Sunteți pe pagina 1din 95

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO JORNALISMO

JORNALISMO E INTERATIVIDADE: DISCUSSÕES


ACERCA DA PRODUÇÃO DE CONTEÚDO PELO
PÚBLICO EM REDES DIGITAIS

MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DE CURSO

Stefanie Carlan da Silveira

Santa Maria, RS, Brasil


2007
JORNALISMO E INTERATIVIDADE: DISCUSSÕES ACERCA
DA PRODUÇÃO DE CONTEÚDO PELO PÚBLICO EM REDES
DIGITAIS

por

Stefanie Carlan da Silveira

Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de


Comunicação Social – Habilitação Jornalismo, do Centro de
Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo.

Orientadora: Profª. Drª. Luciana Pellin Mielniczuk

Santa Maria, RS, Brasil


2007
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a


Monografia de Conclusão de Curso

JORNALISMO E INTERATIVIDADE: DISCUSSÕES ACERCA DA


PRODUÇÃO DE CONTEÚDO PELO PÚBLICO EM
REDES DIGITAIS

elaborada por
Stefanie Carlan da Silveira

como requisito parcial para obtenção do grau de


Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo

COMISSÃO EXAMINADORA

Luciana Pellin Mielniczuk, Profª. Drª. (UFSM)


(Presidente/Orientadora)

Rondon Martim Souza de Castro, Prof. Dr. (UFSM)

Alex Fernando Teixeira Primo, Prof. Dr. (UFRGS)

Santa Maria, 05 de março de 2007.


“É necessário que os cidadãos ativos que desejam melhorar este serviço
público crucial que são os veículos de comunicação, que os futuros jornalistas
atualmente nos bancos escolares, que os jornalistas em atividade, submetidos
frequentemente a pressões ilegítimas, que os patrões da mídia, conscientes da
rentabilidade de uma mídia de qualidade, saibam que existe todo um arsenal
de armas pacíficas, capazes de garantir ao mesmo tempo a liberdade e a
excelência dos meios de comunicação”.

Claude-Jean Bertrand
AGRADECIMENTOS

Agradeço à Universidade Federal de Santa Maria e ao Curso de


Comunicação Social que me ofereceram a oportunidade de um ensino superior
público, gratuito e de qualidade.

Aos professores que tive durante estes quatro anos, pela amizade e pelo
aprendizado oferecido durante a graduação.

A minha orientadora, professora Luciana Mielniczuk, pela atenção, pela


paciência, pelo incentivo e por ser responsável pelo meu crescimento ao longo
do Curso e da produção deste trabalho. E, além disso, também por ser uma
amiga e conselheira muito especial.

A minha mãe e ao meu pai pelo grande amor, eterno incentivo e por
serem responsáveis pela educação que recebi. Também lhes agradeço por
terem agüentado meus momentos de nervosismo ao longo do final do curso,
sempre me apoiando e dando força nas vitórias e derrotas da minha
caminhada.

Ao Jimmy pelo amor incondicional, pela inocência, pelo aprendizado que


sempre me proporciona e por ser responsável por incalculáveis momentos de
felicidade.

Ao João, pelo amor, carinho, paciência, apoio e compreensão que


sempre teve comigo. Obrigada por me fazer uma pessoa melhor a cada dia.

A minha família e a todos os meus amigos verdadeiros que contribuíram


de alguma forma nas suas passagens pela minha vida.

A Deus Pai, por me dar forças em todos os momentos, por ser o refúgio
de paz sempre presente e ser o autor da minha vida.
RESUMO
Monografia de Conclusão de Curso
Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo
Universidade Federal de Santa Maria

JORNALISMO E INTERATIVIDADE: DISCUSSÕES ACERCA DA PRODUÇÃO


DE CONTEÚDO PELO PÚBLICO EM REDES DIGITAIS

A UTORA : STEFANIE C ARLAN DA S ILVEIRA


O RIENTADORA : L UCIANA P ELLIN M IELNICZUK
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 05 de março de 2007

O objetivo deste trabalho é mostrar quais as principais mudanças que


ocorrem no jornalismo praticado em redes digitais a partir de uma maior
participação do público na produção de conteúdo, motivada pelo
desenvolvimento da Internet. Sendo assim, explica-se o que é interatividade e
quais as ferramentas que são utilizadas para a sua efetivação na rede. Além
disso, faz-se uma discussão acerca da segunda geração da Internet, ou web
2.0, e mostra-se quais suas principais características e serviços. Este estudo
caracteriza-se por uma pesquisa bibliográfica e pelo método da análise dos
meios, que abordam aspectos da produção de conteúdo participativo. Toma-se
a produção de conteúdo jornalístico pelo público como uma potencialização da
interatividade em publicações presentes na rede, que ocorre em função de
aspectos tecnológicos e, também, pela heterogeneidade da Internet, vista
como uma rede híbrida. Por último, apresentam-se algumas das mudanças na
prática jornalística de redes digitais, através de oito exemplos. Toma-se uma
amostra de publicações que funcionam com a participação do público, sendo
elas: OhMyNews, Slashdot, Digg, Linkk, VozDiPovo, sosperiodista, Brasil Wiki
e Wikinews, apresentadas em um quadro comparativo com as principais
características desses sites, onde se analisam essas categorias em dois níveis
de discussão, um menos (A) e outro mais profundo (B). No segundo nível,
discutem-se as características "Seleção" e "Edição", ligadas à rotina
tradicional de produção jornalística. Além disso, também se elabora uma
análise acerca da interatividade do hipertexto dessas publicações. Por fim, são
apresentadas discussões, acerca dos termos jornalismo participativo, cidadão
e de fonte-aberta.

Palavras-chave: interatividade; jornalismo digital; participação; web 2.0.


LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 3

TABELA 1 – Representação simplificada das categorias “Remuneração” e


“Cadastro” ....................................................................................... 54
TABELA 2 – Representação simplificada da categoria “Recursos da web 2.0”
........................................................................................................ 54
TABELA 3 – Representação simplificada da categoria “Seleção” ............. 60
TABELA 4 – Representação simplificada da categoria “Edição” ............... 64
LISTA DE QUADRO

QUADRO 1 – Exemplos de publicações participativas e suas características


........................................................................................................ 52
LISTA DE ANEXOS

ANEXO A - OhMyNews International .............................................. 87


ANEXO B - Slashdot ...................................................................... 88
ANEXO C - Digg ............................................................................ 89
ANEXO D - Wikinews ..................................................................... 90
ANEXO E - VozDiPovo ................................................................... 91
ANEXO F - Linkk ............................................................................ 92
ANEXO G - Brasil Wiki ................................................................... 93
ANEXO H - sosperiodista ............................................................... 94
SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................. 5
ABSTRACT .............................................................................................. 6
LISTA DE TABELAS ................................................................................ 7
LISTA DE QUADRO ................................................................................. 8
LISTA DE ANEXOS .................................................................................. 9

INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12

1 PROCESSOS INTERATIVOS NO JORNALISMO DE REDES DIGITAIS . 15


1.1 Conceituando interatividade ............................................................. 16
1.2 Elementos envolvidos nos processos multi-interativos .................. 19
1.2.1 Máquina ........................................................................................... 20
1.2.2 Interface gráfica ............................................................................... 21
1.2.3 Interagente ....................................................................................... 22
1.3 Ferramentas para a configuração da interatividade ......................... 25

2 A SEGUNDA GERAÇÃO DA INTERNET E A POTENCIALIZAÇÃO DA


INTERATIVIDADE ................................................................................. 28
2.1 A segunda geração da Internet ou web 2.0 ...................................... 28
2.1.1 A Internet como plataforma .............................................................. 31
2.1.2 Dados são o próximo “Intel Inside” ................................................... 32
2.1.3 Fim do ciclo de lançamento de software ........................................... 33
2.1.4 Modelos de programação mais leves ................................................ 34
2.1.5 Software acima do nível de um único dispositivo .............................. 36
2.1.6 Experiências mais ricas para o público ............................................. 37
2.1.7 Aproveitamento da inteligência coletiva ............................................ 38
2.2 A Internet como rede híbrida e a potencialização da interatividade 41

3 AS NOVAS FORMAS DE JORNALISMO CONFIGURADAS A PARTIR


DA PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO ........................................................ 46
3.1 Diferenças gerais entre aspectos da prática tradicional e da
10

prática participativa do jornalismo .................................................. 46


3.2 Mudanças no jornalismo vistas a partir de exemplos práticos ....... 49
3.2.1 Nível A ............................................................................................. 53
3.2.2 Nível B ............................................................................................. 55

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 75

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 79

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 84

ANEXOS .................................................................................................. 86
INTRODUÇÃO

A interatividade é uma das características do jornalismo praticado em


redes digitais que mais apresenta potencial de desenvolvimento na web 2.0. A
segunda geração da Internet está embasada no princípio da construção
coletiva, no incentivo do caráter colaborativo na web e na valorização da
participação dos sujeitos. Com o avanço da Internet os softwares, em termos
gerais, passam a buscar uma linha mais coletiva. Nesse sentido,
potencializam-se a construção social do conhecimento e a livre produção,
troca e circulação de informações.

Nesse contexto, a interatividade é potencializada ao ponto de o público


produzir conteúdo de interesse noticioso para publicações presentes na
Internet. Surgem sites que se denominam como jornalísticos e são
constituídos, inteiramente, de informações enviadas por colaboradores que
não são, necessariamente, jornalistas com formação profissional. Aumenta o
número de publicações produzidas por cidadãos-comuns e reduzem-se as
etapas de distribuição da informação. Sendo assim, essas transformações
acabam por gerar mudanças nas formas de jornalismo praticadas em redes
digitais.

A necessidade de conhecer as ferramentas interativas, disponíveis na


Internet, e o potencial que ela possui para ampliar a participação do público na
produção de informações, motivou a realização deste trabalho, pois, cada vez
mais, cresce o número de publicações participativas que buscam satisfazer
aos anseios de sujeitos com uma postura ativa diante da imprensa. Partindo
desse pressuposto, este trabalho tem por objetivo principal mapear algumas
transformações ocorridas no jornalismo praticado nas redes digitais, a partir de
exemplos de publicações participativas.

Para que o objetivo seja concretizado, pretende-se, no decorrer do


trabalho, explicar como se apresentam os processos interativos na Internet;
12

reunir discussões sobre a segunda geração da Internet ou web 2.0; e,


apresentar exemplos de publicações participativas observando, a partir deles,
características da rotina de produção jornalística em redes digitais.

Para tanto, com base nos procedimentos utilizados, este trabalho


caracteriza-se por ser uma pesquisa bibliográfica, no primeiro momento. Para
ilustrar as transformações ocorridas no jornalismo, praticado nas redes
digitais, são utilizados oito exemplos de publicações de caráter participativo.
Os principais aspectos destes sites são mostradas em um quadro comparativo,
no qual são analisadas as seguintes publicações: OhMyNews, Slashdot, Digg,
Linkk, VozDiPovo, sosperiodista, Brasil Wiki e Wikinews. Sendo assim, este
trabalho está dividido em três capítulos, além desta introdução.

O primeiro capítulo discute os processos interativos no jornalismo em


redes digitais. A discussão baseia-se em estudos de autores como Lúcia
Santaella, André Lemos, Luciana Mielniczuk e Alex Primo. São delimitados os
atores envolvidos nesses processos e explicitadas as ferramentas, ou
serviços, que facilitam a interatividade do público em publicações jornalísticas
da rede digital.

No segundo capítulo, explica-se como funciona a segunda geração da


Internet, além das possíveis potencializações da interatividade nesta
plataforma. A definição é feita a partir da proposta de conceituação de Tim
O’Reilly. São expostas as características pertencentes à web 2.0 e como elas
se apresentam na prática. Utiliza-se a proposta feita pelo autor Marcos
Palácios para caracterizar essa segunda geração da Internet como uma rede
híbrida, na qual diferentes sistemas sociais se apropriam das ferramentas
tecnológicas e acabam explorando as possibilidades interativas existentes.

No terceiro capítulo, expõe-se algumas mudanças que ocorrem no


jornalismo praticado em redes digitais. Inicialmente, são discutidas diferenças
gerais entre o formato participativo e o formato tradicional da prática do
jornalismo. São utilizados para este debate os autores Alex Primo, Marcelo
Träsel, Bowman e Willis. Em seguida, apresenta-se uma amostra de oito
exemplos de publicações participativas, com o objetivo de abrir uma discussão
relativa às características específicas da Internet e aos aspectos da rotina de
produção jornalística. Verifica-se, ainda, como se apresentam os níveis de
13

interatividade nos hipertextos dessas publicações. Por fim, observa-se como


se denominam e caracterizam alguns modelos de jornalismo, praticados de
forma participativa na Internet. Num último momento, são apresentadas as
considerações finais do trabalho.
1 PROCESSOS INTERATIVOS DO JORNALISMO EM REDES
DIGITAIS

“Essa tal de interatividade é tão boa que suportamos a situação insólita de ficar numa postura
cansativa por horas só para poder interagir com os dispositivos do computador. É por isso
que vem aquela coceira nos dedos quando temos que ficar muito tempo parados lendo um
texto ou assistindo uma animação ou vídeo. Usar o computador implica interação.”

Frederick van Amstel

A palavra interatividade remete a diferentes significados no que diz


respeito às inúmeras maneiras de interagir com o outro, seja ele humano ou
não. Para discutir os processos interativos no jornalismo em redes digitais será
traçada neste capítulo, inicialmente, uma discussão acerca do conceito de
interatividade. Posteriormente, serão delimitados os atores envolvidos nos
processos e de que maneira eles se desenvolvem com o avanço da Internet 1.
E por último, serão explicitadas as ferramentas ou serviços que facilitam a
interatividade do público em publicações jornalísticas da rede digital.

1
Torna-se importante, neste momento, diferenciarmos Internet e web. A primeira se refere a uma
plataforma virtual que une um conglomerado de redes em escala mundial e permite acesso e
troca de inúmeros tipos de dados. A Internet surgiu em 1969, com a Arpanet criada para o
Departamento de Defesa dos Estados Unidos, através de financiamento da Advanced Research
Projects Agency (Arpa). O objetivo era desenvolver uma rede de computadores descentralizada,
onde as máquinas estivessem interligadas e, no caso de uma guerra, se um ponto fosse
destruído, os outros poderiam manter a comunicação e a transmissão de dados entre as
unidades militares. As conexões foram aumentando até que, em 1990, a Internet atingiu um
milhão de usuários e começou a ser utilizada comercialmente.
A web (World Wide Web) é uma parte da Internet e se refere a um ambiente que fornece
informações em hipermídia., representando apenas um dos diversos serviços oferecidos pela
primeira. A web foi desenvolvida no início da década de 90 pelo físico Tim Berners-Lee, da
Organização Européia para Pesquisa Nuclear. O objetivo era criar uma interface mais amigável,
que pudesse tornar mais fáceis as comunicações na Internet. Tecnicamente, o físico mostrou
como a informação poderia ser transmitida de uma maneira mais amigável ao leitor da tela. O
primeiro servidor web funcionou no próprio centro de pesquisa e, em dezembro de 1991, o
primeiro servidor, fora da Europa, foi instalado nos Estados Unidos fazendo com que, a partir daí,
a web se tornasse global (CASTELLS, 2001).
15

1.1 Conceituando interatividade

Definir interatividade no âmbito do jornalismo de redes digitais é uma


tarefa difícil não só pela complexidade do processo, mas também pela
constante modificação e evolução da plataforma onde ele está inserido. Este
trabalho busca delimitar o termo com base nos estudos de autores como Lúcia
Santaella, André Lemos, Luciana Mielniczuk e Alex Primo.

Para Santaella (2004), o termo interatividade toma emprestados


conceitos de outras palavras da língua portuguesa. A autora, afirma que o
conceito está ligado, no que diz respeito ao significado, às palavras ação,
agenciamento, correlação e cooperação. Da ação, a interatividade tomaria o
sentido de operação; do agenciamento viria o sentido de intertrabalho; da
correlação, o sentido de influência mútua e da cooperação vem o sentido de
contribuição e sinergia. A teórica propõe uma definição básica de
interatividade. Nela, o termo designaria um processo pelo qual duas ou mais
coisas produziriam efeitos uma sobre as outras ao trabalharem juntas.

A noção de interatividade que se tem hoje está diretamente ligada aos


meios digitais, de acordo com Lemos (1997). Sendo assim, o termo se refere a
uma forma de interação técnica, de cunho digital, diferente da interação
analógica utilizada inicialmente nos veículos de comunicação tradicionais
como, por exemplo, cartas, fax entre outros. Logo, pode-se delimitar
interatividade como uma ação dialógica entre o homem e a técnica. O autor
propõe a diferenciação dos termos interação social e interação técnica para
uma melhor compreensão do processo da interatividade. A primeira estaria
ligada à relação homem-homem, presente no dia-a-dia de qualquer um. A
segunda estaria relacionada à relação homem-técnica, caracterizando assim a
interatividade, mediada através da máquina. Dentro da interação-técnica, tem-
se ainda, em se tratando de redes digitais, a caracterização de uma
interatividade eletrônico-digital que, segundo o autor, permite a interação com
o conteúdo presente na interface gráfica.

Partindo do princípio de que a interatividade discutida neste texto está


ligada às redes digitais, indica-se a afirmação de Lemos (1997), em que o
16

autor defende que os meios digitais proporcionam determinada diferenciação


na qualidade da interatividade. Lemos afirma que o usuário interage não
apenas com a máquina, mas com o conteúdo a que tem acesso através dela. A
interatividade digital proporciona uma superação de barreiras físicas entre
homens e homens e também entre homens e máquinas, levando a uma
interação maior com as informações.

Podemos compreender a interatividade digital como um diálogo entre


homens e máquinas (baseadas no princípio da micro-eletrônica),
através de uma “zona de contato” chamada de “interfaces gráficas”,
em tempo real. A tecnologia digital possibilita ao usuário interagir, não
mais apenas com o objeto (a máquina ou a ferramenta), mas com a
informação, isto é, com o “conteúdo” (LEMOS, 1997, p. 3).

Para delimitar a discussão em torno dos múltiplos processos que


envolvem o interagente 2, em relação ao jornalismo de redes digitais, este
trabalho adota o termo multi-interativo, proposto por Mielniczuk (1998).
Segundo a autora, numa situação em que se tem uma pessoa diante de um
computador ligado à Internet, esta estabelece relações com a máquina, com o
conteúdo da publicação através da interface e, ainda, com outras pessoas.
Essas interações com outras pessoas se dão através da máquina e podem ser
tanto com leitores do conteúdo quanto com autores da publicação.

