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Laura Lyas
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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
***
- Melhore esta cara, pelo amor de Deus! – Nancy beijou-a, deixando a
marca de batom em seu rosto.
Era dia claro e ela estava toda encapotada. O vento frio, ainda assim,
ardia em seus ossos.
- Não enche, Nancy. Saí da cama, não saí? – respondeu mal humorada.
- Você devia ir ver um médico, não é normal viver assim. Sua casa parece um
pardieiro e você, meu Deus, uma refugiada da guerra.
- Quer ir ou não?
- E esse mau humor? Sinceramente, Beverly, estou preocupada com
você.
- Eu vou ficar bem, prometo. Preciso apenas voltar a trabalhar e tudo
ficará bem...
Isso saiu como uma frase pronta, mas Nancy resolveu ignorar. Eram
amigas há muito, muito tempo. Tempo suficiente para a mulher saber que de
nada adiantaria forçá-la a falar.
- Será que sou como estes compositores de um sucesso só? Estes que
lançam uma música, vendem milhões de discos e depois somem sem que
ninguém se lembre deles? – perguntou com ar filosófico.
- Não! Você é uma talentosa escritora que por alguma razão enfiou na
cabeça que não consegue mais escrever. Talvez devesse tentar yoga ou
meditação... Sabe estas terapias alternativas que ajudam a relaxar? Engraçado
como escritores são melodramáticos, exagerados, terminais. Tudo é uma
hemorragia mortal para vocês! Relaxe! A vida não é um dramalhão vitoriano.
- Yôga? Não obrigada, não tenho vocação circense, nem quero parecer
um parafuso torcido. – preferiu ignorar a parte do melodrama e da
hemorragia.
- Isso é um sorriso? Meu Deus, você está sorrindo!
Beverly riu.
- O que vai comprar, afinal? – perguntou sorrindo.
- Alguns móveis, objetos de decoração, coisas assim. O cliente quer
objetos antigos, mas não quer pagar por eles... A solução? Mercado de pulgas.
Sempre tem coisas boas por lá.
- Nancy, acha que preciso de sexo?
- O quê? E como vou saber? Você acha que precisa?
- Sei lá, o Tom me disse isso ontem.
- São uns idiotas, estes homens! Acham que tudo se resolve com uma
boa transa.
- Uns porcos – concordou a loira.
- Pensando bem, que mal há? Pode não lhe devolver a inspiração, mas
pelo menos vai lhe fazer para alma, não? – respondeu a amiga, divertindo-se.
- Vocês são dois pervertidos!
- Mas foi você quem perguntou! E gostar de sexo não tem nada a ver
com perversão. Vai dizer que virou puritana, agora?
- Claro que não! Hei, aonde vamos? O mercado de pulgas é do outro
lado.
- Eu sei, mas vou tentar um lugar diferente hoje. Fica a duas horas
daqui, espero que não se importe... Assim passeia um pouco, vê a paisagem, se
distrai.
- Que lugar novo?
- Fica em Sunset Spring, uma cidadezinha logo depois de New Haven.
Beverly não respondeu.
Pela janela, as ruas, carros e prédios passavam como borrões diante de
seus olhos.
Todos iguais, todos sem cor. Era como um sonho que se sonha tantas
vezes que não se presta mais atenção a ele. Por instantes permitiu que as
recordações passeassem soltas pelo pensamento, sua vida desfilando e
confundindo-se com a paisagem.
Reviu a emoção do primeiro livro editado, as boas criticas, o relativo
sucesso nas livrarias. Deus, como era cheia de sonhos! Depois vieram os
outros, e ela havia se deixado levar, sem perceber que era engolida pela
personagem que criara. Foram anos, debruçada sobre Lana Cartwright!
Então veio o momento de ruptura, o momento em que a escritora
dentro dela deu um basta naquele pastiche de mau gosto e assassinou Lana,
usufruindo disso certa alegria sádica, um deleite cruel e ancestral. Havia
sacrificado Lana ao deus dos escritores, esperando benesses. Mas Lana
vingara-se e ao morrer, matou também sua inspiração.
Desde aquele dia, não conseguia juntar três palavras em uma frase
decente. Mas teria sido só isso? Só a morte de Lana era suficiente para fazê-la
encobrir-se e anuviar-se daquela forma?
- Vou para Paris – anunciou Nancy, interrompendo suas reflexões.
