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Castelo de São Jorge
uma proposta para o acesso turístico
com um átrio e elevadores
uma solução arquitectónica urbanística
no coração de
LISBOA

O Abobadão
ou seja o Salão Lisboa

projectista, Lieuwe Op’t Land, arquitecto

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Jorge
oficial do exercito do império romano,
intrépido guerreiro a favor de Jesus da Nazareth,
foi aclamado santo pelo povo no Século III.

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cidadãos de Lisboa, sede bem-vindos!

Lisboa tem um Castelo


que merece uma visita
mas a que infelizmente é difícil ir lá.
No ano de 2002 foram apresentados vários projectos
com soluções técnicas
tendo em vista facilitar o acesso por funicular,
escadas rolantes e elevadores.
Todas estas propostas foram abandonadas
devido à sua impraticabilidade
e a um protesto popular que viu em tudo isto
uma violenta intervenção urbanística.

Há uma solução
para superar todos estes problemas técnicos e humanos:
um átrio subterrâneo por baixo do castelo,
comunicando directamente com este por meio de elevadores.

Este livro
propõe e documenta uma ideia-projecto,
que na fase actual é mais ideia e menos projecto,
por falta de dados técnicos e de uma encomenda oficial.

São hipóteses,
ideias para um possível futuro projecto,
e reflexões filosóficas em apoio destas ideias.

Lieuwe Op't Land


Boa leitura!

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Castelo de São Jorge

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ideia mor

muitos elevadores

muitas entradas

Secção vertical e planta genérica esquemática

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ideia mor

Castelo de São Jorge


belo
elevadores necessários
façamo-los na rocha
por baixo do Castelo
ao nível da Baixa
um átrio com saídas
norte, este, sul e oeste.

«serendipidade»
o átrio transforma-se em átrio
o Abobadão
uma praça publica só para peões
sem rodas nem motores
para uma serena convivência.

é um manifesto contra o trânsito


que impera prepotente na cidade.

o Abobadão
completa o coração de uma metrópole
em constante expansão
com uma nova consciência
a maior dignidade de Lisboa.

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castelo
acessibilidade

O castelo de São Jorge sofre de solidão apesar de muitos turistas o


visitarem todos os anos. Esta solidão é selectiva e, se me posso dar ao
luxo de uma censura, são os próprios moradores de Lisboa que o
frequentam pouquíssimo, talvez por falta de manifestações atractivas,
talvez também por ser uma canseira lá chegar, subindo a pé pela colina,
ou devido à difícil circulação para os automobilistas.
O problema do acesso ao Castelo é indiscutível e apresenta-se aos olhos
de todos.
A hospitalidade para com os estrangeiros é um dever cívico, mas eu
penso que em primeiro lugar os lisboetas deverão tratar da sua casa e da
sua utilidade.
“Todo o passarinho gosta do seu ninho.”
Há cerca de sete anos foram apresentadas várias soluções técnicas às
autoridades e à comunicação social: escadas rolantes, um funicular,
ascensores em colunas situados no exterior da colina e ligados ao
Castelo por meio de passadeira de comprimento problemático. Uma
destas soluções foi exposta pormenorizadamente nos Paços do Concelho,
e chegaram a ser iniciadas as obras preparatórias para a sua execução
(ver excertos do jornais, pag. 60-61).
Todos estes projectos foram abandonados devido à sua manifesta
ineficiência e aos protestos populares.

A acessibilidade é uma gravosa questão de organização.


Antes de entrarmos na questão deste assunto central em todo este
discurso, desejo dedicar uma consideração ao fenómeno “Turismo”.
Existe o hábito de insistir muito nesta tecla pela simples razão de trazer
muito dinheiro em caixa.

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turismo
Embora o principal assunto deste 'romance' seja o Abobadão, temos de
tratar do tema turismo devido à estreita correlação entre eles.

Faço uma breve retrospectiva histórica sobre o turismo em geral.


O grego Heródoto (480-420 a.C.) foi talvez o primeiro turista
historicamente registado como tal. Visitou muitos países em volta do
Mediterrâneo, hoje conhecidos como Médio Oriente, viajando a pé ou
montado em burros, tendo-nos deixado brilhantes relatos destas viagens.
O veneziano Marco Polo (1254-1324) percorreu a cavalo com um grupo
de companheiros: a Rússia, a índia e a China, e contou as suas
experiências em O Milhão. Foi acusado de ser um fantasista e um
mentiroso.
Cristóvão Colombo, genovês (1451-1506) com quatro caravelas velejou
para Oeste, atravessando o oceano, e ao tocar terra pensou ter dado a
volta ao mundo e chegado à Índia, passando a chamar-lhe Índias
Ocidentais.
Amerigo Vespuccio, florentino (1454-1512) fez três viagens pelos dois
continentes transoceânicos, Il Nuovo Mundo, atravessando-os ao largo e
ao longo, pelo que após os seus famosos relatos tomaram o nome de
América do Norte e de América do Sul.
Wolfgang Goethe, alemão, viajou de carruagem a Roma (1786) e contou
as suas experiências num diário, Italienische Reise.

E após os finais do século XIX começou um turismo privado de homens


ricos curiosos de culturas estranhas e de hábitos de povos. Mas à parte
destas celebridades, há um turismo para várias outras razões:
descobertas, exploração científica, comércio, peregrinações, saúde,
curiosidade, e outras.
As mais especulares são as viagens dos navegantes históricos:
Portugueses, Holandeses, Ingleses; para fazer uns exemplos entre tantos:
Vasco da Gama, Henry Hudson com o navio ‘Halve Maen’ a fundar New
York a Manhattam, Captain Cook, Drake, Barents. E excursões à terra:
Admunsen, Darwin, Livingstone, Rasmussen e, porque não, também o
Neil Armstrong, que esteve duas vezes na Lua e voltou...
Outro turismo de grande escala, representam as peregrinações de todas
as religiões do mundo. Os cristãos na Terra Santa, Fátima, Lourdes, São
Iago de Compostella. Os muçulmanos com o Hadj ao Mecca. Pois
também outras como Buddismo, Hinduismo, Ebreismo, mesmo o
Pagaismo conhecia sua peregrinações como p.e. para Stone Henge.
Sem esquecer as peregrinações modernas, laicos e maçais, de encontros
desportivos.
E finalmente nos recentes decénios desenvolve-se um turismo de massas,
que representa um enriquecimento social e colectivo, mas com ele o

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turismo
carácter de turismo muda totalmente e causa uma reviravolta do seu
significado: primeiro, eram os turistas a parte activa, enquanto agora
são os países que fazem atraentes convites, publicidade e promessas de
beleza, de atracções especiais e comodidade de serviços. Agora está
numa florescente indústria. Os países criam novos objectos de interesses
como uma Disneylândia e vários outros artifícios, luna-parques, jardins
zoológicos, campos de golfe e parques temáticos; na América há mesmo
uma cópia completa em tamanho natural de Veneza a que não faltam as
gôndolas e gondoleiros com chapéu de palha e fita colorida.
Passo a contar um pequeno episódio. Um dia fui a Veneza mostrar a
cidade lagunar a um sobrinho meu. De carro passámos a Ponte della
Libertà (ponte feita para facilitar o turismo, mas com muitos protestos
dos ambientalistas), uma praça com uma grande confusão de trânsito,
auto-silo de cinco andares, e depois fomos a pé descobrir a cidade e
deparámos logo com um cruzamento de pequenos canais e três
pontezinhas em arco. A observação imediata do meu sobrinho foi: “que
ar de turismo tem isto tudo!”
Surpreendido expliquei-lhe que as suas palavras denotavam uma
inversão do significado: esta é a Veneza autêntica, não é um artefacto,
uma contrafacção, como o da América, ”para inglês ver”.

É claro que um país, um povo, deve ser autêntico para merecer o genuíno
turismo estrangeiro de qualidade.
Quem é chamado a projectar coisas novas tem o dever de reflectir
seriamente sobre as questões de identidade e no nosso caso de
“portuguesidade”. É um tema problemático de grande empenho e de
difíceis respostas, talvez a presentear motivos históricos em novas
aparências. É uma questão de consciência!, senão verifica-se a profecia
do irónico filme de Jacques Tati de há uns quarenta anos: a globalização
e a mundialização de todas as coisas.

Faço um parêntesis para mostrar uma curiosa inversão turística


linguística. Como sabem, a palavra de saudação aos encontros e
despedidos 'ciao' [tsjau], que corre pelo mundo inteiro, é uma palavra
veneziana. Não é usada no seu significado original que seria uma
expressão de cortesia absolutamente conforme à índole do povo
veneziano amante do belo, da elegância e da gentileza. Acompanhado de
uma vénia significa ' Servo Vosso', que por sua vez provém dos paisos
Serbia e Eslavónia: eslavo - schiavo - sciavo - 'ciao'
Autêntica venezianidade!
Enfim, o Abobadão será objecto de visita para turistas, mas não será só
para eles, vamos fazê-lo para os lisboetas!