Dentro da discussão que envolve os termos interação e interatividade,


Primo (2000) cita a visão de B. Aubrey Fisher que define a interação como a
relação de comunicação que acontece entre os participantes. Dessa forma,
tornam-se sinônimos as expressões comunicação interpessoal, interação e
relacionamento humano. O autor ainda propõe que se deva diferenciar
interatividade de reatividade, para que se construa um conceito adequado da
palavra.

Para Mielniczuk (1998), reatividade seria a possibilidade de registrar e


suscitar reações no público, através de opções predeterminadas e que não
pressupõem uma troca comunicacional igualitária. A interatividade

2
Usuário não é o termo mais adequado para nomear aquele que interage de forma ativa na
Internet. Por isso, neste trabalho, utiliza-se o termo interagente para definir o sujeito ativo nos
processos multi-interativos da rede. Esta discussão será ampliada no item 1.2 deste capítulo.
17

corresponde a um feedback próprio, ativo e genuíno do receptor. Nessa


mesma linha, Primo (2000) afirma que no sistema interativo o receptor possui
autonomia total, e num sistema reativo as ações dele estariam dentro de um
conjunto predeterminado de possibilidades. Segundo ele, a interatividade
pressupõe respostas autônomas e criativas do público. Dessa maneira, estar-
se-ia lidando com agentes intercomunicadores, seres ativos no processo
comunicacional.

É importante, também, que se conheçam os conceitos de interação


mútua e reativa. Esses termos são propostos por Primo (2000) para diferenciar
as muitas maneiras de interação, presentes nas redes digitais. A primeira é
composta por um sistema aberto e a outra por um sistema fechado. Um
sistema é formado por objetos ou entidades que se inter-relacionam. No aberto
há o caráter da globalidade, ou seja, os elementos são interdependentes,
quando um muda, o todo será afetado. Também nele, existem trocas entre o
sistema e o contexto do ambiente. O inverso ocorre na interação reativa. Nela,
os agentes têm pouca ou nenhuma possibilidade de alterar o que lhes foi
proposto, possuem relações lineares e preestabelecidas e não efetuam trocas
com o contexto do ambiente.

Portanto, pode-se afirmar que a interatividade encontrada no jornalismo


das redes digitais pode ser tanto mútua quanto reativa. Dentro do contexto
aqui discutido, as interações podem coexistir e ser simultâneas. Como
exemplo, tem-se uma enquete com uma pergunta e determinadas opções de
resposta, onde o leitor é convidado a dar uma resposta ao questionamento,
gerando, posteriormente, uma porcentagem que define quais são as opções
mais votadas. Esse tipo de interação pode ser classificado como do tipo
reativa, pois não é dada ao leitor a opção de mudança ou interferência na
enquete.

De outro lado, tem-se como exemplo de interação mútua o processo que


Primo (2000) chama de throughput. O termo designa aquilo que ocorre entre
uma ação e uma reação de cada um dos agentes envolvidos. Na interação
mútua, cada mensagem recebida é interpretada e decodificada pelos agentes,
caracterizando um processo cognitivo onde o diálogo não é preestabelecido.
18

Além disso, os sistemas dotados de interação mútua possuem uma


interface virtual 3. Ou seja, conectam dois ou mais agentes ativos com
possibilidade de mudança da ação e da reação. A interface virtual permite
liberdade entre os roteiros propostos inicialmente, ou seja, “nada pode garantir
que sempre os mesmos estímulos garantirão as mesmas respostas” (PRIMO,
2000, p. 10). O autor ainda ressalta a importância do diálogo na interatividade,
onde os sujeitos do processo se modificam um ao outro e, também, o contexto,
as mensagens e a relação entre eles.

Nesse sentido, Fontcuberta (2006) afirma que a interatividade é a


capacidade de um sistema conversar com seus leitores e isso adiciona uma
mudança no jornalismo, a de entregar ao leitor o controle do que ele consome.
O desafio é que o diálogo exista realmente no sistema e o conteúdo seja
criado cooperativamente. Para a autora, quando se fala em interatividade no
jornalismo de redes digitais remete-se a uma responsabilidade compartilhada.
Após a discussão de conceitos e diferentes autores, pode-se afirmar que, para
fins deste trabalho, definiu-se interatividade como um tipo de comunicação
baseada em processos multi-interativos de característica mútua e reativa.

1.2 Elementos envolvidos nos processos multi-interativos

Adotando o termo multi-interativo para identificar as diversas formas de


interatividade que se estabelecem no jornalismo das redes digitais, pode-se
propor um modelo simplificado do processo. Embora se saiba que a questão
seja mais complexa, para fins de identificação, propõe-se a delimitação de três
elementos básicos envolvidos no processo interativo que envolve um leitor e
uma publicação jornalística na web: interagente, máquina e interface gráfica do
produto presente na web. A relação posterior que ocorre entre usuários em

3
O autor utiliza o termo interface virtual para caracterizar um ambiente, onde interagem dois ou
mais agentes, que produzem atualizações e mudanças na comunicação em curso. O contrário
seria a interface potencial, onde os roteiros a serem seguidos pelos agentes estariam pré-
programados e pré-testados para receberem apenas determinadas respostas.
19

função e através da interface gráfica da publicação acontece por meio de


ferramentas disponíveis nos sites da rede. Esses diferentes mecanismos são
tratados no tópico a seguir deste trabalho. Faz-se agora, um detalhamento dos
principais elementos envolvidos no processo interativo, proposto acima.

1.2.1 Máquina

A máquina deve ser compreendida como o dispositivo de acesso à


plataforma Internet. Este dispositivo, no contexto atual, não precisa ser
necessariamente um computador pessoal, é possível acessar a rede por um
celular, por exemplo. Devido às múltiplas facilidades que a tecnologia
proporciona hoje, tem-se que o essencial do elemento máquina, presente na
interação, é a capacidade de acesso à rede, independente de se esse acesso
está sendo feito do carro, da geladeira, do mp3 player 4 ou, até mesmo, de um
computador.

Para Lemos (2004), a interatividade de cunho eletrônico-digital altera a


relação entre sujeitos e objetos. Segundo o autor, os objetos eletrônico-digitais
atuam como agentes e interagem de forma ativa, até mesmo entre eles. A
relação ativa permite a comunicação inteligente entre as máquinas sem a
intervenção humana. Dentro do modelo de interatividade eletrônico-digital, o
objeto realiza uma performance que produz significados, como exemplos
podemos citar aparelhos de vigilância eletrônica que ao perceberem
movimento estranho, no local onde estão instalados, enviam um alerta pela
Internet para que a situação seja averiguada.

Conforme Lévy (1999), os dispositivos de acesso à Internet podem ser


caracterizados por qualquer ferramenta tecnológica onde a informação digital
possa ser processada e interpretada. O computador deixa de ser um centro
para ser um nó da rede, uma vez que as funções da informática estão cada
vez mais distribuídas. “[...] a informática contemporânea – programas e

4
Aparelho capaz de armazenar e reproduzir arquivos de áudio no formato mp3.
20

hardware – está desconstruindo o computador em benefício de um espaço de


comunicação navegável e transparente, centrado na informação” (p. 44).

1.2.2 Interface gráfica

A palavra interface usada sozinha designa todo e qualquer tipo de


aparato material que permita a interação entre a informação digital e o
universo físico. Nessa definição, são considerados interface o mouse, o
monitor, o teclado, o aparelho celular entre outros. No entanto, ao utilizar a
expressão ‘interface gráfica’ se quer designar aquilo que é apresentado ao
usuário na tela da máquina que está sendo utilizada para acessar a Internet e
que, conseqüentemente, dá acesso à informação que nela é visualizada 5.

Uma maneira simples de definir interface gráfica é proposta por Johnson


(2001). Para o autor, “a palavra se refere a softwares que dão forma à
interação entre usuário e computador” (p. 17). O computador, além de
manipular seqüências de zeros e uns, precisa “se fazer entender” ao usuário
de uma maneira compreensível. A interface gráfica atuaria como o tradutor das
diferentes linguagens do computador e do usuário. O autor ainda afirma que,
esta relação viabilizada pela interface é uma relação semântica, cheia de
significado e expressão.

Conforme Lemos (2004), a noção de interface gráfica popularizou-se


com o Apple Macintosh, lançado em 1984, que objetivava trazer ao público um
sistema de manipulação das informações que fosse de fácil utilização. Daí
surgem as analogias com objetos do dia-a-dia das pessoas, como pastas,
lixeira, arquivos, folhas entre outros. Para o autor, a interface gráfica
precursora, trazida pelo Macintosh, instaurou um diálogo quase orgânico entre
o homem e o computador. Esse foi o primeiro computador a apresentar um
ambiente de diálogo amigável, usando metáforas como mesa de trabalho
5
Silva Jr. (2002) estabelece três categorias para o desenvolvimento das interfaces de
publicações jornalística da Internet. O primeiro seria o transpositivo, onde a apresentação do
jornal online era baseada na sua versão impressa. O segundo seria o perceptivo, quando já
começam a ser agregados elementos que organizam a informação em rede. E o terceiro e último
seria o hipermidiático, onde se utilizam recursos multimídia na publicação e também se
dissemina a sua distribuição para outros serviços informativos como rádio, celulares entre outros.
21

(desktop) e ícones para auxiliar os usuários na familiarização com a máquina.


No universo do PC – Computador Pessoal – a primeira interface gráfica mais
amigável surgiu cerca de seis anos mais tarde com o Windows 3.0. Quanto
mais simples uma interface, mais simples são as ferramentas simbolizadas por
ela. O design permite que o usuário navegue entre seus documentos e
aplicações de maneira amigável.

A interface gráfica, para Lemos (2004), pode ser definida como o terreno
comum ou o espaço onde se dá a interatividade. Para o autor, o termo designa
a arena, onde sujeitos e objetos desenvolvem tarefas. A interface, como se
tem hoje, é divulgada pela expressão “what you see is what you get” ou “o que
você vê é aquilo que você tem”. Conforme o autor, “a ação se dá na
representação, quer dizer, na possibilidade de participação de agentes” (p.
111).

De acordo com Santaella (2004), a interface gráfica é o meio para o


diálogo entre os usuários. É nela que se processam as interações. A
interatividade na rede é regida por processos que demandam reciprocidade,
colaboração e partilha. Além disso, todo o processo não seria possível sem a
competência semiótica do usuário para lidar com as interfaces computacionais.

No que diz respeito ao jornalismo praticado em redes digitais, Silva Jr.


(2004) afirma que a interface gráfica adquire um caráter multiuso. Isto significa
dizer que a interface atua ao mesmo tempo como display do produto
jornalístico e como ferramenta de produção. Segundo o autor, esta
característica acarreta num reposicionamento entre dispositivos tecnológicos e
categorias da prática jornalística como: apuração, edição e circulação. Sendo
assim, o teórico afirma que este caráter múltiplo da interface gráfica
potencializa os recursos de produção de conteúdo.

1.2.3 Interagente

Passa-se agora a uma discussão mais detalhada sobre a parte do


processo interativo, tomada como interagente. No início dos estudos da Teoria
22

da Comunicação, os modelos comunicacionais tratavam o processo de


maneira transmissionista, considerando a existência de um emissor, uma
mensagem e um receptor. Segundo Hohfeldt (2001), o modelo pioneiro de
Lasswell pressupõe um processo verdadeiramente comunicativo, quando
entende que a comunicação é dialógica, ou seja, a pessoa que fala espera
uma resposta do seu interlocutor. Dessa maneira, a pessoa para quem se fala
transforma-se, num segundo momento, em outra pessoa que também fala para
a primeira que agora se transforma em ouvinte. Na Internet, potencializa-se o
fato de que emissor e receptor não têm lugar fixo e imutável dentro do
processo comunicacional.

Segundo Primo (2006), as primeiras publicações que apareceram na


web ainda mantinham demarcada a barreira entre emissor e receptor,
diferenciando quem redige as notícias e quem as lê. O fluxo inicial do
jornalismo das redes digitais ainda mantinha a lógica do modelo
transmissionista. No entanto, ao longo do desenvolvimento da rede, a escrita e
a leitura hipertextuais já tornam o processo comunicacional mais interativo e
consequentemente o leitor mais ativo.

É verdade, porém, que escrita e leitura tornam-se hipertextuais, o que


em si já altera o processo interativo. Conforme Landow, a leitura no
hipertexto demanda que o internauta assuma uma postura ativa na
seleção dos links que apontam para diferentes lexias na estrutura
hipertextual, o que o converteria necessariamente em co-autor
(PRIMO, 2006, p. 1 e 2).

Pode-se dizer que as redes de computadores potencializaram a


comunicação plurilateral. Partindo deste pressuposto e de uma postura mais
ativa do leitor, temos o fim das figuras isoladas do emissor e do receptor na
rede. Aquele que um dia assumiu o papel de receptor da mensagem também
será emissor e vice-versa. No modelo de comunicação em rede não temos
posições definidas e isoladas no que diz respeito aos agentes deste processo.

A interatividade presente na web provocou diversas mudanças no


tradicional esquema de comunicação, de acordo com Santaella (2004). Mudam
as formas tradicionais dos papéis do receptor e do emissor. A mensagem
proposta e enviada se transforma do modelo fechado inicial para um leque de
23

possibilidades. Segundo a autora, o emissor passa a construir um sistema que


apresente diferentes rotas de navegação e conexões. O receptor se torna em
parte criador da mensagem que só adquire significado a partir da sua
intervenção. “[...] emissor e receptor perdem seus limites definidos para ganhar
uma face plural, universal, global” (p. 163).

Sendo assim, não se pode definir de maneira fechada que sujeito A ou B


são emissor e receptor, porque ambos têm seus papéis misturados e
ampliados, A e B são agentes ativos da web. Chartier (1999) afirma que o
leitor da tela é mais livre do que o leitor do livro, já que o fluxo de leitura não
possui fronteiras e apresenta possibilidade de embaralhar e entrecruzar
diferentes textos. A rede eletrônica possibilita uma difusão imediata. O
produtor do texto é ao mesmo tempo editor e distribuidor.

Nesse sentido, Santaella (2004) afirma que na era digital nasce um novo
tipo de leitor, o imersivo. Esse, apesar de possuir semelhanças com as formas
de leitura existentes anteriormente, tem a possibilidade de navegar numa tela
e programar o seu caminho de busca, num universo de signos, eternamente
disponíveis. Esse tipo de leitor fica em estado de prontidão, conectando-se
com outros leitores e com sua subjetividade, mesclada na hipersubjetividade
de infinitos textos assentes na web.

De acordo com o que foi discutido até este momento, dentro da


produção de conteúdo feita pelo público na web, não cabe a utilização de
palavras como usuário ou internauta, faz-se necessário definir de outra
maneira aqueles que fazem parte do ciberespaço atual, como sujeitos ativos
da comunicação e da interatividade. O termo usuário designa alguém que
utiliza a interface proposta para manipulação, sem causar transformações
nesta. Segundo Primo (2003), o usuário é visto como consumidor daquilo que
está na sua frente. O termo é muito empregado pelas empresas que fabricam
softwares e buscam a interação do usuário apenas para melhorar o produto, e
tornar os negócios mais rentáveis. O usuário seria um coadjuvante da
tecnologia.

Adota-se, neste trabalho, a proposta de Primo (2003) do uso do termo


interagente. Segundo o autor, a palavra remete a significados mais próximos
de interação e ação. “Interagente, pois é aquele que age com outro” (p. 8).
24

Brambilla (2006) afirma que é preciso usar um termo que descreva o sujeito
que interfere na esfera digital, que age na informação através da negociação
e, por muitas vezes, modificando-a. Para a autora, é necessário referenciar os
elementos humanos que fazem parte da comunicação, para isso, utiliza-se o
termo interagente, que foca no sujeito que está envolvido no processo de
interação. Fontcuberta (2006) afirma que não é possível impedir a autonomia
do sujeito navegante na rede. Nos meios de comunicação tradicionais, o
público ouve, lê ou assiste, na Internet, o público faz.

1.3 Ferramentas para a configuração da interatividade

Mesmo já existentes antes da internet, os processos interativos do


público com os veículos de comunicação tradicionais estavam relacionados ao
envio de cartas, ligações telefônicas e fax, instrumentos submetidos à
necessidade de se utilizar outro meio para a comunicação e para o envio da
mensagem (não era possível responder à televisão através dela própria).
Palacios (2003) coloca que a lógica que rege as novas tecnologias de
comunicação parte do modelo todos-todos e funciona como complementar aos
já tradicionais meios de comunicação. Isto é, a Internet potencializa a
articulação e o agrupamento dos processos interativos.

Alguns dos recursos oferecidos pela Internet para que ocorra


interatividade, especificamente entre publicações jornalísticas da web e
interagentes, são: e-mail, formulário, fórum, chat, enquete, comentários,
modificação e criação de conteúdo para o site. Há, sem dúvida, outros serviços
que propiciam a interatividade na plataforma Internet, como MSN, Skype e, até
mesmo, serviços que utilizam outros dispositivos, além do computador (por
exemplo, o celular). No entanto, este trabalho delimita-se entre as ferramentas
acessíveis através da interface gráfica da publicação jornalística, que
possibilita o contato entre interagentes e também com o conteúdo. Parte-se,
ainda, do princípio que a discussão acerca das ferramentas mais comuns para
interatividade na rede já possibilitou que elas fossem amplamente conhecidas.
25

Diante disso, explora-se a característica resultante da potencialização da


interatividade na rede, que seria a produção de conteúdo pelos interagentes.

A evolução da Internet e, por conseqüência, da web direciona a uma


visão da rede como plataforma, que permite o progresso da interatividade, um
local onde ocorrem interações e desenvolve-se uma comunidade, e não mais
uma forma digitalizada do que era lido nos jornais impressos. Todos os
avanços tecnológicos, no que dizem respeito à facilidade de publicação de
conteúdo na rede, sem a necessidade de saber algum tipo de linguagem de
programação e, também, no que tange à segunda geração da Internet, aliados
à apropriação desta tecnologia por um público interessado e com demandas
sociais próprias, são fatores potencializadores da interatividade na Internet.
Esses aspectos, tanto técnicos quanto sociais, são amplamente discutidos no
segundo capítulo deste trabalho.

Essa potencialização da participação na rede faz com que os


interagentes possam vir a ser produtores ativos de diferentes tipos de
conteúdo, entre eles notícias. Fatores como a queda no custo de
computadores e a multiplicação de serviços gratuitos de hospedagem de sites
também facilitam a produção de conteúdo a partir da criação de um blog ou
uma página pessoal.

