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www.revistasamizdat.com
25
fevereiro
2010
ano III
ficina
ESCREVER
SAMIZDAT 25
fevereiro de 2010
Textos de:
Alain Robbe-Grillet
Fernando Pessoa
Marguerite Duras Obra Licenciada pela Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada
a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil Creative Commons.
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expressa dos colaboradores da revista.
Sumário
Por que Samizdat? 6
Henry Alfred Bugalho
MICROCONTOS
Ju Blasina 11
CONTOS
C’a Fé 12
Carlos Davissara
Pouca Sorte 14
Joaquim Bispo
Ortografia Indigesta 18
Volmar Camargo Junior
O Último Soneto 20
Ana Cristina Rodrigues
O Personagem 22
Henry Alfred Bugalho
Papoilas de Janeiro 26
Maria de Fátima Santos
As Devotas 28
José Guilherme Vereza
TEORIA LITERÁRIA
O Escritor como Personagem 50
Maristela Scheuer Deves
Dez anos de ofício literário 52
Henry Alfred Bugalho
Teorizando o concludo 58
Caio Rudá de Oliveira
Sobre escritores e suas drogas 60
Caio Rudá de Oliveira
RECOMENDAÇÃO DE LEITURA
O Sapateiro. A anatomia de um psicótico 64
Giselle Sato
CRÔNICA
Parindo Letras 68
Ju Blasina
Saramago em Concerto 70
Joaquim Bispo
POESIA
Metapoesias 74
Ju Blasina
Asseio 76
Volmar Camargo Junior
Palavras Novas 77
Maria de Fátima Santos
Concludo: uma fórmula poética 78
Caio Rudá
ficina
5
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Por que Samizdat?
“Eu mesmo crio, edito, censuro, publico,
distribuo e posso ser preso por causa disto”
Vladimir Bukovsky
6
E por que Samizdat? revistas, jornais - onde ele des tiragens que substituam
possa divulgar seu trabalho. o prazer de ouvir o respal-
O único aspecto que conta é do de leitores sinceros, que
A indústria cultural - e o
o prazer que a obra causa no não estão atrás de grandes
mercado literário faz parte
leitor. autores populares, que não
dela - também realiza um
perseguem ansiosos os 10
processo de exclusão, base- Enquanto que este é um mais vendidos.
ado no que se julga não ter trabalho difícil, por outro
valor mercadológico. Inex- lado, concede ao criador uma Os autores que compõem
plicavelmente, estabeleceu-se liberdade e uma autonomia este projeto não fazem parte
que contos, poemas, autores total: ele é dono de sua pala- de nenhum movimento
desconhecidos não podem vra, é o responsável pelo que literário organizado, não
ser comercializados, que não diz, o culpado por seus erros, são modernistas, pós-
vale a pena investir neles, é quem recebe os louros por modernistas, vanguardistas
pois os gastos seriam maio- seus acertos. ou q ualquer outra definição
res do que o lucro. que vise rotular e definir a
E, com a internet, os au- orientação dum grupo. São
A indústria deseja o pro- tores possuem acesso direto apenas escritores interessados
duto pronto e com consumi- e imediato a seus leitores. A em trocar experiências e
dores. Não basta qualidade, repercussão do que escreve sofisticarem suas escritas. A
não basta competência; se (quando há) surge em ques- qualidade deles não é uma
houver quem compre, mes- tão de minutos. orientação de estilo, mas sim
mo o lixo possui prioridades
a heterogeneidade.
na hora de ser absorvido A serem obrigados a
pelo mercado. burlar a indústria cultural, Enfim, “Samizdat” porque a
os autores conquistaram algo internet é um meio de auto-
E a autopublicação, como que jamais conseguiriam de publicação, mas “Samizdat”
em qualquer regime exclu- outro modo, o contato qua- porque também é um modo
dente, torna-se a via para se pessoal com os leitores, de contornar um processo
produtores culturais atingi- od iálogo capaz de tornar a de exclusão e de atingir o
rem o público. obra melhor, a rede de conta- objetivo fundamental da
tos que, se não é tão influen- escrita: ser lido por alguém.
Este é um processo soli-
te quanto a da grande mídia,
tário e gradativo. O autor
faz do leitor um colaborador,
precisa conquistar leitor a
um co-autor da obra que lê.
leitor. Não há grandes apa-
Não há sucesso, não há gran-
ratos midiáticos - como TV,
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Autor em Língua Portuguesa
Super-grammaticam
(excerto de “O Livro do Desassossego)
Fernando Pessoa
www.revistasamizdat.com 9
Fernando Pessoa nasceu
em Lisboa em 1888. Após
ter vivido boa parte de sua
infância na África do Sul,
Fernando Pessoa retornou a
Portugal em 1905, ingressou
na Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, mas
desistiu antes de completar
um ano. Com a herança de
sua avó, fundou uma tipogra-
fia em 1907, que mal chegou
a funcionar. No ano seguinte,
assumiu um cargo como
tradutor comercial, profissão
que exerceria por toda sua
vida.
Apesar duma fervilhante
vida literária desde cedo, o
“dia triunfal”, como o próprio
Pessoa o denominava, foi
o dia 8 de março de 1914,
quando ele criou o heterôni-
mo Alberto Caeiro e, duma
só vez escreveu a obra “O
Guardador de Rebanhos”.
Nesta mesma data, surgiram tinham por Alberto Caeiro, durante sua vida, já era
outros dois heterônimos fun- cada um deles desenvolveria reconhecido como o maior
damentais na carreira poé- um estilo diverso. Dos três, expoente da literatura portu-
tica de Pessoa, Ricardo Reis Álvaro de Campos é o poeta guesa no século XX. Após sua
e Álvaro de Campos, ambos cujo estilo mais se assemelha morte, descobriu-se em seu
discípulos direto da poesia de ao de Fernando Pessoa, aliás, quarto um baú onde Pessoa
Alberto Caeiro. durante sua vida, Fernando guardava seu imenso espólio
“(...) acerquei-me de uma Pessoa por várias vezes se literário, com mais de 18 mil
cómoda alta, e tomando um apresentava - brincadeira ou obras, e que o configuraria
papel, comecei a escrever, não - como Álvaro de Cam- como um dos mais importan-
de pé, como escrevo sempre pos para seus conhecidos. tes poetas portugueses - ao
que posso. E escrevi trinta e Nos manuscritos do autor, lado de Camões.
tantos poemas a fio, numa es- há vários textos de autoria
pécie de êxtase cuja natureza duvidosa, ora assinados pelo
Para saber mais
não conseguirei definir. Foi o próprio Pessoa, ora como
Álvaro de Campos. http://omj.no.sapo.pt/bio2.
dia triunfal da minha vida
htm
e nunca poderei ter outro Fernando Pessoa faleceu
assim.” em 1935 e, apesar de só ter http://pt.wikipedia.org/wiki/
publicado um único livro Fernando_Pessoa
Apesar da reverência que
Pessoa e os heterônimos e alguns textos em revistas
O que dizer...
Ju Blasina
http://www.flickr.com/photos/fat_tony/1451128058/sizes/l/
- Do Escrever - Do Sujeito - Da Dormência
11
Contos
Carlos Davissara
C’A FÉ
12 SAMIZDAT fevereiro de 2010
O lugar onde
Estou aqui, só. Como sem- brincar, nenhuma preocupa- a boa Literatura
pre, depois de um dia de cão, ção. Saudade... Pronto. Agora,
lavando, varrendo e esfregando, vamos experimentar. Argh, é fabricada
lá vou eu pra cozinha, fazer café horrível! Como que esse homem
http://guisalla.files.wordpress.com/2008/09/machado1.jpg
pro maridinho que chega já já pode gostar disto? Credo, pare-
do serviço. Tadinho do meu ho- ce óleo queimado. Mas, o aroma
mem, sofre tanto na mão do Seu ainda é gostoso. Não sei por
Nogueira. Ô, velho ruim! Não que esse cheiro me lembra o Gil
deve dar conta da mulher e fica quando era mais novo. Naquela
descontando nos empregados. época, as coisas eram difíceis,
Um pau-murcho frustrado, isso mas ele nunca me negava um
sim! Tenho tanta dó do meu Gil. sorriso.
Fico triste só quando ele che- Parece que chegou. É, é ele
ga nervoso. Toma o cafezinho sim. Conheço o barulho do
sem nem me olhar na cara, nem portão. Ai, essa batida da porta
um sorriso, um “brigado meu já diz tudo. O traste do Seu
amor”. Tudo bem que, às vezes, Nogueira deve ter broxado com
até me bate, mas quando é
http://www.flickr.com/photos/ooocha/2630360492/sizes/l/
a mulher de novo. E eu é que
assim, já sei que o Seu Nogueira sofro aqui! Gil, seu... Tá trocan-
aprontou alguma. E outra: nem do de roupa, já já vem tomar o
dói tanto. Por isso, faço o café cafezinho que a mulherzinha
com gosto. E o Gil adora. fez. Deixa eu ir pondo no copi-
Nossa, a água já tá fervendo! nho de vidro porque ele só toma
Fogão antigo é outra coisa. Eu assim. Uma vez que usei xícara,
não gosto de café assim, muito quase quebrou na minha cara.
forte, mas o Gil só toma desse Nossa, um pingo bem dentro do
jeito. Três colheres cheias pra copo! É do meu rosto. Por que
pouca água. E bem doce. Parece eu tô chorando? Pára, mulher
uma formiga, o meu homem. idiota, o café vai esfriar. Antes
Lindo... Olha como esse filtro de levar pra ele, só mais uma
segura o pó! Bom era coador coisa, um novo ingrediente com
de pano. Mas, o Gil fica com muito amor e carinho. Disse-
bobeira de que é nojento e tira o ram que uma gotinha já era o
http://www.flickr.com/photos/bitzcelt/399136360/sizes/l/
gosto e não sei que mais. Tomei suficiente. Vou por um pouco
café assim a vida toda e tô vivi- a mais pra garantir. Prontinho,
nha até hoje. Besteira, viu. Tem hoje é todo especial... Oi, meu
hora que fico louca com essas amor, seu café tá pronto.
coisas.
