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João, o
terceiro do nome em Portugal, no seu Convento de Tomar, era do Senhor de MDXXIII.
O seu argumento é que porquanto duvidavam certos homens de bom saber se o
Autor fazia de si mesmo estas obras, ou se furtava de outros autores, lhe deram este
tema sobre que fizesse: segundo um exemplo comum que dizem: mais quero asno
que me leve que cavalo que me derrube. E sobre este motivo se fez esta farsa. As
figuras são as seguintes: Inês
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FarsaPereira; sua Mãe;
de Inês Pereira, Lianor
de Gil Vaz; Pêro Marques; dous
Vicente
Judeus (um chamado Latão, outro Vidal); um Escudeiro com um seu Moço; um
Ermitão; Luzia e Fernando. Finge-se que Inês
Literatura Pereira, filha de hüa molher de baixa
Portuguesa
sorte, muito fantesiosa, está lavrando em casa, e sua mãe é a ouvir missa, e ela canta
esta cantiga: Canta Inês: Quien con veros pena 10.ºEy muere Que hará quando no os viere?
(Falando) INÊS Renego deste lavrar E do EBSprimeiro
do Cercoque o usou; Ó diabo que o eu dou,
Que tão mau é d'aturar.Oh Jesu! que enfadamento, E que aiva, e que tormento,
Paula Cruz | cercarte.blogspot.com
Que cegueira, e que canseira! Eu hei-de buscar maneira D'algum outro
aviamento.Coitada, assi hei-de estar Encerrada nesta casa Como panela sem asa,Que
sempre está num lugar? E assi hão-de ser logrados Dous dias amargurados, Que eu
possa durar viva? E assim hei-de estar cativa Em poder de desfiados?Antes o darei ao
Diabo Que lavrar mais nem pontada. Já tenho a vida cansada De fazer sempre dum
cabo. Todas folgam, e eu não, Todas vêm e todas vão A seguinte farsa de folgar foi
representada ao muito alto e mui poderoso rei D. João, o terceiro do nome em
Portugal, no seu Convento de Tomar, era do Senhor de MDXXIII. O seu argumento é
que porquanto duvidavam certos homens de bom saber se o Autor fazia de si mesmo
estas obras, ou se furtava de outros autores, lhe deram este tema sobre que fizesse:
segundo um exemplo comum que dizem: mais quero asno que me leve que cavalo
que me derrube. E sobre este motivo se fez esta farsa. As figuras são as seguintes:
Inês Pereira; sua Mãe; Lianor Vaz; Pêro Marques; dous Judeus (um chamado Latão,
outro Vidal); um Escudeiro com um seu Moço; um Ermitão; Luzia e Fernando. Finge-
se que Inês Pereira, filha de hüa molher de baixa sorte, muito fantesiosa, está
lavrando em casa, e sua mãe é a ouvir missa, e ela canta esta cantiga: Canta Inês:
Quien con veros pena y muere Que hará quando no os viere?
(Falando) INÊS Renego deste lavrar E do primeiro que o usou; Ó diabo que o eu dou,
Que tão mau é d'aturar.Oh Jesu! que enfadamento, E que aiva, e que tormento,
Que cegueira, e que canseira! Eu hei-de buscar maneira D'algum outro
aviamento.Coitada, assi hei-de estar Encerrada nesta casa Como panela sem asa,Que
sempre está num lugar? E assi hão-de ser logrados Dous dias amargurados, Que eu
possa durar viva? E assim hei-de estar cativa Em poder de desfiados?Antes o darei ao
Diabo Que lavrar mais nem pontada. Já tenho a vida canhgsada De fazer sempre dum
cabo. Todas folgam, e eu não, Todas vêm e todas vão A seguinte farsa de folgar foi
representada ao muito alto e mui poderoso rei D. João, o terceiro do nome em
Portugal, no seu Convento de Tomar, era do Senhor de MDXXIII. O seu argumento é
que porquanto duvidavam certos homens de bom saber se o Autor fazia de si mesmo
estas obras, ou se furtava de outros autores, lhe deram este tema sobre que fizesse:
segundo um exemplo comum que dizem: mais quero asno que me leve que cavalo
que me derrube. E sobre este motivo se fez esta farsa. As figuras são as seguintes:
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A seguinte farsa de folgar foi representada ao muito alto e mui poderoso rei D. João, o terceiro do
nome em Portugal, no seu Convento de Tomar, era do Senhor de MDXXIII. O seu argumento é que
porquanto duvidavam certos homens de bom saber se o Autor fazia de si mesmo estas obras, ou se
furtava de outros autores, lhe deram este tema sobre que fizesse: segundo um exemplo comum que
dizem: mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube. E sobre este motivo se fez esta farsa.
