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Segundo Hauser (2003: 333) no Renascimento, a concepção científica de arte, que forma a base da
instrução nas academias, inicia com Leon Batista Alberti. Ele é o primeiro a expressar a idéia de que a
matemática é a base comum da arte e das ciências, uma vez que a teoria das proporções e a da
perspectiva são disciplinas matemáticas. Também é o primeiro a dar expressão clara àquela união da
técnica experimental e do artista observador.
Um dos mais importantes conceitos do classicismo, retomado no Renascimento, foi a definição de beleza
como harmonia de todas as partes. Segundo Alberti a obra de arte está constituída de tal modo, que é
impossível retirar-lhe ou adicionar-lhe qualquer coisa sem prejudicar a beleza do todo. Essa idéia que Alberti
tinha encontrado em Vitruvio e, na realidade, tem origem em Aristoteles, continua sendo uma das
proposições fundamentais da teoria clássica da arte.
• Antropocentrismo
• Hedonismo
• Individualismo
• Otimismo
• Racionalismo
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novos estilos para representar a realidade. Os quatro grandes passos dados em direção à inovação foram: a
mudança da pintura a têmpera em painéis de madeira, e dos afrescos em paredes de alvenaria, para a
pintura a óleo em telas esticadas; o uso da perspectiva, dando peso e profundidade à forma; o uso de luz e
sombra, em oposição a linhas desenhadas; e a utilização das composições piramidais na configuração da
imagem.
O Renascimento
O início de um novo movimento
“A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia”
(Cazusa, Burguesia)
A partir do século XIV, percebemos mais claramente os sinais de desagregação do feudalismo e sua
fragmentação política. Lembre-se que neste período o rei não possuía um poder político especial, acima dos
senhores feudais e o alto clero da Igreja.
A baixa produtividade agrícola que sustentava o feudalismo, já não atendia as necessidades dos feudos e a
miséria fazia eclodir uma série de revoltas camponesas que colocavam em risco o poder local dos senhores
da nobreza. A solução encontra foi a unificação política em torno da figura do rei, pois um exército forte e
unificado poderia garantir a estabilidade e a segurança necessária, freando a violência das rebeliões.
Evidentemente que o exército unificado não era a única razão pela qual a nobreza abriu mão de parte de
seu poder. O absolutismo monárquico unificou politicamente as regiões possibilitando a formação dos
Estados Nacionais, ou seja, o surgimento de muitos dos países que hoje conhecemos, como a França, a
Itália, a Inglaterra, a Espanha e Portugal, entre outros.
Adotando um único exército, uma única lei, uma única moeda, os negócios podiam prosperar ainda mais,
pois, evidenciamos neste período, uma grande expansão das atividades mercantis, primeiramente àquelas
ligadas ao mar em rotas pelos mares Mediterrâneo e Báltico, em seguida, em rotas terrestres rumo ao
oriente.
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Frederick Kemmelmeyer, A Chegada de Cristóvão Colombo à América (1800/1805)
www.artcyclopedia.com
O grande afluxo de produtos e metais preciosos na Europa Ocidental provocou uma mudança significativa
na atividade comercial da época, produzindo o que ficou conhecido como a “revolução comercial”.
O mercantilismo pode ser definido como sendo a política econômica adotada na Europa Ocidental durante o
Antigo Regime. O objetivo principal do Estado era alcançar o máximo possível de desenvolvimento
econômico, por meio do acúmulo de riquezas. Quanto maior a quantidade de riqueza do Estado, maior seu
prestígio, poder e respeito internacional.
O trabalho servil gratuito (corvéia), foi sendo gradativamente substituído pelo pagamento de rendas em
produtos ou em dinheiro. Durante a Idade Média, as cidades protegidas por fortalezas conhecidas como
burgos, reuniam sobretudo a classe dos burgueses, que por falta de alternativa, dedicavam-se ao comércio.
Alguns séculos mais tarde a burguesia expandiu sua atuação comercial, enriquecendo e construindo as
bases do capitalismo moderno.
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Quentin Metsys, O Cambista e sua mulher, óleo sobre tela, Museu do Louvre, Paris
© www.perugeek.com
O Renascimento
Raízes absolutistas no espaço da renascença italiana
Os monarcas absolutistas, seus teóricos e os artistas por eles financiados sofreram enorme influência da
Antigüidade clássica. Os conceitos jurídicos romanos tornaram-se forte instrumento intelectual na
formulação de um programa de integração territorial e centralismo administrativo, mas não deixaram de
utilizar a justificação divina do rei tão importante na Idade Média. Todos os novos países que surgiram na
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Europa nesse período, passaram irremediavelmente por esse processo, embora observando ritmos
diferentes e características particulares, como veremos no caso da península Itálica.
