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MATO-GROSSENSE
JOÃO ANTONIO PEREIRA1
RESUMO
O conceito de territorialidade tem retornado as ciências sociais de forma a tornar-se
presente em importantes políticas públicas nas mais diversas escalas de poder, por
outro lado constata-se que a consolidação do território ocupado implica em uma
série de ações por parte daquele que se propõe a ocupá-lo, mas nem sempre o
Estado teve condições de fazê-lo sem a cooperação de aliados fortes; neste
contexto surge a Igreja Católica (representada na Região Sul de MT na transição
entre os séculos XIX e XX pelos missionários Salesianos. Detentora do poder
temporal e ávida por expandir as fronteiras da Cristandade, embrenha-se no sertão
em busca de “salvar almas do purgatório”, o território foi se expandindo e com ele a
morte dos nativos e uma destruição implacável do meio ambiente. Partindo desses
pressupostos analisaremos a ocupação do território na Região Sul Mato-grossense
que culminaria entre outros com a criação e emancipação de municípios como
Guiratinga, Tesouro, Torixoréu, Poxoréo, Barra do Garças, entre outros.
INTRODUÇÃO
1
Graduado em História pela Faculdade Auxilium de Filosofia, Ciências e Letras de Lins-SP. Especialista em
Produção e Organização do Espaço Geográfico Mato-grossense pela Universidade Federal de Mato Grosso.
Professor efetivo da Rede Pública Município de Guiratinga e da Rede Estadual de MT.
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Período anterior a 1977, momento em que foi criado o estado de Mato Grosso do Sul.
moderna, neste momento da colonização americana ainda existe uma íntima vinculação entre
a Igreja e o Estado, essa relação dava-se pelo fato de que os limites da expansão territorial
eqüivaliam aos limites da Cristandade colonial, sendo que os limites da fé católica eram
também estabelecidos pelo domínio fronteiriço demarcado pelos portugueses. Era a expansão
colonial que condicionava a dilatação da fé e vice versa. Aos missionários competia a
pregação da fé, ou em outros termos, o amansamento dos índios, e aos colonizadores
competia a aplicação da força quando os missionários falhassem
Inicialmente abordaremos a fé como mola propulsora da ocupação e por
vezes invasão de territórios ao longo dos séculos trazendo como conseqüência
principal a expansão das fronteiras. Num segundo momento abordaremos a
trajetória do principal expoente missionário na região sul do estado de MT - os
Salesianos – e seu papel fundamental na edificação e consolidação das fronteiras
bem como a descoberta dos diamantes e as conseqüências políticas e econômicas
para a região.
Finalmente, teceremos considerações acerca da emancipação política, as
principais atividades econômicas, bem como os principais reflexos das ações
missionárias que culminou com a expansão das fronteiras geográficas sob o domínio
da cristandade.
2
e acima de tudo, para expandir as fronteiras do cristianismo”3.
Tradicionalmente a historiografia destaca as especiarias como sendo a
principal propulsora das navegações marítimas e comerciais européias, relegando a
segundo plano a expansão da fé católica como forma de bloquear ou minimizar a
expansão do islamismo.
A situação era tão grave que em fevereiro de 1454 o Papa Nicolau V
manifestou publicamente o apoio da Igreja Católica ao filho Henrique, soldado de
Cristo e Infante de Portugal, diante da queda de Constantinopla e do risco à
cristandade européia imposta pelo islã.
PINTO, (1990 p. 103) destaca que por trás da idéia do Périplo Africano,
havia um audacioso plano: cercar o império mulçumano atacando-o pelas costas,
observe:
Estes [cristãos], por seu lado, quando iniciaram a expansão, ufanos com
sua marcha vitoriosa, empenhados em ultrapassar a barreira dos
seguidores de Maomé para apanharem pelas costas, e esperançosos de
conseguir a aliança do mítico Preste João das Índias para o seu combate
total com os mouros.
(...) o Papa Eugênio IV, sob a pressão do avanço dos turcos que se
infiltravam pouco a pouco no oriente europeu, multiplicava esforços para
realizar uma vasta ofensiva por terra e mar contra os otomanos e, como
complemento, tentava chamar o Preste João, ou seja, o Negus e a
cristandade da Abissínia à comunhão e aos planos da Igreja Romana.
3
qual o próprio Dom Henrique fora inclusive Governador). O risco era constante e
permeava todo projeto expansionista, mas descobriu-se muito cedo que se por um
lado, a fé movia montanhas, por outro movia enormes montantes de dinheiro.
O declínio da expansão islâmica e a descoberta de novas rotas de
navegação provocaria mudanças radicais no projeto expansionista; desta vez os
mouros não estariam presentes, mas a Igreja Católica encontraria novo e forte
argumento, a salvação da alma dos nativos americanos.