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castelo fortaleza

O Castelo é uma fortaleza, uma obra militar de defesa rodeada de


espessas muralhas coroadas de ameias. A defesa entende-se no sentido
horizontal de onde provinha a ameaça inimiga, efectuada no declive
natural da colina.
Figurativamente agora também se demonstra uma defesa contra os
ataques dos mecanismos de transporte público, tentativas que têm sido
referidas nas notícias dos jornais (pag. 60-61). Tentativas que falharam
todas. Além das tentativas horizontais, consideremos a possibilidade das
verticais.
Os castelos de outrora abriam-se para o céu, pois aeroplanos ou outras
máquinas voadoras que pudessem lançar bombas ainda não tinham sido
inventadas (salvo talvez a Passarola do padre Lourenço, retro-invenção
de um bem conhecido escritor português). É uma ideia burlesca para um
acesso público, se não por outras razões, porque não há sequer espaço
para um helicóptero, mas um acesso vertical por baixo, noutros tempos
impensável devido à insuspeita solidez da rocha, hoje em dia com os
meios modernos que temos à disposição, é praticável. Portugal dispõe de
maquinaria, homens e ciência para as escavações dos túneis do
metropolitano, garagens e até edifícios inteiros subterrâneos: os
portugueses são experientíssimos, não será preciso recorrer a
canadianos ou suecos.
Então perfuremos com furos verticais a rocha para aí instalarmos
elevadores capazes nos sítios mais idóneos, oportunos e estratégicos
dentro do Castelo ou no ambiente mais próximo, em número suficiente e
eventualmente aumentável no futuro se vir a necessidade disso.
Ascensores para o público e para os turistas, para a direcção e para a
gestão, para o serviço de segurança e transporte de equipamento para as
diversas manifestações.
E os últimos são os primeiros: ascensores para os habitantes da colina,
um formidável meio para a revalorização urbanística das freguesias de
Santa Justa, Santiago, S. Cristóvão e S. Lourenço, Madalena e a do
Castelo, assunto que poderá merecer uma séria consideração nos
programas da DMCRU. Estes ascensores em baixo têm necessidade de
corredores, passagens, galerias e um átrio, colectivamente ligados a um
amplo túnel que desemboca no Largo Martim Moniz no local do obsoleto
Salão Lisboa, onde a praceta da Mouraria constituiria um utilíssimo
espaço para o estacionamento de táxis, autocarros, camionetas turísticas
e para grupos escolares.

Neste ponto da reflexão sobre os projectos surge a propósito um


fenómeno bastante frequente no pensamento humano e contudo pouco
considerado, isto é:
a serendipidade, a que se alude no parágrafo anterior.
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serendipidade

O termo “serendipidade” é a tradução da


palavra inglesa sem etimologia clássica
“serendipity” inventada no século XVIII pelo
escritor Horace Walpole e significa
simplesmente: “Andar à procura de uma coisa e
achar outra coisa”.
As ciências estão plenas de “achados” deste tipo.
Basta pensar na penicilina de Fleming e no LSD,
e até as teorias da evolução natural (Darwin,
etc.), a consideram agora num certo sentido
responsável pela grande variedade na nossa flora
e fauna.
O tradicional dito “Natura non facit saltos” hoje
em dia é substituído pelo “Natura facit saltos”.
Idêntico efeito se encontra na história humana,
como no desenvolvimento da arte e da
arquitectura.
É o nosso caso: estava eu a tentar resolver o
problema dos espaços e das galerias aos pés dos
ascensores para o acesso ao Castelo…quando a
musa sussurrou ao meu ouvido outra coisa:
«Abobadão». Um átrio acolhedor, uma praça
pública.
Lógica?, não. Necessária?, sabe-se lá. Útil?,
talvez. Bela?, magnífica!
Uma coisa seria bela por ser lógica, necessária
ou útil? Creio que não, mas tenho intenção de
investigar se no acto de projectar não existirá às
vezes um mérito a atribuir a esta serendipidade,
este salto na continuidade de uma linha lógica.

Concluindo:
Sendo a procura de um hall junto dos elevadores,
achou-se um átrio de maior tamanho que obtém o
aspecto de uma praça pública.

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abobadão
humanização

Foi a serendipidade que me deu a ideia de uma praça exclusivamente


para peões, sem trânsito à volta, sem rodas nem motores, sem sinais de
proibição nem de acção obrigatória, ou sentidos circulatórios.
Uma praça sem nenhuma publicidade impertinente, pertinaz, invasora,
nem nas cadeiras nem nos chapéus de sol, nada sob nenhuma forma e em
nenhum lugar, grande ou pequena que seja. Tem de ser uma praça livre e
limpa que permita às pessoas estarem em paz e serem donos dos seus
próprios pensamentos.
É um acto de consciência, uma reacção consciente.

O Automóvel impera e domina-nos a todos nós e à vida.

Impõe-se um antídoto, um contra-veneno, uma seca rejeição e um


contra-símbolo.
O Abobadão é um manifesto, uma tomada de consciência colectiva.

Mas porquê mais uma praça , quando já temos o Martim Moniz, a da


Figueira, o Rossio, os Restauradores, a do Comércio e a Praça do
Município?
Penso que quando uma cidade como Lisboa, uma metrópole em contínua
expansão, faz cada vez mais pressão sobre o seu próprio centro, precisa
de um coração proporcionado e adequado à nova dimensão e
capacidade, que adquira um novo significado na colectividade acrescida.
E assim, mais uma praça será bem-vinda, sobretudo se tiver um carácter
muito diferente e se oferecer uma utilização alternativa.
Além disso, não constituirá um suplemento, mas sim um complemento e
um completamento.
O espaço central desta praça deve permanecer vazio e sem monumentos
de nenhum tipo como já expliquei noutro parágrafo.
A praça será dedicada ao povo soberano e por consequência deverá ser
gerida pelas freguesias unidas num conselho, de modo a exprimir o
carácter de pertença à cidadania.

Com certeza, muitas grandes cidades regulamentaram o trânsito dos


veículos pesados e instituíram domingos com proibição geral de
circulação, mas um lugar de proibição permanente, creio que Lisboa
precisa de ter um.

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18
povo

Carmencita.
Margarida, Jonatan, Arnaldo, Alexandre, Ermanno,
Jan, Hendrika-Cornelia, João, Otilia, Joaquina, Natércia,
António e Elvira, Maurice e Minou, bras dessus bras dessous,
Rosalina, Fernando e Fernanda, Ermelinda, Afonso,
Adelberto,
Perolina, Pamalot, Rui, Raul, José, Miguel, Albertina,
Wolfgang, Baurch, Amedeus, Giordano, Joost, Bertrand,
Lucia, Linda, Licina, Lydia, Lígia, Livia, Lurdes, Laura, Leda,
Leonora,
Florinda, Belinda, Evelinda, Linda, Lucinda, Arnaldo, Gerardo,
Jan - Piet en Klaas, Tizio - Caio e Sempronio,
Tom - Dick and Harry, Pierre et Paul, Seferino, Carlos, Mario,
Riek, Riet Rien, Lien, Mien, Ineke, Tineke, Tanneka, Toverheks,
Hans, Harm, Huib, Henk, Henrique, Hieronyimus, Helder,
Eugène, Godfrey, Grosvenor, Lord and Lady Thickenor,
Luis, Luigi, Lodewijk, Shafic, Ermanno, Melchiorre, Dante, Gulnar,
Gabriella, Mirella, Ana Bela, Isabel e Eleonora, Teresa, Pilar, Ceu,
William, Guglielmo, Guillaume, Guilherme, Wilhelm, Willem, Wim, Willy,
Antoinetta, Jeannette, Henriëtte, Valentina, Sara, Ana,
Li Wang, Katsumi, Rachid, Bumwe, Nedjma, Kateb, Deng, Olaf, Iwan,
Homens , mulheres, raparigas, rapazes, meninas, meninos, bébés, idosos,
correm, brincam, gritam, choram, cantam, riem…........vivem.
Olinda e Arnaldo, jovens casadinhos de fresco: Mães – Pais, madrinhas -
padrinhos, tias, tios, netos e sobrinhos: alegre companhia, linda festa.
Não esquecer os quadrúpedes: Tristão, Fiel,, Pluto, Tucker, Wotan, Bully,
Be, Di, It, Li , Ti, On, Ab, Ri, Pi, Ad, El,
Molly, Winny, Perry, Gianni, Billy, Jimmy, Aldo, Leo,
Kees, Riek, Lieuwe, Klaas, Corrie, Jan, Anke, Dirk,
Henny, Bram, Carmèlia, Kitty, Theo, Lenny, Evert, Hilda.

e tanta outra gente sem nome

«place de Limoge», eposódio do piano-cyclus de Modeste Moussorkski,


segundo uma interpretação pictórica de Lieuwe Op’t Land
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equipamento