Por se tratar de uma península postada dentro do mar Mediterrâneo, as cidades italianas se ergueram como
centros mercantis ligados ao comércio marítimo, dominadas por uma pequena nobreza e povoada por
indivíduos que muitas vezes combinavam as atividades rurais, de produção de modelo feudal, com
atividades urbanas e os ofícios.
O crescente intercâmbio comercial com o Oriente trazia produtos, modismos, arte, riqueza, o que
possibilitou o desenvolvimento dessas cidades portuárias transformando-as em prósperos centros de
produção urbana, cuja organização baseava-se no trabalho nas corporações de ofício, onde se desenvolveu
um alto nível técnico de industrias manufatureiras têxteis e metalúrgicas.
A fragmentação política e econômica verificada na região da península itálica, associada em parte aos
processos materiais de produção manufatureira de cada cidade e a resistência papal a qualquer tentativa de
unificação territorial, retardou decisivamente seu processo de unificação na forma de absolutismo nacional
que unisse toda a região. As cidades italianas tenderam a cair nas mãos de tiranias iluminadas,
interessadas em manter o poder político e os lucros do mercado marítimo.
Muitos dos tiranos italianos gozavam de uma temporária simpatia popular em virtude de seu enfrentamento
com oligarquias medievais ainda mais odiadas pelo povo. Segundo Anderson,
Florença, o maior centro bancário e manufatureiro da península, escorregou finalmente para o sereno
controle hereditário dos Médici, embora não sem recidivas republicanas: foram necessárias a proteção
diplomática e militar dos Sforza, senhores de Milão e mais tarde, a pressão dos papas Médici em Roma
para assegurar a vitória final dos príncipes em Florença. [Idem:160]
A economia mercantil das cidades italianas crescia vigorosamente e a fragmentação política da península
ressaltava cada vez mais suas semelhanças com as cidades-estados da antiguidade grega, acrescentando
ainda mais elementos ao repertório figurativo dos artistas, preparando o ambiente para o grande movimento
cultural e artístico que ali se desenvolveria.
Certamente essas semelhanças reforçavam no imaginário cultural e a idéia de reconstrução clássica pode
ter sido um elemento determinante na construção do novo sistema de imagens que mesclava esses novos
elementos, aos fortes elementos medievais.
A Sociologia da Arte de Pierre Francastel chama atenção para o grande erro das interpretações da arte do
quatroccento italiano “é a idéia pré-concebida de que existiria uma relação fixa entre o universo sensível e
uma fórmula de espaço projetivo nomeado perspectiva linear”, e mais, “não é a arte descrição de séries, que
ordena ou justifica a pesquisa: o que interessa é a problemática que dela se tira, o sentido de um
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desenvolvimento que nunca é linear, que nunca obedece a esquemas mentais dentro dos quais temos o
hábito de o aprisionar”. [La Figure et le Lieu, L’ordre visuel du Quattrocento.1967: 144]
Para entendermos melhor esse período, devemos considerar que a arte encontra-se articulada com o seu
contexto, uma “concepção global das capacidades da expressão da sociedade” formando-se e atuando nas
diferentes áreas da produção e criação humana. “A arte é ao mesmo tempo um modo de compreensão e um
modo de ação”, por meio dela poderemos compreender o que se passa no tempo e no espaço em que ela é
criada, possibilitando a reconstrução de largas zonas dos sistemas de pensamento das sociedades, como
seus rituais e suas atividades técnicas [FRANCASTEL, Pintura e Sociedade, 1990: 86].
O Renascimento
Pré-história da Academias
O retorno da geometria e sua aplicação, assim como da matemática, às artes estavam em plena
consonância com o espírito inovador da época. Em 1419, o arquiteto Filippo de Brunelleschi empregou as
regras da perspectiva pela primeira vez na construção do pórtico do Hospital dos Inocentes. Para conseguir
reduzir o espaço tridimencional ao plano bidimensional, Brunelleschi utilizou instrumentos óticos inventados
por ele mesmo. Essa técnica foi o passo principal para distinção das obras renascentistas das medievais,
que tinham uma concepção hierárquica para distribuição da cena em uma tela.