Segundo este sistema, nenhum clérigo podia partir para as missões sem a
autorização explícita do rei. Os que recebiam a permissão para partir eram
obrigados a jurar fidelidade ao soberano, durante a audiência que este lhes
concedia. Os futuros missionários eram obrigados a reunir-se em Lisboa
antes de partir, e para sua viagem deveriam utilizar exclusivamente navios
portugueses. Os missionários estrangeiros estavam submetidos às mesmas
formalidades; mas a permissão de viagem lhes era concedida com maior
parcimônia. VILELA, (1976 p. 412)
Era uma honra servir a coroa e servir ao reino espiritual de Cristo, Inácio de
Loyola chega inclusive a comparar a adesão ao reino espiritual de Cristo com a
fidelidade a um reino temporal.
GARUTTI, (2007 p. 6) demonstra que os missionários tentaram estirpar a
cultura dos nativos antes mesmo de conhecê-la. O deus ou os deuses ameríndios
eram apresentados como falsos deuses em oposição ao católico, verdadeiro; o Deus
católico era invencível e salvador, o deus dos nativos era diabólico e implacável:
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Deus dos exércitos, o Deus de Constantino e de Clotilde vence os
feiticeiros, servos do demônio. Meditação das duas bandeiras: uma de
Cristo Sumo Capitão e Senhor Nosso; e a outra de Lúcifer, mortal inimigo da
nossa humana natureza.
5
se em janeiro de 1865, além disso, os Corpos de Voluntários da Pátria para
canalizar o movimento patriótico que num primeiro momento, levou muitas
pessoas a se alistarem para lutar contra a invasão paraguaia do Rio Grande
do Sul e de Mato Grosso FRAGOSO, (1934:35-37)
6
Teresa Cristina, Instituto Bom Jesus
(Guiratinga)
1896 SP Salesianos Centro Universitário Salesiano Auxilium -
Nossa UNISALESIANO, Centro Universitário
Senhora Salesiano de São Paulo – UNISAL, Faculdade
Auxiliadora de Ciências Administrativas e de Educação
Física, Faculdade Salesiana de Araçatuba,
Faculdade Dom Bosco de Piracicaba.
1901 RS,PR,SC Salesianos Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre
. são Pio XII
1902 AL,BA,CE, Salesianos Instituto Salesiano de Recife, Instituto
PE,RN,SE São Luiz Salesiano de Filosofia, (Recife) Faculdade
, Gonzaga Salesiana do Nordeste (Recife),
1921 PA,AM,R Salesianos Faculdade Salesiana Dom Bosco (Manaus)
O Missionários
da Amazônia
Fontes: www.msmt.org.br e www.glosk.com/BR/Manaus/ 919819/pages/Salesianos/254_pt.htm
Como podemos constatar, os missionários Salesianos sob o comando do
Bispo Dom Luiz Lasagna instalam-se em MT em 1894 com a finalidade de assistir os
povos indígenas, conforme FERREIRA, 1996 p. 6:
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libertos formavam uma enorme massa popular, sem uma identidade definida, sem
políticas públicas que os encaminhassem nesse período de transição entre o ser
escravo e o homem “livre”. O solo mato-grossense havia sido invadido na guerra
contra o Paraguai, mas o heroísmo demonstrado nas batalhas rendera muitos
elogios e promessas, mas poucas ações concretas no tocante a integração social no
pós-guerra. Soma-se a isso a presença de dezenas de nações indígenas até aquela
data, sequer contatadas, entre eles os bororos “o terror dos civilizados”; foi nesse
contexto que os Salesianos se instalaram na região Sul de MT, área que atualmente
se localizam municípios como Guiratinga, Tesouro, Torixoréu, Poxoréo, Barra do
Garças, entre outros.
8
alvo5.
Foi nesse contexto histórico e social que a partir de 1894, mais
sistematicamente apenas após 1900 que os Salesianos fundaram a primeira colônia
Indígena na Região de Tachos, conforme BITTAR (2002, p.5):
O que era no começo a vida cristã, a vida religiosa, não somente nas
selvas, senão também na mesma parte civil de Mato Grosso? A
Arquidiocese de Cuiabá, começando pela capital, tinha pouquíssimos
sacerdotes; menos ainda a Arquidiocese de Corumbá, tão vasta como a
França; e em todo o estado não havia um Colégio religioso. Eis porque não
tardaram a se fazer sentir as pressões das autoridades religiosas e civis a
pedir, antes bem, a impor , que se dedicassem ao ministério sacerdotal e à
educação da mocidade, nas cidades e centros mais povoados, como
Cuiabá, Corumbá, Campo Grande, Três Lagoas, Ponta Porá, Santana do
Parnaíba etc.