A interatividade é vista, tanto por Primo (2003) quanto por Fontcuberta


(2006), como uma conversa entre leitores e também produtores de uma
publicação. Caracteriza-se aí, um diálogo que gera mudanças nos próprios
interlocutores e também no contexto em que eles estão inseridos. Ao oferecer
ao interagente a possibilidade de produzir conteúdo na rede, abre-se a ela a
oportunidade de dialogar mais amplamente com outros interagentes. Bowman
e Willis (2003) afirmam que a conversa e o diálogo são mecanismos que
transformam os papéis tradicionais do jornalismo e criam uma forma mais
igualitária de dar e receber. Gillmor (2004) reafirma a importância do diálogo
entre leitores e jornalistas. Para ele, o profissional de imprensa deveria se dar
conta da importância do que o público tem a dizer a ele. Segundo o autor, a
Internet é a tecnologia que permite uma melhor participação do público e
amplia a oportunidade de que ele seja ouvido.
26

Com a participação do público na escrita do conteúdo noticioso presente


na web, tomada como realidade possível e existente em diversos sites, pode-
se afirmar que uma das mudanças decorrentes da potencialização da
interatividade na rede passa a ser a maior interferência no produto jornalístico,
incluindo, até mesmo, a sua produção e edição. No princípio, os sites eram
vistos como unidades isoladas dentro da web, hoje, trabalha-se com a
integração de funcionalidade de conteúdo, dando, assim, mais destaque na
participação, construção e atualização coletiva. Segundo Brambilla (2006), a
possibilidade de que cada vez mais pessoas possam publicar conteúdo,
produzido por si em diferentes sites, já consolida um novo modelo de
interação.

Dessa maneira, encerra-se este capítulo constatando-se que a


interatividade no jornalismo das redes digitais é baseada em processos multi-
interativos de características mútua e reativa, simultaneamente. Para delimitar
os atores envolvidos nesses processos, propôs-se um modelo básico e
simplificado de interação, envolvendo três elementos: usuário, máquina e
interface gráfica. Para que se possa entender e definir o sujeito que atua na
Internet como plataforma, adotou-se o termo interagente em substituição a
usuário, para demonstrar o caráter ativo e humano da interação. E para a
efetivação dos processos interativos foram apresentados alguns recursos
oferecidos pela Internet como: e-mail, formulário, fórum, chat, enquete,
comentários e modificação, e criação de conteúdo para o site.
2 A SEGUNDA GERAÇÃO DA INTERNET E A
POTENCIALIZAÇÃO DA INTERATIVIDADE

“A Internet é um espaço de comunicação propriamente surrealista, do qual ‘nada é excluído’,


nem o bem, nem o mal, nem suas múltiplas definições, nem a discussão que tende a separá-
los sem jamais conseguir. A Internet encarna a presença da humanidade a ela própria, já que
todas as culturas, todas as disciplinas, todas as paixões aí se entrelaçam. Já que tudo é
possível, ela manifesta a conexão do homem com sua própria essência, que é a aspiração à
liberdade”.

Pierre Lévy

Este capítulo pretende explicar o que é e como funciona a segunda


geração da Internet, além das possíveis potencializações da interatividade que
ela traz consigo. São expostas as características pertencentes à web 2.0 e
como elas se apresentam na prática. Demonstra-se que esta segunda geração
pode ser caracterizada como rede híbrida, na qual os interagentes publicam
conteúdo, explorando as possibilidades interativas existentes e
potencializadas.

2.1 A segunda geração da Internet ou web 2.0

A concepção do termo web 2.0 ocorreu durante a preparação de uma


conferência, encabeçada pelas organizações O’Reilly Media e a MediaLive
International, em outubro de 2004. Desde então, a expressão é utilizada em
apresentações anuais da web 2.0 que são encabeçadas pelas mesmas
organizações e reúnem curiosos e especialistas na área de Internet, além de
empresários interessados na economia da rede. Inicialmente, a idéia proposta
28

era que, após a “bolha ponto com” 6 de 2001, novas aplicações e sites
diferentes estariam surgindo na web, formando certo ponto de mutação a partir
daquele momento. Essas mudanças poderiam, então, receber o nome de web
2.0. Em seu blog, o idealizador do termo, Tim O’Reilly, oferece uma definição
simples do termo:

A Web 2.0 é a revolução dos negócios na indústria dos


computadores, causada pelo movimento em direção à internet como
uma plataforma e também é uma tentativa de entender as regras para
o sucesso nesta nova plataforma. A regra chefe é: construir
aplicações que façam proveito dos efeitos da rede para que elas se
tornem melhores, à medida que mais pessoas as utilizem (O’REILLY,
2006). 7

É importante destacar que a segunda geração da Internet, ou web 2.0,


não é um salto que ocorreu de uma hora para outra, mas sim um caminho
percorrido pela tecnologia e pelas aplicações existentes desde o início da
rede. As mudanças acontecem gradualmente e não como um evento isolado.
O termo web 2.0 foi lançado para indicar o resultado de aplicações e serviços
oferecidos na Internet que deram certo e se consolidaram desde o início da
rede até hoje.

A segunda geração da Internet, no âmbito do jornalismo, consolida a


idéia de que as publicações jornalísticas, presentes na web, não podem ser
uma cópia ou simples transposição dos conteúdos que já existem em mídias
tradicionais. Diferente daquilo que se tinha no início da web, páginas estáticas
e sem possibilidade de intervenção do sujeito, a geração atual trabalha com a
idéia de interagente e entende que um site pode criar uma comunidade e
tornar-se uma plataforma de relacionamento entre seres humanos. A
plataforma das páginas da web de hoje dá ao interagente uma experiência

6
A “bolha ponto com” é a expressão utilizada para indicar o que ocorreu entre 1995 e 2001
quando os mercados capitais do Ocidente viram os valores das ações de empresas, ligadas à
Internet, aumentarem muito rapidamente, devido à ação do capital especulativo. Como as
ações cresceram a um nível insustentável, a bolha foi seguida de uma rápida queda nos
preços, o que causou a falência de várias empresas ligadas ao setor de Internet.
7
Tradução da autora deste trabalho. Citação original: “Web 2.0 is the business revolution in
the computer industry caused by the move to the internet as platform, and an attempt to
understand the rules for success on that new platform. Chief among those rules is this: Build
applications that harness network effects to get better the more people use them” (O’REILLY,
2006).
29

próxima às aplicações presentes no desktop do computador pessoal. “A


internet antiga, a web 1.0, era um lugar longe, aonde nós íamos para buscar
informação, a web 2.0 é onde nós vivemos e nos relacionamos” (ALVES JR.,
2006).

Existe uma grande diversidade de opiniões acerca do termo web 2.0.


Muitos autores afirmam que a palavra é uma jogada de marketing para tornar a
Internet novamente atrativa aos investidores e anunciantes. Segundo Boutin
(2006), o “barco de vendedores” que proclama a web 2.0 é a chave para
entender o que o termo realmente significa. Para ele, a nova geração da
Internet não enfrentou a “bolha ponto com” e precisa de novas “palavras da
moda” para conferir status ao que aparece na web.

No entanto, este trabalho não busca discutir a diversidade de opiniões


ou afirmar quem está certo ou errado. O objetivo é apresentar o
desenvolvimento da Internet, demonstrar como a interatividade é
potencializada com esse processo e como o público pode produzir conteúdo
para a rede de maneira mais fácil do que antes.

O’Reilly (2005) indica um modelo de design da web 2.0 a partir de sete


características. Apresenta-se aqui uma explicação de cada uma das
proposições feitas pelo autor, porém não na ordem estabelecida no artigo
original 8. Serão utilizados termos técnicos, em alguns momentos, para que se
possa elucidar de que maneira as linguagens de programação se desenvolvem
para dar sustentação à segunda geração da Internet e, conseqüentemente, às
mudanças que ocorrem no jornalismo praticado em redes digitais.

8
Altera-se aqui a ordem das proposições do autor colocando como último item a ser discutido o
aproveitamento da inteligência coletiva, que no artigo original é tratada como segundo aspecto.
Utiliza-se esta metodologia para uma melhor compreensão de como os aspectos gerais da web
2.0 podem afetar a produção de conteúdo na Internet. Acredita-se que a discussão do enfoque
deste trabalho seja favorecida com este enfoque no último item.
30

2.1.1 A Internet como plataforma

No início da Internet, os sites eram estáticos e serviam apenas para


transpor na web o que já era feito nas mídias tradicionais. Com a evolução da
rede, percebe-se que a Internet pode prestar serviços através de programas
que rodam na própria plataforma. De uma maneira simplificada poderia se
dizer que plataforma “é o lugar onde rodam os programas”. Essa função era,
tradicionalmente, ocupada pelo próprio computador. Com a evolução da rede,
o objetivo é que as aplicações permaneçam alocadas na Internet e se
comportem de uma maneira similar às aplicações do desktop do computador
pessoal. Segundo Alves Jr. (2005), o exemplo mais popular e, provavelmente,
mais didático para indicar plataforma é o Windows.

No caso do Windows, por exemplo, a janela é o Windows que faz; o


que está dentro dela é o programa que faz. Quem diz o que deve ser
impresso é o programa, quem manda a informação para a impressora
é o Windows, a plataforma. A Internet é assim: um lugar, um
ambiente, a plataforma (ALVES JR., 2005).

Um exemplo que ilustra bem a rede como plataforma é o Google Docs &
Spreadsheets9. Esse serviço funciona como um editor de texto e também
possibilita a criação de planilhas eletrônicas. A aplicação funciona totalmente
online e os documentos criados também podem ser armazenados na rede,
bastando, para isso, que o interagente possua uma conta do Google 10. Uma
das facilidades que surge a partir da Internet, como plataforma, é que esse
documento gerado na aplicação pode ser acessado, modificado e publicado de
qualquer lugar do mundo.

Uma das tecnologias que viabiliza aplicações presentes na web é o Ajax,


sigla de Asynchronous JavaScript and XML. Ajax é uma combinação de várias
linguagens de programação, entre elas JavaScript, XML e DHTML. A técnica
de programação possibilita que a página da web não necessite ser
completamente carregada para que o interagente efetue qualquer tipo de ação

9
http://docs.google.com
10
http://www.google.com
31

nela. Através dessa união de tecnologias, partes de um site podem ser


atualizadas, independentemente do restante. Esse recurso é usado por
serviços como Gmail 11 e Flickr 12. Ações que, antes, tinham como suporte o
computador pessoal, agora são feitas online, tornando o site mais rápido e
com características mais próximas de aplicações presentes no desktop.

No entanto, é necessário entender que a Internet funciona, também,


como uma plataforma que gerencia dados. Dessa maneira, as aplicações e
serviços nada seriam sem a quantidade infinita de informação presente na
rede.

2.1.2 Dados são o próximo “Intel Inside”

Explicando a expressão usada pelo autor, “Intel Inside” foi o slogan de


uma campanha publicitária da empresa de circuitos integrados, especialmente
microprocessadores, Intel, criado para identificar computadores que
possuíssem os seus hardwares. Dessa maneira, a empresa objetivava que
fossem agregados status e preço de venda às máquinas que utilizassem
processadores Intel. Na web 2.0, o valor está na informação, na quantidade de
dados e, por isso, o autor apropria-se da expressão publicitária. Para O’Reilly
(2005), toda aplicação presente na web, atualmente, está apoiada em uma
base de dados especializada, por exemplo: Google, Yahoo 13, Amazon14 e
eBay 15.

Com a grande quantidade de dados e a necessidade de


armazenamento, seleção e organização dessas informações surge uma nova
forma de lucrar com a Internet. Será comum encontrar, num futuro próximo,
uma grande variedade de empresas que atuam no armazenamento e no

11
www.gmail.com
12
www.flickr.com
13
www.yahoo.com
14
www.amazon.com
15
www.ebay.com
32

gerenciamento do conteúdo presente na rede. Uma companhia se especializa


em ter e outra em entregar as informações. Obviamente, não se pode
considerar como dados apenas textos ou imagens, mas, também, informações
como perfis de membros do orkut, músicas, fóruns entre outros. Novamente,
Alves Jr. (2005) oferece um exemplo simples e didático de como os dados vão
comandar a web 2.0:

Um bom exemplo disso é o Maplink. Ele usa o software do Google


Maps para mostrar fotos de satélite da região que você está
procurando (e isso por si só já é um ótimo exemplo de internet como
plataforma). Mas o Google Maps, por sua vez, não tem os dados, não
é dono das fotos de satélite, o dono – no caso do lugar onde eu
estava olhando – chama-se Digital Globe. Veja só, a Digital Globe
nem oferece o software que eu estava usando, ela só tem os dados
(ALVES JR., 2005).

Segundo O’Reilly (2005), a corrida está lançada para definir quem será o
proprietário de conteúdos como: calendários de eventos públicos,
identificadores de produtos e termos, além de localizações. Para o autor, em
muitos casos, quando o custo para criar determinado dado é muito grande,
pode existir a possibilidade de haver uma única fonte para a informação. No
entanto, a companhia vencedora será aquela que primeiro alcançar a massa
crítica, através da participação do público e agregar valor a esses dados em
um serviço oferecido.

2.1.3 Fim do ciclo de lançamento de software

Este tópico também pode ser chamado de “o beta perpétuo”. A


expressão indica que os softwares na web 2.0 já não são mais tratados como
produtos, e sim como serviços. Dessa maneira, as operações de atualização
precisam se tornar uma competência do núcleo dessas aplicações, ou seja, o
software precisa se manter atualizado diariamente, de acordo com a base de
dados a que está conectado. Para O’Reilly (2005), o Google precisa atualizar
33

continuamente seus índices, filtrar spams, responder às dúvidas do público e


ligar estes questionamentos com publicidade apropriada, de maneira
contextual.

O beta perpétuo indica que o público não precisa mais esperar pelo
lançamento de versões remodeladas e com erros corrigidos dos programas
que mais utiliza, na web 2.0 o aprimoramento nos softwares é constante. A
todo o momento estão sendo corrigidos erros e pensadas melhorias para os
programas que rodam e estão disponíveis gratuitamente na própria Internet.

Para que o software esteja em constante aperfeiçoamento, o público


precisa ser tratado como um co-desenvolvedor. Essa prática está em
concordância com a ideologia do software livre16. O código aberto permite que
o interagente também participe do desenvolvimento e da correção dos
serviços. De acordo com O’Reilly (2005), determinados serviços da web
recebem novos atrativos mensalmente, semanalmente ou até mesmo
diariamente. O modelo dominante da web do futuro será aplicações
independentes da atualização do computador, aquelas em que o público possa
explorar as novidades do serviço todos os dias.

2.1.4 Modelos de programação mais leves

Considerando-se que os softwares, atualmente, são tidos como serviços,


uma grande quantidade de aplicações leves e fáceis de serem usadas já está
disponível na Internet. O’Reilly (2005) aponta algumas lições significativas
para essa característica da web 2.0. São elas: a) apoiar modelos de
programação que permitam sistemas acoplados livremente, b) pensar em
sindicalização e não em coordenação e, c) usar o design para ser hackeado e
remixado. A primeira propõe que através do uso de programação leve os

16
De acordo com a definição da Free Software Foundation, software livre é qualquer programa
de computador que pode ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribuído.
Tradicionalmente, o termo se opõe ao conceito de software proprietário, que é aquele com
restrições de uso e cópia pelo fabricante.
34

serviços possam atingir mais pessoas. Falar em sistemas acoplados


livremente significa permitir que outras pessoas reutilizem dados e serviços do
seu site. Um exemplo disso é o Google Maps17 que implementou uma interface
simples, utilizando Ajax e permitiu que outras pessoas reutilizassem os dados
ali disponibilizados.

A segunda lição trata sobre a “syndication” ou sindicalização em


tradução literal que está ligada à tecnologia RSS. Falar sobre esse termo
significa permitir que os dados se externalizem sem o controle do que
acontece depois que eles chegam ao seu destinatário. A tecnologia RSS se
tornou um dos serviços da web mais amplamente utilizado, devido a sua
facilidade e leveza. O RSS utiliza programação em XML para agregar
conteúdos pré-selecionados pelo público de diversos locais da web. Os sites
que atualizam o seu conteúdo regularmente oferecem feeds 18 para que o
público possa se inscrever e receber diversas informações de várias páginas,
sem precisar visitá-las uma a uma. O interagente recebe a informação pré-
selecionada num arquivo XML junto a um link para a página completa. Para
visualizar os feeds é necessário utilizar um programa ou um navegador que
leia esse tipo de extensão, os browsers mais comuns, como Internet Explorer e
Mozilla, interpretam esse tipo de arquivo.

Para Primo (2006), isto significa o desenvolvimento de um novo formato


para a circulação de informações. No começo da Internet, a tecnologia
utilizada era de um método pull, ou seja, os dados eram “puxados” pelo
público, ao invés do método push, onde as informações eram “empurradas”
para os interessados. Segundo o autor, na web 2.0, desenvolve-se uma forma
híbrida desses dois métodos. Através do RSS, o interagente pode escolher, ou
“puxar” as informações que serão “empurradas” a ele.

Em vez de visitar blogs, portais ou buscar por novos podcasts 19, este
programa faz o download de todos os conteúdos “assinados” que
foram publicados recentemente. Este recurso (uma forma de clipping
contínuo e automatizado) facilita a atualização do internauta sobre

17
http://maps.google.com/
18
Arquivos de agregamento de conteúdo pré-selecionado pelo público.
19
Podcasts são arquivos de áudio que podem ser acessados pela Internet. Os programas podem
ser ouvidos no próprio navegador ou “baixados” no computador e também podem ser atualizados
mediante assinatura do serviço RSS.
35

assuntos que lhe interessam, reunindo todas as mensagens em um


mesmo local para consulta no momento que mais convier (PRIMO,
2006, p. 3).

A terceira lição está, obviamente, relacionada à primeira e à segunda. O


design, para hackear ou remixar, significa que as barreiras, para utilizar e
reutilizar o conteúdo de um site, devem ser extremamente baixas. Muitos dos
atuais softwares de navegadores permitem que o público copie sites alheios,
veja apenas o conteúdo que deseja e tenha acesso ao código de programação.
Esse tipo de serviço permite o desenvolvimento de interfaces mais ricas e
funcionais, indo ao encontro da idéia do “desktop online”.

2.1.5 Software acima do nível de um único dispositivo

Essa característica se propõe a aproveitar o real potencial da Internet


como uma plataforma. Significa não pensar em softwares que estejam no
computador pessoal ou no servidor web, mas sim no espaço e no ambiente
comum entre eles. Os serviços, agora, não são mais limitados ao computador
pessoal e estão acima do nível de um único dispositivo de acesso à rede.

A própria noção da Internet como plataforma desenvolve a idéia de


aplicações compostas por serviços, provindos de vários computadores e
dispositivos. O’Reilly (2005) cita como exemplo dessa característica o iTunes.
Essa aplicação vai desde um dispositivo portátil até a web, com o computador
funcionando como uma estação de controle. Segundo o autor, essa área da
web 2.0 é uma das quais se espera uma grande mudança, à medida que mais
e mais dispositivos estejam conectados à plataforma da Internet. Mais
mecanismos que recebam informações da rede significam mais participação do
público na construção da web.

