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O documento discute a urbanização da música sertaneja e como ela acompanhou a transformação do sertão ao longo do tempo. Apresenta exemplos de canções antigas e mais recentes para ilustrar como símbolos do sertão foram reinterpretados na música sertaneja moderna para refletir a nova realidade urbanizada do campo.
O documento discute a urbanização da música sertaneja e como ela acompanhou a transformação do sertão ao longo do tempo. Apresenta exemplos de canções antigas e mais recentes para ilustrar como símbolos do sertão foram reinterpretados na música sertaneja moderna para refletir a nova realidade urbanizada do campo.
O documento discute a urbanização da música sertaneja e como ela acompanhou a transformação do sertão ao longo do tempo. Apresenta exemplos de canções antigas e mais recentes para ilustrar como símbolos do sertão foram reinterpretados na música sertaneja moderna para refletir a nova realidade urbanizada do campo.
INTRODUO Em alguns aspectos da vida parece que as mudanas no so bem vindas. H nas culturas traos que rotulamos como tpicos ou tradicionais e por isso esperamos que eles permaneam imutveis com o passar do tempo e com a chegada do to proclamado progresso. Parece que sentimos necessidade de conservar, ou confinar o passado em certos lugares onde ele no atrapalhe a chegada do novo, porm perto o bastante para podermos recorrer quando sentimos algum tipo de saudosismo dos tempos de antigamente. assim com os ndios, que esperamos que permaneam em suas aldeias caando e coletando, fazendo a dana da chuva, usando suas tangas e cocares, tal como no sculo XVI; tambm assim no campo, onde o caf deve ser preparado com coador de pano e no fogo a lenha. Nesse sentindo, podemos observar que uma das maiores crticas feita msica sertaneja atualmente a acusao de que ela no conserva mais nada do serto e por isso ela no merea o nome de sertaneja. Mas ora, de que serto estamos falando? O serto no mais o mesmo, ele se transformou, ele se urbanizou e a msica que o cantava acompanhou essa transformao. Foram-se os bois, as boiadas, a rotina na fazenda, a filha do patro, as mocinhas nas janelas, os meninos nas porteiras; ficaram como temas preferidos das msicas sertanejas as paqueras nos sinais de trnsitos, as bebedeiras nos rodeios, os sonhos nos bancos de praa, e por ai vai. Mas vez por outra surgem em meio aos temas sertanejos modernos algumas canes acaipiradas, buscando reviver, ou at pretensiosamente, resgatar as origens desse gnero musical, e a essas canes que voltaremos a nossa ateno. O presente artigo pretende analisar, por meio de duas canes bastante populares do gnero sertanejo, a maneira como inmeras representaes do serto foram sendo construdas e resignificadas ao longo do tempo, a partir de uma base de smbolos comuns que remetem a antigos quadros presentes na memria coletiva do pas, smbolos esses construdos e reforados pela msica, literatura, historiografia e algumas correntes de pensadores. Buscaremos ainda refletir sobre a relao dos indivduos com o passado e com a memria na sociedade atual, bem como as implicaes que determinados posicionamentos tericos podem ter quando se considera objetos culturais, determinado morte ou a vida de culturas e tradies.
1 Graduada em Histria pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. 83
CAIPIRAS E SERTANEJOS: DEFININDO ALGUNS ESPAOS Se analisarmos um lbum (cd) de uma dupla sertaneja atualmente, das doze faixas que normalmente contm, dez so de msicas que falam de relacionamentos, geralmente, mal sucedidos; as outras duas so alguma moda de viola regravada ou, raramente, indita. Para separar o joio do trigo costumou-se diferenciar msica caipira de msica sertaneja, mas essa separao no resolve totalmente a questo, pelo fato de que a transio das diversas fases desse gnero de msica, geralmente cantado por duplas, no aconteceu de um dia para o outro. Na discografia de Tio Carreiro e Pardinho, por exemplo, podemos observar canes que tratam da rotina e das coisas campo, com melodias executadas somente com viola e violo, coexistem com canes que retratam a vida bomia na cidade, com melodias em ritmos variados, que vo da valsa ao tango. Diante disso como classific-los? Caipiras ou sertanejos? Melhor no rotular. O modo de vida caipira descrito com competncia pelo Socilogo Antnio Cndido (2001) em seu estudo Os parceiros do Rio Bonito: um estudo sobre o caipira paulista. Cndido desenvolveu seu estudo tomando por base uma comunidade caipira no municpio de Bofete, interior do Estado de So Paulo, em meados do sculo XX. Aquela cultura observada por Cndido naquela poca e espaos especficos, com certeza no existe mais, porque, como j foi dito, as mudanas so inevitveis. Contudo, na cultura e na Histria, assim como na natureza, as coisas no costumam desaparecer e sim se transformar. Dessa maneira consideramos que o serto no sumiu das msicas sertanejas, ele e a sociedade se transformaram com elas.
