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Couplet: resume a idéia desenvolvida nos quarteto, ou então, serve de antítese ao restante
do soneto.
O soneto1
O soneto já fora adotado ha muito tempo na Itália como a forma mais adequada para
um poema de amor. O poeta medieval Petrarca usa o soneto de modo consistente para se
dirigir a sua amada Laura. Com Petrarca, o soneto se compõe de catorze versos e se divide
em duas partes - a oitava contendo oito versos; o sexteto contendo seis versos. A oitava
expressava a primeira parte de uma idéia; o sexteto a segunda parte; a oitava expressava um
tema; o sexteto a contradizia. Com os italianos, o esquema das rimas era rigoroso: oitava -
a b b a; a b b a; sexteto - c d e, c d e ou c d c, d c d, ou qualquer outra combinação de duas
ou três rimas. Uma forma de verso assim e fácil para ser manejada em italiano, porque o
italiano tem muitas rimas. Se escolho a palavra affetto, outras palavras surgem
imediatamente em minha cabeça, todas rimas perfeitas: stretto, letto, petto e assim por
diante. Mas o inglês é muito mais limitado, tem muito poucas rimas perfeitas. Os poetas
ingleses tinham dificuldade em aderir à forma italiana (ou petrarquiana), e por isso
inventaram suas próprias combinações de rimas, com a única condição de que existissem
catorze versos. Mesmo os sonetos de Shakespeare são escritos em uma forma
comparativamente mais simples:
[Não deixes que ao casamento de mentes verdadeiras/Eu admita impedimento. Amor não é
amor/ Se se altera ao encontrar alteração/ Ou se curva com a separação a separar;/ Ó, não! é
uma marca fixada para sempre, /Que olha as tempestades e nunca se abala;/ É a estrela para
cada barco errante/ Cujo valor é desconhecido, embora se conheça sua altura.// Amor não é
o bobo do Tempo, embora lábios e rostos rosados,/ Caibam dentro da foice curva de seu
compasso;/ Amor não se altera com suas breves horas e semanas,/Mas tolera-os até o limite
da sorte.// Se isto for um erro, e se me provarem,/ Jamais escrevi, nem homem algum
amou.]
Shakespeare leva a forma do soneto mais longe do que os italianos: ele a usou não
apenas para a descrição da amada, para os protestos de amor e assim por diante, mas
também para a expressão de idéias. Seus contemporâneos - Sir Philip Sidney, Samuel
Daniel, Spenser e Michael Drayton (cujo belo soneto, que Começa com "Since there's no
help, come let us kiss and part" (Como não há ajuda, vamos nos beijar e nos separar), e
talvez o maior soneto elisabetano sem considerar Shakespeare) - contentaram-se em lidar
com o amor em seus aspectos mais convencionais. Pode-se passar um tempo bastante útil
olhando o Livro do verso inglês de Oxford, no qual encontramos espécimes de todos esses
escritores e também de outros.
(...)
Shakespeare poderia pensar que ele próprio acrescentara bastante as riquezas poéticas
de sua época. Ele escrevera não apenas sonetos, mas dois poderosos poemas narrativos -
Venus e Adonis e O rapto de Lucrecia. Vira o florescimento de canções de todos os tipos -
a Inglaterra se tornara de fato um ninho de pássaros cantores - e ele contribuiu, em suas
peças, com belos poemas líricos - tristes, alegres, amorosos ou de puro nonsense. Por toda
parte as pessoas cantavam e as palavras tinham tanta importância para o ouvido quanto as
melodias. Ele vira e ouvira o florescimento da palavra na Inglaterra; ele viu a ascensão do
inglês da posição de um dialeto camponês menor a de uma linguagem literária maior. E
tudo isso em poucos anos.
Sonnet 73
That time of year thou mayst in me behold
When yellow leaves, or none, or few, do hang
Upon those boughs which shake against the cold
Bare ruined choirs where late the sweet birds sang.
