Sunteți pe pagina 1din 18

//apágina.

net

Previsões 2020
Olhares científicos para o futuro

Resumo da pesquisa de opinião realizada e publicada


pela revista inglesa Nature 463, pp. 26-32 (7/01/2010)
com 20 cientistas de várias áreas.

Compilação de Flávio Flora

Janeiro, 2010
SUMÁRIO

1P esquisas e estudos interdisciplinares – Os modelos de pesquisa em geral, vinculados às


Pesquisas
universidades, as organizações de saúde e aos mecanismos de busca da internet, requerem
3
mudanças conceituais, pois os atuais métodos já estão defasados e ineficientes ........... 03

2 Desafios políticos, sociais e ecológicos – Nos campo da política, observa-se que a


governabilidade, a demografia, a proteção ecológica (com destaque para o solo) e a
sustentabilidade energética terão que passar também por processos de adequação e mu-
danças de foco ......................................................................................................... 06

3 Evolução do tratamento das doenças – Apesar desses aspectos negativos, que deverão
ser resolvidos nos próximos dez anos, há significativos avanços no âmbito da medicina e
nos tratamentos de saúde, com melhor compreensão do metabolismo humano, do papel da
comunidade microbiana, da psicologia biológica e da biologia sintética ........................ 11

4 Melhor compreensão do Universo – Procurar entender o Universo, em seus extremos


dimensionais, alcançados pela astronomia e a física nuclear, são duas das conquistas alta-
mente tecnológicas esperadas para a década, com telescópios e raios laser muito potentes
e mais perfeitos ....................................................................................................... 16

* A revista Nature convidou pesquisadores e formuladores de políticas das principais áreas de conhecimento e
tecnologia do mundo para identificar questões-chave de suas disciplinas: perfil, obstáculos e medidas urgentes.
Estes são os 20 convidados: Peter Norvig (pesquisa), David A. Relman (microbioma), David B. Goldstein (medi-
cina personalizada), Daniel M. Kammen (energia), Daniel R. Weinberger (saúde mental), Leslie C. Aiello
(paleontologia hominídeo), George Church (biologia sintética), John L. Hennessey (universidades), Jeffrey Sachs
(governança global), Adam Burrows (astronomia), Gary P. Pisano (novas drogas), Joshua R. Goldstein
(demografia), Paul Anastas (química), Richard Klausner e David Baltimore (Institutos Nacionais da Saúde), David
R. Montgomery (solo), Thomas M. Baer e Bigelow Nicholas P. (laser), Robert D. Holt (ecologia) e Jeremy K.
Nicholson (metabolômica).
3

1 Pesquisas e estudos interdisciplinares


Os modelos de pesquisa em geral, vinculados às universidades, as organizações de saúde e
aos mecanismos de busca da internet, requerem mudanças conceituais, pois os atuais
métodos já estão defasados e ineficientes, carecendo de:

- maior envolvimento das universidades na busca de soluções para os problemas contem-


porâneos (degradação ecológica, pobreza, guerras e saúde), e desenvolvimento do espírito
colaborativo, interdisciplinar, na preparação dos alunos;

- um amplo quadro de investigadores clínicos para prosseguir estudos transdisciplinares


de fisiologia da doença humana, incluindo, além das contribuições acadêmicos, os estudos
orientados de independentes ou de autodidatas; e

- aprimoramentos nos sistemas e mecanismos de busca e pesquisa teórica pela internet, de


modo a evitar disseminação de informações falsas e sem conotação científica, como se
fossem verdadeiras.
4
1.1 Universidades colaborativas
John L. Hennessy, Presidente da Universidade de Stanford

O mundo enfrenta desafios cada vez mais complexos, tais como a manutenção de nosso
ecossistema para 9 a 10 bilhões de pessoas, a redução da pobreza, o aumento da paz e da
segurança e a melhoria da saúde humana. As universidades devem ter um papel mais
específico na busca de soluções para esses problemas e no educar a próxima geração de
líderes para as combater.

Talvez a maior ameaça às universidades de pesquisa, durante a próxima década, seja a falta
de recursos financeiros governamentais. Para enfrentar esses desafios (que também são
intelectuais), as universidades têm de estar dispostas a mudar a forma como vêem a mis-
são de investigar e ensinar.

