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O documento discute as concepções de Hobbes, Rousseau e Locke sobre o estado de natureza e direito positivo. Hobbes via o estado de natureza como um estado de guerra de todos contra todos, onde vigorava a lei do mais forte. Rousseau via o estado de natureza como um estado de felicidade original dos homens selvagens, até que surgiu a propriedade privada. Locke argumentou que a propriedade privada é um direito natural adquirido pelo trabalho, diferentemente de Hobbes e Rousseau que viam a propriedade privada como um direito
Descriere originală:
Hobbes Rousseau e Locke No Direito Natural e No Direito Positivo
O documento discute as concepções de Hobbes, Rousseau e Locke sobre o estado de natureza e direito positivo. Hobbes via o estado de natureza como um estado de guerra de todos contra todos, onde vigorava a lei do mais forte. Rousseau via o estado de natureza como um estado de felicidade original dos homens selvagens, até que surgiu a propriedade privada. Locke argumentou que a propriedade privada é um direito natural adquirido pelo trabalho, diferentemente de Hobbes e Rousseau que viam a propriedade privada como um direito
O documento discute as concepções de Hobbes, Rousseau e Locke sobre o estado de natureza e direito positivo. Hobbes via o estado de natureza como um estado de guerra de todos contra todos, onde vigorava a lei do mais forte. Rousseau via o estado de natureza como um estado de felicidade original dos homens selvagens, até que surgiu a propriedade privada. Locke argumentou que a propriedade privada é um direito natural adquirido pelo trabalho, diferentemente de Hobbes e Rousseau que viam a propriedade privada como um direito
Natureza e do Direito Positivo: Hobbes, Rousseau e Locke.
A concepo de Hobbes (no sculo XVII),
segundo a qual, em Estado de Natureza, os indivduos vivem isolados e em luta permanente. Nesse estado, reina o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta.
Para se protegerem uns dos outros, os
humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. Essas duas atitudes so inteis, pois sempre haver algum mais forte que vencer o mais fraco e ocupar as terras cercadas.
A vida no tem garantias; a posse no tem
reconhecimento e, portanto, no existe; a nica lei a do mais forte, que pode tudo, pois tem fora para conquistar e conservar;
A concepo de Rousseau (no sculo
XVIII), segundo a qual, em Estado de Natureza, os indivduos vivem isolados pelas florestas, sobrevivendo com o que a Natureza lhes d, desconhecendo lutas e comunicando-se pelo gesto, pelo grito e pelo canto, numa lngua generosa e benevolente.
Esse estado de felicidade original, no qual
os humanos existem sob a forma do bom selvagem inocente, termina quando algum cerca um terreno e diz: " meu".
A diviso entre o meu e o teu, isto , a
propriedade privada, d origem ao estado de sociedade, que corresponde, agora, ao estado de natureza hobbesiano da guerra de todos contra todos.
claro que esse estado, em que cada um
procura seno a morte, ao menos a sujeio do outro, um estado extremamente infeliz.
As expresses pelas quais Hobbes o
descreve so clebres: "Homo homini lupus", o homem o lobo do homem; "Bellum omnium contra omnes", a guerra de todos contra todos.
No pensemos que mesmo os homens
mais robustos desfrutem tranquilamente as vitrias que sua fora lhe assegura. Aquele que possui grande fora muscular no est ao abrigo da astcia do mais fraco.
Este ltimo - por maquinao secreta ou a
partir de hbeis alianas, sempre o suficientemente forte para vencer o mais forte. Por conseguinte, ao invs de uma desigualdade, uma espcie de igualdade dos homens no estado natural que faz sua infelicidade.
Pois, em definitivo, ningum est
protegido; o estado natural , para todos, um estado de insegurana e de angstia.
O estado de natureza de Hobbes e o estado
de sociedade de Rousseau evidenciam uma percepo do social como luta entre fracos e fortes, vigorando a lei da selva ou o poder da fora.