As figuras são as seguintes: Inês Pereira; sua Mãe; Lianor Vaz; Pêro Marques; dous Judeus (um
chamado Latão, outro Vidal); um Escudeiro com um seu Moço; um Ermitão; Luzia e Fernando.
Finge-se que Inês Pereira, filha de hüa molher de baixa sorte, muito fantesiosa, está lavrando em casa,
e sua mãe é a ouvir missa, e ela canta esta cantiga:
Canta Inês: Quien con veros pena y muere Esta vida he mais que morta.
Que hará quando no os viere? 1 Sam eu coruja ou corujo,
Ou sam algum caramujo
(Falando) Que não sai senão à porta?
E quando me dão algum dia
INÊS Renego deste lavrar Licença, como a bugia6,
E do primeiro que o usou; Que possa estar à janela,
Ó diabo que o eu dou, É já mais que a Madanela
Que tão mau é d'aturar. Quando achou a aleluía.
Oh Jesu! que enfadamento,
E que raiva, e que tormento, Vem a Mãe, e não na achando lavrando, diz:
Que cegueira, e que canseira!
Eu hei-de buscar maneira MÃE Logo eu adivinhei
D'algum outro aviamento2. Lá na missa onde eu estava,
Como a minha Inês lavrava
Coitada, assi hei-de estar A tarefa que lhe eu dei...
Encerrada nesta casa Acaba esse travesseiro!
Como panela sem asa, Hui! Nasceu-te algum unheiro?
Que sempre está num lugar? Ou cuidas que é dia santo?
E assi hão-de ser logrados3
Dous dias amargurados, INÊS Praza a Deos que algum quebranto7
Que eu possa durar viva? Me tire do cativeiro.
E assim hei-de estar cativa
Em poder de desfiados4? MÃE Toda tu estás aquela!
Choram-te os filhos por pão?
Antes o darei ao Diabo
Que lavrar mais nem pontada. INÊS Prouvesse a Deus!
Já tenho a vida cansada Que já é razão de eu não estar tão singela.
De fazer sempre dum cabo5.
Todas folgam, e eu não, MÃE Olhade ali o mau pesar8...
Todas vêm e todas vão Como queres tu casar
Onde querem, senão eu. Com fama de preguiçosa?
Hui! e que pecado é o meu,
Ou que dor de coração? INÊS Mas eu, mãe, sam aguçosa9
E vós dais-vos de vagar.
1
Quem com ver-vos pena e morre, que fará quando
vos não vir?
2 6
ocupação macaca
3 7
aproveitados feitiço
4 8
Travesseiros de franja Que desgraça!
5 9
De estar sempre no mesmo sítio activa
2
10 12
idiota meteu
11 13
brincadeira luta
3
PÊRO Homem que vai aonde eu vou PÊRO Deitae as peas22 no chão.
Não se deve de correr
Ria embora quem quiser INÊS As perlas pera enfiar..
Que eu em meu siso estou. Três chocalhos e um novelo...
Não sei onde mora aqui... E as peias no capelo...
Olhai que m'esquece a mi! E as pêras? Onde estão?
Eu creo que nesta rua...
E esta parreira é sua. PÊRO Nunca tal me aconteceu!
Já conheço que é aqui. Algum rapaz m'as comeu...
Chega Pêro Marques aonde elas estão, e diz: Que as meti no capelo,
Digo que esteis muito embora. E ficou aqui o novelo,
Folguei ora de vir cá... E o pente não se perdeu.
Eu vos escrevi de lá Pois trazia-as de boa mente...
Üa cartinha, senhora...
E assi que de maneira... INÊS Fresco vinha aí o presente
19 21
Ainda que te custe herdeiaros
20 22
trote cordas
5
PÊRO Pois, senhora, eu quero-me ir INÊS E pera que era ele aqui?