A escala e a complexidade dos problemas globais contemporâneos requerem


uma universidade mais colaborativa, transdisciplinar. Tradicionalmente, as uni-
versidades são estruturadas em áreas de conhecimentos e departamentos, e
as agências que financiam a pesquisa, muitas vezes, refletem essa estrutura no
seu apoio financeiro. Essa rigidez pode ser uma barreira para a inovação e para
a necessidade de educar os alunos para um ambiente mais colaborativo de
trabalho (Hennessy, 2010).

Portanto, as universidades e agências de financiamento deveriam incentivar o trabalho


através de centros acadêmicos, em torno de grandes temas ou transdisciplinas, ao invés de
áreas estritas. O desafio será fazer isso sem abandonar as disciplinas tradicionais e o papel
que elas têm em assegurar a excelência do aprendizado.

As universidades têm um duplo papel a desempenhar: fazer avançar as frontei-


ras do conhecimento e educar os alunos. Através dessas competências temos
o potencial para fazer as contribuições que podem moldar o futuro. O desafio da
próxima década é a de viver esse potencial (Hennessy, 2010).

1.2 Sistemas de saúde pública


Richard Klausner e David Baltimore, Califórnia Institute of Technology

Os institutos nacionais de saúde servem à comunidade biomédica, disponibilizando recur-


sos para experimentação, mas os empreendimentos são de pouco alcance e sem tempo
para criatividade (pensamento imaginativo). As recomendações são pela promoção de uma
profunda mudança na cultura e no processo decisório das organizações de saúde.

Em primeiro lugar, critérios de financiamento irão colocar mais peso nas deci-
sões individuais e não nos detalhes da proposta. É preciso promover as mentes
criativas e quando alguém se mostrar inovador e produtivo, essa pessoa deve
ser adequadamente apoiada para que possa expressar a sua criatividade à pró-
pria maneira (Klausner, 2010)
5
Notoriamente, o atual sistema de hiper-seções desestimula o estudo especializado, as pro-
postas de pesquisa e a tomada de riscos. Esse sistema deveria ser substituído por outro,
mais amplo – um instituto de análise de projetos com equipes interdisciplinares, por exem-
plo, que poderiam simplificar as avaliações dos objetivos da pesquisa, da importância do
problema e da qualidade dos investigadores. A parte técnica não mais avaliaria a viabilidade
do plano executivo (que é de fundo subjetivo), mas se deteria na capacidade dos pesquisa-
dores de realizar a proposta.

Ao mesmo tempo, devemos incentivar as novas gerações de cientistas inde-


pendentes e produtivas, auxiliando o seu desenvolvimento fora das rotas habi-
tuais acadêmica. Assim, em vez de só formandos de graduação e de pós-gradu-
ação atuarem, sob supervisão de veteranos, deveria haver caminhos alternati-
vos para os independentes ou autodidatas. Necessita-se de um amplo quadro
de investigadores clínicos para prosseguir estudos transdisciplinares de fisiolo-
gia da doença humana e também para desafiar a atual via de mão única do
sistema, quando os indivíduos reconhecidamente são fundamentais para o pro-
gresso da pesquisa clínica (Klausner, 2010).

1.3 Mecanismos de pesquisa


Peter Norvig, Diretor de pesquisa do Google

A busca na internet vai evoluir muito nesta década, muito além dos seus limites atuais.

“O conteúdo será uma mistura de texto, voz, imagens e vídeo, histórias de inte-
rações nas redes sociais (colegas e amigos), fontes de informação e seus subs-
titutos automáticos, e faixas de leituras dos sensores em dispositivos de Global
Positioning System (GPS), dispositivos médicos e de outros sensores incorpo-
rados ao nosso ambiente (...) como as consultas de pesquisa sob o controle
direto de sinais cerebrais (...) A maioria das pesquisas será falada, não digitada
e os usuários vão decidir o quanto de suas vidas será compartilhado pelos sis-
temas de busca e de que forma isso ocorrerá.”

Um grande desafio é implementar um modelo de busca que não se baseie unicamente em


popularidade, pois os seus mecanismos devem responder ao usuário de acordo com certos
requisitos que se tornaram essenciais. A relevância (pertinente à consulta do usuário) e a
qualidade (que pressupõe uma resposta útil, compreensível e imparcial à consulta) são os
dois principais recursos a serem melhorados. É preciso disponibilizar recursos técnicos
para se identificar e separar os documentos com informação falsa – como o do hoax, por
exemplo, de que o homem não foi à Lua – dos documentos de site legítimos de astrono-
mia, que estão de acordo com a realidade.
6

