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SEXTA-FEIRA
– Causas da tibieza.
I. AQUELE QUE VOS SEGUE, Senhor, terá a luz da vida. Será semelhante
a uma árvore plantada à beira da água, que dá o seu fruto no devido tempo e
cujas folhas jamais fenecem1.
A nossa vida não tem sentido a não ser junto do Senhor. Aonde iríamos,
Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna 2. Os nossos êxitos, a felicidade
humana que possamos amealhar é palha que o vento arrebata3.
Verdadeiramente, podemos dizer ao Senhor na nossa oração pessoal: “Fica
connosco, porque as trevas nos rodeiam a alma e só Tu és luz, só Tu podes
acalmar esta ânsia que nos consome. Porque, dentre todas as coisas formosas
e honestas, não ignoramos qual é a primeira: possuir-Te sempre, Senhor”4.
Ele vem trazer-nos um amor que tudo invade, como o fogo, e vem dar
sentido à nossa vida sem sentido. O amor do Senhor é exigente, pede sempre
mais e leva-nos a crescer em delicadeza de alma para com Ele e a dar muito
fruto.
Todo o cristão cheio de amor a Deus é a árvore frondosa de que nos fala o
salmo responsorial, uma árvore que não seca nunca. O próprio Cristo é quem
lhe dá vida. Mas se o cristão permite que o seu amor esfrie, que a sua alma se
aburguese, virá essa grave doença interior que o deixará como palha que o
vento arrebata: a tibieza, que torna a vida sem amor e sem sentido, ainda que
externamente possa parecer que nada mudou. Cristo fica como que
obscurecido na mente e no coração, por um descuido culposo: não o vemos
nem o ouvimos. A alma é invadida por um vazio de Deus e tenta preenchê-lo
com outras coisas, que não são Deus e não a satisfazem; e um desalento
especial e característico impregna toda a vida de piedade. Perde-se a
prontidão e a alegria da entrega a Deus, e a fé fica adormecida, precisamente
porque o amor esfriou.
II. COMO PALHA que o vento arrebata. Sem peso e sem frutos.
Lutemos por não cair nunca nesta doença da alma e estejamos alerta para
perceber os primeiros sintomas. Recorramos com prontidão a Santa Maria,
pois Ela aumenta sempre a nossa esperança e nos traz a alegria do
nascimento de Jesus: Alegra-te e regozija-te, filha de Jerusalém, olha o teu Rei
que vem; não temas, Sião, a tua salvação está próxima12. Nossa Senhora,
quando recorremos a Ela, leva-nos ao seu Filho.
O desejo de luta não nos levará sempre à vitória: haverá fracassos, mas o
desagravo e a contrição nos aproximarão mais de Deus. A contrição
rejuvenesce a alma. “À vista das nossas misérias e dos nossos pecados, dos
nossos erros – ainda que, pela graça divina, sejam de pouca monta –,
corramos à oração e digamos ao nosso Pai: «Senhor, na minha pobreza, na
minha fragilidade, neste meu barro de vaso quebrado, Senhor, coloca-me uns
grampos e – com a minha dor e com o teu perdão – serei mais forte e mais
agradável à vista do que antes!» Uma oração consoladora, para que a
repitamos quando este nosso pobre barro se quebrar”13.
E estamos outra vez junto de Cristo. Com uma alegria nova, com uma
humildade nova. Humildade, sinceridade, arrependimento... e voltar a começar.
É preciso saber começar mais uma vez; todas as vezes que for necessário.
Deus conta com a nossa fragilidade.
(1) Sl 1, 1-4; Salmo responsorial da Missa da sexta-feira da segunda semana do Advento; (2)
cfr. Jo 6, 68; (3) Salmo responsorial da Missa da sexta-feira da segunda semana do Advento;
(4) São Gregório Nazianzeno, Epístola, 212; (5) cfr. Lc 5, 12-13; (6) R. Llull, Livro do Amigo e
do Amado, 115; (7) Benedikt Baur, A confissão freqüente; (8) cfr. Francisco Fernández-
Carvajal, A tibieza; (9) São Pedro de Alcântara, Tratado da oração e da meditação, 2, 3; (10)
cfr. S. Josemaría Escrivá, Caminho, n. 326; (11) ibid., n. 331; (12) Antífona 2 das leituras do
Ofício divino; (13) S. Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 95.