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O documento discute a influência de Luís de Camões e Garcilaso de la Vega na poesia portuguesa e espanhola do século XVI. Analisa como Camões incorporou elementos do petrarquismo e platonismo de forma original em suas éclogas, combinando amor sensual e espiritualizado. Também examina como Garcilaso influenciou a estrutura rítmica da poesia de Camões.
O documento discute a influência de Luís de Camões e Garcilaso de la Vega na poesia portuguesa e espanhola do século XVI. Analisa como Camões incorporou elementos do petrarquismo e platonismo de forma original em suas éclogas, combinando amor sensual e espiritualizado. Também examina como Garcilaso influenciou a estrutura rítmica da poesia de Camões.
O documento discute a influência de Luís de Camões e Garcilaso de la Vega na poesia portuguesa e espanhola do século XVI. Analisa como Camões incorporou elementos do petrarquismo e platonismo de forma original em suas éclogas, combinando amor sensual e espiritualizado. Também examina como Garcilaso influenciou a estrutura rítmica da poesia de Camões.
qualquer quieto, humilde e doce estado, onde com minhas Musas s vivera, sem ver-me em terra alheia degradado; e ali outrem ningum me conhecera (Oitava I)
Cantara-nos aquele que to claro o fez o fogo da rvore Febeia, a qual ele, em estilo grande e raro louvando, o cristalino rio enfreia; tangera-nos na frauta Sannazaro, ora nos montes, ora pela aldeia; passara celebrando o Tejo ufano o brando e doce Lasso castelhano. (Oitava I)
J nas clogas, o canto alia funo catrtica a construo activa de um refgio, quando, desprotegidos no meio da natureza harmnica com que se no identificam, os pastores procuram na Poesia uma ordem artifical, humanamente manusevel e significativa. Por fim nas odes [... procura-se+ um mundo idealizado a que confere valor universal Na cloga, habitualmente definida como dilogo entre pastores, a criao de uma situao de raiz dramtica e, portanto, a movimentao de personagens, obriga o poeta a outrar-se. NO entanto, as clogas camonianas no se afastam, nos seus traos essenciais, de outros poemas das Rimas em que o lirismo predomina, como sejam as elegias, em que, por tradio mesmo, configurada uma situao de confessionalismo pessoal [...] O distanciamento do autor, pressuposto pela estrutura dramtica, no [] respeitado. [...] No se opera a separao ntida, to frequente noutros poetas, entre o pastor indeciso e aquele assume a condio de senex, ordenando a progresso do discurso e dando respostas s atribulaes e perplexidades dos amigos. Na compreenso deste processo, tornam-se fundamentais as reflexes, mais desenvolvidas nas clogas, em que se conclui ser o Tempo produto da vivncia individual e ter, portanto, um significado puramente psicolgico. que, ao negar a exterioridade do tempo em relao ao sujeito, o Poeta retira-lhe qualquer valor referencial que, em ltima anlise, poderia vir a constituir fonte de segurana, porque independentemente das vicissitudes sofridas pelo sujeito. O apagamento do mundo exterior total. No possvel reduzir a complexidade justaposio de imagens simples e monolticas, como sejam a de um Cames renascentista alternando com um Cames maneirista, de um Cames espiritual que encontraria a sua complementaridade num Cames sensualista, do Cames angustiado das canes oposto ao Cames luminoso das odes. Como qualquer artista, Cames feito das contradies humanas que se no adaptam a simplificaes esquemticas. (Maria do Cu Fraga) Transforma-se o amador na coisa amada. Este primeiro verso , como se sabe, ou se sabe pouco, do prprio Petrarca. [E o poema uma glosa] Quer dizer, a pintura da alma, a amada como pintura, a pura semi-deia e um fraco substituto, cujo efeito, em vez de permitir a confuso da amada e do amante instaurando o puro Amor, ironicamente se manifesta como exacerbao suprema de um Desejo que de si mesmo se enderea ao Real, se que o no postula. impossvel deixar de concluir que estamos em presena de uma ntida impugnao do que, habitualmente, se entende por ideal platnico. *+ falsamente platnico. Narcisista e masoquista, pois o sofrimento integrado ao amor e lido como positivo, por provir da Amada. *....