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O documento discute a confluência entre música, literatura e cinema ao longo da história. Desde as origens, o homem usou diferentes formas de expressão como a arte rupestre, escrita e música para se comunicar. A literatura e música têm uma longa história de inter-relação, confluindo em formas híbridas como a ópera e influenciando o desenvolvimento um do outro. O cinema mais tarde também se juntou a essa confluência entre as artes.
O documento discute a confluência entre música, literatura e cinema ao longo da história. Desde as origens, o homem usou diferentes formas de expressão como a arte rupestre, escrita e música para se comunicar. A literatura e música têm uma longa história de inter-relação, confluindo em formas híbridas como a ópera e influenciando o desenvolvimento um do outro. O cinema mais tarde também se juntou a essa confluência entre as artes.
O documento discute a confluência entre música, literatura e cinema ao longo da história. Desde as origens, o homem usou diferentes formas de expressão como a arte rupestre, escrita e música para se comunicar. A literatura e música têm uma longa história de inter-relação, confluindo em formas híbridas como a ópera e influenciando o desenvolvimento um do outro. O cinema mais tarde também se juntou a essa confluência entre as artes.
131 MSICA, LITERATURA E CINEMA: CONFLUNCIA DE ARTES
FLECK, Gilmei Francisco 1
LOPEZ, Cristian Javier 2
RESUMO: Desde suas origens, o homem manifestou-se como ser social capaz de expressar- se por meio das diferentes linguagens. Em todas as diferentes pocas, culturas e povos, vemos esta necessidade imperiosa do homem de se comunicar com o seu meio. Em sua busca incessante pela comunicao desenvolveu diferentes meios de expresso e entre esses destacam se ao longo da histria a Literatura e a Msica como linguagens prprias que confluram ao longo dos sculos e possibilitaram formas hbridas de manifestao da subjetividade. Essa confluncia com tudo ampliada e enriquecida quando a ela, mais tarde, se junta a arte cinematogrfica. Buscamos analisar ao longo deste trabalho parte da trajetria dessa confluncia: Literatura, Msica e cinema. Para isso abordamos num primeiro instante a confluncia da Msica e Literatura na histria e, em seguida, j na fase da produo das grandes peras enfocamos o enriquecimento dessa confluncia com o aporte da arte cinematogrfica. PALAVAS-CHAVE: Confluncia de artes, pera, Estudos comparados.
Desde suas origens, o homem manifestou-se como ser social capaz de expressar-se por meio das diferentes linguagens. Foi, e segue sendo ainda hoje, o seu desejo inconsciente de se expressar que o leva e dirige em busca de diversas formas que lhe sirvam e pelas quais possa se manifestar frente s mais variadas circunstncias. Em todas as diferentes pocas, culturas e povos, vemos esta necessidade extrema do homem de se comunicar com o seu meio. Como exemplo disso, podemos citar, j nos comeos da histria, as primeiras criaes grficas
1 Gilmei Francisco Fleck Professor Adjunto da UNIOESTE/Cascavel na Graduao e Ps-graduao em Letras nas reas de Literatura Comparada e Culturas Hispnicas. Doutor em Letras pela UNESP/Assis. Vice- lder do grupo de pesquisa Confluncias da Fico, Histria e Memria na Literatura. Coordenador do PELCA: Programa de Ensino de Literatura e Cultura. Coordenador do Projeto de Pesquisa Bsica e Aplicada Gneros ficcionais hbridos da modernidade: outros olhares sobre o passado da Amrica, financiado pela Fundao Araucria. E-mail: chicofleck@yahoo.com.br 2 Cristian Javier Lopez Acadmico do curso de Msica da Universidad Nacional de Tucumn/Argentina e do Conservatorio Provincial de Msica de Tucumn/Argentina. Intercambista do Programa de Ensino de Literatura e Cultura PELCA da Unioeste/Cascavel. Colaborador do Projeto de Extenso: Literatrio a prtica da Literatura na escola, vinculado ao Programa. Colaborador do Projeto de Pesquisa Bsica e Aplicada Gneros ficcionais hbridos da modernidade: outros olhares sobre o passado da Amrica, financiado pela Fundao Araucria e Coordenado pelo prof. Dr. Gilmei Francisco Fleck. E-mail: cj_lopez2@hotmail.com ANAIS DO SEMINRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA Volume 1, Nmero 1. Curitiba: FAP, 2012.