● Mais oui, il y en auraient des strapontins come aux Champes Elysées a


Paris!
● Grande número de cadeiras esparsas pela praça de livre acesso a toda
a gente, 20 bancos fixos para quatro pessoas, bancos de pedra,,, como no
Largo Martim Moniz, mesas para bares…
●Conchas para flores, conchas para pequenas árvores.
●Conchas para arbustos a marcar áreas de restaurante.
●Painéis moveis para separar áreas para manifestações várias.
●Colunas com faróis iluminadores da abóbada.
●Fonte grande com iluminação solar, coluna Fonte… até ao alto do
castelo com espelho heliotrópico.
●Painel sinóptico grande para: barómetro, termómetro, higrómetro,
aerómetro indicadores meteorológicos, pontos cardiais e pólo Norte, ver
a roda na página 45.
●Painel luminoso para noticias gerais.
●Palanque para oradores , tipo soapbox-speeches inglesas.
●Espelho horizontal, baixo e inclinado onde se pode contemplar o
esplendor da pintura da abobada.
●Tabuleiro de xadrez em pedra no chão, 3 x 3 mtr.
●Toucas para telefones públicos.
●Grande tele-ecrã de projecção com instalação ocasional.
●Grande modelo geométrico dum poliedro suspenso da cúpula.
●E outros objectos emergentes ao critério do director-gerente.
●E no Natal : um pinheiro verdadeiro, velas, e um presépio como São
Francisco de Assis ensinou e fez... com a sua primeira edição histórica
na floresta de Grécia

Nota. Todos os objectos de equipamento seriam de


'design' especial para o Abobadão.

20
abobadão
incumbência

Há sempre uma certa apreensão na consciência de um arquitecto que se


interroga se as pessoas ficaram satisfeitas com a sua obra e se tomam
posse dela com prazer, ou se o que realizou fica obra morta e deserta,
sendo considerada, como se costuma dizer, uma catedral no deserto.
Acho que este não será de modo nenhum o nosso caso, esta praça é
pensada exclusivamente para peões, e oferece muitos serviços a várias
actividades e muitos usos:

●acessos aos ascensores


●uma estação de metro por baixo,
●possibilidade de atravessar, de lado a lado,
●ponto de encontro (meeting point),
●actividades urbanas de hábitos lisboetas.
●Castanhas assadas, estátuas vivas, músicos ambulantes,
●comedores de fogo, acrobatas,
●um pêndulo de Foucault,
●lojinhas, bares e restaurantes,
●Computadores públicos para visitar Websites.
●uma fonte iluminada pelo sol com espelho heliotrópico no alto do
castelo,
●outros usos a inventar:

O Abobadão não é um centro comercial, não é uma expo ou um mercado


popular,
é um lugar de encontro e de convívio social.

A consciência do autor fica tranquila


e a consciência das autoridades pode ficar satisfeita.

21
organização

22
organização

Para uma organização num projecto é de maior


importância o orientação de que os utentes precisam
para obter um ideia global do objecto que visitam.
Para o nosso Abobadão é fácil e evidente a sucessão:
- praça Martim Moniz - Átrio - Castelo -
como também se pode observar panoramicamente estando no
próprio Largo de Martim Moniz.

A serendipidade alterou o objectivo inicial:


o Átrio é acrescido para além do estritamente necessário e a
sua função é alargada até transformar-se numa praça
pública para uma vida urbana completa,
uma praça para o povo, só para peões,
uma praça sem rodas nem motores,
uma praça que Lisboa até agora não possui,
uma praça sem monumento de pátria gloria no centro,
não uma praça para venerar a história, mas
para festejar a vida de hoje e evocar o futuro.
o centro da praça fica vazio para simbolizar
a liberdade e a soberania do povo.

Uma comparação com praças mundiais sem trânsito:


---- Piazza San Marco em Venezia
---- Tiananmen em Beijing
---- Praça Vermelho em Moscou
---- Piazza San Pietro em Roma
---- Praça de Liberdade em Belo Horizonte
---- Praça Venceslau em Praga
---- Praça de Espanha em Vitória, Pais Basco
---- Mercado em Ghardaia na Argélia
---- Praça de Maio em Buenos Aires
---- Ágoras das antigas cidades Gregas
---- Jogo da Bola na Ericeira

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largo Martim Moniz, anos 1930~40, foto do arquivo municipal

A façanha de Martim Moniz


No 1147 D Afonso Henriques cercou Lisboa e tentou conquistar a cidade
aos Mouros. Um dia um grupo de Cristãos atacou de surpresa uma porta
de cidade e quando os Mouros se apressaram a fechá-la, o comandante
Martim Moniz interpôs o seu próprio corpo entre os dois pesados
portões impedindo que os mesmos fossem fechados e assim morreu. Os
Cristãos poderam entrar e conquistaram a cidade.

Não apresento uma foto da praça actual, as pessoas quando quiserem


podem ir lá para ver e julgar.

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entrada principal

Uma sugestão do projecto é fazer a entrada principal ao complexo


'Átrio – elevadores – castelo', no sitio do obsoleto 'Salão Lisboa',
mantendo o perfil arquitectónico-urbanístico actual, dando-lhe um
significado novo.
--- A pracinha Mouraria oferece ampla possibilidade de paragem para
camionetas, touringcars, taxis ajuntamentos de grupos escolares, etc.
--- Um concurso para profissionais será garante para uma atraente
aparência.
--- Tem-se uma vista panorâmica do largo Martim Moniz que combina
esta entrada com o perfil do castelo como imediata orientação e relação
entre eles.
--- Este entrada fica aberta dia e noite para o livre acesso de toda a
gente; tem uma cancela com fechadura para ocasiões excepcionais.

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arquitectura

Falemos de Arquitectura: forma e dimensão, significado e simbolismo,


ética e moral, vontade e orgulho.
Quando a ideia “Abobadão” com o acontecimento da serendipidade se
me apresentou pela primeira vez no papel dos meus esboços, é óbvio que
foi em imagens e formas simples costumeiras e com um vocabulário que
eu definiria histórico: cúpula hemisférica, colunadas, capitéis, arcos e
não digo tímpanos, mas quase.
Contudo vivemos em tempos modernos, e aprendemos a analisar formas
e aparências; abre os olhos e descobre por exemplo que colunas neste
caso seriam supérfluas dado que a cúpula, ou seja a contra-cúpula,
ficaria suspensa na rocha que por agora, eu não queria explorar porque
exige reflexões mais profundas.
Queria em primeiro lugar observar que a rocha nua não é uma opção
válida porque a escavação com meios mecânicos não é nada bonita.
A feliz circunstância da cúpula como contra-tecto suspenso dá uma
completa liberdade artística de formação: leveza, autonomia, soltura,
airosidade e liberdade, e vinham-me à cabeça imagens de escamas de
peixe, de asas de pássaro, de pétalas de rosa… Natura Artis Magistra!

Todavia, a forma e a dimensão do Abobadão dependem em grande


medida da situação geológica: solidez da rocha, fracturas, faldas, etc. Os
geólogos devem dar respostas e por sua vez podem recomendar formas
parabólicas, em funil ou de planta irregular, poderosos apoios rochosos
em coluna, a circularidade da cúpula não é obrigatória e não é a
resposta inevitável.
E a dimensão? O sonho do arquitecto é: grandíssima!, grande como a
praça do Marquês de Pombal!...
Os engenheiros podem auxiliar os geólogos a realizar o sonho
arquitectónico.

Todos os pormenores arquitectónicos têm inevitavelmente uma cor e


portanto a cor faz inegavelmente parte da criação artística global. É
evidente.
O “Abobadão” será uma obra de arte.

26
homem

Vendo bem, no fundo não são os materiais cimento, vidro, ferro e


alumínio que fazem os prédios, mas o verdadeiro material da
arquitectura é o homem, a vida própria.
Para ilustrar melhor esta minha convicção passo a apresentar-vos uma
breve composição literária saída da minha pena e intitulada “Meta-
arquitectura”,

Não existe a porta, existe o homem que entra à sua morada,


Não existe a janela, existe a luz que entra em casa,
existe a mulher que olha o mundo
Não existe o chão, existe a criança que experimenta o andar,
Não existe a parede, o tecto,
Não existe a mesa, a cadeira,
Não existe a lareira
mas essa sim, existe.

O ensino da arquitectura no meu tempo era sobretudo de ciência Betha e


depois um pouco de ciência Alfa, e quanto à ciência Gamma, que seria a
ciência do homem, que não era ainda evidente, mas era preciso
propagar.
Talvez o homem Betha pense que pode bastar falar de ergonomia, de
antropometria, de “human engineering” mas é necessário ir mais
adiante ao psíquico, à ética, aos sentimentos e à moral para alcançar a
verdadeira dimensão da arquitectura, o Universo Arquitectura.

