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Este documento apresenta um roteiro para discutir o livro "Ciclos, Seriação e Avaliação - Confrontos de Lógicas" de Luiz Carlos de Freitas. O roteiro aborda: 1) As definições de ciclo e experiências com o modelo de progressão continuada; 2) A lógica da avaliação no sistema seriado versus os ciclos; 3) A organização escolar e a importância dos ciclos em redefinir a escola. O objetivo é mostrar que os ciclos, embora não sejam uma solução ped
Este documento apresenta um roteiro para discutir o livro "Ciclos, Seriação e Avaliação - Confrontos de Lógicas" de Luiz Carlos de Freitas. O roteiro aborda: 1) As definições de ciclo e experiências com o modelo de progressão continuada; 2) A lógica da avaliação no sistema seriado versus os ciclos; 3) A organização escolar e a importância dos ciclos em redefinir a escola. O objetivo é mostrar que os ciclos, embora não sejam uma solução ped
Este documento apresenta um roteiro para discutir o livro "Ciclos, Seriação e Avaliação - Confrontos de Lógicas" de Luiz Carlos de Freitas. O roteiro aborda: 1) As definições de ciclo e experiências com o modelo de progressão continuada; 2) A lógica da avaliação no sistema seriado versus os ciclos; 3) A organização escolar e a importância dos ciclos em redefinir a escola. O objetivo é mostrar que os ciclos, embora não sejam uma solução ped
CICLOS, SERIAO E AVALIAO - CONFRONTO DE LGICAS AUTOR: Luiz Carlos de Freitas Professor da Faculdade de Educao da Unicamp
Elaborado por: Luiz Carlos de Freitas Professor de Histria das Redes Municipal e Estadual de Ensino de So Paulo,MILITANTE da Oposio Alternativa
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FREITAS, Luiz Carlos de CICLOS, SERIAO E AVALIAO- CONFRONTO DE LGICAS, Moderna, SP, 2003
APRESENTACAO
O artigo 23 da LDB define a forma de organizao das escolas A Educao Bsica poder organizar-se em sries anuais, perodos semestrais,ciclos,alternncia regular de perodos de estudos, grupos no seriados, com base na idade,na competncia e em outros critrios,ou por forma diversa de organizao, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. H vrias definies para ciclo apesar das experincias como a de Belo Horizonte e a da Gesto Rose Neubaeur no Estado de So Paulo serem genericamente tratadas como ciclo. As experincias de ciclos ou progresso continuada vem revelando os limites, as possibilidades e os impasses destas e das polticas pblicas que o cercam. Os ciclos poderiam ser definidos como uma forma de organizar globalmente os tempos e espaos das escolas com base em experincias significativas para a idade do aluno e a progresso continuada tm o propsito de garantir a viabilizao do fluxo de alunos e tende a melhorar sua aprendizagem com medidas de apoio ( reforo,recuperao ,etc) O primeiro captulo procura mostrar que a progresso continuada herdeira da tradio da concepo conservadora de aprendizagem pelo domnio que em nada arranha a funo social historicamente atribuda escola que a de ensinar a submisso e de excluir. O segundo captulo procura definir a lgica da avaliao no esquema seriado, mostrando a relao entre avaliao formal e a informal e o que ocorre quando, no ciclo, a avaliao formal (reprovao) retirada. O terceiro a partir da concepo de organizao escolar de Pistrak, discute os ciclos e sua importncia na redefinio da escola. No final, tratamos das concepes de educao e de polticas pblicas apontando os ciclos no como soluo pedaggica, mas como elemento de resistncia necessrio contra a seriao, a excluso e a submisso.
