0 evaluări0% au considerat acest document util (0 voturi)
94 vizualizări4 pagini
O documento discute os princípios do duplo grau de jurisdição e da oralidade no processo judicial brasileiro. Questiona se o duplo grau é realmente necessário em todas as causas, especialmente as de menor complexidade analisadas nos Juizados Especiais, onde o princípio da oralidade deveria prevalecer sobre a necessidade de recurso. Também defende que o juiz de primeiro grau deve ter maior autonomia e responsabilidade na condução dos processos.
O documento discute os princípios do duplo grau de jurisdição e da oralidade no processo judicial brasileiro. Questiona se o duplo grau é realmente necessário em todas as causas, especialmente as de menor complexidade analisadas nos Juizados Especiais, onde o princípio da oralidade deveria prevalecer sobre a necessidade de recurso. Também defende que o juiz de primeiro grau deve ter maior autonomia e responsabilidade na condução dos processos.
O documento discute os princípios do duplo grau de jurisdição e da oralidade no processo judicial brasileiro. Questiona se o duplo grau é realmente necessário em todas as causas, especialmente as de menor complexidade analisadas nos Juizados Especiais, onde o princípio da oralidade deveria prevalecer sobre a necessidade de recurso. Também defende que o juiz de primeiro grau deve ter maior autonomia e responsabilidade na condução dos processos.
A prova, o princpio da oralidade e o dogma do duplo grau de jurisdio
Luiz Guilherme Marinoni
Titular de Direito Processual Civil da Universidade Federal do Paran. Advogado em Curitiba.
O duplo grau de jurisdio quer dizer, em princpio, que o juzo sobre o mrito deve ser realizado por dois rgos do Poder Judicirio. Entende-se, entretanto, que o princpio do duplo grau preservado nos casos em que o segundo juzo realizado por rgos colegiados compostos por juzes de primeiro grau de jurisdio 1 , tal como acontece nos Juizados Especiais de causas de menor complexidade. O duplo grau de jurisdio, portanto, poderia ser melhor definido como um duplo juzo sobre o mrito, at porque - mesmo quando a reviso feita pelo tribunal - no h que se falar em dois graus de jurisdio, mas em dois rgos do Poder Judicirio analisando a mesma causa.
A doutrina, quando alude ao duplo grau de jurisdio, costuma afirmar que a reviso das decises do magistrado de primeiro grau, por parte de um orgo hierarquicamente superior, fundamental para o controle da atividade do juiz 2 .
No possvel esquecer, contudo, que a finalidade do duplo grau no a de permitir o controle da atividade do juiz, mas sim a de propiciar ao vencido a reviso do julgado. Como disse h muito tempo Chiovenda, no possvel a pluralidade das instncias fundar-se, no direito moderno, na subordinao do juiz inferior ao superior, por no dependerem os juzes, quanto aplicao da lei, seno da lei mesma 3 . O recurso no mais uma reclamao contra o juiz inferior, mas o expediente para passar de um a outro o exame da causa 4 .
1 Ada Pellegrini Grinover, Aspectos constitucionais dos juizados de pequenas causas, So Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 1985, p. 20.
2 Acerca das vantagens e desvantagens do duplo grau de jurisdio, ver Oreste Nestor de Souza Laspro, Duplo grau de jurisdio no direito processual civil, So Paulo, Ed. Revistas dos Tribunais, 1995, p. 98 e ss.
3 Giuseppe Chiovenda, Instituies de direito processual civil, So Paulo, Ed. Saraiva, 1965, v. 2, p. 99.
4 Giuseppe Chiovenda, Instituies de direito processual civil, v. 2, cit., p. 99
No acertado dizer, em outras palavras, que o controle da justia da deciso possa ser confundido com um controle da prpria atividade do juiz. No h que se falar em controle da atividade do juiz quando se est discutindo sobre a oportunidade de se dar ao vencido o direito reviso da deciso que lhe foi contrria. Lembre-se que os tribunais, atravs das corregedorias, tm as suas prprias formas para inibir condutas ilcitas, que obviamente no se confundem com decises injustas.