2 Desafios políticos, sociais e ecológicos


Nos campo da política, observa-se que a governabilidade, a demografia, a proteção ecológi-
ca (com destaque para o solo) e a sustentabilidade energética terão que passar também
por processos de adequação e mudanças de foco, procurando, principalmente:

- a estruturação de sistemas eficazes de governança global para a gestão do desenvolvi-


mento sustentável, com base em perícia (ou estratégia) técnica, investimentos em novas
tecnologias, controle rigoroso do lobby empresarial e maior financiamento dos países mais
pobres nas questões climáticas;

- a busca de soluções estratégicas para os desafios sociais do envelhecimento populacional,


especialmente os relacionados ao declínio produtivo desse segmento, ao ininterrupto con-
sumo de bens e a imigração por diversas causas (climáticas, bélicas, políticas etc.);

- preocupar-se mais com os detalhes sutis dos organismos biológicos e as implicações da


dinâmica evolutiva do planeta e resistir às perturbações e perdas de ecossistemas, fortale-
cendo as redes ecológicas;

- promover a pesquisa e a adoção de práticas agrícolas e tecnologias que permitam cultivar


e sustentar a vida nos ecossistemas do solo, sob as abordagens e os métodos orgânicos da
revolução verde;

- dar mais atenção à interatividade da química com a física, a biologia e a toxicologia; e

- encontrar o caminho para um sistema energético em que o sol, os ventos, o átomo, a


geotérmica e a hidrelétrica forneçam mais de 80% da eletricidade.
7
2.1 Governança global
Jefrey Sachs, Diretor do Instituto da Terra

Em 2020, o mundo precisará de um sistema eficaz de governança global para a gestão do


desenvolvimento sustentável, demandando melhorias sistemáticas em quatro áreas:

1) “A política tem de levar em conta a perícia técnica”. Nas negociações internacionais (como na
cimeira de Copenhague), gastou-se muito tempo discutindo a legalidade de acordos, enquanto
as opções tecnológicas focaram prejudicadas pelo reduzido tempo disponível.

Há uma tendência para anunciar metas sem estratégias técnicas, e depois perdê-
las. As Nações Unidas deveriam acompanhar as decisões de Copenhague com
a criação de grupos de peritos para apoiar as tarefas práticas de mitigação e
adaptação das alterações climáticas. Dentro de alguns anos, uma organização
ambiental deve ser estabelecida para supervisionar e fornecer suporte técnico
para os principais tratados (Sachs, 2010).

2) “Investimentos públicos e privados em novas tecnologias devem ser geridos como parte
de um sistema integrado.” Quase todos os desafios ambientais, desde as emissões de
gases ao esgotamento dos recursos hídricos subterrâneos, demandam tecnologias para
sua transformação.

O setor público será responsável por questões de fiscalização, regulação, seguran-


ça pública e sensibilização; o setor privado assumirá a liderança, nomeadamente,
na investigação e desenvolvimento de outras formas lucrativas. Ambos os lados
terão de harmonizar suas ações e buscar parcerias eficazes (Sachs, 2010).

3) “O lobby empresarial deve ser contido: é um dos maiores perigos para o desenvolvimen-
to sustentável.” Nos Estados Unidos, a influência corporativa através de lobbying e campa-
nhas enganosas têm sido um enorme obstáculo para a eficácia da regulação da economia e
meio ambiente. Por exemplo, o lobby pesado de Wall Street contribuiu para a
desregulamentação financeira que ajudou a provocar a crise recente, enquanto a pressão
da indústria de energia adiou a ação na mudança do clima. Alguns países têm sucesso,
limitando tais influências por meio de financiamento público das campanhas eleitorais e
outros meios, o que deveria ser seguido por todos.

4) Financiamento global para países mais pobres devem ser maiores, se os acordos inter-
nacionais sobre o clima, uso da terra e da biodiversidade forem adotados. A prestação de
ajuda aos países pobres é desoladora: é uma promessa dos países ricos que nunca chega.

Duas propostas de tributos poderiam melhorar as coisas: uma pequena taxa


sobre transações financeiras transnacionais e uma taxa global sobre emissões
de carbono. Ambas deveriam ser aplicadas conjuntamente com formas mais
tradicionais de ajuda para garantir uma fonte mais confiável de financiar o de-
senvolvimento (Sachs, 2010).
8
2.2 Envelhecimento populacional
Joshua R. Goldstein, Diretor-executivo da Max Planck Institute for Demographic

Como o crescimento da população marcaram o século XX, o envelhecimento da população


irá marcar o XXI. A humanidade irá gastar muito da próxima década, “a braços com ques-
tões sobre como organizar e pagar a conta de um aumento da população idosa e sobre
quem vai produzir o que os idosos consomem”.