27
humanesimo e materialesimo
O discurso sobre o homem versa sobre o “humanismo”, como se escreve
em português, mas preferia usar uma palavra como a italiana
“humanesimo”. Há uma clara diferença, porque, enquanto o
“humanismo” tem um significado de doutrina, de teoria que descreve
comportamentos humanos; o termo “humanesimo” encaixa-se no âmbito
de vocábulos como Cristianesimo, Paganesimo, etc. A expressão
“humanesimo” tem a intenção de indicar o universo “Homem” com tudo
o que daí deriva: cultura, moral, ciência, arte, raciocínio e sentimento,
etc. Tudo aspectos que se encontram na arquitectura.
Em contrapartida ao “Humanesimo” encontra-se, cunhando um novo
vocábulo, o “Materialesimo” que não tem o mesmo significado que
“Materialismo”. Entendo o universo Matéria: automóveis, ascensores,
elevadores, escadas rolantes, metro, comboios, garfos e sapatos, cimento,
alumínio e vidro, tudo o que não pressupunha aspectos de ética, moral e
sentimento às intervenções à colina. Cortam na carne viva da cidade, no
tecido urbano e assim não atraíam nenhum consenso humano nem favor
popular.
E concluo esta filípica fazendo notar que todos os propostos instrumentos
mecânicos de acesso ao Castelo, que já se referiram noutro parágrafo,
não têm nenhuma moral, não têm uma dimensão arquitectónica. O drama
de nossa época é que a técnica está a evoluir mais depressa do que a
cultura.
Primeiro o homem faz a sua casa e depois a casa faz o homem.
O Humanesimo e o seu dual Materialesimo compõem juntos a realidade,
não existem separadamente e estão em contínuo intercâmbio. Daqui se
pode e deve concluir que a predominância material e mecânica
desumaniza. Os automóveis tomaram posse da cidade; pense-se no
eterno carrossel da praça do Marquês de Pombal. Até a própria estátua
do Marquês, sem pretender diminuir o seu valor histórico, num certo
sentido é desumanizante, dado que eleva a imagem do homem
simbolicamente acima do alcançável por parte dos simples mortais. E
será por esta razão que no Abobadão não se admitem automóveis nem
nenhuma estátua ou outro objecto de veneração.

O automóvel impera incontestavelmente nas cidades.


E parece de extrema importância que a cidade tenha, com clara
consciência, um sítio de absoluta imunidade psicológica como antídoto a
esta praga.

O Abobadão é um manifesto contra o predomínio do automóvel.

O Umanesimo reina sobre o Materialesimo,


tal como o homem que está sobre o chão,
como uma flor que nasce da terra.
28
significado

O significado do Abobadão está na resposta que seguramente darão os


cidadãos à pergunta “Para ti o que significa o Abobadão?”
Independentemente das muitas respostas favoráveis, o Abobadão já
provocou muitas reacções positivas, mas para se compreender bem o
sentido deste discurso seria útil nesta altura um pouco de filosofia,
porque não se trata de um projecto propriamente dito, mas de ideias para
apoiar um projecto e é por isso que se tornam necessárias algumas
reflexões mais profundas, como a seguir tentarei desenvolver.
O significado de qualquer coisa manifesta-se por meio de símbolos, e
parece apropriado distinguir dois tipos: símbolos convencionais e
símbolos naturais. Dou alguns exemplos: A aliança é um símbolo
convencional do casamento, enquanto o símbolo natural será o casal em
harmoniosa convivência. E dou outro exemplo. O signo de Esculápio é
símbolo convencional do mundo médico, enquanto um símbolo natural é
um médico a auscultar um doente. E mais: um amuleto é símbolo
convencional de protecção, enquanto uma couraça é protecção eficaz e
portanto um símbolo natural.
O nosso Abobadão torna-se um símbolo convencional quando o
dedicamos a qualquer ideia elevada ou a um acontecimento histórico e o
denominamos por si mesmo: p. ex. Praça 4 de Novembro, Brrr… não me
agrada nada.
O símbolo do Abobadão será natural, será o seu simples ser, o ser
Abobadão, sendo o Abobadão. E isto digo-o intencionalmente de forma
pleonástica.
Uma pessoa, um objecto real, tem uma identidade por si mesmo, tem uma
personalidade com uma vontade própria, e convido a ler aqui
'lusitanidade', tambem para o Abobadão. É um assunto difícil de definir,
mas é preciso empenharmo-nos.
O estilo e a atmosfera colaborarão grandemente para determinar o que
pode ser esta hipotetica ' lusitanidade'.
Um elemento de forte conteúdo pelo simbolismo natural é o pavimento
que deverá ser semelhante à pavimentação habitual de toda a cidade
(pág.48- 49).
O significado do Abobadão exprime-se também no estilo e na atmosfera,
assuntos que são tratados nos devidos parágrafos (págs. 32-33).

29
30
vontade e orgulho

Na Bolonha medieval havia cerca de 200 torres a coroar a


cidade. Eram todas construídas totalmente em tijolo pelas
famílias ricas em competição: mais alta, mais alta! Eram actos
de vontade. Eram elevações vazias sem alguma utilidade
prática.

Hoje resta apenas a torre degli Asinelli de 100 metros de altura


e uma companheira mais pequena: a torre Garisenda de 48
metros. Só restam mais uns vinte exemplares como troncos em
ruínas ocultos no meio de novas construções de todos os
géneros.
Sic transit gloria mundi.

Verifica-se uma competição análoga nos últimos decénios entre


as nações com a construção de objectos, que dificilmente se
podem chamar torres, porque são arranha-céus, antenas ,hastes,
vergas, flechas, foguetões, expressões de poder e capacidade
técnica, mais altas, mais altas: 300, 600, 800 metros! Para
prestigio, para impressionar e desafiar as intempéries e os
séculos. Actos de orgulho. O campeão de altura é hoje o Burj
Dubai, com 818 metros e 160 andares (para fazer o quê?).

Ignoro se hoje em Portugal existem em projecto ou já em


vias de execução estruturas arquitectónicas deste tipo.
O nosso objecto-sujeito, o Abobadão, escondido debaixo
de rocha parece tímido e humilde, mas afinal é
verdadeiramente audacioso e capaz de demonstrar poder
e capacidade técnica em grande estilo. É um vão vazio, mas
cheio de significado, pois o Abobadão será o orgulho da cidade,
uma obra para os
lisboetas e um lugar acolhedor para os estrangeiros.
Acto de vontade.

interpretação pictórica de musica de M. Moussorgski,


um retalho do quadro Baba Yaga, a bruxa.

31
estilo
'Stylus' era o nome grego de uma hastezinha de ferro para
escrever na tábua de cera e tornou-se depois símbolo da
maneira de escrever e de se exprimir, ou seja, o estilo.
O estilo, primeiro considerado a nível pessoal, passou depois
a ter uma conotação colectiva e não só em relação à escrita,
mas também respeitante ao desenho, pintura, arquitectura,
dança, o falar e toda e qualquer outra actividade. Por fim o
termo foi atribuído a inteiros períodos históricos ou zonas
geográficas, como por exemplo: o Gótico, o Funcionalismo, o
Post-Modern, o Chinês, etc.

Um estilo é definível pela análise dos elementos e o carácter


de conjunto.
E para o Abobadão? Impor um estilo é coisa árdua. Deve-se
seguir a moda geral da época, ou conscientemente afastar-se
dela? O Post-Modern? Não o acho recomendável, é um
brinquedo que combina elementos históricos diferentes de
modo simplificado, é um híbrido.
Ou ainda o Post-Post -Modern? O que daí resultaria?
Toda a coisa honesta deve ter um estilo autónomo de acordo
com a sua essência e carácter. É o nosso caso! Será portanto
um estilo “Abobadão”, que se deve definir ad-hoc, e
desenvolver num espírito tipicamente português, em
modernidade.
Seja como for, podem-se já indicar certas qualidades
desejadas como por exemplo: solidez, clareza, unidade no
amplo gesto e até mesmo uma serena monumentalidade, e
dentro desta visão não é totalmente errada a definição de
“catedral laica”.
Não posso ser só eu a definir como realizar a almejada
'lusitanidade'; este deve ser tema de discussão entre homens
da cultura e espero que isto se realize.

Desejo contudo que seja um estilo inovador mas realizado


com ponderação e prudência. Nada de arte experimental ou
acrobática, que seria efémera, mas estilo humano, propriado,
e que reflicta um 'home–feeling'

32
atmosfera
Todo um grande vão tem a sua atmosfera: uma igreja, um
salão desportivo, uma oficina de automóveis, uma sala de
teatro e uma estação ferroviária.
Qual será e deverá ser a atmosfera do Abobadão?
Não é fácil dizê-lo com palavras exactas, porque não é um
tema de raciocínio mas de sentimento, e parece mais fácil
exprimir-se pela negativa: não é um centro comercial nem um
mercado popular, não é uma Disneylândia nem uma discoteca
com pop-music.
Às vezes penso que a expressão 'catedral laica' não é errada
para um lugar de elevado espírito de cultura, com uma
atmosfera certa, ideal para uma serena convivência social.