In me thou seest the twilight of such day
As after sunset fadeth in the west,
Which by an by black night doth take away,
Death’s second self, that seals up all in rest.
In me thou seest the glowing of such fire
That on the ashes of his youth doth lie,
As the deathbed whereon it must expire,
Consumed with that which it was nourished by.
This thou perceiv’st, which makes thy love more strong,
To love that well which thou must leave are long.2
Soneto 73
Aquela época do ano tu notarás em mim
Quando folhas amarelas, ou nenhuma, ou poucas, restam
Naqueles galhos tiritantes de frio,
Coros nus e arruinados, onde último trinavam doces passarinhos
Em mim vê tu o crepúsculo de um tal dia
Como quando depois de o sol se pôr no oeste,
Ao qual, pouco a pouco, a negra noite vai ganhando terreno
A segunda identidade da morte, que a tudo sela em descanso.
Em mim vês o lusco-fusco de uma tal luz,
Que nas cinzas de sua juventude repousa,
Como no leito de morte onde deve perecer,
Consumido com aquilo que o nutria.
Isso percebes que faça o teu amor mais forte,
Que ames bem aquilo que logo terás que deixar.
2
v. 4: Choirs: parte da igreja onde o coro canta. /v. 7: by and by: em breve/ v. 7: 3lack night: a noite
como imagem da morte./ v. 12: consumido pelas cinzas daquilo que nutria sua chama. / v. 14: ere long:
logo, em breve. /Thou: you; fatheth: fade; doth: does; thy: your.
Sonnet 30
When to the sessions of sweet silent thought
I summon up remembrance of things past,
I sigh the lack of many a thing I sought,
And with old woes new wait my dear time’s waste;
Then can I drown an eye, unus’d to flow,
For precious friends hid in death’s dateless night,
And weep afresh love’s long since cancell’d woe,
And moan the expense of many a vanish’d sight;
Then can I grieve at grievances foregone,
And heavily from woe to woe tell o’er
The sad account of fore-bemoaned moan,
Which I new pay, as if not paid before.
But if the while I think on thee, dear friend,
All losses are restor’d , and sorrows end.
Soneto 30
Quando para as sessões do quieto pensamento
Doces lembranças eu convosco do passado,
Não vendo o que buscava eu outra vez lamento
Com velhas mágoas o meu raro tempo escoado.
O olhar desabituado ao pranto afogo, então,
Por amigos que em noite infinda oculta a morte,
E choro, reaberta, a dor de uma afeição,
E quanta velha cena esvaeceu a sorte.
Posso afligir-me, assim, com penas já perdidas,
E faço gravemente, unindo dor a dor,
A conta de aflições já uma vez sentidas,
Que outra vez pago, qual se ainda devedor.
Porém se penso, amigo, em ti nesse momento,
Repara-se o perdido e cessa o meu tormento
Sonnet 105
Soneto 105
Soneto 130
O olhar da minha amada sol não é, pois brilha menos;
Mais rubro que sua boca é o rubro do coral;
A neve é branca, mas seus seios são morenos,
E seus cabelos, fios de algum negro metal;
Rosas que juntam branco e rubro eu as conheço,
Mas no seu rosto eu não distingo cores tais;
O odor de sua pele eu nunca desmereço,
Porém perfumes há que me transportam muito mais.
Embora a sua fala eu goste de escutar,
Com a música, bem sei, não tem comparação;
Jamais eu vi – concebo – alguma deusa andar,
Porém, quando caminha, a amada pisa o chão.
No entanto, pelos céus! tão rara a considero
Como as belas que exalta um símile insincero.
3
v. 1: mistress: dama/ v. 3: dun: cinza amarronzado, sem brilho/ v. 5: damasked: mesclada de vermelho
e branco. Rosa de damasco: originária de Damasco, Síria/ v. 8: reeks: emana; v. 11: go: caminhar, andar /
v. 14: she: mulher; v. 14: belie: dar uma idéia falsa de; v. 14: compare: comparação.