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9º ANO 2006/2007
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I
Tanto que Brísida Vaz se embarcou, veo um Judeu, com um bode às costas; e,
chegando ao batel dos danados, diz:
JUDEU Que vai cá? Hou marinheiro! PARVO Furtaste a chiba (7) cabrão?
DIABO Oh! que má-hora vieste!... Parecês-me vós a mim
JUDEU Cuj'é esta barca que preste? gafanhoto d'Almeirim
DIABO Esta barca é do barqueiro. chacinado em um seirão.
JUDEU Passai-me por meu dinheiro. DIABO Judeu, lá te passarão,
porque vão mais despejados (8) .
DIABO E o bode (1)há cá de vir?
JUDEU Pois também o bode há-de PARVO E ele mijou nos finados
vir. n'ergueja de São Gião (9) !
DIABO Que escusado passageiro! E comia a carne da panela
no dia de Nosso Senhor (10) !
JUDEU Sem bode, como irei lá? E aperta o salvador,
DIABO Nem eu nom passo cabrões. e mija na caravela!
JUDEU Eis aqui quatro tostões DIABO Sus, sus! Demos à vela!
e mais se vos pagará. Vós, Judeu, irês à toa (11) ,
Por vida do Semifará (2) que sois mui ruim pessoa.
que me passeis o cabrão! Levai o cabrão na trela!
Querês mais outro tostão?
DIABO Nem tu nom hás-de vir cá. 1. O bode era um animal de sacrifício da religião
judaica
2. nome judeu, talvez o da própria
JUDEU Porque nom irá o judeu personagem
onde vai Brísida Vaz? 3. juiz, autoridade; o Judeu dirige- se ao Fidalgo
4. tolo
Ao senhor meirinho (3) 5. fala típica dos judeus
apraz? 6. troça
Senhor meirinho, irei eu? 7. cabra
8. vazios, com menos gente
DIABO E o fidalgo, quem lhe deu... 9. não respeitou as sepulturas da igreja
JUDEU O mando, dizês, do batel? 10. comia carne durante o jejum cristão
Corregedor, coronel, 11. a reboque
castigai este sandeu (4) !
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Cristina Seiça
O questionário seguinte apresenta várias hipóteses de resposta para a questão que te é
colocada. Escolhe a solução que te pareça correcta (apenas uma) e transcreve a alínea
respectiva para a tua folha de prova.
2. Depois de ter tentado pagar para ir na barca e, ao constatar que o Diabo não fazia
tenção de o levar,o Judeu
a) manifestou o desejo de acompanhar Brísida Vaz.
b) invocou a autoridade do Fidalgo.
c) desistiu de embarcar, depois de ter insultado o Diabo.
d) foi à outra barca porque estava mais «despejada».
3. Quando o Judeu pergunta porque nom irá o judeu onde vai Brísida Vaz?, isso
significa que
a) se sentia mais à vontade indo com alguém que conhecia.
b) a julgava de uma condição social superior à sua.
c) achava que merecia o mesmo castigo do que ela.
d) não se considerava socialmente inferior a ela.
5. O Fidalgo e o Judeu não são designados pelos seus nomes próprios porque
a) não representam um indivíduo mas um grupo social.
b) ambos estão mortos e o seu nome já não é importante.
c) são personagens alegóricas.
d) ambos eram pecadores e iam para o Inferno.
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Cristina Seiça
II
1. Dois espectadores, que na época assistiram à peça, revelam opiniões diferentes
sobre a personagem Joane.
Dom Pedro -Joane é apenas o «parvo» da peça. Gil Vicente só o incluiu para nos
fazer rir com todos os disparates que diz.
Dona Isabel - Joane não é assim tão parvo: acho até que neste episódio tem um papel
importante, normalmente desempenhado pelo Diabo.
Em cerca de 10 linhas indica com qual das opiniões estás de acordo, apresentando
argumentos que expliquem a tua posição e recorrendo aos elementos do texto que
achares necessário.
III
Lê agora com muita atenção o texto, que se refere à presença dos Judeus em Portugal.
Podes consultar o significado de algumas palavras, apresentado alfabeticamente a
seguir ao texto.
Na Idade Média eram numerosos os Judeus em Portugal, e, na altura da conquista
de Lisboa por D. Afonso Henriques (1147), a cidade tinha já uma comunidade
hebraica significativa.
Devido às circunstâncias precárias da sua vida, e por estarem sujeitos a
perseguições por motivos rácicos, religiosos e económicos, os Judeus dedicavam-se
sobretudo a actividades que não dependessem da propriedade imobiliária. Eram, na
sua maioria, mercadores, usurários, médicos, astrónomos e astrólogos, ou exerciam
ofícios artesanais como os de ourives e alfaiate. Era aos Judeus e ao seu sistema
bancário que membros de todas as classes recorriam, provindo daí o seu peso
decisivo na economia nacional.
A integração dos Judeus continuava a ser problemática, com a continuada
existência de incidentes entre Judeus e Cristãos. Em 1480 foi introduzida a Inquisição
e, em 1492, ordenada a expulsão dos Judeus de Espanha pelos Reis Católicos. Os que
recusaram a conversão conseguiram em parte emigrar, tendo Portugal recebido cerca
de 60 mil, enquanto outros seguiram para o norte de África ou para o norte da
Europa. Quatro anos mais tarde, D. Manuel ordenou também a sua expulsão, com
excepção dos que aceitassem converter-se, dificultando a saída dos convertidos do
país, medida esta que procurava manter em Portugal meios financeiros necessários ao
reino.
1. Explica a razão pela qual os Judeus não se podiam dedicar a actividades que
implicassem a posse de bens imobiliários.
2. Indica a condição que era imposta aos Judeus para que pudessem permanecer no
reino, no tempo de D. Manuel.
3. Recorda agora o texto do Grupo I, considerando que, de certa forma, ele reflecte
uma realidade da sua época.
Transcreve dois excertos do texto do Grupo I que estejam relacionados com cada uma
das seguintes conclusões que pudemos retirar da leitura do texto do Grupo III.
3.2. Muitos Judeus eram usurários e gente de todas as classes recorria ao seu dinheiro
porque os Judeus dominavam o sistema bancário.
IV
Responde, agora, às questões seguintes, sobre o funcionamento da língua, tendo
em atenção, mais uma vez, as indicações que te são dadas.
1. Identifica o tempo e o modo das formas verbais sublinhadas no texto do grupo III.
2. Lê a seguinte frase:
f) Condicional Simples
g) Condicional Composto
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Cristina Seiça
3. Delimita e frases e classifica-as.
“ O Auto da Barca do Inferno é um espelho triste onde Gil Vicente reflecte o rosto de
uma nação.”
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Cristina Seiça