- Fazer o quê?
- Um curso de especialização. Fui aceita por uma escola de lá... Bolsa de
50% por seis meses.
- Quando vai?
- Dentro de três ou quatro semanas. Ai, eu adoro esta musica! - Nancy
aumentou o volume – Talvez pudéssemos ir juntas, o que acha?
- Não sei... Paris? No inverno?
- Não é mais frio que aqui e depois, você sabe o que dizem... A França
é mágica. Quem sabe não encontra lá sua inspiração perdida?
- Ou um amante francês... Que seja pintor e me retrate imoralmente
nua...
- Depois eu sou a pervertida!
Beverly riu. Paris? E por que não? Nada a prendia a seu país. Não tinha
família, filhos, namorado. Ninguém a quem deixar, ninguém que sentiria sua
falta. Talvez fosse mesmo uma boa idéia, ares novos, caras novas, paisagens
novas...
- Sabe se há andorinhas em Paris?
- Não faço idéia, mas deve haver, não? Está com alguma fixação por
pássaros? Ontem falou nisso e agora outra vez.
- Não. Tive um sonho apenas... Havia milhares de andorinhas nele.
- Em Paris?
- Deixa pra lá, bobagens da minha cabeça. – respondeu, calando-se em
seguida.
***
Sunset Spring, a cidadezinha de cinco ruas, acolheu-as com indiferença.
Uma chuva fina e escorregadia deixava o asfalto das ruas como espelho e
Beverly contemplou a própria imagem distorcida, pensando no calor das
cobertas que deixara em casa.
- Vou andar por aí, ver o que encontro. Quer ir junto? – Nancy sorria
ligeiramente.
- Claro, por que não?
Uma coisa deve ser dita sobre Sunset Spring: era charmosa.
As lojas iluminadas transmitiam aconchego e vontade de se entrar nelas.
Coloridas, as fachadas bem cuidadas, parecendo casinhas de bonecas com
vitrines cercadas por vidros limpíssimos que exibiam de tudo um pouco.
- Vou comer alguma coisa, não tive tempo antes de sair. Encontro você daqui
a pouco, tudo bem?
- Claro... Estou por aí. – Nancy indicou um conjunto de lojas de moveis,
distanciando-se rapidamente.
Beverly caminhou lentamente até a cafeteria, congelando a cada passo. Odiava
o frio. Não havia andorinhas nele. Abriu a porta da loja e o delicioso aroma de
café e torta caiu como uma luva em sua alma.
Acomodou-se em uma mesa ao lado da fachada de vidro e saboreou,
deliciada, grandes garfadas de creme e cerejas, admirando a vista.
Havia sido uma boa idéia sair um pouco de casa e aquela cidade lembrava a ela
grandes romances e paixões ocultas. Um mar revolto sob a calma superfície
perfeita. Profundo e cinzento como estava o céu, como estava sua alma...
- Parece de brinquedo, não é? Uma vilazinha de contos de fada...
Ela ergueu os olhos e viu um homem alto, sobretudo cinza e sorriso franco,
olhando-a com interesse.
- Sim, parece. – respondeu sorrindo levemente.
- Benjamin Elmster. Proprietário da Elmster Livros, logo ali em frente.
- Uma livraria?
- Não apenas uma livraria, senhorita, um empório de escritos. Vendo de tudo
um pouco: poesias, recordações, pequenas anotações que pessoas fizeram e
depois esqueceram... Cartas, cartões, postais antigos e livros, naturalmente. As
palavras me fascinam... Posso me sentar?
- Claro, me desculpe. Fique a vontade.
- O que a traz a Sunset Spring, senhorita?
- Vim acompanhar uma amiga decoradora. Ela espera encontrar grandes peças
e pequenos preços por aqui.
- Ah, sim. Muitos decoradores vêm aos finais de semana. É decoradora
também?
- Não. Eu sou... ou pelo menos, costumava ser, escritora.
- Uma escritora? Como se chama? Talvez já tenha lido alguma coisa sua.
- Duvido muito, senhor Elmster. Não acho que seja seu estilo... Já ouviu falar
na Saga de Lana Cartwright?
- Você é Beverly Manson, a autora?
- O senhor conhece!
- De certo que sim! A senhorita foi cruel, livrando-se da pobre Lana daquela
forma. Mas creio que já estava cansada dela, não?
- Deus! Isso transpareceu no texto!