Antes que venha o escuro.
MÃE E não t'agrada ele a ti?
INÊS E não cureis mais de vir.
INÊS Vá-se muitieramá26!
PÊRO Virá cá Lianor Vaz, Que sempre disse e direi:
Veremos que lhe dizeis... Mãe, eu me não casarei
Senão com homem discreto,
INÊS Homem, não aporfieis, E assi vo-lo prometo
Que não quero, nem me apraz. Ou antes o leixarei.
Ide casar a Cascais. Que seja homem mal feito,
Feio, pobre, sem feição,
PÊRO Não vos anojarei mais, Como tiver discrição,
Ainda que saiba estalar; Não lhe quero mais proveito.
E prometo não casar E saiba tanger viola,
Até que vós não queirais. E coma eu pão e cebola.
Siquer uma cantiguinha!
(Pêro vai-se, dizendo:) Estas vos são elas a vós: Discreto, feito em farinha27,
Porque isto me degola28.
Anda homem a gastar calçado,
E quando cuida que é aviado, MÃE Sempre tu hás-de bailar
Escarnefucham24 de vós! E sempre ele há-de tanger?
Creo que lá fica a pea... Pardeus! Bô ia eu à aldeia! Se não tiveres que comer
O tanger te há-de fartar?
(Voltando atrás)
INÊS Cada louco com sua teima.
Senhora, cá fica o fato? Com uma borda de boleima29
E uma vez d'água fria, Que foste, que fomos, que ias
Não quero mais cada dia. Buscá-lo, esgravatá-lo...
MÃE Como às vezes isso queima! VIDAL Vós, amor, quereis marido
E que é desses escudeiros? Mui discreto, e de viola?
ESCUDEIRO Por que faças o que eu mando! INÊS Que tendes de ver co isso?
Todo o mal há-de ser meu.
MOÇO Logo vou.
(O Diabo me tomou: MÃE Quanta doudice!
Sair me de João Montês
Por servir um tavanês32 INÊS Oh! como é seca a velhice!
Mor doudo que Deus criou!) Leixai-me ouvir e folgar,
Que não me hei-de contentar
ESCUDEIRO Fui despedir um rapaz De casar com parvoíce.
Que valia Perpinhão33, Pode ser maior riqueza
Por tomar este ladrão. Moço! Que um homem avisado37?
INÊS Senhor de mui boa mente. MÃE Ora vae tu ali, Inês,
E bailareis três por três.
ESCUDEIRO Per palavras de presente
Vos recebo desd'agora. FERNANDO Tu connosco, Luzia, aqui,
Nome de Deus, assi seja! E a desposada ali,
Eu, Brás da Mata, Escudeiro, Ora vede qual direis.
Recebo a vós, Inês Pereira Cantam todos a cantiga que se segue:
Por mulher e por parceira «Mal herida va la garça Enamorada,
Como manda a Santa Igreja. Sola va y gritos dava.
A las orillas de um rio
INÊS Eu, aqui diante Deus, La garça tenia el nido;
Ballestero la ha herido
En el alma;
40
descarado
41
hipócrita
42 45
certamente Levanta as mãos e agradece
43 46
forja Arranja o cabelo
44 47
Vadio, desordeiro distribuídos
10
48 49
depressa Humilhada, dominada
11
MOÇO I-vos vós, embora, à guerra, MÃE Ora vae tu ali, Inês,
Que eu vos guardarei oitavas51... E bailareis três por três.
Lê o sobrescrito: Aq ui v e m Lia no r V a z, e fi n g e I nê s
«À mui prezada senhora Inês Pereira da Grã, P ereira e star c ho ra nd o , e d iz Li a no r :
À senhora minha irmã.»
De meu irmão...Venha embora! LIANOR Como estais, Inês Pereira?
MOÇO Vosso irmão está em Arzila? INÊS Muito triste, Lianor Vaz.
Eu apostarei que i vem
Nova de meu senhor também. LIANOR Que fareis ao que Deus faz?
LIANOR Se ficaste prenhe basta. INÊS (Não lhe quero mais saber
Já me quero contentar..).
