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Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar a exploração sexual de crianças e adolescentes, considerada uma das piores formas de trabalho infantil, retratada no filme Anjos do Sol, que evidencia as causas socioeconômicas que favorecem essa prática no interior do Brasil. O trabalho infantil, que não é o “pano de fundo” do filme, mas que é tratado de forma sutil, onde meninas são entregues por suas famílias a intermediadores, e são levadas para outros estados para serem exploradas, em troca de benefícios financeiros. A análise jurídica do filme permite identificar as piores formas de violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes, decorrentes da exploração sexual, renegadas à própria sorte nas mãos dos exploradores, e os mecanismos legais de prevenção e punição para essa prática. O estudo se dá através do método hipotético-dedutivo ao analisar as chocantes cenas, que mostram a realidade até então desconhecida da maioria dos brasileiros e o desconhecimento pela sociedade brasileira das razões que envolvem o trafico de menores para fins de exploração sexual e a sua punição. Por fim, chega-se a conclusão de que o filme contribui para a conscientização de que a exploração sexual de crianças e de adolescentes faz parte da realidade brasileira, e de suas consequências tanto para as crianças, como para a sociedade, e que o problema merece especial atenção tanto da sociedade como do Estado para seu combate.
Titlu original
Casa Vermelha a Antitese Entre a Pureza Da Infancia
Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar a exploração sexual de crianças e adolescentes, considerada uma das piores formas de trabalho infantil, retratada no filme Anjos do Sol, que evidencia as causas socioeconômicas que favorecem essa prática no interior do Brasil. O trabalho infantil, que não é o “pano de fundo” do filme, mas que é tratado de forma sutil, onde meninas são entregues por suas famílias a intermediadores, e são levadas para outros estados para serem exploradas, em troca de benefícios financeiros. A análise jurídica do filme permite identificar as piores formas de violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes, decorrentes da exploração sexual, renegadas à própria sorte nas mãos dos exploradores, e os mecanismos legais de prevenção e punição para essa prática. O estudo se dá através do método hipotético-dedutivo ao analisar as chocantes cenas, que mostram a realidade até então desconhecida da maioria dos brasileiros e o desconhecimento pela sociedade brasileira das razões que envolvem o trafico de menores para fins de exploração sexual e a sua punição. Por fim, chega-se a conclusão de que o filme contribui para a conscientização de que a exploração sexual de crianças e de adolescentes faz parte da realidade brasileira, e de suas consequências tanto para as crianças, como para a sociedade, e que o problema merece especial atenção tanto da sociedade como do Estado para seu combate.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar a exploração sexual de crianças e adolescentes, considerada uma das piores formas de trabalho infantil, retratada no filme Anjos do Sol, que evidencia as causas socioeconômicas que favorecem essa prática no interior do Brasil. O trabalho infantil, que não é o “pano de fundo” do filme, mas que é tratado de forma sutil, onde meninas são entregues por suas famílias a intermediadores, e são levadas para outros estados para serem exploradas, em troca de benefícios financeiros. A análise jurídica do filme permite identificar as piores formas de violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes, decorrentes da exploração sexual, renegadas à própria sorte nas mãos dos exploradores, e os mecanismos legais de prevenção e punição para essa prática. O estudo se dá através do método hipotético-dedutivo ao analisar as chocantes cenas, que mostram a realidade até então desconhecida da maioria dos brasileiros e o desconhecimento pela sociedade brasileira das razões que envolvem o trafico de menores para fins de exploração sexual e a sua punição. Por fim, chega-se a conclusão de que o filme contribui para a conscientização de que a exploração sexual de crianças e de adolescentes faz parte da realidade brasileira, e de suas consequências tanto para as crianças, como para a sociedade, e que o problema merece especial atenção tanto da sociedade como do Estado para seu combate.
CASA VERMELHA: A ANTITESE ENTRE A PUREZA DA INFNCIA E A EXPLORAO SEXUAL NO FILME ANJOS DO SOL Waldimeiry Corra da Silva 1
Accia Gardnia Santos Leli 2
Fecha de publicacin: 01/01/2014
SUMRIO: 1. Introduo; 2. A vida de Maria, de Ins e de outras Marias retratadas no filme Anjos do sol; 3. Da pobreza ao trabalho infantil: Analise jurdica de Anjos do sol; 4. A explorao sexual: uma das piores formas de trabalho infantil; 5. A violao da dignidade humana na perspectiva dos direitos humanos.