- Oh, não... Apenas eu tenho uma certa sensibilidade para escritos. Quase
posso perceber a intenção e emoção dos autores quando leio. Não lançou
mais nada depois disso, não é?
- Não... Costumo brincar dizendo que Lana vingou-se de mim, levando minha
inspiração para o tumulo.
- Bobagem! Escreve muito bem. Apenas precisa livrar-se do fantasma de
Lana. Venha conhecer minha loja, quem sabe encontra lá o que procura?
Assim, pode aproveitar e autografar meus exemplares de seus livros, se não se
importar, é claro.
Beverly sorriu. Havia algo naquele homem... Uma certa leveza, um
encantamento, como as pequenas brincadeiras da infância, como uma suave
magia, um feitiço feliz.
- Será um prazer, senhor Elmster.
Ele olhou-a feliz e seus olhos brilharam de forma estranha, quase como se
soubesse de algo que a moça desconhecia. Beverly viu nele o mistério de
quem já viveu muito e aquilo a seduziu.
- Gostaria de ir agora? Posso acompanhá-la, se não se importar.
- Adoraria.
Esquecida do frio e do desanimo, de Nancy e suas antiguidades, de Lana
Cartwright, de Tom e suas sugestões indecentes, sentia-se quase feliz ao cruzar
a rua de braços dados com o homem elegante.
- São andorinhas! – exclamou, olhando a placa de madeira pendurada na
fachada.
- Sim, são. Gosta delas? Aves admiráveis, com certeza.
- Nunca prestei muita atenção aos pássaros, para lhe ser sincera...
- As andorinhas são sempre um bom sinal. Significam amor, alegria, calor,
felicidade, união... Dizem alguns que carregam consigo os segredos da alma.
“Tomara que sim” – pensou a moça, cada vez mais envolvida pela sedutora
aura de Benjamin Elmster.
A loja, como havia dito o homem, era mais um empório de escritos que
propriamente uma livraria. Podiam-se passar dias naquele lugar sem se cansar
dele. Desde simples folhas de papel-, algumas amareladas, outras mais novas -
onde pessoas haviam rabiscado frases ou sensações, até coleções inteiras de
obras clássicas, tudo ali levava a pessoa a abstrair-se do mundo.
“Um templo de papéis” – pensou ela, encantada.
Beverly caminhou pelos longos corredores cheios de prateleiras, olhando aqui
e ali, lendo frases soltas, poesias, trechos de cartas. Parou em frente a uma
prateleira de onde pendiam várias folhas e leu em uma delas:
Estes contos foram escritos por mim e nenhum deles está terminado.
São como caminhos que se oferecem, mas nem todos os caminhos devem ser
percorridos. Deixe que sua alma escolha um deles.
Caso decida-se a terminar a história, jamais faça isso em outro lugar que não
estas páginas. Coisas terríveis podem acontecer.
Desejo a você boa leitura e boa viagem.
Beverly sorriu. Que lindo! Que delicia ler algo assim! Curiosa, folheou os
cadernos, um após o outro, até deparar-se com o titulo de uma história que
fez seu coração acelerar. As Andorinhas de Paris.
A narrativa envolvente contava a história de Natalie, uma menina de 16 anos
que havia se mudado para Paris há pouco tempo e que estava encantada com
a cidade e com tudo que via nela. Falava dos pais, falava da vida, das pessoas
que a garota via de sua janela, das árvores floridas que formavam tapetes
coloridos em seu jardim. Uma fábula encantadora que seduziu a alma de
Beverly e a transportou, por algum tempo, para o mundo descrito por Abgail.
Como indicava a advertência, a narrativa parava bruscamente, no seguinte
trecho:
***
CAPITULO II
***
Três da manhã de domingo.
Surpreendentemente uma noite calma nos plantões policiais. Um hiato na
violência habitual. Uma pausa para a paz mostrar-se, afinal, como algo
possível. A calma antes da tempestade.
- Hey, Dorothy, presunto novo a caminho! – avisou o policial.
- Estava demorando! Sempre desconfie da calmaria, dizia meu ex-chefe. O
que foi desta vez? Mais brigas de gangues? – perguntou a moça, pegando a
arma e o distintivo.
- Não. Pelo menos não foi a informação que mandaram. Alguém matou uma
moça lá perto da ponte do Brooklin.