A cor geral reveste-se da maior importância para a criação de


uma atmosfera. Este é um assunto já tratado no parágrafo da
cor, mas poder-se-á torná-lo mais incisivo atribuindo-lhe
características como confortante, relaxante, recreativa e
animadora e penso que é justo recomendar leveza,
luminosidade, amenidade e serenidade.

Não se deve descurar o efeito de 'after-image' que se pode


tornar uma espécie de consciência nos observadores.

Um parêntesis: é habitual falar-se genericamente de 'sinfonia'


quando se trata de um grande conjunto de coisas que
contribuem todas para dar um aspecto de festa, mais ou
menos artística: é uma imagem que deriva da musica, mas no
nosso caso trata-se de cores, autónomas e destinadas a criar
uma briosa festa. Portanto deve-se justamente falar de
'sincronia'.

33
34 decoração pictural hipotética da cúpula
pintura
Uma pintura dá materialidade à cúpula.
Uma pintura dá espiritualidade à cúpula.

Há muitos exemplos históricos de abóbadas pintadas, e muitos com imagens


celestes que pretendem iludir a realidade do peso.
Para o nosso Abobadão devemos definir um conceito e um tipo estilístico, bem
como um sujeito genérico.
Na minha opinião há três aspectos principais a considerar.

1— Psicológico, isto é, de uma pintura que se dirige ao sentimento com


figurações informais e genéricas. Para isso a cor é da maior importância, dado
que é capaz de exprimir tristeza ou alegria, prepotência ou apatia.
A cor tem uma graduação de aspectos neste sentido bem conhecidos: por
exemplo, o vermelho transmite vigor, o amarelo felicidade, o verde
tranquilidade e inactividade, o azul serenidade e distância, o cinzento tristeza,
o branco candidez e inocência, o preto mortificação e aflição, o laranja
incitamento e vivacidade.
Para mergulhar nas atmosferas e nos efeitos poderosos e genuínos dos estados
psicológicos, a pintura abstracta é a mais idónea.
Os artistas sabem-no.
A cor tem um grande impacto no subconsciente, sobretudo no nosso caso pela
grandíssima superfície da abóbada presente, cerca de 20 000 m²!
Um facto importante a ter presente: a cor deve-se considerar em escala, deve
ter em conta a superfície a cobrir, por outras palavras: 1000 m² de cor
vermelha farão uma impressão muito diferente da mesma cor vermelha numa
superfície de 10 cm².
Os artistas sabem-no.
Deve-se ter presente por fim que a cor de luz da iluminação artificial poderá
dar cabo de todo o efeito final da obra.
Os artistas sabem-no.

2 — Literário, isto é, de uma pintura que se dirige ao intelecto com cenários


históricos de grande significado, com imagens de fábulas e lendas, com sujeitos
simbólicos como por exemplo a criação do mundo, o apocalipse, ou
semelhantes assuntos religiosos.

3 — A prática executiva profissional, que compreende regras de estética, a


composição, técnica executiva, de acordo com hábitos colectivos ou com
opiniões pessoais e especiais.
Os artistas de profissão sabem-no.
Toda esta tarefa apresenta um grande desafio, a dirigir aos artistas afirmados,
razão por que se deve proceder com objectividade e cautela seguindo a prática
antiga do concurso, para o qual há uma hipotética proposta na página 67.

35
coluna - farol

reflectores inox Luz


projectores
de todas as espécies

planta funil

coluna
aberta

coluna
fechada coluna aberta ø 80 cm, h 3,50 mtr.

36 esboço esquemático sem escala


iluminação

A iluminação geral do Átrio


como à luz de dia realiza-se
com uma luz difusa.
Há colunas-faróis em volta de
todo o Átrio que estão munidas
de projectores de acordo com a
necessidade ou o desejo,
iluminando a abóbada que
reflecte e difunde.
A concentração de todo este
equipamento nestas colunas
reduz efectivamente a rede
geral e torna-se muito
económica dada a ausência de
muitas lâmpadas em volta e no
tecto da cúpula. Este
concentração facilita muito a
instalação inicial, os testes de
iluminação e a composição, o
registo, a manutenção e uma
eventual organização especial
temporária.
Para a luz nocturna e para
usos especiais, existe uma luz
de emergência a gerador diesel,
há tomadas de corrente para
muitos usos, como limpeza,
exposições extraordinárias e
difusão de música e altifalantes
para avisos, notícias, etc.
Haverá também 'laser'.

37
38 decoração pictural hipotética da cúpula
luz
A história alegórica bíblica conta que Deus no princípio criou o céu e a
terra e a seguir disse:
« Faça-se luz! »
a luz apareceu.
a luz era bela
separada das trevas.

Esta narrativa não é válida só física mas também simbolicamente na


mente humana como muitas expressões habituais ilustram.
'Luz' equivale a compreensão e 'ver' equivale a ‘compreender’.
Este ver, tal como numa visão transfigurada, dá-se em primeiro lugar na
arquitectura, antes da criação e projecto de coisas e de ideias.

Falemos agora da realidade física: há necessidade de lanternas.


Sem luz não existe escultura nem arquitectura.
Fazer escultura é jogar com a luz para mostrar rotundidades e perfis.
Fazer arquitectura é jogar com funções que se revelam em volumes e
vazios.
O arquitecto é criador como um deus que organiza luz e sombra, nunca
uma sem a outra,num concerto artístico.

E assim, para iluminar o Abobadão como à luz de dia temos de poder


variar a intensidade da iluminação como a céu aberto, onde se tem a
aurora, o meio-dia e o crepúsculo. Funcionalmente correcto, bem
entendido.
Para obter uma boa luz difusa o melhor sistema consiste num grupo de
faróis pelo chão, faróis que iluminem a cúpula que reflecte a luz,
enchendo a sala.
Nestas colunas-faróis está concentrada toda a instalação de projectores,
quadros, interruptores e painéis sinópticos para registar, regular,
experimentar, controlar e variar uma iluminação eficiente.
Assim poupa-se uma extensa rede de distribuição como se verificaria no
caso de muitas lâmpadas espalhadas pela abóbada e por toda a parte. A
cor e a qualidade da luz são de extrema importância. Todavia não podem
faltar pontos de luz directos e brilhantes; uma rigorosa difusão criaria
um ambiente sem contrastes, sem estímulos e até sonolentos.
Para este fim servirá muito bem um vivo concerto de luzes para as lojas,
bares, etc. Na galeria circundante, em contrastante diálogo com o efeito
da própria cúpula pintada.

39
40 imagem fractal decoração pictural hipotética da cúpula
engenharia

Para que o leitor não me acuse de ser um sonhador fantástico e


artístico, vou agora falar um pouco mais tecnicamente como
engenheiro.

Em primeiro lugar, é obrigatório falar de questões geológicas. A


história dos terramotos ensina-o e Portugal sabe do que se trata:
dúvidas sobre a solidez e consistência da rocha, movimentos
telúricos, faldas e fracturas, infiltrações de água, zonas friáveis,
etc., tudo da competência dos geólogos de profissão.
Escavar uma cavidade, um vão desta dimensão com a retirada
de tanto material: (cerca de 1000 000 m3, com um peso global
de 2500 000 toneladas, implica o fenómeno de subsidência que é
a reacção do subsolo libertado. A tarefa dos engenheiros é
projectar e calcular estruturas de reforço.
O empenho e a responsabilidade dos engenheiros é muitas vezes
bastante maior que os dos arquitectos e artistas, e apontamo-lo
com respeito.
A tarefa dos engenheiros compreende também todas as
instalações técnicas: as águas (brancas e negras, pluviais e de
limpeza, a água potável e a do aquecimento), a electricidade, a
climatização, a luz e a energia, a acústica, altifalantes, telefones
e computadorística, monitorização de vigilância, relojoaria,
televisão e antenas, e sabe-se lá o que o futuro ainda nos trará
de inovações electrónicas. Sem dúvida devo ter esquecido mais
alguma coisa.
Mas a coisa mais importante, enquanto de efeito imediato e
visível, é a iluminação, que penso poder resolver-se com
projectores potentes concentrados nas colunas-faróis instaladas
no pavimento do próprio Átrio. (pág. 37)
O tema da acústica merece especial atenção devido à forma da
cúpula e o arquitecto tem de estar pronto a descobrir formas
adequadas e funcionais sem descurar a estética e o factor
artístico. Importante é considerar o eco e as concentrações
sonoras. Ficará sempre um rumor de fundo e em certa medida é
mesmo desejável se for a um nível suportável. Um silêncio
absoluto constituiria um mal-estar. (pág. 47)

41
elevadores

42
elevadores

hipóteses de projecto

1 — para o público
do Átrio ao Castelo
4 elevadores para 20 pessoas
um grupo espectacular

2 — para o público
do Metro ao Átrio
2 elevadores de 12 pessoas
não à vista

3 — para dirigentes e gerentes,


vigilância polícia,
bombeiros e lojistas
do Metro ao Castelo
2 elevadores de 8 pessoas
à vista

4 — para habitantes da colina


do Metro aos bairros
6 elevadores de 8 pessoas
não à vista

5 — para serviço e cargas


obras e transporte
1 elevador de 2 x 2,5 metros
fora do Átrio e não à vista

elevadores principais
elevador particular

43
elevadores

esplanada

motores
trepadeiros

rocha

elevação
secção

cabinas
20 pessoas

planta

esboço esquemático sem escala


44
pólo norte

O Abobadão
- gira - gira - gira -
ao áxis do pólo Norte
Uma roda decorativa antiga fixada no tecto da cúpula,
no ponto justo indicado de um astrónomo,
simboliza o riferimento astronómico com o universo.