Delícia! Adoro cheiro de café
fresquinho. Lembro da minha
terra, quando eu era menina.
Aquilo que era felicidade. Só
ficina
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Contos
Pouca Sorte
Joaquim Bispo
www.revistasamizdat.com 15
que uma obra é muito mais trans- – Eu só queria ajudar! – arre-
piração que inspiração. O jeito pendeu-se António.
melhora com a prática.
– Ná, não é para mim. Eu es- Uns tempos depois, Gustavo
crevo é uns contos. Já tenho uns chegou a fazer a tal experiên-
sete ou oito. Estão lá arrumados cia na empresa onde António
numa gaveta. trabalhava, mas não passou de
– A sério? Gostava de ver uma semana. O director, de mãos
isso. na cabeça, veio ter com António,
– Não, não! Não estão grande queixando-se que o amigo ficava
coisa. Não tenho coragem de os parado a olhar para o ecrã, que
mostrar a ninguém. São só para introduzia dados trocados, que
mim. não tinha apetência por conhecer
novas funcionalidades do pro-
– Se quiseres publicar, tens
grama. Pediu desculpa, mas que
que os mostrar a alguém…
assim Gustavo não podia ficar.
– ironizou António. – E escre-
Quando António comunicou a
ver muitos mais. Os escritores
decisão ao amigo, este mostrou-
conhecidos dizem que escrevem
se muito abatido:
todos os dias.
– Comigo, corre sempre tudo
– Gostava de ser um escritor
mal. Eu não te disse que não
famoso, mas não tenho muita
tenho sorte nenhuma? Felizmen-
pachorra para escrever. E, mes-
te, posso voltar para o mesmo
mo quando estou entusiasmado,
trabalho com a minha fotocopia-
bloqueio, por não saber muito
dora, que essa conheço eu bem.
bem como hei de escrever.
Só que o meu chefe soube desta
– Mas, se achas que gostas escapadela e cortou-me as horas
de escrever, porque é que não extraordinárias. Já viste a minha
investes nessa área? Há muitos pouca sorte?!
livros práticos, há “workshops”,
– Eu só queria ajudar! –
há clubes de leitura. E, há as fa-
desculpou-se António com ar
culdades. Não fazem escritores,
pesaroso, mas por dentro ria
mas fornecem ferramentas muito
impiedosamente.
importantes.
– Tirar um curso? Estás
parvo! Não tenho dinheiro para
isso, nem estou para passar anos
a polir os bancos da universi-
dade só para escrever. Quando
quero, escrevo, mesmo que não
saia muito bem. Acho que é uma
questão de sensibilidade, mais
que de técnicas ou conhecimen-
tos.
ficina
seguras (rsrs) um nome teclando com amigos so-
mostrava como um fatal tos a sucumbir,
turnos e escrevendo apontava-
contos tos autores,
lembrar quenacionais
estava eme
artístico. Como é o seu
cumprir a vontade de Deus
enome
irresistível convite ao
de batismo, e por
lhe seus
cruéis na terríveis olhos
Tinta Rubra. estrangeiros,
harmonia comabordando
a música
o vampirismo, é possível
além-túmulo.
que a opção pela adoção ausentes. E como todos os inacabada de Bach. Ter-
fugir de certos clichês
deQuase
um pseudônimo? Você
um ano após o outros,
SAMIZDAT também— OsMozart
vampi- minando,
do gênero,viu ou que a perna
ao fazê-lo
publica textos como “você paralisou-se.
ros são um dos Junto à ima-
temas
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que, já estava olivre.
corre-se riscoCorreu
de desca-o
início das mortes, passava
mesma”, diferentes dos de tempos em sentiu
tempos,o racterizar o tema?
pela região umcomo
viajante gem macabra, mais rápido que pôde,
textos escritos Giu- voltam a ser moda. A que
austríaco,
lia Moon? excepcional cheiro da putrefação. As sem
GIULIA olhar paranão
— Bem, trás.existe
O
você atribui este fascínio
http://www.flickr.com/photos/erzs/1357413280/sizes/o/
náuseas dominaram-no, uma lei que diga
som de sua composição que tais
estudante
GIULIA — de música,
O meu nome que temos por estas cria- e tais características são
real é SueliWolfgang
chamado Tsumori. “Giu-Ama- o que o fez libertar-se da servia de trilha sonora
turas? obrigatórias para um perso-
lia Moon”
deus é umQuando
Mozart. nickname paralisia, caindo
GIULIA — Acho que as de joe- para
nagema vampiro.
fuga, enquanto
Acho que
que adotei quando entrei lhos a largos
pessoas gostamvômitos. Em ele
de vampiros pensava
depende como,
do bom até de
senso o
soube da maldição, não
na Tinta Rubra. Ao in- porquea são, em primeiro cada autor. aquela
Um bom senso
se meio engasgos, tosses e momento, música
vésalarmou, disse
de escolher, comoapenas
os lugar, vilões com um bom que o faça reconhecer que,
que gostaria de
outros, um nome romenoouvir o ânsias, ouviu a frase mor- nunca havia lhe parecido
layout. São parecidos com sem algumas características
vampiresco
tal concertocom títulose de
fúnebre de tal: “Termine a música”. tão viva e tão mórbida.
os seres humanos, têm as básicas, o seu personagem
nobreza como “condessa”
conhecer o seu autor. Foi Confuso,
vantagens dadesnorte-
juventude Prometeu não mais
não é um vampiro, mastocá-
e “lady”, reuni dois nomes eterna, imortalidade, la.
alertado de que a história
curtos que tivessem algum
ado, Mozart tentou dons
se alguma outra criatura. Os
psíquicos, força física. É vampiros do meu livro
era
tipo verdadeira,
de significado de para
que as levantar apoiando-se No dia seguinte, o
um monstro que tem um Kaori são os vampiros clás-
pessoas
mim. Eu já não queriam
sempre gostei do no órgão,
arsenal de que
armas sua mão
variado: jovem Mozart já bebem
sicos: predadores, não se
mais estudar música,soava
nome “Giulia”, porque e atravessou
a força, o poder como se nadaa
psíquico, encontrava
sangue (e só pela cidade.
sangue), não
sensual, gracioso e fácil de sedução, a esperteza. Pode andamum a luz do dia,pelo
têm
ele poderia ser o próxi- ali estivesse. Caiu sobre “Mais levado
ser pronunciado. E “Moon”,
mo,
porquee osou
diaumafatalapaixo-
estava o vômito, começando a ou
agir com a “mão pesada” Canto da Sereia de Bach”,de
muita força e capacidade
com sutileza, dependendo se regenerar de ferimentos.
se
nadaaproximando...
pela lua, adoroNada ficar recobrar a razão e ten- diziam. Contudo, soube-
da situação. Mas também Mas já escrevi contos em
devaneando
disso sob uma lua
o espantou. tando
pode ser afastar-se
sentimental, daquele
frágil, se
quenaoshospedaria
vampiros são que ele
seres
cheia ou ler histórias que prenúncio
enfim, pode da
ter morte.
todas as fra- havia partido durante
microscópicos, por exem- a
Dia vinte
envolvam e oito,
noites “Toca-
de luar – quezas
De da mente
bruços sobrehumana,
a terra, plo. Os clichês
madrugada, ruins
são são
e salvo,
ta e Fuga
além em Ré
de achar Menor”,
a grafia de pois já foram humanos um apenas aqueles que são mal
tudo
“moon” como
muitohaviam dito,os sentiu
legal, com algo prendendo-o
dia. Para o autor, é um per-
após o sinistro concerto.
trabalhados pelo autor.
e“o”s
lá lado a lado,
estava lembrando
Mozart pelo
den-Bugalho
sonagempé. Não
muitoteve cora-
estimulante, No cemitério, ao invés do
Henry Alfred
dois olhos arregalados de
tro do cemitério. Com os gem http://www.lostseed.com/extras/free-graphics/images/jesus-pictures/jesus-crucified.jpg
e issodefazolhar
com que parao ver o
produ- esperado músico morto,
O Rei dos
espanto. Quando lancei o SAMIZDAT — Muitos
olhos fechados, deixava-se que
to daera. E novamente
criação a
tenha grandes foi encontrada apenas
primeiro livro, não havia chances de suplicou:
ficar bom.“Ter-E, autores da nova geração
extasiar
razão para com as compo-
assinar de outra
voz suave uma inscrição com
encantaram-se na terra,
os
para o leitor, é aquele vilão
forma, já
sições deque a maioria
Johann Sebas-dos mine a música”. Fazendo parecida
vampiros com o trecho
por causa dos de
Judeus
(ou vilã) bonitão, sacana
meusBach,
tian leitores
numme estado
conhe- uma desesperada
e malvado que adoramosoração jogos departitura.
alguma RPG, especial-
Desde
cia como “Giulia Moon”. E mental, tateou
odiar. Vilões o solo
assim até
sempre mente “Vampiro: a Más-
então, não se noticiou
de euforia sobrenatural. cara” (publicado no Brasil
assim ficou. Nunca publi- fizeram sucesso,
Subitamente, o som encontrar uma pois pedraadora- mais vítimas do “Canto
quei nada como Sueli,se
pois mos esses contrastes: beleza pela Devir). Você perten-
extinguiu. O jovem
Giulia continua sendo,des-
pelo pontiaguda. Com ela, da
ce aSereia de Bach”.
este grupo ou seu
com maldade, delicadeza
menos para
pertou mim, oemeu
do transe dirigiu começou a desenhar no
com crueldade, e assim por interesse é anterior? Qual
do www.revistasamizdat.com 17
w
gr nl
át
oa
is d
Contos
Ortografia indigesta
Volmar Camargo Junior
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Contos
O último soneto
Ana Cristina Rodrigues
Escreveria um soneto. Não tinha idéia de onde Riu, até perder o fôlego.