132 chamadas, atualmente, de Arte rupestre. Com elas, sem conhecer a escrita ainda, o homem retratava seu mundo e suas vivncias. A nsia de manter vivas as conquistas, as descobertas e as tantas outras experincias vivenciadas e transmitidas oralmente de gerao a gerao levou nossos antepassados a encontrar muitos meios de registr-las. Tais distintas formas de comunicao foram evoluindo at que se chegou a um complexo sistema chamado escrita que, sempre calcado na base oral, possibilitou um acmulo maior e uma sistematizao mais precisa de informaes, facilitando o acesso a elas, tal qual concebidas em sua poca, por indivduos distanciados no tempo. Este feito, como sabemos, marcou o limite entre a pr-histria e o incio da histria. Assim, a escrita tornou-se um instrumento, um meio, uma ferramenta pelo qual os homens passaram, ao lado da oralidade, a registrar a sua viso dos acontecimentos, aqueles que julgaram relevantes, expondo, assim, a sua leitura de mundo. Esta leitura, ou seja, a viso, a concepo e o entendimento da realidade impregnada pela inteno de explicar aquilo que lhe parecia raro ou estranho possibilita ao homem criar uma imagem do mundo que o cerca. De acordo com Merino (2002, p. 57), la narracin de ficciones ha sido el instrumento natural de ser humano para explicar el mundo a su medida desde que tuvo conciencia de existir en l. [] somos el homo sapiens porque somos el homo narrans. Estes registros, por sua vez, passaram a ser as fontes referenciais das quais hoje nos servimos para realizar a leitura de nosso mundo, para entender nossa realidade, consequncia destas vivncias passadas. Contudo, dentro desse sistema evolutivo o ser humano desenvolveu outras preciosas formas de comunicao: as artes. Por meio delas o homem pde tambm expressar grande parte de sua subjetividade. A msica um desses meios de expresso e comunicao que o ser humano foi aperfeioando e ampliando ao longo de toda a histria; uma linguagem prpria que possibilita o conhecimento do mundo interior, das outras pessoas e de ns mesmos. Conforme expressa William Lovelock (2001, p. 9), a msica no progrediu no sentido de que ficou continuamente cada vez melhor [...]. S em tempos comparativamente recentes que se obteve uma compreenso clara do valor de grande parte da msica mais antiga [...]. O empenho dos musiclogos nesse sentido representa um dos mais significativos esforos em ANAIS DO SEMINRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA Volume 1, Nmero 1. Curitiba: FAP, 2012.
133 busca da histria dessas formas peculiares de expresso desenvolvidos pelo homem ao longo de sua existncia. Por outro lado, ao dominar e aperfeioar cada vez mais o sistema da escrita, o homem passou a efetuar seus registros com uma maior riqueza de nuances, empregando um maior e mais diversificado conjunto de tcnicas narrativas. Esse fato levou-o, em certo momento, a optar por distintas formas de registros, separando aqueles que se propunham a ser objetivos, mais cientficos e passveis de comprovao daqueles mais subjetivos, mais voltados para a explorao do potencial da prpria linguagem. O desenvolvimento do potencial representativo da linguagem conduz ao aparecimento da arte literria uma expresso artstica que explora ao mximo o poder expressivo, evocativo e representativo dos signos lingusticos, utilizados pelo homem em seu processo mais comum de comunicao ampliando, desse modo, a prpria essncia da linguagem, uma vez que
[] la literatura nos permite vivir en un mundo cuyas leyes transgreden las leyes inflexibles por las que transcurre nuestra vida real, emancipados de la crcel del espacio y del tiempo, en la impunidad para el exceso y dueos de una soberana que no conoce lmites. (VARGAS LLOSA, 2002, p. 394)
Essas duas linguagens msica e literatura tm vivido muito prximas desde muitos sculos e, na atualidade, no representam to s a juno de duas linguagens diferentes em um plano de arte, seno todo um complexo de inter-relaes e interdisciplinaridades que oferecem inmeras possibilidades de aproximaes. A confluncia entre essas duas artes remonta, tambm a tempos longnquos, s origens mesmas de alguns sistemas sociais e culturais que influenciaram toda a nossa histria. Nomeamos algumas civilizaes, a modo de exemplo, que promoveram, de forma relevante, essa confluncia. 1- Grcia: uma civilizao que nos deixou como legado uma vasta coleo literria, bem como em outras artes. A msica, na Grcia, estava ligada a diversos aspectos da vida cotidiana, poltica e religiosa. Foi o grande filsofo Pitgoras, a quem se confere a descoberta das leis da harmonia e da relao aritmtica da escala musical, que teve singular importncia ANAIS DO SEMINRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA Volume 1, Nmero 1. Curitiba: FAP, 2012.
