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Parte integrante da revista nº 49 - Ano XIII - Dez/Jan/Fev - 09/10

Existe uma política de segurança no Brasil?


Custos, deficiências e benefícios
Dr. Salvador Raza*
Diretor do CETRIS - Centro de Tecnologia, Relações Internacionais e Segurança.

O Brasil não tem uma política de segurança nacional. Ela exige, antes de tudo, a definição de premissas
do projeto de força. Sem essas premissas, uma política de segurança é vazia de significado, exceto para
propósitos de continuidade dos anseios de recompletamento material corporativamente e isoladamente
determinados. O risco, neste caso, é que, em vez de o Brasil possuir um projeto de defesa, as Forças
Armadas possuam o Brasil. As políticas de segurança evoluem por muitas razões, mas principalmente
porque elas são declarações de preferência e intenções, com possibilidades de implementação temporal
especialmente condicionadas. É importante ter limites para a prudência, mas também prontidão para agir.
As políticas de segurança evoluem especialmente porque, sendo declarações de preferências e intenções
temporais, são mutáveis. Ponto relevante para a implementação de um Projeto de Segurança Nacional é a
compatibilidade entre as estratégias e seus custos políticos, sociais, psicossociais e financeiros que a defesa
irá exigir para implementar a estratégia selecionada.
Existem evidências claras de erros cometidos pelos EUA na fase pós-guerra do Iraque, por exemplo, a
de não identificar as consequências brutais da emergência de conflitos étnicos e religiosos, reprimidos por
uma ditadura feroz.
Os conceitos que norteiam um Projeto de Segurança Nacional devem obrigatoriamente evitar três
condições negativas em sua formulação: indefinição de alternativas, incompatibilidade de alternativas e
aceitabilidade das alternativas.
Produzir o equilíbrio entre segurança e defesa não é tarefa fácil.
No Brasil, a dificuldade com a definição do binômio segurança e defesa é ampliado pela ainda latente
restrição ao uso do termo segurança nacional para dar significado a um fenômeno específico das relações
inter e intraestatais modernas. Isso é um rescaldo equivocado e ideologicamente manipulado do passado
recente dos governos militares, sem que nenhum outro termo seja adequadamente fornecido como substituto
para representar o fenômeno.
A projeção brasileira como potência regional gerará a necessidade de enfrentamento de complexas
cadeias de problemas de segurança e de defesa nacional no contexto internacional. Nossa política exterior,
em sua “neutralidade” tendenciosa ao sindicalismo internacional, gerou mensagens contraditórias que
terão que ser resolvidas na construção de novas alianças.
Um Estado sem Política de Segurança Nacional pode ter potencial, mas não tem arranque.
Se os dados internacionais geralmente aceitos estiverem corretos, os EUA detêm 20% do Poder Total
Global, a União Européia, a China e a Índia 9%, enquanto o Brasil, Coréia do Sul e Rússia, 2% cada um.
A inexistência de uma Política de Segurança no Brasil tende a produzir respostas inconsistentes,
demoradas e, normalmente, não otimizadas para questões fundamentais que afetam os interesses nacionais.
As recentes crises com a Bolívia (petróleo e gás) e Paraguai (Itaipu) são exemplos claros de equívocos que
só encontram explicações de natureza ideológica, contrárias ao interesse nacional.

*As ideias aqui expressas são de exclusiva responsabilidade do autor, e não representam a visão, a política ou a percepção
de nenhuma instituição, governo ou Estado.
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Para que uma política de elaboradas sob premissas anterior- explica que condições de ambiente
segurança nacional mente construídas e que se mos- justificam o desencadeamento de um
traram falsas ou inadequadas. Esses conjunto de ações predefinidas para
ma política de segurança novos conceitos e metodologias irão gerar efeitos programados visando
U conforma um complexo con- modificar as formas e os proce- reverter o estado de segurança à
junto de decisões setoriais articu- dimentos de criação de valor na situação anterior, ou então criar
ladas, orientadas para o propósito cadeia de causalidades que gera a outros estados mais favoráveis.
de analisar e qualificar problemas segurança. Nesse propósito, a política de
típicos, desenhar desenvolvimentos Nesse segundo propósito a po- segurança cumpre dois papéis
hipotéticos de cadeias de causa- lítica de segurança instrui a cons- mutuamente complementares: ela
lidades portadoras de possíveis trução de critérios para a elaboração aumenta a escala e a progressão
soluções para esses problemas, e a avaliação de mérito dos efeitos dos benefícios da segurança com
decidir entre alternativas competitivas e consequências da estratégia de redução de custos e acelera os ciclos
de programas de governo, orientar defesa nacional. Isso decorre do fato de decisão institucionais, aumen-
a gestão de processos de implan- de ela ser a portadora das premissas tando a capacidade de correção
tação das decisões e avaliar re- que orientam o projeto de força das causas dos desvios progra-
sultados gerados, os quais pro- nacional, de onde emanam as máticos. Nesse terceiro propósito
gridem na arquitetura de rela- decisões articuladas sobre a di- a política de segurança ganha
cionamentos pessoais, funcionais e mensão tecnológica que irá definir a pragmatismo executivo, instruindo
institucionais que produzem a estrutura de força que deveríamos decisões que frequentemente envol-
segurança desejada para o país em possuir para fazer frente à natureza vem enormes complexidades, sob
um dado momento e contexto e ao número de enfrentamentos grande pressão política e compres-
histórico. simultâneos projetados contra nossos são de tempo, integrando informa-
Embora absolutamente neces- interesses nacionais. Dela também ções imperfeitas de uma grande
sária, é notório que ainda não emanam as premissas que irão instruir quantidade de fontes, muitas vezes
demos suficiente atenção a essas qual estrutura organizacional da com desempenhos fracos ou mesmo
funções da política de segurança no defesa permitirá exercitar os requisitos comprometidos por interesses pes-
processo decisório de alto nível superiores de comando, controle, soais.
brasileiro, enquanto, simultanea- comunicação e computação sob os Em seu terceiro propósito uma
mente, e talvez por causa disso, padrões de interoperabilidade tática, política de segurança dá a moldura
nosso povo ainda não está suficien- tecnológica, estratégica e cognitiva do processo de decisão política,
temente consciente da importância e existentes, projetados para dar conta consciente das recomendações
da necessidade de uma Política de das dinâmicas bélicas quando e acadêmicas, mas atenta ao fato de
Segurança Nacional, dados seus três como necessário em defesa da paz que as responsabilidades executivas
propósitos fundamentais. que almejamos. não podem depender daqueles que
Em seu primeiro propósito, ela É ainda nesse segundo propósito desenham as teorias ou as criticam.
diagnostica os problemas funda- que a política de segurança define É aqui que a política de segurança
mentais, as grandes questões e as quais níveis de prontidão (que no torna-se prática política. Nesse sentido,
novas questões que projetam ganhar final representam custos e compe- a ideia de que uma política de se-
relevância, que entravam ou promo- tências disponibilizados para a gurança é neutra, portadora de elã
vem ações para que alcancemos diplomacia coercitiva) desejamos, patriótico na definição de suas pre-
níveis superiores de estabilidade para onde aponta nossa doutrina missas e judiciosa na especificação
institucional, alinhando a visão que estratégica e, finalmente, ela explica das metas que ela ordena é algo
a liderança política tem para go- quais as condições de emprego da que desejamos mais com ardor do
vernar e o que as instituições neces- força, quais os limites autorizados que com sérias expectativas. Uma
sitam executar para promover o e, principalmente, quando iremos política de segurança nasce da prá-
desenvolvimento econômico e social. cessar de usar a força. tica política e com ela evolui.
Nesse primeiro propósito, uma po- Qualquer estratégia de defesa
lítica de segurança dá significação elaborada sem referência às A teoria da prática
histórica às decisões governamen- premissas do projeto de força que política
tais, definindo o escopo de respon- uma política de segurança determina
sabilidades da defesa, alinhando-a é vazia de significado, exceto para As políticas de segurança evo-
com as demais agências e instituições propósitos de continuidade dos luem por muitas razões. Mas,
governamentais. anseios de recompletamento material principalmente, porque elas são
Em seu segundo propósito, uma corporativamente e isoladamente declarações de preferências e
política de segurança orienta a determinados. O risco, nesse caso, é intenções, com possibilidades de
construção de novos conceitos e que em vez de o Brasil possuir uma implementação temporal e espa-
metodologias para o enfrentamento Defesa, as Forças Armadas é que cialmente condicionadas. É impor-
de questões herdadas de outros possuam o Brasil. tante ser prudente, mas é igualmente
governos e de novos problemas Em seu terceiro propósito, uma importante estar preparado para
emergentes que resistiram às soluções política de segurança antecipa e agir quando os interesses que a