Não apenas mais um dos morava, ou o que fazia. Ela Começou a tossir, aquela
muitos, mas “o” soneto. não sonhava que ele, pobre tosse doentia que o per-
Então ela entenderia. Sim, infeliz, existisse. Mas não seguia há anos. Sentou-se
naquela derradeira de- precisava saber. Era a sua na cadeira e entregou-se
monstração de sua arte musa, o seu amor. Da ima- aos espasmos dos pulmões
finalmente revelaria seu gem, perfeita, limpa, pura, doentes. O velho gosto de
coração. Olhou a garrafa de sem sequer a mácula do ferro subiu a sua boca,
vinho, largada pela metade conhecimento invasivo, ele deixando um travo amargo.
em cima da mesa. Depois tiraria a inspiração para o Com dificuldade, levantou
de terminar o soneto, usa- soneto perfeito. Infinitamen- e buscou um lenço para
ria aquele mesmo líquido, te superior àqueles versi- limpar os lábios. Quando o
escuro e cor de sangue, e nhos medíocres que publi- tirou da boca, estava man-
acabaria com tudo. Era só cava em revistas literárias, e chado de sangue. Outro
misturar algumas gotas de que lhe davam o dinheiro, acesso de tosse o deixou
um veneno, de preferência aquele sujo capital necessá- ofegante. A dor tomou seu
o mais raro e exótico pos- rio para viver. corpo.
sível para ter um fim digno Levantou-se e percor- Abriu a pequena caixa de
do seu último soneto. reu o quarto imundo até a remédios. Pegou a dose de
Porque este seria magis- janela. Na noite fria, o luar láudano que tiraria a dor.
tral. Sua obra-prima, que o transparecia sereno, lem- Mas um terceiro e mais
tornaria finalmente reco- brando a brancura da pele brutal acesso de tosse fez o
nhecido. E que faria com dela. Sim, escreveria um so- medicamento cair no chão.
que ela o amasse. Há quan- neto, o mais belo de todos. Ajoelhou-se, ainda tossindo.
to tempo a observava em Morreria, por suas próprias A vista ficou turva, sentia
silêncio, enquanto passava mãos. Assim se vingaria de frio. O desespero tomou
pela rua, sempre acompa- todos os que o humilharam conta de si.
nhada por sua dama de e também dela, que passava Não podia morrer agora,
companhia. Tinha cabelos por sua vida como se tives- sem escrever seu último
de ébano e pele de alabas- se esse direito. soneto.
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Contos
O Personagem
Henry Alfred Bugalho
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a própria trama que eu Mas esta submissão Aos poucos, o persona-
pretendia dominar. nem sempre é pacífica. gem começa a se despe-
Dizem que, quando Somos falhos, meros hu- dir. Se conviveu conosco
Robert E. Howard criou manos, cheios de orgulho por horas, dias ou anos,
o personagem Conan, o e ambições. Pouco nos tanto faz, pois, concluída
autor sentia que o bárba- agrada sermos pisotea- a obra, ele viverá para
ro cimério ficava postado dos por nossa cria. Todos sempre. Enquanto existir
ao seu lado, machado os dias, a sociedade, os um leitor no mundo, o
em punho, obrigando-o a governos, os patrões, os personagem estará pron-
escrever, aterrorizando-o poderosos nos oprimem, to para ressurgir e contar
caso fracassasse. arremessam-nos à lama sua história.
da insignificância e sub- Retornamos, enfim, ao
Creio que todo escritor serviência. Acreditamos
encontra-se, pelo menos vazio, ao mundo cotidia-
que, naqueles breves ins- no, à louça suja para la-
uma vez, nesta posição tantes de criação literária,
de prostração. Quanto var na pia, ao filme mais
de elaboração artística, tarde na TV, ao trânsito
mais isto ocorrer, melhor nós seremos os senhores,
é. Quanto menos do es- congestionado, ao filho
a suprema autoridade. que não pára de chorar.
critor encontrarmos nas
palavras, mais o persona- — Este é o meu mundo! O personagem retorna
gem se engrandece, mais Minha criação! — ber- a seu repouso.
autêntico se torna. ramos, debatendo-nos
cheios de brio. E é neste O escritor tem outras
Os maus escritores embate que terminamos páginas em branco para
escrevem pela glória por destruir o que tanto enfrentar.
pessoal. Os bons escri- almejamos. Pondo rédeas
tores escrevem para que em nossos personagens,
o personagem se torne quase sempre os conduzi-
completo, cumpra sua mos para o precipício.
missão e diga plenamente
a sua mensagem. A tarefa É impossível criar e, ao
do autor é desaparecer mesmo tempo, ter contro-
por detrás do persona- le absoluto. Criar é per-
gem que se forma. mitir que o imprevisível
se manifeste.
ficina
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Contos
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Contos
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José Guilherme Vereza
As devotas
O VP de Operações, Dr. Webs, tem um cacoete.
É um cacoete horroroso, que joga os olhos para o interior do globo ocular,
como se quisesse olhar para si mesmo. Mas como não consegue enxergar nada lá dentro,
volta as pupilas para fora com um olhar arregaladamente assustado
e pedinte de desculpas por proporcionar aos próximos espetáculo tão bizarro.
A secretária do Dr. Webs tem orgulho do cacoete do chefe.
Compete com uma outra, igualmente secretária, igualmente orgulhosa do cacoete do seu che-
fe,
Dr. Beens, VP Adminstrativo, que por sua vez, não fica nada a dever, em termos de cacoetes,
aos malabarismos faciais do Dr. Webs.
Na verdade, Dr. Beens leva uma ligeira vantagem.
Por ter a língua imensa, toda vez que abre a boca para dizer alguma coisa,
pontua vírgulas com um leve toque da língua no nariz. Um fenômeno. Quando a frase é
mais longa
e merece pontos propriamente ditos, a língua permanece mais tempo na ponta do nariz,
entre o final da frase e o início da outra.
A secretária do Dr. Beens diz à secretária do Dr. Webs que língua no nariz
demonstra mais personalidade que olhares interiores,
opinião veementemente rebatida pela secretária do Dr. Webs,
que afirma que olhares interiores são sutis, introspectivos,
denotam sensualidade e causam frisson.
As discussões entre as duas sempre terminam em baixaria,
mas nunca chegam aos agudos da histeria, quando resolve entrar no bate-boca a secretária
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Contos
Léo Borges
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perdendo sintonia com o atrapalhando, outra vez, seu fo? Para a infelicidade da sua
ódio que seus olhos ainda raciocínio. mãe eu nunca morri! Eu esta-
deixavam transparecer. Mas, O escritor percebeu que va era falando comigo mes-
mesmo muito cansado, Me- foi um erro pegar o filho mo – disse exasperado, mas
nandro mantinha Mary Flo- com a ex-mulher justamente adotando, logo em seguida,
wer acuada atrás da mesa de no fim-de-semana do famoso um tom didático. – Se você
jantar, procurando trucidá-la e difícil desafio literário da continuar interrompendo o
da mesma forma como fizera editora Selbstgeben (“Auto- papai, os homenzinhos das
com as outras três vítimas publicado”, em alemão). O histórias não vão fazer o que
dentro daquela bucólica casa. concurso relâmpago, uma deve ser feito e aí não vamos
O ciúme de Menandro o ótima oportunidade para ganhar o prêmio, por isso,
impelia à crueldade: preten- escritores iniciantes, exigia silêncio, tá?
dia não apenas matar como que cada autor estivesse
também comer o coração de Como Astolfo ainda in-
totalmente concentrado na sistia com novas indagações,
sua última vítima. elaboração de três diferentes Libório pegou uma folha
– Não me mate, não mere- textos. Quem determinava em branco, uma caneta e as
ço morrer! isso era o prazo, bastante entregou para o menino:
– Humm... “Não me mate, exíguo, posto pelo edital da
Selbstgeben: apenas 48 horas – Tome, meu filho. Passe
não mereço morrer!”de o tempo desenhando alguma
novo. Isso já foi usado no para os concorrentes pro-
duzirem as obras e envia- coisa.
conto erótico – murmurou
Libório, incomodado com a rem pela internet. Desta vez – Eles descansam, papai?
repetição e tentando encon- estavam em pauta os gêneros
– Quem?
trar algo que a substituísse. conto – erótico e terror – e
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literalmente, muito gostosas. zou Mauro. este machado rudimentar de
Estou certo? – Verdade – completou cortar lenha...
– Mais ou menos. Nem Agenor. – Acho bacana, – É, tem razão. E talvez fi-
tudo no meu mundo é verda- inclusive, que em muitos casse ainda melhor na poesia:
deiro. contos de terror o sujeito es- “...tantas flores e uma só Flo-
– Como assim? quarteja a vítima e come seu wer...” – suspirou Menandro,
coração. Nada contra. Aliás, surpreendendo os colegas.