CASA ROJA: UNA ANTTESIS ENTRE LA PUREZA DE LA NIZ Y LA EXPLOTACIN SEXUAL EN LA PELCULA ANJOS DO SOL
Resumen: El presente artculo tiene el propsito de analizar la explotacin sexual infantil, considerada una de las peores formas de trabajo infantil, representada en la pelcula Anjos do sol, que evidencia las causas socio-econmicas favorecedoras de aluda prctica en el interior de Brasil. El Trabajo infantil, que no es el teln de fondo de la pelcula, pero que tambin es abordado de modo sutil, donde nias son llevadas para otros
1 Doutora em Direito Internacional Pblico e Relaes Internacionais pela Universidade de Sevilla (US), Professora da Universidade Tiradentes (UNIT), Pesquisadora do Programa de Ps Graduao em Direito (PPGD) e pesquisadora vinculada ao GPTEC/UFRJ m_sevilla7@yahoo.es 2 Advogada, Mestranda em Direito pela PUC/PR do Programa de Direito Econmico e Socioambiental, linha de Sociedade e Direito, Especialista em Direito Processual pela Universidade Federal de Sergipe, professora do Curso de Direito e Servio Social da Universidade Tiradentes Se, associada do Instituto Brasileiro de Direito de Famlia-IBDFAM e integrante da Comisso de Defesa dos Direitos da Mulher da OAB/SE, integrante do grupo de pesquisa Justia, Democracia e Direitos Humanos da PUC/PR e do grupo de pesquisa sobre a mulher e a famlia da Faculdade Tiradentes. E- mail: aglelis@infonet.com.br www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 2
Estados y sern objeto de explotacin comercial. El anlisis jurdico de la pelcula permite identificar tanto los instrumentos normativos de prevencin y sancin de las peores formas de violacin de los derechos humanos de la niez, decurrentes de la explotacin sexual, como el retrato de como este grupo se halla renegadas a la propia suerte en manos de los explotadores. El estudio fue realizado mediante el mtodo hipottico-deductivo al analizar las escenas (por veces srdida otras sutil) que exponen la realidad hasta entonces desconocida de la mayora de los brasileos y el desconocimiento por la sociedad de los motivos que circundan la trata de menores para fines de explotacin sexual de infantil y su represin. En conclusiones preliminares afirmamos que la pelcula contribuye para la concientizacin de que la explotacin sexual infantil es parte da realidad brasileira, y de sus consecuencias tanto para los nios, como para la sociedad, y que el problema merece especial atencin tanto por parte de la sociedad como del Estado para su enfrentamiento efectivo. Palabras Clave: Trata de Personas; Explotacin sexual; Trabajo Infantil; Derechos Humanos Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar a explorao sexual de crianas e adolescentes, considerada uma das piores formas de trabalho infantil, retratada no filme Anjos do Sol, que evidencia as causas socioeconmicas que favorecem essa prtica no interior do Brasil. O trabalho infantil, que no o pano de fundo do filme, mas que tratado de forma sutil, onde meninas so entregues por suas famlias a intermediadores, e so levadas para outros estados para serem exploradas, em troca de benefcios financeiros. A anlise jurdica do filme permite identificar as piores formas de violao dos direitos humanos de crianas e adolescentes, decorrentes da explorao sexual, renegadas prpria sorte nas mos dos exploradores, e os mecanismos legais de preveno e punio para essa prtica. O estudo se d atravs do mtodo hipottico-dedutivo ao analisar as chocantes cenas, que mostram a realidade at ento desconhecida da maioria dos brasileiros e o desconhecimento pela sociedade brasileira das razes que envolvem o trafico de menores para fins de explorao sexual e a sua punio. Por fim, chega-se a concluso de que o filme contribui para a conscientizao de que a explorao sexual de crianas e de adolescentes faz parte da realidade brasileira, e de suas consequncias tanto para as crianas, como para a sociedade, e que o problema merece especial ateno tanto da sociedade como do Estado para seu combate. Palavras-chave: Trfico de Pessoas; Explorao sexual; Trabalho Infantil; Direitos Humanos www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 3
Abstract: This article aims to analyze the sexual exploitation of children and adolescents, considered one of the worst forms of child labor, portrayed in the film Angels of the Sun, which highlights the socioeconomic causes that promote this practice in the interior of Brazil. Child labor, which is not the "background" of the film, but it is handled in a subtle way, by the time children are delivered by intermediaries to their families, and are carried to other states to be explored, in exchange for financial benefits. The legal analysis of the film identifies the worst violations of human rights of children and adolescents, resulting from sexual exploitation, renegade to their fate in the hands of the exploiters, and the legal mechanisms for the prevention and punishment for this practice. The importance of the study reveals the hypothetical-deductive method used to analyze the shocking scenes that show the reality hitherto unknown to most Brazilians and ignorance by the Brazilian society of reasons involving the sexual exploitation of children and adolescents and their punishment. Finally, we arrive at the conclusion that the film contributes to the awareness of the sexual exploitation of children and adolescents is part of the Brazilian reality, and its consequences for children, and for society, and that the issue deserves special attention both society and the rule for its combat Keywords: Human Rights; Sexual Exploitation; Child labor; human rights.
1. INTRODUO O presente artigo tem como objetivo analisar a explorao sexual de crianas e adolescentes, que segundo a Conveno 182 da Organizao Internacional do Trabalho- OIT uma das piores formas de trabalho infantil 3 , a partir do filme Anjos do Sol. A histria de Maria, narrada no filme, que entregue por seus pais a aliciadores, para fins de explorao sexual, mostra a realidade de muitas famlias que vivem em situao de extrema pobreza no serto nordestino e so convencidas a entregar suas filhas em troca de pequenas vantagens financeiras. A condio de vida de Maria (uma menina de 12 anos, protagonista da estria) e de outras Marias, retratadas no filme permite aproximar da realidade da violao massiva dos direitos humanos na sociedade - atravs da aniquilao da
3 Conveno 182 e a Recomendao 190 da OIT sobre a proibio das Piores de Trabalho Infantil e a Ao Imediata para sua Eliminao, promulgadas pelo Decreto Presidencial n 3.597 de 12/09/2000. Texto disponvel em <http://www.mte.gov.br/trab_infantil/leg_convencoes.asp>. ltimo acesso em 11/06/2013. www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 4