Um exemplo preciso de como vários dispositivos ligados à Internet


mudam o caráter da rede está na execução do presidente do Iraque, Saddam
Hussein, enforcado no dia 30 de dezembro de 2006, em Bagdá. Ele foi
36

condenado à morte por ter ordenado o extermínio de 148 xiitas, em 1982. O


ditador foi submetido à forca numa sessão que deveria ser secreta, porém o
ato foi gravado numa câmera de celular, levado à Internet e rapidamente se
espalhou pelo mundo todo. Grande parte da população teve acesso ao vídeo,
em função do serviço disponível em um dispositivo que não é o computador
pessoal e, certamente, parte dos que assistiram à gravação também não o
fizeram pelo computador, mas por outros dispositivos.

2.1.6 Experiências mais ricas para o público

Essa característica está relacionada à utilização de tecnologias de


programação como o JavaScript e DHTML para transformar o estado de
apresentação do aplicativo da web, tornando-o mais interativo. O objetivo
dessas técnicas é que a interatividade na interface gráfica da rede seja
equivalente ou maior do que aquela presente na interface do computador
pessoal. Um exemplo prático seria a página inicial personalizada do Google.
Nela, o usuário pode adequar a posição das informações na tela, de acordo
com a sua vontade, da mesma maneira como pode realocar os ícones do seu
desktop. Para O’Reilly (2005), entra-se em um período sem precedentes no
que diz respeito à inovação da interatividade na interface gráfica, já que os
desenvolvedores estão capacitados para construir aplicações da web tão ricas
quanto aquelas baseadas no computador.

Para o autor, a web 2.0 também vai redefinir o livro de endereços


utilizado por cada interagente. Esse “novo serviço“ trataria os endereços
presentes no computador ou no telefone celular como uma memória de
contatos que a plataforma deve lembrar. Enquanto isso, uma aplicação da web
sincronizaria cada dado presente nos dispositivos e construiria uma rede de
algoritmos que decidiria qual dispositivo pode oferecer uma resposta que não
foi encontrada na memória local da plataforma. Na prática, isso faria com que
serviços e dispositivos estivessem integrados através da plataforma Internet,
37

não sendo mais necessário que o sujeito transfira dados entre dispositivos
para que eles estejam acessíveis a qualquer momento.

Para Primo (2006), na primeira geração da web os sites eram


trabalhados como unidades isoladas e estáticas. Agora, passa-se para uma
estrutura integrada de funcionalidades e conteúdo. A ênfase passa da
publicação para a participação na produção, ou seja, o sistema passa a
usufruir de recursos de interconexão e compartilhamento, dessa maneira, os
serviços se desenvolvem à medida que mais pessoas os utilizam. Uma forma
de interatividade mais rica para o público possibilita melhores aplicações na
web que levam a um maior e melhor uso e fluxo das informações na rede.

2.1.7 Aproveitamento da inteligência coletiva

Essa pode ser considerada a característica chave da segunda geração


da Internet no que diz respeito às mudanças provocadas pela tecnologia na
produção de conteúdo participativo na rede. Isto porque a valorização da
inteligência coletiva é um fator relevante na potencialização da participação do
público, uma vez que admite a importância da troca de conhecimento num
modelo todos-todos e não apenas um-todos. Para O’Reilly (2005), o princípio
central por trás de empresas que nasceram com a Internet e se mantêm vivas
até hoje, é que elas abraçaram o poder que a rede tem de tirar proveito da
inteligência coletiva. Anteriormente, as formas de interatividade e participação
do público estavam ligadas a emails, chats, fóruns e comentários. Hoje, com a
idéia dos wikis 20, os interagentes podem também criar, modificar e apagar
conteúdos de determinados sites.

20
Softwares que permitem a edição coletiva de textos através de um navegador. “O termo
Wiki foi cunhado por Ward Cunningham (originalmente como WikiWikiWeb), criador do
sistema lançado em 1995, e significa “rápido” no Havaí (wiki wiki). Esse programador
desenvolveu um script que funciona no servidor, com a finalidade inicial de auxiliar na
condução de grandes projetos de informática. Uma aplicação dessa tecnologia veio permitir,
por exemplo, que a documentação de projetos (tanto a descrição de especificações técnicas
quanto o manual de instruções) pudesse ser atualizada constantemente por todos membros
da equipe. Cada alteração é salva no sistema e todas modificações podem ser revisadas
retrospectivamente” (PRIMO e RECUERO, 2003, p. 7).
38

A idéia de inteligência coletiva foi levantada por Pierre Lévy, que afirma
que o ciberespaço é o receptáculo dessa inteligência. Segundo o autor, a rede
pode potencializar a circulação do saber, culminando na inteligência coletiva.
Para Lévy (2003), o ciberespaço é o ambiente do saber, onde circulam
informações, discussões, conhecimento e troca de experiências. O
desenvolvimento da rede faz com que os laços que se criam nela gerem uma
coletivização de saberes. O próprio autor dá uma definição compacta do
termo, em entrevista ao jornalista Ricardo Prado, da revista Nova Escola, da
Editora Abril.

É a capacidade de trocar idéias, compartilhar informações e


interesses comuns, criando comunidades e estimulando conexões.
Para começar, tome o cérebro humano. Fazemos infinitas conexões
que se intensificam à medida que envelhecemos. Agora imagine que
podemos, graças ao computador, integrar essa "constelação de
neurônios" com a de milhões de outras pessoas. Essa é a
comparação que faço. A internet nos permite hoje criar uma
superinteligência coletiva, dar início a uma grande revolução humana
(PRADO, 2003).

A inteligência coletiva não deve ser entendida como um consenso entre


as opiniões ou ações do público. Não é necessário que exista uma média entre
as participações para que se possa aproveitar a interação do público.
Conforme explica Sierra (2007), utilizar a inteligência coletiva é unir a
sabedoria de cada um para acrescentar valor ao serviço, ou seja, para que se
possa tirar proveito do “nós”, na Internet, não é necessário sacrificar o “eu”.
Por aproveitar a inteligência coletiva deve-se entender agregar o conhecimento
independente de uma grande quantidade de indivíduos e não limitar as
opiniões a uma consonância.

Alguns exemplos, citados por O’Reilly (2005), esclarecem determinadas


funções da inteligência coletiva na rede:

- rede de links: à medida que o público adiciona novos links e cria


novos sites isso se liga na plataforma web através da busca feita por
outros interagentes que criam conexões para estes conteúdos;

- o sucesso do Google como ferramenta de busca: a liderança do


Google se deve à introdução do PageRank para determinar o saldo
39

das buscas. Esse método utiliza a estrutura de links da web para


definir qual site vai aparecer primeiro no resultado gerado pelo
serviço, ou seja, quanto mais visitada uma página for, mais chances
ela terá de ser o fruto de determinada busca feita no Google;

- Amazon: o diferencial do site de vendas da Internet Amazon está no


fato de que a empresa utiliza a participação do público para gerar
mais negócios. Os interagentes podem recomendar produtos,
escrever resenhas sobre eles e, além disso, a ferramenta de busca
do site oferece os resultados mais populares para a sua procura,
acrescentando, ainda, quais os outros produtos que foram adquiridos
por quem também fez a mesma busca;

- Wikipedia: esta enciclopédia online é aberta para qualquer um que


quiser adicionar, editar ou apagar o conteúdo existente na página. O
site é inteiramente escrito de forma colaborativa e sem edição prévia
de moderadores. A “garantia” de credibilidade está na confiança da
inteligência coletiva, isto é, os criadores da enciclopédia afirmam que
assim como existem muitas pessoas para quebrar o serviço, também
há uma série de fiscais para colaborar no processo. Para Primo
(2006), a arquitetura de participação de determinados serviços
oferece não só um ambiente de fácil publicação, mas também uma
gestão coletiva do trabalho ali executado;

- social bookmarking e “folksonomia“: sites como del.icio.us 21 e Flickr


são pioneiros nesses dois conceitos. Inicialmente, social bookmarking
significa uma espécie de “favoritos” coletivo, ou seja, o interagente
pode registrar no site os seus links favoritos e disponibilizar essa lista
para toda a web. O que diferencia esse serviço de uma simples lista
é o fato de ele utilizar tags 22 para referenciar o material ali presente.
No uso de tags, ao invés de o público catalogar o material por data,
local ou autor, os interagentes são livres para escolher qualquer
palavra que considerem relacionada ao tema que estão catalogando,

21
http://del.icio.us/
22
Tag é uma espécie de palavra-chave atribuída a um tipo de informação com o objetivo de
descrever ou classificar o dado. A tag é, geralmente, gerada pelos interagentes.
40

para referenciá-lo no sistema. Esse tipo de categorização é utilizado


também no Flickr, onde as fotos podem ser classificadas por qualquer
palavra que o público considere associada. Para Primo (2006), esse
modelo valoriza o processo de livre associação:

A partir de recursos da Web 2.0, potencializa-se a livre criação e a


organização distribuída de informações compartilhadas através de
associações mentais. Nestes casos importa menos a formação
especializada de membros individuais. A credibilidade e relevância
dos materiais publicados é reconhecida a partir da constante dinâmica
e atualização coletiva (PRIMO, 2006, p. 4).

Outro efeito que enfatiza a importância da inteligência coletiva é a “longa


cauda”, ou o poder coletivo dos pequenos sites que formam uma rede de
contatos e o volume de conteúdo presente na web. A expressão “longa cauda”
significa que os serviços que utilizam os dados presentes na rede não devem
focar-se apenas no centro, mas também nas bordas, isto é, não somente na
cabeça, mas também na cauda. Dessa maneira, é possível alcançar a rede
toda e propagar informações com maior e melhor efeito. O foco da segunda
geração da Internet já não seria os grandes portais, mas sim a blogosfera 23.

2.2 A Internet como rede híbrida e a potencialização da interatividade

Mais uma vez, é importante compreender que a segunda geração da


Internet não ocorre como um evento isolado no tempo, mas sim como uma
evolução dos fatos desde o princípio da rede. Dessa maneira, assim como a
web 2.0 deve ser entendida como o resultado de propostas que deram certo ao
longo do crescimento da rede, também dessa forma deve ser compreendido o

23
Em entrevista a Andrés Milleiro, Jose Luis Orihuela, autor do livro La Revolucion de los Blogs,
define blogosfera como um espaço para as múltiplas conversações existentes entre os blogs e a
cultura que gera os blogueiros. Segundo Orihuela, a blogosfera é um espaço anárquico, sem
hierarquia e informal, onde convergem as múltiplas culturas que geram coletivamente
informação, opinião e conhecimento (MILLEIRO, 2006).
41

jornalismo praticado em redes digitais. Como afirma Palacios (2003), a


constituição de novos formatos midiáticos não é um processo linear de
superação e substituição dos suportes anteriores, mas sim uma articulação de
diversos formatos jornalísticos que podem conviver e se complementar,
caracterizando continuidades e potencializações no jornalismo.

O autor propõe que caracterizar a Internet como um meio é insuficiente


e parcial, já que esta noção está ligada a processos de transmissão de
mensagens entre interlocutores. Essa proposição entra em concordância com
a afirmação de O’Reilly (2005), de que a Internet é uma plataforma e não um
meio, como já explicitado anteriormente. Palacios (2003) propõe o conceito de
Rede Híbrida – criado por Thierry Bardini – para explicar a complexidade do
ciberespaço, utilizando o termo como uma concepção abrangente para
englobar tanto a articulação entre espaço físico e ciberespaço quanto todas as
outras funções da Internet.

[...] a Internet, no contexto do Ciberespaço, é melhor caracterizada


não como um novo medium, mas sim como um sistema que funciona
como ambiente de informação, comunicação e ação múltiplo e
heterogêneo para outros sistemas. Sua especificidade sistêmica seria
a de constituir-se, para além de sua existência enquanto artefato
técnico ou suporte, pela junção e/ou justaposição de diversos
(sub)sistemas, no conjunto do Ciberespaço enquanto rede híbrida
(PALACIOS, 2003, p. 7).

Dessa maneira, a Internet, enquanto ambiente ou plataforma, tem


características de multiplicidade e de heterogeneidade, possibilitando a
coexistência de ambientes informacionais, ambientes jornalísticos,
educacionais, de lazer, de serviços, comerciais entre outros. Assim também,
pode-se perceber que a Internet como plataforma e rede híbrida mostra-se
como um espaço onde os sujeitos se relacionam, onde se desenvolvem
projetos; um ambiente conectado a múltiplos dispositivos de acesso a ele.

Para Palacios (2003), à medida que ocorre esta utilização simultânea da


Internet, observa-se que o uso da rede, por parte de um sistema social, se dá
em função de demandas próprias e específicas desse grupo. A possibilidade
de apropriação da rede é o nível tático da relação entre tecnologia e
42

sociedade, segundo Marc Guillaume (apud LEMOS, 2004). Esse nível seria o
espaço da livre programação, onde as regras são ditadas pelos próprios
participantes. Segundo Lemos (2004), os primeiros registros da apropriação
social da tecnologia são da década de 1970, quando foram criados bancos de
dados acessíveis à comunidade nos Estados Unidos. Dessa maneira, a
microinformática e a atitude de apropriação fariam parte da quarta fase24 da
informática, aquela do ciberespaço e dos computadores conectados.

A socialidade contemporânea vai aproveitar o potencial comunitário,


associativo, ou simplesmente agregador dessa nova tecnologia. Se os
radicais que criaram os microcomputadores na década de 70
propunham a informática para todos, os internautas da década de 90
propõem a conexão generalizada (LEMOS, 2004, p. 109).

Sendo assim, unindo o caráter da apropriação e da demanda, Palacios


(2003) define a Internet como “um ente dotado de sua própria dinâmica de
funcionamento e evolução” (p. 13) e essa condição possibilita que os
potenciais da rede venham a ser incorporados na prática jornalística atual.
Dessa maneira, demandas de determinados sistemas sociais que utilizam a
Internet influenciam a potencialização da participação do público, o que, por
sua vez, acarreta mudanças no jornalismo praticado em redes digitais.

Um dos fatores técnicos que faz com que a participação e a apropriação


se potencializem na segunda geração da Internet, é a ampliação do acesso à
rede. Primo e Träsel (2006) afirmam que o aumento da facilidade de utilização
dos navegadores, interfaces simplificadas para a publicação e cooperação,
além da popularização de câmeras digitais e celulares, são fatores que
contribuem para uma maior participação e intervenção do público na produção
de conteúdo jornalístico. Para os autores, as tecnologias digitais surgem como
fator potencializador de uma maior inclusão popular no processo noticioso.

24
Para Lemos (2004), a primeira fase da informática seria aquela onde o analista-programador é
um matemático ligado à pesquisa militar. A segunda fase é a dos mini-computadores, onde o
profissional é um expert em informática. A terceira fase é aquela onde o profissional não precisa
ser especialista ou programador, esta é a fase da microinformática. E a quarta fase é aquela
onde qualquer um pode ter acesso à informação através da interface gráfica, é a fase da
microinformática apropriada socialmente gerando a cibercultura.
43

Nesse sentido, Lara (2004) afirma que o acesso massivo aos novos
meios de produção e o desejo do público de se tornar parte ativa nos
processos de comunicação, estão gerando uma participação que exige uma
reformulação do jornalismo e uma maior integração entre os cidadãos e a
construção da notícia. Portanto, a evolução técnica das linguagens de
programação e dos programas de edição permitiu que o público pudesse
publicar o seu próprio projeto sem necessidade de conhecer linguagens de
programação ou design de interfaces gráficas. Também não é necessário
possuir um servidor de Internet, pois a multiplicação dos serviços que
oferecem a hospedagem de páginas pessoais ampliou o espaço gratuito e o
auxílio para que qualquer um possa começar a publicar conteúdo a qualquer
momento. Assim, Silva Jr. (2004) afirma que o contexto tecnológico e social da
Internet viabiliza tanto uma facilidade de produção e edição, quanto uma
redução nas etapas de circulação do conteúdo.

No âmbito da potencialização da participação, Silva Jr. (2002) assegura


que a Internet amplia a produção de diversos tipos de conteúdo e no que tange
ao jornalismo, a rede pluraliza as informações que compõem a produção da
notícia e faz surgir práticas jornalísticas desvinculadas daquelas presentes nos
meios tradicionais. O público passa a ter maior espaço dentro das publicações
presentes na rede e este espaço pode denotar-se de várias maneiras, como
enfatiza Leal (2003), quando diz que o público interfere, agora, em diversos
momentos da produção da notícia, seja na sugestão de pauta, na discussão,
no acompanhamento e/ou na produção.

Schwingel (2004) afirma que o jornalismo deixou de usar as ferramentas


da tecnologia digital apenas de forma instrumental, e isso se deve,
principalmente, à formação de grupos sociais que se apropriaram da
tecnologia e passaram a interagir. Segundo a autora, devido à facilidade de
elaboração de conteúdo e à descentralização da postagem, sistemas como os
blogs passaram a ser utilizados com intuitos jornalísticos. Sendo assim, fica
evidente que ouvir a voz do público é um pré-requisito para a qualificação das
publicações, já que este possui cada vez mais diferentes maneiras de se
expressar na rede. Bertrand (2002) explica esta idéia afirmando que os
jornalistas são imprescindíveis para o aprimoramento da mídia, mas, dado o
44

seu pequeno número e o fato de não trabalharem por conta própria, pouco
conseguem sem o apoio do público.

Por fim, tem-se que muitas das características da segunda geração da


Internet são fatores que potencializam a interatividade na rede. Além desses
fatores técnicos, partindo do princípio que a Internet é uma Rede Híbrida que
possibilita sua utilização por parte de diversos sistemas sociais, diferentes
demandas e apropriações também influenciam a participação na rede. Através
da discussão, proposta até aqui, vê-se que as transformações da Internet,
aliadas à motivação do público, são capazes de produzir mudanças no
jornalismo praticado nas redes digitais. Essas alterações giram, basicamente,
em torno da potencialização dos processos interativos do público a ponto
deste poder produzir e publicar, na rede, conteúdo que certas vezes possui
caráter noticioso. Algumas diferenças relativas às publicações ocorrem,
principalmente, em aspectos como a seleção e a edição do material a ser
disponibilizado. Estes aspectos e mudanças são abordados de maneira mais
detalhada no próximo capítulo deste trabalho.
3 AS NOVAS FORMAS DE JORNALISMO CONFIGURADAS A
PARTIR DA PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO

“Muitos jornalistas estrangeiros que visitaram o OhMyNews me dizem que é difícil entender
por que os cidadãos repórteres gostam de escrever artigos por tão pouco dinheiro. E eu os
contesto: estão escrevendo artigos para mudar o mundo, não para ganhar dinheiro”

Oh Yeon-ho

Este capítulo expõe como se apresentam algumas mudanças que


ocorrem no jornalismo praticado em redes digitais, a partir da observação de
características de publicações presentes na Internet. Inicialmente, discutem-se
algumas diferenças gerais entre as formas participativas e as formas
tradicionais da prática do jornalismo. Posteriormente, apresenta-se uma
amostra de oito exemplos de publicações participativas, no intuito de discutir
as características específicas da Internet e, também, de aspectos da rotina de
produção jornalística. Verifica-se como se apresenta a interatividade nos
hipertextos dessas publicações e, ainda, como se denominam e caracterizam
alguns modelos de jornalismo praticados de forma participativa na Internet.

