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BRASIL, Érica
Graduanda de Jornalismo no UniFIAMFAAM
erica.brasil@ibest.com
PESSONI, Arquimedes
Doutor em Comunicação Social e professor do UniFIAMFAAM
arquimedes.pessoni@gmail.com
RESUMO
A anorexia e a bulimia nervosas vêm se destacando como síndromes do mundo
ocidental. Na busca de corpos estereotipados, apontados como ideal de beleza, as
mulheres acabam por desenvolver esses transtornos alimentares – muitas vezes mortais
– privando-se dos princípios básicos da alimentação saudável. A proposta da presente
pesquisa foi verificar se as adolescentes, que estão na faixa etária de maior incidência
dos citados transtornos, recebiam alguma informação sobre o assunto nas revistas
Atrevida, da Editora Símbolo e Capricho, da Editora Abril. Para tanto, foi feito um
recorte temporal nessas publicações buscando apontar a presença do tema. A
metodologia ou procedimento analítico usado nesta pesquisa foi uma combinação entre
entrevistas e análise de conteúdo, em aspectos qualitativos e quantitativos.
Palavras-chave: anorexia; bulimia; mídia de massa; beleza; comportamento.
Introdução
A proposta desta pesquisa foi verificar se a faixa etária de maior incidência de
Anorexia (AN), na qual também ocorre a Bulimia (BN), recebe alguma informação
sobre o assunto nas revistas Atrevida, da Editora Símbolo e Capricho, da Editora Abril.
Foi feito um recorte temporal nessas publicações buscando apontar a presença do tema.
A Atrevida tem periodicidade mensal, enquanto a Capricho é quinzenal. Os
critérios de escolha basearam-se nas vendas em banca e na tiragem. O período escolhido
para estudo coincidiu intencionalmente com o das mortes das seis jovens brasileiras por
complicações da anorexia e bulimia (entre novembro de 2006 e janeiro de 2007), para
então ser possível a análise da cobertura dos fatos, bem como do feedback do público.
Portanto, foram eleitos os meses de novembro de 2006 a março de 2007, totalizando 10
exemplares da Capricho e 5 da Atrevida.
Disponível em:
(http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=415MON001).
X Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde - ComSaúde 2007.
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A anorexia
A anorexia nervosa pode ser definida como um transtorno do comportamento
alimentar no qual encontramos restrições dietéticas auto-impostas e padrões
extravagantes de alimentação, acompanhados de acentuada perda de peso. Essa perda
ponderal, além de ser induzida, é também mantida pelo paciente em virtude de
apresentar um temor intenso e injustificável de engordar e de se tornar obeso a qualquer
momento (SILVA: 2005, p. 53).
De acordo com Silva (2005: p.55), a anorexia (AN) acomete sobretudo
adolescentes e adultos entre 10 e 30 anos, destacando a faixa etária dos 12 aos 16 anos
como a de maior incidência. Anoréxicas buscam sempre dissimular seu comportamento
alimentar. Sem qualquer crítica, têm uma visão distorcida de seus corpos, achando-se
sempre gordas, mesmo estando magras aos olhos de qualquer outra pessoa.
A bulimia
A bulimia nervosa (BN) costuma aparecer mais tardiamente que a AN: do fim da
adolescência até os 40 anos de idade, com maior incidência entre os 18 e 23 anos nas
mulheres, as mais atingidas. A doença se caracteriza por episódios de ingestão de
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grande quantidade de comida, muito mais que qualquer pessoa comeria normalmente e
nas mesmas circunstâncias, conhecidos por binge-eating, “orgia alimentar” ou
hiperfagia, acompanhados por perda de controle, culpa, vergonha e ações
compensatórias. O psiquiatra Geraldo Ballone disponibiliza em seu site, o PsiqWeb,
informações sobre diversos transtornos psicológicos, dentre eles a bulimia. Lá, ressalta
que o binge-eating acontece em um período limitado de tempo, que costuma ser menos
de duas horas, no qual se come até atingir o desconforto físico. Beliscar o dia inteiro ou
comer a mais em uma festividade dificilmente configurariam esses episódios de
compulsão, portanto provavelmente não se trataria de um episódio de bulimia. Silva
esclarece eventuais confusões entre a AN e a BN:
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celebridades. Apenas uma singela bonequinha desenhada com traços bem rudimentares,
pendurada da mesma forma que o boneco do jogo da forca sobre a palavra anorexia.
Fechando o quadro, a postura evidente da revista: “milhares de garotas brasileiras
acreditam que a doença é sua melhor amiga. Você não precisa ser uma delas”.
A reportagem principal dessa edição da Capricho, “Game Over – O jogo
diabólico da anorexia” (Capricho, novembro de 2006, 2ª quinzena, pg. 96), é dedicada a
duas vítimas de anorexia, identificadas pelos codinomes Sara e Nana.