dignidade humana observada na representao do Trfico de seres humanos para fins de explorao sexual. O filme Anjos do Sol apresenta a estria da pobreza e da misria de famlias que vivem no serto nordestino, e que entregam suas filhas aos aliciadores mediante pagamento, sem o propsito claro de discutir o trabalho infantil. Entretanto, a explorao sexual de crianas identificada como uma das formas mais perversas de trabalho infantil na atualidade, e que merece ser destacado no filme. Tal realidade evidenciada por Lagemman em Anjos do Sol no diz respeito somente realidade nordestina, mas se faz presente em distintos mbitos na sociedade, desde a pobreza e a misria do serto e dos garimpos, passando pelas fazendas, pelas rodovias e no corao das grandes cidades. A explorao sexual mais comumente conhecida pela sociedade como prostituio infantil, como se essa fosse uma atitude voluntria e deliberada das crianas e adolescentes. A partir da anlise jurdica do filme, pelo mtodo hipottico- dedutivo, permite-se identificar que a condio de vida, a violao da dignidade, e da subjugao total de direitos de crianas e adolescentes, no h por parte dessas meninas qualquer escolha de vida, e que a condio de total explorao, devendo a sociedade e o Estado prevenir e combater este tipo de violncia. 2. A VIDA DE MARIA, DE INS E DE OUTRAS MARIAS RETRATADAS NO FILME ANJOS DO SOL O filme Anjos do sol retrata a histria de muitas famlias no interior do Brasil, que vivem em situao de extrema pobreza, em situao de invisibilidade social, esquecidas e desconhecidas pela sociedade, margem dos direitos mnimos essenciais. Diante das precrias condies de existncia digna, os valores morais so inexistentes, tornando as pessoas vulnerveis a qualquer tipo de vantagem que venha lhes proporcionar algum benefcio. nesse contexto, que o filme mostra a mercantilizao de meninas, como nico recurso disponvel oferecido pela sociedade. Essa mercantilizao retratada atravs da estria de Maria, uma menina de 12 anos, que vendida por seu pai, a um aliciador, e levada como uma mercadoria sendo transportada junto a outras meninas em um caminho de transporte de frutas, escondida como mercadoria ilegal. Com este inicio brusco so colocadas em evidncia como as famlias vendem suas filhas menores para algum amigo que mora na capital, com a esperana de que elas possam ter um ensino bsico ter educao e ser algum na vida, como a me explica a filha: vai arrumar um casa bom pro oc trabalhar minha fia. Mostrando um ambiente miservel e hostil a www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 5
qualquer possibilidade de desenvolvimento socioeconmico, e que a esperana de um emprego domstico na capital uma soluo para a menina. Uma realidade de misria, que alcana a muitas famlias brasileiras 4 , sejam elas ribeirinhas, dos subrbios das grandes cidades, das beiras de estrada ou de distantes zonas rurais do Brasil. Uma dura realidade de crianas analfabetas, de pais analfabetos, que facilita a manipulao dos aliciadores e proxenetas. Uma ironia, que o prprio proxeneta Saraiva - comenta: puta alfabetizada ruim pros negcios. A nica que sabe ler e escrever a que d mais trabalho, fica inventando contas. O aliciador, denominado de Tadeu comenta que Trouxe mercadoria de primeira ao vender Maria, junto a outras crianas, para uma cafetina (Nazar), cafetina que lucra com este mercado de venda de seres humanos, uma intermediadora. Esta se diz estar ali para ajudar a todas as meninas, anuncia que as mesmas vo ganhar roupas novas, e logo mais viro uns senhores para adot-las e ser seus padrinhos e protetores. No obstante, sua ajuda para as meninas consiste em realizar um leilo de menores virgens para poderosas figuras polticas e fazendeiros abastados. Quanto mais nova a menina, com menos experincia, mais valiosa ela nesse mercado. Deste modo, se expe a prtica que envolve o trabalho infantil em uma de suas piores formas que a explorao sexual. Neste contexto, um fazendeiro Loreno arremata no leilo 5 Maria junto Ins (outra menina traficada) para presentear seu filho por seu aniversario de 15 anos, como presente de iniciao sexual do jovem. Essa cena evidencia a barbrie humana pela frieza em que exemplifica a animalizao do homem no ato sexual mediado pelo dinheiro: Experimenta seu presente. Faz o que voc quiser, tem todo o direito do mundo. E diante do desespero de Maria em face de sua eminente violao, o fazendeiro diz ao filho: Bate que ela te obedece, denotando a superioridade do senhor frente mulher seu objeto para o prazer. A crueldade do tratamento dado a Maria, a criana vendida pelos pais para garantia do sustento da famlia, demonstra a fragilidade e a condio de explorao da criana, a negao de sua dignidade frente aos interesses econmicos de quem explora e das famlias que se deixam explorar para garantir sua sobrevivncia.
4 Semelhante barbrie no uma exclusividade brasileira, e sim uma realidade mundial que tambm pode ser observada nos filme: Meninas de Hojalata, Borboletas de Mekong, O dia que meu Deus morreu, entre outros. 5 Como manifesta Nazar: Senhores a Carga das melhores, mercadoria fresquinha e limpa. Por 3500 reais leva as duas, uma tpica beleza do Nordeste!. www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 6
Depois de usada a mercadoria, ou seja, da concretizao da agresso fsica e sexual, da aniquilao da dignidade, de denegri-la; o proprietrio da mesma decide enviar as duas meninas para uma vila de Garimpeiros na Amaznia, por considerar que as mesmas no servem pra nada. Afirmando: Mande elas pro Garimpo, pra ver se o Saraiva d um jeito e serventia pra elas. Exemplificando como so tratadas como animais que precisam ser domesticadas para servir bem. Novamente as meninas so transportadas como mercadoria, em um avio de carga, e chegam ao interior da floresta amaznica. Onde mais vez mais mostra que em meio a tanta beleza e riqueza natural, o Ser humano no mais que uma mercadoria, um meio de troca, para benefcio ou prazer do outro. Em seu novo destino - ou seria melhor: inferno - as garotas so anunciadas pela rua principal como carne nova ao preo de 3g de ouro o programa. No seu novo lar, denominado no filme de Casa Vermelha, as meninas so recebidas por Saraiva seu novo bem feitor e padrinho, que lhes d as boas vindas a Socorro. O diretor mostra de modo claro como os proxenetas se auto-intitulam protetores das jovens, e o prprio Saraiva comenta sua forma de explorao