CAPTULO 1 A LGICA DA ESCOLA
Ultimamente so comuns no cotidiano escolar, vocbulos como: Ciclos de formao, Progresso Continuada, avaliao, promoo automtica, reforo, programas de acelerao, etc O espao mais conhecido da escola a sala de aula e o tempo a seriao das atividades e dos anos escolares. A primeira questo a ser discutida como se organizam os tempos e espaos da escola? Esses espaos e tempos so organizados incorporando determinadas funes sociais. A escola no um espao ingnuo, ela tem uma funo social a cumprir. Em pesquisa de 1966 Coleman mostra que o nvel socioeconmico era um poderoso determinante dos resultados dos alunos mais do que os recursos pedaggicos, sendo portando uma varivel importante no fracasso escolar. A escola no uma ilha no seio da sociedade, ela tem um papel a jogar na formao do aluno. H limites srios impostos de fora para dentro que devem ser considerados. Para os liberais a funo social da escola prover o ensino de qualidade para todos os estudantes independente do nvel socioeconmico. Dessa forma a escola deve compensar as desigualdades socioeconmicas, com os recursos pedaggicos de que dispe EQUIDADE Nessa viso de eficcia da escola na perspectiva ingnua da equidade, s resta estudar e divulgar quais fatores pedaggicos afetam a qualidade da aprendizagem, j que quanto as diferenas socioeconmicas, nada se pode fazer. 3 Para os socialistas a escola tambm deve ensinar todos os alunos, no entanto para se atingir esse objetivo necessria a eliminao dos desnveis socioeconmicos e a distribuio do capital cultural e social, o que requer discutir a acumulao do capital econmico. H diferenas entre desejo e realidade e no capitalismo a escola no est voltada para ensinar tudo a todos pois h uma hierarquia econmica fora da escola que afeta a constituio das hierarquias na escola. Essa lgica nos permite duvidar dos liberais uma vez que mesmo que se deseje, numa sociedade capitalista, no se atinge um ensino de qualidade para todos. Os primeiros a denunciar a lgica perversa dos tempos e espaos escolares foram os liberais h pelo menos 40 anos ( Carroll, Bloom, Hastings e Madaus). Eles apontavam que com tempo e formas de ajuda adequados 95% dos alunos podem aprender a matria com um alto grau de domnio,ou seja a unificao dos tempos responsvel pela diversificao dos desempenhos. Apontavam que necessrio diversificar o tempo de aprendizagem para permitir que cada um avance a seu ritmo usando todo tempo que lhe seja necessrio. Esses autores divergem de que h uma curva normal estatstica, segundo a qual a maior parte da classe no pode ter nota mxima porque naturalmente, a maioria estaria prxima da mdia, alguns destaques teriam notas altas ou baixas. Em que pese o avano desses autores, suas propostas, assim como na progresso continuada no superam a idia de que os recursos pedaggicos devem compensar as condies sociais perversas que instituem os diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos. Bertagna ao avaliar a proposta de Progresso Continuada instituda no Estado de So Paulo ( Deliberao 9/97 do CEE) afirma que, de acordo com documentos oficiais, a progresso continuada foi adotada porque extrapola a compreenso da aprovao automtica, mas contempla o aspecto pedaggico de que toda criana capaz de aprender.(...) Cada qual tem o direito de se desenvolver no seu ritmo natural e a escola deve garantir a aprendizagem do aluno. Note-se que a justificativa est baseada em ritmos diferenciados de aprendizagem que so um dado natural da realidade. Os recursos escolares devem ter equidade e eficcia, descontados os efeitos do nvel socioeconmico. Segundo o mesmo autor, os textos oficiais diferenciam progresso continuada de promoo automtica da seguinte forma: na primeira, a escola age no sentido de fazer o aluno se apropriar de novas formas de pensar, sentir e agir,enquanto na segunda a criana permanece na escola,independente de progressos terem sido alcanados. Nessa lgica se afirma que ser contra a progresso continuada negar a evidncia cientfica de que toda criana capaz de aprender, se lhe forem oferecidas condies e recursos para que interaja de modo profcuo com os conhecimentos ( SEE citado por Bertagna adaptado) A forma como a escola funciona atualmente no ingnua, ela organiza os tempos e os espaos da escola de forma a impor um nico ritmo de aprendizagem a todos. Historicamente, a escola se distanciou da vida, e a compreenso disso fundamental para se compreender a avaliao na escola. Esse afastamento foi ditado por uma necessidade do capitalismo de uma escola para preparar rapidamente, e em srie, recursos humanos para alimentar a produo de forma hierarquizada e fragmentada. Esse afastamento da vida real levou aos processos de aprendizagem artificiais necessrios para facilitar a acelerao dos tempos de preparao dos alunos. Ensinar de uma maneira tradicional verbal e por srie mais rpido do que por mtodos ativos que exijam a participao dos alunos. As necessidades de preparao de mo de obra no capitalismo fez com que a escola tratasse o conhecimento como algo partido em disciplinas, distribudo por anos e os anos foram subdivididos em partes menores que servem para controlar uma certa velocidade de aprendizagem do conhecimento. 