Em entrevista concedida para o presente estudo, a jornalista Marina Bessa,
editora da Capricho e autora de “Game Over...”, relembra como foi a produção da
matéria:
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abordar o assunto, mas sem sensacionalismos, reservando outro espaço da revista para
falar sobre a modelo. O caráter educativo se destaca porque o texto contempla fontes
médicas de todas as especialidades envolvidas no tratamento da anorexia.
Argüida sobre qual seria o ideal de beleza da Capricho para as suas leitoras,
Marina traz novidades que deixariam Alberto Dines um pouco mais satisfeito:
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mais indireta: como se vestir com o corpo que ela tem, como fazer uma maquiagem
com a pele que ela tem, ver se é realmente o caso de fazer uma dieta, etc”3.
A jornalista e pesquisadora Rita Trevisan também contribuiu para este trabalho
concedendo preciosa entrevista. Nela, Rita nos atualiza acerca de iniciativas da revista
em prol do desenvolvimento da auto-estima de suas leitoras:
O constante status de alerta, citado por Marina e eleito por ela como
fundamental para que se produzam conteúdos mais responsáveis na mídia brasileira, é
complementado pelos dizeres de Rita. Ela também comenta sobre a responsabilidade da
mídia na propagação de ideais de beleza:
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Escala. Rita alerta que, do ponto de vista estrutural, não sofreu nenhuma alteração em
seu projeto editorial.
Eu não sei até hoje porque entrei no curso de modelo, acho que as
modelos eram minha inspiração pra emagrecer. Ninguém mandava eu
emagrecer, mas eu me comparava muito com as outras meninas
magrelas e essa era a pressão para emagrecer: a que eu fazia em mim
mesma. Não consegui trabalhos, eu estava horrível, talvez mais magra
que uma modelo, além de eu não ser tão alta para seguir carreira6.
Hoje, aos 19 anos, Daniela ainda se preocupa com a aparência. Mas depois de ter
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passado por um ano de tratamento multidisciplinar, com remédios que inclusive davam
sono e provocaram queda em seu outrora excelente desempenho escolar, sabe os
limites. Mas sua única irmã, hoje com 15 anos, enfrenta o mesmo problema: também
está com anorexia. Mais um argumento a favor dos cientistas/médicos que defendem o
caráter genético da anorexia. Daniela nos contou como se comportava quando estava
doente:
Ela afirma que a irmã a chama de “fraca” por ter cedido ao tratamento. Comenta
que a maior diferença entre o comportamento das duas é o uso de laxantes: só a irmã faz
uso deles. Além disso, a caçula está muito mais resistente ao tratamento que Daniela.
No caso das irmãs, mais uma vez, fica evidenciada a nocividade dos sites pró-ana e pró-
mia.
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coisas. (...) A maioria das atitudes são iguais, mas a minha irmã toma
laxantes, e isso eu nunca tomei. Já chegou a tomar 11 por dia. Mas a
automutilação por culpa de ter comido é a mesma (esse foi um dos
fatores que fez eu descobrir a doença dela) e a necessidade de contar
calorias e entrar em sites também. O pensamento de ser gorda é igual8.
Conclusão
Nesta pesquisa concluímos que, embora haja toda uma carga de responsabilidade
que pode ser atribuída à mídia, no que se refere à propagação de transtornos alimentares
como a anorexia e a bulimia, iniciativas louváveis vêm sendo tomadas. Nas duas
publicações analisadas, a Capricho e a Atrevida, devemos considerar que fizemos
apenas um pequeno recorte temporal, que não representa necessariamente a essência das
revistas. Para isso, seria necessário um recorte temporal muito maior, e que atingisse
diferentes anos da história. Mas esse não era o objeto de nosso estudo.
Constatamos que, para as adolescentes e quem mais se interessar, há muita
informação disponível sobre anorexia e bulimia, tanto em mídia impressa, como
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Referências
– Entrevistas
Marina Bessa
Entrevista concedida em 1º de novembro de 2007.
Rita Trevisan
Entrevista concedida em 30 de outubro de 2007.
Daniela Aidar
Entrevista concedida em 06, 07 e 08 de setembro de 2007.
– Livros
KRIPPENDORF, K. Metodologia de analisis de contenido. Teoria y prática.
Barcelona: Paidós Comunicación/n.39, 1ª edição – Espanha, 1997.
WOLF, Naomi. O mito da beleza: como imagens de beleza são usadas contra as
Disponível em:
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– Revistas
BESSA, Marina. Game Over, o Jogo Diabólico da Anorexia. Revista Capricho, São
Paulo, 2ª quinzena de novembro, 2006.
AIDAR, Daniela. Tive anorexia e dei a volta por cima. Revista Atrevida, São Paulo,
janeiro, 2007.
MEDINA, Alessandra. O amor está no ar. Revista Atrevida, São Paulo, dezembro,
2006.
-Sites
BALLONE, Geraldo. Bulimia Nervosa. Disponível em: PsiqWeb
http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=225&sec=94. Acesso em: 13/10/2007.
DINES, Alberto. Ela conseguiu ser capa de revista: quando morreu. Site
Observatório da Imprensa, 21/11/2006. Disponível em:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=415MON001. Acesso em:
10/01/2007.
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