ao dizer: cada uma vai ter um quarto, ter comida, remdio, roupas novas, perfume. Vou anotar tudo no caderninho e depois desconto. Pergunta se alguma sabe ler ou escrever, as duas novatas respondem que no, e ento ele comenta que assim melhor, pois assim mais fcil ainda manipular a explorao sexual das meninas. Anuncia que no tentem fugir, pois ele caa, traz de volta a Socorro, castiga e mata, explicitando assim a coao, ameaa os meios utilizados para se conseguir seu fim que a explorao. Em Socorro a crueza da violao de direitos humanos sutilmente evidenciada ao mostrar fila de homens na porta de entrada da boate casa vermelha, e as horas so marcadas pela noite que cai, pelo amanhecer raiando, e principalmente pelo movimento de entrada e sada de homens saciados saindo de cada quarto da boate, mostrando como as meninas atendem demanda toda a noite, sem descanso, sem respeito, sem sentimento, nulas. Diante dessa explorao, da vexao, Ins (que foi leiloada junto com Maria), decide fugir, e Maria esgotada, sentindo-se toda machucada e suja, disse no ter foras para nada. E comenta em com expresso de dor e nojo: T toda doda. Suja, fazendo referencia ao abuso e violncia, do roubo da sua intimidade e integridade fsica e moral, que ocorre na relao sexual mediada pelo dinheiro. www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 7
Ao fugir, as duas meninas so caadas como animais na selva. A fuga no bem sucedida e, Seu Saraiva retorna a Socorro desfilando onipotente com as duas meninas presas e amarradas pela rua principal de Socorro, diante do olhar passivo e conivente de toda a populao. Na sua entrada vitoriosa a cidade, caminha orgulhoso, e certo de que seu poder lhe garante a impunidade e conivncia social. J que dono do armazm de alimentos e do nico local de entretenimento a todos os moradores de Socorro. Para demonstrar seu poder e sua autoridade, ele castiga as meninas diante de toda a populao humilhando publicamente quem lhe contraria. O castigo acontece de duas formas. De um lado, ele impe que Maria estar um ms, trancada e acorrentada em seu quarto, s recebendo clientes noite sem direito a nada. E por outro lado, como meio de manter o terror, enlaa Ins pelos braos a uma corda em seu Jipe para arrast-la pelas ruas de Socorro, humilhando a garota e matando-a cruelmente sem nenhuma interveno da populao. Naqueles confins da Amaznia, ningum socorre nem mesmo a polcia que acompanha como expectador a cena, s fecha os olhos e reza. A lei da selva prevalece, a lei do mais forte, do poder e impunidade. As condies de trabalho das meninas exploradas na penso de Seu Saraiva so desumanas e cruis. Elas so obrigadas a atender a todos os clientes que queiram se deitar com elas um aps o outro, ininterruptamente, sem descanso, sem asseio, sem preservativos, e a nica exigncia que os clientes tenham condies de pagar pelo servio. Em uma das cenas chocantes do filme, o Seu Saraiva ao tomar conhecimento que uma das suas meninas encontra-se com suspeita de ser portadora, do vrus HIV, e estar doente por se encontrar com AIDS, ele resolve o problema desaparecendo com a menina, dando sumio a ela, o que revolta ainda mais as meninas da Casa Vermelha. At o tempo marcado de forma sutil em Anjos do Sol, j que os dias passam atravs dos programas noturnos na casa vermelha, da gravidez de outra jovem (Celeste) e da chegada da copa do mundo. O tempo passa, as marcas ficam e a indignao de Maria aumenta e ela decide aproveitar para tentar fugir durante o primeiro jogo da seleo brasileira, momento em que todos so patriotas, cantam o hino nacional em unssono e rezam por um Deus brasileiro que nos garanta vitria da copa. O futebol que iguala que alivia as tenses permite um momento de descuido do segurana (um capanga de mais de 100 mortes nas costas), e Maria foge, outra vez perseguida como animal. Mas desta vez a sorte lhe acompanha, alcana a estrada e consegue uma carona antes que o atroz, Saraiva voltasse a aprision-la outra vez. importante ressaltar que mesmo tendo perdido www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 8
sua presa Saraiva diante da raiva diz que a menina afogou, para seguir mantendo seu poder e terror de que dali ningum pode escapar. Maria chega ao Rio de Janeiro atravs de carona, inocentemente liga para uma conhecida de Celeste para ajud-la. A menina acompanha atnita, a uma nova realidade, de uma cidade grande, de edifcios, carros e, pessoas distintas. No obstante, a sua nova madrinha lhe consegue uma identidade falsa j que uma menina menor podia lhe causar problemas na cidade , roupas novas e o destino j bem conhecido pela jovem: a explorao sexual. Diante desta perspectiva, Maria decide outra vez ganhar estrada, e sem rumo pede carona na rodovia. Seu destino: pra qualquer lugar. E quando perguntam seu nome: Isabela. Colocando em evidncia a perda de identidade, que tambm uma das marcas do trfico para fins sexuais. Neste sentido, o filme mostra que Maria segue umas das 141 rotas do Trfico existentes no Brasil 6 . Deploravelmente, o filme foi baseado em fatos reais o diretor e roteirista Rudi Lagemman pesquisou durante nove anos o tema junto a distintas ONGs e Organizaes Internacionais (como a OIT e a UNODC) 7 para ento submet-lo a um roteiro. Alm do fato de o tema ser tambm divulgado por distintos meios de comunicao 8 , e por dados de organizaes no governamentais e organizaes internacionais. Essa explorao sexual de crianas e adolescentes - ilustrado no longa-metragem atravs da realidade de Maria e as outras meninas exploradas sexualmente acomete cerca de 100 mil adolescentes no Brasil 9 . Lagemman busca retratar uma realidade que ocorre em todo Brasil 10 , evidenciando que o mundo cinematogrfico inspirado por Anjos do Sol,
6 De acordo com a Pesquisa sobre Trfico de Mulheres, Crianas e Adolescentes para Fins de Explorao Sexual Comercial no Brasil (PESTRAF) realizada em 2002. 7 Entrevista com Rudi Lagermann. 15 de Maro de 2009. Disponvel em: <http: www.ufscar.br/rua/site/?p=1694> acesso: 02/03/2012. 8 Atravs de uma investigao conjunta realizada pelo Fantstico e pelo Jornal do Globo. Foi noticiado o comrcio de seres humanos que ocorre normalmente no Brasil profundo. A reportagem "Meninas do Brasil" de Francisco Regueira, Alberto Fernandez e Paulo Renato Soares. Cinco meses de investigao jornalstica. Mais de 60 pessoas entrevistadas: autoridades, vtimas, aliciadores. Ficamos frente a frente com criminosos que negociam pessoas. Em: FANTSTICO: Edio do dia 31/05/2009 - Atualizado em 01/06/2009 00h35. Me vende filha por apenas R$ 500 no Par. Criminosos negociam pessoas luz do dia. <http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0, MUL1177597-15605,00-MAE+VENDE+FILHA+ POR +APENAS+R+NO+PARA.html> ultimo acesso: 27/02/2012. 9 Que de acordo com a prpria reportagem: Estamos num Brasil esquecido. Baa de Maraj, Par. Chegamos a Portel: uma cidade isolada, a 18 horas de barco de Belm, a capital. Num sobrevo, no se v estrada, s a imensido da floresta e dos rios. E se acrescenta: Voc pega um avio pequeno em Belm e viaja 20 minutos e voc sai do sculo 21 e voc chega no sculo 19, diz Udo Leibrecht, presidente da ONG BTO Amazonas . 10 De acordo com Socorro Maciel, delegada do Departamento de Atendimento a Criana e ao Adolescente no Par: No me surpreendo com uma notcia dessas, porque a gente sabe que acontece. Infelizmente www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 9