4 Atravs da verificao pontual de uma certa quantidade de conhecimentos que o aluno dominava num determinado tempo, convencionou-se avaliar se houve ou no domnio do conhecimento. Quem domina avana e quem no aprende repete o ano ou sai da escola. A necessidade de se introduzir mecanismos artificiais de avaliao (provas, testes, etc) foi motivada pelo fato da vida ter ficado do lado de fora da escola, e com ela os motivadores naturais. Dessa forma se desenvolveu um sistema de avaliao com notas como forma de estimular a aprendizagem e de controlar o comportamento dos alunos. A avaliao assume a forma de uma mercadoria com as caractersticas de dualidade da sociedade capitalista: valor de uso e valor de troca, com predomnio do ltimo: aprender para trocar por nota. TRANSPARNCIA P. 29 No apenas uma questo de sistema seriado ou no. Trata-se de uma concepo de como se organiza todo o trabalho pedaggico, as relaes de produo de conhecimento e de poder. A existncia das sries apenas um elemento e no o nico. Os testes e as provas so apenas indicadores tnues desses processos informais.Entretanto quando a falhas a culpa colocada rapidamente no professor ou nos alunos e quase nunca nessa lgica oculta. Nos contatos com professores surpreendente como questionam a avaliao classificatria a nota, e deixam de lado a hierarquizao socioeconmica que influencia a classificao no interior da escola. A progresso continuada deixou transparecer a questo da excluso que no mais apenas fsica, ela ocorre tambm no interior da escola. No passado tambm se acreditou que se controlssemos melhor o professor, introduzindo especialistas na escola e aprimorando a gesto, os problemas seriam resolvidos, esquecendo-se como hoje, que os problemas mais graves da escola tem origem histrico social. Os ciclos so positivos, no como uma mera soluo pedaggica, mas como um longo processo de resistncia de professores, alunos e pais lgica excludente e seletiva da escola. Segundo Enguita: Professores e pais prestam pouca ateno quilo que no seja o contedo do ensino, quando a maior parte do tempo na escola no gasto com a transmisso ou assimilao de conhecimentos mas em forar ou evitar rotinas, impor ou escapar ao controle,manter ou romper a ordem. Essa parte do tempo escolar destinada a vivncia de prticas de submisso. um lugar em que se aprende a futura mortificao do trabalho alienante que o espera fora da escola. Para o sistema, ideologicamente, importante manter todas as crianas dentro da escola porque a simples estada do aluno na escola j ensina as relaes sociais hegemnicas: submisso, competio e obedincia as regras. A escola eficaz, no seria essa, mas aquela que alm de ensinar o contedo, prepara o estudante-cidado para a autonomia e a auto-organizao, para a interveno na sociedade com vistas a torn-la mais justa, no sentido da eliminao da explorao do homem pelo homem. Para que isso ocorra necessrio que h algum grau de resistncia.
CAPITULO 2 A LGICA DA AVALIAO
Analisando a avaliao normalmente feita na escola seriada notamos que o centro da aprendizagem a avaliao e aprovao do professor e no aprender para intervir na prtica social. Essa a raiz da artificialidade da avaliao. H trs componentes nesse processo que denominamos avaliao em sala de aula que se complementam; o instrucional ( pelo qual se avalia o domnio de habilidades e contedos), o de comportamento ( que permite ao professor exigir obedincia as regras) e o de valores e 5 atitudes ( que consiste em reprimendas verbais e fsicas,comentrios crticos e humilhaes sobre os valores e atitudes dos alunos). Boa parte das avaliaes captam somente o primeiro aspecto a avaliao para saber o que o aluno aprendeu O segundo um poderoso instrumento de controle que o professor adquire pelo seu poder de reprovar No terceiro aspecto que se instala preferencialmente a lgica da submisso. Quando nos ciclos se impede a reprovao, supomos que se est interferindo apenas no aspecto instrucional, quando na realidade tambm se impede o exerccio de poder do professor no processo de ensino-aprendizagem. O problema que no se coloca nada no lugar, desestabilizando as relaes de poder existentes, obrigando o professor a lanar mo de outras formas de controle, nem sempre adequadas. A avaliao ocorre em dois planos ( o primeiro a nos indicar isso foi Perrenoud ) um formal e um informal No plano da avaliao formal esto as tcnicas e procedimentos palpveis como provas e trabalhos que conduzem a uma nota. A avaliao informal se constitui de juzos de valor invisveis que influenciam os resultados das avaliaes finais e so constitudos nas interaes dirias que