Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
- E ento? Responde logo que tenho mais o que fazer, no escutou meu
subordinado, homem?
Aquele ser olhou para mim com sua cabea preguiosa e finalmente
abriu sua boca.
- A senhora, se no estou enganado...
- Senhor, homem. Senhor disse eu com fulgor assombroso nos olhos.
- Desculpe a minha ignorncia meu senhor. Mas que em assuntos de
mortes no sou versado, mesmo tendo vivido bastante. Mas eu ia perguntando:
o senhor, se no estou enganado, o Morte, no ?
- Sim, e orgulho-me de ser temido e odiado por vs.
- Pois que seja, senhor. Alis, menos mal que seja assim porque as
pessoas aprendem a te respeitar com isso. As pessoas sempre aprendem o
que respeito atravs do temor e do dio, infelizmente sofismou o pobre
coitado.
- No! No me diga que voc um daqueles revolucionrios? Somente
Marx fez com que trezentas mil almas cruzassem os braos para no entrar no
rio. Por pouco meus subordinados no conseguem conter o levante que aqui
se fez. Como sempre digo: malditos revolucionrios!
- No sou, meu senhor. Quanto a isso fique sossegado. Sou um simples
homem mesmo. Daqueles que ningum sentir falta quando eu me for. Quero
dizer, agora que me fui.
- E por que est aqui a chorar? A contemplar com pesar o seu calvrio?
No acha ento que seria melhor abraar esta morte e viv-la de modo que os
mortos se lembrem de ti quando tua morte tambm se extinguir e fores daqui
para outra condio anmica que no a vida e tambm no a morte?
- No estou triste com minha morte, meu senhor. Nem tampouco penso
na minha ps-vida. Quanto mais na minha ps-morte. Eu s estou a admirar o
senhor, s isso.
- S isso? Oras, mas que belo exemplar de filsofo eu fui ter aqui, no?
Pois que vai rolar barranco abaixo agora mesmo.
- Vou sim, senhor Morte. No me importo. S queria antes poder olhar
mais um pouquinho s este rio que tantas almas tem dentro de si.
- J olhou bastante. Agora bunda mostra que meu p a espera.
A conversa poderia ter ficado por a. Eu ficaria feliz com a tarefa
cumprida. E tudo seguiria como sempre seguiu. Sou Morte de paz e amante da
ordem. Gosto do tradicional e do que funciona. Como dizem os seus: em time
que se ganha no se mexe. Mas aquele vermezinho no conseguiu ficar com
a lngua dentro da boca.
- Olha senhor Morte. Antes de ir-me, deixe apenas perguntar uma coisa.
- Sim, pergunte.
- Os homens, eles so eternos?
- Como assim, criatura?
- Digo, a humanidade, ela sempre vai existir? Estar ela daqui vinte
sculos, ou mais, daqui vinte milhes de sculos?