134 nesse contexto, transcendendo fronteiras e oferecendo-nos as bases do sistema musical ocidental. 2- ndia: nessa civilizao encontramos um valioso exemplo de como as expresses literrias e musicais se entrelaam na vida dos povos. Esta relao est plasmada nos livros Vedas. Estes livros so um conjunto de quatro escritos em snscrito, de carter religioso, dentro dos quais se fixa, detalhadamente, os diferentes rituais do brahmanismo. Especificamente no livro chamado Samaveda Veda dos cantos rituais esto plasmados at os modos vocais em que devem ser executadas as canes para os rituais. 3- Povos pr-colombianos: entre os habitantes nativos da Amrica Latina destacamos as civilizaes astecas, maias, incas y guaranis em especial, pois tinham em suas estruturas sociais uma relao estreita entre as diferentes reas e a msica. Sculos depois da conquista da Amrica os catequizadores, ao aprender a lngua dos nativos, passam a relatar essa relao ao recopilar as histrias, hbitos e costumes desses povos. Exemplo disso o Chilan Balan e o Popol Vuh, dois grandes escritos que sobreviveram at nossos dias. So uma coleo de textos que expe a criao do mundo, do homem e dos animais, calendrios e rituais. Ditos escritos, influenciados pela viso dos conquistadores, foram traduzidos a vrios idiomas como o Espanhol e o Francs. As primeiras composies musicais estavam relacionadas, diretamente, com a transmisso de valores e costumes prprios de cada cultura. Essa relao estava ligada a atos da vida cotidiana, religiosa, cultural e poltica. Nesse sentido, Loverlock (2001, p. 6-7) registra: a histria do desenvolvimento de uma arte no pode ser tratada isoladamente. A msica, tal como a pintura, a escultura ou a arquitetura, tem sido afetada continuamente por fatores externos, em espacial as condies e mudanas eclesisticas e sociais. Desde suas origens tambm a literatura passou, ao igual que a msica, por sua forma oralizada de expresso e esteve sujeita s condies sociais, polticas e religiosas vigentes em cada sociedade que a adotou como forma especial de arte. a tradio oral que nos deu o nascimento das historias, fbulas, lendas, contos, e tantas outras formas de criao que cada povo utilizava e, assim, construa seu legado artstico, histrico e cultural. Esses conhecimentos se transmitiram de gerao em gerao, em rituais quase sagrados em muitas culturas, perpetuando-se ao longo dos sculos. Isso se deu, entre outros gneros literrios, ANAIS DO SEMINRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA Volume 1, Nmero 1. Curitiba: FAP, 2012.
135 com o conto, conforme menciona Gmez Domingo (2007, p. 56) ao apontar que es desde luego, en la tradicin y transmisin oral donde se fragu el cuento, pasando de generacin a generacin y de unas culturas a otras, aunque ha mantenido siempre su esencia. Assim encontramos na histria, por exemplo, a figura do jogral, que ia de povoado em povoado, levando as noticias, msicas, lendas e entretenimentos. Aps estes tambm vieram os trovadores os primeiros em adotar o latim como lngua popular , que em seu ofcio uniam msica e literatura. Eles foram adotando diferentes romances em sua tarefa, os quais dariam origem a algumas das lnguas neolatinas atuais. Dessa poca se tem conservado alguns exemplos dessa mistura entre msica e literatura que, em sua forma oral, transmitiam-se de povo em povo, utilizando-se, tambm, dessa rica mistura de lnguas que conviviam, por exemplo, na Pennsula Ibrica. Vejamos, pois alguns pequenos fragmentos de cantigas dessa poca.