criam representaes de uns sobre os outros. Se os professores no forem capacitados para interagir metodologicamente nesse jogo de representaes que regulam a relao professor-aluno,consciente ou inconscientemente os juzos formados determinaro o investimentos que far neste ou naquele aluno. Quando a avaliao formal entra em cena, a informal j atuou no plano da aprendizagem, de maneira que aquela tende apenas a confirma os resultados desta. A triangulao das avaliaes instrucional, comportamental e de valores e atitudes, tanto no plano formal como no informal levam a escola a assumir como instituio social aquilo que a sociedade capitalista requer como funo: hierarquizar, controlar e formar valores como submisso e competio, entre outros. Desse modo, mesmo na progresso continuada ou nos ciclos os aspectos perversos da avaliao informal continuam a atuar e a zelar pela excluso dos alunos H graves problemas enfrentados na implantao dos ciclos e da progresso continuada. Valendo-se agora da reteno pedaggica em lugar da reprovao por srie, criam-se nos ciclos ou na Progresso Continuada trilhas diferencias de progresso. Dessa forma alguns se ajustam em profisses menos nobres, e outros caminham em direo a profisses mais nobres e, como antes, um grupo eliminado entre um ciclo e outro ou ao final de um ciclo, depois de ter sido guardado quatro anos na escola na categoria de excludo potencial. Tudo ocorre como se fosse uma auto excluso do aluno que no teve condies de aproveitar as ricas oportunidades oferecidas durante sua escolarizao (recuperao, reforo,etc) O fato dos alunos estarem dentro da escola, independente de terem aprendido ou no d mais visibilidade aqueles alunos que no aprenderam e que antes eram simplesmente expulsos da escola pela reprovao administrativa. Os professores e pais erroneamente atribuem ao ciclo ou a progresso continuada o fracasso desses alunos quando ele produto da velha lgica da escola e da avaliao para a excluso. No esquema seriado, tais alunos no incomodavam pois eram eliminados pelos sistema. Eles so uma denncia viva da lgica excludente do sistema.A volta para o sistema seriado uma forma de calar essa denncia e precisa ser evitada.
CAPITULO 3 A LGICA DOS CICLOS
Os ciclos merecem ser apoiados pelo simples fato de contrariar a lgica da seriao e da sua avaliao. 6 Eles no eliminam a avaliao formal e muito menos a informal. As possibilidades de maior sucesso dependem de polticas pblicas e das concepes de educao que esto na base dos ciclos A concepo de ciclos que julgamos aceitvel parte da premissa da exigncia de superao da lgica da excluso ( inclusive a feita pelo interior dos ciclos) e tambm da lgica da submisso As duas propostas citadas (SP/MG) foram conduzidas por governos de diferentes partidos e ambas acumulam xitos e fracassos. Destacamos pontos para reflexo na experincia dos ciclos de formao (Escola Plural BH- MG) Diferente da Progresso Continuada de SP os ciclos prope alterar os tempos e espaos da escola. Na seriao o eixo central o processo de transmisso/assimilao dos contedos devendo o aluno assimilar um mnimo de 60% deles, pr-definidos para a sua aprovao para a srie seguinte. O ciclo incorpora a concepo da formao global do sujeito, partindo do pressuposto da diversidade e dos ritmos diferenciados no processo educativo, criando espaos de experincias variadas para dar oportunidade de construo da autonomia e da produo de conhecimentos sobre a realidade. O ciclo para a Escola Plural um tempo contnuo que se identifica com o tempo de formao do prprio desenvolvimento humano: infncia, puberdade e adolescncia. Os elementos a serem considerados pelo professor so a fase do desenvolvimento humano do aluno, suas caractersticas pessoais e as vivncias scio-culturais. A responsabilidade pela aprendizagem no individual, mas compartilhada por um grupo de docentes. Rompe-se com a seriao e adota-se um novo articulador de tempos e espaos da escola baseado no desenvolvimento da criana e suas vivncias. O ciclo pretende contrariar uma lgica scio-histrica e quando se contraria lgicas institudas sempre se paga um preo Pistrak, no ps revoluo russa, props uma reordenao dos tempos e espaos escolares das quais destacamos algumas temticas: a) Formao na Atualidade - entendendo-se por isso tudo que no nosso tempo tem requisitos para crescer e desenvolver-se. No nosso caso tem a ver com as contradies do capitalismo que uma formao social em decadncia. - O aluno, portanto deve ser preparado para entender seu tempo e engajar-se na resoluo dessas contradies, significando um avano para as classes menos privilegiadas e um acumulo para a superao do prprio capitalismo. A principal contradio a ser superada a explorao do homem pelo prprio homem - Os ciclos devem relacionar-se com a realidade social e no somente com certa faixa de desenvolvimento da criana. H o lado psicolgico do desenvolvimento, mas h tambm o lado social da formao.