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política de segurança protege forem porando três novas dimensões de como qualificador de um país demo-
ameaçados. A política de segurança influência para além dos tradicionais crático a estabilidade e a trans-
enquadra e reflete esses interesses e mecanismos de criação de percep- parência dos mecanismos de transi-
condições de possibilidade refletindo ção de custos não compensatórios ção de poder. Já em 2006, logo
as premissas que as sustentam. para um país que queira iniciar uma após a vitória do Hamas na Pales-
Cabe, então, às estratégias fazer ação contra nós (o que define a tina, oficialmente para os EUA um
gerar as cadeias de efeitos que dissuasão em termos clássicos): grupo terrorista, a Política de Segu-
executam as decisões articuladas de 1) A qualificação e a incorpo- rança qualificava como democrata
que as políticas são portadoras sobre ração da indústria de defesa como um país que renuncia à violência e
o estado de segurança pretendido parte integrante dos vetores de ao terrorismo.
pelo Estado. dissuasão, quando conjugada com Outro conceito ainda recorren-
É questão de debate definir até o conceito de segurança centrada em temente revisitado na formulação de
que ponto o conjunto das prefe- rede do país (networked centric políticas de segurança, e não menos
rências fundamentais foi encap- security). importante que os demais, é o do
sulado na política de segurança, e é 2) A qualificação e a incorpo- espectro de conflitos, enquanto
uma questão de qualificação anteci- ração do Design de Inovação na qualificador do contínuo fenomeno-
pada se os conjuntos dessas pre- gestão de projetos complexos (CPM lógico que circunscreve o que são ou
ferências selecionadas detêm capa- – Complex Project Management), não são ameaças, quais seus graus
cidade de gerar as respostas às de- aumentando exponencialmente a relativos de importância e quais suas
mandas e prioridades percebidas no capacidade nacional de gerar co- capacidades de mutação. Um exem-
ambiente e se, finalmente, essas nhecimentos, na forma de tecno- plo tomado da experiência dos EUA
preferências poderiam responder às logias de produtos, processos e pode clarificar melhor a respon-
percepções nacionais de prioridades informações, que permitem iden- sabilidade da política de segurança
de segurança. tificar e resolver problemas e questões nesse tema crucial da qualificação
Outro ponto igualmente contro- mais sofisticadas do que aquelas do espectro dos conflitos.
verso é a questão sobre até que que os potenciais adversários podem Não há mais dúvidas de que o
ponto as estratégias são exequíveis ser capazes de conceber. Para gerar planejamento americano para a
com os meios disponíveis ou po- uma dimensão nova de dissuasão fase de pós-guerra no Iraque foi
tenciais do Estado; se elas são que vai para além do equilíbrio das defeituoso em antecipar as conse-
adequadas para responder às armas, o Design de Inovação oferece quências da brutal emergência de
necessidades e enfrentar os desafios o ferramental que permite desen- conflitos interétnicos e religiosos na
pragmáticos construídos no ambiente volver e sistematizar arranjos de dinâmica política, as consequências
de segurança; e, finalmente, se os defesa explorando molduras ana- psicológicas de décadas sob uma
custos políticos, sociais, psicossociais lítico-teóricas que explorem as fron- ditadura feroz, uma infraestrutura
e financeiros que a defesa irá cobrar teiras entre conhecimento científico e fortemente danificada e instituições
para implementar a estratégia o intuitivo, estabelecendo pontes governamentais sem nenhuma capa-
preferida selecionada são aceitáveis. práticas entre esses domínios do cidade de planejamento e gestão e,
Esses critérios de exequibilidade, conhecimento para a concepção de principalmente, o ressurgimento de
adequabilidade e aceitabilidade novas tecnologias inseridas em forte nacionalismo antiocupação.
colocam questões que tomam como produtos, sistemas de produtos, e A Política de Segurança Nacional
referencial para resposta as pre- arranjos articulados de processos em dos EUA, elaborada em 2002,
missas que sustentam a construção atendimento à futuras demandas de simplesmente não mencionava o
da política de segurança nacional. segurança. termo “estabilização pós-conflito e
Essa mesma questão, vista de outro 3) A comunicação estratégica reconstrução”, que denota a anteci-
ângulo, evidencia que a cascata de orientada para a modelagem do pação no planejamento das ações
atribuições e responsabilidades de ambiente cognitivo, incorporando e de questões emergentes da recons-
uma política de segurança efetiva ampliando as duas primeiras di- trução militar das forças de segu-
deriva de premissas fundamentais de mensões para evitar que potenciais rança, das organizações e da gestão
onde emanam as decisões prag- adversários reconheçam a inade- da defesa e da segurança pública e
máticas do acionar coletivo do quação de conceber alternativas privada sob altos níveis de violência
governo em representação do Es- confrontacionais dentro dos espaços organizada típicas de situações pós-
tado. No processo de evolução e de capacidade que as duas pri- conflito.
reconfiguração de uma política de meiras dimensões definem. Já a Política Americana de Se-
segurança é natural, portanto, que Outro conceito recorrentemente gurança de 2006 não somente
novas premissas promovam a rede- redefinido para justificar premissas e reconheceu explicitamente esse
finição de conceitos que as expli- prioridades reconfiguradas na polí- componente dentro do espectro dos
quem melhor ou diferentemente. tica de segurança é o próprio con- conflitos redefinido, como deter-
Um desses conceitos é o de ceito de democracia. Tome-se como minou a criação de uma Agência
dissuasão e suas variantes expressas exemplo os EUA. A versão de março Nacional de Coordenação da Re-
nas diplomacias coercitiva, diplo- de 2006 da Política Americana de construção e Estabilização, sob
mática, cultural e política, incor- Segurança Nacional estabelecia controle do Departamento de Estado

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– e não do Departamento de doutrina de ataques preemptivos – possível mapear a distribuição de
Defesa, como seria de se esperar, atacar antes, na antecipação da probabilidades que relacionam a
já que este tivera a responsabilidade defesa contra um ataque que está seleção de uma das opções com
de prover segurança ao Iraque no sendo engendrado contra nós, algo seus impactos estratégicos.
período pós-Saddam. que não era aceito como alternativa • Incompatibilidade de alter-
Seguindo a mesma tendência, o válida em 2002 no âmbito da nativas: define uma condição em que
documento de 2002 somente men- diplomacia coercitiva. Como um não é possível estruturar a distri-
ciona a aplicação da Diplomacia último exemplo da evolução de con- buição de probabilidades dos im-
Pública poucas vezes, enquanto a ceitos que a política de segurança pactos das opções possíveis com
versão de 2006 acentua o fato de engendra, o documento que ex- graus suficientes de consistência para
ser a Diplomacia Pública uma pressa a Política de Segurança atribuir e explicar a racionalidade
das principais armas na “guerra de americana de 2006 alterou signi- das recomendações.
ideias” contra “subculturas” de ficativamente a forma de denominar • Aceitabilidade das alternativas:
conspiração e desinformação. A seus propósitos fundamentais, define uma condição em que apesar
Diplomacia Pública, um conceito deixando de lado uma descrição de se conhecer a distribuição de
igualmente redefinido e ampliado, vaga e quase teológica de “eliminar probabilidades dos resultados e ser
passou a ser o instrumento da se- o mal do mundo” para ganhar possível identificar uma alternativa
gurança para buscar engajar assertividade e foco contra “tiranias preferida, não é possível qualificar
ativamente o setor privado nacional e tiranos”. se essa alternativa oferece uma res-
e estrangeiro no esforço de recons- Esses exemplos mostram como as posta efetiva ao problema formu-
trução nacional para o provimento políticas de segurança evoluem na lado.
de segurança, tornando-se a mais forma de parafrasear ameaças, Para enfrentar essas condições,
forte ferramenta política da gestão redefinir fenômenos e doutrinas e embora deva estar solidamente es-
da Política de Segurança dos EUA refinar conceitos, conforme elas corada em teorias aceitas, a mo-
para diversas regiões do mundo, evoluem para dar conta das de- dificação conceitual que acompanha
com ação primordial na construção mandas de segurança enquanto um cada revisão da Política de Segu-
de entendimentos políticos que re- complexo sistema adaptativo. Esse rança não é função acadêmica, na
movessem contradições evidentes processo não é mera casualidade, forma da construção de um livro-
entre o entendimento americano e mas uma ação deliberada, concei- texto instrutor de princípios. A ela-
de outros países em temas sensíveis, tualmente explicada pelo propósito boração de uma política de segu-
tal como a aceitação da colabo- de evitar três condições negativas rança é um ato político que abrange
ração da China na construção da que a teoria sobre formulação de a redefinição dos conceitos neces-
democracia no Iraque! políticas pública explica: sários para explicar as preferências
Também na Política de Segurança • Indefinição de alternativas: e premissas que a integram. A uni-
de 2006 vemos a retomada da define uma condição em que não é versidade contribui apenas (o que
não significa que seja simples ou
fácil) na elaboração de propostas
teoricamente consistentes e metodo-
logicamente adequadas dos con-
ceitos pretendidos, detendo respon-
sabilidades na elaboração de pro-
postas de reconceitualização de ter-
mos críticos, identificando e ante-
cipando inconsistências e apontando
mecanismos para removê-las.
Dentre essas diversas respon-
sabilidades da universidade, por
exemplo, se aloja o entendimento
dos mecanismos do sistema judicial
que geram debilidades na regulação
da autoridade e nas possibilidades
operacionais da defesa. Ainda
dentro dessas responsabilidades, e
talvez a mais complexa, está a res-
ponsabilidade da universidade em
executar as modelagens analítica,
exploratória, formativa, progra-
mática e avaliativa que identificam
as possibilidades de desarticulação
entre a estratégia militar que as
Não há dúvidas de que o planejamento dos EUA na fase de pós-guerra no Iraque foi defeituoso. organizações de defesa necessitam