45
46 decoração pictural hipotética da cúpula
acústica

O eco é um fenómeno interessante, frequentíssimo na montanha e às


vezes até na planície ou nos lagos, que desperta sempre a nossa
curiosidade e nos convida a experimentá-lo com um bater de palmas
ou um grito brincalhão. Verifica-se também em grandes vãos como
nas instalações industriais ou nas igrejas onde é bem vinda a música
de órgão. Só nas salas de teatro ou de concertos musicais é combatido
com todos os meios. Para uma sala de teatro e música, realizada em
Bologna, demos muita atenção aos aeroplanos em transito.
Confiou-me uma cantora de ópera que ela, enquanto cantava,
procurava na sala o eco da sua voz para conforto e autocontrolo.

A ciência conhece muitas coisas a este propósito, mas a prática


reserva sempre surpresas. Recomenda-se portanto uma grande
atenção, porque neste sentido têm falhado até grandes projectistas.
O famoso arquitecto finlandês Alvar Aalto que realizou uma pequena
igreja de 600 lugares em Riolo perto de Bologna em Itália, na minha
opinião errou duas vezes. Em primeiro lugar, tecnicamente, porque o
sacerdote precisava de microfone e os altifalantes espalhados
atrapalhavam a audição por parte dos fiéis, desorientando-os.
Em segundo lugar, do ponto de vista ideológico, como na casa de
Deus se comunica a palavra de Deus de homem para homem sem
necessidade de intermediários, o que, no relativamente pequeno
espaço em questão, era certamente possível.
Portanto são obrigatórias todas as precauções.

O eco incomoda, deve ser evitado ou limitado o mais possível de


modo a tornar-se aceitável. A ausência do ruído do trânsito é uma
vantagem, enquanto, pelo contrário, um leve vozear doméstico é
bem-vindo, porque uma tolerância zero seria inadmissível, criaria um
ambiente morto. Talvez possa aconselhar-nos um técnico de som de
cinema.
Em contrapartida, prever uma rede de radiodifusão pode revelar-se
útil para muitos objectivos, por ocasiões especiais, como por exemplo
durante os dias de festa como no Natal.
Uma agradável e inteligente sonoridade dará um bom contributo para
um ambiente apreciável.

47
48
pavimento

Quanto ao pavimento, nada de especial, fá-lo-emos seguindo a tradição


da calçada de Lisboa, com cubos de pedra. Terá o significado da
comunhão entre o Abobadão e a cidade, a pertença da praça à cidade,
sem 'solução de continuidade', como dizem os homens da ciência: o
empedrado de Lisboa penetra livremente no Abobadão e o Abobadão
irradia-se pela cidade até aos seus cantos mais remotos.
Certamente permite-se uma modesta decoração figurativa que esteja em
harmonioso contraste com a pintura da cúpula. Digo modesta para que
não entre em demasiada contradição com o carácter médio geral de
aquele da cidade. A cor também seguirá o mesmo critério de modéstia:
branco, cinzento claro, areia e rosa pálido.
Devem-se evitar absolutamente materiais de luxo, como o granito
vermelho da Suécia ou o Labrador.

Proponho uma curiosa particularidade: uma geral inclinação de 3 %


para o centro, que no total produz uma depressão de cerca de 2 metros:
esta provoca na praça uma ligeira concha que se tornará um útil
expediente prático para o escorrer das águas de limpeza e a limpeza que
se fará com frequência. Contudo, mais importante ainda é o efeito visual
e sensível para o homem que da galeria em volta olha a praça e tem um
sentimento de domínio sobre a mesma.
Além disso a forma de concha reforça o aspecto unitário do objecto no
seu conjunto.

A decoração figurativa oferece infinitas possibilidades. Com efeito a


decoração pode ser geométrica ou floral, pode ser temática ou informal e
pode por fim ter um objectivo identificador para áreas com
características diferentes. É precisamente por isso que sugiro figurações
diferentes para as várias galerias de acesso para as distinguir umas das
outras. A tradição portuguesa é rica de variações na pátria e nas colinas.

Esta circunstância justifica a ideia de fazer um concurso com a simpática


participação do público, quer de artistas profissionais, quer de gente
comum. Creio que a proposta será recebida com entusiasmo.

49
50 decoração pictural hipotética da cúpula
climatização

A tarefa do Abobadão é a de fazer com que as pessoas se


sintam bem, o que se leva a cabo com uma climatização suave,
média, confortável, não demasiado fria de verão nem
demasiado quente de inverno, uma humidade bem regulada e
uma circulação do ar que não provoque correntes ou mesmo
vento. Os técnicos especializados saberão fazer dar fruto com
as suas experiências.
O ar puro obtém-se de cima, do Castelo, com o auxílio de
poderosos ventiladores; de inverno é aquecido.
Estamos já favorecidos pela ausência dos gases do escape dos
motores e dentro do Átrio será severamente proibido fumar;
para os fumadores empedernidos será montado um local
reservado, com extracção forçada.
No que diz respeito ao tema fumo é curioso saber que ma
pentápole argelina Ghardaia, Melika, Bem-Izguen, Bou-noura
e El Atteuf esta severamente proibido fumar dentro do recinto
das muralhas da cidade; há um guarda de serviço às portas
propositadamente para alertar os turistas incautos de cigarro
na boca. Os Moçabitas são muito religiosos e observantes
rigorosos dos preceitos.
Nas igrejas europeias é evidente o bom hábito de não fumar,
mas nos hospitais? No comment! A opinião pública está a
adaptar-se ao respeito pela saúde do próximo.
Com certeza faz-se tudo para obter o ar limpo e puro, mas nas
festas de Natal a praça estará cheia de perfume de pinheiros,
haverá um espectacular presépio e uma ambientação com
música sacra e decorações natalícias.
O Abobadão pretende ser um ambiente acolhedor dentro da
tradição portuguesa.

51
serviços

52
serviços
serviços no Átrio telefones
multibanco
local com computadores
caixotes de lixo
locais para fumadores
todo o equipamento urbano habitual
informações turísticas

serviços no piso inferior

público serviços higiénicos


pronto socorro médico

empregados gabinete dirigentes


polícia, bombeiros, lojas, bares,
cantina para empregados
bengaleiro para empregados
serviços higiénicos

instalações técnicas electricidade, quadros sinópticos,


motores elevadores
motor diesel de emergência
alarme, altifalante, rádio, TV
central telefónica, telex
monitorização, sinalização
central de aquecimento

limpeza locais recolha lixo


vidro, papel, pilhas
equipamentos avariados e reparações
local lavagens várias

canalizações esgoto, branco e preto


água alta pressão anti-incêndio
água potável
água de aquentacimento
ar condicionado
distribuição gás

carrinhos transportadores de todos os géneros


garagem equipamentos
armazéns
outros, aqui não apresentados

53
54 decoração pictural hipotética da cúpula
obras
Um grande empenho e uma preocupação para a Autarquia, um
susto para os habitantes da colina devido a um contínuo mal-
-estar, e um grande incómodo na cidade pela perturbação por
tempo indeterminado.
Nada disto acontecerá, absolutamente nada, se, pelo menos no
nosso caso, se proceder primeiro a fazer um tronco do
metropolitano entre Socorro e Santa Apolónia, passando por
baixo do Castelo e do Átrio até um estaleiro algures a Norte.
Assim todo o trabalho se desenrola totalmente dentro da colina
e no subsolo, completamente oculto ao cidadão que prossegue a
sua vida normal à superfície.
Bem, então o estaleiro in loco por baixo do Castelo fica ligado
por meio do metropolitano como um cordão umbilical ao
estaleiro-base de apoio a Norte, onde se encontram os
escritórios da direcção, instalações para os operários, oficinas
de preparação dos elementos construtivos e depósitos de
materiais e detritos.
A retirada de cerca de um milhão de metros cúbicos de rocha
extraída é certamente uma empresa nada indiferente. É claro
que este material encontrará novas reutilizações.