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© losviajesdemarcosyjordi.nireblog.com
A cúpula de Santa Maria Del Fiore, criada por Brunelleschi, é o centro de um vasto sistema cuja chave é a
geometria, substitui o manejo de blocos, a ciência dos cortadores de pedra, por uma arquitetura baseada
em linhas que constituem planos. O ponto de partida não será mais o volume da pedra, mas o esboço linear
destinado a definir a tarefa dos construtores.
Mergulhar no universo visual e de significados da arte produzida neste período não é tarefa muito fácil, mas
o aprofundamento nos sistemas de significados desse domínio pode alargar nossas informações. Um
caminho seguro é entender o impulso decisivo para a “imposição” dos estudos platônicos na Itália
acontecido no Concílio de Florença, em 1439, que trouxe para a península vários eruditos bizantinos,
profundos conhecedores da obra de Platão.
Quando por volta de 1460, Marcílio Ficino, médico e filósofo florentino representante legítimo do
neoplatonismo, utilizou o termo “academia” em suas traduções de Plotino, ele propôs a idéia de formar um
círculo de filósofos, digno de ser chamado de “academia”, idéia amplamente encampada pelos humanistas
italianos, recebendo nela os luminares do seu tempo: o arquiteto Alberti, o filósofo Pico della Mirandola, o
poeta Poliziano, Maquiavel e Lorenzo de Médicis, o Magnífico, entre outros.
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Zacaria no Templo: Marsilio Ficino, Cristoforo Landino, Angelo Poliziano e Demetrios Chalkondyles
(detalhe). 1486-1490. Fresco. Santa Maria Novella, Tornabuoni Cappella, Florence, Italy. ©
www.abcgallery.com
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Leonardo da Vinci. Coito, c. 1492-4, Biblioteca Real de Windsor, Inglaterra.
© www.metrocamp.edu.br
As teorias de Leonardo da Vinci reunidas em seu Libro della pittura, de forte influência humanista, abre uma
nova perspectiva para a pintura, buscando elevá-la ao status de ciência e não como o resultado de um
exercício de habilidade manual. A pintura considerada como ciência, modifica consideravelmente a posição
social do artista. Leonardo fazia parte de um grupo influente que descobriu um novo interesse no mundo
material, na natureza das coisas e do homem, questionando a transcendência filosófica típica da Idade
Média. O humanismo desenvolve uma nova mentalidade voltada para a pesquisa experimental, libertada do
dogma religioso, a verdade científica de dominação da natureza.
As academias passarão então a se caracterizar cada vez mais, como o ambiente perfeito para o exercício
da pesquisa orientada, científica, potencializada mais a diante pelo protestantismo e pelas novas relações
de trabalho trazidas pelo mercantilismo. As primeiras escolas, academias de arte foram peça importante no
mecanismo de funcionamento e consolidação de um novo sistema a medida que afastavam a formação dos
artistas do trabalho do artesão e do rígido sistema das guildas e corporações de ofício da Idade Média.
O processo de mudança na posição social do artista contou provavelmente com a ajuda dos pensadores
humanistas da época como Petrarca, Villani, Facius entre outros, que seguindo os mesmos moldes da
antiguidade clássica, teceram comentários elogiosos às obras e aos seus autores de forma inconcebível
pela tradição medieval. Essa importante mudança seria reforçada ainda mais pelo trabalho de pesquisa de
Giorgio Vasari, Vida dos Artistas – As Vidas dos melhores pintores escultores e arquitetos publicado em
1555, que deu início às primeiras indagações sobre os procedimentos metodológicos a serem usados na
discussão da arte, configurando-se como a primeira obra dedicada à História da Arte, na qual ele constrói
uma rica obra bibliográfica sobre a Renascença Italiana e seus artistas, baseado em premissas
antropocêntricas que destacam o papel social dos artistas.
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A mudança na posição do artista na sociedade vai evidentemente provocar discussões sobre uma nova
concepção do ensino de arte, o público que procurava formação nos ateliês dos grandes mestres se
diversificou e as vagas eram disputadas por jovens aprendizes vindos até mesmo da nobreza. Os métodos
de ensino utilizados na Idade Média, onde os alunos aprendiam na prática tudo o que era necessário,
trituração de pigmento, preparação dos fundos da tela, o desenho e a pintura, eram agora questionados.