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para executar sua destinação fun- criar e sustentar a força necessária condição de possibilidades para a
cional e a visão que a liderança para manter a paz desejada –, satisfação das metas individuais e
política necessita ter para governar. sempre foi o pilar central da segu- coletivas de um povo em um dado
E deve fazer tudo isso com claro e rança de todos os Estados ao longo momento histórico é vazia de sig-
inequívoco entendimento de que as de todos os seus momentos histó- nificado, se a defesa que assegure
modificações conceituais forma- ricos. as possibilidades das condições
lizadas irão gerar modificações Vários governos fracassaram no pretendidas não for política e
substantivas tanto nos processos e balanceamento dos termos da financeiramente validada pelo povo
organizações que concorrem para o equação do projeto de força: os que gera a demanda de segurança
processo de decisão, como nas termos que definem qual sistema de e paga pela defesa que a sustenta.
práticas que concorrem para os capacidades militares deveria ser Nesse sentido, defesa como
resultados pragmáticos que geram criado e como ele poderia ser sinônimo de forças armadas é um
a segurança desejada. mantido. Quando erraram para termo pobre e inapropriado para
Os custos de não ter uma política menos, comprometeram o nível de representar o fenômeno que a
de segurança emergem dos custos segurança necessário, levando seus política de segurança descreve
da desarticulação de decisões, do Estados a simplesmente deixar de enquanto cria. O termo defesa reflete
acionar desprovido de unidade, da existir ou deixar que sua população um espectro de possibilidades
impossibilidade de integrar efeitos fosse esmagada sob botas estran- instrumentais do uso da força para
em direção a um propósito único. geiras invasoras, em massacres fazer com que um competidor –
Os valores financeiros são uma hediondos que os sites enciclo- dotado de suas próprias bases e
medida desses custos em um am- pédicos na internet registram com o fundamentos de racionalidade – seja
biente povoado por Estados que distanciamento politicamente correto convencido a não iniciar uma ação
detêm a capacidade de autorregular da neutralidade cúmplice. Outros contrária a nossos interesses, quando
o uso ou a ameaça do uso da força governos erraram para mais, cons- os recursos são escassos para
para a consecução de seus inte- truindo e fortalecendo politicamente atender a ambos simultaneamente;
resses. Na ausência de uma insti- sistemas militares para além do que ou então para parar uma ação já
tuição superior reguladora dessa seria necessário para a defesa ex- iniciada, construindo outro estado de
capacidade, os arranjos de segu- terna, levando a que o Estado de equilíbrio (um novo estado de se-
rança e defesa têm muito de sua Direito sucumbisse sob a tirania das gurança) que atenda aos nossos
função expurgada sob a alegação botas caseiras em massacres hedi- interesses de acordo com uma escala
de que são apenas portadores de ondos das liberdades individuais, de valores dinamicamente construída
promessas oportunistas, populistas e, que os sites da internet registram de e politicamente sustentada.
em último termo, falsas1. forma medíocre para assegurar o O conceito moderno de defesa,
distanciamento necessário da possi- nesse sentido, deve ter seu signi-
Segurança e defesa: bilidade do retorno imediato das ficado contingencialmente am-
significados mutuamente ditaduras do passado recente, ainda pliado para conter todos os ele-
definidos na política de não totalmente esquecidas. mentos de poder efetivo e potencial
segurança Produzir o equilíbrio da equação do Estado, em todas as suas
segurança-defesa não é tarefa trivial. dimensões de significado, neces-
Dados os propósitos de uma Várias dificuldades estão alojadas sários e suficientes para gerar a
política de segurança e explicado na construção do algoritmo lógico dissuasão pretendida, indo para
como ela evolui enquanto parte da que governa a formulação de po- além de um significado contin-
práxis política, de onde ela emana líticas de governo que estabelecem gencialmente restrito às forças
e ganha substância ao mesmo e equilibram tanto seus termos como armadas em sua capacidade de
tempo em que redefine os termos o fluxo regulador dessa equação. empreender ações táticas para os
que necessita para explicar-se, pode- A maior dessas dificuldades propósitos estratégicos que a
se, então, compreender como é aloja-se na impossibilidade de se política define.
importante entender a função de definir o significado e o propósito da No Brasil, a dificuldade com a
uma política de segurança nacional segurança sem que igualmente se definição do binômio segurança e
na definição da quantidade e da defina a defesa que a sustentará e defesa é ampliada pela ainda la-
qualidade das capacidades de os mecanismos que irão manter a tente restrição ao uso do termo
defesa necessárias para produzi-la, relação entre a segurança e a defesa segurança nacional para dar sig-
assim como compreender seu papel no tempo. Essa dificuldade traduz a nificado a um fenômeno específico
na criação e na manutenção do mútua dependência entre o estado das relações inter e intraestatais
esforço de sustentar no tempo essas de segurança pretendido e o que o modernas, rescaldo equivocado e
capacidades. governo está disposto a financiar em ideologicamente manipulado do
Atender a essas duas destinações, projetos de defesa. Assim, a definição passado recente dos governos
na forma de um projeto de força – de segurança como um estado, uma militares, sem que nenhum outro

1
Mearsheimer, J. The False Promise of International Institutions, International Security, 19:3 (1994/5), pp. 5-49.

ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 49 6


termo seja adequadamente forne- estratégia de defesa, as estratégias região compreendida entre o México
cido como substituto para repre- militares e as doutrinas respectivas a e o Panamá à ameaça das maras –
sentar o fenômeno. cada um desses níveis, assegurando gangues ultraviolentas de jovens –
Basta ver que o termo segurança que seus propósitos sejam alcan- transformadas em braço armado
nacional na Universidade Brasileira çados no pleno Estado de Direito. dos cartéis de droga que alimentam
ainda é sinônimo de militarismo, de a corrupção governamental endê-
ditadura, e como tal rejeitado. O Estrutura de ameaças mica em toda a região.
próprio Conselho Nacional de De- do entorno de Em nossa região, a ressurgência
senvolvimento Científico e Tecnoló- segurança brasileiro da pirataria marítima vem acom-
gico (CNPQ), órgão nacional res- panhada da ressurgência dos gru-
ponsável pelo fomento à pesquisa, O mundo é um lugar perigoso! pos terroristas regionais, o Sendero
rejeita – não financia – projetos sobre A tríplice determinação instrumental Luminoso, por exemplo, modifi-
o tema por não considerá-lo rele- de uma política de segurança se cados, modernizados e associados
vante. Algo não somente contrário justapõe à explicação de que a também com o tráfico de drogas.
à construção do conhecimento segurança do povo brasileiro contra Nem os cerca de 800 mil brasiguaios
necessário à formulação de políticas perigos de forças externas depende irão continuar avançando sobre o
públicas em todas as dimensões que não somente da justificativa que território paraguaio, nem a avalan-
a segurança abrange, contrário às essas forças possam oferecer para che de produtos brasileiros sobre a
práticas e aos próprios princípios da empreender uma guerra contra nós economia peruana pela rodovia
democracia e dos princípios liberais – seja qual for o tipo ou a forma internacional de conexão irá passar
em toda a plenitude de seu signi- que essa guerra possa assumir, desde impune.
ficado, como também, e princi- as mais virulentas formas de Não podemos deixar a Argentina
palmente, intelectualmente arro- combate até as mais elusivas formas naufragar em sua própria economia
gante. O termo defesa é igualmente de embargo comercial e de infor- e arrogante isolamento. Nem per-
banido da universidade, sinônimo mação –, mas também da condição mitir que o Uruguai simplesmente
restritivo e pejorativo de “coisa de de não nos colocarmos em uma po- deixe de ser relevante, e muito
milico” e, quando por exceção são sição contínua de incitar percepções menos anexar implicitamente o
benevolamente tolerados, limitam o ou motivar hostilidades que sejam Paraguai às terras sob domínio de
escopo do estudo à história militar e interpretadas como justas causas nacionais brasileiros, ou permitir que
às relações civis-militares dentro para uma agressão. uma Bolívia dividida se torne um
da Ciência Política. Nesse sentido, a projeção bra- Estado sem perspectivas. E tudo isso
Há algumas exceções. Poucas. sileira como potência regional sem poder contar com o apoio de
Nós, professores, para podermos gerará a necessidade de enfren- outras potências regionais tradi-
dar um curso introdutório sobre tamento de complexas cadeias de cionais, Grã-Bretanha, e outras
Projeto de Força e Transferência de problemas de segurança e defesa emergentes, como a Índia e a África
Tecnologia na USP (Universidade de nacionais no contexto internacional. do Sul; enquanto temos que cons-
São Paulo), tivemos que arcar com Teremos que nos posicionar frente a truir alianças com o Chile e a Co-
as despesas. Nenhum país que uma Rússia que procura projetar sua lômbia que reforcem entendimentos
almeja ser potência regional pode influência em áreas de domínio da mútuos sobre áreas de influência e
aceitar essa condição. Temos que ex-União Soviética, inclusive no competências, prevenindo descon-
avançar, sair dessa letargia intelectual Caribe, pronta para invadir vizinhos fianças e interpretações equivo-
que toma segurança como sinônimo – e não vizinhos – se necessário, para cadas sobre os mecanismos que
de defesa e defesa como sinônimo assegurar essa sua influência, cada país pretende utilizar para
de forças armadas. enquanto, paradoxalmente, mantém gerar e manter os estados de segu-
Temos que nos alijar do receio seu apoio à Organização do Tratado rança que necessitam.
de discutir e redefinir a função e as do Atlântico Norte nas questões do Teremos tempos interessantes pela
responsabilidades das forças arma- Afeganistão. Também teremos que frente, começando pela necessidade
das como se isso fosse tema de enfrentar uma China colossal de abandonar eufemismos genera-
militares e como se somente a eles testando seu poder e sua influência lizantes em prol de posturas afir-
coubesse. Temos que avançar na na África, na Ásia e nas Américas mativas sobre temas, países e pro-
incorporação da indústria de defesa Latina e Central. Ela já vem pro- blemas. Nesse sentido, projetando
como arranjo produtivo, e não como vocando navios dos EUA em águas nossas necessidades ao futuro,
feudo de empresários amigos de internacionais, e não tardará a nos assumindo que deverá ser uma
militares. Temos que reconstruir a provocar nas pretendidas 300 milhas prioridade do novo Presidente a
arquitetura de documentos de alto costeiras de influência marítima elaboração de uma política nacional
nível de segurança e defesa, defi- brasileira. Essa provocação deverá de segurança, ele terá que enfrentar
nindo o escopo de responsabilidade ser resolvida tendo que acomodar as consequências que as políticas da
e as relações de causalidade e a manutenção dos interesses que a administração Lula trouxeram à
dependência entre a política de balança comercial requer. Ainda percepção de legitimidade da
segurança nacional, a estratégia de teremos que enfrentar a possi- liderança regional brasileira, tendo
segurança nacional, a política e a bilidade de falência de países na que trabalhar para construir os