acontece de sol a sol em distintas partes do Brasil, devido aos condicionantes scio-jurdicos 11 e, principalmente pela falta de oportunidades profissionais e educacionais, e tambm do entorno 12 . 3. DA POBREZA AO TRABALHO INFANTIL: ANALISE JURDICA DE ANJOS DO SOL O inicio do filme mostra o serto do nordeste brasileiro, onde as condies de vida so precrias, e que se percebe que vrias famlias vivem margem da sociedade e da garantia de direitos. Percebe-se a ausncia do estado para a garantia de direitos, como sade, educao, saneamento bsico, moradias dignas, dentre outros. Dentro dessa realidade, onde os cidados vivem a merc da prpria sorte, prevalece lei do mais forte, dando a entender que estes vivem segundo o estado de natureza, que se contrape ao estado de direito, onde nesse a norma estabelecida pelo estado imperativa. A condio de pobreza, em muitos casos, retira do cidado os valores morais e ticos, que ficam subestimados em razo da necessidade de sobrevivncia. nesse contexto que surge no filme, como espelho da vida real, o trabalho infantil, visto como paliativo ou at a salvao daquela realidade. atravs do trabalho de suas filhas que se busca uma soluo para auferir renda, sacrificadas para minorar o sofrimento dos demais membros da famlia. No filme, observa-se que de forma consciente ou inconsciente do mal que fazem para suas filhas, as famlias parecem tentar amenizar a sua
acontece. No s no Par. A gente sabe que em todo o Brasil acontece isso. A Pesquisa sobre o Trafico de Mulheres, Crianas e Adolescentes PESTRAF, tambm coloca em evidencia tal realidade. 11 Tomamos a definio da PESTRAF que: Quando nos referimos ao scio-jurdico, estamos tratando da multidimensionalidade do fenmeno: o contexto da violncia criminal (sentido estrito legal) e o contexto das relaes macro-sociais e culturais que incluem as desigualdades de classe, de gnero, raa e etnia sob a gide do mercado globalizado e suas conseqncias para a vida social (sentido amplo). LEAL, M. L e, LEAL, M.F. (orgs). Pesquisa sobre Trfico de Mulheres, Crianas e Adolescentes para fins de Explorao Sexual Comercial. PESTRAF: Relatrio Nacional. Braslia: CECRIA, 2002, p.31. 12 Neste sentido a atual secretria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica Maria do Rosrio avalia que: H elementos econmicos. H elementos de empobrecimento. Mas no s isso. H uma cultura em torno de estar num meio onde se pode ganhar algum dinheiro com a sexualidade. Porque h um apelo sobre a sexualidade permanente em todos os ambientes. Deputada federal pelo PT-RS, que foi relatora da CPI que investigou a explorao sexual de crianas e adolescentes no Brasil. Meninas Invisveis a realidade brasileira da prostituio infantil. Disponvel em: http://www.redeimprensalivre.com.br/archives/28075> de 29 de janeiro de 2012, ultimo acesso: 27 de fevereiro de 2012. De acordo com o diagnstico traado pela Comisso Parlamentar Mista de Inqurito da Explorao Sexual, encerrada em julho de 2004. Os parlamentares propuseram um conjunto de mudanas no Cdigo Penal, no Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) e na Lei de Crimes Hediondos, com o objetivo de proteger as vtimas e aumentar a gravidade do crime. O Plano Nacional de Enfrentamento da Violncia Sexual contra Crianas e Adolescentes, criado em 2000, tambm sugere aes para mobilizar a sociedade e garantir atendimento s vtimas e suas famlias. www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 10
culpa, fazendo crer desconhecerem o destino que as espera, retratada essa pela cena onde a me fala para a filha: vai arrumar um casa pro oc trabalhar minha fia. Denota-se a uma atitude da me em fazer crer que realmente est fazendo um bem para sua filha, como se no houvesse opo. Fica evidente ainda, que a situao perene, uma vez que outra filha do casal j foi vendida anteriormente, quando a me pergunta, se ele tem notcias da filha Raquel, e o agenciador (Tadeu) responde que ela est bem. Quando ele vai embora, com a menina Maria, fica evidente que ela no ser a ltima, e que ele retornar em breve para buscar outras. A conotao extrada dessa cena a de que ele tenta passar a imagem de uma pessoa boa, que tenta ajudar quela famlia carente, sendo essa atitude de dar emprego menina, uma atitude benemrita de filantropia empresarial. Essa viso, que no exclusiva do filme, mas que a viso, de muitos integrantes da sociedade, que se manifestam favorveis a quem emprega mo de obra infantil, no vendo a uma forma de explorao. A proibio do trabalho infantil est prevista na Constituio Federal e fruto de vrios estudos que identificaram os danos causados em razo do trabalho precoce, com riscos para o desenvolvimento fsico, psquico, moral e social de crianas e adolescentes. Alm do disposto no artigo 7, inciso XXXIII da Constituio Federal, cuidou ainda o legislador constitucional de enfatizar a proibio do trabalho infantil, ao estabelecer a idade mnima de 16 anos para o trabalho, exceto na condio de aprendiz a partir dos 14 anos, conforme estabelecido no art. 227, pargrafo 3, na forma de proteo especial. As normas de proteo ao trabalho do menor no Brasil seguem as normativas internacionais, e em especial a Conveno 138 da Organizao Internacional do Trabalho (OIT), estabelecida pela Conferncia Geral da Organizao Internacional do Trabalho em 06 de junho de 1973, que trata sobre a Idade Mnima de admisso ao Emprego. A Conveno 138 13 da OIT estabelece a idade mnima de 15 anos para o emprego, admitindo-se, porm, a idade mnima de 14 anos, quando a economia e sistemas educacionais no estejam suficientemente desenvolvidos, mas que em nenhum caso admite-se trabalho que viole os direitos a formao moral e que torne impossvel aos menores o seu desenvolvimento fsico e mental mais completo.
