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– No caminho de Damasco.
– Ânsia de almas.
A festa da conversão do “Apóstolo das Gentes” encerra o oitavário pela unidade dos
cristãos. A graça de Deus converte São Paulo de perseguidor dos cristãos em mensageiro de
Cristo. Este fato ensina-nos que a fé tem a sua origem na graça e se apoia na livre
correspondência humana, e que o melhor modo de acelerar a unidade dos cristãos consiste
em fomentar todos os dias a conversão pessoal.
Muitas vezes, talvez quando mais longe estávamos, o Senhor quis voltar a
entrar profundamente na nossa vida e manifestou-nos esses planos grandes e
maravilhosos que tem sobre cada homem, sobre cada mulher. “Deus seja
louvado!, dizias de ti para ti depois de terminares a tua Confissão sacramental.
E pensavas: é como se tivesse voltado a nascer.
A vida de São Paulo é um apelo à esperança, pois “quem dirá, sob o peso
das suas faltas: «Eu não posso vencer-me», quando [...] o perseguidor dos
cristãos se transformou em propagador da doutrina deles?”11 Essa mesma
eficácia continua a operar hoje nos corações. Mas a vontade do Senhor de
curar-nos e converter-nos em apóstolos no lugar onde trabalhamos e onde
vivemos precisa da nossa correspondência; a graça de Deus é suficiente, mas
é necessária a colaboração do homem, como no caso de São Paulo, porque o
Senhor quer contar com a nossa liberdade. Comentando as palavras do
Apóstolo – não eu, mas a graça de Deus em mim –, Santo Agostinho sublinha:
“Quer dizer, não eu sozinho, mas a graça de Deus comigo; e, por isso, nem a
graça de Deus sozinha, nem ele só, mas a graça de Deus com ele”12.
Sei em quem acreditei... Por Cristo, Paulo enfrentará riscos e perigos sem
conta, sobrepor-se-á continuamente à fadiga, ao cansaço, aos aparentes
fracassos da sua missão, aos temores, desde que possa conquistar almas para
Deus. Cinco vezes recebi dos judeus quarenta açoites menos um; três vezes
fui açoitado com varas; uma vez fui apedrejado; três vezes naufraguei; um dia
e uma noite passei perdido no alto mar. Nas minhas frequentes viagens, sofri
perigos de rios, perigos de ladrões, perigos dos da minha raça, perigos dos
gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre
falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias prolongadas, em fome e em
sede, em frequentes jejuns, no frio e na nudez. E além dessas coisas, que são
exteriores, tenho os meus cuidados de cada dia: a preocupação por todas as
igrejas. Quem desfalece que eu não desfaleça? Quem é escandalizado que eu
não me abrase?17
Paulo centrou a sua vida no Senhor. Por isso, apesar de tudo o que padeceu
por Cristo, poderá dizer no fim da sua vida, quando se encontrar quase sozinho
e um pouco abandonado: Estou inundado de alegria em todas as minhas
tribulações... A felicidade de Paulo, como a nossa, não consistiu na ausência
de dificuldades, mas em ter encontrado Jesus e em tê-lo servido com todo o
coração e com todas as forças.
(1) 2 Tim 1, 12; 4, 8; Antífona de entrada da Missa do dia 25 de Janeiro; (2) cfr. Act 7, 60; (3)
cfr. Santo Agostinho, Sermão 315; (4) Act 9, 2; (5) Act 8, 4; (6) Act 9, 3-5; (7) Act 22, 10; (8)
São Josemaría Escrivá, Forja, n. 238; (9) Gal 2, 20; Antífona da comunhão, ib.; (10) 1 Cor 15,
8-10; (11) São Bernardo, Primeiro sermão sobre a conversão de São Paulo, 1; (12) Santo
Agostinho, Sobre a graça e o livre arbítrio, 5, 12; (13) Santa Teresa, Vida, 10; (14) Liturgia das
Horas, Segunda leitura; São João Crisóstomo, Segunda homilia sobre os louvores de São
Paulo; (15) Mc 16, 15; (16) João Paulo II, Homilia, 25-I-1987; (17) 2 Cor 11, 24-29; (18) Oração
colecta, ib.