9
com pedaço de pano encarnado, e aproximaram desconfiados e medrosos
até entrarmos em conversação por meio de sinais. Mandei arrumar para
eles um cesto cheio de matula de farofa de carne com farinha e dei mais
algumas rapaduras e panos vermelhos. Desde esse momento a paz estava
firmada, custando-me de vez em quando um tributo de presentes que
alguns vinham buscar. PEREIRA, 1991 p. 115
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Thannhuber. Pe. João Crippa. Pe. Carrá, Pe. João Crippa, Pe. Carletti, Fuchs e
Sacilotti, Pe. César Albisetti, Pe. João Pian, Pe. Chovelon, , Pe. Guilherme Müller e
num segundo momento Dom Camilo Faresin e Pe Santo Cornélio Faresin entre
outros foram os principais responsáveis pela expansão da cristandade nas terras Sul
mato-grossense.
As fronteiras foram dilatadas, a região foi totalmente ocupada, no entanto há
que se questionar sempre o custo social desta epopéia. Não se trata apenas de falar
de heróis e ou bandidos, a questão é muito mais profunda, nações inteiras, seus
usos e costumes simplesmente desapareceram. É isso que o homem moderno
chama de progresso? Esse é o preço do passaporte pago por essas infelizes almas
para entrar no céu? Questões como essas certamente merecem nossa reflexão.
Quem serão as próximas vítimas?
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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uma série de estímulos a empresas colonizadoras bem como distribuição de terras.
Quarta fase a partir dos anos setenta quando começam a chegar na região
imenso contingente populacional do eixo Sul/Sudeste iniciando um ciclo de produção
em escala internacional de soja, arroz milho e por fim o algodão expropriando o
pequeno agricultor e transformando-os em verdadeiros farrapos humanos.
O Vale do Garças era noticia freqüente em periódicos regionais, nacionais e
internacionais, em parte pela presença na região do jornalista Raimundo Maranhão
que através de contatos com amigos em diversos países europeus fazia chegar as
notícias da zona mineradora através do Jornal Novo Mundo. No coração do Brasil no
início do século passado, esse periódico se constituía num porta voz daquilo que
acontecia no velho mundo. Era a globalização da informação chegando ao antigo
leste mato-grossense antes mesmo do termo ser popularizado.
Com a veiculação das notícias referentes a grande quantidade de diamantes
existente na região inúmeros capangueiros e exportadores de pedras preciosas
vieram se instalar na zona produtora ou destacavam para o local, seus homens de
confiança com faro para realizarem bons negócios. O trafego aéreo era constante e
infinitamente superior ao que se observa atualmente basta lembrarmos que em
meados do século passado havia aviões com escala nacional que aterrissavam no
aeroporto do Piau, município de Guiratinga, atualmente desativado.
A enorme circulação de capital atraia as mais distintas personalidades
nacionais para os famosos eventos que ocorriam nas corruptelas, com destaque
para o Cassununga, Toriparu, Paulinópolis, Estrela, entre outros.
As corruptelas iam se multiplicando e junto com elas o símbolo maior da
conquista e da ocupação do território. Ele ocupava sempre o ponto mais central da
sede, era o mais alto e o mais conhecido. A cruz não representava apenas a
cristandade, era muito mais, simbolizava um porto seguro para mulheres e crianças,
civilidade, organização e poder.
Algumas dessas aglutinações populacionais não resistiram ao término das
gemas preciosas, outras se transformaram prósperas cidades. A quantidade de
diamantes extraída era tão grande que a população organizada em particular pela
cristandade e pela burguesia local propiciaram condições para que o antigo Leste
Mato-grossense se transformasse em meados do século XX num dos mais
importante redutos culturais do estado.
Foi enorme a contribuição Salesiana no processo civilizatório do antigo
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Leste Mato-grossense, escolas, hospitais, oratórios, asilos, internatos, patronatos,
etc. além de milhares de casas construídas para a população mais humilde. Há que
se destacar ainda que a conquista definitiva da região, foi fruto de relações
conflituosas entre colonizadores, missionários e nativos, seja no campo político,
econômico, social ou cultural e essas ações culminaram com a eliminação dos
antigos donos da terra, Bororos e Xavantes foram praticamente exterminados da
região, se por um lado a religião se constituía num remédio para a alma, por outro
lado lhes apodrecia a carne provocando a morte de milhares de nativos que
habitavam essa região.
4. BIBLIOGRAFIA
13
Vilela, Magno José, Roma e as práticas missionárias no novo mundo. In REB 36, 1976, p.412
BIBLIOGRAFIA
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Notas
1 Inimigo aqui pode ser entendido tanto homem de outra cultura, como também o Diabo, por
tanto a noção de fronteira, não era apenas algo geográfico, mas também fronteira teológica.
Estar dentro da fronteira da colônia era estar dentro da Igreja, é ser salvo por não estar
possuído pelo demônio.