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alicerces de alianças de segurança e no ceticismo comum aos dois Nesse sentido, na reconquista e
– formais e informais – necessárias governos à formação de alianças de repotencialização necessária do
para confrontar ameaças comuns segurança e ao papel das organi- conceito de política de segurança,
nas sete dimensões de segurança: zações internacionais existentes, resguardando o escopo de com-
energética, ambiental, territorial, impondo a criação ou o redesenho petência e responsabilidades da
humana, empresarial, informacional de organismos de segurança em defesa no seu interior, o Brasil terá
e tecnológica. atendimento a noções limitadas que aprender a executar quatro
A construção dessas alianças de desdobradas dessas duas seme- estágios de desenvolvimento e
segurança contará com a resistência lhanças. Ambos parecem refutar o práticas políticas nessa esfera superior
gerada nos desenhos de defesa que entendimento do Presidente Sarkozy, de ação:
elaboramos isoladamente, sem de que “no século XXI nenhuma 1. Selecionar e estruturar dados
considerar os interesses compar- nação pode dizer o que deve ser relevantes e pertinentes, com a
tilhados por outros países que se feito ou o que deve ser pensado”. identificação de mapas causais que
alojam em nosso entorno estratégico. Há muitas formas de poder e in- formem um esquema interpretativo
Certa arrogância de nossa parte, fluência em segurança internacional, adequado da realidade de se-
que irá nos custar caro. e nem os EUA em escala global, nem gurança, contendo um consenso
Alianças de segurança somente sobre os propósitos e objetivos do
se sustentam quando todos os inte- Estado e as incertezas críticas.
grantes compartilham a percepção 2. Definir um horizonte de pos-
de que os custos da defesa com-
“A política de sibilidades estáveis segundo os eixos
pensam a produção da segurança, segurança é projetivo (tendencial), de propensão
definida pela dupla condição de que fundamental no (condicionado por eventos que
uma vez produzida, a segurança processo de contínua percorrem o mesmo eixo de tempo)
(enquanto um bem comum) não reconstrução do e prosficcional (que considera a
exclui nenhum dos membros da re- ruptura de paradoxos lógicos na
gião de seus potenciais benefícios,
Estado, por dar
construção de novas lógicas
mesmo que eles não tenham con- partida e assegurar articulantes de sistemas) que ordene
tribuído para sua produção; e mes- a continuidade ao o conhecimento tácito na criação de
mo que dela consumam, usufruindo fluxo das roteiros interna e externamente
da paz que construímos e susten- experiências, evitando consistentes sobre como o ambiente
tamos, isso não altera a capacidade a ruptura das redes de segurança irá se desenvolver.
de outros estados também usu- Enquanto a projeção está vin-
fruírem da mesma paz. transacionais que culada à busca de maximização de
Nossa política exterior, em sua constroem categorias eficiência e a propensão à de
neutralidade tendenciosa ao sin- indexadoras da base eficácia, a prosficção está rela-
dicalismo internacional, gerou de informações cionada à capacidade de transpor
mensagens contraditórias que terão nacionais.” barreiras organizacionais, intelectuais
que ser resolvidas na construção de e culturais para aperfeiçoar produtos,
novas alianças. Em alguns casos a processos, sistemas e sistemas de
mensagem implícita era “ou comigo defesa existentes, para desenvolver
ou contra”, antagonizando desne- o Brasil em escala regional possuem produtos e processos inovadores que
cessariamente as relações com o Peru o monopólio deles. No momento em atendam a requisitos de efetividade
e a Colômbia, e até mesmo os EUA, que o Brasil arranca para ser uma distintos dos existentes e para con-
quando teríamos tudo a ganhar na potência regional, mantida a atual ceber ambientes cognitivos e estra-
prática de uma diplomacia comer- postura da política exterior em sua tégicos ainda não integrados à ex-
cial mais madura e efetiva. Em outros vertente da diplomacia coercitiva periência humana.
casos a promessa de uma liderança ela arrasta consigo o risco de gerar 3. Selecionar e explicitar os
regional do Presidente Lula ficou os mecanismos de seu próprio critérios empregados das alternativas
ofuscada pela liderança do Presi- fracasso. que preencham requisitos mínimos de
dente Obama, com seus mais de aceitabilidade na criação de sig-
93% de expectativas internacionais Considerações nificados que justifiquem e sustentem
positivas de que ele removeria subs- metodológicas o desenvolvimento nacional de
tancialmente o antiamericanismo. forma racional enquanto minimizem
É interessante notar que, sob A política de segurança é fun- o risco de ameaças externas.
certos aspectos, as políticas de damental no processo de contínua 4. Definir regras de ação e es-
segurança do governo Lula se reconstrução do Estado, por dar copo de responsabilidades para a
aproximam muito das do governo partida e assegurar a continuidade sincronização de efeitos das es-
Bush, ambos com foco na expansão ao fluxo das experiências, evitando tratégias, assegurando a construção
da democracia, enquanto o Brasil a ruptura das redes transacionais que de conjuntos de decisões articuladas
com matiz regional sindicalista, os constroem categorias indexadoras que instruem a ação coletiva, ofe-
EUA com matiz global corporativista; da base de informações nacionais. recendo potenciais soluções estru-

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turadas para problemas orga- não é convincente. Elementos eco- Produto Nacional Bruto como va-
nizacionais, critérios de avaliação de nômicos podem ser exercitados riável crítica. Uma tendência mo-
desempenho, e as regras de inclusão, como brandos, mas percebidos derna é associar o índice de poder
alocação e exclusão de ações e como hard, definidos como a nacional à taxa de consumo total
recursos para sua consecução.. combinação das forças armadas nacional de combustíveis e energia
Após cruzar esses estágios, uma com a base industrial de defesa dos elétrica, conforme defende Oskar
efetiva Política de Segurança Na- Estados. Poder não resulta auto- Morgenstern.7 Embora esses indica-
cional emerge como síntese do maticamente em influência, nem na dores sintéticos tenham vantagens em
conhecimento que as instituições de consecução automática de metas. sua simplicidade, eles não auxiliam
estado e empresas geradoras de Embora o conceito de poder seja na indexação de países por critérios
valor consideram necessário para o central na definição das alternativas de poder e segurança nacional. Sua
controle dos conceitos que instruem de segurança, não existe consenso falta de realismo e limitado valor
a elaboração ou a reformulação de sobre exatamente o que ele define estatístico correlacional os torna mais
seus construtos de competências, seja e como pode ser mensurado. uma peça de propaganda do que
na forma de capacidades militares, Kenneth Waltz, um dos mais proemi- uma variável substantiva na análise
planos de negócios empresariais ou nentes teóricos das Relações de segurança.
políticas públicas setoriais. É, pois, Internacionais contemporâneas, O trabalho acadêmico fundador
da Política de Segurança de onde define poder como função de distri- da moderna moldura analítica de
emanam os requisitos e com o que buição de capacidades 2 desdo- segurança nacional foi lançado em
se asseguram os procedimentos bradas das dimensões da popula- 1956 por Klaus Knorr, em seu livro
para prover interoperabilidade aos ção e território, recursos naturais, The War Potential, relacionando
arranjos de decisão que regem a potencial econômico, competências poder nacional às categorias eco-
defesa, os empreendimentos priva- militares, estabilidade e competência nômica, política (com ênfase na
dos e a gestão pública. política. Já o trabalho de Hans capacidade de gestão) e psicossocial
Um Estado sem Política de Se- Morgenthau oferece um detalha- (centrada na motivação para a
gurança Nacional, para emprestar mento maior, incluindo 3 particu- guerra). Outros trabalhos foram
uma metáfora da engenharia, pode laridades geopolíticas, recursos desdobrados dessa base funda-
ser um motor com potência, mas não naturais – especialmente alimentos, cional, inclusive, tudo indica, a pró-
tem torque. Revolver muita água, capacidade industrial, prontidão pria doutrina de segurança nacional
mas sem ir a lugar algum! A Se- militar (como composição de tecno- desenvolvida pela Escola Superior
gurança Nacional sem uma indústria logia, liderança e quantidade e de Guerra.
de defesa autônoma, desprovida da qualidade das forças armadas), Note-se que enquanto esse índice
capacidade de fixar e manter metas estrutura demográfica nacional, multivariáveis apresenta vantagens
claras de gestão superior da defesa, moral nacional e a qualidade do superiores às daqueles agregados
pode gerar potência, mas não gera serviço diplomático e governa- em uma única variável, ele possui
torque, não move o país em direção mental. seus próprios problemas e limitações.
alguma. Esses e outros autores concordam Uma delas, e talvez a mais impor-
Poder, em última análise, define em que a avaliação do poder tante e mais criticada, é a impossi-
a capacidade de produzir resul- nacional que contribui para a se- bilidade de computar as variáveis,
tados. Mas isso não significa que é gurança nacional não deve ser mesmo com as artificialidades
fácil medi-lo. A tendência sempre é referenciada a um conjunto muito criadas para integrar em um modelo
medir o que é mais fácil, e não o limitado de variáveis, embora seja único componentes com natureza
que é mais importante. Os multi- comum, depois de agregados, diferenciada. Para compensar essas
plicadores da relação entre gastos tomarem-se um indicador único dificuldades, outros modelos foram
militares e o PIB procuram compensar como síntese dos demais. Uma des- propostos. Um deles, o modelo de
as distorções naturais embutida nesses sas variáveis mais empregadas é a Clifford German8, muito complexo,
dois indicadores, tal como o trabalho capacidade militar reduzida ao emprega análise multicritérios para
não remunerado, principalmente o tamanho das forças armadas, tal fatorar uma enorme quantidade de
produzido pelas mulheres. como George Modelski e William variáveis. Infelizmente, a comple-
Os modelos tradicionais de medir Thompson4defendem. Klaus Knorr5 xidade do modelo não assegura a
o poder nacional priorizam os países já propõe variáveis relacionadas consistência e a convergência do
por sua capacidade de combate. Por com a capacidade produtiva resultado.
outro lado, a distinção entre poder nacional. Charles Hitch e Roland Apesar dessas dificuldades na
militar e poder brando (soft power) McKean6 defendem o emprego do identificação das variáveis e relações