O espectador
É preciso destacar outro pensamento importante implícito na proposta Renascentista de Arte, uma nova
concepção de público, visto que durante a Idade Média, o espectador não possuía um papel relevante, o
artista estava sujeito às interferências seja da nobreza, seja de crescentes setores da burguesia surgidos
em meio a crise feudal. O novo sistema sugere ao espectador que se deixe guiar pela intuição e pelo
conhecimento científico do artista, para que ele possa adquirir o discernimento necessário a apreciação da
qualidade estética obra de arte. A única preocupação do artista é expressar pelo seu trabalho a sua visão do
mundo, da natureza, do homem. Esse momento de certa independência vai determinar desdobramentos
importantes no futuro, pois fora das regras impostas pelas guildas, o artista passa a ter uma posição social
de vulnerabilidade e insegurança, que será suprida nos séculos seguintes pelo estabelecimento de relações
de dependência com o poder monárquico absolutista especialmente na França.
O Renascimento
Processo de expansão da Renascença
2. Perspectiva
Uma das descobertas mais significativas da historia da arte foi o método de criar a ilusão de
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profundidade numa superfície plana, chamado “perspectiva”, que veio a ser base da pintura
européia nos quinhentos anos seguintes. A perspectiva linear cria o efeito ótico dos objetos se
alinhando conforme a distância por meio de linhas convergentes para um único ponto no quadro,
chamado “ponto de fuga”. (No quadro de Masaccio “o Dinheiro do Tributo”, as linhas convergem
para a parte de trás da cabeça de Cristo.) Os pintores reduziam o tamanho dos objetos e
apagavam as cores ou borravam os detalhes à medida que os objetos ficavam mais afastados.
4. Configuração em pirâmide
Os rígidos retratos em perfil e o agrupamentos da figuras numa grade horizontal no primeiro plano
da pintura deram lugar a uma “configuração piramidal”, tridimensional. Essa composição simétrica
alcança o clímax no centro, como na “Mona Lisa” de Leonardo, em que o em ponto focal é a
cabeça da figura.
Para estudar de maneira mais profunda a introdução dos diferentes elementos técnicos e formais
na pintura renascentista, podem pesquisar o site sobre Renascimento:
http://pt.wikipedia.org/wiki/renascimento
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Renascença Italiana Renascença do norte
Para tentar entender melhor as mudanças que ocorreram na pintura renascentista, vamos estudar
algumas “leituras” de obras renascentistas elaboradas por três estudiosos de história da arte.
Vamos tentar perceber as diferentes maneiras de ler e interpretar uma obra, partindo dos
elementos visíveis e inteligíveis nela contidos. Vocês perceberão como, durante este exercício de
leitura, cada autor enfatiza um tipo de abordagem compatível ao seu interesse e à sua formação.
Como foi estudado no começo da disciplina, existem diferentes linhas interpretativas que
influenciam a leitura de uma imagem; vamos, então, conhecer parte da produção renascentista
partindo do olhar de diferentes teóricos que nos acompanharão nessa viagem de descoberta rumo
à produção do século XVI.
“Não basta mais que se veja em um quadro um tema anedótico; é preciso examinar o mecanismo
individual e social que o tornou legível e eficaz. Uma obra de arte é um meio de expressão e de
comunicação dos sentimentos ou do pensamento.”
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(Pierre Francastel, 1990: 2)
“Do ponto de vista da composição, esse delicioso trabalho tem como ponto de partida o tema do
desfile, também se apóia na visão familiar das festas da época. O carro roda num estrado-
rochedo. É provável que se veja reproduzido aqui quer um episódio das festas de casamento
desse casal principesco, quer, pelo menos, uma descrição baseada no costume da época. A
paisagem cai igualmente em ângulo reto sobre o chão, como uma cortina de fundo. A composição,
entretanto, não tem alas, não tem enquadramento estável. A montagem é, em primeiro lugar, uma
montagem pictórica. O tema é, não o da cena, mas o desfile. Tem-se, mais uma vez, aqui um
bom exemplo um bom exemplo daquilo que chamei de segregação dos planos, isto é a escolha
de um pequeno número de zonas de visão tornadas nítidas sem a notação das passagens ao
contrário do que acontece diante da natureza. Essa arte é essencialmente uma ‘montagem’ que
tem seu ponto de apoio concreto na utilização de um material de objetos, ainda que não sempre
teatrais, pelo menos, de modo geral associados a ritos sociais tradicionais.” (FRANCASTEL,
1990:66)
• Composição
• Tema do desfile
• Visão familiar das festas
• Paisagem
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• Montagem pictórica
• Segregação dos planos
• Ritos sociais tradicionais
Paolo Uccello O milagre da hóstia (1468) Urbino palácio Ducal. Fragmento de uma predela. © www.epdlp.com
“Uccello conserva a fragmentação das cenas; ele simplesmente varia a orientação dela através
de meios geometricamente mais racionais do que os de Giotto. Todavia, os valores essenciais são,
aqui, míticos: a coluna é um substitutivo da árvore, símbolo da vida, força viril do homem. A
influência do teatro é provada pelo fato de que, essa predela, executada especialmente para a
confraria do Corpus Domini de Urbino é figuração, cena a cena, de um mistério parisiense
transposto para os fins políticos e Federico de Montefeltro. porta-bandeira de Pio II, papa da
cruzada contra os infiéis. (FRANCASTEL, 1990: 52)
• Fragmentação da cena
• Valores míticos
• Influência do teatro
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Ghirlandaio, A visitação (1485-1490) Florença, Santa Maria Novella.