O PROCESSO DE RE-SIGNIFICAO E OS SIGNOS H algum tempo foi publicada uma reportagem, em um site de uma destas revistas de histria, associando a tradicional fogueira das festas juninas a antigos rituais pagos o que denota algo fantstico: como uma tradio, que por muitos poderia ser dada como morta continua viva e queimando literalmente sculos, milnios a fio. Claro que no se pode dizer que ela esteja intacta tal como era nos rituais ancestrais, e certo que a fogueira no carrega os mesmos significados e nem tem a mesma utilidade que tinha dentro daquela cultura, o que tambm no significa que a fogueira foi aculturada. Mas essa a grande questo: se encaramos cultura como um conjunto esttico de tradies e costumes estamos fadados a assistir a morte gradativa de todas as culturas, porque o mundo se transforma a cada segundo e nada permanece exatamente como sempre foi. 84
A partir do momento que enxergamos cultura como um conjunto de costumes, lngua, trajes, mitos, crenas de um povo, incorremos na noo de que a cultura algo que se pode adquirir, perder, substituir, dominar ou ser dominadas por outras, ou seja, admitimos a pertinncia do conceito j superado de aculturao como afirma Manuela Carneiro da Cunha: (...) j que a cultura era adquirida, inculcada e no biologicamente dada, tambm podia ser perdida. Inventou-se o conceito de aculturao e com ele foi possvel pensar para gudio de alguns, como os engenheiros sociais, e para pesar de outros, como alguns antroplogos na perda da diversidade cultural em cadinhos de raa e culturas. (1986, p.98) Cliford Geertz (1989) faz uma definio bem didtica ao descrever a cultura um roteiro em que cada indivduo, cada ator, sabe o que se espera de seu comportamento dentro de determinado sistema cultural, mas cdigo cultural no seria uma camisa de fora sempre haveria um espao para o improviso de cada ator social, reaes e comportamentos imprevisveis. Sendo assim, as culturas no cabem em conjuntos fechados e bem definidos, mas esto em constante movimento e reformulao. Voltando ao exemplo da fogueira, se admitimos que ela no tenha mais o mesmo significado, nem exatamente a mesma utilidade e est presente em uma cultura e contexto histrico totalmente diverso daquele em que teve origem, poderemos dizer ento que aquela tradio sobreviveu aos sculos? Sim, porm isso no significa necessariamente que ela seja a mesma, mas exatamente porque ela se transformou que ela continua viva. O smbolo fogueira, pago em sua origem, s sobreviveu porque foi incorporado aos rituais catlicos durante o perodo em que esta religio foi obtendo certa hegemonia no mundo ocidental. Apesar disso, essa tradio ainda mantm certa ligao com um dos seus significados originais, j que a festa junina tambm uma forma de celebrar a fertilidade da terra e a colheita 2 . Podemos aplicar a mesma analogia a tradio caipira, se vemos que ela ainda celebrada por meio das msicas, mas de maneira diferente, em construo diferente, e com outras utilidades dentro de um contexto cultural, que tambm totalmente diverso. Podemos dizer que bem ou mal a tradio caipira sobrevive. Mas sobre que argumentos sustentamos a afirmao que se trata da mesma tradio cantada h meio sculo? Ora, verificando que h uma base de smbolos comuns, bem ampla inclusive, entre outras coisas. Fazendo uma observao, mesmo que superficial, da produo de msicas desde a poca de Caboclo na Cidade at os dias de hoje com Vida Boa, podemos concluir que inmeras representaes do serto na msica sertaneja foram sendo construdas e
2 Ver PAILLARD, O fogo domado pela cruz, Revista Histria Viva, edio 68 - Junho 2009. 85
resignificadas a partir de uma base de smbolos comuns, que remetem ao serto e seus valores na memria coletiva do pas, isso nas msicas que optam por letras e melodias mais buclicas que, como j foi dito, representam uma pequena parte da produo desse gnero no pas. Uma enorme quantidade de msicas poderia ser citada neste trabalho, j que a produo desse gnero se multiplica cada vez, porm como o tema ser trabalhado no estrito espao desse artigo, tomaremos apenas duas como exemplo. A escolha obedeceu a um critrio mais emprico que terico, optou-se aqui em contrapor a letra de uma cano mais antiga a uma mais recente, ambas trazem uma representao do serto, mais ou menos direta: Seu moo eu j fui roceiro/No tringulo mineiro/Onde eu tinha o meu ranchinho./Eu tinha uma vida boa/ Com a Isabel minha patroa /E quatro barrigudinhos./ Eu tinha dois bois carreiros/ Muito porco no chiqueiro/ E um cavalo bom, arriado./ Espingarda cartucheira/ Quatorze vacas leiteiras/ E um arrozal no banhado./ Na cidade eu s ia/ A cada quinze ou vinte dias/ Para vender queijo na feira./ E no demais estava folgado/ Todo dia era feriado/ Pescava a semana inteira./ Muita gente assim me diz/ Que no tem mesmo raiz/ Essa tal felicidade/ Ento aconteceu isso/ Resolvi vender o stio/ Pra vir morar na cidade./ Minha filha Sebastiana/ Que sempre foi to bacana/ Me d pena da coitada./ Namorou um cabeludo/ Que dizia Ter de tudo/ Mas foi ver no tinha nada./ Se mandou para outras bandas/ Ningum sabe onde ele anda/ E a filha est abandonada./ Como di meu corao/ Ver a sua situao/ Nem solteira e nem casada./At mesmo a minha velha/ J est mudando de idia/ tem que ver como passeia./ Vai tomar banho de praia/ Est usando mini- saia/ E arrancando a sobrancelha./ Nem comigo se incomoda/Quer saber de andar na moda/ Com as unhas todas vermelhas. Depois que ficou madura/ Comeou a usar pintura/ Credo em cruz que coisa feia./ Voltar "pra" Minas Gerais/ Sei que agora no d mais/ Acabou o meu dinheiro./ Que saudade da palhoa/ Eu sonho com a minha roa /No tringulo mineiro./ Nem sei como se deu isso/ Quando eu vendi o stio/ Para vir morar na cidade./ Seu moo naquele dia/ Eu vendi minha famlia/ E a minha felicidade! (CHICO, FRANCO, 1982)
Moro num lugar/ Numa casinha inocente do serto/ Fogo baixo aceso no fogo/Fogo lenha ai i/ Tenho tudo aqui/ Umas vaquinhas leitera um burro bo/ Uma baixada um ribeiro um violo e umas galinha ai i/ Tenho no quintal/ Uns p de fruta e de flor/ E no meu peito por amor/ Plantei algum/ Plantei algum/ Que vida boa/ que vida boa/ Sapo caiu na lagoa/ Sou eu no caminho do meu serto/ Vez e outra vou/ Na venda do vilarejo pra comprar/ Sal grosso cravo e outras coisa que fart/Marvada pinga ai i/ Pego meu burro/ Fao na estrada o poeiro levantar/ Qualquer tristeza que for vai no passar/ Do mata burro ai i/ Galopando vou/ Depois da curva tem alguem/ Que chamo sempre de meu bem/ A me esperar/ A me esperar (CHAVES, 2004)
Estabelecendo um trabalho de comparao simples entre as letras e melodias, situando-as cronologicamente, podemos observar claramente como os smbolos vo sendo apropriados e re-significados com base nas msicas mais antigas e consagradas, dando origem a inmeras verses. Podemos teorizar que essas vrias verses so originrias de uma base de smbolos comuns, que foram sendo construdos, no pela msica, mas pela literatura e algumas correntes de intelectuais, como sendo representaes do chamado serto, quase sempre idealizado. 86
incrvel que versos separados por dcadas venham a sustentar representaes to parecidas, construdas sobre um mesmo repertrio de smbolos, mas que paradoxalmente carregam consigo um sentido to contrastante, se consideradas dentro do todo que formam na cano. O ar buclico e idlico do serto bem mais forado e artificial nos versos do compositor Vitor Chaves, do que nos versos de Nh Chico e Dino Franco, como comparar a natureza romntica idealizada de Jos de Alencar com o Regionalismo de Graciliano Ramos. No que nas duas composies mais antigas o serto esteja representado de forma realista, mas os valores implcitos nos versos so mais convincentes, mais verossmeis. As mais antigas seriam como matrizes, a idia fundamental, as mais recentes se apresentam como a representao da representao, carregada de tradies, to transformadas e re-transformadas que diferem em quase tudo da coisa que pretenderam representar. Mas de maneira nenhuma isso desmerece as canes mais recentes, porque por meio do que poderamos qualificar negativamente como um aglomerado de versos clichs sobre o serto que podemos perscrutar como a memria coletiva 3 construda e re- construda sobre um quadro de smbolos comuns: o serto, o fogo a lenha, o burro bo, o cavalo bom arriado, a estrada, a poeira, o prprio serto, vo sendo apropriados de diferentes maneiras, no s pelas duas canes citadas neste trabalho, mas tambm por outras tantas, em diferentes pocas, por diferentes sujeitos, fazendo permanecer vivos quadros to antigos. O que no incio era um desabafo diante da estranheza que a modernidade gerava no homem rural, estranheza essa personificada na vida na cidade com seus valores to pertubadoramente novos, hoje se apresenta como um refgio para quem assumiu para si esses valores modernos e inconstantes como filosofia de vida. Escutar msicas como Vida Boa para a gerao jovem, que um grande pblico dessa dupla, recordar um passado inocente e puro no vivido e por isso to idealizado. A relao do mundo moderno com a memria desse passado rural parece ser essa: confinar esse passado e suas tradies no estreito mundinho das msicas sertanejas e parques de exposies. No h nesse movimento nenhum interesse em reviver ou resgatar a cultura desse passado rural, to prescritiva e rgida se comparada aos valores modernos, mas sim transform-la numa forma nova de culto ao passado.