+ Contra essa fraqueza vai o Amador resistir, revestindo-se da formosura da Amada, em suma, contentando-se com a sua essncia ideal? o que seria legtimo esperar, se Cames fosse inequvoco poeta platnico da tradio. Ora, em vez disso, o que nos descrito a Beleza sensvel e com to voluntria nitidez que Cames no esquece as sobrancelhas pretas [Verso de Cames: Engano com palavras o desejo[ Pensamos que concretamente a maneira prpria de Cames superar o petrarquismo, e, ao mesmo tempo, o platonismo que nele se cr implicado [...] Por isso o Poeta servir-se- das mesmas imagens, e quase do mesmo espelho, para dizer outra coisa. *A distino entre+ o Cames idealista e o Cames sensulista *...+ carece de justificao [...]. No h Cames algum diverso do que os poemas so. Como o movimento interno que lhes da vida, esses poemas no desenham um Cames, ora mstico ora sensual, ora platnico ora realista, mas uma conscincia potica (e sem dvida humana) na qual os opostos se combatem e se amam numa dialctica sem vencedor. Cames associa a Natureza inteira aos seus amores ou aos seus antemas endereados ao Destino adverso. Estamos longe da serenidade de Petrarca e dos jardins de Marclio Ficino. scar Lpes Ruptura da unidade ontolgica do sujeito *...+ A alterao do papel desempenhado pelo neoplatonismo, que deixa de funcionar como motivo equilibrante, tem por sucedneo a abertura de fracturas insanveis na intimidade do sujeito [que fica] num ensimesmamento depressivo, [...] a uoluptas dolendi. Qualquer um destes tpicos perspectivado sob um olhar que da mostras de um desengano de tal forma profund, que, pela sua intensidade, no encontra paralelo, de forma alguma, na poesia de Petrarca. Esta tendncia tem a sua correspondente na obra de poetas de outras Literaturas, que no a Portuguesa, durante o perodo maneirista. Recordem-se, a este propsito, os sintomas da crise do ditado bembesco patente na obra de um Della Casa ou de um Minturno. Os momentos de felicidade ilustrados pela poesia camoniana ou so breves e passageiros, ou so enganadores, ou se projectam num outro universo supra-sensvel [...] Tal lucidez decorre de um esforo de racionalizao do mundo que o circunda que tem por instrumento a prpria palavra potica Donde resulta que a dor tende a ser literariamente representada como realidade e a felicidade como falcia [...] Na cloca de Cames o problema que se coloca o do cancelamento de um passado onde se insere uma efectiva afeio, consignada atravs da palavra que a divulgou publicamente, o que corresponde, em termos psicanalticos, impossibilidade de remoo de um sentimento de culpa [...] As reminiscncias dantescas que, nesta fase do dilogo se mostram mais vivas, [so] de provenincia ptrea *...+ duro apartamento! vida triste! [Trata-se de auto-aniquilamento do] profundo conhecedor do amargo sabor da vida [...] O canto que canta um mero desafogo incapaz de sublimar todos os seus males [Estrutura rtmica] Constitudo por un maior nmero de versos por estrofe, vinte, e por un maior nmero de decassalbos ABC BAC- C DEeDFGHHGFFII [...] Gacilaso de la Vega segui-o na quarta cano, El aspereza de mis males quiero A anlise de questes que se prendem com a dilucidao das implicaes do amor sensual e do amor espiritualizado, dos apelos da materialidade ou da vontade de ascese at ao divino, da fragilidade humana ou da coragem herica, da rendio aos fados ou da determinao afirmativa, ou, num outro nvel de lugar ocupado pelos padres tradicionais ou pelas opes italianizantes, tem vindo a fornecer um contributo fundamental [Temos em Cames] o fascnio por un narcisismo deformante, por um lado, e, por outro, uma sensibilidade exacerbada a quento de fragmentario se encerra na experincia do amante.