– As mulheres, por exem- torturar muito me compraz!
plo. Já viu conto erótico – Acabei de descobrir o
Perdão pela rima. Força do porquê de nossas histórias
com alguma garota que não hábito.
possuísse “cintura fina, coxas estarem empacadas – irrom-
grossas e um belo rosto”? – Normalmente, quando peu, de repente, um entu-
isso ocorre, é porque o algoz siasmado Agenor, como se
– Não. Mas a sua parceira está com fome. No meu con- resolvesse explicar sua teoria
tem essas qualidades, né? to acho que é porque ela não para uma pessoa invisível.
– Nada. A Jéssica é até quis se entregar. Só mesmo o – O assassino do machado
muito simpática, mas está escritor para saber. tem uma queda pela lírica na
longe dessa perfeição pro- – “Se entregar”? Aí já en- mesma intensidade em que
pagada pelos discípulos de trou na minha área – disse o Casanova aqui tem pela
Anaïs Nin. Mauro. Mary, entretanto, estão impe-
didos de consumar seus de-
Nisso, aproxima-se outro – Falo em um sentido sejos, pois atuam em papéis
homem, expressão extenuada. romântico-trágico – explicou que não lhes agradam! E meu
– Opa, pode chegar, meu Menandro. – Minha ação caso ainda é mais dramático:
nobre – cumprimentou Mau- se traduz em “não é minha? gosto de uma boa violência,
ro. – Vem de onde? Então, não será de mais nin- mas estou nadando em po-
guém”. emas! Por isso sugerirei aos
– Do terror. Menandro,
muito prazer. – E as outras mortes? – senhores uma troca ousada:
questionou Mauro. vou para o terror, Menandro
– Beleza, Menandro. Deixe
vem para a poesia, e a Jéssica
ali o seu machado, meu ve- – O sogro, a sogra e o
morre pelas minhas mãos
lho. Aqui, em princípio, você cunhado.
no lugar da senhorita Flower,
não pretende matar ninguém, – Claro. Nada mais natu- que passaria para o erótico.
não é mesmo? ral – concluiu Agenor. O importante é findarmos os
– Até porque, como vejo, Os homens conversa- textos, da forma mais pra-
o amigo aí já deu cabo de vam tão distraidamente que zerosa possível, para que o
alguém: o machado está todo demoraram a perceber dois cara que nos criou vença esse
sujo de sangue – completou vultos femininos numa outra concurso e, assim, possamos
Agenor. – Conte aí, Menan- mesa. descansar com honrarias.
dro, como andam as coisas Que acham?
lá no teu interessantíssimo – Cara! Olha lá a Jéssica
conversando com uma gosto- – Por mim, ótimo! E vou
setor?
sa! – excitou-se Mauro. revelar algo que vai animá-lo,
– Bem, esta noite já ma- meu bom marujo: a Jéssica é
tei três. O último, inclusive, – Aquela é Mary Flower, a
casada – disse Mauro, sarcás-
esperneou um bocado. Tudo, mulher que devo executar –
tico, referindo-se ao enlace
entretanto, dentro do pre- observou Menandro.
da garota como um macabro
visto. Agora estou tentando – Que isso, rapaz? Matar palpite para a morte.
matar a Mary, mas está difí- aquela delícia?! – inflamou-se
– Nesse caso, melhor ainda
cil e cansativo. Esse negócio o protagonista da obra eró-
– asseverou Agenor, enten-
de matar, mata a gente. Sem tica. – Acho que esse nosso
dendo o toque funesto. –
trocadilho. escritor se confundiu. Essa tal
Achei sua companheira mais
– Calma... em breve você de Mary deveria estar é atu-
suculenta que a magricela da
vai picotá-la toda – profeti- ando comigo e não tentando
Mary. E uma boazuda como
se safar do amigo aqui com
http://www.flickr.com/photos/hidden_treasure/2474163220/sizes/l/
O lugar onde
a boa Literatura
é fabricada
ficina
33
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Contos
Fragmentos:
I. O Tempo
Marcia Szajnbok
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Contos
Segredos do tempo
36 SAMIZDAT fevereiro de 2010
Quando o tempo sussur- na vida. O xale toma forma,
rou em segredo:- Para você, lentamente passo e repasso
é o bastante? os fios e perco a noção do
tempo. Sonho e repito cenas
A soberba tornou-me inteiras, cheia de saudades
cega e retruquei de malgra- e carinho. Sinto-me prisio-
do um resmungo qualquer, neira e meu algoz não tem
sem prestar atenção às pressa. Anos, meses, sema-
palavras. Apressada, como nas, dias, horas, minutos e
toda jovem, cheia de sonhos segundos. Testemunhas.
e planos. Ousada, destemi-
da, a vida fluindo por todos Cinza chumbo é a cor do
os poros. Mal sabia o que mar agitado, ao longe um
queria, quanto mais o que navio apita e o som estri-
me faltava... dente é apenas um adendo.
A chaleira esquenta , o bolo
Anos mais tarde, a idade recém saído do forno atiça
trouxe o arrependimento. o paladar e a madeira quei-
Infelizmente, já não havia ma lentamente, espalhan-
volta, vi as brumas envol- do calor e aconchego. Um
vendo a paisagem e desejei gato preguiçoso me espia
dentro delas, encontrar o do sofá, acompanhando os
casulo e abrigo. Mas apenas movimentos.
a ilusão gelada da existen-
cia, me acompanhava:- Para O som dos saltos assus-
você foi o bastante? -Ele me tam, assim como a cara si-
questionou novamente, des- suda:- Hora do seu remédio.
ta vez, havia ironia e uma Depois jantar e cama. Hoje
ponta de sarcasmo: está frio demais! A senhora
esqueceu a janela aberta?
-Não! Queria ter ousado Sei que compreende perfei-
mais, dançado, cantado, via- tamente e pode responder.
jado e vivido muito... Muito Podíamos conversar...
mais!Não fui feliz por com-
pleto, não amei o suficiente Não respondo, há anos
nem tive tudo que quis, deixei de falar e dizem que
acabou rápido demais, mal meu olhar é o bastante.
desfrutei ... Maldito tem- Aguardo a visita derradeira
po! Como te odeio! – Ouvi para, quem sabe, reencon-
a risada pelos corredores trar meu companheiro,
vazios, e ainda os ouço... parentes e amigos.Dizem
ainda. que existe esta possibilida-
de, não sei se acredito, ou
O silencio é a compa- se haverá apenas o vazio
nhia com quem reparto e mais solidão. Não resta
solidão e lembranças. muito, aos 100 anos de ida-
Prendo as linhas no tear de , não resta quase nada...
enquanto a lã macia escorre
entre meus dedos e penso
http://www.flickr.com/photos/c-martinez/3830327990/sizes/o/
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Contos
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Tradução
Alain Robbe-Grillet
trad.: Henry Alfred Bugalho
www.revistasamizdat.com 41
mas que pode se tornar até vale para a literatura, que sobre seu próprio ofício.
mesmo prejudicial: ao nos a literatura também é viva,
Também aqui, vejo que
cegar quanto nossa real e que o romance, desde
os mitos do século deze-
situação no mundo atual, que surgiu, sempre tem
nove retêm todo seu po-
ela nos impede, em última sido novo. Como um estilo
der; o grande romancista,
instância, de criar o mundo pôde ter se mantido imu-
o “gênio”, é uma espécie
e o homem de amanhã. tável, fixo, quando tudo ao
de monstro inconsciente,
seu redor estava em evo-
Elogiar um jovem escri- irresponsável e à mercê do
lução - até mesmo revolu-
tor, em 1965, por ele “escre- destino, até mesmo ligeira-
ção - pelos últimos cento
ver como Stendhal” é um mente estúpido, que emite
e cinqüenta anos? Flaubert
duplo disparate. Por um “mensagens” que apenas o
escreve o novo romance em
lado, não há nada de ad- leitor pode decifrar. Qual-
1860, Proust, o novo ro-
mirável em tal feito, como quer coisa que ameace
mance em 1910. O escritor
acabamos de ver; por outro, obscurecer o julgamento do
deve consentir a aceitar sua
a própria coisa é impossí- escritor é mais ou menos
própria data com orgulho,
vel: para se escrever como aceito como favorável ao
sabendo que não há obras-
Stendhal, antes de tudo, pleno desabrochar da sua
primas na eternidade, mas
dever-se-ia estar escreven- obra. Alcoolismo, pobreza,
apenas obras na história; e
do em 1830. Um escritor drogas, paixão mística, lou-
que elas sobrevivem ape-
que produza um pastiche cura recaíram sobre as mais
nas pela medida de terem
habilidoso o suficiente para ou menos romantizadas
deixado o passado para trás
conter páginas que o pró- biografias dos artistas, que
e proclamado o futuro.
prio Stendhal poderia ter parecem ser natural vê-las,
assinado naquela época, de desde então, como neces-
modo algum possui mais sidades da triste condição
Entretanto, se há algo em
valor do que se houvesse es- do criador, ver, em qualquer
particular que os críticos
crito as mesmas páginas sob caso, uma antinomia entre
acham difícil tolerar, é que
Charles X. Não é paradoxo criação e consciência.
o artista deva se explicar.
algum que Borges elabora
Eu certamente constatei isto Longe de ser resultado
em Ficções: o romancista
quando, após haver expres- dum escrutínio honesto,
do século vinte que repro-
sado esta e outras noções esta atitude trai uma me-
duz Dom Quixote palavra
óbvias, publiquei meu ter- tafísica. Aquelas páginas
por palavra escreve uma
ceiro romance (La Jalousie). às quais o escritor gerou
obra totalmente diferente
Não somente o livro foi como pensamento incons-
da de Cervantes.