2
Kenneth N. Waltz, Theory of International Politics (Reading, MA: Addison-Wesley, 1979), p. 192.
3
Hans Morgenthau, Politics Among Nations, 4th ed. (New York: Alfred A. Knopf, 1967), p. 131.
4
George Modelski & William R. Thompson, Seapower in Global Politics, 1494–1983 (Seattle: University of Washington Press, 1987).
5
Klaus Knorr, The War Potential of Nations. (Princeton: Princeton University Press, 1956).
6
Charles Hitch & Roland McKean, The Economics of Defense in the Nuclear Age (Cambridge: Harvard University Press, 1960).
7
Oskar Morgenstern et al., Long Term Projections of Political and Military Power (Cambridge: Ballinger, 1973).
8
Clifford German, “A Tentative Evaluation of World Power,” Journal of Conflict Resolution, Vol. 4 (1960) pp. 138–144.

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entre variáveis representativas do agentes e agências geradoras de categorias, com a qualificação de
valor do poder nacional em um de- defesa. seus impactos na segurança nacio-
terminado momento, existe consenso A evolução desses níveis está nal. Como exercício intelectual,
em termos de que a segurança condicionada aos instrumentos de apresentam-se cinco categorias
nacional empresta à diplomacia poder que os Estados disponibilizam gerais possíveis:
coercitiva e à diplomacia comercial para dar conta das prioridades de Conflitos armados, tipificados
valor derivado da capacidade do segurança, definidas como resposta pelo uso intenso e violento da força,
Estado de converter recursos em a uma série de questões funda- seja de forma ofensiva ou defensiva,
poder nacional. Essa conversão é mentais. No caso do Brasil, algumas em todas as dimensões, inclusive o
medida em termos da relação entre dessas questões de segurança não cybercombate no ambiente definido
os gastos de defesa e o Produto são difíceis de estabelecer: como warbotics, onde os veículos
Interno Bruto, tendo como fatores 1. Como identificar e medir o não-tripulados de terra, mar e ar
multiplicadores o índice agregado valor da dissuasão que nossa defesa passam de plataformas de obser-
das seguintes capacidades: gera contra o espectro de ameaças vação e resgate para serem utiliza-
1. Capacidade de inovação tec- possíveis e em formação em nosso dos como vetores de armas;
nológica, refletida na taxa mantida entorno estratégico. Crises e operações distintas da
de patentes registradas. 2 Como compatibilizar a neces- guerra, definidas como situações
2. Capacidade de mobilização, sidade de cooperar com países que podem anteceder ou então
que é uma função da demografia lindeiros para o enfrentamento de suceder aos conflitos, onde os meios
nacional. problemas comuns, enquanto esses e a intenção do uso violento da força
3. Capacidade de financiar pro- países mantêm diferentes prioridades são limitados tanto para prevenir o
gramas de defesa, desdobrada e entendimentos sobre como esses conflito como para buscar a
diretamente da competência na- problemas se traduzem em ameaças estabilização pós-conflito;
cional de definir e sustentar prio- ou vulnerabilidades à segurança Ações formativas do meio
ridades de segurança. nacional. ambiente, configuradas pela ênfase
4. Capacidade de manutenção 3. Como compatibilizar a neces- em ações para reconfigurar as for-
de níveis elevados de aprestamento sidade de cooperar com instituições mas de pensar e o comportamento
militar, que reflete o potencial de e arranjos sub-regionais de segu- individual ou coletivo;
conversão da indústria de defesa rança para o desenvolvimento e a Assistência a desastres, sejam
nacional. estabilização do ambiente estra- eles naturais ou provocados, bem
5. Capacidade de desdobrar tégico enquanto essas instituições não como os desdobramentos operacio-
múltiplos e simultâneos vetores compartilham dos princípios demo- nais relacionados com os compro-
estratégicos de combate, em si uma cráticos, liberais, e não comungam missos internacionais de proteção da
função dos arranjos organizacionais das mesmas premissas que sustentam vida humana no mar, resgate de
que o projeto da força autoriza. a construção de entendimentos de vidas, bens e materiais sob determi-
Se os dados geralmente aceitos futuros desejados. nadas condições protegidas por
estiverem corretos, os EUA detêm 4. Como compatibilizar a neces- acordos internacionais;
cerca de 20% do poder total global, sidade de ganhar projeção inter- Ações constabulares e de
a União Européia e a China cerca nacional que dê lastro aos interesses segurança pública, centradas na
de 14%, a Índia outros 9%, en- de hegemonia regional enquanto se proteção da pessoa humana e no
quanto o Brasil, a Coréia do Sul e a evita ser vitimizado por extremismos controle das atividades que con-
Rússia detêm cerca de 2% cada um9. religiosos e ideológicos, sendo trariam ou confrontam as regras
Os cenários de segurança para ataques terroristas em suas várias sociais e internacionais, tais como
2015 apontam a manutenção das forma uma dessas manifestações, em controle de fronteiras, ações anti-
taxas americanas e o declínio da condições de eventos públicos de drogas e contra organizações
União Européia em favor da China grande porte, tal como Olimpíadas criminosas. O papel constabular da
e da Índia. Em qualquer desses e Copa do Mundo. defesa circunscreve as condições
cenários, o exercício do poder na- As respostas possíveis a essas específicas, que por decisão consti-
cional nas sete dimensões de questões serão certamente com- tucional, os meios militares são
segurança depende da capacidade plexas, exigindo uma profunda revi- temporária e contingencialmente
de gerar, armazenar, recuperar, são de premissas e posturas, de- empossados com o poder de po-
processar e distribuir informações, mandando a construção de critérios lítica para tarefas específicas sob
diminuindo o tempo de giro do ciclo de inclusão e exclusão de categorias mandato judicial qualificador de seu
de decisão de forma a aumentar a de ameaças e, uma vez definidas escopo de responsabilidade, auto-
capacidade de conversão de essas categorias, exigindo que as ridade e competências.
recursos em capacidades e a capa- condições de segurança sejam As respostas oferecidas às
cidade de coordenação entre os projetadas para cada uma dessas prioridades de segurança nacional

9
É possível encontrar estatísticas similares no site da organização RAND, http//:www.rand.org.

