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TERÇA-FEIRA
– A nossa fraqueza, ocasião para que Deus mostre o seu poder e a sua misericórdia.
Temos os pés de barro, como essa estátua de que fala o profeta Daniel, e,
além disso, a experiência do pecado, das fraquezas próprias, está patente na
história do mundo e na vida pessoal de todos os homens. “Ninguém se
desprende de uma vez para sempre da sua fraqueza, solidão ou servidão,
antes todos necessitam de Cristo exemplar, mestre, libertador, salvador,
vivificador”10. Cada cristão é como um vaso de barro11: contém tesouros de
valor incalculável, mas pela sua própria natureza pode quebrar-se com
facilidade. A experiência ensina-nos que devemos afastar-nos de todas as
ocasiões de pecado; é uma demonstração de sabedoria, “pois, se nelas se
meterem, não há que fiar-se numa guerra onde tantos inimigos nos combatem
e onde somos tão fracos para nos defendermos”12.
Na sua infinita misericórdia, o Senhor quis que esta fragilidade fosse para
nosso bem. “Deus quer que a tua miséria seja o trono da sua misericórdia, e a
tua impotência a sede de todo o seu poder”13. Na nossa debilidade resplandece
o poder divino, e é um meio, talvez insubstituível, de nos unirmos mais ao
Senhor, que nunca nos deixa sozinhos. Além disso, as nossas fraquezas
ensinam-nos a olhar com compreensão para os nossos irmãos que talvez
estejam passando por maus momentos, pois – como vimos que diz Santo
Agostinho – não há falta nem pecado de homem algum que nós não possamos
cometer. E, se ainda não o cometemos, é porque a misericórdia divina nos
preservou desse mal14.
Recorramos ao Senhor, cheios de confiança: “Senhor, que não nos
inquietem as nossas misérias passadas, já perdoadas, nem tampouco a
possibilidade de misérias futuras; que nos abandonemos nas tuas mãos
misericordiosas; que levemos à tua presença os nossos desejos de santidade e
apostolado, que latejam como brasas sob as cinzas de uma aparente frieza...
III. JOÃO PAULO I conta que certa vez perguntou a uma senhora, cheia de
pessimismo pelos erros da sua vida passada, que idade tinha. Ela respondeu-
lhe que tinha trinta e cinco. “Trinta e cinco! – exclamou o Pontífice –. Mas se a
senhora pode viver ainda outros quarenta ou cinquenta anos e fazer
muitíssimas coisas boas!” Aconselhou-a a pensar no futuro e a renovar a sua
confiança em Deus. E acrescentou: “Citei-lhe então São Francisco de Sales,
que falava das nossas «queridas imperfeições». E expliquei-lhe: Deus detesta
as faltas, porque são faltas. Mas, por outro lado, ama-as, em certo sentido,
enquanto lhe dão, a Ele, ocasião de mostrar a sua misericórdia e, a nós, de
permanecermos humildes e também de compreendermos e de nos
compadecermos das faltas do próximo”16.
Ainda que sintamos que temos os pés de barro, alcançaremos uma grande
confiança se considerarmos os abundantes meios sobrenaturais que o Senhor
nos deixou para que vençamos. Ficou no Sacrário; deu-nos a Confissão para
recuperarmos a graça perdida e para aumentarmos a resistência ao mal e a
capacidade para o bem; dispôs que um Anjo nos guardasse em todos os
nossos caminhos; contamos com a ajuda extraordinária da Comunhão dos
Santos, do exemplo de tantas pessoas que procuram comportar-se como filhos
de Deus... Temos, sobretudo, a protecção de Maria, Mãe de Deus e Mãe
nossa, Refúgio dos pecadores, nosso refúgio, a quem agora recorremos
pedindo que não nos abandone.
(1) Dan 2, 31-35; (2) Dan 2, 44; (3) cfr. S. Josemaría Escrivá, É Cristo que passa n. 5; n. 181;
(4) Santo Agostinho, Confissões, 2, 7; (5) Orígenes, Homilias sobre o Exodo, 5, 3; (6) Santo
Agostinho, Confissões, 19, 5; (7) S. Josemaría Escrivá, Amigos de Deus n. 194; (8) Concílio de
Trento, Sec. 5, cap. V; (9) Concílio Vaticano II, Constituição Gaudium et spes, 13; (10) Concílio
Vaticano II, Decreto Ad gentes, 8; (11) 2 Cor 4, 7; (12) Santa Teresa, Vida, 8, 4; (13) São
Francisco de Sales, Epistolário, frag. 10; (14) cfr. Santo Agostinho, Confissões, 2, 7; (15) S.
Josemaría Escrivá, Forja, n. 426; (16) João Paulo I, Audiência geral, 20.09.78; (17) 2 Cor 12, 9-
10.