3.1 Diferenças gerais entre aspectos da prática tradicional e da prática


participativa do jornalismo

Sabe-se que a potencialização da interatividade na segunda geração da


Internet amplia as formas de participação do público em publicações de caráter
noticioso na rede, a ponto de os interagentes serem responsáveis pela
produção, seleção e edição de conteúdo. A partir disso, entende-se que esta
construção participativa exige um debate em torno das rotinas produtivas do
46

jornalismo tradicional, confrontadas com aquelas que se apresentam


atualmente na Internet. Dessa maneira, entende-se que o processo de
produção do jornalismo está ligado, também, ao canal tecnológico em que ele
se concentra (PRIMO e TRÄSEL, 2006).

Uma das principais diferenças entre o jornalismo tradicional e as formas


participativas, presentes na segunda geração da Internet é que, agora, são
mais intensas as interações entre o público e os jornalistas e, também, entre
os interagentes. Em sites de caráter participativo, a interação é primordial
dentro do processo de produção do conteúdo. De acordo com Primo e Träsel
(2006), as novas publicações necessitam da participação para constituir os
seus produtos, ao contrário dos meios tradicionais que possuem formas de
interação com o leitor, no entanto, não prescindem disso para a consolidação
do produto.

Bowman e Willis (2003) afirmam que a diferença essencial entre a forma


tradicional de se fazer jornalismo e a maneira participativa resume-se a uma
redistribuição do controle, ou seja, uma democratização dos meios. Os autores
propõem que o debate sobre a permanência de valores jornalísticos, como a
objetividade e a imparcialidade na Internet, é muito complexo. Essa discussão
não especifica, segundo eles, o elemento essencial da profissão de jornalista:
oferecer aos cidadãos informações necessárias à liberdade e à auto-
regulamentação.

Outra diferença citada pelos autores é a organização à qual os sites


estão relacionados. Para Bowman e Willis (2003), os meios tradicionais estão
ligados a questões comerciais, e seus modelos de negócio estão focados na
transmissão e na publicidade. Já a forma participativa de se fazer jornalismo
está atrelada a comunidades interconectadas, que acabam valorizando o
diálogo e a colaboração de forma igualitária.

No que diz respeito à interatividade, pode-se comparar como funciona


essa característica nos meios tradicionais e na produção participativa, de
acordo com quatro dimensões, propostas por Primo (2005), baseadas nas
teorias de F. Jens Jensen. A primeira categoria particulariza-se como a da
interatividade de transmissão, onde o meio permite somente que o interagente
47

escolha, entre opções pré-disponíveis, uma que ofereça as informações às


quais ele deseja ter acesso.

A segunda, da interatividade de consulta, é aquela em que o meio


admite que o interagente solicite o conteúdo que deseja receber, abrindo,
dessa forma, um canal de contato com o público. A terceira dimensão é a da
interatividade de conversação. Nela, o meio autoriza que o interagente
produza e envie as suas próprias informações a ele. E por fim, a quarta e
última categoria é a da interatividade de registro, onde o meio recebe opiniões
e solicitações do interagente, registra-as e responde-as (PRIMO, 2005).

Analisando essas quatro propostas de interatividade, pode-se dizer que


os meios jornalísticos tradicionais possuem um caráter maior de mistura das
dimensões de interatividade de transmissão, consulta e registro. Um exemplo
da primeira seria um telespectador que pode escolher entre os canais
disponíveis na televisão. No quesito de consulta, tem-se o exemplo de uma
pessoa que envia uma pergunta a uma publicação, através de formulário de
contato, presente na interface do site. E no terceiro, tem-se o exemplo de um
telespectador que utiliza um sistema de Pay-per-view, onde são registrados e
transmitidos os programas escolhidos por ele.

Em publicações participativas da Internet, é possível perceber com


maior ênfase um misto das categorias de conversação e registro. Como
proposta da primeira, observa-se o exemplo do site Wikinews, onde o
interagente produz, envia e publica o seu conteúdo. A dimensão de registro
pode ser demonstrada através do exemplo de um interagente, que faz a
denúncia de um conteúdo ofensivo à equipe de coordenação de um site
participativo. Partindo-se do fato de que a informação inadequada, enviada por
outra pessoa, não passou por edição prévia e não corresponde à política
editorial do site, o conteúdo é retirado do ar. Dessa maneira, há o registro e a
resposta à solicitação do interagente.

Ainda assim, é importante ressaltar que nada impede que as quatro


dimensões possam coexistir em algum tipo de publicação ou meio de
comunicação. Essas categorias não são excludentes ou limitantes do
processo, aparecendo aqui para elucidar os processos de interação que
48

ocorrem de diferentes maneiras, e possuem propósitos distintos em


publicações tradicionais e publicações participativas.

Sendo assim, em concordância às propostas apresentadas até aqui,


para Bowman e Willis (2003), o jornalismo sempre teve que responder às
mudanças sociais e tecnológicas. O desenvolvimento das tecnologias de
comunicação trouxe um contexto de transformações e expansão para os
meios. Conseqüentemente, o jornalismo é afetado à medida que as
informações passam a ser produzidas e publicadas por fontes de informação
“não tradicionais”.

3.2 Mudanças no jornalismo vistas a partir de exemplos práticos

Expõe-se, neste item, a partir de exemplos, algumas mudanças que


ocorrem no jornalismo praticado em redes digitais, em função da participação
do público na produção de conteúdo. Para isso, inicialmente, propõe-se um
quadro comparativo de uma amostra de sites que se apresentam como
publicações participativas.

As publicações observadas são as seguintes25: OhMyNews International,


Slashdot 26, Digg 27, Wikinews28, VozDiPovo 29, Linkk 30, Brasil Wiki 31 e
32
sosperiodista . Essas publicações foram escolhidas por formarem uma
amostra heterogênea do que se tem na rede, em termos de produção de
conteúdo participativo. A justificativa para o termo heterogêneo encontra-se no
fato de que são observados sites de caráter global, da América do Norte, da
América Latina, da África e do Brasil. Além da diversidade do caráter
geográfico, reúne-se uma amostra que possui representantes de publicações

25
Uma descrição maior sobre a história destas publicações pode ser encontrada nos anexos
deste trabalho.
26
http://slashdot.org
27
http://www.digg.com
28
http://en.wikinews.org
29
http://www.vozdipovo-online.com
30
http://www.linkk.com.br
31
http://www.brasilwiki.com.br
32
http://www.sosperiodista.com.ar/
49

que utilizam equipe editorial de jornalistas, que utilizam os interagentes como


editores e que não utilizam nenhum tipo de edição. Enfim, procurou-se reunir
uma amostra diversa, que pudesse exemplificar as diferentes características
da produção de conteúdo participativo na Internet.

A comparação entre as publicações é feita abordando características


próprias de cada site e, também, aspectos ligados à rotina de produção
jornalística. A discussão ocorre em dois momentos, A e B, um com menor e
outro com maior nível de profundidade, respectivamente. No menor nível de
discussão, nível A, observam-se os aspectos “Cadastro”, “Remuneração” e
“Recursos web 2.0”. Essas características foram escolhidas em função de
serem representativas, numa definição de como se apresenta o conteúdo
produzido participativamente na rede.

No nível B, maior nível de discussão, abordam-se as características de


“Seleção”, “Equipe Editorial”, “Edição”, “Hipertexto” e “Auto-denominação”. Os
três primeiros aspectos foram escolhidos por acreditar-se que são etapas
essenciais da rotina jornalística e que, na prática das redes digitais, acabam
sofrendo muitas modificações. Os últimos dois itens são trazidos para
demonstrar a interação no hipertexto dos sites da amostra, evidenciando como
as publicações denominam a sua prática de produção de conteúdo na rede
digital.

A categoria “Hipertexto” é apresentada a partir da tipologia proposta por


Primo (2003). O autor parte de três categorias para avaliar como ocorre a
interação entre os agentes de maneira hipertextual. São elas: hipertexto
potencial; colaborativo ou colagem; e, hipertexto cooperativo. As definições de
cada uma dessas características são aprofundadas ao longo da análise do
quadro apresentado a seguir.

A categoria “Auto-denominação” é proposta, neste trabalho, em função


dos muitos termos que vêm sendo utilizados para designar as mudanças no
jornalismo praticado em redes digitais. Centraliza-se as discussões em três
expressões: jornalismo cidadão, jornalismo participativo e jornalismo de fonte-
aberta. Essa concentração foi definida por serem esses os termos mais
utilizados dentre os debates empregados por interessados no tema, e por
50

serem as expressões utilizadas pelas próprias publicações para se auto-


definirem.

Apresenta-se, a seguir, o quadro que expõe a reunião das principais


características da amostra de publicações. Através dele, pretende-se
desenvolver dois níveis de discussão, um mais profundo, nível A, e outro
menos profundo, nível B. O intuito dessas análises é explicitar, através de oito
exemplos, alguns dos diferentes modelos existentes de produção de conteúdo
participativo na Internet. Ao longo da apreciação, podem ser visualizadas
tabelas que oferecem uma síntese das características tratadas, a fim de tornar
mais claro o entendimento do trabalho.
Equipe
Seleção de
editorial de Auto-
Cadastro Remuneração Recursos web 2.0 conteúdos Edição Hipertexto
jornalistas denominação
publicados
profissionais
Modelos de Feita pela
Sim / Edita
Sim / programação mais equipe editorial Jornalismo
OhMyNews Sim Sim. todo material Colagem
Obrigatório leves, ex.: podcasts, antes da Cidadão
recebido
RSS. publicação.
Não para
Modelos de Não / Equipe
publicar Não. Em caso de
programação mais leves editorial Não se
conteúdo, mas conteúdo
Slashdot Não e aproveitamento da Sim. formada por Colagem denomina como
sim para abusivo pode
inteligência coletiva, membros do jornalismo.
moderar a ocorrer denúncia
ex.: rede de links. site
edição
Modelos de Não. Em caso de
Sim / programação mais leves conteúdo Não apresenta
Digg Não Não. Não. Colagem
Obrigatório e aproveitamento da abusivo pode definição.
inteligência coletiva. ocorrer denúncia
Modelos de Edição pode ser
programação mais leves Jornalismo
Wikinews Não. Não Não. Não. feita por Cooperativo
e aproveitamento da Participativo.
qualquer um.
inteligência coletiva.
Não / Equipe
Modelos de Feita pela
editorial Jornalismo
Sim / programação mais leves equipe editorial
VozDiPovo Não Sim. formada por Colagem Cidadão e/ou
Obrigatório e aproveitamento da antes da
criadores do Participativo
inteligência coletiva. publicação.
site
Modelos de
Jornalismo
programação mais Não. Em caso de
Cidadão,
Sim / leves; aproveitamento conteúdo
Linkk Não Não. Não. Colagem Participativo
Obrigatório da inteligência coletiva abusivo pode
e/ou de Fonte-
e experiência mais rica ocorrer denúncia
aberta
para o interagente.
Feita pela
Modelos de Sim / Edita Jornalismo
Sim / equipe editorial
Brasil Wiki Não programação mais Sim. todo material Colagem Cidadão e/ou
Obrigatório antes da
leves. recebido. Participativo
publicação.
Feita pela
Sim / Aproveitamento da equipe editorial Jornalismo
sosperiodista Não Sim. Não. Colagem
Obrigatório inteligência coletiva. antes da Cidadão
publicação.
Quadro 1 – Exemplos de publicações participativas e suas características
Menor nível de discussão
Maior nível de discussão

51
52

3.2.1 Nível A

Analisando o quadro anterior, produzem-se algumas conclusões mais


uniformes a respeito dos aspectos remuneração e cadastro, por possuírem
poucas diferenças entre as publicações da amostra. Os recursos da web 2.0
também recebem um tratamento mais dimensionado, por já terem sido
amplamente discutidos no capítulo anterior deste trabalho.

Assim, pode-se observar que, com exceção do OhMyNews, todos os


outros sites que produzem conteúdo colaborativo na web, presentes na
amostra, não remuneram seus colaboradores (tabela 1). No que tange ao
cadastro (tabela 1), o Wikinews é o único que não solicita nenhum tipo de
cadastro para que o colaborador possa interferir na publicação e na edição do
conteúdo. Pode-se adiantar que este é o tipo mais livre de participação,
presente nas publicações da amostra. O site Slashdot também não solicita
cadastro para o envio de conteúdo, no entanto, se o colaborador quiser fazer
parte da equipe que seleciona as informações que são publicadas deverá
responder um cadastro e para criar uma conta de acesso à publicação.

Com exceção desses dois exemplos citados, todas as outras


publicações, do quadro apresentado anteriormente, solicitam algum tipo de
cadastro ao colaborador que deseja enviar informações ao site. Pode-se dizer
que o cadastro mais completo, ou seja, o que solicita mais informações do
interagente é o do OhMyNews, onde é necessário responder um amplo
questionário e enviar cópias de documentos que comprovem a identidade do
colaborador. Os outros sites que solicitam cadastro limitam-se, na sua maioria,
a um formulário com pedido de e-mail, residência e nome completo, nada que
possa eficientemente assegurar a identidade do interagente.
53

Tabela 1 – Representação simplificada das categorias “Remuneração” e “Cadastro”

Remuneração Cadastro
OhMyNews
Digg
VozDiPovo
SIM OhMyNews
Linkk
Brasil Wiki
sosperiodista
Slashdot
Digg
Wikinews Slashdot*
NÃO VozDiPovo Wikinews
Linkk
Brasil Wiki
sosperiodista
*O site Slashdot não solicita cadastro para a publicação de conteúdo. No entanto, para atuar
na equipe de seleção do material é necessário criar uma conta de acesso.

No que diz respeito ao uso dos recursos da web 2.0, a maioria dos sites
utiliza modelos de programação mais leves (tabela 2) e o aproveitamento da
inteligência coletiva. No caso do Linkk, ainda há a característica de uma
experiência mais rica para o interagente, pois existe a possibilidade de mudar
a posição dos menus e das informações no site. Ainda no Linkk, há uma rede
de links para outros sites, a assinatura do serviço RSS e também o uso de
tags para categorizar as notícias. Outro site que utiliza tags para categorizar
as informações é o Slashdot. Sites que disponibilizam serviços de RSS, além
do Linkk, são Digg, Slashdot, Wikinews, VozDiPovo e OhMyNews. Nos sites
OhMyNews, Brasil Wiki e Digg são oferecidos downloads de podcasts da
publicação. As publicações sosperiodista, VozDiPovo, Wikinews e Digg
oferecem, ainda, uma rede de links para outros sites.

Tabela 2 – Representação simplificada da categoria “Recursos da web 2.0”


Modelos de
Aproveitamento da inteligência Experiência mais rica
programação mais
coletiva – rede de links, tags para o interagente
leves – RSS.
Linkk Linkk
Slashdot Slashdot
Digg Digg
Linkk
Wikinew Wikinews
VozDiPovo VozDiPovo
OhMyNews sosperiodista
54

3.2.2 Nível B

Neste momento, observando as informações presentes no quadro


comparativo, propõe-se uma discussão mais ampla dos aspectos “Seleção” e
“Edição”, incluindo, nas duas, a observação da presença ou não de uma
equipe editorial formada por jornalistas. O aprofundamento nessas
características ocorre em função da necessidade de uma discussão,
envolvendo os aspectos tradicionais das rotinas de produção jornalísticas,
para que se tenha uma idéia mais clara das transformações que ocorrem nas
publicações participativas da Internet.

A partir dos parâmetros propostos por Wolf (2003), tem-se como


elementos principais da organização do processo informativo, numa visão
geral e comum à maioria dos órgãos de comunicação, a recolha do material, a
seleção e a edição. Em função de que todas as publicações, presentes na
amostra do Quadro 1 (quadro comparativo), recebem o conteúdo a ser
publicado diretamente dos seus colaboradores, não se aprofunda a discussão
no aspecto da recolha do material. São privilegiadas as discussões das
características de seleção e edição.

3.2.2.1 Seleção

De acordo com Wolf (2003), no jornalismo tradicional, a seleção do


material que chega até a redação (tabela 3) é a separação do que vira notícia
e do que não é utilizado. A seleção é feita com relação aos critérios de
noticiabilidade da publicação, mas não é somente isso que define o processo.
Para o autor, a seleção é uma tarefa complexa que permeia toda a produção
dentro de um veículo de comunicação. Os valores-notícia estão presentes
desde o contato com as fontes até a produção da matéria, e isto já caracteriza
uma determinada seleção. O processo precisa ser eficiente, já que o tempo de
55

produção é escasso, por isso acaba influenciando todas as etapas da rotina


jornalística.

O processo de seleção das notícias pode ser comparado a um funil


dentro do qual se colocam inúmeros dados de que apenas um número
restrito consegue ser filtrado. Pode, porém, fazer-se igualmente uma
comparação com um acordeão, dado que há certas notícias que são
acrescentadas, deslocadas, inseridas no último momento (WOLF,
2003, p. 241).

O autor ainda destaca que, praticamente, nenhum desses aspectos


inerentes da seleção fica transparecido no conteúdo noticioso. Busca-se uma
apresentação da notícia como um relato fiel do que ocorreu, não sendo
demonstrados no produto final os fatores que influenciaram na escolha das
fontes, dos locais de pesquisa e na produção das informações.

Utilizando uma abordagem relacionada aos estudos de newsmaking,


tem-se a teoria do gatekeeper, na qual o jornalista é visto como uma espécie
de “porteiro”, que seleciona o que será publicado e o que não será. Traquina
(2001), nessa teoria, o jornalista filtra quais os fatos que se transformarão em
notícias e que serão publicados. Embora o profissional seja preparado para
selecionar os fatos através de critérios noticiosos, é inegável que estejam
presentes, no processo, valores subjetivos e, até mesmo, arbitrários.

Os estudos que datam da época do surgimento da teoria do


gatekeeping, ou seja, 1950, salientavam o papel individual dos editores na
seleção das notícias. Os estudos mais recentes indicam que fatores do meio,
como o deadline, a política organizacional e a cultura, também desempenham
uma influência importante na construção do material noticioso (TRAQUINA,
2001).