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segundo cada uma dessas cate- as estratégias que elas geram, mente, consigam alterar as premissas
gorias irão refletir as formas como o emergindo do entendimento da e delas desdobrar modificações
governo brasileiro avalia seu poder estabilidade dos relacionamentos da substantivas nas políticas de segu-
e a partir dele projeta a condição trama de elementos que definem o rança.
de possibilidade de suas ambições ambiente de segurança que os Em função disso, é natural que
no cenário internacional, consoli- principais assessores do governo todo processo de reformulação da
dadas na política de segurança detêm. Dessa forma, podemos ava- política de segurança seja elaborado
nacional. Daí o entendimento de que liar a questão se o Brasil detém ou por ajustes sucessivos e incrementais
uma política de segurança reflete o não uma política de segurança das premissas que a sustentam. A
país que ela quer construir! nacional em três níveis. Um relativo confiança nas políticas emana da
a políticas específicas, outro relativo percepção de justiça das premissas
A política de segurança às premissas que sustentam essas em evolução. A adesão aos ideais
obriga a revisão da premissas e outro sobre a conver- aporta o lastro moral para enfrentar
diplomacia gência entre as políticas e essas opositores, mesclando o idealismo
premissas. das propostas com uma dose de
A noção de hierarquia desdo- Um dos testes de convergência realismo das possibilidades militares
brada de níveis de segurança que o em que nossa política de segurança na busca de entendimentos que
poder nacional gera é muito falha é a capacidade de alinhar-se neutralizem a necessidade de ter que
importante nas relações internacio- com as estratégias setoriais desdo- usar a força. Isso é a dissuasão
nais, bem como medir essas po- bradas das múltiplas dimensões de operando no nível político, enquanto
sições relativas é fundamental na segurança que apontam para o no nível estratégico ela gera nos
construção de políticas de segurança, entendimento de que a segurança adversários a percepção de que os
porque adversários e aliados estão existirá como segurança comum, custos prováveis de nos prejudicar
subordinados ao exercício de sua aliada de um esforço comum de não compensam os ganhos possíveis,
influência – queiram ou não. Isso desenvolvimento com países em permitindo que a avaliação opera-
demanda o alinhamento da di- nosso entorno estratégico, o que cional instrua a expectativa de risco
plomacia coercitiva no exercício expande o escopo de responsa- nos engajamentos táticos. Tática,
desse poder com a diplomacia bilidade da defesa e seu envolvi- estratégia e política, assim, alinham-
comercial, ambas orientadas pelo mento em temas domésticos dos se na composição da segurança
propósito de modelar o ambiente países lindeiros aos interesses brasi- enquanto instrumentos da defesa que
cognitivo internacional favoravel- leiros. Isso vai contra a noção de que a produz.
mente ao Brasil e, simultaneamente, os limites políticos das fronteiras são A coerção assertiva passa a
criar atratores de negócios e in- os limites da ação política do Estado. integrar o portfólio das opções
vestimentos sem gerar reações po- Não há uma solução brasileira para políticas disponíveis na definição de
líticas adversas. cada problema nascido para além quanto risco o governo está disposto
Infelizmente, as nações compro- de nossas fronteiras, alojado no a aceitar. Sempre haverá riscos no
meterão nossa segurança quando complexo de segurança de nosso diálogo com competidores ou ad-
elas virem como possibilidade última entorno estratégico, mas o Brasil deve versários. Mas também há oportu-
uma modificação da paz para obter uma resposta a cada um desses nidades para que pontos comuns
algo que lhes é imprescindível. Ainda problemas. gerem incentivos para modificar o
há o risco de conflitos engendrados Isso implica que o Brasil não estado de interesse das partes. O
na ambição e na vaidade de dés- poderá hesitar em usar a força, se risco é deixar a ênfase na acomo-
potas regionais semiesclarecidos que necessário, mesmo unilateralmente, dação remover a direção estratégica
buscam transferir para outros a para proteger seus interesses quando da política de segurança nacional.
razão e a causa da mazela que eles atacado ou na eminência de um Apenas como exercício intelec-
mesmos produziram para seu povo. ataque a nossos interesses conside- tual, utilizando um exemplo por
Os EUA padecem disso. Vamos rados vitais. Cada governo adota contraste, imagine-se uma iniciativa
experienciar essa situação ao nos uma postura que reflete sua percep- argentina de repotencialização
alçarmos à condição de potência ção de ameaças e desenvolve polí- militar (e nuclear, conforme pode ser
regional. ticas de segurança que refletem sua projetado a partir dos desenvol-
Uma política de segurança na- intenção do uso da força. vimentos recentes). A questão
cional contém uma série de pre- Ao assumir o poder qualquer brasileira de segurança envolveria
missas sobre as quais as estratégias presidente herda um conjunto dessas questões sobre a equação de
são construídas, cobrindo uma vasta políticas. Enquanto é possível aceitar segurança argentina, se eles estariam
área de interesses e objetos. Dessa algumas, não se pode rejeitar a buscando prestígio internacional e
forma, a política de segurança na- todas. Embora denunciem fortemente para quê, e se embutidas nessa
cional é portadora de um portfólio muitas das políticas do governo demanda de prestígio estariam
de opções, e não um arsenal de anterior, os novos governos ajustam aspirações de hegemonia regional.
requisitos doutrinários. a linguagem e a retórica das novas Todas essas questões possuem
As premissas por detrás das políticas sem alterar as premissas que profundas implicações. Se a questão
políticas são tão importantes quanto as sustentam, até que, gradual- argentina é a de segurança, então

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a afirmação brasileira de sua in- nacional, que encapsula o poder Força Armada, além daquela
tenção não bélica é inócua. Agora, nacional, ele gera um duplo risco: da Chancelaria, deixando, por
se a questão para eles é prestígio, 1) desenhar planos desmedidamente exemplo, a cargo da Marinha a
nossa diplomacia comercial teria ambiciosos de potencialização militar decisão sobre se o Brasil vai ou não
que construir alternativas de equi- que desconsideram o papel dos estabelecer alianças regionais de
líbrio de poder de igual valor na aliados na estabilização do segurança ou defesa. Essa é uma
comunidade internacional. É evi- ambiente de segurança e, 2) criar as prerrogativa inalienável da política,
dente que não temos desenvolvida condições para uma impulsiva não das forças armadas! Hipo-
a arquitetura de posturas para as predisposição a utilizar a força militar teticamente, pode não ser bom para
possibilidades de iniciativas emer- para além da dissuasão, sem levar a Marinha do Brasil uma aliança de
gentes dos países em nosso entorno em consideração ou trabalhar em segurança regional, já que isso
estratégico. É evidente que não conjunto com as instituições in- impactaria em seu orçamento e na
temos uma Política de Segurança ternacionais de segurança. O resul- autonomia na elaboração de es-
Nacional. tado agregado tende a gerar o tratégias, mas pode ser bom para o
Enquanto negociações e acomo- isolamento político brasileiro e a Brasil. A Política de Segurança
dações diplomáticas ad hoc são rejeição de nossa liderança regional. Nacional deve enfrentar a res-
frequentemente reputadas como Um efeito exatamente contrário ao ponsabilidade de definir essa con-
virtudes de pragmatismo e flexi- que pretendíamos. dição.
bilidade, elas corroem a legiti- Um dos testes de coragem da A diplomacia e a paradiplo-
midade de uma futura política de política de segurança nacional é sua macia coercitiva, ao interpretarem as
segurança, reforçando um estado disposição de ir de encontro a premissas e preferências registradas
de contínua instabilidade estra- convicções arraigadas. Nesse ponto, na Política de Segurança nacional,
tégica. Nenhuma potência regional nossa diplomacia necessita rever refletem sempre opções entre riscos
pode dar-se ao luxo de conduzir sua seus conceitos tal como a política de de ação e de inação, principalmente
política exterior sem incluir consi- segurança instrui em seu processo de em suas especificidades para lidar
derações de segurança nacional. formulação. É muito difícil saber com líderes regionais que apre-
Nem pode, ainda, deixar de pon- quando uma condição de ameaça sentem um comportamento que
derar a relação entre meios e fins e na diplomacia é superestimada – ou evidencie ambições de hegemonia
ambições políticas às capacidades inflada, com atributos de relevância, sub-regional, que detenham uma
de defesa. Por outro lado, não deve pertinência e urgência que não se visão distorcida e supervalorizada de
haver ilusões de que mudanças de justificam, exceto a posteriori. Mas aí, si mesmos, que se imaginem su-
ênfase nas posturas políticas então, sempre cabe a explicação de cessores de líderes históricos ou que
nacionais, sujeitas e alinhadas com que os fatos mudaram ao longo da possuam uma notória tendência a
alterações nas premissas que as sus- trajetória. Na prática da diplomacia fazerem perigosos julgamentos
tentam, irão impactar na estabili- coercitiva é quase impossível obter equivocados.
dade das relações que definem o evidências confiáveis e não con- Essas características diluem os
entorno estratégico nacional. traditórias que definam a possibi- critérios de racionalidade das
Em segurança internacional, o lidade e a probabilidade de uma decisões esperadas desses líderes
que somos capazes de desejar não ameaça. para aquelas cujos resultados pro-
é sinônimo do que somos capazes Essa característica tende a fazer movam suas próprias ambições. O
de empreender, e o que podemos os gabinetes, agências ou depar- problema, então, para a diplomacia
empreender é sempre uma questão tamentos governamentais com ação coercitiva, torna-se como empregar
em debate. Evocar a existência de na paradiplomacia coercitiva a defesa para gerar freios de
uma política de segurança “im- (aquela efetuada por um órgão ou prudência nesses líderes a partir da
plícita”, fragmentada em múltiplas agência que não seja subordinado avaliação das possíveis conse-
ações e intenções alojadas em ao Ministério das Relações Exteriores) quências de suas ações, desva-
decisões setoriais, alegando que a assumirem riscos no desenho das lorizando suas chances de sucesso
integração de resultados dessas estratégias que não necessariamente enquanto os faz considerar ade-
decisões seria portadora da unidade estão alinhadas com as políticas de quadamente os riscos de fracasso.
da intenção política, é algo não governo. As Forças Armadas fazem Enquanto isso, para a defesa o
somente inconsistente como pe- paradiplomacia. É algo intrínseco à problema consiste em como projetar
rigoso. Invocar essa política implícita sua natureza, principalmente à uma força que, no contexto da
não é substituto para o processo de natureza das Marinhas. Nesse caso, segurança nacional, seja capaz de
decisão que leva à busca e à a Política de Segurança Nacional oferecer as alternativas políticas que
implementação de soluções para atua como instância de referência e a diplomacia coercitiva possa ne-
problemas específicos. coordenação de alto nível, subor- cessitar.
No momento em que o Brasil dinando a paradiplomacia naval à Uma aplicação dessa construção
assume o papel de potência regio- política exterior desenhada na conceitual alude imediatamente ao
nal, alavancado em um poder Chancelaria. O risco óbvio de Presidente da Venezuela, embora
militar substantivado, e não concebe não se ter essa instância são múltiplas possa servir como cenário de
os limites do sistema de segurança políticas exteriores, uma para cada possibilidade para transições futuras

ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 49 12


de outros governos regionais. Até
que ponto a estratégia de segurança
nacional será capaz de deter o Sr.
Presidente Hugo Chávez? Qual a
lógica que o impede de pressionar
o Brasil, já que, naturalmente, ofe-
recemos os óbices a seus interesses
de hegemonia e prestígio sub-
regional? A fragilidade brasileira em
não possuir uma política de se-
gurança nacional é uma janela de
oportunidade para uma ameaça
significante, mesmo que o balanço
de forças militares projetado seja
desvantajoso para cada um dos
lados em algumas categorias de
análise. Um conflito de “opor-
tunidade” sobrepuja os freios de
prudência, principalmente quando
pode ser defendido internamente
como sendo uma ação preemptiva
defensiva, orientada para cobrir
uma deficiência nacional vene-
zuelana projetada a partir de uma
reavaliação mais negativa que a
economia possa ter de continuar a
financiar programas de defesa.
A mesma lógica se aplicaria se
os vetores militares venezuelanos A recente crise envolvendo a Petrobras na Bolívia é uma evidência de uma postura errática,
desarticulada dos propósitos de segurança do Estado.
apontassem para a Guiana, na
tomada de posse do território em
litígio e na criação de um fato resultados duvidosos no longo prazo, que confundiram Política de Se-
consumado. Sem o peso político que firmamos com o Paraguai sobre gurança Nacional com Doutrina de
interno e as pressões de decisão de Itaipu são evidências de uma postura Segurança Nacional. Uma condição
uma política de segurança nacional, errática, desarticulada dos pro- ainda pior, porque nesse caso as
o povo e o Congresso Brasileiro pósitos de segurança do Estado, que premissas – condição necessária de
podem justificar uma postura de não sejam os interesses específicos uma Política – estão submetidas a
repulsa aposta a uma ambivalência de curto prazo que somente podem uma lógica estranha ao Estado de
distribuída entre fazer e não fazer ser ideologicamente explicados, ou Direito, condição essencial para
algo. O vazio da política de segu- seja, vinculados a uma política de que tal política possa exercer sua
rança nacional gera o vazio das governo formulada sob premissas vocação.
decisões, que é transferido e trans- não validadas pelos interesses de As evidências apontam que a
formado em tempo precioso para segurança do Estado Brasileiro. É “máquina burocrática diplomática
a consolidação da posição vene- exatamente isso que uma Política de nacional”, em todos os seus es-
zuelana. Apesar de os mecanismos Segurança previne: que ações tem- calões, está despreparada para
serem diferentes, os resultados pestivas de governo sejam tomadas gerenciar no ambiente externo os
são os mesmos das práticas di- em nome do Estado, assumindo efeitos e consequências de uma
plomáticas de “apaziguamento” compromissos de longo prazo política de segurança nacional
(appeasement) que, em vez de se- duvidosos e transferindo o problema com o grau de magnitude e com-
gurar, alimentaram os anseios ale- para o futuro, para resolver pro- plexidade atualmente desdo-
mães nas vésperas da Segunda blemas de forma imediatista e, brados de nossa projeção como
Guerra Mundial. muitas vezes, inconseqüente. potência regional. A experiência
A inexistência de uma Política Isso não é privilégio do atual da diplomacia brasileira de or-
de Segurança do Brasil tende a governo, embora as evidências da ganização de comunidades de
produzir respostas inconsistentes, ausência de uma Política de Se- interesses em torno de temas pon-
demoradas e normalmente não gurança tenham se exacerbado no tuais de limitado impacto global,
otimizadas para questões funda- momento em que procuramos nos sob a égide de princípios gerais,
mentais que afetam os interesses alçar a posições de maior dimensão não está preparada para dar conta
nacionais. As recentes crises en- internacional. Governos anteriores de utilizar o poder militar que a
volvendo a Petrobras na Bolívia e o brasileiros padeceram do mesmo Estratégia Nacional de Defesa pre-
acordo frágil, em condições de mal, inclusive os governos militares, tende construir.

ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 49 13


Integração e consolidação ainda quando ele estiver no mar, autoridade baseada em liderança
em trânsito para nosso território. carismática, que também detemos
Políticas de Segurança Nacional Provavelmente um único submarino no Brasil de forma ampla. E exigem
requerem julgamentos difíceis, nuclear para a Marinha seria sofisticado conhecimento teórico-
equilibrando incertezas estratégicas, absolutamente insuficiente. Por outro metodológico nas áreas de projeto
políticas e teóricas. Ao elaborarem lado, se potencializamos a Marinha, de força, formulação de políticas
premissas e considerações sobre o tornando-a a primeira linha de para sistemas adaptativos com-
desenvolvimento futuro de cadeias defesa, responsável por desgastar plexos, design de inovação e estudos
hipotéticas de causalidades, elas substantivamente um vetor de in- estratégicos, aonde não temos nada
definem possibilidades modelando vasão pelo mar, então a estratégia ou quase nada de competências
as alternativas de futuro enquanto, do Exército está equivocada, de- institucionalizadas no Brasil. Uma
simultaneamente, excluem outras vendo ser redesenhada para prover das críticas à atual Estratégia
alternativas que poderiam ser uma segunda linha de enfrenta- Nacional de Defesa, quando ela
igualmente válidas, dado outro mento. Da maneira como está, o almeja (sem autoridade para isso)
conjunto de premissas – o chamado Exército e a Marinha estarão lutando ganhar espaços de uma Política de
custo de oportunidade da Segurança. cada uma delas sua própria guerra. Segurança, aloja-se exatamente em
Um fator de convencimento da Já vimos isso no desenho das forças sua inconsistência teórico-meto-
necessidade urgente de elabo- japonesas na II Guerra Mundial. Os dológica.
rarmos nossa Política de Segurança japoneses tinham todas as condições Enquanto a Estratégia de Defesa
Nacional Brasileira está nas de segurar o perímetro defensivo Nacional foi um avanço em muitos
perguntas abaixo, que, colocadas inicial, mas como Exército e Marinha sentidos, a indefinição de sua
ao Congresso, talvez gerem a lutavam guerras distintas e ambos identidade acabou retirando muito
pressão política necessária para redimensionaram de forma não de sua consistência interna. Em
romper a letargia confortável do consistente com seu potencial trechos ela pretende deter a au-
vazio das decisões de Estado que o nacional a ampliação do perímetro, toridade de uma política e, em
país necessita para afirmar-se como o resultado foi a derrota. A História outros, vaga entre especificidades
potência regional: é sábia. Talvez devêssemos prestar táticas deslocadas no nível pre-
• Qual a prioridade nacional um pouco mais de atenção a ela. tendido do documento, deixando
para a diplomacia pública e, • Qual a posição brasileira e que a estratégia nacional seja, de
especificamente em sua dimensão como vamos responder à possi- fato, construída pela interpretação
coercitiva, qual é o objeto da bilidade de ataques terroristas em do leitor na tentativa de integrar, até
dissuasão que a Defesa deve suas várias formas, mas especial- onde possível, estratégias setoriais
assumir, inclusive para justificar os mente como vamos confrontar o das forças armadas construídas sob
enormes investimentos financeiros emprego de espaços de redes de premissas distintas (e inclusive
em andamento nos planos de transações (cyberspace) onde as escritas com estilos distintos – uma
reaparelhamento das Forças Ar- diversas manifestações do terror colcha de retalhos!).
madas? emergem e subsistem, sem restringir Há equívocos conceituais brutais,
• Qual o projeto de força na- as liberdades individuais e as opções como no desenho de uma lógica de
cional e quais premissas desdo- de negócios e empreendimentos? decisões centradas em redes com as
bradas das demandas de segu- • Qual o estado de equilíbrio premissas que instruem a construção
rança sustentam a relação entre seus desejado nas relações internacionais de conceitos de negócios na
componentes, principalmente em no entorno estratégico nacional, indústria de defesa. Há construções
termos dos níveis desejados de quais condições estamos dispostos a estratégicas elaboradas sobre teses
aprestamento? Que alternativas aceitar e quais não são aceitáveis? que já foram demonstradas como
políticas esse projeto disponibiliza • Quais as prioridades e como falsas, como, por exemplo, a cor-
nos diversos espaços de missões vamos articular as demandas de relação entre investimento e defesa
projetados e como essas alternativas segurança nas dimensões energé- e desenvolvimento de arranjos
concorrem para a consecução da ticas, tecnológicas e ambientais para produtivos locais. Há equívocos na
Política Exterior? assegurar um fluxo de energia efetivo conceitualização de integração
• Como os fluxos de esforços e assegurando a proteção dos recursos (jointness) como se fosse uma forma
resultados da Estratégia da Resis- ambientais nacionais? evolutiva de coordenação, e con-
tência, desenvolvida pelo Exército Mais cedo ou mais tarde vamos flitos conceituais entre a noção de
para proteger a Amazônia, integram ter que enfrentar essas questões. Não dinâmicas interagências e interse-
a concepção estratégica desen- é fácil elaborar políticas de se- toriais.
volvida pela Marinha, denominada gurança, elas exigem profunda Como mencionado, a Estratégia
Amazônia Azul? experiência política e profundo Nacional de Defesa possui seus
Aparentemente, a premissa que conhecimento dos problemas na- méritos. Um deles é o de gerar a
sustenta a Estratégia do Exército é a cionais, os quais detemos no Brasil imperiosa necessidade de uma
de que a Marinha irá fracassar em de forma soberba. Exigem também Política de Segurança Nacional que
sua concepção estratégica de neu- um enorme esforço de coordena- a justifique – uma inversão ló-
tralizar o corpo principal da ameaça ção e gestão de processos, com gica, mas nada impede que nesse