13 Conveno n 138 e Recomendao n 146 da OIT sobre Idade Mnima de Admisso ao Emprego, promulgadas pelo Decreto Presidencial n 4.134 de 15/02/2002. Texto disponvel em <http://www.mte.gov.br/trab_infantil/leg_convencoes.asp>. ltimo acesso em 11/06/2013. www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 11
O Brasil segue, ainda, a Conveno n. 182 14 da Organizao Internacional do Trabalho que probe as Piores Formas de Trabalho Infantil, que estabelece em seu artigo 1 que todo pas que venha ratific-la dever adotar medidas imediatas e eficazes para assegurar a proibio e eliminao das piores formas de trabalho infantil, em carter de urgncia. O Brasil ratificou a Conveno 182 da OIT atravs do Decreto n. 3.597 de 12 de setembro de 2000, obrigando-se a adotar medidas para eliminar o trabalho infantil. A explorao sexual tipificada como uma das piores formas de trabalho infantil, violadora de todos os direitos humanos, e em especial o direito da dignidade humana. Todo esse arcabouo legislativo de proibio do trabalho infantil, internacional e nacional deve-se ao fato de que o trabalho infantil viola os direitos humanos, no privilegia os interesses da criana e do jovem, e impede o pleno desenvolvimento fsico, mental e social. 4. A EXPLORAO SEXUAL: UMA DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL A abordagem trazida pelo filme Anjos do sol o trfico de crianas para fins de explorao sexual. O presente estudo tem como objeto principal a explorao sexual, e no o trfico de pessoas, classificada pela Organizao Internacional do Trabalho-OIT como uma das piores formas de trabalho Infantil, em sua Conveno n. 182 15 . Segundo o disposto no artigo 3 da referida Conveno considera-se uma das piores formas de trabalho infantil a utilizao, o recrutamento ou oferta de uma criana para fins de prostituio, a produo de material pornogrfico ou espetculos pornogrficos. 16
A explorao sexual de crianas e adolescentes abordada no filme consiste em uma das formas de violncia mais graves do mundo atual. Esse tipo de violncia atinge a integridade fsica, moral e psicolgica da criana. Segundo Schechter e Roberge, citados por Furniss, a explorao sexual de crianas definida como:
14 Conveno 182 e a Recomendao 190 da OIT sobre a proibio das Piores de Trabalho Infantil e a Ao Imediata para sua Eliminao, promulgadas pelo Decreto Presidencial n 3.597 de 12/09/2000. Texto disponvel em <http://www.mte.gov.br/trab_infantil/leg_convencoes.asp>. ltimo acesso em 11/06/2013. 15 Conveno 182 e a Recomendao 190 da OIT sobre a proibio das Piores de Trabalho Infantil e a Ao Imediata para sua Eliminao, promulgadas pelo Decreto Presidencial n 3.597 de 12/09/2000. Texto disponvel em <http://www.mte.gov.br/trab_infantil/leg_convencoes.asp>. ltimo acesso em 11/06/2013. 16 Art. 3, b da Conveno 182 da OIT: la utilizacin, el recluta miento o la, oferta de nios para la prostitucin, la produccin de pornografa o actuaciones pornogrficas. www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 12
[...] a explorao sexual das crianas refere-se ao envolvimento de crianas e adolescentes dependentes, pouco desenvolvidos, em atividades sexuais que eles no compreendem totalmente, s quais so incapazes de dar um consentimento informado e que violam os tabus sociais dos papeis familiares [...]. 17
A explorao sexual abordada no filme perpassa por uma construo social edificada pelas culturas patriarcais, das mulheres como seres para e, de outros. Elas se encontram limitadas em torno a sua sexualidade, seu corpo e seu sexo para satisfao do prazer do outro 18 . Essa coisificao do corpo da mulher a servio de uma clientela, essencialmente masculina abordada no filme, j que se encontra representada pelos homens poderosos polticos e fazendeiros que compram virgens em leiles, garimpeiros que trocam o ouro de seu trabalho por minutos de sexo, e empresrios que mantm esta forma de explorao. Para Rosimeire de Carvalho Martins, A violncia sexual uma das mais graves manifestaes de violncia de gnero, um crime universal, clandestino e subnotificado, praticado contra a liberdade sexual de uma pessoa. Pode ser definido como um ato sexual no consentido que ocorre com ou sem penetrao genital, oral ou anal, por parte do agressor. De todas as formas de violncia contra a mulher, crianas e adolescentes, a violncia sexual uma das mais frequentes. 19
Neste contexto, a agresso ocorre tambm pela mediao do dinheiro que possibilita o poder para realizar qualquer tipo de violncia 20 com as
17 FURNISS, T. Abuso sexual da criana: Uma abordagem multidisciplinar, trad. Maria Adriana Verssimo Veronese. p. 12 18 Lydia CAUCHO ao investigar sobre o funcionamento das mfias e o papel dos clientes confirma o papel fundamental dos roles sociais machistas que impe uma determinada sociedade para que fomente a demanda por prostituio e o vinculo desta com oferta de mulheres traficadas para abastecer este grande negocio. E tambm descreve como se edificam os valores da sexualidade na construo da masculinidade. CAUCHO, L. Esclavas del Placer. Madrid: Debate. 2010, p. 193. O terceiro mais lucrativo do crime transnacional organizado, de acordo com o ultimo informe de UNDOC sobre o trfico de pessoas. UNDOC, 2010. 19 MARTINS, Rosimeire de Carvalho. Jovens mulheres vitimadas: abuso sexual, sofrimento e resilincia. 2010. p.52. 20 El hecho de que estos actos sean realizados realizados a cambio de dinero no mitiga o disminuye de manera alguna el inmenso dao fsico y mental infligido a sus cuerpos y mentes. Los efectos fsicos y psicolgicos de las experincias de estas mujeres y nias pueden crear cicatrices que duran toda la vida. (Gov. Sucia, Ministrio de Industria, Empleo y Comunicaciones. Prostituicin y trfico de mujeres. Enero de 2004.). De igual modo: Tanto las demandas que se ofertan en los prostibulos, ... en eyaculaciones colectivas sobre el cuerpo de las mujeres, o en la introduccion del huevos o animales en sus vaginas, como las ofertas que podemos leer en los peridicos nacionales, todos ellos son actos de intromisin sobre el cuerpo de las mujeres. Los compradores del sexo, utilizan los cuerpos de las mujeres para su satisfaccion sexual y viven con gran naturalidad, con gran despreocupacin los actos que realizan... son actos de intrusismo sobre el cuerpo de las mujeres. Todos los actos realizados son de www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 13