Afirma-se ainda que os juzes de segundo grau tm maior experincia e, assim, maior possibilidade de fazer surgir solues adequadas aos diversos casos concretos. O argumento, que s vlido em relao ao recurso interposto a um rgo composto por juzes de segundo grau, leva concluso de que apenas o juiz mais experiente pode ter a ltima palavra acerca da situao conflitiva. Trata-se, como evidente, de um grande equvoco, pois no se pode dizer que o juiz mais antigo, que no teve qualquer contato com as partes e com a prova, necessariamente aquele que est em melhores condies de decidir. De qualquer maneira, em nenhum outro local algum diria que o profissional mais antigo deve dar a ltima palavra sobre todos os casos, a includos aqueles mais simples, que dispensam maiores divagaes, principalmente quando se sabe que uma dupla reviso sempre implica em maior gasto de tempo e que a demora sempre prejudica a parte que espera por uma soluo.
No incomum, por outro lado, aludir-se influncia psicolgica que o duplo grau tem sobre o juiz que est ciente de que a sua deciso ser revista por um outro rgo do Poder Judicirio. Sabe-se, porm, que a cada dia torna-se mais premente a necessidade de se conferir maior poder ao juiz. O problema, portanto, o de se exigir uma maior responsabilidade do juiz de primeiro grau, sendo completamente descabido aceitar que o juiz somente exercer com zelo e proficincia as suas funes quando ciente de que a sua deciso ser revista. Este raciocnio despreza a importncia da figura do juiz de primeiro grau, que deve ter maior poder e, portanto, maior responsabilidade para que a funo jurisdicional possa ser exercida de forma mais racionalizada e efetiva. Dar ao juiz poder para decidir sozinho determinadas demandas imprescindvel para a qualidade e efetividade da prestao jurisdicional.
importante deixar claro que as vantagens que costumam ser apontadas pela doutrina no permitem a concluso de que o duplo grau deva ser preservado, por ser um princpio fundamental de justia, em face de toda e qualquer situao conflitiva concreta.
A oralidade propicia um contato direto do juiz com as partes e as provas, dando ao magistrado no s a oportunidade de presidir a coleta da prova, mas sobretudo a de ouvir e sentir as partes e as testemunhas.
Chiovenda, referindo-se ao princpio da imediao, afirma que este princpio almeja que o juiz, a quem caiba proferir a sentena, haja assistido ao desenvolvimento das provas, das quais tenha de extrair seu convencimento, ou seja, que haja estabelecido contato direto com as partes, com as testemunhas, com os peritos e com os objetos do processo, de modo que possa apreciar as declaraes de tais pessoas e as condies do lugar, e outras, baseado na impresso imediata, que delas teve, e no em informaes de outros. O princpio no se acha apenas estritamente conjugado ao da oralidade, tanto que s no processo oral passvel de plena e eficaz aplicao, seno que, em verdade, constitui a essncia do processo oral 5 .
Recentemente, quando da edio dos chamados Juizados Especiais para causas de menor complexidade, exaltou-se o fato de o seu procedimento ser marcado pelo princpio da oralidade, que propiciaria uma justia de melhor qualidade, exatamente por permitir o contato direto do juiz com as partes e as provas.
A Lei dos Juizados Especiais afirma expressamente, logo no seu artigo 2 o , que o processo orientar-se- pelos critrios da oralidade, simplicidade, economia processual e celeridade, buscando sempre que possvel, a conciliao ou a transao. Se o legislador estava ciente da menor complexidade das causas sujeitas ao procedimento que estava sendo traado, dos benefcios da oralidade e da necessidade de maior celeridade na prestao jurisdicional, difcil entender o motivo que o levou a escrever o artigo 41 da Lei dos Juizados Especiais, segundo o qual, da sentena, excetuada a homologatria de conciliao ou laudo arbitral, caber recurso para o prprio Juizado, que ser julgado por uma turma composta por trs Juzes togados, em exerccio no primeiro grau de jurisdio, reunidos na sede do Juizado ( 1 o ), e no qual as partes sero obrigatoriament e representadas por advogado ( 2 o ).