Jarchas mozrabes (siglo XI)
Qu far, mamma? Meu al-habib est ad yana. () Gar, qu fareyu? Com vivireyu? Este al-habib espero, por l morreyu. Cantiga de amigo Gallego-portuguesa (siglo XIII) Ondas do mar do Vigo, Se vistes meu amigo! e ai Deus, si verr cedo! Ondas do mar levado, Se vistes meu amado e ai Deus, se verr cedo!
Como se puede observar, esos antiguos versos, compuestos para ser cantados, o recitados acompaados de msica, revelan formas de lenguaje que, al pasar del tiempo constituiran las actuales lenguas neolatinas o entonces iban a desaparecer con la imposicin de sas. Lo que nunca ha desaparecido es la hermandad entre msica y literatura que cada vez ms pasaba a explotar diferentes medios de conjugar sus formas propias de expresin del subjetivismo, del lirismo amoroso, y los sentimientos elevados del alma humana. Nesse contexto da Pennsula Ibrica encontramos, j durante a poca do Renascimento, a produo potica de Juan del Encina (1469-1529), na qual a irmandade entre Msica e Literatura constitui-se em fonte primaria da produo. A maior parte de sua obra lrica foi composta com intenes claras de que fora cantada, acrescentando-lhe assim, no somente aquilo que prprio da literatura, como tambm o poder evocador do ritmo e da ANAIS DO SEMINRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA Volume 1, Nmero 1. Curitiba: FAP, 2012.
136 cadncia, proporcionados pela musicalidade. Explorando fatos do cotidiano, transformados em matria potica, o eu-lrico canta suas aventuras a seu interlocutor em lamentaes de amor, como podemos observar em Ay, triste, que vengo:
Ay, triste, que vengo Ay triste que vengo vencido damor magera pastor.
Ms sano me fuera no ir al mercado Que no que viniera Tan aquerenciado. Que vengo cuitado vencido damor magera pastor.
Di jueves en villa Viera una doata Quise requerilla Y aball la pata. Aquella me mata vencido damor magera pastor.
Con vista halagera Mirla y mirme Yo no s quien era Ms ella agradme. Y fuese y dejme vencido damor magera pastor. De ver su presencia Qued carioso Qued sin hemencia Qued sin reposo. Qued muy cuidoso vencido damor magera pastor. [] Sin dar yo tras ella No cuido ser vivo Pues que por que ella De m soy esquivo. Y estoy muy cativo vencido damor magera pastor.(GUIJARR O CEBALLOS, 1999). ANAIS DO SEMINRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA Volume 1, Nmero 1. Curitiba: FAP, 2012.
137 Com um relato simples, o eu - lrico expressa a sua magera pastor todo seu sofrimento diante do encontro que teve com aquela que lhe arrebatou o corao e a paz ao no corresponder a seu amor, deixando-o sozinho e com a alma ferida. Tal subjetividade, expressa por meio de um poema narrativo conjugado ao ritmo, cadncia e melodia da msica, chega ao mago da subjetividade do homem. Essa confluncia entre Literatura e Msica passa historicamente por um processo de intensificao. Nesse processo de evoluo da confluncia vo surgindo formas novas de expresso artstica e, mais adiante, teremos outro exemplo de como a Literatura e a Msica vo estendendo suas inter-relaes tambm a outras artes como a dana, o teatro, as artes visuais para, finalmente, criar uma das mais complexas mesclas de expresses artstica nas quais essas diferentes expresses artsticas desempenham um papel fundamental no conjunto total do que se veio a conhecer como a pera. Como exemplo dessa ampla confluncia de artes, com origem na literatura, podemos citar A dama das camlias (primeira publicao em 1848), de Alejandro Dumas (filho). Esta obra literria pertence ao perodo de transio do Romantismo ao Realismo. A pera La Traviata (1853), do compositor italiano Giuseppe Verdi, est baseada nesse romance. Contudo as inter-relaes dessa obra literria no cessam nessa confluncia, pois ela tambm uma das obras que recebeu ateno especial da stima arte: o cinema. Quando a essa conjuno Literatura, Msica e Teatro se junta a arte cinematogrfica h no s uma ampliao e enriquecimento no contexto artstico como tambm uma maior popularizao dessas artes conjugadas, que deixam de ser to eletizadas e seu acesso oportunizado a um pblico muito maior. Graas ao invento dos irmos Lumire, em 1895, quando estes realizam a primeira exibio pblica de cinema, que essa nova e intensa confluncia se faz possvel. Assim, a obra de Dumas (1848) foi levada s telas, com ttulo homnimo, j em 1921. Alm dela temos tambm o filme La Traviata, de Challis Sandersen, em 1922. Inspirada tambm na obra de Dumas, parece nas grandes telas, em 1947, La Desideria, que narra as aventuras de uma jovem atriz eleita por um produtor cinematogrfico para personificar a Margarita Gauthier a dama das camlias. Alm ANAIS DO SEMINRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA Volume 1, Nmero 1. Curitiba: FAP, 2012.