atacado, censurado como ciente, aquelas maravilhas
Além disto, ninguém um tipo de ultraje prepós- não premeditadas, aquelas
sonharia em elogiar um tero contra as belas-letras; palavas “perdidas” revelam a
músico por ter composto como também provado que existência de alguma força
um Beethoven, um pintor tal abominação só podia ter superior que as ditou. O
por fazer um Delacroix, ou sido esperada, pois La Jalou- romance, mais do que um
um arquiteto por ter con- sie era um produto autode- criador no sentido estrito, é
cebido uma catedral gótica. clarado de premeditação: assim um simples mediador
Felizmente, muitos roman- seu autor - Oh, o escândalo! entre os mortais comuns
cistas sabem que o mesmo - se permitiu ter opiniões e um poder obscuro, uma
http://www.digischool.nl/ckv1/literatuur/roman/1.jpg
tendendo gradativamente peitar certas formas imutá- estes que se seguem. Não, é
para uma época da ficção veis, cada novo livro tende claro, o cru repúdio equi-
na qual os problemas de es- a constituir as leis de seu vocadamente denunciado
tilo e construção serão con- próprio funcionamento, ao por leitores que foram um
sideradas de maneira lúcida mesmo tempo em que pro- pouco descuidados - ou mal
pelo romancista, e na qual duz a própria destruição dispostos -, mas reconside-
preocupações críticas, longe destas leis. Uma vez que rações dum nível diferente,
de esterilizarem a criação, a obra esteja concluída, a reexaminações, outro lado
podem, ao contrário, serví- reflexão crítica do autor lhe duma mesma idéia, ou seu
la como força condutora. servirá posteriormente para complemento, e, em alguns
ganhar uma perspectiva em casos, apenas um aviso
Não há a questão, como relação a ela, imediatamente contra um erro de interpre-
vimos, em se estabelecer nutrindo novas explorações, tação.
uma teoria, um molde pré- uma nova partida.
existente no qual enformar
os livros do futuro. Cada Portanto, a tentativa de
Além disto, é óbvio
romancista, cada romance pôr visões teóricas e obras
que idéias possuem pouca
deve inventar sua própria de arte em contradição não
consequência em relação
forma. Nenhuma receita é muito interessante. A úni-
a obras, o que nada pode
pode substituir a reflexão ca relação que pode existir
substituir a última. Um
contínua. O livro faz suas entre elas é precisamente
romance que não é mais
próprias regras para si, e duma característica dialé-
do que um exemplo grama-
para si apenas. De fato, o tica: uma interação entre
tical ilustrando uma regra
movimento para seu estilo acordos e oposições. Não
- mesmo acompanhada por
geralmente leva a pô-lo em será surpreendente, então,
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sua exceção - seria natu- funcionamento palavra por continuarão a existir para
ralmente inútil: a asserção palavra - em suma, dar-lhe o romance, em paralelo.
da regra bastaria. Ao exigir uma justificativa, ele não Ainda assim, um caminho
o direito do autor sobre a teria sentido a necessidade já parece estar assinalado
inteligência da sua criação, de escrever o livro. Pois a mais claramente que o res-
em insistindo no interesse função da arte nunca é a de tante. De Flaubert a Kafka,
proporcionado pela consci- ilustrar uma verdade - ou uma linha descendente é
ência de sua própria explo- mesmo uma interrogação traçada, uma ancestralidade
ração, sabemos que princi- - sabida de antemão, mas a que sugere uma progênie.
palmente no nível do estilo de trazer ao mundo certas Esta paixão por descre-
que esta exploração é feita, interrogações (e também, ver, que anima a ambos, é
e que nem tudo é claro no talvez, na hora certa, certas certamente a mesma paixão
momento da decisão. Assim, respostas) ainda não conhe- que discernimos no novo
tendo indisposto os críticos cidas como tais por elas. romance atual. Além do na-
ao falar sobre a literatura turalismo de Flaubert e do
A consciência crítica do
que ele sonha escrever, o onierotismo de Kafka apa-
romancista pode ser útil
romancista sente-se repenti- recem os primeiros elemen-
apenas no nível das esco-
namente desarmado quando tos dum estilo realista dum
lhas, não no da justificação
este crítico lhe pergunta: gênero desconhecido, que
delas. Ele sente a necessida-
“Agora, explique porque agora está vindo à tona. É
de de utilizar certa forma,
você escreveu este livro, o ao esboço deste novo realis-
ou rejeitar certo adjetivo,
que ele significa, o que você mo que a presente coleção
de construir este parágrafo
estava tentando fazer, o que tenta descrever.
de certo jeito. Ele põe todo
você pretendia ao utilizar
seu esforço à procura da (1953 e 1963)
esta palavra, ao escrever
palavra certa, e do lugar
esta sentença!”
certo onde colocá-la. Mas
Diante de tais questões, a desta necessidade ele não
“inteligência” do romancista pode produzir prova algu-
não parece ajudá-lo mais. ma (excetuando, ocasional- ROBBE-GRILLET, Alain,
O que ele estava tentando mente, após o fato). Ele nos For a New Novel, Essays
fazer era apenas o próprio implora que acreditemos on Fiction. New York: Gro-
livro. O que não significa nele, que confiemos nele. E ve Press, 1965. p. 7-14
que ele sempre esteja safis- quando nós perguntamos
feito com ele; mas a obra a ele por que ele escreveu
permanece, em todo caso, a este livro, ele possui apenas
melhor e a única expressão uma resposta: “Para tentar e
possível de sua empreitada. descobrir por que eu queria
E se ele houver tido capa- escrevê-lo”.
cidade para fornecer uma
E, dizer para onde o
definição mais simples,
romance está se encami-
ou resumir suas duas ou
nhando, ninguém pode, é
três centenas de páginas a
claro, fazê-lo com certeza.
alguma mensagem em lin-
Mais do que isto, é provável
guagem clara, explicar seu
que caminhos diferentes
Um assassinato...
Romances
* Un régicide (1949) Ficções de carácter autobiográ-
fico
* Les Gommes (1953)
* Le miroir qui revient (1985)
* Le Voyeur (1955)
* Angélique ou l’enchantement
* La Jalousie (1957) (1988)
* Dans le labyrinthe (1959) * Les Derniers Jours de Co-
* La Maison de rendez-vous rinthe (1994)
(1965)
do
w
gr nl
* Projet pour une révolution à http://pt.wikipedia.org/wiki/Alain_ át
oa
New York (1970) Robbe-Grillet is d
http://cineconchile.files.wordpress.com/2008/02/sjff_04_img1592.jpg
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Tradução
escrita e solidão
Marguerite Duras
trad.: Vanda Anastácio
seleção: Maria de Fátima San-
tos
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A escrita vai muito lon- julgávamos ter explorado, Há uma loucura da escri-
ge…até acabar com. E, às que avança em direcção ao ta que existe por si própria,
vezes, é insustentável. De seu o próprio destino e ao uma loucura de escrever
repente, tudo adquire um do seu autor, então aniqui- furiosa, mas não é por isso
sentido em relação à escri- lado pela sua publicação: que se está no seio da lou-
ta, é de enlouquecer. Já não a sua separação dele, do cura. Pelo contrário.
conhecemos as pessoas co- livro sonhado, como de
nhecidas e julgamos esperar uma criança recém-nascida, A escrita é o desconhe-
aquelas que nunca vimos. sempre a mais amada. cido. Antes de escrever não
sabemos nada acerca do
(…) (… que vamos escrever. Com
toda a lucidez.
Essa ilusão que temos – e Estar só com o livro ain-
que é justa – de termos sido da não escrito é estar ainda É o desconhecido de nós
a única pessoa a ter escri- no primeiro sono da huma- mesmos, da nossa cabeça,
to aquilo que escrevemos, nidade. É isso. É, também, do nosso corpo. Não é se-
quer seja péssimo, quer estar só com a <=”” em=”” quer uma reflexão, escrever
maravilhoso. E eu quando fase=”” morrer=”” não=”” p=”” é uma espécie de faculdade
lia críticas era, geralmente, pousio.=”” tentar=”” é=””> que temos ao lado da nossa
sensível ao facto de dizerem pessoa, paralelamente a ela,
que um determinado livro (…) de uma outra pessoa que
não se parecia com nada. É preciso que chorar aparece e que avança, invi-
Ou seja, que ia ao encontro também aconteça. sível, dotada de pensamento,
da solidão inicial do autor. de cólera, e que, por vezes,
Se é inútil chorar, creio pelos seus próprios factos,
(…) que é, contudo, necessário está em perigo de perder a
Um escritor é uma coisa chorar. Porque o desespero vida.
curiosa. É uma contradição é palpável. Fica. A recorda-
ção do desespero, fica. Por Se soubéssemos alguma
e também um contra-senso. coisa do que vamos escre-
Escrever também não é vezes mata.
ver, antes de o fazer, nunca
falar. É calar. É gritar sem Escrever. escreveríamos. Não valeria
ruído. Um escritor é, mui- a pena.
tas vezes, repousante: ouve Não posso.
muito. Não fala porque é Escrever é tentar saber
Ninguém pode.
impossível falar a alguém aquilo que escreveríamos
de um livro que se escreveu É preciso dizê-lo: não se se escrevêssemos – só o
e, sobretudo, de um livro pode. sabemos depois – antes é a
que se está a escrever. É interrogação mais perigosa
impossível. É o oposto do E escreve-se. que nos podemos fazer. Mas
cinema, o oposto do teatro é também a mais corrente.