Numa redação comum, tem-se uma idéia prévia da quantidade de


material que será selecionado, em função do número de repórteres
trabalhando, do número de agências de notícias associadas e dos critérios de
noticiabilidade da publicação. Isso não ocorre na produção de conteúdo
colaborativo na Internet. Os sites não têm idéia de quantos interagentes vão
colaborar hoje e quanto de material precisará ser selecionado. Poderá haver
dias de abundância e dias de escassez. Por isso, o colaborador é tão
56

importante para esses tipos de publicações participativas, entende-se que são


os interagentes que fazem a produção ocorrer.

O fato da seleção se caracterizar na divisão entre o que é ou não notícia


é comum tanto à produção de conteúdo tradicional quanto à participativa. No
entanto, nessa última, não há, necessariamente, jornalistas profissionais
envolvidos no processo. A maioria dos sites da amostra não possui uma
equipe de jornalistas para fazer a seleção e a edição do material que chega
até a publicação, enviado por colaboradores.

Nos sites que possuem seleção de conteúdo, – e em alguns que não


possuem – é possível encontrar, em maior e menor grau de clareza,
esclarecimentos quanto à política editorial do site. Muitos possuem até mesmo
guias de estilo, disponíveis para auxiliar o colaborador na produção de um
material adequado ao site. O guia também oportuniza que o interagente saiba
quais os critérios que serão levados em conta na seleção do material enviado
por ele.

Dentro dos sites que utilizam jornalistas profissionais para atuar na


seleção de material, estão apenas o OhMyNews International e o Brasil Wiki.
Nesses, os critérios de noticiabilidade estão relacionados às rotinas produtivas
tradicionais e à proposta da publicação. O OhMyNews possui uma ampla
política editorial acessível no site, solicita um cadastro rígido dos
colaboradores e, ainda, pede que junto à matéria que se deseja publicar, se
enviem informações relativas às fontes consultadas para a produção do texto.
No Brasil Wiki, o interagente que colabora deve concordar com o termo de uso
exposto pelo site. Nele, há uma explicação sobre a necessidade de utilizar o
serviço de boa-fé e corretamente, além de esclarecimentos quanto à
publicação de conteúdo, protegido por direitos autorais, ao envio de spams e
informações ofensivas.

No site Slashdot, a seleção é feita por uma equipe editorial, formada por
oito pessoas envolvidas na gestão da publicação. Esses editores recebem o
material enviado pelos interagentes e decidem o que será publicado. A seleção
é feita a partir de critérios de noticiabilidade próprios do site, incluindo fatores
técnicos e editoriais. São excluídos, por exemplo, conteúdos que possuem
links incorretos, utilizam xingamentos no texto ou que já tenham sido
57

publicados. A forma como as informações se apresentam na página inicial do


site é definida pela própria equipe (BREIER, 2004). O Slashdot oferece amplas
informações a respeito da publicação em um documento de “Frequently Asked
Questions” ou “Perguntas freqüentes”. Nele, pode ser encontrado basicamente
tudo sobre o site, como política editorial, guia para publicação de conteúdo,
moderação, cadastro e tecnologia.

Nos sites Digg e Linkk, não há uma equipe de jornalistas profissionais,


nem mesmo um grupo que selecione o material que será publicado. Todo o
conteúdo enviado é publicado na seção “Upcoming Stories”, no caso do Digg,
e “Novas notícias”, no caso do Linkk. Os próprios interagentes votam nas
notícias enviadas e decidem qual a mais relevante, assim, as notícias que
recebem mais votos são aquelas que aparecem na página inicial da
publicação.

O Digg oferece informações sobre que tipo de conteúdo pode ser


enviado ao site e como o interagente pode proceder para disponibilizar
informações. O colaborador deve concordar com os termos de uso e
privacidade da publicação, que oferecem informações sobre o envio de artigos
ofensivos ou inadequados e também com relação aos direitos autorais que
devem ser respeitados. O Linkk não oferece um guia de estilo e nem um tipo
de política editorial que deve ser respeitada pelos colaboradores. Desde que
não seja ofensivo, todo o conteúdo é permitido e visualizado na publicação.

O Wikinews é o caso de maior diferença entre os outros, presentes no


quadro anterior. O site não seleciona o material que é publicado, simplesmente
tudo vai ao ar. Além de não ser selecionado, o conteúdo também não é
hierarquizado por colaboradores ou de acordo com sua importância, os fatos
aparecem na página inicial de acordo com a ordem cronológica.

Segundo a definição presente no site, o Wikinews não contém artigos


que sejam comentários ou opiniões pessoais, para isso, a publicação sugere
que se use a ferramenta dos blogs. Ainda segundo a própria definição, o site
possui dois tipos de artigos. O primeiro seriam artigos-sínteses, onde são
combinadas, com neutralidade, diversas informações de múltiplas fontes,
citadas ao longo do texto.
58

O segundo tipo de artigo é caracterizado pelo site como “original


reporting”, e seria constituído a partir de informações originais. Nesse modelo,
a publicação afirma estar presente a prática de jornalismo feita pelos
colaboradores do site. Qualquer um pode se enquadrar nessa dimensão,
desde que as informações sejam obtidas pelo interagente diretamente das
fontes, sem intermediários. A publicação ainda define todos os artigos como
uma forma de colaboração, sem a existência de um autor único e fechado.

Para quem deseja tornar-se colaborador do Wikinews, o site oferece um


guia, denominado “Writing an article” ou “Escrevendo um artigo”, onde podem
ser obtidas as informações necessárias para começar a publicar artigos no
site. Há ainda guias de estilo, de conteúdo, de informação original e código de
ética, além de um wiki, onde os colaboradores podem discutir questões
técnicas do site e outro onde podem ser vistos os artigos que estão sendo
produzidos no momento, caso se tenha a intenção de colaborar com algum
deles.

Nos sites VozDiPovo e sosperiodista, a seleção do material recebido é


feita por uma equipe editorial. No entanto, essa equipe é formada por
membros criadores do site, e não por jornalistas. No caso do VozDiPovo, que
se auto-declara uma Organização Não-Governamental (ONG), a edição é feita
pelos membros da diretoria da publicação. O site deixa explícito quem são
essas pessoas, qual sua função dentro da publicação e qual sua formação. Já
no site sosperiodista, não fica claro quem são os responsáveis pela seleção do
material e quais as funções desses membros.

No VozDiPovo, há um regulamento para que se respeite a questão dos


direitos autorais ao produzir conteúdo para o site. Também está disponível um
estatuto editorial, no qual é exposta a política da publicação. No entanto, não
há nenhum guia de estilo de produção de conteúdo para ser utilizado pelos
colaboradores. O sosperiodista oferece esclarecimentos quanto ao tipo de
conduta que se deve ter ao colaborar com o site e também com relação à
política editorial da publicação. Ao preencher o cadastro para se tornar um
cidadão-repórter, o interagente deve concordar com o termo de uso e o código
de ética da publicação.
59

Tabela 3 – Representação simplificada da categoria “Seleção”


Seleção
OhMyNews*
Slashdot**
SIM VozDiPovo**
Brasil Wiki*
sosperiodista**
Digg
NÃO Wikinews
Linkk
*Equipe editorial formada por jornalistas profissionais.
** Equipe editorial formada por colaboradores ou membros da coordenação do site.

3.2.2.2 Edição

A edição (tabela 4) é o segundo aspecto tido como principal na


organização do processo informativo que é mais amplamente explicitado no
trabalho. Para Wolf (2003), a edição consiste no processo de preparação e
apresentação das informações. Essa tarefa baseia-se no ato de colocar o
conteúdo no formato em que ele deve ser apresentado, corrigir erros, checar
informações e, ainda, conforme o autor, “anular os efeitos das limitações
provocadas pela organização produtiva, para restituir à informação o seu
aspecto de espelho do que acontece na realidade exterior [...]” (p. 244). O
autor afirma que o jornalismo provoca determinada fragmentação nos fatos por
apresentá-los ao público fora de contexto, prejudicando a informação e
constituindo uma estratégia dos meios de comunicação.

Por outras palavras, se todas as fases anteriores funcionam no


sentido de descontextualizar os fatos do quadro social, histórico,
econômico, político e cultural em que acontecem e em que são
interpretáveis (isto é, no sentido de curvar os acontecimentos às
exigências de organização do trabalho informativo), nesta última fase
produtiva, executa-se uma operação inversa: recontextualizam-se
esses acontecimentos, mas num quadro diferente, dentro do formato
do noticiário (WOLF, 2003, p. 244).

Em suma, para o autor, a edição tem alguns aspectos principais. Um


deles seria o fato de que o acontecimento é transformado num relato coerente,
breve e organizado em ordem direta. Em função desse aspecto técnico da
60

rotina produtiva, corre-se o risco de focar a importância da informação apenas


em determinadas partes do fato, conseqüentemente anulando outras. Fica
evidente a penetração dos valores-notícia da publicação também no processo
de edição do conteúdo.

Assim como Wolf (2003), Medina (1987) também coloca a edição como
uma das etapas fundamentais dentro da organização do processo informativo.
Para a autora, entre as principais funções do editor estão a articulação do
conteúdo presente na matéria e a angulação das informações. Dessa maneira,
pressupõe-se que o editor esteja ciente da política da publicação. É a
angulação feita por ele que torna o material publicável nos parâmetros do
veículo de comunicação. Medina caracteriza a figura desse profissional como
“regulador”.

Na prática tradicional do jornalismo, o editor é a figura do profissional


que decide as pautas que serão cobertas em determinada edição, quais os
repórteres designados para cada matéria, qual o espaço que será destinado
para assunto entre outras. Contudo, a figura do editor de publicações
participativas da Internet se mostra de maneira diferente. Ele pode também ser
o responsável pela seleção do material, porém, no que tange à edição, o seu
trabalho depende diretamente da colaboração dos interagentes. Ele não pode
designar quem vai cobrir qual assunto ou quais pautas serão distribuídas. Mas
pode, da mesma maneira que o profissional de edição de veículos tradicionais,
determinar o ângulo da matéria, corrigir erros, hierarquizar as informações
entre outras.

Dois dos sites presentes na amostra do quadro comparativo utilizam


uma equipe de jornalistas profissionais para atuar nos processos de seleção,
checagem e edição da informação, enviados por interagentes. São eles o
Brasil Wiki e o OhMyNews. No primeiro, enquanto é avaliado, o material fica
na sessão “Pendentes”, se a checagem confirmar a possibilidade de
publicação das informações, elas vão para a sessão que foi sugerida pelo
colaborador no momento do envio do conteúdo.

No OhMyNews, enquanto é checado e editado, o material não aparece


na publicação. Conforme Brambilla (2006), no site, a edição inclui uma
61

checagem minuciosa das informações presentes nas notícias enviadas pelos


cidadãos repórteres.

Essa checagem pode levar até duas semanas, conforme o grau de


complexidade dos artigos, e certas vezes exige que o staff do
OhMyNews contate o autor de tal matéria para esclarecer quais foram
as fontes utilizadas. Além da checagem de informações é feita uma
edição textual para corrigir a estrutura gramatical dos textos, adequá-
los a uma linguagem jornalística, quando necessário, e ainda editar
suas manchetes e linhas de apoio (BRAMBILLA, 2006, p. 111-112).

Segundo a autora, ao assumirem o papel de editores, os jornalistas


estão promovendo uma diferenciação entre profissionais e cidadãos
repórteres. O jornalista, criador do OhMyNews, Oh Yeon Ho (apud
BRAMBILLA, 2005), defende que a necessidade do jornalista na redação de
um site participativo está no fato de que alguém deve ser responsável por
definir os critérios de notícia, hierarquizar a posição das matérias no site e
definir a agenda-setting.

Tanto no Brasil Wiki quanto no OhMyNews, os interagentes não podem


mudar o conteúdo que já foi publicado e editado pelas equipes editoriais. A
posição das informações na página inicial da publicação é definida pela equipe
de jornalistas do site. Uma questão específica do Brasil Wiki está ligada ao
fato de que, embora possua a expressão “wiki” em seu nome, o site contraria
os preceitos da filosofia do termo. De acordo com as primeiras publicações
wiki e, também, segundo com os precursores dos softwares colaborativos,
nesse tipo de publicação deve ser permitida a publicação e a edição coletiva
das informações, sem a necessidade de cadastro e sem uma edição prévia do
que será publicado. A filosofia “wiki” pressupõe uma das características da
web 2.0 de que quanto mais pessoas utilizarem um serviço, melhor ele vai se
apresentar ao público. Dessa maneira, quanto mais colaboradores fizerem uso
do Wikinews (publicação que faz jus ao termo), maior será o poder de
gerenciamento e o controle de qualidade, oferecidos pela própria comunidade
de interagentes.

No Wikinews, a edição pode ser feita por qualquer um. Assim como todo
conteúdo enviado é publicado, todo conteúdo publicado pode ser editado por
62

qualquer pessoa. Além disso, algum material considerado ofensivo também


pode ser retirado do ar pela equipe de programadores, através de alguma
denúncia recebida de colaboradores. A posição das notícias na página inicial
da publicação é orientada apenas pelo caráter cronológico da informação.

Nos sites Slashdot, Digg e Linkk, não há uma equipe para edição do
material. Em caso de algum erro na informação ou de algum tema considerado
ofensivo, os interagentes podem fazer a denúncia desse conteúdo para a
equipe de programadores do site que retira a informação do ar, porém depois
de publicadas, as informações não podem ser modificadas pelos
colaboradores.

Nos sites VozDiPovo e sosperiodista, assim como a seleção, a edição


também é feita por equipes editoriais formadas pelos administradores do site
antes da publicação do conteúdo. Também são as equipes que decidem quais
os conteúdos que vão estar presentes na página principal da publicação. Antes
que seja editado e avaliado, o material não aparece em nenhuma seção do
site. Os interagentes não são autorizados a mudar o que já foi publicado.

Através da discussão empregada até aqui, pode-se entender que o


processo de edição que ocorre em publicações participativas da Internet é, em
sua maioria, bastante diferente daquele presente na rotina de produção
jornalística tradicional. Pode-se estabelecer uma linha de comparação entre a
amostra de sites do quadro 1, evidenciando aqueles que estão mais próximos
da edição tradicional, os que se caracterizam numa edição intermediária e os
que causam uma ruptura no processo.

Propõe-se que a edição mais próxima do modelo praticado no jornalismo


tradicional é aquela onde há uma equipe de jornalistas profissionais atuantes
que leva em conta critérios de noticialibilidade, para interferir na forma de
apresentação do conteúdo. Um modelo intermediário seria a edição feita por
uma equipe formada por colaboradores ou membros da coordenação do site,
onde são feitas mudanças estruturais no texto e também se analisa se o
conteúdo é pertinente à política editorial da organização. O nível de edição
que poderia ser equiparado a uma ruptura no processo tradicional seria aquele
onde não há nenhum tipo de edição do conteúdo, ou quando essa pode ser
feita por qualquer pessoa, uma vez que o material esteja disponibilizado.
63

Tabela 4 – Representação simplificada da categoria “Edição”


Edição
OhMyNews*
Slashdot**
VozDiPovo**
SIM Brasil Wiki*
sosperiodista**
Wikinews***
Digg
NÃO Linkk
*Equipe editorial formada por jornalistas profissionais.
** Equipe editorial formada por colaboradores ou membros da coordenação do site.
*** Edição pode ser feita por qualquer pessoa.

3.2.2.3 Hipertexto

Tradicionalmente, os primeiros sites da Internet que exploraram a


tecnologia do hipertexto 33 trataram-no de maneira limitada. Em sua maioria,
são lexias interconectadas por links já estabelecidos. Primo (2003) propõe
pensar o hipertexto não apenas como um recurso de leitura não-linear, mas
como uma proposta de construção conjunta do conteúdo. Ou seja, no
hipertexto tradicional, os links que direcionam os caminhos de leitura já estão
disponibilizados, não permitindo uma participação maior do interagente. Nesse
sentido, o autor propõe que o hipertexto pode funcionar não apenas com a
posição ativa do sujeito no processo de leitura, mas também diretamente na
produção de conteúdo.

33
O termo hipertexto indica um conjunto de nós, documentos ou lexias conectado através de
links. Trata-se de um texto escrito e lido com a função de organizar os dados e as
informações de maneira associativa e não-linear. O hipertexto já existia antes das
tecnologias digitais, porém com elas agrega-se a ele a multimidialidade, ou seja, a
possibilidade de incluir, além de texto, fotos, gráficos, vídeos, áudios entre outros (LÉVY,
1993).
64

Para analisar as interações que ocorrem através do hipertexto, Primo


(2003), expõe três categorias de apreciação. A primeira é a do hipertexto
potencial. Nele, os links dos caminhos de leitura que podem ser percorridos
pelo interagente já estão prontos, e não existe a possibilidade de inserir
qualquer tipo de informação ou conexão.

O produtor do site programou por antecedência todos os caminhos


possíveis. Mas, mesmo que o internauta possa escolher quais
caminhos tomar, os seus trajetos particulares ficam limitados pelas
seqüências permitidas na interface. Ao internauta não é oferecida a
possibilidade de inserir novas histórias ou alterar a interface (que
modificaria o conteúdo que o próximo visitante encontraria) (PRIMO,
2003, p. 8).

A segunda dimensão é a do hipertexto colaborativo ou colagem. Para o


autor, nesse tipo, tem-se a maior participação do sujeito na organização das
informações, sem uma discussão prévia ou criação compartilhada de
conteúdo. “A colaboração constitui-se em uma colagem, sem discussões
durante o processo criativo” (p. 12). As partes do hipertexto são criadas em
separado e não compartilhadamente. Segundo o autor, nesse tipo de
hipertexto, uma equipe editorial pode atuar na seleção e edição do conteúdo.
Pode-se dizer que, nesse caso, o colaborador interfere parcialmente no
processo de produção do hipertexto do site.

O último nível de interação no hipertexto é o cooperativo, onde a


construção do texto é feita de forma compartilhada e discutida. Todos os
envolvidos no processo interferem na produção de um texto comum, que
ocorre à medida que a interação entre os agentes se desenvolve. Para Primo
(2003), este hipertexto é dependente direto do debate coletivo. A configuração
do conteúdo depende das discussões empreendidas pelos colaboradores.
Além disso, a criação coletiva do texto permite que todos interfiram nele, de
maneira igualitária, e não existe um autor individualizado do produto. “O
trabalho cooperado, por sua vez, avalia constantemente sua produção. E como
todos interagentes podem alterar qualquer parte do texto, a personalidade e o
estilo desenvolvidos no grupo acabam por permear toda a produção” (p. 15).
65

Observando as publicações presentes na amostra do quadro 1, deste


trabalho, é importante entender que as três dimensões de interação no
hipertexto, propostas por Primo (2003), podem coexistir nos sites. Ao mesmo
tempo em que é possível encontrar um nível cooperativo, também pode ocorrer
a existência do potencial, do colaborativo e vice-versa. Sendo assim, a análise
feita não pretende ser excludente, ao determinar uma forma de interação no
hipertexto dos sites. Parte-se do pressuposto que o hipertexto potencial está
presente em todos os sites da amostra, propondo-se uma discussão
privilegiada e um destaque das categorias que se demonstram mais
inovadoras no processo de interatividade.