138 dessas adaptaes ao cinema temos uma mais, produzida na Amrica Latina, mais especificamente na Argentina, em 1953, cujo ttulo La mujer de las camelias. Todas essas diferentes produes remetem ao que expressou Josmar de Oliveira Reyes (2009, p. 870), ao mencionar que o termo adaptao aplicado a filmes tendo origem numa obra literria, recorrendo explicitamente ao seu contedo e estrutura narrativa e suas personagens. Este termo designa uma operao deliberada de transferncia. Contudo, cabe ressaltar que
[...] a adaptao no um simples veculo de contedos e assuntos. Ela em primeira instncia uma operao de leitura que depende da cultura e do mundo de referncia do autor e do espectador. Mas o cinema no necessita retomar explicitamente a substncia de uma obra literria para tratar o tema. No existe neste sentido hierarquia entre a literatura e o cinema tanto quanto entre obras literrias quando as consideramos como produtos de uma escrita. (REYES, 2009, p. 869),
Exemplos dessa confluncia entre artes que se estabeleceram desde a Antiguidade podem ser apreciadas nas expresses literrias e musicais da atualidade, unidas a mais atual arte cinematogrfica. Desse modo, diferentes gneros literrios, interpretados e expressados por meio da msica, inspiraram inmeras produes cinematogrficas. Destacamos, entre outras: - La Corte de Faran (A corte do Fara): filme de Jos Luis Garca Sanchz, baseado na Zarzuela (1910) de mesmo nome e que foi protagonizada pelos conhecidos atores Ana Belen y Antonio Banderas, de 1985. - Cavalleria rusticana: (Fatal desire, 1953) filme de Franco Zeffirelli, baseado na pera homnima (1890) na qual atuou Plcido Domingo, de1982. Todos estes so produtos artsticos que se originam a partir das diversas confluncias de artes e, finalmente, resultam num filme. Assim, [...] o cinema, por mais que queira afirmar sua individualidade, obrigado a admitir heranas da fotografia, do teatro, da dana, da msica e de outras linguagens. (GERBASE, 2003, p. 64). Essa forma hbrida de expresso artstica entre Literatura, Msica e Cinema constitui-se ainda hoje em uma das facetas das culturas neolatinas que, desde as ANAIS DO SEMINRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA Volume 1, Nmero 1. Curitiba: FAP, 2012.