2 Do leste para o oeste.
3 Neste caso, demarcado pelos portugueses, mas a demarcação geográfica da Igreja dependia
da relação com o país que promovia a colonização e portanto, a demarcação.
4 Sanchis, Pierre. Festa e religião popular; as romarias de Portugal. In Revista de Cultura
Vozes, maio de 1979, n* 4, p.245-246.
5 Idem, ibem, p.247.
6 A denominação dada aos campos ou fazendas era PAGUS, sendo que quando os não cristão
refugiam-se para os campos (Pagus), eles vão receber o nome de pagãos, ou seja, aqueles que
vivem nos Pagus. Sendo daí a associação da palavra pagão com os infiéis e de outras
religiões, o termo passou a indicar e classificar pagão como aquele que era incrédulo e que lhe
falava a fé na religião do Deus Único e Verdadeiro.
7 Sanchis, Pierre, Festa e religião popular: as romarias de Portugal. In revista de Cultura
Vozes; maio de 1979, n* 4; p.249.
8 Pode-se ver mais sobre o assunto em: Sanchis, Pierre. Arraial, Festa de um povo. As
14
romarias Portuguesas, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1982.
9 Vilaela, Magno José, Roma e as práticas missionárias no novo mundo. In REB 36, 1976,
p.412.
10 Leite, Serafim. Carta dos primeiros Jesuítas do Brasil, Comissão do IV Centenário, São
Paulo, 1954, v.1, p.150-152
11 Leite, Serafim, op., cit., p.243
12 Leite, Serafim, op. cit. p. 248
13 Anchieta, José. De Gestis Mem. de Sá, Arquivo nacional, Rio de Janeiro, 1958, p.53.
14 Todorov, T. A conquista da América: a questão do Outro, São Paulo, M. Fontes, 1983.
Na Carta das Nações Unidas, universal e garantidora dos direitos dos grupos sociais, é possível
que as etnias encontrem proteção jurídica, Para Lenkim. Professor polonês, o genocídio é definido
como sendo um crime especial, consistente em destruir intencionalmente grupos humanos, raciais,
religiosos ou nacionais, é, como o homicídio singular, pode ser cometido tanto em tempo de paz, como
em tempo de guerra. Acrescenta ainda que em território ocupado pelo inimigo e em tempo de guerra,
será crime de guerra, e se na mesma ocasião se comete contra os próprios súditos, crime contra a
humanidade e que o crime de genocídio acha-se composto por vários atos subordinados todos ao dolo
específico de destruir um grupo humano. Apud Fragoso, Heleno Cláudio. IN Núcleo de Direitos
Indígenas p. 207 a 215.
Assim, é criminosa toda e qualquer conduta que provoque a destruição de etnia ou grupo étnico,
até agora tolerada e até mesmo estimulada. Isto é objetivamente, proteger etnias e grupos étnicos
historicamente vitimizados, até agora sem repressão efetiva ? a impunidade é a regra ? quer por
ações ou omissões, mesmo havendo forte base Constitucional para tanto, ocorrem com freqüência no
Brasil.
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Isso reflete como o órgão não dá conta do tamanho da população indígena brasileira. E tenta diminuí-
la. O censo do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], que é baseado na autodeclaração,
contou mais de 700 mil indígenas no país. A Funai diz que o IBGE está errado. E afirma que há muito
oportunista dizendo que é índio. Isso é uma grande discriminação por parte de quem deveria defendê-
los.
Você sabia que temos hoje quase uma centena de Advogados Indígenas no Brasil, alem de
administradores de empresas, filósofos, sociólogos, biomédicos, contadores e outros? Esses
profissionais, como os demais brasileiros, encontram muitas dificuldades de inserção no mercado de
trabalho, enquanto que nos órgão que trabalham com as políticas indígenas esta abarrotada de
apadrinhados políticos semi-analfabetos.
Em nosso Estado, a situação dos povos indígenas é desesperadora, visto que o etnocídio é
maior em relação a outros estados e provenientes da inação do Governo, a saber: os reduzidos
espaços de terras, verdadeiros confinamentos de índios; a discriminação dentro do próprio Governo
que não oportuniza os trabalhadores indígenas, nem mesmo nos órgãos que desenvolvem a política
indigenista nas três esferas do poder; o desrespeito ao direito Indigenista, já que existe previsão de
aplicação de direito diferenciado ao índio o judiciário simplesmente o ignora; o amontoado de índios
que se transformou as penitenciarias do Estado, vítimas da ignorância ao direito indigenista, garantido-
lhes meios de penas outros que o encarceramento.
Fazemos esse tipo de denúncia, como o último grito por socorro, pois temos esperança de que
alguém nos ouça, principalmente os responsáveis por essa situação. A denúncia pode até aparecer
negativa, mas para nós do CDDPI/MS, Warã e CEI, é uma ação afirmativa a beneficiar nossos povos.
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