Tão banal. A morte banaliza as coisas, reduz a todos à mesma indiferença, a
mesma falta de significância. Mataram uma mulher. Spencer dizia aquilo com
a mesma naturalidade com que lhe oferecia rosquinhas.
Dorothy pensou que precisava largar aquela profissão antes que ela também
perdesse a significância, igualando-se aos mortos.
- Vamos, Tony. Somos os primeiros?
- Richard Benton quem chamou, portanto...
- Oh céus! Os pesadelos nunca vêm desacompanhados, não?
Há semanas, meses, Richard a convidava para sair. Há semanas ignorava o
homem. Ele era a imagem de tudo que ela desprezava.
Mal humorado, autoritário, policial até nas horas vagas.
Não havia poesia nele! E ela precisava desesperadamente de poesia....
O frio e o vento gelado zunindo nas orelhas, Dorothy Rush e Tony Spencer,
seu parceiro, amaldiçoaram mentalmente o clima, congelando em seus casacos
de lã grossa.
As ruas úmidas espelhavam as luzes da viatura. Havia gotas de chuva no pára-
brisa, as ruas estavam desertas. Uma noite excepcionalmente boa para
cobertores e sono pesado. Eles, entretanto, não dormiam.
Nem eles nem Beverly Manson.
Agitava-se na cama, entrando naquela indefinível região entre a vigília e o
adormecer, onde imagens aparecem e somem. O sono cruelmente a
desprezava e ela o odiava por isso.
O que havia deixado de fazer? Por que não dormia?
Havia um peso em sua alma, o peso de uma consciência pesada.
Sentia que havia cometido um ato terrível, mas tudo que fizera desde que
Nancy a deixara em casa, fora entrar correndo, arrancar as roupas empilhadas
de cima do computador e escrever!
O aviso na primeira página do caderno de Abgail tomado apenas como uma
brincadeira assustadora de uma menina solitária, nem sequer passava por sua
cabeça.
Aquilo era coisa de seu subconsciente, a imbecil idéia de culpa por matar Lana
Cartwright. Sem se dar conta do que fazia, gritou para a penumbra do quarto.
- Morra Lana! Morra de uma vez e me deixe em paz!
***
- O que houve aqui, Sam? De onde saiu tanta gente? Está um frio dos diabos,
pelo amor de Deus! – Tony atravessou a faixa preta e amarela estendida pelos
policiais, suas palavras se condensando em fumaça, frente à boca.
- Tire este pessoal daqui! – gritou um homem alto, totalmente calvo com o
casado fechado até as orelhas. – Dorothy, mas que surpresa! – seus olhos
brilharam audaciosos.
Luzes vermelhas e azuis giravam na escuridão úmida da rua, os rostos da
multidão refletindo as cores das sirenes, os olhos ávidos de curiosidade
mórbida. Haveria sangue? Haveria mutilação? Teriam assunto para a manhã
seguinte?
- Oi, Richard! Noite agitada? – Tony lançou um olhar de esguelha à parceira.
- Nem tanto, mas vai ficar assim que alguém da imprensa descobrir o que
temos aqui. Liguei para você duas vezes esta semana, recebeu meus recados,
Dorothy?
- Claro – ela se movia com rapidez em direção ao vulto encoberto por lençóis
brancos. O contraste da pureza do tecido com a violência humana sempre a
tocava. O diabo estava nos detalhes, alguém havia dito.
- Por que não retornou? – ele insistia sempre, ela escapava sempre.
- Muito trabalho. Ando esgotada. – respondeu rapido – Oi, Samuel. – gritou
para o outro colega que acenou em resposta. – O que aconteceu aqui,
Richard?
- É melhor você mesma ver, não tenho como explicar. – ele levantou o lençol
e a expressão de Dorothy contraiu-se.
Cabelos dourados e bem tratados surgiram, cuidadosamente penteados,
emoldurando um rosto maquiado, pálido pela morte. Depois, um corpo
vestido apenas com uma fina e cara camisola de seda azul.
A mulher era linda!
“Tão jovem, meu Deus, tão jovem!” – pensou Dorothy com tristeza.
Não pareceria morta, não fossem os olhos. As órbitas haviam sido extraídas e
no lugar delas, alguém inserira duas gemas azuis, polidas de forma a refletirem
intensamente a luz.
Era horrível olhar para ela. Ao mesmo tempo, era difícil não se olhar.