A longo prazo, o retorno a taxas de fertilidade moderada e aumento da imigração podem


fazer muito para o envelhecimento da população, como na Suécia e no Japão – este, líder do
mundo em longevidade – países em que a fecundidade permanece baixa, enquanto a imi-
gração torna-se um grande desafio social.

2.3 Ecologia microbiana


Robert D. Holt, Departamento de Biologia, Universidade da Flórida

O maior desafio dos ecologistas durante a próxima década é que muito do que queremos
estudar pode desaparecer antes que possamos realmente compreendê-lo. O planeta está
cada vez mais dominado por imitações de ecossistemas - paisagens humanas esculpidas
por acaso. São objetos legítimos de estudo, mas existem consideráveis questões práticas
de fundo estético e moral a serem solucionadas antes de podermos documentar e entender
as perdas de ecossistemas naturais.

Uma das principais tarefas ecológicas será a de prever e atenuar essa perda de
biodiversidade e a degradação do ecossistema. Um passo é avaliar a robustez
das redes ecológicas, em especial, a sua capacidade de resistir a perturbações
e perda de espécies. Isso vai exigir insights em muitas disciplinas (Holt, 2010).

Mudança ocorre em vários níveis, de indivíduos e populações, espacialmente vinculados


aos ecossistemas. Em 2020, a teoria ecológica estará cada vez mais preocupada com os
detalhes, muitas vezes sutis, de organismos biológicos, e com as implicações da dinâmica
evolutiva. A ecologia microbiana será a meta final, também porque, ao mesmo tempo, ela
será essencial para compreender como espécies e comunidades se encaixam na história da
Terra. No período de uma década, a ecologia será vista tanto como uma parte essencial da
biologia (e cada vez mais) como uma dimensão essencial das ciências da Terra.

2.4 Devastação do solo


David R. Montgomery, autor de Dirt: The Erosion of Civilizations (Solo: A Erosão das Civilizações),University of
Washington Press, 2007.

Para evitar os erros de sociedades do passado, nas proximidades de 2020, o mundo tem de
enfrentar a degradação global do solo, o mais insidioso e subreconhecido desafio do sécu-
9
lo. A humanidade já degradou ou erodiu mais de um terço do solo arável. Continuamos a
perder terras em torno de 0,5% ao ano, e ainda temos a esperança de alimentar mais de 9
bilhões de pessoas até o final do século.

No século XX, o processo Haber-Bosch (de produção de fertilizantes nitrogenados), efeti-


vamente divorciado da revolução verde (no manejo do solo) da agricultura. Rendimentos
mais elevados propiciados por insumos e fertilizantes e mecanização intensiva devastaram
a vida do solo nativo, reduzindo sua fertilidade.

A pesquisa, em algumas configurações agrícolas convencionais, mostra que


espécies de bactérias têm, praticamente, substituído os fungos micorrízicos,
que fornecem os nutrientes para a maioria das plantas. Em um mundo pós-
petróleo, os fertilizantes deixarão de ser produzidos, convencionalmente, pois a
agricultura de alto nível não é sustentável nem resistente. Garantir a segurança
alimentar e a proteção do ambiente futuro exigirá repensar as práticas agrícolas
individualimente para cada paisagens e fazenda, em vez de continuar a confiar
nas práticas erosivas de um saco de adubo (Montgomery, 2010).

Para esses fins, os governos devem promover a pesquisa e a adoção de práticas agrícolas e
tecnologias que permitam cultivar e sustentar a vida dos ecossistemas do solo. Ao longo
das próximas décadas, abordagens e métodos orgânicos deveriam restaurar a fertilidade
do solo para compensar as emissões globais de gases de 5-15%, os aluimentos,
deslizamentos e deslocamentos de terra, com a adição de biochar - carvão feito pelo aque-
cimento de resíduos orgânicos.

A fina camada de minerais, microorganismos vivos, plantas e animais vivos e mortos, co-
brindo o planeta, é a mãe de toda a vida terrestre e um recurso estratégico de cada nação,
que ainda é tratada como lixo. “Negócios, usualmente, não são uma boa opção quando se
trata de solo, alimentos e pessoas. Portanto, é hora da revolução verde”.