© uploadwikipedia.org
“Essa obra oferece uma espécie de inventário dos materiais e dos sistemas de que se serviu o
Quattrocento. Os objetos do teatro e da simbologia medieval – rochedos, porta da cidade, estão
associados às figuras vestidas à antiga e às cenas de gênero. O muro transversal, que proporciona
profundidade, integra a lembrança do espaço cúbico dos oratórios medievais ao novo sistema,
que destaca do fundo um palco onde desfilam figuras – moças vestidas às antigas e misturadas
com retratos modernos. Nota-se uma variante muito interessante: por trás do primeiro plano, o
espaço mergulha subitamente, de modo que as figuras pareçam recortadas sobre o fundo”
(FRANCASTEL, 1990:68)
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Mantegna, São Sebastião. (1472) Paris, Museu do Louvre.
© uploadwikipedia.org
• Modo de representação
• Veduta
• Ateliê
• Fórmula de ateliê
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• Figuração
• Objetos de sua cultura e de sua experiência
“Em outras palavras, as obras não são realmente olhadas – pois ver não o mesmo que olhar,
assim como ouvir não é o mesmo que escutar. Ver envolve apenas o esforço de abrir os olhos ;
olhar significa abrir a mente e usar o intelecto. Olhar uma pintura é partir para uma viagem - uma
viagem com muitas possibilidades, incluindo o entusiasmo de partilhar a visão de outra época”
(Robert Cumming, 1996: 6)
O contexto
A Lenda:
Vênus é uma das deusas mais conhecidas da Antiguidade, mas a história que diz respeito seu
nascimento no mar é trágica. “Urano (o céu) e Gaia (a terra) haviam se unidos para produzir os
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primeiros seres humanos, chamados titãs. Mas um dos seus filhos, Cronos ou Saturno (o tempo)
castrou seu pai com uma foice. Jogou, então, seus genitais no mar, e da espuma que daí resultou
nasceu Vênus. Note-se que Vênus é seu nome romano; os gregos a chamavam de Afrodite. É a
deusa do amor, da beleza, do riso e do casamento.”
O Quadro:
“Este famoso quadro de Botticelli foi revolucionário em sua época, poe ser a primeira pintura
renascentista com tema exclusivamente leigo e mitológico. A admiração pela antiguidade clássica,
isto é, pelas antigas civilizações da Grécia e de Roma, era uma característica básica da
Renascença, e foi um interesse compartilhado por diversos artistas, estudiosos, estadistas,
comerciantes e colecionadores. A família Medici foi um exemplo de patrono das artes ou mecenas.
O nascimento de Vênus , representando um dos mitos clássicos mais pitoresco, nos transporta
para um mundo de sonho e poesia. Vênus, ao centro, está ladeada pelo vento Oeste e por uma
Hora que a acompanha. As figuras alongadas flutuam num fundo plano e simples como se fossem
recortes de papel.”
O Autor:
“Botticelli passou quase toda sua vida em Florença, sua cidade natal. Sua única viagem importante
foi em 1481-82, quando trabalhou na decoração da Capela Sistina. Esta encomenda mostra como
era grande sua reputação na época. Contudo morreu na obscuridade e sua fama só ressurgiu no
final do século XIX.”
Os elementos da obra
Cores:
O esquema das cores deste quadro é tão restrito e modesto quanto a própria deusa – os frios
verdes e azuis são contrabalançados pelas áreas suaves, rosadas e cálidas e pelos toques
dourados.