Para fazer cessar esse estado de vida
ameaador e ameaado, os humanos decidem passar sociedade civil, isto , ao Estado Civil, criando o poder poltico e as leis.
Deste modo, Hobbes lana os trs eixos
fundamentais do Direito Positivo. Rousseau e Locke segue a mesma linha de raciocnio de Hobbes.
AUTORIDADE: S o Estado pode produzir
normas legais, que fonte de legalidade e legitimidade. Princpio da autoridade legal.
FORMALIDADE: No pode haver crime sem
lei anterior que a determine. Princpio da anterioridade.
IMPERATIVIDADE: A norma legal (lei)
necessariamente imperativa do cumprimento, comando que vincula comportamentos. Princpio da coao.
Estes trs eixos sero a fonte da teoria
Pura do Direito, em Hans Kelsen.
Como possvel o contrato ou o pacto
social? Qual sua legitimidade? Os tericos invocaro o Direito Romano "Ningum pode dar o que no tem e ningum pode tirar o que no deu" e a Lei Rgia romana "O poder conferido ao soberano pelo povo" para legitimar a teoria do contrato ou do pacto social.
Parte-se do conceito de direito natural: por
natureza, todo indivduo tem direito vida, ao que necessrio sobrevivncia de seu corpo, e liberdade. Por natureza, todos so livres, ainda que, por natureza, uns sejam mais forte e outros mais fracos.
Um contrato ou um pacto, dizia a teoria
jurdica romana, s tem validade se as partes contratantes foram livres e iguais e se voluntria e livremente derem seu consentimento ao que est sendo pactuado.
A teoria do direito natural garante essas
duas condies para validar o contato social ou o pacto poltico: direito vida e direito liberdade.
Se as partes contratantes possuem os
mesmos direitos naturais e so livres, possuem o direito e o poder para transferir a liberdade a um terceiro, e se consentem voluntria e livremente nisso, ento do ao soberano algo que possuem, legitimando o poder da soberania.
Assim, por direito natural, os indivduos
formam a vontade livre da sociedade, voluntariamente fazem um pacto ou contrato e transferem ao soberano o poder para dirigi-los.
A sociedade civil o Estado propriamente
dito. Trata-se da sociedade vivendo sob o direito civil, isto , sob as leis promulgadas e aplicadas pelo soberano.
Feito o pacto ou o contrato, os
contratantes transferiram o direito natural ao soberano e com isso o autorizam a transform-lo em direito civil ou direito positivo, garantindo a vida, a liberdade e a propriedade privada dos governados.
Quem o soberano? Segundo Chau,
Hobbes e Rousseau diferem na resposta a essa pergunta.
Para Hobbes, o soberano pode ser um rei,
um grupo de aristocratas ou uma assembleia democrtica. O fundamental no o nmero dos governantes, mas a determinao de quem possui o poder ou a soberania.
Esta pertence de modo absoluto ao
Estado, que, por meio das instituies pblicas, tem o poder para promulgar e aplicar as leis, definir e garantir a propriedade privada.
Deve exigir obedincia incondicional dos
governados, desde que respeite dois direitos naturais intransferveis: o direito vida e paz, pois foi por eles que o soberano foi criado.
O soberano detm a espada e a lei; os
governados, a vida e a propriedade dos bens.
Para Rousseau, o soberano o povo,
entendido como vontade geral, pessoa moral, coletiva, livre e corpo poltico de cidados. Os indivduos, pelo contrato, criaram-se a si mesmos como povo e a este que transferem os direitos naturais para que sejam transformados em direitos civis (positivos).
Assim sendo, o governante no o
soberano, mas o representante da soberania popular. Os indivduos aceitam perder a liberdade civil: aceitam perder a posse natural para ganhar a individualidade civil, isto , a cidadania.
Para Hobbes, seja ele um grupo de
pessoas, ou uma nica, seu papel fundamental o de garantir o direitos naturais vida e liberdade.