INÊS Bem quisera eu dele casta57,
Mas não quis minha ventura. LIANOR Ora dai-me essa mão cá.
Sabeis as palavras, si?
LIANOR Filha, não tomeis tristura,
Que a morte a todos gasta. PÊRO Ensinaram-mas a mi,
O que havedes de fazer? Porém esquecem-me já...
Casade-vos, filha minha.
LIANOR Ora dizei como digo.
INÊS Jesu! Jesu!
Tão asinha! PÊRO E tendes vós aqui trigo
Isso me haveis de dizer? Pera nos jeitar por riba?
Quem perdeu um tal marido,
Tão discreto e tão sabido, LIANOR Inda é cedo... Como rima!
E tão amigo de minha vida?
PÊRO
LIANOR Dai isso por esquecido, Soma, vós casais comigo,
E buscai outra guarida. E eu com vosco, pardelhas59!
Pêro Marques tem, que herdou, Não cumpre aqui mais falar
Fazenda de mil cruzados. E quando vos eu negar
Mas vós quereis avisados... Que me cortem as orelhas.
PÊRO
Quereis que as leve?
PÊRO
Eu não saberei entoar..
INÊS
«Bem sabedes vós, marido,
Quanto vos amo.
Sempre fostes percebido60
Pera gamo.
Carregado ides, noss'amo,
Com duas lousas.»
PÊRO
«Pois assi se fazem as cousas»
INÊS
«Bem sabedes vós, marido,
Quanto vos quero.
Sempre fostes percebido
Pera cervo.
Agora vos tomou o demo
Com duas lousas.»
PÊRO
«Pois assi se fazem as cousas.»
E assi se vão, e se acaba o dito Auto.
60
Sempre tivestes predisposição, destinado.
17
QUESTIONÁRIO
1. Delimite as várias partes deste auto fazendo um breve resumo de cada uma delas.
5. Caracterize a personagem Inês Pereira tendo em conta as três fases diferentes da sua vida amorosa.
13. Dê exemplos de cómico de situação nas cenas em que entra o Pêro Marques.
14. Que tipos sociais são criticados no Escudeiro, na Lianor Vaz e nos Judeus casamenteiros?
Justifique.
15. Por que razão é que Inês Pereira preferiu inicialmente o Escudeiro a Pêro Marques?
19. Que acontecimento leva Inês Pereira a libertar-se do compromisso assumido com o Escudeiro?
20. Explicite as concessões de Pêro Marques da cena final face às exigências de Inês Pereira.
21. Explique o significado das seguintes expressões: «panela sem asa» e «sam coruja ou corujo».
23. Explique as seguintes palavras da Mãe, tendo em conta as razões que estão na génese desta farsa:
«Mata o cavalo de sela e bom é o asno que me leva».
26. O que é que se prevê que suceda depois que Inês Pereira aceitou Pêro Marques?
27. Será Inês Pereira fiel ao novo marido? Justifique a sua resposta com expressões do texto.
28. Desenvolva, numa composição cuidada, o tema da mulher e do casamento na época dos
Descobrimentos, tendo em conta a dicotomia idealismo / realidade.
dona de quê
se na paisagem onde se projectam
pequenas asas deslumbrantes folhas
nem eu me projectei
se os versos apressados
me nascem sempre urgentes:
trabalhos de permeio refeições
doendo a consciência inusitada
dona de mim nem sou
se sintaxes trocadas
o mais das vezes nem minha intenção
se sentidos diversos ocultados
nem do oculto nascem
(poética do Hades quem me dera!)
Dona de nada senhora nem
de mim: imitações de medo
os meus infernos
O poema de Ana Luísa Amaral questiona o papel da mulher na actualidade – aquela a quem
dói a consciência – por não se conseguir dar resposta às várias solicitações (tarefas domésticas,
profissão e o seu próprio prazer). Este poema dista cerca de 500 anos da Farsa de Inês Pereira,
contudo, o desejo de ser “dona de si” e do seu tempo mantém-se. A partir dos dados fornecidos,
elabora, um comentário ao poema. (extensão entre cento e cinquenta a duzentas palavras).