Rita Marnoto Est exilado; mas o desterro no s afastamento no espao, separao irremedivel o Tempo irreversvel- do bem que noutro tempo possua *...+, viver gostosamente entregue s prprias mgoas Na ausncia o amor afina-se (tema do dolce stil nuovo e quatrocentista) [na subtil operao de] referir Ideia o que primerio se referia beleza transitria da mulher. Na prpria perdurao subjectiva das imagens, progressivamente depuradas*...+: E amor afeito de alma e sempre dura. JACINTO DO PRADO COELHO. Acentuemo-lo: tudo isto hbil mas feito, parece, com ingredientes literrios comuns. Seria fcil encontrar muitas reminiscncias de leituras de Virglio, Petrarca, Sannazzaro, Bembo, B. Tasso, Garcilaso, em todos estes versos. Mais fcil seria, porventura, surpreender qualquer pormenor que denunciasse a forma particular de sensibilidade do Poeta ou dos seus pares da faixa atlntica. Hernni Cidade *Antecedentes+ Entre S de Miranda e Cames situam-se diversos poetas de mrido reconhecido ou desconhecido - , e todos eles, directa ou indirectamente, sacrificam s novas musas, ainda quando as velhas continuam a merecer-lhe a devoo. So eles, Bernardim Ribeiro, que constitui grupo geraciona com S de Miranda, ambos nascidos em 1481-1482; um outro grupo, mais jovem duas dcadas do que este, um par de sangue real: o 1 duque de Aveiro, D. Jao de Lencastre, neto do rei D. Joo II, eo infante D. Lus, filho do rei D. Manuel I; um terceiro grupo geracional, mais novo outra dcada que o segundo, o de Cristvo Falco () e de Francisco S de Meneses, presumivelmente mais velho, este ltimo grupo, dez anos do que Cames. Nascidos entre 1520 e 1530, e pertencentes assim gerao de Cames, so Jorge de Montemor, Pedro de Andrade Caminha, D. Manuel de Portugal, Andr Falco de Resende, Antnio Ferreira e Diogo Bernardes A cano ocupa lugar privilegiado nas obras de Garcilaso de la Vega e de Juan Boscn, publicadas postumamente em 1543 [...] Mais prximo do que os outros jovens nascidos na dcada de 20, do impacto castelhano daquelas obras. Montemor ter aderido ao cnon daquelas [...] E os homens que, em 1543, j esto na meida-idade e at tero feito j a sua viagem de Itlia, como S de Miranda, considerariam o prestgio moral da poesia petrarquiana mais importante do que a efuso sentimental e contesanesca das canes de Garcilaso. [...] Cames usou de tudo quanto lhe convinha, [...e] entre Petrarca e Garcilaso [...] Cames teceria, e teceu a sua obra [...] Dada, porm, a correlao entre as literaturas portuguesas e castelhanas, no sculo XVI, vejamos mais de perto o que em Espanha efectivamente se passa quanto forma cano italiana ate ao tempo de Cames, sem nos limitarmos a Boscn e Garcilaso, ou meno de Jorge de Montemor. Com Boscn e Garcilaso, outro dos introdutores das formas italianizantes uma grande figura da vida pblica e de escritor, Diego Hurtado de Mendoza (1503-1575), neto do marqus de Santillana, da mesma idade de Garcilaso, e, em Portugal, do duque de Aveiro e do infante d. Lus, os imediatos seguidores de S de Miranda. Na sua obras, Mendoza tem cinco canes, com Garcilaso. Gaspar Gil Polo (1516-1591), homem da idade de Francisco de S de Meneses, e continuador da Diana de Montemor, com a sua Diana Enamorada (1564). tem ao todo cinco canes tambm. Gutierre de Cetina (1520-1556?), curiosa figura de poeta e soldado, que combateu na Itlia e morreu no Mxico, tradutor de Petrarca, tem dez canes (como o Cames cannico. Jorge de Montemor, que da idade de Cetina (e, em Portugal, da de Pedro de Andrade Caminha e D. Manuel de Portugal, tem doze canes. Gregrio Silvestre (1520-1569), outro portugus tambm castelhanizado e msico, como Montemor, ter apenas quatro, no fim da sua obra, porque tomou o partido dos tradionalistas. Hernando de Acua (1520?-1580), homem presumivelmente da idade de Cames, tem na sua obra duas canes apenas Jorge de Sena Em Cames, a entidade feminina no s se revela intangvel como se vai distanciando cada vez mais (Intro, 373) Embora o petrarquismo de Cames seja muitas vezes identificado com o recurso a determinados tpicos ou estilemas centrados na descrio da mulhes o nos efeitos que o amor provoca no poeta, o rasto do autor do Canzionere no poeta lusitano traduz-se sobretudo na observncia do princpio da imitatio vitae, que faz da poesia lrica um desafogo de esprito e uma intensa descoberta interior (Intro, 375) Ora, para este nome *Dinamene+, Faria e Sousa aponta o passo de Hesodo acima referido e acrescenta que em Garcilaso, cloga II, aparece Diname que corresponde a Dinamene. Mas a verdade que, ainda quando a palavra castelhana fosse, de facto, uma corruptela, evidente que no podia ser dessa forma errada que Cames colheu a sua. (Maria Helena Rocha, 398) So ainda notveis estes dois tercetos de um soneto a uma esperana (e dor) de um no sei o qu, relativamente frequente em Cames: Mas conquanto no pode haver desgosto / onde esperana farta, l me esconde / Amor um mal que no se v: / que dias h que na alma me tem um posto / um no sei qu, que nasce no sei onde, / vem no sei como e do no sei porqu... (scar Lpes, 401) A cloga dos Faunos prende-se, inequivocamente, s narrativas ovidianas das Metamorfoses. Antes de mais, pela prpria filiao no tema perseguio e fuga das ninfas, que na literatura europeia modena encontra a sua matriz nas Metamorfoses e, em particular, na narrativa da perseguio da ninfa Dafne por Aplo, que chega a Cames passando pelos Salices de Sannazaro e pela poesia de Garcialso de la Vega.