meninas em Socorro, ou crianas, que se encontra em condies de prostituio. No entender de Laura Lowenkron a explorao sexual (...) definida enquanto conceito distinto em relao noo de abuso na medida em que se refere menos a atos isolados ou interaes sexuais interpessoais do que a redes de pessoas e condutas. Em geral aparece associada idia de explorao comercial e ao chamado crime organizado. Nesse contexto, a criana concebida como sendo transformada no apenas em objeto, mas em mercadoria. 21
No caso de prostituio, e, sobretudo no contexto da explorao sexual, como apresentado por Anjos do sol, a ao sexual violenta ao ser mediada pelo dinheiro, no h sexualidade, porque o desejo e o prazer da mulher esto anulados. O que bem expressado na frase de Maria diante da exausto e agonia de uma noite inteira recebendo Clientes: Como eles gostam de fazer uma coisa assim?. O filme no desvia para a gravidade da situao, e denuncia astutamente tanto as condies do exerccio de prostituio, como a explorao, a degradao, humilhaes, mostrando como estamos diante de atos intrusivos sobre o corpo das mulheres. A violncia da explorao sexual, no contexto do filme ocorre por diversas razes, podendo-se destacar a condio de vulnerabilidade social; a condio da infncia desprotegida e impotente diante daqueles que detm sobre ela a responsabilidade e so senhores do seu destino; e por fim a questo de gnero que permeia culturalmente a condio da mulher, submissa ao machismo que determina todos os tipos de violncia, contra a mulher, aceitas e, toleradas socialmente. 5. A VIOLAO DA DIGNIDADE HUMANA NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS Anjos do Sol traz tona a realidade brasileira da explorao sexual, desconhecida da grande maioria dos brasileiros, e todo o processo de sua formao, dos fomentadores, da violncia, da passividade da sociedade e do Estado diante dessa realidade. Evidencia que crianas e adolescentes so
transgresin de la intimidad humana. En la prostitucin, cualquiera que sea la demanda del cliente, las mujeres han de someterse, y dejar que sobre sus cuerpos Sean efectuados los actos que demanda el prostitudor. Las mujeres han referido en muchas ocasiones sus estratgias para terminar rpidamente con el cliente, por que si ellas quieren o precisan el dinero de la prostitucin, no desean la invasin corporal que tienen que soportar a cambio. La prostitucin es una cuestion de gnero, porque son los hombres, los clientes, los prostituidores, los que demandan y consumen cuerpos de mujeres en el mercado prostitucional, resultando su demanda el mecanismo de aseguramiento y perpetuacin de esta forma de violencia. (Senado, 2003: p.4) . 21 LOWENKRON, Laura. Abuso sexual infantil, explorao sexual de crianas, pedofilia: diferentes nomes, diferentes problemas. 2010. p.p.9-29. www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 14
exploradas sexualmente, o que a distingue da prostituio, que na maioria das vezes, um ato voluntrio, onde se exerce a liberdade de escolha entre essa vida e ou sair dela, o que no ocorre na explorao. A diferena entre as terminologias trazida por Lowenkron, ao afirmar que O termo utilizado pela militncia no lugar dos termos prostituio e pornografia para enfatizar a condio passiva das crianas ou adolescentes que se envolvem nessas atividades diferenciando-a, radicalmente, da prostituio e pornografia adultas, ao negar qualquer dimenso de escolha. O objetivo se opor viso, classificada pelos militantes dos direitos da criana como tradicional e conservadora, que responsabiliza a criana e, principalmente, adolescente, a partir de uma acusao moral de promiscuidade, assumindo como voluntria a condio de prostituio de jovens. Desta forma, afirmar que existe prostituio infantil ignorar ou desconhecer os fatores socioeconmicos que os envolvem, e no respeitar a criana enquanto criana, enquanto pessoa em formao, e ignorar a sua condio de hipossuficincia em relao aos seus exploradores. O sistema capitalista quem determina como se d as relaes sociais em todo mundo, e o trabalho infantil por meio da explorao sexual tambm decorrente desse sistema, onde os mais fracos, os mais vulnerveis, se sujeitam aos interesses dos mais fortes, para satisfao de seus interesses econmicos. Nessa troca de interesses, a criana objeto de troca, a mercadoria de interesse das duas partes, onde de um lado os poderosos tm interesse em usufruir mediante pagamento, e detm sobre ela o arbtrio e o controle de seus direitos, inclusive de vida e morte. De outro lado, o direito do pai de dispor de seus filhos, tambm na condio de donos e senhores dos seus direitos. Nessa viso, Anjos do sol mostra que a criana no possui identidade, no considerada sujeito de direitos, e vista como uma res pertencente inicialmente famlia, que transfere a outrem, mediante pagamento, que adquire e torna-se proprietrio, e nessa condio tem sobre ela todo o mnus de dirigir-lhe vida, exercendo todo o direito de usufruir dela na condio de coisa. A explorao sexual moralmente inaceitvel uma vez que uma violao da dignidade humana. Dignidade Humana para Ingo Sarlet no pode ser definida de forma fixista, ainda mais quando se verifica que uma definio dessa natureza no harmoniza com o pluralismo e a diversidade www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 15
de valores que se manifestam nas sociedades democrticas contemporneas 22 . Na definio de Sarlet, [...] temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrnseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e considerao por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condies existenciais mnimas para uma vida saudvel, alm de propiciar e promover sua participao ativa e co-responsvel nos destinos da prpria existncia e da vida em comunho com os demais seres que integram a rede da vida. 23