2.5 Interação entre química e toxicologia


Paul Anastas, químico do Center for Green Chemistry and Green Engineering, da Universidade de Yale

O futuro da química deve ser muito diferente do passado. Tradicionais, reducionistas, alta-
mente especializada, a química acadêmica transformou alimentos, energia, saúde, trans-
porte, comunicações e a qualidade de vida moderna. Tem também, acidentalmente, esgota-
dos os recursos finitos e raros, colocando os trabalhadores em perigo e contaminando os
ecossistemas. Química Verde é o caminho do futuro: combinar as experiências físicas, bio-
lógicas e químicas com as da toxicologia para alcançar um projeto de química sustentável
os que preserve a saúde ambiental e a vida.

A fabricação de produtos químicos e os processos que reduzem ou eliminam o


uso e a geração de substâncias perigosas são abordagens sistêmicas. Os 'doze
10
princípios da química verde’ (...) são baseados nas mais recentes descobertas
fundamentais sobre a interação entre substâncias antropogênicas e do mundo
natural (Anastas, 2010)

Escasso financiamento de pesquisas e esforço insuficiente atrasam a inovação sustentável em


Química. Como primeiro passo, a química precisaria adotar, claramente, um imperativo de pes-
quisa que os investigadores em ciência molecular deveriam manter criativamente, sem causar
danos às pessoas e ao planeta. Precisamos todos voltarmos para a ‘química verde’.

2.6 Energia eficiente e limpa


Daniel M. Kammen, Diretor da Energia Renovável e Apropriada Laboratory, Universidade da Califórnia, Berkeley

Em 2020, a humanidade precisa já estar no caminho de uma sociedade de baixa emissão de


carbono – dominada pelas tecnologias de energia eficiente e limpa. É essencial o governo
estabelecer um preço (impostos) sobre as emissões de carbono, e financiar as empresas
para alcançar eficiência energética com energia renovável.

Várias tecnologias renováveis estão prontas para explosivo crescimento. Metas


de eficiência energética podem ajudar a reduzir a demanda por inovações de
combustíveis, utilizando veículos elétricos. Investigação em energia solar – em
especial, como armazenar e distribui-la de forma eficiente – pode atender às
necessidades das comunidades pobres e ricas. Implantados em grande escala,
estes tipos de soluções significariam que o mundo estaria no caminho para um
sistema energético no qual o sol, os ventos, o átomo, a geotérmica e a hidrelé-
trica fornecerão mais de 80% da eletricidade (Kammen, 2010)
11

3 Evolução do tratamento das doenças


Apesar desses aspectos negativos, que deverão ser resolvidos nos próximos dez anos, há
significativos avanços no âmbito da medicina e nos tratamentos de saúde, com melhor
compreensão do metabolismo humano, do papel da comunidade microbiana, da psicologia
biológica e da biologia sintética, produzindo os seguintes resultados, entre outros:

- desenvolvimento da genômica personalizada (ou adaptada), em busca dos principais fatores


de risco para a doença, e de crescente aceitação e interesse pela seleção de embriões sadios;

- conhecimento sobre os efeitos do desequilíbrio microbiano nos processos metabólicos e


suas relações com algumas doenças comuns como colite ulcerativa, doença de Crohn, obe-
sidade, diabetes e doenças autoimunes;

- estudos clínicos das perturbações mentais e investigações sobre genes específicos para
determinadas doenças, em vez de complexa interpretação dos sintomas;

- desenvolvimento de medicamentos eficazes pela indústria farmacêutica, menos envolvida


com as estratégias de marketing que promovem remédios de eficácia questionável; e

- integração da engenharia molecular e da computação no tratamento das doenças,


emnpregando vacinas orais e células-tronco 'programáveis' e/ou bactérias (evoluídas em
laboratório).
12
3.1 Medicina personalizada
David B. Goldstein, Duke University

Na década finda, poderosas ferramentas de genotipagem permitiram aos cientistas identi-


ficar alguns fatores de risco para determinadas doenças, mas, na próxima década, o estudo
da doença deverá observar duas surpreendentes conclusões:

Em primeiro lugar, a variação genética comum pode ter apenas um papel limita-
do na determinação da predisposição a muitas doenças comuns. Em segundo
lugar, as variantes dos genes raros na população em geral pode ter efeitos exa-
gerados na predisposição (Goldstein, 2010).

Se assim for, a previsão é que a genômica personalizada se desenvolva até 2020, em busca
dos principais fatores de risco para a doença, o que aumentará substancialmente o interes-
se em programas de seleção de embriões e outros. A sociedade já aceita que mutações
genéticas levam inevitavelmente a problemas de saúde graves, mas será que vai ser assim
com o estudo de embriões que levam, por exemplo, um risco vinte vezes maior de ter uma
inespecífica doença neuropsiquiátrica?

