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O advogado Leandro Scalabrin foi o primeiro a denunciar o pedido do Ministério Público Estadual de extinção do MST.
“O RS vive um
Estado de Exceção”
Ações do governo gaúcho retomam métodos das ditaduras
militares brasileira e chilena.
Resistência
políticas de sucateamento e extermínio das áreas
sociais do Estado, como também o ataque frontal
aos nossos direitos, era fortalecermos a denúncia
do tema da corrupção e enfraquecermos o gover-
no campo e na cidade
no a ponto de ele não ter força para votar projetos
na Assembleia Legislativa que atacassem os direi-
tos dos trabalhadores”, explica.
Ainda conforme Rejane, após as denúncias de
corrupção tomarem grandes proporções no Esta-
do, os sindicatos e movimentos sociais passaram
Em 2009, foram mais de dez protestos contra Southal, em São Gabriel, na fronteira oeste. O as- a ser perseguidos. “Todas as denúncias que nós
o governo de Yeda Crusius (PSDB). As manifesta- sassinato do sem-terra faz parte de uma política de fizemos geraram, por parte do governo, grandes
ções pediam desde o esclarecimento sobre casos repressão que levou a Brigada Militar a ser a única mecanismos de tentar calar a voz do movimento
de corrupção envolvendo o governo até o impe- polícia do país a não adotar as “Diretrizes Nacio- através de ações na Justiça, indiciamentos, perse-
dimento da governadora. Tem sido assim ao lon- nais para Execução de Mandados Judiciais de Ma- guições políticas, ameaças e a instituição do medo
go dos três anos de governo. Em um dos protestos nutenção e Reintegração de Posse Coletiva”, pro- nos locais de trabalho. Isso fez com que o go-
mais contundentes contra a governadora, orga- postas pela Ouvidoria Agrária Federal. Antes disso, verno evitasse o processo de mobilização”. Mas
nizado pela Via Campesina em 2008, mais de 17 em 2007, Yeda extinguiu o Gabinete da Reforma a pressão do governo não teve o efeito desejado.
pessoas ficaram feridas. Na ocasião, cerca de 400 Agrária da Secretaria Estadual de Agricultura, dei- Neste ano, o CPERS protagonizou o movimento
policiais militares da Tropa de Choque da Brigada xando claro que no estado a Reforma Agrária se “Fora Yeda”, que percorreu as cidades do estado
Militar (a polícia militar gaúcha) foram mobiliza- tratava apenas de um caso de polícia. para denunciar os casos de corrupção. Uma pes-
dos para reprimir três mil manifestantes. Para tentar conter o avanço dessas determina- quisa realizada pelo Fórum dos Servidores Públi-
Em julho de 2009, uma manifestação organi- ções, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem cos mostrou que 94% dos 94 mil pesquisados afir-
zada pelo Fórum dos Servidores Públicos do Rio Terra (MST) aposta na educação como um meio maram que a governadora Yeda é culpada pelos
Grande do Sul, em frente à casa da governadora, de resistência. Nina Tonin, da coordenação esta- casos de corrupção no Estado.
expôs o lado autoritário de Yeda Crusius. Na oca- dual do MST, acredita que a educação é um dos A administração tucana no RS também ten-
sião, a chefe do executivo acusou os professores instrumentos mais eficazes para resistir às políti- ta desmontar a legislação ambiental do Estado.