É o desconhecido que
e dos outros espectáculos. É
trazemos em nós: ao escre- O escrito chega como o
o oposto de todas as leitu-
ver á isso o que é alcança- vento, é nu, é tinta, é escrito,
ras. É o mais difícil de tudo.
do. É isso ou nada. e passa como nada passa na
É o pior. Porque um livro é
o desconhecido, é a noite, é vida, nada, a não ser ela, a
Podemos falar de uma
fechado, é assim. É o livro vida.
doença do escrito.
que avança, que cresce, que
avança em direcções que (…)
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Teoria Literária
é o mestre Stephen King. publicá-lo como se fosse rem com que o leitor veja
Um dos livros em que o seu. Esse mote do escritor os escritores como alguém
personagem/autor aparece é que rouba o livro de outro real, concreto, “gente como
na obra Angústia, também também dá a tônica de In- a gente” - além de mostrar
publicada com o nome de veja, de Sandra Brown: nele, um pouquinho como é a
Misery. Nela, o fato de o uma editora se envolve com rotina de quem vive da
protagonista ser escritor um misterioso autor cujo escrita.
tem suma importância para livro fala sobre um escritor
os rumos da narrativa, já que roubou a obra de outro.
que o escritor fictício Paul A lista de livros com
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Teoria Literária
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que o seu livro é um lixo. obra. Enviei-lhe o manus- a acreditar que, daquela vez,
Produzi vários contos e crito de “O Canto do Pe- eu seria publicado. Tremia
dois romances nestes pri- regrino” e, no dia seguinte, todas as vezes que abria a
meiros anos. Acreditava recebi a resposta: ela queria caixinha do correio. Após
que, um dia, revolucionaria publicar o meu primeiro onze meses de espera, rece-
a Literatura, mas, relendo romance! bi a resposta: o livro havia
tais textos hoje, percebo Fui até a USP, encontrei- sido recusado.
como eram crus e ingênuos. me com ela e com o dire- Esta sequência de nega-
Estava engatinhando ainda, tor da Editora Com-Arte e ções, a sensação de patinar
precisando de orientação, assinei a autorização para no lugar, me angustiava.
ainda atrelado aos autores a publicação. No entanto, Será que eu tinha talento?
que eu lia ou admirava. a aluna se formou, os anos Deveria continuar?
Mas esta constatação se passaram, e jamais tive Já estava investindo nisto
leva anos para ocorrer; notícia da publicação. Logo há uns quatro anos e ape-
naquele tempo, eu ainda me depois, Chloris Casagrande nas recusas, só fracasso, só
indignava quando, ao ver o Justen, a escritora — aca- batendo a cara na porta...
resultado de um concurso dêmica da Academia Pa-
literário, descobria que meu ranaense de Letras — que
nome não estava entre os havia prefaciado o romance, Internet
primeiros colocados, e me tentou encaixá-lo numa
série de publicações organi- Em 2004, publicar na
revoltava ainda mais ao ler
zada pela Câmara de Depu- internet ainda era arriscado.
os contos ganhadores e ter
tados de Curitiba. Entreguei Todos falavam em cópia,
a certeza de que os meus
o original no escritório de plágio e outras violações de
eram muito melhores. Será
editoração, mostraram-me direitos autorais.
que todos eram cegos? Ou
será que minha genialidade o boneco das publicações, Só é vítima de plágio ou
os cegava? mas nada, até hoje parece cópia aquele autor que tem
que este projeto não saiu do algo a perder.
Nada disto, eu apenas es-
papel.
tava no processo de forma- Eu não tinha nada per-
ção, de desenvolvimento, de Neste mesmo período, der, não tinha leitores, mas
aprendizado. recebi minhas primeiras tinha na gaveta uma porção
cartas de recusa para o se- de textos. Por que não lan-
Mesmo assim, o meu
gundo romance, “O Rei dos çá-los na rede e pagar para
primeiro romance bateu
Judeus”, que chegavam com ver? Por que não ingressar
na trave da publicação por
tamanha rapidez que eu só neste mundo e experimen-
duas vezes. Na primeira,
podia acreditar que nin- tar a escrita num blog?
uma aluna do curso de edi-
guém havia sequer folheado
toração da USP procurava Por que não?
o manuscrito.
um autor para publicação. Criei um blog, depois
Tratava-se do projeto de Todavia, uma das edito-
outro, e, num intervalo de
conclusão de curso dela e ras demorou tanto tempo
meses, já tinha meia dúzia
ela precisava editar uma para responder que cheguei
deles. E, pela primeira vez,
www.revistasamizdat.com 55
como remediá-las. várias outras publicações e E não é tão difícil prever-
Foi com vários escritores sites nacionais e internacio- mos se uma ideia dará um
desta oficina que criamos a nais. Atualmente, o “Jornal bom livro, ou se encalhará
“Revista SAMIZDAT”, uma da Record” está preparando e acabará no lixão.
revista digital que hoje uma matéria sobre nós. Ainda erramos, é ób-
considero como o projeto Do mesmo modo que vio; ainda nos dedicamos
literário que mais me dá minha carreira na escrita a projetos que fracassarão,
motivos de orgulho. São havia começado aciden- mas a experiência nos
dois anos de publicação talmente, também foi por ajuda a compreender me-
mensal ininterrupta, com acidente que concebi e rea- lhor onde falhamos, e lidar
textos de altíssima qualida- lizei meu primeiro projeto mais humildemente com os
de, mas que voa bem mais bem-sucedido. sucessos.
baixo do que poderia. Aliás, foi este trabalho A carreira literária não é
que gerou meus primeiros como o lançamento de um
trocados com a escrita, foguete, que num minuto
Mãos-de-Vaca
após muito tempo gastando está no solo e, logo em se-
Apesar dos vários ro- dinheiro com papel, correio, guida, deixando a atmosfera
mances e da quase centena cartuchos de impressora, ou rumo ao espaço. A carreira
de contos escritos, o meu inscrições para concursos. literária é uma longa ca-
projeto que realmente ob- Inicialmente, foram apenas minhada, um passo após
teve algum reconhecimento poucos centavos por mês, o outro, sob sol escaldante,
nada tem a ver com Litera- mas, em breve, graças ao cheio de pedras e buracos
tura. “Nova York para Mãos-de- no trajeto.
Vaca”, poderei realizar o Não há metáfora mais
“Nova York para Mãos-
objetivo de viver exclusiva- batida, tampouco mais
de-Vaca” foi um dos inú-
mente da escrita. apropriada.
meros blogs que criei, junto
com minha esposa, trazen- Neste período, percebo
do dicas baratas de Nova Considerações finais que obtive algumas con-
York. O número de leitores quistas, mas muito ainda
cresceu exponencialmente Há mudanças drásticas há para ser feito. Direta-
e, em menos de um ano, entre o que escrevi nos pri- mente, desde os meus blogs
estávamos dando a primei- meiros anos e o que escre- ou sites, meus textos foram
ra entrevista para a Globo vo hoje. Acredito que hoje acessados por mais de 600
Internacional. Em três anos escrevo mais e melhor. E mil leitores, indiretamente,
de publicação, este trabalho também é mais fácil orga- imagino que por mais de
foi assunto para entrevistas nizar meu tempo e concluir um ou dois milhões. Não
e reportagens na Revista um livro. sou um “sucesso instan-
TAM, no portal Terra, no Aos poucos, descobri- tâneo”, tal qual no ditado
jornal “O Globo”, no jornal mos alguns macetes, alguns hollywoodiano, mas este
“Estado de S. Paulo”, na Tri- atalhos, o que funciona e o ano de 2010 promete!
buna de Santos, no SBT, em que não funciona tão bem.
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Teoria Literária
Teorizando o concludo
Caio Rudá de Oliveira
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Teoria Literária
Sobre escritores
e suas drogas
Caio Rudá de Oliveira
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simbiótica entre drogas e esboçados. A partir desse café. Vários fatores parecem
literatura. tempo o ópio ressurge com explicar esse fato, como a
A partir dessas conside- força total: Goethe, Novalis, legalidade do produto e a
rações, surge outra ques- Coleridge, Shelley, Byron, facilidade de preparo, além
tão. Sendo Coleridge e De Wordsworth e Keats, mos- de ser uma bebida aprazível
Quincey contemporâneos tram consumo regular de ao paladar.
e precursores, seria a lite- ópio. Por sua vez, Baudelai- Kerouac aparece como
ratura um campo livre das re, Rimbaud, William James um nome forte, quando o
drogas antes deles? Abso- e Nietzsche interessam-se assunto é uso de anfeta-
lutamente não. Estudiosos ou escrevem sobre a ebrie- minas. Diz a lenda que ele
apontam que as drogas dade. escreveu sua obra principal,
sempre tiveram e ainda Avançando a linha do On The Road, em apenas
possuem uma função na so- tempo, Sir Arthur Conan duas ou três semanas.
ciedade que, provavelmente, Doyle foi um famoso con- O filósofo Jean-Paul
permanecerá ao longo de sumidor de cocaína, cujas Sartre é frequentemente
toda a existência humana. condições de usuário ele lembrado pelo seu uso
Homero, na Odisséia, faz transfere para seu persona- constante de drogas, entre
menção a um analgésico gem mais ilustre, o detetive as quais corydrane, compos-
provavelmente derivado Sherlock Holmes. Ainda so- to de anfetamina e aspirina.
do ópio. Também Marco bre a cocaína, cita-se Freud Segundo a biógrafa Annie
Aurélio, imperador romano e seu entusiasmo com a Cohen-Solal, ele acordava
e filósofo nas horas vagas, substância, da qual foi um com uma xícara de café e
supostamente está entre um defensor em parte de sua um tablete de corydrane,
dos antigos consumidores vida, e provavelmente um depois dois, três – quantos
de ópio. E esses são apenas usuário durante toda ela; fossem enquanto durasse a
dois exemplos do comu- ainda assim, um dos mais escrita. Dessa maneira foi
níssimo hábito do ópio, na brilhantes sujeitos de todos escrito toda A Crítica da
Antiguidade. os tempos. Razão Dialética.