Para Rousseau, a sociedade a nica
legtima portadora do direito de produzir normas. A ela, o dever de, tambm, de garantir o direitos naturais vida e liberdade.
John Locke e a teoria liberal
No pensamento poltico de Hobbes e de Rousseau, a propriedade privada no um direito natural, mas civil. Em outras palavras, mesmo que no estado de natureza (em Hobbes).
No estado de sociedade (em Rousseau) os
indivduos se apossem de terras e bens, essa posse o mesmo que nada, pois no existem leis para garanti-la.
A propriedade privada , portanto, um
efeito do contrato social e um decreto do soberano. Essa teoria, porm, no era suficiente para a burguesia em ascenso.
De fato, embora o capitalismo estivesse
em via de consolidao e o poderio econmico da burguesia fosse inconteste, o regime poltico permanecia monrquico e o poderio poltico e o prestgio social da nobreza tambm permaneciam.
Para enfrent-los em igualdade de
condies, a burguesia precisava de uma teoria que lhe desse uma legitimidade to grande ou maior do que o sangue e a hereditariedade davam realiza e nobreza.
Essa teoria ser a da propriedade privada
como direito natural e sua primeira formulao coerente ser feita pelo filsofo ingls Locke, no final do sculo XVII e incio do sculo XVIII.
Locke parte da definio do direito natural
como direito vida, liberdade e aos bens necessrios para a conservao de ambas. Esses bens so conseguidos pelo trabalho.
Como fazer do trabalho o legitimador da
propriedade privada enquanto direito natural?
Deus, escreve Locke, um artfice, um
obreiro, arquiteto e engenheiro que fez uma obra: o mundo. Este, como obra do trabalhador divino, a ele pertence. seu domnio e sua propriedade.
Deus criou o homem sua imagem e
semelhana, deu-lhe o mundo para que nele reinasse e, ao expuls-lo do Paraso, no lhe retirou o domnio do mundo, mas lhe disse que o teria com o suor de seu rosto.
Por todos esse motivos, Deus instituiu, no
momento da criao do mundo e do homem, o direito propriedade privada como fruto legtimo do trabalho. Por isso, de origem divina, ela um direito natural.
O Estado existe a partir do contrato
social. Tem as funes que Hobbes lhe atribui, mas sua principal finalidade garantir o direito natural da propriedade.
Dessa maneira, a burguesia se v
inteiramente legitimada perante a realeza e a nobreza e, mais do que isso, surge como superior a elas, uma vez que o burgus acredita que proprietrio graas ao seu prprio trabalho (mrito), enquanto reis e nobres so parasitas da sociedade.
CONCLUSO
Enfim, para os contratualistas Hobbes e
Rousseau, a questo fundamental do Direito Positivo a de garantir a efetivao do Direito Natural: o direito vida, paz (Hobbes e Rousseau) e o direito
liberdade (Rousseau), fundamento da Paz.
Porm, no basta garantir a vida e a
liberdade. Para Locke, a Paz s possvel como consequncia da garantia do Direito Propriedade Particular (mrito) , porque no h vida, liberdade e paz sem a garantia do Direito Propriedade Particular.
Na Inglaterra, o liberalismo se consolida
em 1688, com a chamada Revoluo Gloriosa. No restante da Europa, ser preciso aguardar a Revoluo Francesa de 1789. Nos Estados Unidos, consolidase em 1776, com a luta pela independncia.
Para finalizar, fica a seguinte questo: no
Brasil, j tivemos a nossa revoluo para garantir a plena efetivao dos Direitos Fundamentais (vida, liberdade e paz social)?
Textos extrados CHAU, Marilena. Convite Filosofia. So Paulo: tica, 2000. p. 220-223
Gisele Araujo, Marcia Baratto and Cassio Casagrande (Auth.) - O Estado Democrático de Direito em Questão. Teorias Críticas Da Judicialização Da Política (2011)