de “torturadores de crianças”. Além disso, a po- cas excludentes do governo Yeda Crusius. “Nós Atualmente, tramita na Assembléia o projeto de
lícia gaúcha algemou e deu voz de prisão à pre- defendemos a necessidade do conhecimento para lei 154/2009, de autoria do deputado Edson Brum
sidente do Sindicato dos Professores do Estado os trabalhadores e mesmo com o fechamento das (PMDB), que flexibiliza o Código Ambiental e be-
(CPERS-Sindicato), Rejane de Oliviera e à verea- escolas pela governadora, e a repressão aos movi- neficia o agronegócio. Para tentar reverter esse
dora Fernanda Melchionna (Psol). mentos sociais populares, em condições mais pre- quadro, ambientalistas, sindicatos e os movimen-
As manifestações representam o descontentamen- cárias nós temos recebido apoio de entidades e tos sociais se uniram para discutir a situação. De
to de grande parte da população gaúcha, que não de movimentos sociais em geral, para garantir as acordo com o ambientalista Felipe Amaral, a par-
concorda com as políticas de “choque de gestão” do condições mínimas de escolarização nos acampa- tir da organização desses setores foi possível levar
governo Yeda. Um governo que começou contrarian- mentos, e seguimos nesse processo. Também te- para a sociedade informações a respeito das inten-
do a expectativa dos seus eleitores ao tentar aumentar mos criado e aberto outros espaços formativos e ções do governo. “Quando a gente identificou essa
impostos antes mesmo de assumir o mandato. educativos formais e informais como nunca na estratégia do governo, os ambientalistas buscaram
A oposição na Assembleia Legislativa tenta re- história do MST. Nesses 25 anos nunca tivemos articulação com outros setores da sociedade. Uma
sistir aos projetos que chegam do Executivo e que tantos camponeses e camponesas jovens e adul- das características que a gente vem construindo é
priorizam as grandes empresas em detrimento dos tos estudando de alguma forma para que o campo a articulação com os movimentos sociais urbanos e
interesses da população. No entanto, há uma difi- gaúcho seja um lugar bom de se viver.” do campo na tentativa de fortalecer a luta dos am-
culdade da oposição em combater e investigar as O setor que mais sofreu com as políticas de bientalistas. Essa perspectiva de trabalhar em bloco
ações do governo. Para o deputado Raul Pont (PT), “choque de gestão” foi justamente a educação. Em com os movimentos sociais e sindicatos, possibili-
a CPI da Corrupção não conseguiu cumprir seu pa- 2008, a Secretaria da Educação colocou em práti- tou que a gente desse uma maior visibilidade para
pel, pois a maioria de seus integrantes é da base ca o projeto de “enturmação”, em que turmas fo- a discussão ambiental,” relata.
governista. “Os membros da comissão taparam os ram extintas para a formação de salas de aulas com Os metalúrgicos também criticam o governo
ouvidos, se recusaram a ouvir provas. Então, foi a mais alunos nas escolas. Ainda neste mesmo ano, por não propor políticas de alternativa à crise fi-
Anticomissão Parlamentar de Inquérito quando os o governo alugou contêineres de lata para suprir a nanceira mundial. Conforme o secretário geral da
próprios parlamentares se recusaram a ter acesso às falta de salas de aula. Escolas que funcionavam em Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul,
provas é porque aquilo foi uma farsa”, denuncia. prédios antigos, que precisavam de reformas, fo- Jairo Carneiro, desde o início da crise, o estado
Segundo Raul Pont, outra forma da oposição ram substituídas pelas “escolas de lata”. Até o mo- perdeu 50 mil postos de trabalho. Para ele, o go-
contestar as políticas e as ações do governo, é de- mento, uma ação que deveria ser emergencial, se verno não enfrentou a crise com a seriedade ne-
nunciar para a imprensa suas falhas e contradições. transformou em uma rotina insalubre para profes- cessária. “Nós observamos que é uma administra-
Entretanto, conforme Pont, a grande imprensa não sores e estudantes, em diversas cidades do estado. ção que fica se gabando do déficit zero, mas fazer
repercute as denúncias, e mais do que isso, dissemi- A presidente do CPERS, Rejane de Oliveira, afir- déficit zero é fácil, pois é só não investir, não
na a versão oficial. “A política neoliberal do gover- ma que o governo representa o projeto neoliberal. pagar aumento salarial dos trabalhadores. Mas,
no só não é desmascarada para quem não conhece Para ela, a proposta de Yeda tem na sua matriz o ao mesmo tempo em que se gaba do déficit zero,
e graças à cumplicidade dos meios de comunicação ataque aos direitos dos trabalhadores, a corrupção o executivo concede incentivos para a GM. Até
que sustentam a versão do governo”, afirma. e a criminalização dos movimentos sociais. “Nós quando essas empresas vão ficar sem pagar im-
Em agosto do ano passado o sem-terra Elton tomamos uma decisão política de fazer o enfrenta- postos? A GM faz 10 anos que não paga e agora
Brum da Silva foi assassinado em uma ação da Bri- mento político com este governo. Entendemos que vai ficar mais 15?”, questiona.
gada Militar de reintegração de posse da Fazenda a única forma que o movimento tinha de barrar as Bianca Costa e Roberto Dornelles são jornalistas.