Durante a Idade Média, Tem-se, então, os clássi- No outro lado da rua,
devido às circunstâncias da cos casos de Balzac e Jean- em contrapartida ao speed
época, não é de se admirar Paul Sartre: em comum, o das anfetaminas, tem-se
que se encontre pouca ou abuso de substâncias esti- a maconha e o haxixe e
nenhuma referência às dro- mulantes, hábitos de vida sua “serenidade” induzida.
gas. Sequer falar nelas era pouco saudáveis e excesso Na coleção As Mil e Uma
risco de ser ligado a rituais de trabalho num ritmo Noites, clássico da litera-
de magia e ir parar na fo- alucinante. Acredita-se que tura persa, há pelo menos
gueira, conseqüentemente. Balzac tenha consumido duas histórias envolvendo o
em torno de 50.000 xícaras haxixe. Porém, é na França
Na época seguinte, no en-
de café em seus 51 anos do século XIX que o con-
tanto, com o Renascimento,
de vida. Também Marcel sumo essa droga parece ter
já não se fala no binômio
Proust e Francis Fitzgerald, sido comum entre alguns
drogas-concupiscência,
George Buffon, Denis Dide- grupos.
associação perigosíssima
rot e Jean-Jacques Rousseau
séculos antes, e vestígios Moreau de Tours é
eram grandes bebedores de
de liberdade passam a ser acreditado ter introduzido
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Recomendação de Leitura
O Sapateiro,
A anatomia de um psicótico
vez, conta, com destreza, um e o demônio fazia com que o
Giselle Sato dos raríssimos casos, em se passarinho crescesse e ficas-
tratando de serial killers, em se duro, obrigando Joseph a
Se você pensa que já leu que foi possível diagnosticar fazer coisas ruins com ele.
tudo sobre grandes assassinos com precisão a origem de Mas agora o doutor havia
psicóticos e não conhece O sua psicose. expulsado o demônio com a
Sapateiro, com certeza deixou Aos cinco anos de idade, faca, de modo que o passari-
passar uma grande oportuni- Joseph foi submetido a uma nho de Joseph ficaria sem-
dade. cirurgia de hérnia. Seus pais pre pequeno. Na noite deste
A autora é Flora Rheta adotivos, um severo casal de mesmo dia, Joseph teve a sua
Schreiber, psiquiatra e autora alemães, explicaram a ope- primeira visão: o seu próprio
de Sybil. ração para a criança de uma pênis, amputado, pendendo
Em O Sapateiro, A anato- forma bem original: eles dis- da lâmina da faca de sapa-
mia de um psicótico, Flora seram que havia um demô- teiro de seu pai adotivo. A
não foge a regra e, mais uma nio no “passarinho” de Joseph, partir daí, Kallinger passou a
começam a se multiplicar, que ela nos coloca: até que lhes da infância e criação,
Kallinger, agora exercen- ponto o mal é uma opção? do ódio e os motivos que
do a profissão de sapateiro, Somos realmente senhores de o levaram a tornar-se um
como seu pai, recebe a visita nosso destino? Kallinger es- monstro aos olhos do mun-
de Deus, que o ordena que palhou dor e sofrimento por do. Uma criança, moldada
salve a humanidade através onde passou, mas ele próprio por pais doentios, anos a fio,
da construção de um sapato sofria e precisava desespera- torna-se um ser sem qual-
apropriado, com a proprieda- damente de ajuda. quer traço de comoção ou
de de curar as enfermidades O Sapateiro é um livro piedade. Toda a infância de
da alma. onde o personagem principal Joseph é dissecada, o poder
Após cerca de 40.000 explica sua tendência ho- aterrorizante da fantasia e
experimentos ortopédicos micida, o que o impele a ir desejo sexual, dominam e
que obviamente fracassaram, além de todas as convenções distorcem a personalidade do
Kallinger tem outra visão, e limites. A alma humana é menino. O órfão que desde
desta vez do Diabo. O Dia- dissecada, exposta sem pudor o nascimento só recebeu re-
bo lhe diz que, já que havia de chocar pelos detalhes jeição e brutalidades, castigos
falhado em salvar a humani- sórdidos. O relato, nos míni- e humilhações, retribuiu ao
dade, sua missão agora seria mos detalhes, do mais brutal mundo o que aprendeu.
exterminá-la: ele deveria dos assassinos, aconteceram Capaz dos piores atos, do
matar cada homem, mulher quando este estava na cadeia, sadismo, crueldade pura e
ou criança na face da Terra no condado de Camden, em distorção da realidade, Jose-
através da mutilação de seus 1977. Em forma de confis- ph Kallinger é tanto poeta
órgãos genitais. sões, Joseph procurou alívio quanto homicida. Transita
Sua primeira vítima foi aos seus tormentos, através entre a fantasia, horror e
seu filho mais velho, que de longas conversas com a obsessão, com a desenvoltura
depois passou a assombrar autora. da loucura, lutando contra
o pai, na figura de Charlie, Segundo a Dra. Schreiber , seus próprios demônios. A
uma cabeça flutuante sem o assassino psicotico é muito proposta é um mergulho nas
nariz ou boca que o incita- diferente de um assassino profundezas do horror hu-
va a cometer novos crimes. psicopata. Este ultimo mata mano, o leitor é mero expec-
Outra alucinação freqüente por dinheiro ou pelo prazer tador da narrativa vívida dos
era a Voz do Poço, uma can- de matar,enquanto o primei- atos praticados.
tilena fantasmagórica em um ro o faz por causa de sua E uma obra obrigatória
idioma desconhecido: Kryos psicose. Isto não significa para quem busca compreen-
Mary Kristos Kristorah Kris- que todo psicótico seja um der a verdade sobre o assom-
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broso mundo interno de um but I held back the expression and to me was the command
psicótico arrastado para a in- of it of God, a vengeful,
sanidade e o assassinato. Sem when I could wrathful God.
dúvida, estimulará qualquer There were times that I He was telling me I could
um que se interesse pelo couldn’t: become God myself by destroy
estudo do comportamento times of beating my head us I had been destroyed.
humano e criminologia. against My anger, hot and piercing,
Algumas poesias de the wall and running wild with had led to what I wish
Kallinger em versão original, rage. I had not done.
valem a pena serem lidas, ne- I didn’t fight other kids; And, despite God’s promise
las ele demonstra claramente when I didn’t my adoptive that I would become God,
sua instabilidade emocional. mother I am not God today.
called me chicken and yellow; All I am is a mental patient
but if I had, she would have on leave from prison,
been angry out of the world that fed my
Enraged generating anger in me. rage
Hot anger has coursed through Anger turned like a water
me wheel;
all my life, my adoptive parents’ anger
feeding
Disappointments In My
I see it now,
mine and mine theirs.
Life
I had not recognized the signs
before. I carried a rage into manhood, When I was a little child
Anger, my biographer tells me, although when I first married, I was put in an orphanage
began even before my birth I dreamed of a normal life. for adoption , my first
Not anger then, but But things went sour and my disappointment. After I was
that of my mother who wife, adopted my adoptive parents
wished I had not been concei- angry for reasons of her own, never gave me any love
ved. walked out on me after taking and were cruel to me,
My anger came when up with another man. child abusers, my second
at the age of one month I cannot know, but I believe disapointment in my life.
my mother gave me up, he had more sexual power I was never allowed to play
turning me over to the care of than with other kids or have
starngers; a private boarding I had to offer. friends in my adoptive parents
home, Once my wife was gone, my house all of my young life
an orphanage anger with them, my third disap-
and then my adoption by a grew and grew. pointment,
middle-aged My second marriage led to in my life. When I grew up
childless couple that kept re- angers and got
minding me of its own, married and had children
they were my benefactors. culminating when my children, she ran around with other
They were also always threa- the three total gods of my men,
tening doom, and neer took care of our
to send me back to the orpha- had me locked up. children and finally left me
nage. In time my anger found an for another man and I had
Each time they did, my anger outlet in what the world calls to raise the children alone, my
flamed, crime, fourth disapointment in my
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Crônica
Parindo Letras
Ju Blasina
Diferente dos bons fi- pretensão (a minha) de Afinal, não é isso o que
lhos, quanto melhores são gerar ideias, adestrar letras todo pai deseja?
os textos, mais distante do em textos e, mais ainda:
autor eles vão parar. Eles mandá-los ao mundo?