b) Auto Organizao do Estudante - A negao da explorao do homem pelo homem deve ser conseqente em termos pedaggicos.Portanto a relao pedaggica no deve ser baseada na explorao nem preparar para a aceitao da explorao. As relaes devem ser horizontalizadas e no baseadas na aprendizagem da subordinao. Isso s acontece se forem valorizados o trabalho coletivo e a solidariedade. - Existe uma diferena que no deveria ser essencial entre o professor e o aluno, a do domnio do conhecimento. Essa diferena, na prtica, converte o professor em um 7 poder dominador. fundamental devolver essa relao a sua naturalidade. O professor deve ter sua autoridade pedaggica baseada no seu conhecimento e experincia, mas isso no pode se elevar ao nvel de contradio.
Na raiz desse antagonismo est a artificialidade dos processos de ensino como forma de subordinao e domesticao do estudante e do controle do professor pelo Estado. Para romper com isso necessrio alterar no s os tempos e espaos como o poder inserido nesses tempos e espaos, formando para a autonomia e favorecendo a auto-organizao dos estudantes. Significa fazer da escola um tempo de vida e no de preparao para a vida. Ao re-situarmos a posio do aluno na gesto escolar devemos rediscutir a posio de todos os atores no processo educativo. Se queremos estudantes construtores de um novo mundo, a escola deve ser o palco dessa aprendizagem e ter um projeto poltico pedaggico que aponte para tal direo. A questo da avaliao (e da reprovao) tem de ser colocada no contexto das relaes que ocorrem no interior da sala de aula, da escola e da sociedade. Nosso foco deve ser as relaes ente estudantes, professores, especialistas, etc e no apenas as conseqncias delas. Somente depois de observados esses princpios que podemos entrar na questo do currculo e dos mtodos de ensino. Costumamos tomar os mtodos de ensino e jogar fora sua fundamentao, assim que se faz por exemplo com Freinet e Vigostski para que sirvam aos interesses da escola capitalista. A pedagogia sovitica desenvolveu a idia dos complexos como conceito forte que deve ser entendido como a complexidade dos fenmenos tomados da realidade e reunidos ao redor de temas ou idias centrais determinadas. A reunio a marca essencial do sistema de complexos, mas o essencial no est na ligao das disciplinas, mas na ligao dos fenmenos, nas suas complexidades e interaes. O trabalho o fundamento da vida das pessoas. Da a realidade do trabalho colocar-se como centro do ensino (politecnia) O trabalho o foco articulador das relaes das crianas, tanto com a vida social quanto com a natureza, mas sob o olhar atento dos professores, sempre dispostos a apia-los com sua maior experincia e conhecimentos. As crianas formam coletivos, so divididas em grupos (mais novos e mais velhos) para dar conta do estudo e do trabalho. Na comuna escolar no existem classes. O ensino acontece nos gabinetes ou laboratrios. Tais gabinetes so sete: fsica, qumica, matemtica, cincias naturais, arte, cincias sociais e msica; h um clube junto com a biblioteca e sala para a educao fsica.(...) Os gabinetes esto disponveis para trabalho autnomo dos estudantes quando esto livres ( Pistrak, 1924). Alm dos grupos sistemticos de estudo h os crculos com os seguintes objetivos: 1. reunir livremente as crianas em base aos seus interesses cientficos e prticos, 2) dar plena liberdade para a satisfao imediata dos interesses aparecidos das crianas; 3) dar as crianas possibilidade de por si mesmas conduzir e organizar suas tarefas. A avaliao fica totalmente redefinida advinda da prpria atividade dos grupos de estudantes e crculos, tendo como uma das suas principais tarefas o controle do trabalho: 1)no sentido do inventrio do tempo gasto no trabalho e, 8 2) controle dos resultados do trabalho real. Desde o 2 o grau h uma comisso avaliadora de 3 ou 4 estudantes , a qual dirige a conduo e coleta de dados de controle do tempo gasto no preenchimento do trabalho, tanto fsico como intelectual sob conduo da professora de matemtica (Pistrak,1924) A questo da avaliao remetida ao trabalho real so as relaes naturais com coisas e pessoas