Os habitantes das encostas da colina ouvirão sem dúvida um


leve ruído dos martelos pneumáticos, que decerto Não
perturbarão seu sono nocturno e não sofrerão o incómodo, os
perigos, a poeira e a sujidade dos camiões pesados em contínua
passagem.
O próprio Castelo nunca suspenderá a sua actividade e os
turistas serão sempre bem-vindos. A cidade não sofrerá e
a vida urbana continuará como sempre.

E no fim, quando a obra for aberta ao público?...


Surpresa geral a ver este esplêndida novidade. Grande festa
popular, discursos das Autoridades, representantes de todas as
Freguesias e instalação das suas insígnias, música da banda da
polícia (vestida à civil), comida e bebidas à discrição, baile toda
a noite e manifestações artísticas toda a semana.
Seria um grandioso 'house warming party'!

55
brasão e bandeira da cidade de Moscovo

São Jorge é padroeiro de nações, cidades. ilhas. igrejas, institutos,


conventos, mosteiros, confraternidades, armadas nas regiões cristãs de
Europa
56
o castelo e o guerreiro santo
o castelo
A história começa com uma colina à beira do rio, povoada de dinossauros e
homens selvagens. O mundo estava cheio de ameaças e terrores. Só a partir do
século VI a.C., à idade do ferro, temos notícias de uma defesa fortificada feita
pelos Visigodos. Pois, Vikings, Vândalos, Suevas, Fenecíamos, Gregos,
Cartagineses, Romanos, a longa dominação dos Mouros, que chamaram o
Olisibona de então, Al-Usbuna.
No memorável ano de 1147, Dom Afonso Henriques, libertou a cidade e o
castelo, indicando São Jorge como padroeiro da fortaleza.
Como primeiro Rei de Portugal fez do castelo a sua residência, que fico-o até
ao grande terramoto de 1531.
Em séquito, o castelo volta à vida militar, e uma lenta deterioração foi o
resultado de muita negligência. Só em 1810, se despertou a consciência
popular e o castelo foi proclamado Monumento Nacional. Depois de uma
longa espera, em 1940 foi levado a cabo uma rigorosa limpeza dos
acrescimentos (superfetações).
Finalmente, o castelo e o seu ambiente ficaram claros, arranjados e limpos,
como o visitante de hoje os encontra, e fica pronto para mostrar esta
movimentada história com meios muscales.

o guerreiro santo, padroeiro do Castelo


Nasceu na Capadócia um rapaz inteligente, cheio de energia e vivacidade, que
escolheu, como o seu pai, a carreira militar no exército romano, onde
passando por todos os postos, acabou por ser senador na corte suprema em
Roma com a idade de apenas 23 anos! Este rapaz era Jorge, o futuro São
Jorge. Encantado com a personalidade de Cristo e captado pela fé cristã
tornou-se um fervoroso defensor da VERDADE. Assim, quando o imperador
Diocleciano quis decretar uma lei que mandava matar todos os cristãos, opôs-
se, para grande consternação da assembleia, com firme decisão. O Imperador,
não conseguindo fazê-lo abjurar, mandou decapitá-lo. Esta clara, firme e
guerreira atitude fez muitos prosélitos que adoptaram o seu nome como
símbolo e a sua personalidade como padroeiro de igrejas e conventos, por
cidades e países inteiros, como por exemplo Portugal, Inglaterra, Palestina,
Grécia, Alemanha, Catalunha e Lituânia, e cidades como Moscovo e Lisboa e
em primeiro lugar: o Castelo.
O seu carisma é origem de muitas lendas entre as quais a mais conhecida e a
do dragão. Foi beatificado no século IV e recentemente apagado do calendário
eclesiástico sem contudo alterar o seu estado de beatificado.
É compreensível que esta bondade e edificante história do Santo atraia a
curiosidade de muitos turistas que podem admirar as límpidas pedras e o
grandioso panorama sobre a cidade, mas fora disso não encontram muito
alimento intelectual e satisfação da curiosidade pela falta de signos vivos
desta história nos próprios lugares.
(Informações mais amplas encontram-se evidentemente no Google e outros browsers.)

57
a colina do Castelo, alias colina de São Jorge, a primeira e a mais alta
das sete colinas sobre as quais Olisipo tinha origem.

O incêndio do Chiado 25-ago -1988

58
querida, maltratada lisboa

Com este título José Saramago num artigo saído no diário El Pais, de 3
de Setembro de 1988, após o catastrófico incêndio do Chiado, evoca os
sofrimentos históricos desde o ano de 1174 em Lisboa, aliás Olísipo,
Olisibona, Aschbouna (dos Mouros), concluindo com estas palavras de
esperança e conforto.

«Lisboa tem-se transformado rapidamente nestes últimos anos.


Decadente, abandonada até dias bem recentes, cidade em
terramoto lento, como chegaram a chamar-lhe, foi capaz de
fazer despertar na consciência dos seus cidadãos o renovo de
forças que arrancou ao marasmo e à indiferença. Em nome da
modernização levantam-se muros de betão sobre as pedras
antigas, transtornam-se os perfis das colinas, alteram-se os
panoramas, modificam-se os pontos de vista. Provavelmente,
não se podia evitar. Mas o espírito de Lisboa sobrevive desde há
séculos --- e o espírito é que torna eternas as cidades. Arrebatado
por aquele louco amor e aquele divino entusiasmo que habitam
nos poetas, escreveu Camões um dia, falando de Lisboa;
«...cidade que facilmente das outras é princesa». Perdoemos-lhe
o exagero, sobretudo se não aspiramos a tão alta jerarquias.
Basta que Lisboa seja o que simplesmente deve ser: feliz, culta,
moderna, limpa, organizada --- sem perder nada da sua alma
antiga. E se todas estas bondades acabarem mesmo por fazer
dela uma rainha, pois então que o seja. Na república que somos,
serão sempre bem-vindas rainhas como ela».
José Saramago

59
60
jornais

comentário
Projectos de transporte publico vertical ao castelo de São Jorge
presenteados nos media nos anos 2001 – 2002, que depois são
abandonados para insuficiência pratica e para protesta
popular. Estes projectos técnicos mecânicos cortam impiedosamente no
tecido urbano, não são portadores de beleza e não têm nenhuma
qualidade arquitectónica.
61
62 entrada principal na pracinha da Mouraria
maqueta

No meu atelier fiz uma maqueta da cúpula para confrontar a ideia com a
sua tridimensionalidade, aspecto que falta nos desenhos e até nas
perspectivas.
A maqueta é sui generis e sem escala unitária, mas grosso modo
corresponde a 1 cm/m, o seja 150 cm de diâmetro, suficiente para
analisar detalhes menores.
A maqueta-esboço, na verdade, é um tanto rudimentar no seu conjunto e
na apresentação da colina, mas o objectivo era primariamente observar
o interior, a sala, o Abobadão.
É bastante pormenorizada a entrada do Largo Martim Moniz, que tem a
intenção de manter o presente perfil arquitectónico do velho “Salão
Lisboa”, juntamente com o projecto da 'Rua do Poço do Borratém' e a
'Rua da Madalena', que é útil para orientação geral.
O interior é claramente iluminado com projectores, como na proposta de
iluminação (pág. 37) e o Castelo no alto tem 'Flood-light'.
Após a exposição do modelo na Ordem dos Arquitectos no dia 19 de
Maio de 2008, a maqueta foi desmontada e reposta em elementos no meu
atelier onde aguarda outra ocasião e talvez (espera-se) um lugar
definitivo que qualquer gentil leitor poderia pôr à disposição, e que
apresenta uma entrada de importância como o Castelo merece.

63
64
vista interior genérica 65
concursos vários

objectos sujeitos a concurso a organizar-se sob


patrocínio do S.N.B.A.

1 --- a pintura da abobada (ver página 64)

2 --- a decoração do pavimento (ver páginas 48-49)

3 --- a fonte

4 --- cancelas das entradas

5 --- equipamento do Átrio (ver página 20)

6 --- frentes das lojas

7 --- fachada de entrada principal


no largo de Martim Moniz (ver página 25)

8 --- tipografia geral

66
concurso de pintura

Concurso de pintura da cúpula do Átrio no Castelo de São Jorge


sob o patrocínio da Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa

Para esta obra especial prevêem-se regras especiais.

1 — a S.N.B.A. nomeia um organizador do concurso.


2— publica-se nos media um convite aos artistas para solicitar a sua
inscrição no concurso, acompanhada de um curriculum artístico.
3 —um juri S.N.B.A. selecciona 50 artistas qualificados e convida-os a
participar no concurso de primeiro grau conforme um regulamento
preparado.
4 — uma grande reunião introdutória presidida pelo Projectista em
chefe.
5 —discussão geral.
6---presentação de um esboço contendo intenções, forma, cor, técnica,
acompanhado de um ideia geral e de todos os argumentos considerados
úteis, contido em caderneta com o máximo de 5 folhas A4, com
curriculum artístico.
7 — a juri S.N.B.A. selecciona 7 artistas para o concurso de 2º grau.
8 — a cada artista será fornecida uma cúpula de cartão de 150 cm de
diâmetro.
9 — indica-se o prazo de um ano com data de encerramento fixa.
10— exposição pública das 7 propostas.
11— o público é convidado a um escrutínio informativo.
12—será instituído um júri definitivo composto pelos 7 pintores
participantes e um historiador de arte, este, na qualidade de presidente,
procederá a uma prévia reunião e a uma discussão. Estes 7 pintores são
os que conhecerem o mais profundamente o problema e os méritos. Seria
um auto-júri. Cada um indica dois nomes.
13— proclamação do projecto vencedor.
14— aceitação por parte do Projectista em chefe.
15— aceitação por parte das Autoridades,
16— estipulação de um contrato para a execução.