A condio de Maria, de Ins e das demais meninas e mulheres exploradas no filme, que so subjugadas, renegadas enquanto pessoas, privadas de liberdade, mantidas em crcere privado, sem condies mnimas de sade, privadas de qualquer respeito enquanto seres humanos uma definio clara da violao da dignidade da pessoa humana. A preocupao da OIT, quando estabeleceu atravs da Conveno 182 que a explorao sexual uma das piores formas de trabalho infantil, foi no intuito de garantir os direitos fundamentais, o respeito dignidade humana, e o respeito, ao desenvolvimento da criana, considerada pessoa ainda em formao. Essa proteo internacional fundamental para garantia dos direitos humanos de crianas e adolescentes diante da explorao, pois na viso de Flvia Piovesan, A necessidade de uma ao internacional mais eficaz para a proteo dos direitos humanos impulsionou o processo de internacionalizao desses direitos, culminando na criao da sistemtica normativa de proteo internacional, que faz possvel a responsabilizao do Estado no domnio internacional quando as instituies nacionais se mostram falhas ou omissas na tarefa de proteger os direitos humanos. 24
O trabalho e a liberdade sexual so, antes de tudo, direitos do cidado, que devem ser exercidos livremente, sem, no entanto, privar o indivduo dos demais direitos essenciais, como a sade, a educao, opinio e dignidade. No filme pode-se observar que so violados massivamente o: Direito a dignidade; Direito a vida; Direito a segurana; Direito a integridade fsica; Direito a sade reprodutiva; Direito a no discriminao; Direito a educao; Direito a liberdade de movimento; Direito a no sofrer
22 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana: na Constituio de 1988. p. 51/52 23 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana: na Constituio de 1988. p. 73.. 24 PIOVESAN, Flvia. Direitos Humanos e o Direito Intercultural Internacional. p. 123. www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 16
tortura, tratos ou penas cruis, inumanas ou degradantes. Consideramos uma forma de violao de direitos humanos porque fere o princpio angular da dignidade humana que representa a possibilidade de autodeterminao do ser humano, e sua capacidade de ter uma vida plena, com direito a integridade fsica e psquica, que venha permitir a auto- realizao tanto a modo social como individual do Ser Humano num marco de uma sociedade de direito. 6. CONSIDERAES FINAIS A violao da infncia, das meninas traficadas, para fins de explorao sexual, levadas para o Amazonas, propositalmente simbolizada no filme pelo nome dado ao local onde elas so exploradas, Casa Vermelha, que transforma a vida dessas crianas de forma abrupta em mulheres. A Casa vermelha que significa casa de prostituio um ambiente no propcio a pureza da infncia, e que por si s j seria suficiente para violar todos os direitos de crianas e de adolescentes. A vida dessas meninas sacrificada intermitentemente, seja por familiares, em busca de proveito econmico, seja pelos exploradores, tambm por interesse de rentabilidade e satisfao dos seus desejos mais srdidos, seja pela sociedade pela passividade e convivncia diante do problema e por fim, sacrificada pelo Estado pela falta de ineficcia das medidas adotadas para o combate da explorao sexual. A condio de vida das crianas e mulheres narradas no filme de super-explorao, tanto da fora de trabalho, em condies desumanas de existncia, como da supresso total de direitos, que tem como nico objetivo a mais-valia. A infncia roubada de meninas de todo o pas, pelo interesse econmico, pelo interesse da satisfao dos desejos mais srdidos do homem, traduzida com maestria pelo filme, que baseado em histria real, traz a tona a dura realidade que precisa sem enfrentada pela sociedade e pelo Estado, mediante polticas que reconhea os fatores desencadeadores, e busque meios eficazes de solucion-lo. Pelo que se v no filme, o problema perpassa por questes socioeconmicas, que ultrapassam as questes jurdicas, e para a efetivao das normas que tm por fim coibir tal prtica faz-se necessria o conhecimento de suas causas e de suas consequncias. A conscientizao da sociedade sobre o problema fundamental, que desconhece a explorao sexual de crianas como fenmeno social, privando-as de seus direitos fundamentais. www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 17
7- REFERNCIAS CARNEIRO, Carla Bronzo Ladeira. Programas de proteo social e superao da pobreza: concepes e estratgias de interveno. UFMG: 2006. Disponvel em http://www.gestodeconcursos.com.br/site/cache/d56da1a5-0746- 4192-8935- f7fa5d2a0df3/TeseDoutorado_Carla_Bronzo_25_08_09.pdf, acesso em 11 de junho de 2013. FURNISS, T. Abuso sexual da criana: Uma abordagem multidisciplinar. trad. Maria Adriana Verssimo Veronese. Porto Alegre: Artmed, 2002. LOWENKRON, Laura. Abuso sexual infantil, explorao sexual de crianas, pedofilia: diferentes nomes, diferentes problemas in Sexualidad, salud y Sociedad. Revista Latinoamericana. n.5 2010. Disponvel em www.e- publicaes.uerj.br/index.php.sexualidadsaludysociedad.org acesso em 01 de julho de 2013. MARTINS, Rosimeire de Carvalho. Jovens mulheres vitimadas: abuso sexual, sofrimento e resilincia. Curitiba: Juru, 2010. OIT. n. 138. Idade mnima para admisso em emprego, 1976. OIT. n. 182. Proibio das piores formas de trabalho infantil e ao imediata para sua eliminao, 1999. PIOVESAN, Flvia. Direitos Humanos e o Direito Intercultural Internacional. 11 ed. So Paulo: Saraiva, 2010. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana: na Constituio de 1988. 9 ed. Ver. Atual. 2 tir. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012. SOARES, Ricardo Maurcio Freire. O Princpio constitucional da dignidade da pessoa humana. So Paulo: Saraiva, 2010.