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Crônica
Saramago em
Concerto Joaquim Bispo
http://www.flickr.com/photos/bigfez/243030084/sizes/o/
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do desenrolar da tempestade O público que conhecesse a demos comprar o livro, mas
cerebral do autor, através de história iria achar que esta por que não ir ao concerto?
sensores encefalográficos, versão era mais neo-realista Já imaginaram um concerto
podendo o público assistir ao que o original, por exem- de Fernando Pessoa, ou uma
saltitar constante da activida- plo, ou que não respeitava a audição de Woody Allen? Aí,
de cerebral, acendendo uma intensidade da relação entre um “diseur” pode obter al-
ou outra área, convenien- os protagonistas. Uma opção gum efeito de arrebatamento
temente identificadas pelo a considerar. no ouvinte: a clareza cris-
nome e pela actividade que talina da voz, as entoações,
desenvolvem. O que eles fazem é imitar insinuando significados, as
os Beatles e as suas músicas pausas, dramatizando silên-
Daria para encher um pa- ao mais pequeno porme- cios – alguém que transmita
vilhão com dez mil pessoas? nor. O equivalente literário toda a potência dos diálo-
seria um escritor transcrever, gos, como quando o cantor
Para um público mais palavra por palavra, uma arranca emoções da audiên-
restrito e conhecedor – em obra literária de um monstro cia, que faça o pensamento
sala-estúdio –, o escritor das letras. Onde residiria o do público vogar por regiões
podia produzir uma histó- interesse do público? Talvez etéreas, quando percorra os
ria “à maneira de” um autor a confirmar a sobreposição bons nacos de prosa narrati-
conhecido. A história seria perfeita da história. Os mais va, qual solista a desenvolver
totalmente nova, mas faria puristas trariam exempla- a parte instrumental.
lembrar, irresistivelmente, res da obra em execução e
o autor de referência. Para comparariam, ponto a ponto, Com o fenómeno da
os melhores resultados, não o virtuosismo do escritor-re- pirataria a fazer perigar o
faltaria quem levantasse a produtor. Não se lhe exigiria, retorno económico das edi-
suspeita que o escritor se li- claro, que nunca tivesse lido ções, a solução pode passar
mitara a transcrever um iné- a obra – como Borges fez pelos concertos. Quem sabe
dito desconhecido do autor com Pierre Menard – mas se alguns de nós, escrito-
emulado, conseguido sabe-se que não lhe escapassem as res iniciantes, mas muito
lá por que ínvios meios. reticências cheias de segun- promissores, não viremos
dos sentidos, nem o rigor dos a obter divulgação e início
De qualquer modo, não itálicos. Depois dos aplausos, de reconhecimento público,
se trataria de um paralelo haveria sempre alguém que fazendo a primeira parte de
perfeito com estes “Beatles”. comentaria: ”Viram onde grandes concertos de escrito-
O que eles fazem não é criar ele pôs o travessão, quando res famosos!
música com o estilo “Bea- Gregor Samsa percebe que é Alguém sabe quando é o
tles”, nem recriar, com estilo um insecto? Já vi o Fritzl exe- concerto do Saramago?
próprio, as músicas originais. cutar este conto com muito
Isto seria escrever uma histó- mais virtuosismo, sem falhar
ria conhecida com palavras uma vírgula. Não há execu-
próprias. Eventualmente, tante de Kafka como ele!”
introduzindo uma peripécia,
ou alterando outra, de ma- Pensando bem, a reprodu-
neira a potenciar a emoção ção em literatura tem o seu
que a história já transmite. maior público na leitura. Po-
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Poesia
Metapoesias
Ju Blasina
Quimera
Confesso
O eu-lírico não me é
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Poesia
ou removê-lo
deitar fora o tapete sujo
tirar todas as teias-de-aranha - e matar
cada uma delas
e a todas as mariposas
e com baldes e baldes d’água
dar à casa uma aparência clara, limpa e habitável
como só a mais asseada ignorância é capaz
http://www.flickr.com/photos/sfj/523298402/sizes/o/
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Poesia
inexorável
versos do ocaso
http://www.flickr.com/photos/pagedooley/2677892783/sizes/o/
perfeitamente contida
num livro sem muita cor
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SOBRE OS AUTORES DA
SAMIZDAT
Edição, diagramação e capa
Edição de imagens
80
80 SAMIZDAT fevereiro de 2010
Assessoria de imprensa
http://www.photoshoptalent.com/images/contests/spider%20web/fullsize/sourceimage.jpg
Mariana Valle
Por um amor não correspondido, a carioca de
Copacabana começou a poetar aos 12 anos. Veio o
beijo e o príncipe virou sapo. Mas a poesia virou sua
amante. Fez oficina literária e deu pra encharcar o
papel com erotismo. E também com seu choro. Em
reação à hipocrisia e ao machismo da sociedade.
Atuou como jornalista em várias empresas, mas foi
na TV Globo onde aprimorou as técnicas de reda-
ção e ficção. E hoje as usa para contar suas próprias
histórias. Algumas publicadas em seu primeiro livro
e outras divulgadas nos links listados em seu blog
pessoal: www.marianavalle.com
Revisão
Maria de Fátima Brisola Romani
Nasceu em SP em 1957 mas mudou-se para Salvador em 1984 onde reside
até hoje. É arquiteta e artista plástica, além de tradutora (inglês e italiano) e re-
visora de textos. Escreve poesias esporadicamente desde adolescente e há cerca
de um ano começou a escrever contos. Pretende concorrer ao mestrado em
Artes Cênicas na Escola de Teatro da Ufba.
Colaboração
www.revistasamizdat.com 81
Giselle Sato
Autora de Meninas Malvadas, A Pequena Baila-
rina e Contos de Terror Selecionados. Se autodefine
apenas como uma contadora de histórias carioca.
Estudou Belas Artes, Psicologia e foi comissária de
bordo. Gosta de retratar a realidade, dedicando-se
a textos fortes que chegam a chocar pelos detalhes,
funcionando como um eficiente panorama da socie-
dade em que vivemos.
Léo Borges
Nasceu em setembro de 1974, é carioca, servidor
público e amante da literatura. Formado em Comu-
nicação Social pela FACHA - Faculdades Integradas
Hélio Alonso, participou da antologia de crônicas
“Retratos Urbanos” em 2008 pela Editora Andross.
Dênis Moura
Paulistano de pia, cearence de mar e poeta de
amar. Viaja tanto o céu estrelado quanto o ciberes-
paço, mais com bits de imaginação que com telescó-
pios. Pensa que tudo se recria a cada Big Bang, seja
ele micro, macro ou social. Luta pela justiça, a paz e
a igualdade, com um giz na mão e uma pistola na
outra. É Tecnólogo a sonhar com Telemática social,
com a democracia participativa eletrônica, onde o
povo eleja menos e decida mais. Publica estes dias
sua primeira obra, um Romance de Ficção Científi-
ca, e deixa engavetadas suas apunhaladas poesias. É
feito de bits, links e teia pra que não desmaterialize,
o clique, o blogue e o leia!
82
82 SAMIZDAT fevereiro de 2010
http://www.photoshoptalent.com/images/contests/spider%20web/fullsize/sourceimage.jpg
Carlos Davissara
Paulistano, filho de nordestinos, desenhista desde
sempre, artista plástico formado, escritor. Começou
sua vida profissional como educador e, desde então,
já deixou seu rastro por ONG’s, Escolas e Centros
Culturais, através de trabalhos artísticos e pedagó-
gicos – experiências que têm forte influência sobre
seus escritos. Atualmente, organiza oficinas de ilus-
tração para crianças, estuda pós-graduação em Histó-
ria da Arte e escreve para publicações na internet.
carloseducador@hotmail.com
http://desnome.blogspot.com
Jú Blasina
Gaúcha de Porto Alegre. Não gosta de mensurar
a vida em números (idade, peso, altura, salário). Não
se julga muito sã e coleciona papéis - alguns afir-
mam que é bióloga, mestre em fisiologia animal e
etc, mas ela os nega dizendo-se escritora e ponto fi-
nal. Disso não resta dúvida, mas como nem sempre
uma palavra sincera basta, voltou à faculdade como
estudante de letras, de onde obterá mais papéis para
aumentar a sua pilha. É cronista do Caderno Mulher
(Jornal Agora - Rio Grande - RS), mantém atualiza-
do seu blog “P+ 2 T” e participa de fóruns e oficinas
virtuais, além de projetos secretos sustentados à base
de chocolate e vinho, nas madrugadas da vida.
Joaquim Bispo
Ex-técnico de televisão, xadrezista e pintor ama-
dor, licenciado recente em História da Arte, experi-
menta agora o prazer da escrita, em Lisboa.
episcopum@hotmail.com
www.revistasamizdat.com 83
José Guilherme Vereza
http://www.photoshoptalent.com/images/contests/spider%20web/fullsize/sourceimage.jpg
Publicitário, redator, executivo, professor, aluno, marido,
pai, filho, cunhado, tio, sobrinho, genro, sogro, amigo, bota-
foguense, tijucano, lebloniano, neopaulistano, escritor, leitor,
eleitor, metido a cozinheiro, guloso, nem gordo nem magro,
motorista categoria B, pedestre, caminhante, viajante, seden-
tário, telespectador, pilhado, zen, carnívoro, beatlemaníaco,
cinemeiro, desafinado, sinfônico, acústico, capricorniano,
calorento, alérgico a ditaduras, sonhador, delirante, insone,
objetivo, subjetivo, pragmático, enérgico, banana, introspec-
tivo, extrovertido, goleiro, blogueiro, colunista do Bolsa de
Mulher, colaborador do Mundo Mundano, tem livro publi-
cado, conto premiado, teve texto encenado no teatro, fez ro-
teiros para televisão, criou uma infinidade de comerciais e
aprendeu que aproveitar a vida intensamente é ser de tudo
um muito. Samizdat é seu mais recente energético..
Caio Rudá
Bahiano do interior, hoje mora na capital. Estuda
Psicologia na Universidade Federal da Bahia e espera
um dia entender o ser humano. Enquanto isso não
acontece, vai escrevendo a vida, decodificando o enig-
ma da existência. Não tem livro publicado, prêmio,
reconhecimento e sequer duas décadas de vida. Mas
como consolo, um potencial asseverado pela mãe.
Marcia Szajnbok
Médica formada pela Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, trabalha como psiquiatra
e psicanalista. Apaixonada por literatura e línguas
estrangeiras, lê sempre que pode e brinca de es-
crever de vez em quando. Paulistana convicta, vive
desde sempre em São Paulo.
84
84 SAMIZDAT fevereiro de 2010
O lugar onde
a boa Literatura
é fabricada
http://www.flickr.com/photos/32912172@N00/2959583359/sizes/o/
ficina
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www.oficinaeditora.com
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