A definição de quais sites constituem um hipertexto do tipo colagem ou


do tipo cooperativo é bastante complexa. Parte-se do fato que na dimensão
colagem alteram-se os caminhos de leitura através da inserção de novos
textos, links e informações. No entanto, não ocorre um debate para a
construção do hipertexto gerado, caracterizando o produto da colaboração de
um sujeito individualizado. Pode-se dizer então, que os sites Digg e Linkk têm
caráter de hipertexto colaborativo porque são formados por postagens
“coladas” e criadas em separado. No entanto, cada colaboração oferece a
opção de serem adicionados comentários a ela e isso caracteriza uma
discussão, evidenciando um modelo de hipertexto cooperativo.

Assim também ocorre no Slashdot, por mais que as colaborações sejam


colagens separadas, os comentários não o são. Ao observar o site, vê-se a
discussão que ocorre a partir das opiniões dadas a um determinado post.
Pode-se entender que a discussão ocorre mais livremente nessas publicações
pelo fato de que a política editorial dessas se demonstra mais livre. Apenas
conteúdos ofensivos seriam retirados do debate.

Ainda assim, ao analisar o quadro, percebe-se que o modelo cooperativo


é mais evidente no Wikinews, onde o conteúdo é fruto de negociações entre
interagentes colaboradores. A liberdade nessa publicação é maior, pode-se
produzir conteúdo e interferir diretamente em todos os outros que estão
disponibilizados. No Wikinews, além do debate, evidencia-se a construção
coletiva do conteúdo. A discussão pode ser verificada na comparação entre as
versões antigas de determinado conteúdo e aquelas que já receberam
66

intervenções de colaboradores. “O processo coletivo de aperfeiçoamento de


um artigo ou de um verbete polêmico, pois, acaba por manter registrado o
resultado de um processo de discussão, que vai se atualizando nas páginas
‘abertas’ do sistema Wiki“ (PRIMO e RECUERO, 2003, p. 10).

No OhMyNews, VozDiPovo, sosperiodista e Brasil Wiki tem-se um


caráter de colagem mais evidente. Não são empregadas discussões para a
construção compartilhada do conteúdo. Por mais que ele passe pelo crivo de
uma equipe editorial, esta não o constrói, mas apenas o corrige e formata. O
debate não é evidente no que diz respeito à transformação de idéias. Caso a
discussão entre editores e produtores de matérias se caracterize um formato
cooperativo ter-se-ia que classificar dessa maneira os jornais impressos ou
outros veículos tradicionais de comunicação.

Também se deve levar em conta que outros interagentes não podem


mudar um texto já publicado. Ainda assim, em todos, há a possibilidade de
inserir comentários aos conteúdos disponibilizados. No entanto, no OhMyNews
essas opiniões estão sujeitas à intervenção dos editores da publicação,
podendo ser retiradas do site. Sendo assim, entende-se que a moderação dos
comentários pelas equipes editoriais nas demais publicações também pode
ocorrer.

Não se estabelece aqui nenhum comparativo, de forma gráfica ou em


tabela, entre os níveis de interatividade do hipertexto nas publicações, em
função da coexistência das categorias. Entende-se que elas coexistem nos
sites em diferentes seções e com múltiplas propostas.

3.2.2.4 Denominação

Analisando como as publicações se auto-denominam no que diz respeito


ao tipo de jornalismo que se propõem a praticar na Internet, percebe-se que
há, entre elas, uma multiplicidade de expressões utilizadas. Muitas usam mais
de um termo para identificar a prática participativa apresentada no site. Nota-
67

se que há uma interseção entre as diferentes definições propostas, sendo elas


jornalismo participativo, cidadão e de fonte-aberta.

Uma das publicações que se apresenta de forma clara e precisa é o


OhMyNews, que denomina a sua prática como jornalismo cidadão. O site
oferece artigos e notícias sobre o tema, a fim de ampliar as discussões sobre o
assunto e deixar clara a sua posição no debate. Assim também se apresenta o
site sosperiodista, porém não de maneira tão consistente como o anterior. O
site apenas cita a expressão como forma de justificar o trabalho que é feito, no
entanto, não há uma discussão mais ampla sobre o assunto.

As publicações VozDiPovo e Brasil Wiki afirmam ser um misto das


práticas jornalismo cidadão e participativo. O Linkk se apresenta dentro das
três possibilidades de prática jornalística. O Wikinews define-se como
jornalismo participativo. Ainda, acrescenta-se que o site segue três princípios
básicos: conteúdo livre, neutralidade e processo aberto de decisões.

O Digg não oferece definição sobre a publicação participativa de


conteúdo que é realizada no site. Buscou-se contato com a equipe de
gerenciamento da publicação, através de e-mail 34, solicitando que fosse feito
um esclarecimento quanto à denominação, porém não se obteve resposta. O
Slashdot não se considera uma prática de jornalismo por afirmar que
“jornalismo é feito por jornalistas”, segundo o próprio criador Rob Malda, em
entrevista ao jornalista James Glave, da revista Wired 35.

Propõe-se, nos próximos itens, uma discussão sobre como os termos


jornalismo participativo, cidadão e de fonte-aberta estão sendo conceituados
por diferentes autores e debatedores do tema.

34
Foram enviados dois e-mails à publicação, um no dia 7 de fevereiro e outro no dia 12 de
fevereiro. No entanto, nenhum deles obteve respostas.
35
A entrevista está disponível em http://www.wired.com/news/culture/0,1284,21448,00.html
68

3.2.2.5 Jornalismo participativo

“Meus leitores sabem mais do que eu”. A frase é de Gilllmor (2004, p.


14), um dos disseminadores da idéia do jornalismo praticado por cidadãos-
repórteres. Segundo o autor, o jornalismo e a produção de conteúdo noticioso
do futuro será como um diálogo, um seminário e não mais uma leitura. Não
haveria mais linhas delimitadoras entre produtores e consumidores da
informação, e a validade desse processo estaria no fato de que todos os
participantes poderiam se beneficiar da vontade de contribuir e do
conhecimento presente nos colaboradores. Para o autor, as pessoas estão
utilizando as ferramentas de publicação da Internet para se tornar uma parte
ativa e participante no processo de produção e difusão das informações.
Dessa maneira está sendo alterada a natureza do jornalismo deste novo
século.

Reforçando a importância do diálogo, Bowman e Willis (2003) propõem


que uma característica definidora do jornalismo participativo é a conversação.
Esse seria o mecanismo que modificaria os papéis no jornalismo tradicional e
criaria uma dinâmica mais igualitária da produção de conteúdo. Para os
autores, o termo jornalismo participativo indica um fenômeno emergente, onde
não há uma rotina de produção jornalística tradicional.

Bowman e Willis (2003) oferecem uma definição do conceito de


jornalismo participativo e afirmam que o termo é utilizado por eles para
descrever o conteúdo e a intenção da comunicação digital que ocorre nos
meios participativos.

Jornalismo participativo: o ato de um cidadão, ou grupo de cidadãos,


desempenhando um papel ativo no processo de coletar, reportar,
analisar e disseminar notícias e informações. A intenção desta
participação é prover informação independente, confiável, correta,
diversificada e relevante que uma democracia requer (BOWMAN e
WILLIS, 2003, p. 9).
69

Os autores expõem formatos de produção de conteúdo na Internet onde,


segundo eles, caracteriza-se o jornalismo participativo. Alguns deles são:
grupos de discussão online (sejam eles apresentados na própria interface da
publicação, através de e-mail ou de chats), publicações colaborativas e
weblogs.

Ainda dentro do processo de diálogo, Rocha (2005) reforça que o


jornalismo participativo estimula a troca de idéias. Para o autor, o termo indica
uma prática diretamente relacionada à Internet, e que ocorre sem a
necessidade de um grupo responsável pelo controle das informações.

Outros autores também buscam discutir o jornalismo participativo. Primo


e Träsel (2006) afirmam que, nesse modelo, o interagente é parte essencial do
processo de produção de conteúdo. Os autores definem a expressão como:
“práticas desenvolvidas em seções ou na totalidade de um periódico noticioso
na web, onde a fronteira entre produção e leitura não pode ser claramente
demarcada ou não existe” (p. 9). Träsel (2006) vai além na proposta de
definição do termo: “Em outras palavras, aqueles veículos em que os leitores
são também co-autores e têm o papel de comunicar fatos, redigir notícias e
outros conteúdos jornalísticos, editá-las, revisá-las ou publicá-las, com ou sem
a supervisão de jornalistas profissionais”.

3.2.2.6 Jornalismo cidadão

O site Online Journalism Review 36, mantido pela Annenberg, Escola de


Comunicação da Universidade do Sul da Califórnia, propõe a definição do
termo jornalismo cidadão através de um glossário 37, disponível na publicação.
De acordo com ele, a expressão indica a coleta e a publicação de informações
atuais, únicas e reais produzidas por cidadãos sem formação acadêmica em
jornalismo ou ligação profissional com algum veículo. Alguns exemplos
propostos incluem a publicação de fotos de fatos recentes, tiradas com

36
http://www.ojr.org
37
http://www.ojr.org/ojr/wiki/glossary/
70

telefones celulares, a cobertura de um blog sobre assuntos locais e fóruns de


discussão na Internet.

Dentro da idéia da produção, feita por cidadãos sem formação específica


em jornalismo, Glaser (2006) afirma que as pessoas estão utilizando as
ferramentas tecnológicas, disponíveis através da Internet, para criar conteúdo
ou aumentar e checar as informações veiculadas pelos meios de comunicação.
O autor ainda cita exemplos do que considera ser a prática de jornalismo
cidadão:

Por exemplo, você pode escrever sobre a assembléia de um conselho


da sua cidade no seu blog ou num fórum online. Ou você poderia, no
seu blog, checar os fatos de um artigo de um jornal pertencente aos
meios tradicionais e apontar erros ou informações tendenciosas. Ou
você poderia tirar uma foto digital de um evento que vale a pena ser
noticiado e está acontecendo na sua cidade e postar esse material
online. Ou você poderia gravar em vídeo um evento similar e
disponibilizar o vídeo em um site como o YouTube. Todos esses
poderiam ser considerados atos de jornalismo, mesmo que eles não
demonstrem ir além da simples observação da cena de um fato
importante (GLASER, 2006) 38.

Alguns autores questionam a validade do termo jornalismo cidadão.


Aponta-se que o jornalista profissional também é um cidadão comum e ao ter
um blog pessoal pode estar caracterizando a prática indicada pela expressão.
Além disso, muitos acreditam que apenas jornalistas com formação
profissional são capazes de manter a qualidade na produção de conteúdo
noticioso. Um dos questionadores do termo é José Luís Orihuela, autor do livro
“A Revolução dos Blogs”. Em entrevista 39 ao jornal La Voz del Interior, de
Córdoba, na Argentina, Orihuela afirma que falar em jornalismo cidadão é
inadequado. Segundo ele, o que ocorre na Internet, atualmente, é mais bem
caracterizado como comunicação pública em meios sociais. Para o autor, não

38
Tradução da autora deste trabalho. Citação original disponível em:
http://www.pbs.org/mediashift/: “For example, you might write about a city council meeting on your
blog or in an online forum. Or you could fact-check a newspaper article from the mainstream
media and point out factual errors or bias on your blog. Or you might snap a digital photo of a
newsworthy event happening in your town and post it online. Or you might videotape a similar
event and post it on a site such as YouTube. All these might be considered acts of journalism,
even if they don’t go beyond simple observation at the scene of an important event” (GLASER,
2006).
39
Entrevista completa disponível em: http://www.cordoba.net/notas.asp?idcanal=36&id=46082.
71

existe jornalismo sem jornalistas, já que a profissão caracteriza-se por


preceitos éticos e deontológicos indispensáveis.

É importante ressaltar, ainda, que o jornalismo cidadão não pode ser


confundido com jornalismo cívico. Este último indica uma prática feita
necessariamente por jornalistas profissionais que se dedicam à cobertura de
pautas de relevância social, buscando envolver e engajar a comunidade num
processo de reivindicações e ativismo. A prática não está diretamente ligada à
Internet. O jornalismo cívico busca envolver a comunidade nas discussões de
seus problemas, utilizando a cobertura dos grandes veículos de comunicação
(BOWMAN e WILLIS, 2003).

3.2.2.7 Jornalismo de fonte-aberta

O termo jornalismo de fonte-aberta surgiu através da conexão entre a


prática da produção de conteúdo e os preceitos de código-aberto na
comunidade de software livre no contexto da informática. Na ciência da
computação, fonte-aberta indica softwares onde o código-fonte é de acesso e
modificação livre. Um dos principais projetos que utiliza esse preceito é o
sistema operacional Linux. De acordo com Primo e Träsel (2006), um dos
objetivos de proposta é reduzir o número de erros nos serviços e valorizar a
inteligência coletiva. Segundo os autores, a mesma coisa ocorre quando o
termo é ligado à prática jornalística: “com milhares de colaboradores, os erros
seriam mais rapidamente identificados e corrigidos do que em uma redação
com número limitado de funcionários” (p. 9).

Ainda no âmbito da informática, Gillmor (2004) coloca que os projetos


para criação de serviços em código-aberto envolvem pessoas do mundo todo e
podem gerar softwares tão bons quanto ou até melhores que os comerciais.
Para o autor, quando o código está aberto para ser visualizado por qualquer
um, o serviço torna-se mais seguro, já que os erros são achados de maneira
muito mais rápida e fácil.
72

Mesmo tendo um caráter de ligação com o mundo da informática, a


prática do jornalismo de fonte-aberta é muito próxima da rotina caracterizada
nos modelos participativo e cidadão. Brambilla (2006) propõe uma série de
comparações entre o aspecto de fonte-aberta em softwares e no jornalismo.
Essas análises permitem que se tenha uma idéia mais clara de como se
apresenta a produção de conteúdo nesse modelo. A autora coloca que, dentro
desse propósito de jornalismo, as notícias podem ser produzidas e
modificadas por diferentes pessoas que atuam coletivamente para a criação de
um produto enriquecido. Esses colaboradores não são necessariamente
jornalistas com formação profissional. No entanto, nada impede que eles
atuem no processo.

Silva Jr. (2004) propõe uma conceituação do termo. Para o autor, a


ligação entre a proposta informática e o jornalismo interfere diretamente na
rotina de produção de conteúdo noticioso. Tem-se uma produção desvinculada
de grandes órgãos de imprensa e isso faz com que se ampliem a diversidade
de fontes de informação. “O conceito, portanto, incorpora duas dimensões
analíticas: uma fonte aberta enquanto desvinculação profissional; e fonte
aberta enquanto pluralidade da fonte informativa” (p. 3).

O autor afirma que a conexão entre os diferentes campos propõe


construções cooperativas da informação. Os defensores do código-aberto
vêem o movimento como uma resposta aos sistemas proprietários, ligados a
grandes corporações que visam apenas o lucro. Também, dessa maneira pode
ser visto o jornalismo de fonte-aberta. Ele seria um modelo independente dos
veículos tradicionais de comunicação, gerado de forma participativa.

Através das discussões empreendidas até aqui sobre os modelos de


jornalismo participativo, cidadão e de fonte-aberta, observa-se que não existe,
ainda, uma definição exata de cada um. Há uma convergência entre as
expressões e uma interseção entre os seus preceitos. Os autores utilizam os
diferentes termos para designar os mesmos processos de produção coletiva e
cooperativa de conteúdo e, também, para indicar as mesmas publicações.

Sendo assim, não se objetiva uma definição exata de cada um dos


termos vistos acima. Mas propõe-se a conclusão de que um modelo não exclui
o outro e todos fazem parte de um grande conjunto de mudanças no jornalismo
73

praticado em redes digitais. Essa mudança se dá através da participação do


público que, independentemente de ser formado por profissionais de imprensa,
atua na proposta de ampliar o acesso ao conhecimento e valorizar a
inteligência coletiva na produção de informações.

Dessa maneira, quer-se demonstrar que o fato de os três modelos de


jornalismo não possuírem conceitos delimitados isso não os desqualifica.
Entende-se que todos fazem parte da produção de conteúdo participativo pelo
público em redes digitais, movimento que gera mudanças no jornalismo e não
tem seu debate encerrado aqui, em função do constante desenvolvimento da
rede e do surgimento de novas publicações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A potencialização da interatividade, conforme focada neste trabalho, é


uma das conseqüências geradas pelo desenvolvimento da Internet. Propôs-se
que a interatividade no jornalismo das redes digitais é baseada em processos
multi-interativos de características mútua e reativa, simultaneamente. Também
se estabeleceu quais os mecanismos tecnológicos que dão suporte a essa
mudança na interação existente na rede. Tem-se como elemento motivador o
desenvolvimento da segunda geração da Internet.

A web 2.0 congrega as publicações que nasceram com a rede e se


desenvolveram com o propósito de valorizar a interatividade e a inteligência
coletiva. A Internet passou a ser vista e pensada como uma plataforma, onde
os indivíduos geram conteúdo, discutem, buscam informações e se relacionam.
Sendo assim, o desenvolvimento da rede, no âmbito da tecnologia de
ferramentas colaborativas, amplia a participação do público. Isso acaba
permitindo que o interagente atue na produção de conteúdo para publicações
participativas da web.

Tais transformações terminam por atingir a prática jornalística da rede


digital, surgindo diferenças entre o que é feito na Internet e a rotina tradicional
de produção de informações. Além disso, aparecem novas denominações para
indicar o que está ocorrendo em publicações que são formadas,
essencialmente, por conteúdo produzido por cidadãos comuns que não são,
necessariamente, jornalistas formados.

Dentro do contexto citado acima, desenvolveu-se a pesquisa deste


trabalho. Com o propósito de discutir algumas mudanças que ocorrem no
jornalismo praticado em redes digitais, usou-se de um quadro comparativo de
oito características observadas em oito publicações participativas da rede. Os
oito aspectos foram divididos em dois níveis de discussão, um de menor e
outro de maior profundidade.
75

No primeiro nível, foram analisadas as categorias “Cadastro”,


“Remuneração” e “Recursos da web 2.0”. Observou-se um caráter mais
homogêneo entre elas, já que poucas publicações se diferenciaram nesses
quesitos. Sendo assim, ampliou-se a discussão no segundo nível, o qual
buscou confrontar as rotinas produtivas jornalísticas, tradicional e participativa.