À esquerda de Vênus:
Rosas sagradas de Vênus – Segundo a antiga mitologia, a rosa que é a flor sagrada de Vênus, foi
criada ao mesmo tempo que o nascimento da deusa do amor. A rosa, com sua encantadora beleza
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e fragrância, é o símbolo do amor. Seus espinhos nos lembram que o amor pode ferir.
O vento Oeste
Zéfiro, o Vento Oeste, é o filho da Aurora. É a brisa suave da primavera que impele Vênus até a
praia.
O rapto de Cloris
A ninfa Cloris foi raptada por Zéfiro do jardim das Hesperides. Mas Zéfiro apaixonou por sua vítima,
e ela consentiu em ser sua esposa. Assim, a ninfa elevou-se ao nível de deusa e tornou-se flora
que tinha ‘perpétuo poder sobre as flores’.
Juncos
Os longos e esguios juncos reproduzem a pose e o cabelo dourado da deusa.
A Vênus:
Estrutura óssea
Botticelli sempre destaca a estrutura dos ossos sob a pele, e os rostos que pinta tem o nariz
elegante, zigomas elevados e uma forte linha do maxilar.
Mãos e pés
É característico da arte de Botticelli o uso de contornos nítidos e precisos, cheios de energia e de
tensão, e de mãos e pés bem cuidados, com longos dedos.
Referências clássicas
Vênus parece feita de puro mármore. Ela imita a pose de uma famosa estátua da Roma antiga;
Botticelli faz assim uma referência erudita que com certeza será reconhecida.
O recato de Vênus
Botticelli escolheu uma pose chamada ‘Vênus Pudica’ em que a deusa esconde castamente o
corpo com as mãos. Outros artistas escolheram uma representação mais sensual, chamada ‘Vênus
Anadyomede’, em que surge nua do mar, secando as longas tranças.
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Olhar longínquo
Os rostos pintados por Botticelli costumam ter uma expressão longínqua, como se estivessem
recolhidos em seu mundo interior e perdidos em pensamentos.
À direita de Vênus:
Laranjeiras
Estas árvores estão carregadas de flores brancas com pontas douradas. As folhas têm nervuras
douradas e os troncos têm também toques dourados., de modo que o bosque parece imbuído da
divina presença de Vênus.
No auge da moda
A Hora traz em torno da cintura um ramo de rosas cor-de-rosa. Em torno dos ombros usa uma
elegante guirlanda de mirta verde, símbolo do amor eterno.
Uma Hora à espera
A elegante ninfa parece receber Vênus. É uma das quatro Horas, espíritos que personificavam as
estações do ano. Seu manto branco flutuante, bordado com flores delicadamente entrelaçadas,
esvoaça ao vento. Ela representa a primavera, a estação do renascimento e da renovação.
Anêmona
Uma única anêmona azul está em flor aos pés da ninfa. Sua presença reforça a idéia de primavera.
“Nunca se acaba de aprender no campo da arte. Há sempre novas coisas a descobrir. As grandes
obras artísticas parecem ter um aspecto diferente cada vez que nos colocamos diante delas.
Parecem ser tão inexauríveis e imprevisíveis quanto seres humanos de carne e ossos. É um
mundo excitante, com suas próprias estranhas leis, suas próprias aventuras.”
(Ernst Gombrich: 1999, 36)
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Leonardo Da Vinci, Santa Ceia
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“Por singular infortúnio, as poucas obras que Leonardo completou chegaram até nós em péssimo
estado de conservação”. Assim quando vemos o que resta do seu famoso mural “A última Ceia”
deviemos imaginar como seria contemplado pelos monges para quem foi pintado. O mural cobre
uma parede de uma sala oblonga que era usada como refeitório pelos monges do monastério de
Santa Maria delle Grazie em Milão. Deve-se visualizar como seria quando a pintura foi descerrada
e quando, lado a lado com as compridas mesas dos monges , surgiu a mesa de Cristo e seus
apóstolos. Nunca o episódio sacro fora apresentado tão próximo e real. Era como se outra sala
fosse acrescentada à deles, na qual a Última Ceia assumia uma forma tangível.
Como era pura a luza que inundava a mesa, e como acrescentava solidez e volume às figuras.