139 tradies orais dos romances empregados por jograis e trovadores, efetuam essa confluncia e, desse modo, enriquecem todas as expresses. Assim, temos, hoje, a possibilidades de conhecer e apreciar os melodiosos e rtmicos versos do poeta hispnico Rafael Alberti na interpretao musical da atriz espanhola Ana Belen, assim como os versos do poeta chileno Pablo Neruda, de seu Poema XV, na inesquecvel voz de Mercedes Sosa e parte do talento de Neruda no filme Il postino (O carteiro e o poeta) de 1994, do diretor Michael Radford, originalmente em idioma Espanhol e Italiano, que tem o romance Ardiente Paciencia, de Antonio Skarmeta, como fonte inspiradora. Na atualidade podemos, pois, apreciar as vrias formas de expresso artsticas hbridas criadas ao longo do tempo. Essas expresses no so estticas, mas sim evolutivas. Elas continuam seu caminho rumo ao desenvolvimento de suas mximas potencialidades. Todas as diferentes formas de expresso comunicativa estiveram sempre entrelaadas e esta confluncia que enriqueceu a todas as diversas possibilidades de exteriorizar a viso de mundo de cada ser humano. Desse modo,
Ao encontro de uma inspirao literria e da utilizao da linguagem cinematogrfica nasceram obras que, no se contentando em explorar temas ou formas literrias, de serem unicamente um receptculo, elaboram formas artsticas que so um novo estado do texto das quais elas prolongam ou renovam o questionamento. preciso situar a adaptao na interseo, como um lugar de intercmbio e de circulao. A adaptao modifica o sentido e a amplitude da narrativa. A passagem da literatura ao cinema induz uma mudana de espcie narrativa como nos diz Paul Ricoeur. No se deve, portanto, falar somente de dependncia, ou ao inverso de aspirao autonomia, nem em procura da especificidade, mas apreender a relao dialtica que est presente entre os contedos das duas linguagens e das duas artes. (REYES, 2009, p. 870)
Isso possibilita, tambm, a separao e desenvolvimento individual de cada uma dessas mltiplas maneiras de estabelecer vnculos de comunho com o outro e consigo mesmo num processo continuo de auto-renovao. Todas as artes, como formas de expresso do ser humano, de alguma maneira esto imbricadas num mesmo plano de ANAIS DO SEMINRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA Volume 1, Nmero 1. Curitiba: FAP, 2012.
140 representao e, portanto, apresentam proximidades. Cada uma delas faz suas escolhas ao lidar com sua matria prima. Com relao arte literria, podemos observar que
[] al traducirse en lenguaje, al ser contados, los hechos sufren una profunda modificacin. El hecho real [] es uno, en tanto que los signos que podran describirlo son innumerables. Al elegir unos y descartar otros, el novelista privilegia una y asesina otras mil posibilidades o versiones de aquello que describe: esto, entonces, muda de naturaleza. Lo que describe se convierte en lo descrito. (VARGAS LLOSA, 2002, p. 18).
Ao pensarmos na confluncia Literatura, Msica e Cinema, pensamos na conjugao de palavras, imagens e sons. Segundo registra Alves (2009, p. 381) o cinema pressupe um processo de transformao da escrita para a imagem, o que de certa maneira o aproxima da literatura, pois tanto uma arte quanto a outra fazem uso de uma matria prima bastante semelhante. Ao discutir as aproximaes entre as duas linguagens e seus entrecruzamentos, Rebeca Alves (2009, p. 381) menciona: alm disso, a fico, realidade primeira dos textos literrios, tambm se aplica arte cinematogrfica. Tanto esta afirmao verdadeira, que o cinema constantemente leva s telas adaptaes de obras literrias. Por outro lado, Reyes (2009, p. ??) defende que o cinema realista na medida em que mostra as coisas ao invs de as sugerir atravs de um texto. No entanto, o que se v na tela no jamais uma cpia rasa da realidade exterior, mas pertence ordem mais secreta de uma verdade interior. Ao voltar-se especificidade da linguagem cinematogrfica Reyes (2009, p. 872) afirma:
Na medida em que o cinema trabalha diretamente com a realidade dos objetos e dos homens, e no, como a escrita literria, com a representao abstrata dada pelas palavras, a obra o fruto de uma luta que em certo momentos torna-se inglria. Mesmo que o cinema seja uma escrita, sempre sua radical diferena com as palavras que impressiona, porque esta escrita capaz de exprimir outra coisa que as palavras no dizem. A imagem pontua o real, tentando evitar sua opacidade e introduzindo a distncia reflexiva atravs de uma formatao conceitual. A imagem no a realidade e a participao fascinante que ela engendra no espectador no um compromisso com o real, mas com sua representao. Nenhuma voz vem, de maneira explicita, auxiliar no deciframento do que parece ser enviado sem resposta ao olhar do espectador. ANAIS DO SEMINRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA Volume 1, Nmero 1. Curitiba: FAP, 2012.
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O enriquecimento decorrente da conjugao de diferentes expresses artstica, como meios de comunicao do ser humano, possibilita, pois, uma forma pluralizada de manifestao que oportuniza a exteriorizao de todo o complexo de representao que palavras, imagens e sons podem amalgamar em um nico objeto artstico: uma produo cinematogrfica inspirada na confluncia da Literatura com a Msica.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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