Pode-se entender que o processo de produção de publicações


participativas das redes digitais é bastante diferente daquele visto em meios
de comunicação tradicionais. Antes, os níveis de seleção e edição eram
praticamente imutáveis na sua função de regular as informações publicadas.
No entanto, observou-se que muitos sites não selecionam o conteúdo que
recebem e também não o editam. Na discussão acerca de como se
denominam e caracterizam algumas formas de jornalismo praticadas de forma
participativa na Internet, foi possível entender alguns aspectos das expressões
jornalismo participativo, cidadão e de fonte-aberta. Observou-se que todas têm
sua validade e, em muitos momentos, são utilizadas para designar as mesmas
publicações e os mesmos exemplos de participação do público. A partir dessa
constatação, entendeu-se que a prática referida pelas três denominações se
intersecciona em suas definições e propostas. Sendo assim, sugere-se que há
um processo mais amplo de mudança em curso, o qual engloba as três
categorias e proporciona um esclarecimento maior do que ocorre hoje nas
redes digitais.

Tem-se, então, que as tendências de jornalismo participativo, cidadão e


de fonte-aberta fazem parte de uma potencialização da interatividade e um
aumento na participação do público, na produção de conteúdo em redes
digitais. Esse caráter maior é proposto com o objetivo de a discussão não se
encerrar aqui. É importante que o desenvolvimento da Internet e das
publicações participativas seja acompanhado de perto e gere outros estudos
para, dessa maneira, alcançar-se um entendimento de como o jornalismo pode
utilizar a sabedoria coletiva a seu favor.

Embora não tenha sido abordada no trabalho, pode-se dizer que a


apropriação das ferramentas interativas da rede pelo público, é, em muitos
momentos, motivada por questões culturais ou políticas. Um dos fatores
76

geradores da mudança na produção jornalística é a insatisfação com a


qualidade do jornalismo praticado pelas grandes redes de comunicação.

No jornalismo, de modelo comercial, como é praticado hoje, percebe-se


que muitos veículos de comunicação assumem posturas ideológicas que
impedem um tratamento correto da informação. Além disso, os jornalistas
profissionais estão cada vez mais submetidos às pressões do mercado e
também políticas. Na tentativa de manter o emprego, o profissional submete-
se a ideologias mercantilistas e defesas de propósitos políticos que agradam
aos “empresários da comunicação”. Sem contar todos esses obstáculos, o
jornalista ainda tem que correr contra o tempo e contra a falta de recursos
operacionais. E dentro do modelo tradicional de jornalismo, o público pode
muito pouco contra isso.

A potencialização da participação do público, vista através dos exemplos


de jornalismo participativo, cidadão e de fonte-aberta, não vem para substituir
a função do jornalista, mas para agregar. Muitas vezes, o público sabe mais
sobre determinado assunto do que o profissional formado. Então porque não
ampliar as fontes de informação com o propósito de levar à população uma
possibilidade maior de escolhas?

O público não vem para dividir, mas sim para multiplicar. A participação
é uma conquista, um processo ativo que cresce a partir de um sentimento de
insatisfação. Ela surge como resposta ao trabalho mal-feito, verificado em
diversos veículos de comunicação. A participação não surge para dar voz a
quem não tem, mas para expor a voz de quem já tinha e não era ouvido.

Fazer com que os jornalistas se unam a esse propósito e agreguem


valor ao trabalho feito coletiva e colaborativamente é enxergar um futuro de
oportunidades. Parafraseando Gillmor, este é o começo de um fenômeno mais
amplo de introdução do diálogo na rotina de produção jornalística, “se nós
podemos erguer um celeiro juntos, nós podemos fazer jornalismo juntos. E nós
já estamos” 40.

40
Tradução da autora deste trabalho. Citação original: “If we can raise a barn together, we can do
journalismo together. We already are” (GILLMOR, 2004, p. 18).
77

Este trabalho buscou apresentar como a participação do público gera


mudanças no jornalismo e estas considerações finais buscam mostrar que se
concordando ou não, essas transformações são um fato e não podem ser
ignoradas. Espera-se que esta discussão possa gerar trabalhos futuros que
busquem a constante melhoria da prática jornalística.
REFERÊNCIAS

ALVES JR., Gilberto. Web 2.0: a nova internet é uma plataforma. 2005.
Disponível em: <http://webinsider.uol.com.br/index.php>. Acesso em: 16 maio
2006.

______. Web 2.0 é tudo isso e ainda mais um pouco. 2006. Disponível em:
<http://webinsider.uol.com.br/vernoticia.php/id/2816>. Acesso em: 16 maio
2006.

AROSO, Inês Mendes Moreira. A internet e o novo papel do jornalista.


Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt>. Acesso em: 20 jun. 2006.

BAZÁN, Cecilia. El blogger cordobés. Entrevista com José Luis Orihuela.


2006. Disponível em:
<http://www.cordoba.net/notas.asp?idcanal=36&id=46082>. Acesso em: 14 jan.
2007.

BEST, David. Web 2.0, next big thing or next big internet bubble?.
Eindhoven: 2006. Disponível em: <http://page.mi.fu-
berlin.de/~best/uni/WIS/Web2.pdf>. Acesso em: 30 maio 2006.

BOUTIN, Paul. Web 2.0, the new internet ‘boom’ doesn’t live up to its
name. 2006. Disponível em <http://www.slate.com/id/2138951/>. Acesso em:
19 maio 2006.

BOWMAN, Shayne; WILLIS, Chris. We Media, how audiences are shaping


the future of news and information. 2003. Disponível em:
<http://www.mediacenter.org>. Acesso em: 20 jun. 2006.

BRAMBILLA, Ana Maria. A identidade profissional no jornalismo open source.


Em Questão, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 103-119, jan./jun. 2005.

______. Jornalismo open source: discussão e experimentação do


OhMyNews International. Dissertação (Mestrado em Comunicação e
Informação) – Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação. Porto Alegre
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006.

BREIER, Lucilene. Slashdot e os filtros no Open Source Journalism. 2004.


Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt>. Acesso em: 20 jun. 2006.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra,


1999. v. 1.
79

______. La galaxia Internet. Barcelona, Espanha: Arete, 2001.

______. A era da intercomunicação. 2006. Disponível em:


<http://diplo.uol.com.br/2006-08,a1379>. Acesso em: 20 nov. 2006.

CHARTIER, Roger. A aventura do livro, do leitor ao navegador. São Paulo:


Unesp, 1999.

FIDALGO, Antonio; SERRA, Paulo (org.). Informação e comunicação online.


Jornalismo Online. Covilhã, Portugal: Universidade da Beira Interior, 2003. v. I.

GILLMOR, Dan. We the media. [California]: O’Reilly, 2004.

GLAVE, James. Slashdot: All the news that fits. Wired News. Estados Unidos,
1999. Disponível em:
<http://www.wired.com/news/culture/0,1284,21448,00.html>. Acesso em 10
dez. 2006.

GLASER, Mark. Your Guide to Citzen Journalism. 2006. Disponível em:


<http://www.pbs.org/mediashift/2006/09/digging_deeperyour_guide_to_ci.html>
. Acesso em: 20 dez. 2006.

JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma


nossa maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

LARA, Tiscar. Weblogs y periodismo participativo. Pauta Geral, n. 6, p. 217-


239, 2004.

LEAL, Ana Regina Barros Rego. Webjornalismo brasileiro de referência.


Comunicação e Espaço Público, ano VI, n. 1 e 2, 2003.

LEMOS, André. Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre


interatividade e interfaces digitais. Revista Tendências XXI. Lisboa, Portugal.
1997. Disponível em:
<http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos/interac.html>. Acesso em: 20 set.
2004.

_____. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea.


Porto Alegre: Sulina, 2004.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. São Paulo: 34, 1993.

______. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999.

______. A inteligência coletiva: por uma Antropologia do Ciberespaço. São


Paulo: Loyola, 2003.

MEDINA, Cremilda. Notícia, um produto à venda. São Paulo: Ática, 1987.


80

MIELNICZUK, Luciana. Jornalismo on line e os espaços do leitor: um


estudo de caso do NetEstado. Dissertação (Mestrado em Comunicação e
Informação) – Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação. Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1998.

______. Considerações sobre interatividade no contexto das novas mídias. In:


LEMOS, André; PALACIOS, Marcos (org.). Janelas do ciberespaço:
comunicação e cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2001.

______. Sistematizando alguns conhecimentos sobre jornalismo na web. In:


PALACIOS, Marcos, MACHADO, Elias. Modelos de jornalismo digital.
Salvador: Calandra, 2003. p. 39-54.

MIELNICZUK, Luciana; PALACIOS, Marcos. Considerações para um estudo


sobre o formato da notícia na Web: o link como elemento paratextual. GT –
Estudos de Jornalismo, X Encontro da Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. Anais..., Brasília, 2001.

O’REILLY, Tim. What is web 2.0. 2005. Disponível em:


<http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-
20.html>. Acesso em: 21 maio 2006.

______. Web 2.0 compact definition: trying again. 2006. Disponível em:
<http://radar.oreilly.com/archives/2006/12/web_20_compact.html>. Acesso em:
20 dez. 2006.

MILLEIRO, Andrés. Entrevista a Jose Luis Orihuela. 2006. Disponível em:


<http://www.andresmilleiro.info/blog/entrevista-a-jose-luis-orihuela>. Acesso
em: 7 jan. 2007.

OUTING, Steve. What You Had to Say About 'Citizen Journalism'. 2005.
Disponível em: <http://www.poynter.org/content/content_view.asp?id=83792>.
Acesso em: 20 jun. 2006.

PALACIOS, Marcos. Fazendo jornalismo em redes híbridas: Notas para a


discussão da Internet enquanto suporte midiático. 2003. Disponível em:
<http://www.facom.ufba.br/jol/producao2003.htm>. Acesso em: 04 jan. 2007.

PAVELOSKI, Alessandro. Subsídios para uma teoria da comunicação


digital. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt>. Acesso em: 20 jun. 2006.

PRADO, Ricardo. Estamos todos conectados. Entrevista com Pierre Lévy.


Revista Nova Escola, n. 164, ago. 2003.

PRIMO, Alex Fernando Teixeira. Interação mútua e reativa: uma proposta de


estudo. Revista da Famecos, Porto Alegre: PUCRS, n. 12, p. 81-92, jun.
2000.
81

______. Quão interativo é o hipertexto? : Da interface potencial à escrita


coletiva. Fronteiras: estudos midiáticos, São Leopoldo, v. 5, n. 2, p. 125-142,
2003.

______. Enfoques e desfoques no estudo da interação mediada por


computador. 404NotFound, n. 45, 2005. Disponível em:
<http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/404nOtF0und/404_45.htm>.

______. O aspecto relacional das interações na Web 2.0. In: XXIX


CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2006.
Brasília. Anais…, 2006.

PRIMO, Alex Fernando Teixeira; RECUERO, Raquel da Cunha. Hipertexto


cooperativo: uma análise da escrita coletiva a partir dos Blogs e da Wikipédia.
Revista da Famecos, Porto Alegre: PUCRS, n. 22, dez. 2003.

PRIMO, Alex Fernando Teixeira; TRÄSEL, Marcelo Ruschel. Webjornalismo


participativo e a produção aberta de notícias. In: VIII Congresso Latino-
americano de Pesquisadores da Comunicação, 2006. São Leopoldo. Anais...,
2006.

RIBAS, Beatriz. Características da notícia na Web - considerações sobre


modelos narrativos. In: II ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM
JORNALISMO. Anais… Salvador: UFBA, 2004.

ROCHA, Jorge. Partipatory journalism: conceitos e práticas informacionais na


Internet. In: XXVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO. Rio de Janeiro, 2005. INTERCOM - Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Anais... Rio de Janeiro: UERJ,
2005.

SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor


imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.

SCHWINGEL, Carla. Os sistemas de publicação como fator da terceira


fase do Jornalismo Digital. 2004. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt>.
Acesso em: 18 out. 2006

SIERRA, Kathy. The “Dumbness of Crowds”. 2007. Disponível em:


<http://headrush.typepad.com/creating_passionate_users/2007/01/the_dumbne
ss_of.html>. Acesso em: 21 jan. 07.

SILVA JUNIOR, José Afonso da. A relação das interfaces enquanto


mediadoras de conteúdo do jornalismo contemporâneo: agências de notícias
como estudo de caso. GT – Estudos de Jornalismo, XI Encontro da Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. Anais..., Rio de
Janeiro, 2002.
82

_______. A interface como estrutura de produção do jornalismo de fonte


aberta. In: NP 02 – Jornalismo, IV ENCONTRO DOS NÚCLEOS DE
PESQUISA DA INTERCOM. Anais…, Porto Alegre, 2004.

TRAQUINA, Nelson. O estudo do jornalismo no século XX. São Leopoldo,


RS: Unisinos, 2001.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo, por que as notícias são como


são. 2. ed. Florianópolis: Insular, 2005.

TRÄSEL, Marcelo Ruschel. O papel do webjornalismo participativo. In: 4°


Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. Anais..., Porto Alegre,
2006

WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 2002.

WOLTON, Dominique. E depois da Internet?. Portugal: Difel, 1999.


BIBLIOGRAFIA

BERTRAND, Claude-Jean. O arsenal da democracia: sistemas de


responsabilização da mídia. Bauru, SP: Edusc, 2002.

BRAMBILLA, Ana Maria. Jornalismo open source em busca de credibilidade.


In: Intercom 2005 – XXVIII CONGRESSO BRASILEIRO INTERDISCIPLINAR
DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 09. Anais…, Rio de Janeiro, 2005.

______. Comunicação e estar-junto: tendência à interação. Disponível em:


<http://anabrambilla.com>. Acesso em: 30 jun. 2006.

______. Interação na nova mídia: a morte do emissor e do receptor.


Disponível em: <http://anabrambilla.com>. Acesso em: 30 jun. 2006.

DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (org.). Métodos e técnicas de pesquisa


em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.

LASICA, J. D. What is participatory journalism? Disponível em:


<http://www.ojr.org/ojr/workplace/1060217106.php>. Acesso em: 20 jun. 2006.

LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. 6. ed.


São Paulo: Loyola, 2001.

MARTIN, Brian. The power of open participatory media and why mass
media must be abandoned. Disponível em:
<http://www.masternewmedia.org/news/2006/03/20/htm>. Acesso em: 20 jun.
2006.

MORAES, Denis de (org.). Sociedade midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad,


2006.

MOURA, Catarina. Jornalismo na era Slashdot. 2002. Disponível em:


<http://www.bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=nogueira-luis-
slashdot_texto.html>. Acesso em: 20 jun. 2006.

PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Comunicação nos movimentos populares:


a participação na construção da cidadania. 3. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

PISCITELLI, Alejandro. Internet: la imprenta del siglo XXI. Barcelona,


Espanha: Gedisa, 2005.

PRADO, José Luiz Aidar (org.). Crítica das práticas midiáticas: da sociedade
de massa às ciberculturas. São Paulo: Hacker, 2002.
84

RICHSTAD, Jim. O direito de comunicar na era da internet. In: BERTRAND,


Claude-Jean. O arsenal da democracia: sistemas de responsabilização da
mídia. Bauru, SP: Edusc, 2002. cap. 3. p. 59-72.

SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O que é mesmo uma notícia?. In: GT –


Estudos de Jornalismo, XIV Encontro da Associação Nacional dos Programas
de Pós-Graduação em Comunicação. Anais..., Niterói, RJ, 2005.
ANEXOS
86

ANEXO A - OhMyNews International

O site foi criado em 2000, com o objetivo de abrir a produção de notícias


para pessoas sem formação em jornalismo. De acordo com Brambilla (2006),
foi um fator motivador desse processo a questão de que na década de 90, três
grupos de mídia, todos conservadores, dominavam 80% da imprensa na
Coréia do Sul. A criação do OhmyNews teve o objetivo de defender pontos de
vista liberais, permitindo que “todo cidadão fosse um repórter”. A versão
internacional da publicação surgiu em 2004.

Para publicar conteúdo é necessário se cadastrar no site. A publicação é


a única da amostra deste trabalho que oferece remuneração aos seus
colaboradores.
87

ANEXO B - Slashdot

O site foi criado em 1997 pelo estudante americano de Ciência da


Computação, Rob Malda. O foco da publicação são notícias sobre e
informática. Em função disso, o slogan do site é “News for nerds” ou “Notícias
para nerds”. Para publicar conteúdo no site não é necessário preencher
cadastro. A publicação não oferece remuneração aos colaboradores.
88

ANEXO C - Digg

O site foi lançado em 2004 e idealizado pelos americanos Kevin Rose e


Jay Adelson. Para publicar conteúdo no Digg é necessário ser registrado
através de cadastro. Os colaboradores não recebem pagamento pelo material
enviado.
89

ANEXO D - Wikinews

O site faz parte da Fundação Wikimedia, organização que difunde a


criação cooperativa de conteúdo, tendo como principal produto a enciclopédia
Wikipedia. O Wikinews se define como uma fonte gratuita de conteúdo
noticioso. Qualquer cidadão comum pode escrever uma notícia, enviá-la e vê-
la ser publicada. Não há necessidade de preencher nenhum tipo de cadastro.
Além disso, qualquer um pode editar as notícias já disponibilizadas.
90

ANEXO E - VozDiPovo

O VozDiPovo online é uma entidade não-governamental do Cabo Verde,


na África. O site foi lançado em 2004 e se propõe a divulgar as principais
notícias de Cabo Verde de maneira colaborativa. Para publicar conteúdo é
necessário que o usuário se cadastre através de um formulário simples com
solicitação apenas de endereço de e-mail.
91

ANEXO F - Linkk

O Linkk funciona em moldes próximos aos do Digg. O colaborador se


registra e a partir daí pode publicar qualquer tipo de conteúdo. Os
colaboradores não recebem pagamento pelo material enviado.
92

ANEXO G - Brasil Wiki

O Brasil Wiki pertence à Editora MM Comunicação Integrada Ltda. e


também funciona com a colaboração de interagentes. Para publicar conteúdo é
necessário se cadastrar no site. O interagente não recebe remuneração em
dinheiro pelo material enviado.
93

ANEXO H - sosperiodista

O site é uma publicação participativa de Córdoba na Argentina. Para


publicar conteúdo é necessário preencher cadastro. A publicação não oferece
remuneração aos colaboradores. O site não informa a sua data de lançamento
nem quem são as pessoas que compõem a equipe editorial.
This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com.
The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.
This page will not be added after purchasing Win2PDF.

S-ar putea să vă placă și