprovidos de serviços, atratividade e segurança.
Estão a receber educação de muito baixa qualidade, a sofrer incompreensões diversas e a ver o futuro se estreitar e as
expectativas de amadurecer e ascender sendo destruídas. A juventude deixa de ser o futuro do país e passa a ser um dos
seus maiores problemas sociais.
24. ANFAVEA. Anuário Estatístico da Indústria Automobilística Brasileira – Edição 2007. Disponível em: <www.anfavea.com.br>.
Acesso em: 30 de jun. 2007.
25. O Globo, 5 de jul. 2007.
27. CNT/CEST/SENAT. Pesquisa Rodoviária CNT – 2006. Disponível em: <www.cnt.org.br>. Acesso em: 29 de jun. 2007.
28. Somente nos primeiros seis meses do ano em curso foram registradas quinze chacinas na cidade de São Paulo.
29. Números do final de maio de 2007.
Conselho Editorial
31. FURTADO, C. Um projeto para o Brasil. Rio de Janeiro: Editora Saga, p.17-18, 1968.
32. Respectivamente, Programa de Aceleração do Crescimento, Programa de Desenvolvimento da Educação, Programa
Nacional de Segurança Cidadã e Plano Plurianual, que deverão ser objeto de análise e avaliação em outra edição deste
periódico.