67
gestão

Naturalmente o Abobadão terá um director


que disporá de um gabinete modernamente
equipado a que farão referência
empregados, paquetes, funcionários da
limpeza, técnicos de manutenção, agentes da
ordem e de vigilância, etc., com base nas
exigências.
O director-geral controlará a administração,
a contabilidade, a agenda, fará programas e
estipulará contratos de aluguer para lojas,
bares e restaurantes, espectáculos, para
feiras e exposições especiais, etc. etc. Estará
subordinado a um Conselho das Freguesias,
por sua vez responsável perante a Câmara
Municipal de Lisboa.

finanças

E o dinheiro donde provém? Os


estabelecimentos pagarão um aluguer e os
utentes dos ascensores poderão obliterar um
bilhete de metro. Certos espectáculos ou
feiras especiais poderão ter entrada paga e
para o resto fica garantido pela Câmara
municipal, com o seu orçamento reservado à
cultura. Em resumo, peço desculpa, sou
arquitecto e não competente em questões de
gestão financeira, há especialistas para isso
e a prática depois ensinará.

68
resumo

Os méritos do Átrio:

1 — elevadores nos pontos estratégicos em volta


do Castelo.
2 — elevadores em número conforme as
necessidades e aumentáveis no futuro.
3 — ter uma entrada principal muito espaçosa no
Largo Martim Moniz.
4 — exclusividade para peões, sem rodas nem
motores.
5 — ser uma praça complementar no centro da
metrópole.
6 — ser uma praça para convivência social e
manifestações artísticas.
7 — ter uma arquitectura monumental.
8 — representar um desafio técnico e uma obra de
orgulho.
9 — representar um manifesto contra o domínio do
automóvel.
10—as obras de realização estão ocultas no
subterrâneo e não dão nenhum incómodo à vida
urbana que se desenrola imperturbável como
hábito diário normal.

69
oratio pro domo

Chego ao epilogo: a Oração pró Domo


ou seja, a Oração pró Abobadão

Ars lunga vita brevis.


A preparação para a realização da obra irá requerer
muitos anos, porque são muitas as coisas a fazer: os
estudos preparatórios, as investigações no terreno,
recolha de elementos vários e o projecto próprio com as
suas muitas reuniões e discussões. Para a execução e
condução artística principal, é importante que a selecção
recaia sobre profissionais qualificados, de claro carisma e
capacidade afirmada a quem se possa confiar a direcção
executiva.
É necessário um grupo de estudo e de conversação sobre
temáticas fundamentais da razão de ser, sobre a
identidade do objecto e sobre a definição da sua
“lusitanidade”, sobre questões de estilo e de atmosfera e
para a apresentação de um documento de projecto
executivo ao concelho das freguesias, e à Autoridade
citadina, ou seja a Câmara Municipal de Lisboa na
qualidade de representante do povo soberano de Lisboa, e
por fim é necessário compor um texto único de
promulgação e de promoção junto dos mass-media.

No caso de algum dos leitores desta exposição desejar dar


um seu contributo, é bem-vindo, será considerado com a
máxima seriedade e discrição.

Um sincero agradecimento dirijo-o à Ordem dos


Arquitectos de Lisboa por me ter oferecido a oportunidade
de expor as minhas ideias ilustrando-as com um modelo
na reunião do dia 19-5-2008 na sede da Ordem.

70
despedida

Espero que estas minhas imaginações semeiem


inspiração e simpatia entre os cidadãos de Lisboa e
obtenham um apoio cada vez mais amplo.
Espero que as ideias cheguem aos ouvidos e ao
coração das Autoridades e que, num tempo futuro,
possam desembocar numa realização.

O projecto, que está registado na Sociedade


Portuguesa de Autores, é oferecido pelo projectista
em pleno direito à Câmara Municipal de Lisboa na
condição de a Câmara contribuir para as despesas
obrigatórias e destine um correspondente honorário
justo a uma Instituição de Beneficência à sua
escolha.

boa sorte ao Abobadão

o arquitecto

71
72 decoração pictural hipotética da cúpula
declaração de princípio

A presente ideia-projecto arquitectónico-urbanística,


para um fácil acesso turístico ao Castelo de São
Jorge, colhe inspiração de alguns projectos técnicos
veleitários publicados nos anos de 2002-2003.
A ideia aqui apresentada é da propriedade
intelectual do arquitecto Lieuwe Op't Land e é
colhida neste livro com textos explicativos e desenhos
genéricos sem escala nem proporções exactas.
Pretende ser fonte de inspiração, instrumento e
estímulo para uma adequada discussão, em vista de
uma possível e consequente realização que dê vida a
um local de genuína convivência social para a
população de Lisboa.

curriculum artistiea

curriculum artístico de Lieuwe Op't Land, 21-11-1923, Amsterdam.


ensino: Geometra,~~Ubiversitá Tecnica,Delft Hol., título Ir, arquitecto-engenheire--~Vrije Academia
de Pintura, den Haag,~~Institut de l' Urbanisme, Paris, auditeur~~ Politécnico de Milano, titulo
Doutor-Arquitecto—Professor de Arquitectura de Technische Hogeschool, Delft.
sócio: Sociedade Nacional de Belas Artes ~~ Sociedade Portuguesa de Autores.
trabalho no ateli de Arq. Melchiorre Bega, Milano e realiza Palácio de Congresso e Teatro em
Bologna,~~ lojas , vilas, restaurantes Motta a Genova, Padova, Firenze e na auto-estrada de Padova em
colaboração com Ing Pierluigi Nervi~~
Projecto Ministério de Defesa Argelino , Argélia—Prédios, lojas, escritórios e habitações a Padova.
estudio próprio: projecto- concurso Campus Politecno a Milano, 2º premio—Campus Cinecidade a
Argélia~~equipamento para Biblioteca Nacional , Argélia—Praça de Verola Nuova, Italia. concurso
vencido.~~ Vários Projectos para Praças no Norte de Itália.
obras artisticas: Escultura em madeira para Galeria Ciovica de Gallerate, It.~~Escultura em ferra para
a Galeria Civica de Crema, It.~~Escultura em aluminio para sede de Philips, Eindhoven, Nl.~~Pintura
para os quadros de Moussorgski, 115 x 1875 cm exposto no salão da S.N.B.A. de Lisboa~~
mesmo—.~~—Quadros de pintura e exposições varias.~~projecto para o Abobadão com elevadores de
acessos ao Castelo S. Jorge, objecto de divulgação deste livro .
escritos: dois livros, biligua italo-holandesa, poesias e contas. ~~ Matematica: estudo sobre a
icoshedron com muitos desenhos.~~ Articulos nas rivistas profissionais.

73
info

Autor da ideia-projecto
Lieuwe Op't Land, arquitecto
rua das Amoreiras nº 7
2655-005 Carvoeira, Mfr.
Ericeira.
tel.: 00351 261 862 416
tel-mov.: 936 033 282
e-mail: < lieuwe@sapo.pt >

colaboradora - fiduciária
Srª. Gulnar Sacoor
tel.: 00351 309 938 486
tel-mov.: 964 202 024
e-mail: < ggs@netcabo.pt >

http://abobadao-lisbonense.org/

colofon

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índice

3 frontispício 50 cúpula
5 bem-vindos 51 climatização
6 foto aérea 52-53 serviços
7 mapa 54 cúpula
8-9 ideia mor 55 obras
10-11 castelo acessibilidade 56-57 castelo e guerreiros
12-13 turismo 58 panorama
14-15 castelo fortaleza 59 querida Lisboa
16 serendipidade 60-61 jornais
17 Abobadão humanização 62-63 maqueta
18-19 povo 64-65 interior
20 equipamento 66 concursos
21 Abobadão incumbência 67 concurso
22-23 organização 68 gestão e finanças
24 praça Martim Moniz 69 resumo
25 entrada principal 70 oratio pró domo
26 arquitectura 71 despedida
27 homem 72 cúpula
28 humanesimo e materialesimo- 73 declaração
29 significado e símbolo 74 info
30-31 vontade e orgulho
32 estilo
33 atmosfera
34-35 pintura
36-37 iluminação
38-39 luz
40-41 engenharia
42-43 elevadores
44 elevadores
45 roda
46 cúpula
47 acústica
48-49 pavimento

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