Os avanços neste controvertido campo da medicina devem levar ao desenvolvimento de


drogas terapêuticas adaptadas às diferenças genéticas e à transformação definitiva de fa-
tores de risco genéticos (esquizofrenia, epilepsia e câncer) em alvos de medicamentos
mais eficazes.

Durante a próxima década, milhões de pessoas poderão ter seu genoma


seqüenciado. Muitos, terão uma indicação dos riscos que enfrentam. Uma refle-
xão séria sobre como lidar com as implicações práticas e éticas do poder preditivo
da genética devem começar agora (Goldstein, 2010).

3.2 Processos metabólicos e atividades microbianas


Jeremy K. Nicholson, Chefe do Departamento de Cirurgia e Câncer, Imperial College, em Londres

A análise química das impressões deixadas pelos processos metabólicos já começou a de-
sempenhar um papel crucial na medicina personalizada, nomeadamente na terapia do cân-
cer. Isso decorre do entendimento de que os seres humanos são superorganismos metabó-
licos carregando os genomas de muitos organismos simbiontes, os quais podem afetar a
fisiologia do indivíduo. O metabolismo humano é fortemente influenciado pelas interações
entre os nossos próprios genes e as atividades de micróbios do intestino, e bem assim pela
dieta e fatores ambientais. Os produtos desta interação metabólica têm uma influência
direta sobre a suscetibilidade à doença.

Determinar como os processos metabólicos do corpo interagem com os micróbios do in-


testino é uma prioridade nos próximos anos, porque muitas condições, incluindo a colite
13
ulcerativa, doença de Crohn, obesidade, diabetes e doenças autoimunes estão ligadas à
saúde do intestino e ao desequilíbrio microbiano. Em 2020, os cuidados de saúde persona-
lizados poderiam envolvero acompanhamento médico das atividades metabólicas de micró-
bios intestinais de um paciente e, eventualmente, reorientá-las terapeuticamente. O uso de
modelos matemáticos para interpretar os dados metabólicos obtidos através de
espectroscopia de ressonância magnética nuclear e espectrometria de massa nos ajudará a
entender os padrões de evolução da doença humana em uma escala global, e gerar novos
alvos para drogas ou intervenções nutricionais.

3.3 Genética e saúde mental


Daniel R. Weinberger, Investigador sênior, Instituto Nacional de Saúde Mental (EUA)

Na última década, a pesquisa de genes por trás de uma doença mental levou à conclusão de
que as perturbações mentais não têm causas específicas, sendo o resultado de interações
entre fatores de risco e que podem surgir de muitas causas, além daquelas que os modelos
tradicionais permitem divisar. Em 2020, essa percepção, que tem demorado a surgir, terá
transformado a compreensão dos médicos e os tratamentos dos problemas psiquiátricos.

Encontrar genes específicos para certa doença mental agora parece um sonho,
mas, nos próximos dez anos, a procura por genes que modulam nossas respos-
tas ao meio ambiente e que se reúnem de maneira particular em indivíduos com
alto risco será muito importante. Muitas centenas de genes podem contribuir
para a vulnerabilidade elevada, e esses defeitos podem afetar o desenvolvi-
mento e a função cerebrais, independente de qualquer diagnóstico psiquiátrico
específico. (Weinberger, 2010).

Esta abordagem genética vai levar ao diagnóstico e tratamento baseado em um conheci-


mento adequado da biologia subjacente, em vez de uma interpretação dos sintomas. A
investigação psiquiátrica está preparada para realizar o sonho de Sigmund Freud de uma
psicologia biológica, mas exigirá uma mudança de paradigma.

3.4 Pesquisas moleculares microbianas


David A. Relman, Chefe de Doenças Infecciosas no Veterans Affairs Health Care System, de Palo Alto, Califórnia

O corpo humano será um dos mais importantes locais de estudo ecológico da próxima década.

