Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
– A ordem da caridade.
Para expressar a relação que os seus discípulos devem manter com Ele,
relação que é o fundamento de qualquer outra unidade, o Senhor falou-nos da
videira e dos ramos: Eu sou a verdadeira vide1. No vestíbulo do Templo de
Jerusalém, podia-se ver uma imensa vide dourada, que era o símbolo de Israel;
Jesus, ao afirmar que Ele é a verdadeira vide, diz-nos que esse símbolo era
provisório e meramente figurativo.
A união com Cristo é a que fundamenta a unidade viva dos irmãos entre si; a
mesma seiva percorre e fortalece todos os membros do Corpo Místico de
Cristo. Os Actos dos Apóstolos relatam-nos que os primeiros cristãos
perseveravam unânimes na oração4, e que todos os que criam viviam unidos,
tendo todos os seus bens em comum; pois vendiam as suas terras e haveres e
os distribuíam entre todos, segundo a necessidade de cada um 5. A fé em Cristo
trazia consigo – e traz – umas consequências práticas em relação aos outros:
uma mesma comunhão de sentimentos e uma disposição de desprendimento
que se manifesta na renúncia generosa aos bens pessoais em benefício dos
que se encontram mais necessitados. A fé em Jesus Cristo move-nos – como
aos primeiros cristãos – a tratar-nos fraternalmente, a ter cor unum et anima
una6, um só coração e uma só alma.
São Lucas escreve ainda noutra passagem dos Actos dos Apóstolos:
Perseveravam assiduamente na doutrina dos Apóstolos e na comunhão
fraterna, na fracção do pão e nas orações7. A nossa oração diária e, sobretudo,
a união com Cristo na Eucaristia – a fracção do pão – “deve manifestar-se na
nossa existência quotidiana – acções, conduta, estilo de vida – e nas relações
com os outros. Para todos nós, a Eucaristia é um apelo ao esforço crescente
por chegarmos a ser autênticos seguidores de Jesus: verazes nas palavras,
generosos nas obras, com interesse e respeito pela dignidade e direitos de
todas as pessoas – seja qual for a sua categoria social ou as suas posses –,
sacrificados, honrados e justos, amáveis, ponderados, misericordiosos [...]. A
verdade da nossa união com Jesus Cristo na Eucaristia ficará patente se
soubermos amar verdadeiramente os nossos companheiros [...], no modo de
tratarmos os outros e em especial os nossos familiares [...], na vontade de nos
reconciliarmos com os nossos inimigos, de perdoar os que nos ferem ou
ofendem”8.
II. UMA GARANTIA CERTA do espírito ecuménico é esse amor com obras
pela unidade interna da Igreja, porque “como se pode pretender que os que
não possuem a nossa fé venham para a Igreja Santa, se contemplam o
desabrido trato mútuo dos que se dizem seguidores de Cristo?”9
III. DIANTE DE UM PERIGO físico, o homem tende como que por instinto a
proteger a cabeça; é o que nós, cristãos, devemos fazer quando vemos
ameaçada a Igreja: amparar o Romano Pontífice e os bispos, no âmbito em
que nos desenvolvemos, quando surgem críticas ou calúnias, quando são
menosprezados... O Senhor alegra-se e abençoa-nos sempre que, na medida
em que estiver ao nosso alcance, defendemos o seu Vigário na terra e os que,
como os bispos, partilham da tarefa pastoral. E como a unidade é algo que se
constrói dia a dia, rezaremos diariamente com amor e piedade pelos Pastores
e em primeiro lugar pelo Papa: Dominus conservet eum et vivificet eum, et
beatum faciat eum in terra... Que o Senhor o conserve e o vivifique e o faça
feliz na terra...
(1) Jo 15, 1; (2) Jo 15, 4-6; (3) S. Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, Quadrante, São Paulo,
1978, n. 254; (4) Act 1, 14; (5) Act 2, 44-45; (6) At 4, 32; (7) At 2, 42; (8) João Paulo II, Homilia
no Phoenix Park, 29-IX-1979; (9) S. Josemaría Escrivá, Sulco, Quadrante, São Paulo, 1987, n.
751; (10) Paulo VI, Alocução, 31-III-1965; (11) cfr. Jo 13, 35; (12) cfr. Santo Agostinho,
Comentário sobre o Salmo 44; (13) Gal 6, 20; (14) 1 Pe 2, 17; (15) Paulo VI, ib.; (16) S.
Josemaría Escrivá, Sulco, n. 902; (17) Santo Agostinho, Carta 73; (18) São Bernardo, Sermão
49 sobre o Cântico dos Cânticos.