- Meu Deus! Vou morrer nesta profissão sem ter visto de tudo! Há alguma
identidade, o legista já chegou? – perguntou a policial, bloqueando as emoções
que sentia.
Richard entregou-lhe um envelope plástico com um bilhete dentro. Letras que
pereciam desenhadas a bico de pena, rebuscadas e meticulosamente idênticas,
uniam-se em uma mensagem ainda mais sinistra:
Teus olhos são como pedras azuis, refletindo a luz das estrelas...
- Isso estava sobre o corpo, Dorothy. Nunca vi nada assim antes.
- Ah, temos um poeta! – brincou Tony Spencer, acendendo um cigarro.
- Pelo amor de Deus, quer morrer? Sabe quantas pessoas morrem vitimas do
tabagismo por ano apenas aqui em Nova York? – Richard atirou o cigarro
longe.
Poesia! Deus, ela ansiava por poesia! Dorothy olhou novamente para as
pedras azuis que luziam forte, ignorando que era a única coisa viva naquela
mulher.
- Pode cobri-la, Richard – sua voz era quase uma súplica.
- Não há traços de violência, alguma idéia de como a moça morreu?
- Nada. Nem marcas, nem ferimentos. Só depois da autopsia.
Dorothy olhou em volta e sentiu um calafrio estranho, como se o mal se
aproximasse perigosamente dela.
- O que acha, tenente? Temos um serial killer em mãos?
- Um prato cheio para os jornais, isso sim. Esperemos que seja um louco de
um ato só! – Richard Benton passou a mão pela cabeça, preocupado.
- Vá sonhando, Richard, vá sonhando – disse o médico abaixando-se ao lado
do corpo. – Este é apenas o primeiro de uma série. Aposto meus pirulitos
nisso.
Archibald Webster, médico legista, 58 anos, gordo e baixo, mostrou o bolso
cheio de doces. Eram seu único vício, os pirulitos.
- Me pergunto que tipo de louco faz uma coisa dessas. – Dorothy não
conseguia para de pensar nas pedras cintilantes. – E olha que já loucos de
todos os tipos.
- Um tipo muito rico, estas gemas custam uma pequena fortuna. – Arch olhou
o corpo e depois deixou os fotógrafos terminarem o trabalho.
- Bom, vou para o necrotério, vejo vocês lá.
- E eu vou andar por aí, ver o que descubro – Spencer afastou-se,
aproveitando para acender mais um cigarro.
- Teus olhos são como pedras azuis, refletindo a luz das estrelas... Onde já ouvi isso? Sei
que conheço esta frase. – Dorothy raciocinava em voz alta. Sempre fazia isso
para colocar as idéias no lugar.
- Pelo menos nunca lhe disse isso, embora seja verdade... – disse Richard
olhando-a com carinho.
Dorothy riu. Era melhor levar aquilo com humor. Algo lhe dizia que ainda
ficariam um bom tempo trabalhando em conjunto, portanto quanto mais
tranqüila ficasse, mais fáceis seriam seus dias.
“Teus olhos são como pedras azuis, refletindo a luz das estrelas”... a frase dava voltas
em sua cabeça. E teus lábios, rubis incandescentes fazendo arder meu coração!
- É um poema! – ela quase gritou – Não me lembro o autor agora, mas devo
ter em algum livro, em casa:
Teus olhos são como pedras azuis, refletindo a luz das estrelas
E teus lábios, rubis incandescentes fazendo arder meu coração.
Por que foges, minha bela,
Se apenas para ti são meus dias?
- Não sabia que gostava de poesias, querida. Quer um pirulito?
- Não, Arch, obrigada... Vou embora também, a perícia já chegou.
Richard olhou-a enquanto se afastava, os olhos grudados no traseiro da moça.
Como era gostosa aquela mulher!
***
Longe dali, Beverly finalmente adormecera.
Desta vez, não havia andorinhas em seus sonhos, mas a figura incerta de um
homem que se aproximava dela de maneira imperiosa, fazendo seu coração
disparar.
E ela o queria desesperadamente.
***
SOBRE A AUTORA:
Obras Infanto-Juvenis:
Tristin McKey e o Mistério do Dragão Dourado - Elizabeth Carrol
Tristin McKey e a Sala dos Rumores - Elizabeth Carrol.
E-books:
Coração Cigano – Laura Lyas
Indaí – Laura Lyas
As Andorinhas de Paris – Laura Lyas