Os seres humanos dependem das comunidades microbianas para um conjunto


surpreendente de benefícios (...) extrair energia dos alimentos, orientando o
sistema imune e protegendo-o das doenças. No entanto, apesar da recente aten-
ção ao sistema microbiano, ainda estamos relativamente ignorantes sobre o
seu papel e como funciona (Relman, 2010).
14
Vários habitats microbianos já foram estudados e definidos com base em características
anatômicas (pele, boca, intestinos e vagina, por exemplo), mas estes são apenas alguns
subconjuntos de habitats da paisagem humana. Durante os próximos dez anos, pesquisas
moleculares microbianas devem capturar espécies raras e avaliar a diversidade em várias
escalas espaciais. “Embora a organização da microbiota humana não seja aleatória, pouco
se sabe sobre as regras que a regem”: efeitos da exposição precoce, dispersão e interações
de espécies; ocorrência de seleção ao nível da comunidade; como se compõem e se contro-
lam as comunidades microbianas, de modo a serem orientadas em benefício da saúde.

Igualmente premente são as questões atinentes à estabilidade e robustez das comunidades


microbianas, no âmbito dos direitos humanos, que devem ser protegidas de perturbações
(como as dos antibióticos) ou de impedimentos de voltar ao seu estado anterior após uma
interferência. Também saber se a resiliência da comunidade pode determinar e predizer a
saúde humana ou reforçá-la. Este campo de estudos deverá desenvolver novas parcerias
entre microbiologistas, ecologistas, médicos, fisiologistas e tecnólogos.

3.5 Medicamentos mais eficazes


Gary P. Pisano, Professor of Business Administration, Harvard Business School

Os próximos dez anos vão testemunhar uma aceleração da revolução na indústria farma-
cêutica. Prevê-se mudanças profundas na investigação e desenvolvimento de medicamen-
tos provocadas pela concorrência, as políticas de fiscalização e os mercados, que continu-
arão a desafiar os modelos e estratégias de negócios existentes. Muitas empresas já esta-
belecidas não farão a transição.

A indústria se bifurca em empresas que buscam a criação de novos medicamentos


e naquelas em que o foco é o marketing apenas, que pode ser eficaz a curto prazo,
mas está fadado ao fracasso, eventualmente. O desenvolvimento de tratamentos
eficazes é a única fonte sustentável de valor para a indústria farmacêutica. Dada a
escassez de terapias para muitas doenças graves e da eficácia medíocre de mui-
tos medicamentos existentes, as possibilidades são enormes. Existem riscos na
tentativa de descobrir novas drogas, mas os riscos de não fazê-las é maior. (...)
Globalização da inovação de drogas continuará. Ninguém deveria se surpreender
ao ver o surgimento de uma grande empresa farmacêutica multinacional chinesa
com grande capacidade de inovação (Pisano, 2010).

3.6 Biologia sintética programável


George Church, Professor de Genética, da Harvard Medical School

Na última década, o custo da decodificação do DNA ficou muito barato e demandando


pouca energia. O desafio para a próxima década será a integração da engenharia molecular
e a computação para tornar os sistemas complexos mais fáceis de estudar.
15
O desenvolvimento de padrões de engenharia para peças biológicas, tais como
os encaixes de pedaços de DNA, com desenho assistido por computador (CAD)
em níveis de abstração de escalas atômicas, dever/ão desenvolver-se mais ain-
da. Biólogos terão acesso a ferramentas que lhes permitam organizar átomos
para otimizar a catálise, por exemplo, ou organizar as populações de organis-
mos de cooperação, para criar agentes químicos funcionais (Church, 2010).

Assim, os tratamentos poderão ser substituídos por meios mais inteligentes, como vacinas
orais e células-tronco 'programáveis' e/ou bactérias (evoluídas em laboratório) que poderi-
am, por exemplo, coordenar um ataque nas proximidades das células cancerosas, furando-
as para liberar toxinas. Outra aplicação seria produção de produtos químicos, biocombustíveis
e alimentos (por exemplo, o desenvolvimento de culturas resistentes a parasitas ou orga-
nismos fotossintéticos que podem dobrar sua biomassa em apenas três horas).

A biologia sintética já está tendo um impacto para além do seu campo, e em 2020 seu uso
terá aumentado significativamente. Tecnologias Myriad serão possíveis, com
nanodispositivos de memória que aproveitam a capacidade de certas bactérias de navegar
no campo magnético da Terra, usando nanopartículas de magnetita. Como os chips eletrô-
nicos atingiram os limites de produção convencional, serão substituídos por circuitos bio-
lógicos atomicamente precisos e tolerantes a falhas. Bio-impressoras tridimensionais po-
derão fazer quase todos os produtos e com menores custos. O grande desafio será o de
antecipar as muitas conseqüências (ecológica, econômica e social) não intencionais da re-
volução da biologia sintética e se proteger contra elas.
16

4 Melhor compreensão do Universo


Procurar entender o Universo, em seus extremos dimensionais, alcançados pela astrono-
mia e a física nuclear, é uma das conquistas científicas esperadas para a década, com
telescópios e raios laser muito potentes.