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processo também se gerasse a nacional. Sem uma política de pre o que é mais urgente é o mais
necessidade da revisão da própria segurança, e dentro dela o projeto importante.
Estratégia, com a explicitação das de força que instrua o desenho, a Dentre os formidáveis obstáculos
premissas do Projeto de Força e seleção, o emprego e a avaliação que a formulação de uma política
das cadeias de efeitos que devem dos arranjos de capacidades de de segurança encontra, os mais
ser resultado das ações que ela defesa em alinhamento com as distinguidos são os óbvios interesses
prescreve – para que realmente seja dimensões coercitiva, comercial e de duas classes de homens: uma
uma estratégia. Esperemos que política da Diplomacia Pública, as conformada por aqueles que re-
dessa vez as pessoas encarregadas forças militares exercem suas sistem às mudanças que podem
de elaborá-la, para além de serem preferências de forma autônoma e reduzir seu poder, suas vantagens
inteligentes, detenham o conhe- desregulada das prioridades do derivadas das posições que ocupam
cimento teórico-metodológico para Estado, criando e exercitando estra- no governo, e outra definida por
tal. Um simples teste de sua incon- tégias que autojustifiquem suas aqueles homens que esperam se
sistência é uma pergunta simples: se próprias existências. beneficiar da confusão, da falta de
o título do documento fosse Política Uma política de segurança na- definição e da ambiguidade das
de Defesa, o que mudaria no do- cional consistente extirpa a letargia diretrizes políticas nacionais para
cumento? construir nas lacunas da lei inter-
O Brasil necessita urgentemente pretações que favoreçam o enrique-
de uma Política de Segurança. A cimento eivado pela falta de ética
Estratégia Nacional de Defesa não “É muito arriscado ou mesmo ilicitude.
cumpre esse papel. É defeituosa e tomar decisões de Uma política de segurança mal
limitada para dar conta da mag- Estado no domínio da delineada, mal escrita é fonte da
nitude dessa tarefa, confundindo-se corrupção de mais alto nível. Só
entre platitudes conceituais, espe- política de segurança evitar isso justificaria sua existência.
cificações táticas que não se jus- sobre uma estratégia Mas a primeira classe de homens
tificam como escolha determinística de defesa mesquinhos em sua visão míope,
em todas as condições de possi- defeituosa. E isso detentores do controle dos meca-
bilidades estratégicas e arranjos de parece que ainda não nismos que permitiriam extirpar a
meios desarticulados de um projeto fonte da corrupção, se oculta sob os
de força inexistente. É muito arris-
foi percebido pelo despachos postergatórios da buro-
cado tomar decisões de Estado no Congresso, que cracia para eventualmente, indire-
domínio da política de segurança ratifica verbas para a tamente, também se aproveitar das
sobre uma estratégia de defesa Estratégia de Defesa migalhas que a corrupção maior lhe
defeituosa. E isso parece que ainda sem a avaliação de deixa como prêmio menor.
não foi percebido pelo Congresso, No processo de elaboração de
que ratifica verbas para a Estratégia
longo prazo dos uma efetiva Política de Segurança
de Defesa sem a avaliação de longo riscos e custos Nacional, igualmente importante
prazo dos riscos e custos políticos que políticos que essa para a consistência metodológica
essa decisão implica. decisão implica.” será beneficiar-se do que outros
Não podemos, entretanto, deixar países já detêm, buscando evi-
de reconhecer o erro honesto dências de precaução na separação
concebido no despreparo intelectual intelectual, no sentido de obrigar à entre o discurso político retórico que
do que seja, para que serve e como revisão das premissas políticas, do elege o mandatário – normalmente
funciona uma política de segurança projeto de força e dos currículos que desacreditando e desautorizando
para um Estado moderno com formaram os futuros gestores de muito do que seu antecessor praticou
dimensões estratégicas de potência segurança nacional que proporão – e a necessidade de estabilidade
regional no mundo atual. O legado uma nova política substitutiva, da política de segurança enquanto
da geopolítica clássica ensinada (e extirpando feudos de obsolescência ferramenta que o Estado utiliza para
que ainda frequenta seus currículos) que perpetuam respostas de “mais repensar suas premissas funda-
nas escolas militares é uma causa do mesmo” a quaisquer que sejam mentais.
poderosa de fortes preconceitos as perguntas formuladas. Não há Quando o povo brasileiro per-
nascidos de cenários induzidos por como gerar e sustentar políticas de cebe que agora, no momento em
metodologias obsoletas e equi- segurança nacional sem um cadre de que nos alçamos à condição de
vocadas. Essa formação intelectual militares e civis intelectualmente potência regional, há que se decidir
obtusa despreza a função regu- preparados. Uma Política de Segu- a questão da segurança, que em
ladora das políticas de segurança, rança é importante demais para ser suas consequências se mostra uma
renegando, em seu próprio interesse, um projeto de uma Secretaria das mais importantes que já lhes
sua autoridade na definição das obscura do Ministério da Defesa, chamou à responsabilidade, a
premissas que sustentam e mantêm lutando para convencer seus pares resposta será evidente. Nada é mais
os conceitos estratégicos que da relevância das decisões frente às patente que a indispensável neces-
conformam o projeto de força lides e urgências diárias. Nem sem- sidade de uma política de segu-

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rança, sendo igualmente inalienável órgãos não governamentais efe- Juntos, esses três segmentos
que os líderes nacionais, civis e tuarem suas próprias avaliações de devem responder a uma única
militares, devem ceder a ela alguma segurança, desenhando cadeias de determinação: a preservação da paz
parte de sua autonomia, a fim de dar- cenários que confrontam e desafiam contra convulsões internas e ataques
lhe a autoridade que ela necessita posições simplistas do governo a externos, em todas as sete dimensões
para exercer seu poder sobre todo o respeito de determinadas tendências. que a segurança abrange – ener-
povo brasileiro e sua influência em É dizer, existem competências ana- gética, ambiental, territorial, hu-
nosso entorno estratégico. líticas superiores às do governo para mana, empresarial, informacional e
Nesse processo de ceder algo elaboração de Políticas de Segu- tecnológica – por meio da diplo-
todos ganham, pois a Política de rança, obrigando os governos a macia coercitiva, assegurando a
Segurança passa a ser a condutora incorporarem graus de consistência proteção de nossos interesses de
dos interesses de todo o povo e profissionalismo em suas decla- mercado e negócios junto a outras
brasileiro, assegurando que pen- rações de intenção política a que não nações e arranjos regionais por meio
semos e atuemos como uma só estavam acostumados. de uma diplomacia reformada,
nação, sob um único governo. Uma Certamente isso retira muito da enquanto cria condições para que
política de segurança é, assim, liberdade ampla e irrestrita de vagar nosso país possa almejar novos
também um fator de unidade entre decisões e indecisões, esta- patamares de poder transformados
nacional, removendo as divisões de belecendo um referência de em desenvolvimento social e eco-
interesses e prioridades dos seg- avaliação de desempenhos e cor- nômico.
mentos federativos enquanto respeita reção de metas. Uma política de Para isso, a Política de Segurança
suas autonomias no exercício de suas segurança é, nesse sentido, o Nacional detém, para si, a prer-
prerrogativas particulares, inclusive referencial de gestão que o governo rogativa, por meio das premissas
as de buscarem dar consecução a muita vezes não quer ter, já que o que explicita sobre o projeto de
legítimos interesses comerciais e obriga a explicitar preferências, força, de definir prioridades para
institucionais. metas e estratégias, mantendo-se fiel equipar a defesa e estabelecer
Uma vez elaborada, nossa Po- a elas e por elas sendo cobrado. regras que regulem os mecanismos
lítica de Segurança Nacional irá Uma política de segurança nacional de financiamento e manutenção do
assegurar que em sua estrutura e é um avanço de maturidade poder militar, além de especificar
conteúdo sejam explicitadas as democrática. Podemos dizer a como esse poder será dirigido e
diretrizes sobre os seguintes aspectos mesma coisa de forma exagera- apoiado em combate, quando e
críticos que todos nós, brasileiros, damente crítica, para que gere o como necessário, de acordo com os
queremos saber do governo: impacto sensório proporcional à interesses do Estado. Essas capa-
• Como se pretende acomodar e importância do tema: sem uma cidades devem ser prerrogativas
equilibrar diferentes prioridades que política de segurança nacional, tudo únicas e exclusivas da Política de
definem as possibilidades de futuro depende da vontade do caudilho! Segurança Nacional, e nunca da
desejado, explicitando quais pre- A necessidade de uma Política de Defesa ou de qualquer outro setor,
ferências as premissas empregadas Segurança Nacional, expurgada dos inclusive e principalmente os setores
farão emergir como estado de vícios do passado, é peça fun- econômicos e de planejamento do
segurança? dacional do moderno Estado Estado.
• Quando, e em que condições, Brasileiro enquanto potência re- Como é impossível antecipar ou
quais mecanismos serão ativados gional. Ela contribuirá para preservar definir exatamente quais serão as
para gerar os processos de trans- a união em face das forças demandas de meios materiais,
formação desejados no ambiente de desagregadoras que irão emergir humanos e financeiros que poderão
segurança, especificando as ações com muito mais violência e virulência, ser apresentadas para manter a
nos campos interno e externo? e para as quais não estamos ade- segurança desejada, somente a
• Quais as prioridades tecno- quadamente preparados com os política pode estabelecer quanto é
lógicas prosficcionais de ruptura atuais e débeis mecanismos de suficiente, sob a liderança e a dire-
(after next) que o projeto de força gestão superior do governo. Essa ne- ção do governo eleito para conduzir
nacional instrui? cessidade se distribui naturalmente, o país, instruindo a defesa sobre
• Como vamos avaliar quais mas não uniformemente, em três quais meios podem ser utilizados
indicadores serão empregados para segmentos: os conteúdos (objetos) para os fins antecipados. E nunca
identificar e justificar os diferentes que a Política de Segurança deverá ao contrário, pois se assim fosse
estados do sistema de segurança? circunscrever, a delegação de au- e se não tivermos uma Política de
• Quais precauções devemos ter toridade (poder) discricionária para Segurança, não haveria limite à
sobre os limites de validade de executar suas determinações e as autoridade da defesa. A política
determinadas alternativas de defesa instâncias (agências) que deterão de segurança nacional é porta-
que a segurança demanda? responsabilidades pela elaboração dora das diretrizes, metas e an-
O rompimento do monopólio das políticas setoriais desdobradas, seios que definem o Brasil que
governamental da informação, com pela execução das metas específicas queremos.
imagens de satélites comerciais, por e pela supervisão e avaliação dos Em nome do povo brasileiro,
exemplo, permite a agências e resultados integrados. cumpra-se!

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