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No se trata de uma teoria da imaginao. Este esforo, j tantas vezes tentado, permanece
inacabado e em curso, como tudo o mais em filosofia: um dizer ser sempre explicitao,
eloqente manifestao do que ainda restaria por dizer, uma fixao no dito, apesar dos
clamores do entorno.
Trago apenas um minsculo tema: o modo prprio como uma ausncia provoca e
impulsiona o ato imaginativo. No a ausncia absoluta, se existir: um nada, sem tempo e
espao, sem um qu onde se firmar. Toda ausncia ausncia em face de alguma presena.
E aqui comparece a imaginao, vigorosa como negatividade, anunciante como criao.
Na arte de reconhecer uma ausncia, quer-se, em seu lugar, uma presena. Eis porque o ato
imaginativo cria a presena que se quer, como possvel, ao menos. Possvel, em amplo
sentido, ainda que apenas na real possibilidade de se pensar o irreal, como competncia
negativante, que a imaginao, por certo, tem. A ausncia reconhecida, ento, abre um
espao de sentido e impe-se a tarefa de que certo vazio se preencha.
Por isto, quem sabe, quando o vazio instaurado por uma ausncia se reconhece, logo este se
negativa. Na nsia de ver negada uma ausncia, a imaginao exercita suas competncias,
preenchendo os espaos com contedos de nossos desejos, com promessas para nossos
anseios, com possibilidades, enfim. E, neste caso, a imaginao que, desconstruindo a
ausncia, torna presentes tantas possibilidades de nulificao de um vazio que, reconhecido,
quer-se vencer.
Uma ausncia de viso, por exemplo, provoca presenas imaginativas possveis, mesmo
que irreais, de tudo que agora j no se v mas, ainda que uma vez, j se deixou ver. Toda
experincia, que pode ser apenas pensada, potencial a ser evocado como presena
imaginativa. No escuro, quando no vemos, tudo se torna presente, sobretudo nossos
medos, objetificados nos mais terrificantes monstros e deformidades onricas. Ali onde a
vista se cala, fala a experincia sem controle, agitada pela potncia imaginativa.
E, como fim, (calma!) deste texto, restaria imaginar o que poderia continuar a ser dito.
Diga! Ausenta-se o autor, presentifique-se o leitor. Ponho-me j a imaginar dizeres que eu
poderia ouvir.
Jose Carlos Henriques