que conduzem o processo, com construo coletiva de mecanismos de avaliao com legitimidade poltica do grupo. A noo de ciclo aqui exposta se escora nos princpios gerais desses fragmentos de Pistrak e vai alm daquilo que tem sido aplicado nos estados e municpios. Sua principal diferena que os tempos e espaos so colocadas a servio de uma novas relaes de poder entre professores e estudantes, com a tarefa de formar para a vida, propiciando novas relaes entre pessoas e entre pessoas e coisas. Os ciclos no podem constituir-se em mera soluo pedaggica para superar a seriao so instrumentos de superao das relaes sociais vigentes. Portanto devem ser vistos como elementos de resistncia. E desse modo no se deve esperar que funcionem plenamente. Em vez de querermos voltar a seriao, devemos lutar pelo aprofundamento da noo de ciclos e exigir condies adequadas para sua instalao e funcionamento.
CAPITULO 4 A LGICA DAS POLTICAS PBLICAS
H dois atores fundamentais, professores e pais. O seu envolvimento com o desenvolvimento dos ciclos um aspecto essencial a ser considerado. Os pais so vitais para a aceitao dos ciclos, pois eles reagem com a expectativa ingnua que tem com relao escola como fator de ascenso social. Esse dilogo com os pais deve ocorrer no momento da implantao do ciclo e durante ele e no como um elemento de marketing. Normalmente se faz um jogo de marketing posterior a implantao para convencer professores e pais a aceitarem a posteriori os ciclos. Os ciclos no devem ser implantados em massa como poltica pblica, mas atravs do convencimento a partir de experincias bem sucedidas apoiadas pelos governos, envolvendo pais e professores no processo. No se devem fazer experimentos com redes inteiras. As escolas devem ter autonomia para optar pela introduo da organizao ciclada. O caso mais grave de implantao desse tipo de experincia foi no do Estado de So Paulo com a Progresso Continuada, correndo o risco de comprometer a idia de ciclos. A diviso fsica dos alunos entre 1 a a 4 a e 5a a 8 a sries impede a redefinio dos tempos de formao, restando apenas a opo da diviso temporal em dois perodos de 4 anos com subdiviso interna de dois anos cada ciclo, no respeitando as fases de desenvolvimento das crianas. Foi uma poltica vertical. preciso analisar cada proposta. A Progresso continuada herdeira da concepo conservadora liberal, nela a avaliao assume papel de controle e atua para implementar verticalmente uma poltica pblica, j os ciclos de formao esto mais ligados s propostas transformadoras e progressistas. Neles a avaliao serve como elemento de crescimento e melhoria da escola a partir de dentro, mesmo que sob estmulo da poltica pblica. TRANSPARNICA: QUADRO P. 73 A 76 (REPRODUZIDO NO FINAL DO RESUMO) A avaliao, nas polticas pblicas que usam os ciclos, no feita para que se coloque uma cor e se caracterize publicamente o desempenho da escola. Da mesma forma que no se quer classificar alunos,tambm no se quer classificar escolas.A punio a uma escola 9 tida como vermelha pode, de fato, torna-la ainda pior se ela j estiver no limite de suas possibilidades. Em todo o processo, a auto-avaliao institucional, feita a partir dos atores, sempre ponto de partida e um processo de motivao permanente, e no de punio e controle, construindo com o tempo uma slida base de comparao consigo mesma. Polticas pblicas verticalizadas geram informao de difcil uso local, assumem padres genricos de qualidade a serem medidos como instrumentos centrais classificatrios, sem levar em conta a relao entre as condies oferecidas e os resultados atingidos. O principal argumento contra os ciclos tem sido sua incapacidade de ensinar as disciplinas escolares tradicionais, apresentando-se os ciclos e a progresso continuada como responsveis pela existncia de crianas analfabetas na 4 a srie do EF.No entanto, dados do SAEB mostram que 51% dos estudantes matriculados na 1 a srie no sabem ler adequadamente na 4 a srie. No se pode concluir que essa alta porcentagem se deva exclusivamente aos ciclos. No ciclo ou na progresso continuada, o aluno que no sabe ler e mantido na escola enquanto no