Talvez os monges se impressionassem primeiro pela veracidade e o realismo com que todos os
detalhes estavam retratados, os pratos espalhados sobre a toalha, as pregas destacadas nas
vestes. Então, como agora, as obras de arte eram freqüentemente julgadas pelos leigos de acordo
com o grau de fidelidade à vida real. Mas essa só pode ter sido a primeira reação. Uma vez
suficientemente admirada a extraordinária ilusão da realidade, os monges passariam a considerar
o modo como Leonardo apresentara a história bíblica. Nada havia nesse afresco que se
assemelhasse às representações anteriores do mesmo tema. Nas versões tradicionais, viam-se os
apóstolos calmamente sentados à mesa numa fila – apenas Judas segregado dos demais-,
enquanto Cristo disse: ‘Em verdade vos digo que um dentre vós me trairá.’E eles, muitíssimo
contristados, começaram um por um a perguntar-lhe: ‘Por ventura sou eu, meu Senhor? ’(Mateus
XXVI, 21-2).
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O evangelho de S. João acrescenta: ‘Ora, ali estava, chegando Jesus, um dos seus discípulos,
aquele a quem Ele amava. A esse fez Simão Pedro sinal para que indagasse a quem Ele se
referia.’ (João XIII, 23-4). São essas interrogações e esses sinais que trazem movimento à cena.
Cristo acabou de pronunciar as palavras trágicas, e os que estão ao Seu lado, recuam horrorizados
ao ouvir a revelação. Alguns parecem protestar seu amor a Jesus e sua inocência, outros discutem
gravemente a quem o senhor poderia se referir, outros ainda, parecem aguardar uma explicação
para o que Ele disse. S. Pedro, o mais impetuoso deles, precipita-separa S. João, que se senta à
direita de Jesus. Ao segredar algo ao ouvido de S. João, empurra inadvertidamente Judas para
diante. Judas não está segregado dos demais e, no entanto, parece isolado. É o único que não
gesticula nem faz perguntas. Inclina-se para diante e ergue os olhos com desconfiança ou cólera,
um contraste dramático com a figura de Cristo, calmo e resignado em meio a esse crescente
alvoroço. Quanto tempo teria sido necessário para que os primeiros espectadores se
apercebessem da arte consumada que resultou em toda essa dramática movimentação? Apesar da
excitação causada pelas palavras de Jesus, nada existe de caótico na obra. Os doze apóstolos
parecem dividir-se muito naturalmente em quatro grupos de três, ligados, mutuamente, por gestos
e movimentos. Há tanta ordem nessa variedade e tanta variedade nessa ordem que ninguém pode
esgotar inteiramente o jogo harmonioso entre movimento e contramovimento. (...) Recordemos que
os artistas dessa geração tinham batalhado para combinar as exigências do realismo com as do
padrão convencional. Leonardo resolveu o problema com desenvoltura. Se esquecermos por um
instante o que a cena representa, poderemos ainda deliciar-nos com o belo padrão formado pelas
figuras. A composição parece ter aquele equilíbrio descansado e aquela harmonia que tinha nas
pinturas góticas, e que artistas como Rogier van der Weyden e Botticelli, cada um a seu modo,
haviam tentado reconquistar para a arte. Mas Leonardo não considerou necessário sacrificar a
correção do desenho ou a exatidão da observação às exigências de um delineamento satisfatório.
Se esquecermos a beleza da composição, sentimo-nos subitamente diante de um fragmento da
realidade tão fidedigna e tão impressionante quanto a que vimos nas obras de Masaccio e
Donatello. E mesmo essa realização extraordinária mal chega a tocar a verdadeira grandeza da
obra. Com efeito, para além de questões técnicas como a segurança do desenho e a composição,
devemos admirar a profunda intuição de Leonardo sobre a natureza íntima do comportamento e
das relações dos homens, e o poder de imaginação que o habilitou a colocar a cena diante dos
nossos olhos. Uma testemunha ocular diz-nos que viu freqüentemente Leonardo Trabalhando na
Ultima Ceia. Subia no andaime e aí ficava ereto por dias inteiros, os braços cruzados, apenas
olhando com olho crítico o que já tinha feito, ante de aplicar outra pincelada. Foi o resultado desse
pensamento que ele nos legou, e, mesmo em sua condição deteriorada. ‘A última Ceia’ continua
sendo um dos grandes milagres produzidos pelo gênio humano.”
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O Renascimento
Os Artistas
http://pt.wikipedia.org/wiki/categoria:pintores-do-renascimento
http://wikipedia.org/wiki/pintura-do-renascimento
Uma outra possibilidade para visualizar as diferentes obras desse período, pesquisem
o item desejado (por exemplo obras do Renascimento) e cliquem em IMAGENS.