19
A Farsa de Inês Pereira é uma peça de teatro escrita por Gil Vicente, na qual retrata a
ambição de uma criada da classe média portuguesa do século XVI. Desafiado por aqueles que
duvidavam do seu talento, Gil Vicente concorda em escrever uma peça que comprove o
provérbio "Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube". A peça foi apresentada
pela primeira vez a D. João III no Convento de Cristo, Tomar, em 1523. Tecnicamente, é a
mais perfeita obra vicentina, pela unidade de acção que apresenta.
Esta peça pode ser dividida em quatro partes principais, ou quadros, ou em oito cenas. No
entanto não há uma divisão explícita, pelo autor, em actos.
Toda a peça gira à volta da personagem principal Inês Pereira que nunca sai de cena. As
didascálias são escassas, não há mudança de cenário, e a mudança de cena é só pautada pela
entrada ou saída de personagens.
SINOPSE
Inês Pereira, moça simples e casadoira mas com grande ambição procura marido que
seja astuto, sedutor, “que saiba tanger viola, e eu coma cebola.” A mãe de Inês, preocupada
com a sua filha, sua educação e casamento, incita-a a casar com Pêro Marques, pretendente
arranjado pela alcoviteira
Leonor Vaz, no entanto Inês Pereira não se apraz do filho do lavrador, por este ser
ignorante e inculto.Entretanto entram em peça dois “casamenteiros judeus” que também
cuidavam de arranjar marido para Inês, e se bem procuraram melhor acharam e Inês casa com
um escudeiro, de sua graça Brás da Mata.
Este casamento depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um
marido astuto acaba por casar com um que antes de sair em missão para África, dá ordens ao
seu moço que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez que sair à rua. Brás da
Mata, era um escudeiro falido que casou com Inês de forma a poder aproveitar-se do seu dote.
Três meses após a sua partida, Inês recebe a agradável notícia de que o seu marido foi
morto por um mouro. Não tarda em querer casar de novo, e é nesse mesmo dia que Leonor
Vaz lhe traz a notícia que Pêro Marques, continua casadoiro, de resto como este tinha
prometido a Inês aquando do primeiro encontro destes. Inês casa com ele logo ali, e já no fim
da história aparece um falso monge que se torna amante da protagonista.
O ditado “mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”, não podia ser
melhor representado do que na última cena da obra quando o marido a carrega em ombros até
ao amante, e ainda canta com ela “assim são as coisas”.
Personagens:
Inês: representa a moça casadoira, fútil, muito preguiçosa e interesseira, se casa duas vezes,
apenas para se livrar do tédio da vida de solteira. Não conseguindo casar-se na primeira
tentativa, garante-se na segunda, com o marido ingénuo. Apesar de seu comportamento
impróprio, consegue até mesmo a simpatia do público pela inteligência com que planeja seus
passos.
Leonor Vaz: é a alcoviteira, mulher na época assim chamada que arrumava casamentos,
revelando que a base da família está corrompida.
Mãe: apesar de dar conselhos à filha, acha importante que ela não fique solteira e se torna
cúmplice das atitudes dela.
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Pero Marques: é o marido bobo. Apesar de ser ridicularizado por Inês, ele se casa como
ela e deixa que ela o maltrate e o traia.
Escudeiro: Preocupado em arrumar uma esposa, finge, e engana, criando uma imagem de
"bom moço" que depois se revela um tirano, e deixa Inês presa em sua casa mas ele é morto
por um pastor.
Moço: era um amigo do primeiro marido de Ines que o ajuda a mentir para se casar
com ela.
Ermitão: era apaixonado por Inês e depois torna-se um padre.
Latão e Vidal: judeus casamenteiros.
É mais ou menos o que acontece em Inês Pereira. Inês, jovem cansada de trabalhar,
quer casar. Lianor Vaz lhe arranja um noivo, Pêro Marques, que ela recusa por ser falastrão
(quer um marido discreto, mesmo que pobre). Então Latão e Vidal, dois judeus casamenteiros,
lhe arranjam o escudeiro Brás da Mata, com quem se casa. Brás é caloteiro e nunca paga seu
moço, Fernando. Logo após o casamento Brás vai para o Norte da África tornar-se cavaleiro,
mas é morto por um pastor mouro ao fugir da batalha. Livre deste casamento Inês se casa com
Pêro Marques.