A astronomia continuará estudando o Universo a partir da matéria escura (buracos negros)


e de outros planetas e sóis com possibilidades de vida iguais às nossas; visitar a Lua e (em
seguida) enviar um macaco a Marte, são alguns dos feitos esperados.

No campo da física nuclear a redução do tamanho dos feixes de raios laser (amplificação da
luz por emissão estimulada de radiação) para 1 nanômetro (tamanho de uma pequena
molécula) é a grande conquista, que pode melhorrar a capacidade dos computadores, criar
novos materiais, simular temperaturas de centros estelares longinquos em laboratório e
produzir relógios ultraprecisos.
17
4.1 Astronomia
Adam Burrows, Vice-presidente do Conselho de Administração, Física e Astronomia do National Research
Council - EUA

As principais questões para a próxima década incluem a determinação da natureza da ma-


téria escura que permeia o universo. Seria um grande embaraço se o mistério da matéria
escura não fosse desvendado ao cabo de 40 anos de estudos. Algumas pessoas destacam
a natureza da energia escura como o quebra-cabeças mais fundamental da astronomia.
Outros querem saber como tênues partículas de gás e poeira são convertidas em estrelas e
planetas densos e quantos planetas como a Terra (habitáveis) povoam a galáxia. As res-
postas a todas estas perguntas pode ser encontrado em 2020, mas a comunidade de
astronomia deve decidir qual a prioridade, o que não será fácil.

As tecnologias do futuro serão inevitavelmente mais complicadas e caras. A astronomia


tornou-se uma grande ciência e se esforça para equilibrar a criatividade com a acessibilida-
de aos instrumentos e recursos. Em conseqüência, os orçamentos de funcionamento dos
telescópios atuais estão restringindo projetos de construção de telescópios mais aperfei-
çoados no futuro. Além disso, os custos do ciclo de vida do Telescópio Espacial James
Webb, que deverá ser lançado em 2014, tem e continuará tendo cortes nos orçamentos
para beneficiar missões de astrofísica menores, mais baratas e mais ágeis.

Esta é a idade de ouro da astronomia. O potencial de descobertas é surpreen-


dente e continua a ser grande, mas consideráveis somas de dinheiro e habilida-
de serão necessárias para anter as pesquisas em desenvolvimento. A Humani-
dade vencerá essas barreiras no limiar de uma compreensão mais abrangente
do Universo? As decisões da política, nos próximos um ou dois anos, podem
decidir esta questão (Burrows, 2010).

4.2 Lasers na microscopia e na astronomia


Thomas M. Baer, Stanford Photonics Research Center
Nicholas P. Bigelow, Departamento de Física e Astronomia da Universidade de Rochester

Aqueles que conceberam e inventaram o laser, há 50 anos, não poderiam ter previsto o
papel que teve durante a segunda metade do século passado, seja na comunicação, no
monitoramento ambiental, na medicina, no entretenimento e na pesquisa científica.

Em 2020, os raios lasers, provavelmente, emitirão feixes do tamanho de 1 nanômetro - o


tamanho de uma molécula pequena. Microscópios que incorporam fontes de laser com
aberturas deste tamanho serão úteis no rápido seqüenciamento de DNA e RNA. Mas esses
feixes em miniatura também propiciam armazenamento de informações no disco rígido de
um computador , em densidades 100 vezes maiores do que as disponíveis hoje - em
petabytes. Relógios-lasers ultraprecisos irão medir a deriva e expansão do Universo em
constantes fundamentais, desafiando as teorias sobre a origem e a evolução do cosmos.
18
A próxima geração de lasers permitira a criação de novos estados da matéria, a compres-
são e o aquecimento de materiais a temperaturas só encontradas nos centros de estrelas,
e pressões que podem espremer átomos de hidrogênio em densidade 50 vezes maior que a
do chumbo. Como os inventores de 1960, estamos ainda subestimando o potencial e o
impacto dos lasers, mas nesta década que se inicia haverá um grande desenvolvimento
desses raios.

Referências

Nature n. 463, pp. 26-32 (7/01/2010).

Disponível em: http://www.nature.com/nature/journal/v463/n7277/full/463026a.html

Ilustrações de JESSE LEFKOWITZ

A Página
Versão d’A

S-ar putea să vă placă și