regime seriado ele expulso no sendo detectado nas sries seguintes. No ciclo ele denuncia a qualidade do ensino No somos ingnuos. Isso no ocorre para denunciar. Para as polticas pblicas neoliberais, os ciclos e a progresso continuada tem a finalidade de diminuir os custos que oneram o Estado. Trata-se de custo e do fluxo do custo, coerente com a teoria do Estado mnimo que terceiriza os servios pblicos e corta direitos sociais. O que est em jogo no apenas o lado humano formativo, mas a eliminao da evaso ou reprovao pelo seu lado econmico ou como se costuma dizer do custo-benefcio. A ateno se volta para o ensino de disciplinas, em especial portugus e matemtica, e no para a formao. Os sistemas nacionais de avaliao monitoram os resultados das escolas de forma quantitativa e genrica (comparativa), criam competio (para eles a mola mestra da qualidade) e reduzem gastos. possvel que a nfase no ajuste de fluxo (Programas de Correo de Fluxos, Ciclos de Progresso Continuada, Recuperao de Ciclos, etc) vise fazer uma ampla faxina no sistema de ensino, de forma a corrigir seus custos econmicos e a preparar processos de privatizao por meio de terceirizao, permitindo a internalizao da excluso de forma mais dissimulada quanto aos custos polticos e sociais e ao mesmo tempo a externalizao dos custos econmicos, com aumento do controle sobre o processo educativo. Essa forma de operar dissimula a excluso social que passa a ser legitimada a partir da ideologia do esforo pessoal no interior da escola, responsabilizando o aluno por seu prprio fracasso. O prprio sistema capitalista prev que ao precarizar cada vez mais as condies de trabalho e ao intensificar o processo de explorao vai gerar tenses sociais que precisam ser monitoradas e amenizadas para no comprometer o prprio processo de acumulao de capital. A educao tem um papel para facilitar a reproduo do capital e tem um papel a cumprir. O processo de excluso e submisso apenas mudou sua forma de operar, a partir da incluso formal de 95% das crianas na escola. Uma das grandes contradies na organizao da escola por ciclos, posta pela sociedade capitalista, j que ela no deveria existir, aquela entre formar e instruir. A contradio entre formar e instruir aparece como necessidade de um sistema educacional que nega a formao, substituindo-a por instruo,nem sempre de qualidade 10 Esse debate tambm passa pelo tempo de permanncia do aluno na escola. Para que haja instruo e formao necessrio que se lute pela implantao se torne progressivamente de tempo integral.
TRANSPARNCIA - TRATENBERG P. 86
A questo da qualidade de ensino e dos recursos para a educao dependem do conceito de educao que se tenha. Se pensarmos em escola de tempo integral, necessrio no mnimo dobrar os valores gastos com educao. Essas lutas so importantes e tem que ser apresentadas em perspectiva histrica, em perspectiva de superao e no de soluo imediata. Ao invs de combater o ciclo ou a escola de tempo integral devemos localizar qual de fato nosso inimigo. Os impedimentos so gerados por uma estrutura social injusta e voltada para a hierarquizao que viabiliza a explorao do homem pelo homem, e para tal faz da escola um local compromissado com a excluso e com a submisso. Nessa perspectiva devemos confiar na nossa capacidade de resistncia e luta para gerar uma nova ordem mundial onde no haja explorao. Os ciclos como definidos aqui e a escola de tempo integral, so ancoras, embries do novo dentro do velho sistema educacional. O neoliberalismo e o social-reformismo passaro, mesmo que ainda reste muita luta. Quando tal momento chegar, saberemos o que colocar no lugar da organizao escolar capitalista.
Questo do Concurso de 1994 PMSP
Para Luiz Carlos de Freitas, a forma de funcionamento da escola no ingnua e nem sem propsitos definidos, pois se apresenta uma maneira particular de organizar os
(A) contedos e metodologias (B) alunos que querem realmente estudar (C) contedos curriculares de acordo com a clientela (D) trabalho dos alunos segundo sua capacidade e interesse em estudar (E) tempos e os espaos da escola, impondo um nico ritmo de aprendizado a todos.