Primeiro período
MASACCIO
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DONATELLO
BOTTICELLI
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Período posterior
LEONARDO DA VINCI
MICHELANGELO
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RAFAEL
TICIANO
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Artistas mais conhecidos que participaram da produção renascentista da Europa
do norte:
BOSCH
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BRUEGEL
HOLBEIN
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DURER
As artes gráficas
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profundos efeitos sobre a civilização ocidental. As pinturas impressas, no entanto,
também foram importantes; sem elas, o livro impresso não poderia ter substituído o
trabalho do copista e do iluminador medieval tão rápida e completamente. A mais
antiga técnica de impressão pictórica é a xilogravura, feita a partir de pranchas de
madeiras gravadas em relevo.
O Renascimento
A arquitetura do espaço
DICA INTERESSANTE:
Roma
Em conformidade com sua paixão pelos clássicos, os arquitetos renascentistas
mediam sistematicamente as ruínas romanas para copiar o estilo e a proporção.
Retomaram elementos como arco pleno, construção em concreto, domo redondo,
pórtico, abóbada cilíndrica e colunas.
Regras
Dado que os arquitetos se consideravam mais estudiosos do que os construtores
baseavam seus trabalhos nas teorias apresentadas nos diversos tratados. As regras
estéticas formuladas por Alberti tinham ampla aceitação.
Razão
As teorias enfatizavam a base racional contida nas ciências, na matemática e na
engenharia. A razão pura substituía a mentalidade mística da Idade Média.
ARitmética
Os arquitetos dependiam da aritmética para produzir a beleza e a harmonia. Um
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sistema de proporções ideais assentava as partes de um edifício em relações
numéricas, como a razão 2/1 para uma nave com altura igual ao dobro da largura da
igreja. As plantas dos prédios se baseavam em formas geométricas, principalmente no
círculo e no quadrado.
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Cappellla dei Pazzi de Brunelleschi
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O Renascimento
A escultura no Renascimento
Por volta da metade do século XV, com a volta dos papas de Avinhão para Roma, a
cidade retomou o antigo prestigio. Protetores das artes, os papas passam a residir no
Vaticano onde grandes escultores se revelaram. Um dos mais importantes foi
Michelangelo que dominou quase toda a escultura italiana do século XVI. Algumas das
suas obras: Moisés, Davi (4,10m) e a Pietá.
Um outro grande escultor desse período foi Andrea del Verrochio. Esse artista
trabalhou também na ourivesaria e esse fato acabou influenciando sua produção
escultórica. Uma obra que podemos destacar: Davi (1,26m) em bronze.
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Michelangelo, David, escultura em mármore, c.1501-1504
Academia de Belas Artes, Florença
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É possível dizer que a escultura foi uma das formas de expressão artística que melhor
representa o conceito humanista no Renascimento. Os artistas utilizando-se da
perspectiva e do estudo das proporções geométricas, dedicavam-se à representação
das figuras humanas. Essas, como foi visto na escultura gótica, estavam, até então,
relegadas a segundo plano, acopladas às paredes ou capitéis. No renascimento a
escultura ganhou uma nova independência e a obra, que agora era colocada acima de
uma base, podia ser apreciada, pelas pessoas, de todos os ângulos (conceito retomado
com ênfase na arquitetura).
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Michelangelo Buonarroti, Pietá
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a expressão corporal
a expressão facial
as proporções ideais
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considerada e realizada como possibilidade escultórica, refletindo a tendência
naturalista. Encontramos também, nesse momento, diferentes obras que abordavam a
temática mitológica repropondo histórias e personagens elaborados na antiga Grécia.
Nesse período deu-se uma grande ênfase à produção de bustos e figuras eqüestres
(figura humana montada sobre um cavalo) utilizadas como forma de homenagear as
autoridades da época. Nessa produção os escultores renascentistas se inspiraram
diretamente nos modelos clássicos onde as figuras humanas eram representadas de
forma harmoniosa demonstrando um profundo estudo da anatomia.
MICHELANGELO
LORENZO GHIBERTI
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Painel original da Porta do Paraíso do Batistério de São João em Florença,
representando a história do sacrifício de Isaac. Lorenzo Ghiberti, Museo dell'Opera del Duomo
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ANTONIO PALLAIUOLO
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Escultura de Antonio Pollaiuolo, "Hercules e Anteu" c.1475
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