A Lei dos Juizados Especiais, ao mesmo tempo em que exalta a oralidade, privilegia de forma ilgica a segurana jurdica atravs da instituio de um juzo repetitivo sobre o mrito. Note-se que se o julgador tem contato direto com as partes e a prova, e isto lhe permite formar um juzo mais preciso sobre os fatos, no h como se imaginar que um colegiado composto por juzes que no participaram da instruo possa estar em condies mais favorveis para apreciar o mrito.
A necessidade de um duplo juzo sobre o mrito simplesmente anula a principal vantagem da oralidade 6 . contraditrio falar em benefcios da oralidade e pensar em um juzo
5 Giuseppe Chiovenda, Instituies de direito processual civil, So Paulo, Ed. Saraiva, 1965, v. 3, p. 53.
6 Sobre os benefcios da oralidade, ver Mauro Cappelletti, La oralidad e las pruebas en el proceso civil, Buenos Aires, EJEA, 1972.
repetitivo sobre o mrito, proferido por juzes que no tiveram qualquer contato com as partes e com a prova 7 .
Tal contradio torna-se mais evidente diante do artigo 36 da Lei dos Juizados Especiais, que dispe que a prova oral no ser reduzida a escrito, devendo a sentena referir, no essencial, os informes trazidos nos depoimentos. Ainda que se diga, em face do artigo 13, 3 o , que os atos considerados essenciais sero registrados resumidamente, em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas ou estenotipadas, o certo que o juiz que preside a instruo retirar, do depoimento das partes e das testemunhas, aquilo que reputar mais relevante. Alm do mais, se a instruo faz surgir uma realidade processual que se forma a partir dos depoimentos das partes e das testemunhas, evidente que a vontade do juiz interfere no resultado da instruo, uma vez que o magistrado sempre tem que realizar um determinado juzo prvio (que dele e no de outro juiz) para formular uma pergunta parte ou testemunha. O que se quer dizer, em outros termos, que se o juiz vai formando o seu juzo sobre o mrito medida em que o procedimento caminha, equivocado supor que algum que julgar com base nos escritos dos depoimentos das partes e das testemunhas estar em melhores condies para decidir.
oportuno lembrar que a doutrina alem tem estabelecido uma relao entre o princpio do rechtliches Gehr (princpio poltico da participao - fundamento de uma participao em contraditrio mediante paridade de armas no processo jurisdicional) e a oralidade 8 . Entende-se, em outras palavras, que a oralidade fundamental para que se permita uma participao mais adequada dos litigantes no processo. Trocker 9 chega a afirmar, ao referir-se a este ponto, que a imediatidade imprescindvel para que o processo possa melhor responder s garantias constitucionais da ao e da defesa 10 .
7 Ver, neste sentido, Oreste Nestor de Souza Laspro, Duplo grau de jurisdio no direito processual civil, cit., p. 114 e ss.
8 Nicol Trocker, Processo civile e costituzione, Milano, Giuffr, 1974, p. 719 e ss.
9 Nicol Trocker, Processo civile e costituzione, cit., p. 721/722.
10 Cf. Luiz Guilherme Marinoni, Novas linhas do processo civil, 3
Uma Teoria de Direito Criminal: para além da Tutela de Bens Jurídicos: a consciência dos valores como fundamento e o Bem Jurídico como possibilidade de relação
A ANGÚSTIA DE DECIDIR E O JUIZ DAS GARANTIAS NO PROJETO DE REFORMA DO CPP: UMA IMPORTANTE CONTRIBUIÇÃO DA PSICANÁLISE PARA O DIREITO - Denise Luz e Leon Murelli Silveira