O SERTO COMO RESERVA DA PUREZA E DA NACIONALIDADE
3 Sobre a construo coletiva da memria ver HALBWACHS, 2004. 87
Explorando mais um pouco a contraposio das letras das duas canes citadas, podemos destacar ainda aspetos importantes, como a identificao do serto com a inocncia e pureza de valores, que aparece explcita nas letras das duas canes, seja na afirmao do pai de famlia que, indignado com os valores que sua esposa e filha encontraram na cidade, considera ter vendido sua famlia e sua felicidade junto com o seu stio, ou na casinha inocente do serto da letra da segunda cano. Outro aspecto interessante a relao entre o ambiente mais urbanizado, a cidade/vila, com o comrcio, e, no caso da letra de Caboclo na Cidade, a mudana para o ambiente urbano colocada como a causadora da desagregao dos valores e papis familiares. Em ambas canes a relao com a cidade seria, ou deveria ser, efmera e para fins comerciais pois a felicidade e os bons valores moram no serto. Essa idealizao do serto no regra nas msicas sertanejas, mas bem comum principalmente nas produes mais recentes, at porque com a crescente industrializao e urbanizao do interior do pas, criou-se certa melancolia desse mundo que vai se transfigurando, o que acaba sendo uma contradio, j que a imensa maioria da populao quer e espera por um crescente progresso econmico e tecnolgico. Refletir sobre essa contradio algo revelador, sobre qual a funo da memria desse passado na sociedade atual.
O PASSADO NO SEU DEVIDO LUGAR: CONSIDERAES FINAIS Ao observar como grande a quantidade de representaes semelhantes entre as msicas sertanejas, corremos o risco de analisar de maneira simplista e acusar a maior parte das composies desse gnero como sendo frutos de uma falta de criatividade crnica, no passando de cpias umas das outras. Mas por outro lado, podemos tratar este fenmeno mais cuidadosamente e perceber que, se h um nmero crescente de msicas sendo feitas sobre esta mesma temtica porque h uma demanda na sociedade por esse tipo de produto cultural. H um pblico que consome este produto, e as razes vo muito alm da publicidade, da mdia e de outros artifcios do mercado. Essa temtica toca as pessoas de alguma forma, e nos arriscamos a afirmar que justamente na memria e na relao que esta mantm com o passado, um passado que nem lhe pertence como indivduo, mas como membro de uma sociedade que h poucas dcadas era essencialmente rural. O sucesso dessas canes encontra respaldo numa tendncia de celebrar o passado rural da nossa sociedade, essa celebrao sempre carregada da idealizao desse passado e no h nela nenhuma inteno de analis-lo criticamente, muito menos de reconstru-lo em seus valores e tecnologias atrasados. A ordem confin-lo no mundo das coisas tpicas, 88
experiment-lo de vez em quando, como mais uma das tantas experincias que a sociedade atual oferece aos indivduos.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da ps modernidade. Traduo de Mauro Gama, Cludia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1998.
CANDIDO, Antnio. Os parceiros do Rio Bonito. 9 ed. So Paulo: Ed. Duas Cidades; Ed. 34, 2001. (1 edio em 1964)
CHAUI, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritria. So Paulo: Editora Fundao Perseu Abramo, 2000.
HALBWACHS, Maurice. A Memria Coletiva. Traduo de Las Teles Benoir. So Paulo: Centauro, 2004.
PAILLARD, Pierre. O fogo domado pela cruz. Revista Histria Viva, edio 68/ Junho 2009. So Paulo: Editora Abril. Extrado de: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/o_fogo_domado_pela_cruz.html. Acesso em 07 de agosto de 2009.
FONTES IMPRESSAS RIBEIRO, Jos Hamilton. Msica Caipira: as 270 maiores modas de todos os tempos. So Paulo, Editora Globo, 2006.
FONTES SONORAS CHAVES, Victor . Vida Boa. Vitor & Lu. Produo independente, 2004.
CHICO, Nh e FRANCO, Dino. Caboclo na Cidade. Dino Franco & Moura, Discos Globo Estereo, 1982.